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sds eterna Catena abn (C1) Capitulo 11 A EXPERIENCIA RELIGIOS, DESCRIGAO F IMPLICAGOES ara entender a inguagem religiosa (simbolo, mito, Tito), & necessirio partir da experiéncia do-sagrado que a prdpria linguagem quer coniunicar. Do contsira,trabalha se soe termos sem seu correlato real na vida, Mesmo que a finalidad transcendente (por enguant, "), trata-se de ui experigncia humana, propria do ser humano e condicionad por sus forma de sere pelo seu contextohistérico e cultural ‘Como a experitneia religiosa vai tomando forma? 1A experi@neia humana como tal Em primeiro lugar, como experiéneia humana pro- priamente dita, ela € uma vivéneia relacional: 8) com o mundo (a natureza, a vida eo que a realidade oferece)s tins b) com 0 outro individuo; ©) com © grupo humano (todo ser humano esté socia lizado, de uma forma ou de outra, em diferentes niveis:fa- rnilia, ci, etnia, bairro, municipio, estado, nagd0, clube, as- seciagio, fraternidade, lereja, partido politico ete). O tr batho (uma realidade que ocupa um tergo do dia de cada pessoa), 0 transporte, a alimentagio, os encontros e reuni es, a fests, 0s meios de comunicagao, tudo “rete” eso cializa, ou seja, 0 individuo esti sempre em sociedade. Essa caracteristica da vida humana tem, como vere- ‘mos, uma grande influéncia na “sosializagio" da experién- cia religiosa L__ Bim segundo lugar, est a dimensio individual dos de- S805, dos projetos, das realizagSes ou das frustragies de ‘qualquer pessoa, Cada ser human constr (¢ em parte traz sgravado) um projeto de vida que procura realizar durante sua existéneia. 0 viver humano, portanto, esc constantemente en- tre 0 subjetivo eo intersubjctivo ou telacional Em tuo 0 que desejae fiz, 0 see humano manifesta que ro € um sr pleno: deve crescerbiologicamente, aprender inelectualmente, prepare para tudo, buscar mets, ne ora a said, aspirara uma vida melhor, reiniciar wna ¢ ‘utra vez eaminhos novos; snd na véspera da mote ene fe que tem de zoe algo para sero que ainda nao &, Em ser que esti sempre em busca. Essa & uma caracteristica Tandamental dose human Entdo, o desejo/projeto de cade ser humano, orientada por valores que atraeme impulsionam, gera a conseigncia de 4) Necessidades espeeificas para a vida, tanto fisicas (alimento, roupa, casa, sade) como psiquicas criatividade, sexo, amizade etc.) e socioculturais (trabalho, arte ete), Tais nnecessidades so receptvas (comida, presentes) ou expres sivas (arte, amor), ponda em evidéncia mais uma vez 8 con. digio “relacional” do ser humana yA outra conscigneta que se gera & de uma, no mi: nim, triplice dimitago de todo e qualquer ser humano, ex pressa como: + fragmentago: 0 bem, a felicidade, 0 descanso, 0 di- inhero ete, 6 se pode ter parcialmente, em fragmen- ts, nunca em uma totalidade plenificante; + fintude: i limites em todas as coisas, até mesmo na propria vida. O bom, especialmente, experimenta-se ‘como algo transitério © que se esgota, Os espacos rio sio suficientes, o tempo tampouco 0 &. A na rez esti mostrando continuaments que a vida & cicliea (que fenece e renasee continuamente), con- Cluindo-se finalmente com a morte. Parece, que @ finitude da vida opde-se a uma infinitude do So ‘mento. Dai a ansiedade existencial gerada e da qual 1 vivéneia religiosa vem socorrer; + fla de sentido de muita experincis vit: 0 trabalho lienante (no lugar do tabalho exativo) & um exerplo, como so também a morte, a dor ou na vida “vazia” ‘Osserhumano, no entanto,tende &totalidade. Por sso ‘om tanta intensidade suas necessiades e Timita- ‘es. Ebusca superi-as, E um ser que constantemente pro- cura romper os limites, conseguir superi-os, porém,é uma miragem, uma w-fopia algo que nio existe em lugar algum, NNega o limite, como anula x necessidade. Nega a timitagao dobome a irrupgio do mau. A luz dessa constatagio,enten- deremos entioarelevincia do tema da “salvago" na instin- cia religiosa e. Diss, portano, uma tens diaica entre @ deseo e ut realizagie que, como nunca é plen, engendra um novo desejo e uma nova tensio.O ser human & na realidad, ‘menos” do que deseja ser; mas € sempre, no desejo, un “mals” que no cheya ase coneretiza por inti, ‘A experitneia humana deseria assim tende a expres- sar-se, €0 faz por meio da pulavra, da prxissdcio-histica, da cultura, da arte e de quantos outros instrumentos de eo” rmunicagZ0 que ela possa encontrar, 2.4 experineia religiosa Sobre a base da viveneia humana, ou melhor, em suas tales, inserese a experiéneia religiosa, Paul Tillch escre- vyeu que "a experiéncia religioss di-se na experigncia geral els, podem ser dferenciadas, mas no separadas!” O que muda 6 relago com o sagrado ou com o mistério, usando provisoriamente termos que sero estudados mais adiante neste mesmo capitulo. 4°) Considerando que toda a vivéneia humana € rela: cional (com as demais seres humanos/eom 0 mundo), a vivencia religiosa & igualmente relacional e até mais pois relaciona também a realidade humana como transcendente Essa nova relagio é especifica. E também se ver que & irre- \dutivel, Considerando, entretanto, que a experincia eligiosa ‘continua humana, seu resultado ser limitado’realdade (no na aspiragio) e, por iss0, sera sempre objeto de umm desejo.e ide uma busea ineessantes, sem fim ‘As “necessidades” sio saciadas, na instincia religi- sa, po realidades de ordem transcendente 74 asfisicas por mitagres (cura, comida ou bebida mi- Ingeosa,ressurreigio.. 738 psiquicas 60m a paz, 0 go20 da “gléria™ ou a vie ‘io de Deus, estados misticos, amor plenificante, + a8 socioculurais por uma nova ordem socal, liber- tagio como agio divina na historia, a irrupgao de uum mundo nove (na apocaliprica), outros aconteei mentos escatoldgicos etc. No estudo do mito, vere ‘mos a amplitude do leque de possibilidades de “sal- Jas necessidades humianas vagao” bb) O outeo aspecto da experigncia humana, o das li- mitagdes (cf. b), tamisém & tema da eriatividade religiosa, ‘O.ser humano soube “imaginar”, em todos os tempos, ma- reiras de superar suas limitagBes recorrendo a0 sagrado: + passar do fragmentario a0 torlizador & um desejo essencial do homo religiasus. O bem, felicidade, 0 ddescanso si descritos nos textos religiosos como plenificantes, como o miximo para o ser humano, Cessam-se 0 desejo e a busca. Tudo esti dado; + passar do finito ao duradouro e sem limites & 0 mes- ‘mo do item acima: & outra forma da “totalizagio", desta vez tratada sob o aspecto da duragao, Por isso, ‘© fermo “eterno” é to comum (gloria eterna, vida eterna, lz eterna ete); ‘também a falta de sentido de muitas coisas & anal da pela esperanga (da ressurreigdo, da libertagao da alma, da justiga escatolégica), pela idéia de que a providéncia divina diige a historia eas pessoas, pela influgncia de modelos “). Sd 0 latim, com efeit, interpie um infixo (-n-) no radial sak, eaparecendo também no portugués“surto", mas ‘no no “sagrado” (derivado de sacer). No grego, apresenta sea conhecida aspiragio dos indo-europeu antigo (compare © latim septem como grego heptis sermo (discurso; radical sermon-] com Hermes, o Deus da palavra ete). Em toda essa lista de termos,o sentido fundamental & © de *separndo/reservado”, © mesmo acontece com yadash 10 hebraco, todos os casos, o vocsbulo distingue dois Ambitos relacionados, mas essencialmente diferentes: o Ambito dos seres humanos e 0 ambito das Deuses, mostrando o iti «em oposigio ao primero. A palavra portuguesa “consagrada! conserva 0 matiz de separagao, mas nio acontece © mesmo ‘coma palavra “santo”, que remete a uma excelénca religiosa (a santidade), nfo sendo mais que uma compreensio do san ‘ovsazrado” como patticipagdo do transcendente” A fenomes nologia da religido ndo contempla em “o santo/sagrada” o aspecto de virtude ou pureza, mas o dmbito impregnado de alguma maneira por uma Realidade transcendent 3.2. Resumo do estudo do sagrada/santo patio siulo XIX (htm ater cmos Discos salve a religa,de Schiircher 199), Son pelos descobrimonos arqiolgicos e Ores Prxins hutdo ito e Aral, xa pelo interes nas loc Oven mits estaisos ress pelo pbc erigsm dt) lige) ou plo fentmeno de sas eae seesliterinasou ris Oaparecento de nano texts ovo continent de outros ersentspsshion so sta 08 falar em homo religiosus, em ver de interpretaro aconte cimento religioso sob o prisma de sistemas filoséfieos em vga (por exemplo, 0 positivismo ou o evolucionismo). Desa maneira surge FM. Miller (1823-1900), inicia- dor do estudo dos mitos das religides a partir da fitologia ccomparada (no ang de 1856, Miller publicou se ivro Mito ogi comparada)” As religioes so o testemunho das linguas que 05 sees hurmanos usaram para dirigir-se ao seu eriador. Do grau de parentesco entre as linguas indo-europsias, pode se deduzir 0 parentesco dos mitos dos povos e sua unidade religiosa fundamental. Assim, eram equivalentes 0 Zeus dos rego8, 0 Jipiter dos romanos, o Varuna da India, 0 Ahura Mazda iraniano © 0 Thor escandinavo, A partirdo Dyaus pitar (© Deus pater) sinscito, considerado mais antigo, surge w divindade comum denominada como Céu-pai Mas 0 método de comparagao nio considera © que préprio de umm cultura ou os mitos que no tm uma equiva Jencia lingistica em outa Enire as obras de. M: Mller, considerado 0 funda- dor da ciéncia comparada das religides, ¢ importante mencio- naros 51 volumes de seu Sacred books ofthe East (Os livros sigradis do Oriente] (1872-1895), Para compreender o ser humano reljgioso a partir de seus proprio testemunhos e, portanto, estar aberto fen rmenologia, & necessirio mencionar, antes de mais nada, 0 sueco Natan Soderblom (1866-1931). Desde cedo (1913), Pportante que aidéia de Deus. Retomou as anlises de Emile Durkheim sobre © mana (vocabulo da Polinésia), mas, em vez de entend2-Io como uma forga impessoal e geradora do social, Séderblom desereveu-o como tma forga sagrada es- © piritual,fatoressencial de religiosidade e gerador do semti- mento do divine. Da conseiéncia do sagrado, 0 er humano chega a consciéncia de uma divindade, Oque éo mana para os poves do Pacifico seria 0 wakian para os aborigines dacotas norte-americanos, 0 orenda para (0s itoqueses, o manine para os algonquinos, Pode-se registrar algo equivatente em outras vertentes: no masdefsmno do Ir 0 poder, oesplendor transcendente denomina-se hvurenah ati- buto esseneial do deus Ahura Mazda. E também o Brahman (principio absotuto sentido das coisas) do hinduism, Em todo os casos, trata-se de outra forma de falar do “sagrado” como esséncia da religto. © tena imeressou especialmente Rudolf Otto (1869- 1937), Noseulivto O Sagrado, ele chama-o de “um elemen. to de uma qualidade absolutamente especial que se coloca fora de tudo aquilo que chamamos de racional[..], cons indo assim [..] algo inefivel”. Para expressar-se melhor, Otto adota também o termo latine mumen, a forga divina manifes: ‘ada na agdo pessoal de uma ou outradivindade Na sua anilise, Otto diferencia quatro momentos de apreensio do sggrado/numinoso:primeiro aparece a conscin- ciadecritura ede dependzncia: depois, uma aitude de sumo respeito, 0 tremendum da experiéneia religiosa; no tereeiro momento, 0 sagrado apresenta-se como o interamente Ou- tro (fase do msterium, clement central de tas a irs) Por limo, 0 Mistério impae-se como fascinanse atraente serador de feicidade Nessa anise — critcada por ser demasiado psicolo- izante—, dstacam-se dois aspectos,aparentemente opos- tos, do sagrado como mysterumascinans e tremendu con comitantemente. Veremos ue, segundo atestam tadas a5 re Tigges de fato€ assim utr investigador que fez avangar o estudo das rei es de manta nova, pois deinou falar 0 homo religiosus, FovotolandésG,vanderLccuw (1890-1950), Suaobra lis: sica &a Phinomenologie des Religion (Fenomenologia da religito}(1933,em espanol, Fenomenologia dela religiin, Méaico, 1964). Ele-entende a experiencia rligiosa como uma experineia do poder teanscendente que busca sua fea Tizagio, O ser amano eacontra-se diante de um se ox obj to extroriniri,revestido de poder mana, waka, orenda, -munen, veja acim; 0 a0 ents os chineses,baraka para 03 frabes ete). Ao descobrir esse poder em alguns objtos oa Personagens, 052" humaio considera sigrados: desde uns podia até um sacerdote. O ser humane seligioso-¢ aguele Que, em sua attude © no seu comportamenta, vive a agd0 digi ora transcendent, manifesta nas cosas ou em doterminados sere. 2 Anes. (0 livro mencionado de van det Leeuw imaz na versio francesa 0 subttulo de La religion dans son essence et ses ‘manifestations [A religido em sua esséncia sua manitesta- io} (1955), que € um programa inteiro de fenomenoiogia to que se pusdesse possuir a bel-prazer (uma espécie de do- ‘minio mental). ‘Tampouco ha uma relagdo de causa eefeito, como na pereepedo intelectual do Motor Imével de Aristteles,rela- ‘Gio que, nfo importa 0 que seja, deveria suscitara experién- ‘Gia do Mistério por meio da contemplago do cosmo. ‘A relacio com 0 Mistério, que acontece na experién cia religiosa, € de sujito a sujeito; ao menos se vive como tal, O erente nio fala de Deus como um “ele”, mas a ele ‘como um tu" (assim &na oragIo)!" Ou pelo menos fies em Silencio quando o préprio Mistério fala nele. O Silencio (0 hada vaziolo 2erolo no-see/o sun do hinduismo)& tam- ‘bém um simbolo fecundo do totalmente Outro (veja a intto- ddugio do Capitulo II} A silaba OM (= AUM, do aberto a0 fechado) & outro simbolo (lingUstica) do cariter apofatico de Brahman: veja otestemunko de Katha Upanishad: odes hie dita NT) Man cis di Bs ite 198 2 sai fons {A paiva que todos os Vedas lembram [.1, OM. Dever to, esta silaba €0 Brahman, ela Ga coisa suprema, Quando compreendida, tudo 0 que se desea €obiid, € 9 melhor ive, mais alto. Quando se reconheceu esse nivel, 36 ‘magnificado no mundo do Brahman.” (HI15-17). Por outro lado, € evidente que “transcendéncia” é um ‘ocabulo simbslico; no implica que o Mistérioesteja “do ‘outro lado”, € também imanente no ser humano, visto que se ‘manifesta a ele de alguma maneira, Aqui ja € possivel perceber a importincia da lingua- gem simbolica, mateiz de toda linguagem religiosa Pantinde do pressuposto de que existe uma realidade inexprimive, pore vitl pata ser humano, como se po devia falar dela? Como o inexprimivel pole chegae ser ‘expresso? E essencial que 0 inexprimivel, enguanto inexprimive, sejaexpcesso. A impossibildade de express- lo no poderia ser suprimida, Pis no se trata, em stim Instinct, de reeuperar @inexprimivel no dominio do ex primivel por um tague ox por uma extenso sui a ln uagem corrente. Chegamas 90 cixo de nossa relleio © precisamos intraduriro conceito de simbolo 2)A relagio sujeito-sujeito que se estabelece na expe- rigneiareligiosa, mas que tem sua origem no Mistéio (que se hierofaniza), equvale a uma interpretagao-encontro que produz efeitos no ser humano: admiraglo, temor, oraga0, adoragio ete. © encontro faz-se atitude, como também se {az palavea e gesto ritual Quando o Mistério & chamado “Deus”, nio deve en tendee-se como um nome comum (=a divindad), mas como lum nome préprio, que pode ser invocado. Em culturas nas {quais 0 nome proprio de Deus perdeu-se (comma sucedeu fom “Tahweh" no judaismo, por razdes que nio vem ao aso indicat), 08 substitutes sia usados como nomes pr prios pessoais. encontto com o Mistério feta profundamente 0 ser fhumano. As vezes, de forma definitiva e total, 0 que tem Telagdo com a experiéncia de salvagdo, viva inicialmente ina paz e no goz0 do encontro com o sagrado, Cabe-nos perguntar, sem diivida, se sempre hi um cencontro pessoal com a divindade. No hinduismo clissico (co falamos da religiosidade popular), Brahman nao é um Deus pessoal, mas € 0 fundamento de tudo o que existe, € uma forma do Absoluto; no budismo, ni lik Deuses, Con- tudo, trata-se de uma questie de nomes; 0 nivel da transcen dnc esta bem assegurado, do contrario nao haveria expe- riénciareligiosa. A experigncia da “iluminagéo (= Buca)” & ‘um contato claro com a trapscendéneia ‘© hinduismo upanixiica € uma forma de rligiosida dde metafisica pouco comum. No geral, subsistem os diver: s0s Deuses da tracigfo védica (Shiva, Agni, Vayu, Indra Isvaraete), que na realidade sio manifestagses de Brahman Na Kena Upanishad I], mostra-se claramente que Brahman esti além dos Deuses aos quais se manifesta no nio-mani- festo(vejao texto completo na antalogia do Capitulo X, item 4.1.3). Em I, fala-se que é inefivel:"O que no & expresso ‘or palavra, por quem a palavra& express sso. 0 Brahman, siba-o: nio © que se venera aqui por ti Deve-se considerar também @ movimento da bhakti fu devogo (muito presente no Bhagavad-Gita) ca tendén- cia ao misticismo, no qual 0 encontto pessoal eafetivo com a divindade & wansparente Enquanto realidad por exeeléncia, como Sere enersia totais, o Mistério representa a perenidade,aeficdcia, a fetli dade, a forga, Tudo 0 que no & 0 Mistrio¢irreal ma percep: ‘Gio do homo religiosus. Veremos, a estudarmos o mito (Ca- pitulo VI tens 13 e2.1),a fun instauradora, fundadora de toda realidade fenoménica, desempenhada pelos deuses. (O ser humano deseja estar no real e significative. A diferenga de nivel faz com que o ser humano opere certos yestos “eisagégicos” (introdutérios) para participar a atmostera do Mistero e ser ireadiado por ele. Dai a im- portancia dos “ritos de passagem” ou dos “ritos de inicia- {0 tipicos em todasas cultura (ve o Capitulo VIN, item 11), A “eonversio" coma renovario (nas relies prof 28) €a“iluminagio” (nas religibes misticas) so, também, ‘experigncias inictieas, no necessariamente rituais, De qualquer forma, o sagrado transfigura a existéncia, & um paradigm transhumano, que, portanto, impde condutas & atirudes, Para os primeitos eristias, por exemplo, aexpe- iéncia pascal de Cristo no era sé interior, ela suscitava no- ‘0s comportamentos, tanto que Lucas, o autor dos Atos dos Apéstolos, designa essa nova forma de vida como um hodés ‘ou “caminho” (ef. 9,2; 18,255; 19,9.23; 22.4; 24,1422), Di-se, portanto, um duplo momento na experiéncia religiosa: por um lado, o Misterio hierofaniza-se de alguma ‘maneira no ser humano, na relidade fenoménica (natureza, histria, pessoas); por outro lado, o ser humano realiza os — 4 ritos de passagem que o submergem mais profundamente na realidade fenoménica. (© cariter do Mistério de nlo ser objetivivel conduz nos a dizer duas palavras sobre a magia ea idolatra, termos tasados na compreensio do divino ‘A magia & uma manipulagao do sagrado, como se este fosse um objeto disponivel. Um ritualismo excessive, por cxemplo, converte-se em magia quando “impée" & divinda- dea abrigagao de conceder o que o ato ritual significa. Tam- bbém a fe pode converter-se em magia quando 0 orante"as- segura-se” da ealizagio,quase automstica, do que pede. Em futros casos, &diffeil matcar o limite entre a magia, como ‘manipulagio do Mistério, ea forca sacramental de gestos © palavras, que mediatizam sua hierofan [A dolaria, por sua vez, & a inversio de niveis que ‘opera quando o fenoménico é divinizado. Agui também tem Ingaragucaambighdads,j asintad a espeito da magi, Tr epifni com atiudes (por exemplo, de venera: (io, de aproximagao e contato, de comunicagao) em ditegio 0 Mistério ou Deus, presente nessas mesmas coisas. E evi- dente que tocar uma estitua nio é “tocar adivindade” no sen- tido real. Seria pueril interpreta dessa maneira a vivéncia re~ Tigiosa do transcendente, © crente “sabe” que a imagem de sua divindade & obra humana, como também sabe (em outra ‘dimensio) que nela se mediatiza outra Realidade, ‘Quando se analisa corretamente a experiéncia religio- 12, a idolatria ndo existe. Se dissermos, por exemplo, que 0 dinheio tem um valor divino edessa forma ele € sacraizado 01 divinizado, fala-se em um sentido metaférico ¢ fora da experiéneia religiosa. No contexto religioso, a “idoatria™ seria um absurdo em si mesma, pois Faria com que a expe- rneia religiosa nao fosse real e se anulasse automatica- mente, 0 que nlo € certo Para terminar esta caracterizagio do sagrado, pode: ‘mos acrescentar das observagées, uma referente ao dean ce da experignca religiosa e outa a uma descrigao comple- mentar do Mistério, + Como 0 indicou Joachim Wach, um dos pioneiros da ciéneia das religides, a experigncia religiosa comprecn- de todos os niveis, tanto da realdade, como das faculdades Jhumanas." Assim como ¢ individual e social, sob um pon: (0 de vista, sob outro, é uma experiéneia mundana (o que conduz a uma cosmovisio), de Deus (teovisio) e do ser Jnumano (ética) Estes ts elementos inter-relacionamse: ‘uma determinada visio do mundo corresponde uma de- terminada antropovisio, da mesma maneira que elas in- Auenciam na compreensio da divindade. E vice-versa E preciso destacar que toda cosmovisio religiosa possui luma profunda coeréncia interna, E um aspecto de seu pa- pel totaizador da experigncia humana, Mas, se agora nos centrarmos no ser humano, sujeito dla experiéncia numinosa, observaremos que se repete 0 ca iter totalizador da expetiéneia ao incluir tanto o sentimen- to, quanto a vontade ea intelecgio, Os tés “lugares” esto representados, por exemplo, pela confissio des pecados, 3 fica ou as leis € a doutrina,respectivamente. No hinduis> tno, pode-se enfatizara devogio (bhaAri)a ag30 (Karma) ou irespeculagio metafisica (faa ou gnose), mas a és auto- jimplicam-se em uma forma mais ou menos relevante Das linguagens da religio, o simbolo eo tito ex- yesiam mais 0 sentimento; 0 mito contém umn elemento Se inteleeed, mas apela também & emoglo, enquanto que ‘outrna, que parece referirse 36 a plano nottico,dir- ge-se também 8 vontade, mediante os sistemas legais e 8 fia relia, ‘Adingramagto do sugrado como mysteriu fscinans « remondurm que Rudolf Oto nos havi apresentado pode Ser aripliada desta mancia: +0 totamente Outro é ented como mysterim Porque se experimenta sua fora hlerofinia crato- fan), mas pormanece intinglve cm sua inimida- de ou esstaca (pelos rte, o er humano busca ter Scvto a ele). Nao é possvel nomed-o (as teolosis hamadas apofitiess slo decorréncia dessa impos- Shilldade), Como diz a Keno Upanishad.€ "fe. rente de todo o conhecido, também de odo 0 des- onhecido” (13), Em termos onlolicos, hinds ‘mo upanixiico o define (o Brahman) como "30 Ser nem no-ser (nasa una asa)”: toda experiencia Glo seré limitada; 0 ndo-sr€a maxima virtuaidade ddosere um simipolo mals ico que o dose” mas Sina assim se refere ao sr pssivel, o que € entrar ovarentenalimitagao, Por isso frmula € nega ‘Ho também da negngdo lia ‘© Mistério produz assombro, admiragio (€ mirum), | as condigdes para entrar em contato com o sagrado, Ianifesta-se em coisas grandes (magnalia/megatcia), em Um caso tipico é a pureza/impureza ritual que se re pportentos ou milagres ete. Esse cariter “ad-mirivel” gera fere, por exemplo, aos requistos da pessoa que ofe ‘efeitos aparentemente opostos de atragdo ¢temor. rece os saerificios, do sacrficador ou da vitima para + Como msterium fscinans produzatrago, sua rig a agio ritual © beatifica, O amor éa resposta; também oso 0 sim Para resume e aprofundar em alguns detalhes 0 tema bolos de aproximago, de possessio, os ritos de cons do sagrado, podemos assinalar que: sragio ede iniciago que atraem o sagrado ov intro no. A esperanga da “salvago", em todas as suas inimeras expresses, 2 melhor evidéncia da araga0 que suscita a experiéncia do Mista, +m sua estritura esseneial, 0 saprado € sempre 0 ‘mesmo ato misterinso, a manifestagio de alo “to: we no pertence a esta ordem na- mente Outre tural e profana, + Maso msterium também & tremendum, no temivel no sentido de sua rejegio ou fuga dele, mas no te- ‘mor reverencial que obrigaa mantera distincia (veja © relato da sarca ardente em Ex 3,tss), a fiear de Jjoelhos (© gesto da provkunesis, Di 8.18: At 9.4) © adori-lo. Ea majestas ou majestade do sagrado; os + 0 sagrado/divino, contudo, manifesta-se por intermé- _gregos nomeavam 0 sagrado come sebastos (equi dio de outra coisa, Esti mediatizado. Continua senda + Todo fendmeno religioso ¢ uma hierofania. O sagra- do, de fato, sb pode ser experimentado se ele se mos: tar Ao se manifestar no espago € no tempo, Weis se deserever. ‘alente a0 shambos “estupoe”) Em inserigbes, tam. inobjetivivel, Mistro, Manifestad, prmanece como bm um titulo do imperadr romano como encarna- sem manifestagio (a linguaguem upanixadia are 0 da divindade. Na Biblia, aparece com feqién- pelo de Brahman lembeaco uma e outa vez) cia no Deuterondmio o radical yr' (are ?mrd'/ + Por isso, mostra-s heterogeneamente, env wma pl ‘nora’ para indicar 0 temor que Suscita a miemria raldade de signos: objetos (qualquer elemento do sages poderosas de lahwel (434,721, 10,1721 28,58), Un profeta como Islas sent tenor perante 8 fefania de lahweh (Is 63. Tamibém Da 10,8). + As eategorias de “sagrado/profano” atraem & sua + Cada medagdo revels uma modalidade do sagrado © constelago semantic as categorias de “parovimp- tuna situago particular do ser hirano com respeito 0", que, como aqueas, no tém sent ético, mas fee, Uma arvore sugrada & assim porque mostra ‘ontolbgico. “Puroimpuro” éaqucle que tem, ou tutra coisa, mas sem deixar de ser rvore. Como ‘mundo fisico), fendmenos da natureza, pessoas, 220 tecimentos, palavras sagradas (oragaes, recitagio de tum mit leitura de um texto sagrado ete.) ec rads, no abstante, tem um efeit relizioso que corte do fato de ser rvore. Sem deixar de sero {que é, orienta para outra Realidade, captada sé pelo ‘homo religiosus enquanto ta +A manifesto do sagrado & uma eratofania; expe sTimenta-se como forea, de outrs ordem sem vid, ‘implica eficacia, perenidade. Essa forga mostra-se em diferentes niveis, o principal €0 urinico, jé que {2 céu € 0 imbolo por exceléncia da transcendéncia do poder (veja especialmente o simbolo ea conti ‘gurago do divino, no Capitulo V; item 1.2.1, 4A reli Tem-se usado até aqui expressdes como “cigncia/his. {ria das religides" ou “fenomenologia/flosofia. da reli- sido” para designar campos de estudo, Mas o fendmeno es- tudado foi chamaco de “experigncia tligiosa/do sagrado™ ¢ ‘lo “religido”. Esse termo ndo é usado nos textos sazrados Antigos para assinalara experiéncia religiosa. Em nosea lin. suscitaa idéia de um corpo dou 1a definigio de Emile Durkheim, “um sistema de rengas e de praticas rlativas is coists sagradas” © termo provém do latim (religio) e sua provivel

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