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0 espace civilizacional greco-latine a beira da mudanca O império universal romano-cristao Contextualizar o nascimente do Cristianismo O Cristianismo nasceu nas margens do Mediterraneo Oriental, na provincia romana da Judeia. Jesus, filho de um artesdo, assumiu 0 papel do Messias (Cristo - salvador) ha muito esperado pelo povo judeu. Aos 30 anos iniciou a sua pregacéo, atraindo os discipulos (segui- dores) e 0 povo a uma mensagem inovadora de paz e igualdade entre os homens: a “boa nova”. No entanto, a mensagem de Cristo tornou-se desconfortavel, quer para as autoridades romanas, que a viam como uma ameaca a0 poder instituido (0 “rei dos judeus” n&o podia sub- stituir-se ao Imperador), quer para os Judeus, cujo Conselho (Sinédrio) condenou Jesus & morte. Por estas razes, Jesus foi morto com 33 anos, cerca de 29 d. C. (tera nascido cerca de 5 ou 6 anos antes da data oficialmente adoptada pela Igreja) tendo-Ihe sido aplicada a sen- tenga habitualmente atribuida @ um criminoso vulgar: a crucificagao. Identificar os principios fundamentais da nova fé A mensagem de Cristo propunha 0 despojamento material em favor da salvagao da alma e a igualdade entre todos os seres humanos. Na linha do Judaismo, defendia um deus tnico (monotefsmo) contra o politefsmo da religio romana. Ao criticar 0 esclavagismo da sociedade romana, os espectaculos de gladiadores e os deuses tradicionais, 0 Cristianismo foi considera- do uma ameaga para o Império, sofrendo por isso uma série de persequigées violentas entre meados do século | a. C. ¢ inicios do sécula IV d. C., com um hiato de tranquilidade e toleran- cia entre 206 e 303 d. C. Descrever, sucintamente, a difusdo do Cristianismo no espaco romano © Cristianismo difundiu-se rapidamente pelo Império Romano gracas a: uma excelente rede de vias de comunicagao que ligava os diversos pontos do Império & pela qual passavam homens e as suas ideias; ~uma intensa evangelizagao por parte dos apéstolos (discfpulos) de Cristo, quer através das suas viagens, quer através da redac¢ao dos quatro evangelhos do Novo Testamento; — uma corajosa resistencia dos mértires (por exemplo, Sao Paulo) que, em tempos de perse- guicdo, serviam de exemplo de fé, pelo herofsmo com que enfrentavam as torturas cruéis que Ines eram infligidas (nomeadamente, o imperador Nero divertia-se a mandar atirar os Cristéos aos ces, para serem despedacados); ~a ampliagdo das catacumbas, vastas galerias subterraneas destinadas ao culto e a inumagao de acordo com os principios cristéos. Eram, habitualmente, toleradas pelo Império Romano. Explicar a importancia dos Edictos de Mildo de Tessaldnica para o triunfo da religiao crista A partir do século Ill, 0 Cristianismo expandiu-se, conquistando adeptos entre todas as camadas da sociedade imperial. Finalmente, j& no século IV (312 d. C.), 0 imperador Constan- tino converteu-se ao Cristianismo. Em 313 publica 0 Edicto de Miléo: numa Carta Imperial diri- gida aos governadores das provincias ordena que estes concedam “tanto aos Cristéos como a todos os demais a faculdade de seguirem livremente a religio que desejarem’ e “que Ihes sejam devolvidos os locais onde anteriormente se reuniam" e “outros pertencentes & sua comunidade’. Ao conferir liberdade de culto aos Cristéos, devolvendo-Ihes, além disso, os bens confiscados, 0 Edicto de Miléo representa, ndo 86, o fim da perseguigao ao Cristianismo, mas também 0 inicio da sua preponderancia no Ocidente: os imperadores concedem aos Cristéos isengées fiscais, cargos elevados na administragéo do império, doagées, a constru- cdo de templos. A Igreja romano-crista (séculos IV e V d. C.) é protegida pelo Império. Para resolver questées doutrinais, reuniam-se os Concilios (assembleias de bispos): foi 0 caso do Concilio de Niceia, convocado por Constantino, onde se estabeleceu 0 dogma (verda- de inquestionavel, percebida pela 16) da Santissima Trindade. Em 380, o imperador Teodésio promulga o Edicto de Tessalénica, através do qual ordena “que todos os povos regidos pela administracao de nossa Cleméncia pratiquem a religiéo que © divino apéstolo Pedro transmitiu aos Romanos" e “que todas aquelas pessoas que seguem esta norma tomem 0 nome de Cristaos catélicos". O Cristianismo tornava-se religiao oficial do’Estado romano. Os antigos deuses pagaos (ndo-cristaos) foram proibidos, os seus seguidores considerados “dementes e insensatos”, os seus templos destruidos ou converti- dos em igrejas. Em tempo de crise politica, 0 Edicto de Tessalénica cumpriu duas fungées: além de consu- mar a supremacia da religiao cristé sobre todas as outras, reforgou o poder do imperador e a unidade do Império Romano. Este fora temporariamente dividido nas suas partes ocidental oriental em 284, mas o Cristianismo viera restituir-Ihe um sentimento de unidade sob a lideranga de um imperador e a proteccdo de uma divindade (monoteismo) antes da divisao definitiva em 395. O imperador, néo sendo um Deus, era 0 seu representante na Terra. Em consequéncia, a organizagao da Igreja segue a organizagao do Império (por exemplo, a diocese, dirigida por um bispo, corresponde a cidade), e Roma, sede do Império, é também sede do Cristianismo, dirigida pelo Papa (avo, em grego), 0 mais importante dos bispos, que exercerd a autoridade sobre todos os figis do mundo cristéo. Avaliar o papel da igreja como transmissora do legado politico-cultural classico Foi, em grande medida, através do Cristianismo, implantado nas cidades romanas, que a cul- tura grega ¢ latina se manteve viva durante e apés a queda do Império Romano. Que aspectos dessa cultura cléssica foram absorvidos pelas elites romanas convertidas ao Cristianismo? ~A Filosofia - os grandes Doutores da Igreja (autores de obras fundamentais para a doutrina crista), leram com atengao os filésofos antigos e as suas doutrinas reflectem essa influéncia marcante: 6 0 caso de Santo Agostinho (séculos IV-V), cuja obra é profundamente devedora da do filésofo grego Platao; ~a Ret6rica — a arte de bem falar serviu os propésitos evangelizadores dos bispos; ~0 Direito ~ 0 Direito Romano serviu de modelo ao Direito candnico que regula a disciplina eclesiastica; ~ 0 cerimonial imperial - “emprestou" rituais ao cerimonial cristéo; ~@ arquitectura romana - serviu de modelo a arquitectura religiosa crista; - a arte Romana - inspirou a arte sacra Crista; ~a ideia de poder centralizado ~ 0 Papa herdou a autoridade sobre os Cristaos, tal como 0 imperador a detinha sobre os seus sUbditos. Por sua vez, os monarcas, mais tarde (século XIll), justificarao 0 seu poder pela ideia de representarem a vontade de Deus na Terra. Prentincios de uma nova geografia politica Descrever a crise politico-militar de império romano No século Il, o Império Romano sofreu urna crise interna e externa. A nivel interno, este perio- do foi caracterizado pela “anarquia militar”, ou seja, por uma sucesséo de imperadores subme- tidos aos caprichos dos exércitos. A nivel externo, a pax romana (a paz romana, assegurada pelos soldados) foi ameacada pelos barbaros (povos que néo seguiam a cultura romana). As fronteiras do império (imes) foram invadidas, e, embora a ameaga barbara tivesse sido sustida, © imperador Diocleciano teve de tomar medidas no sentido de melhor proteger 0 império: adoptou o sistema da Tetrarquia Imperial, segundo 0 qual a defesa e administragao do império. eram repartidas por quatro lideres que habitavam em cidades préximas das fronteiras. No final do século IV (396 d. C.), a nica maneira de-garantir a seguranga do mundo romano consistiu na sua divisdo, pelo imperador Teodésio, em duas partes: 0 Ocidente, com sede em Roma, e o Oriente, com sede em Constantinopla (antiga cidade grega de Bizancio). Enquanto 0 império Romano do Ocidente teve o seu fim em 476 d. C., as mos dos invasores barbaros, 0 Império Bizantino s6 cairia em 1453, com as invasées dos Turcos. Localizar, no tempo e no espaco, as grandes invasées barbaras Os barbaros (ou Germanos, como thes chamavam também os Romanos) eram oriundos do Norte da Europa, das regides acima dos rios Reno e Dantibio. Incluiam diversos povos guerrei- ros, temidos pela sua apregoada ferocidade e pelos seus costumes rudes, praticando o noma- dismo, a caca (que, diz-se, comiam crua) ¢ a recolec¢ao. Porém, a sua relacao com os habi- tantes do Império nem sempre havia sido violenta: desde o século Ill que, para além das incur- s6es nas fronteiras, os barbaros eram aceites nos servigos domésticos e mesmo no exército, combatendo a troco de dinheiro (mercenérios). No entanto, no final do século IV, por pressdo dos Hunos (povo vindo da Asia), os barbaros penetram no Império Romano. Em 410, um desses povos barbaros ~ os Visigodos, comanda- dos por Alarico - chega, inclusive, a saquear Roma, numa altura em que a capital havia sido transferida para Ravena (Norte da Italia). $80 os Visigodos, aliados aos Romanos, que derrotam Atila, rei dos Hunos, 0 qual havia des- truido a Galia desde 434 Em 476, 0 general Odoacro, pertencente aos Hérulos (um outro povo barbaro), depde Romu- lo Augusstulo, 0 ultimo imperador romano. Referir o impacto das invasées nas estruturas politicas, econémicas e culturais do mundo romano O Império Romano foi substituido por varios reinos bérbaros pouco definidos geograficamen- te e pouco sélidos politicamente. ‘As consequéncias das invas6es foram desastrosas para 0 ex-Império Romano: 1. Anarquia (a “lei do mais forte” substituiu 0 Direito Romano). 2. Decadéncia economica (agricultura ao abandono, comércio paralisado pela inseguranga industria em profunda crise) 3. Diminuigéio da populacdo (em consequéncia das fomes e epidemias despoletadas pela crise econémica). 4, Ruralizagao (destruigao das cidades e consequente fuga das populagées das cidades para os campos). 5, Retrocesso cultural (os requintes da cultura cléssica foram abandonados) Neste contexto, a Igreja assumiu um papel cada vez mais preponderante, como protectora dos desvalidos e evangelizadora dos barbaros. Conseguiu, desta forma, ocupar um lugar fun- damental na sociedade durante toda a Idade Média. Evidenciar o fim da Epoca Classica A data tradicionalmente apontada para o fim da Epoca Classica é 476, quando termina o Império Romano do Ocidente. No entanto, as épocas historicas no terminam num dia marca- do. E preciso ter presente que a civilizagéo romana, enquanto conjunto de caracteristicas espi- rituais e materiais, jé havia terminado cerca de um século antes. De acordo com o historiador sueco Carl Grimberg, as novas forgas que se impunham sobre o Império Romano conduziram ao seu desmoronamento: estas forgas eram 0 Cristianismo e os barbaros. O primeiro, apesar da aparéncia de aliado do Império, minou a esséncia deste ao sobrepor um mundo extraterre- no ao poderoso pragmatismo romano; os segundos j4 dominavam o Império politicamente muito antes da deposigao de Rémulo Auguistulo. Na verdade, desde 375 que o Império néo conseguia conter 0 avango dos Germanos. A decadéncia da cultura classica (identificada com a cultura dos gregos e romanos antigos) evidenciou-se, para dar alguns exemplos sintomaticos, na proibigéio dos Jogos Olimpicos pelo imperador Teodésio (por se tratar de jogos em honra a deuses pagéios), na proibicdo de todas as formas de paganismo, de que foi vitima, por exemplo, o famoso oréculo de Apolo, em Del- fos, ou ainda no fim da Academia fundada por Platéo, em Atenas. Contudo, a cultura classica néo morreu. “Adormecida", por vezes em “sono leve”, por vezes “pesado”, ela regressaria em forga na Idade Moderna através do periodo histérico designado por Renascimento.

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