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Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Metodologia Ana Dorvtéia Arantes Medeiros | Reprodugdo proibida sob pena de violugdo de Direitos Autorais, Argumentos Juridicos 1. Argumentos Argumentacdo ou argumento € 0 raciocinio mediante 0 qual tenta-se provar ou refutar uma tese. Seu objetivo & pois, persuadir ou convencer alguém de sua verdade ou validade, Em outras palavras, 0 proceso de argumentago consiste em defender ponto de vista desenvolvendo raciocinio, demonstrando, exemplificando com eficiéneia, para persuadir © leitor/ouvinte da veracidade ou accitabilidade da opiniio defendida, A argumentacdo é um raciocinio persuasivo. Os argumentos devem ser claros, coerentes © expressos em linguagem adequada, Um tipo espeeffico de texto nevessita de uma expresso especifica. A linguagem é elemento primordial. A linguagem deve ser trabalhada, pois a construgao do sentido nfo prescinde a terminologia, a forma de expressio. Ao ser usada a variante padro, imprescindivel se faz a obsetvagio de suas normas. 1. 1. Organizagio do raciocinio légico O racioeinio é o encadeamento ldgico de juizos ou pensamentos. F. algo tio comum € intuitivo que a maioria das pessoas ndo se preocupa em analisar como tal proceso ocorre (Rabuske, 1995). Ha alguns tipos de raciocinio entre eles: monotdnico, niio-monotdnico, dedutivo, indutivo, abdutivo, analégico, senso comum, 1. 1.1. Raciocinio monoténico e raciocinio nio-monotinico Para muitas situagdes, 9 raciocinio sobre um problema processa-se sobre informacdes estiticas. Durante 0 processo de resolugdo do problema, o estado (verdadeito ou falso) dos fatos permanece constante. Esse tipo de raciocinio & 6 monotOnico. Os seres humanos tém a capacidade de manter 0 caminho quando as informagdes mudam, Se alguma coisa muda, & possfvel ajusta-ser a outros eventos independentes. Esse estilo de raciocinio & conhecido como raciocinio nio-monotOnico. (Durkin, 1994) 1.1. 2. Raciocinio dedutivo © raciocinio dedutivo utiliza fatos (axiomas) para deduzir novas informag6es. 0 processo inicia-se comparando 0 axioma com uma certa implicagio para concluir novos axiomas (Durkin, 1994). A regra de inferéncia modus ponens € a forma basica de raciocinio dedutivo: SEA € verdadeiro EA implica B, ENTAO B é verdadeiro. processo dedutivo parte do geral (premissas) para o particular (conelusao). Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Metodologia Ana Dorotéia Arantes Medeiros 2 Reprodugdo proibida sob pena de violugdo de Direitos Autorais, A orginizagio do raciocinio pelo método dedutivo fundamenta-se no seguinte principio: 0 que vale para todos os elementos de um conjunio deve valer para cada elemento do mesmo conjunto. 1.1. 3. Raciocinio indutivo Os seres humanos utilizam 0 racioeinio indutivo para aleangar uma conclusio geral de fatos limitados por meio de um processo de generalizagao. Pelo raciocinio indutivo, & formada uma generalizagzo que se acredita que possa ser aplicada a todos os casos de um certo tipo, em bases de mimeros limitados de casos. (Durkin, 1994) proceso indutive parte do particular para o geral 1. 1. 4, Raciocinio abdutivo ‘A dedugio € exata no sentido que inferéncias retiradas de fatos estabelecidos e implicagoes validas so logicamente corretas. Abdugdo € uma forma de deducao que permite inferéncias plausiveis. Nesse caso, “plausivel’ significa que a conclusdo pode surgir de informagdes disponiveis, apesar de ndo se ter certeza da veracidade dessa conclusao. (Durkin, 1994) SE B 6 verdadeiro E SE A implica B, ENTAOA é verdadeiro? “O raciocinia abdutivo consiste em fazer funcionar um modelo mental do cconjamto de wma situago compativel con as partes da situagdo que podemos ‘observar realmente. Trata-se de reconstruir 0 conjunto de uma historia partir d& Fragmentos vonhecidos. Baseando-se em pistas, Sherlock Holmes dediea a maior parte de seu tempo a racioeinias abdutivos. A ahdugio. mio se df sem permanente valvém entre construgao e simulagiio de modelos mentais, de um lado, ¢ observagdo em verdadsira dimensio de outro,” (C. 8. Peirce} 1,1, 5, Raciocinio analégico O raciocinio por analogia € 0 processo de generalizagio fundado em semelhanga de relagdo apresentada por elementos de totalidades diferentes Consiste em passar de uma ou mais proptiedades jd observadas em um dos elementos & atribuigdo das mesmas propriedades a outros elementos de outra totalidade no qual ainda nio tenham sido observadas. (Ferreira, 1995) E a atribuigao de uma qualidade « um objeto pela presenga desta qualidade em outro ‘objeto que, como o primeito, jd apresenta qualidades comuns. Esse tipo de raciveinio utiliza © modelo mental de alguns conceitos por experiéncias. E possivel usé-lo para obter a compreensiio de um novo objeto ao aprimorar este conhecimento pela descoberta de qualquer diferenga especifica. (Durkin, 1994) Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Metodologia Ana Dorotéia Arantes Medeiros 3 Reprodugdo proibida sob pena de violugdo de Direitos Autorais, 1.1. 6, Raciocinio de senso comum Os seres humanos aprendem a resolver problemas de forma eficiente por meio da experiéncia. O senso comum € utilizado para encontrar uma solugo rapidamente, Esse tipo de raciocinio confia mais num bom julgamento do que na légica exata. Quando so usadas heuristicas para guiar a solugdo de um problema num sistema especialista, isso & chamado procura heurfstica ou melhor procura. Esse tipo de busea & usada para evitar ¢ temida exploso combinatorial. Entretanto, no se pode garantir que uma solugo seré encontrada, mas somente que a diregio escolhida para solucionar o problema & a melhor. A procura heuristica ¢ valiosa nas aplicagdes que requerem solugdes répidas. (Durkin, 1994) Entre outras formas de organizagao do raciocinio, temos a causalidade. Numa exposigfo, podemos partir das causas para as consegiléncias, ou das consegiténcias para a causa. Exemplos “Pensa logo existo.” (causa ~ premissa) (conseqiigncia ~ conclusio) Existo porque penso (conelusio) (premissa) Na arquitetagdo dos argumentos, os principais processos so 0 dedutivo € 0 indutivo, Silagismo: 0 raciocinio \égico do silogismo contém: uma premissa maior, uma premissa menor © uma conclusdo. premissa maior é uma espécie de “verdade universal” ou regra geral, a premissa menor representa um caso conereto e a conclusio, 0 reconhecimento de que ao caso espectfico aplica-se a regra geral Observe: premissa maior: todos os homens so mortais, ptemissa menor: tu és homem, conclusdo: logo, tw és mortal Ftimema, considerado um silogismo imperfeito, é 0 que possui daas proposigées, Veja: ‘© homem de bem é virtuoso, logo, um assassino no € virtuoso (a premissa menor fica subentendida: um assassino no é um homem de bem) Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Metodologia Ana Dorotéia Arantes Medeiros 4 Reprodugdo proibida sob pena de violugdo de Direitos Autorais, © argumento condicional & exemplo de raciocinio pelo processa dedutivo. Pelo raciocfnio hipotético-dedutivo, parte-se de uma condigao, para se chegar a uma conclusao. Diante de um problema, formula-se condigio possivel. Entio, faz-se uma verificagao se 0 resultado confirma ou nao a hipstese. 0 argumento pelo absurdo & outro exemplo de organizacao do pensamento l6gico pelo método dedutivo. Esse tipo de argumento seré comentado com mais detalhes na segdio seguinte Os argumentos por enumeracéio / estatistica, por analogia sio exemplos de raciocinios organizados pela inducdo. 1.2, Procedimentos argumentativos dogméticos no direito Como jé foi dito, argumentar significa tecer argumentos, aduzir aos racioeinios que constituem uma argumentacao. No sentido juridico, significa alegar, trizer como argumento. ‘Toda argumentagio é parcial. Por ela, procura-se comprovar uma tese € conyencer a pessoa a quem é dirigida (magistrado), para obter sua adesdo. O texto argumentative € temédtico, ou seja, € constitufdo de idéias e conceitos que se combinam, somam ou repelem Seu objetivo € atingir o leitor (magistrado) em sua racionalidade, convencendo-o a aceitar alguma premissa ou conclusio. Q texto argumentativo & persuasivo. © argumento em si nao € prova de verdade, nao é uma demonstragdo inequivoca como a matematica. O argumento implica um juizo provivel, razodvel e possivel No Direito, ndo prevalece a légica formal, mas a légica argumentativa, porque no existe uma tese aceita por todos. Os posicionamentos sio equivocos, ou scja, pode haver entendimentos diferentes para a mesma lei ou para 0 mesmo caso concreto. A capacidade persuasiva do argument depende da capacidade expositiva do argumentador, de sua experiéneia, conhecimento, assim como da vivéncia da pessoa que se quer persuadir, A argumentagao depende da pragmatica, Quando se elabora uma argumentago em Direito, tem-se, de maneira geral, duas pretenses: comprovar fatos narrados ¢ as conseqiiéncias que advém desses fatos. Vejamos suas etapas, Ha um conflito, ou seja, as altemativas so incompativeis e pedem decisio. O problema é trazido ao juridico para deliberagao, Entio, faz-se: 1*. um questionamento da consisténcia do conflito enquanto juridico, ou seja, se & conflito & se 6 juridico. Eo traslatio, na retdrica antiga; Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Metodologia Ana Dorotéia Arantes Medeiros 5 Reprodugdo proibida sob pena de violugdo de Direitos Autorais, 2°. conjectural questionamento: fiz-se a articulagio do fato a um autor, A argumentagdo provém do ~ hid fato juridico? = quem €0 autor? = quanto a0 animo do autor? - houve livre vontade? ~ coacao? - foi intencional? = quais so suas possibilidades de relacionamento com 0 fato? 0 questionamento estrutura as posigdes de ataque e defesa. Considera-se: = ataque mais forte o que afirma o fato e 0 relaciona ao autor; = defesa mais forte é a que nega ambos: ~ defesa mais fraca € a que admite o fato € nega a antoria; 3°. definitio: discute-se a relagdo do fato e seu sentido tipificado pela norma Mais uma vez, estruturam-se a posighes de atague e defesa: = oataque mais forte afirma a relagao; ~ adefesa mais forte nega a relacado: ~ adefesa mais fraca: a) admite, mas substitui a designaco, ou alega atenuantes (Exemplo: roubo por furto ou gravidade menor, etc.) b) admite, mas de jure. A definitio & usada no interesse das partes, é, portanto partidéria e entra a habilidade hermenéutica. Assim sendo, as partes procuram demonstrar, convincentemente, recorrendo argumentos referentes’ = intencdo da lei ou do legislador: ~ a0 uso lingiifstico geral; = Aetimologia, ete. Vejamos alguns argumentos juridicos, 1.2. 1, Argumento ab absurdo ou reductio ad absurdum (argumento apagégico) Parte-se de uma posigdo contréria, ou seja, toma-se como ponto de partida o oposto do que se quer provas. Em seguida, demonstra-se como essa posigao é absurda, inadequada, incoerente. Assim, se o contrério do que é defendido € falso, 0 que € defendido & verdadciro. Em outras palavras: a uma proposigdo que parece verdadeira aplicam-se as regras Iigicas do direito, até se chegar a um resultado absurdo, inaceitével. Pelo resultado absurdo, demonstra-se que a proposicio, inicialmente tida como verdadeira € falha © inaceitével, assim sendo, a proposigao contréria é verdadeira, X € absurdo: logo, X € verdadeiro Este meio argumentativo exige grande conhecimento de argumentos de ambas as partes, ou seja, dominio da argumentagdo © da contra-argumentagio. Tomarmos, como exemplo, © prineipio do raciocinio literal da lei que, desenvolvido a risca, pode chegar a uma patente injustica: Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Motodologia Ana Dorotéia Arantes Medviros 6 Reprodugdo proibida sob pena de violugdo de Direitos Autorais, summun jus, suenma injuria: toma-se a lei a risca, conforme sua letra, @ chega-se um resultado injusto, 1.2.2, Argumento ab auctoritate E grande a importiincia deste argumento no Direito. Neste processo, usa-se a citagdo, normalmente, de doutrina, Parte-se da citagdo de uma autoridade que € x favor da tese defendida. Sendo 0 autor citado reconhecidamente competente no assunto que esta em questo, a referéncia a ele serve de argumento, No caso, & imprescindivel que a pessoa que se pretende persuadir reconheca a autoridade de quem foi citado. Além disso, que a citagao, realmente, corrobore as afirmages do autor sobre a tese, © argumento ab auctoritate subdivide-se_em argumento por qualidade e argunentos por quantidade. Nada impede que qualidade e quantidade estejam contidas ‘num s6 argumento, Argumento por qualidade 6 aquele em que é invocado o prestigio da pessoa citada, Argumento por quantidade € 0 inyocado pelo grande nimero de opinides a favor da tese defendida, 0 argumento por qualidade ¢ quantidade acontece quando se combinam o prestigio da autoridade (qualidade) ¢ a maioria de seus membros (quantidade) em favor de uma tese. Acontece, por exemplo, quando usam a expressiio: “sobre o assunto a doutrina No Direito, esta argumentagiio apdia-se: = na tradicao; = no papel dos jurisconsultos; = na forga da jurisprudénci A autoridade universal é rara. Existem autoridades para matérias espeeificas. Neste tipo de argumentacdo podem acorrer problemas como: = citacdo inadequada ao caso em tela; = deslocamento de autoridade, ou seja, a pessoa que é autoridade em um assunto € citada em outro, no qual nao € autoridade ¢ nem poderia ser citada. No caso dessas ocorréncias, temos uma antiattoridade. © argumento de autoridade pode ser combatido com a exposigio de idéia de outra autoridade que defende tese contréria. Exemplificando: Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Metodologia Ana Dorotéia Arantes Medeiros 7 Reprodugdo proibida sob pena de violugdo de Direitos Autorais, a. Ab auctoritate por qualidade: a. 1, Na fixaciio de alimentos deve-se observar além de outras coisas, 0 direito do suplicado de manter o mesmo nivel de vida anterior, conforme ensinamento da Tustrissima_ Desembargadora Aurea Pimentel Pereira, em sua obra sobre Alimentos no Direito de Familia ¢ no Direito dos Compankeiros: doutrina, jurisprudéncia € direito comparado. Renovar, 1998, in verbis Lol Tnicialmente, tem-se que, para n avaliagao das necessidades do alimentando & percepyao da Pensio, devem ser inchuidos, ndo s6 0 que 6 credor dos alimentos, emt principio, precisa para sua pripsia subsisténeia, como também, o de que necessita para atender despesas complementares, a saher, gastos com tratamiento de sade e educagio, quando for 0 caso. a. 2. Ademais, por se tratar de contrato de adesdo, nos termos do art. ... do Cédigo de Defesa do Consumidor, as pessoas que contratam com colégio no tém a possibilidade de diseutir quaisquer de suas clausulas. Neste sentido, dispde 0 Prof. Washington de Barros Monteiro: A lei nao exige prévia negociagao on confabulagio entre as partes, ela nao imple livre debate ou regateio das elsusulas contratuais, ela nfo reclama perieito acordo de vontaes, no sentido comum 4a palavea,[..] Nos contratos de adesdo, inexiste liberdade de convencao, nele se exclui qualquer discussdo entre as partes. (Curso de Direito Civil, v. 5, p-31) b. Ab auctoritate por quantidade: b. 1. Conforme o exposto acima, a responsabilidade, nos casos de dano ao meio ambiente ¢ objetiva, ou seja, independentemente da existéncia de culpa, adotando-se a modalidade do risco integral, justamente em fungo do bem juridico tutelado. Tal afirmagZo ajusta-se aos ensinamentos de Paulo Affonso Leme Machado, quando afirma que “nao se aprecia subjetivamente a conduta do poluidor, mas a ocorréncia do resultado prejudicial ao homem e seu ambiente.” (Direito Ambiental Brasileiro. Sio Paulo: Malheiros, p. 273). ‘Complementando, Edis Milar explica, in verbis: A responsabilidade civil objetiva funda-se no prinefpio da cquidade, existente desde 0 Direito Romano: aquele que lucra com um aividade deve responder pelo riseo ou pelas desyantagens dela resultantes, Assume 0 agente, destante, todos os riscos de sua atividade, pondo-se fim, em tese, pritica inadmissivel da socializagio do prejuiza e privatizagan do Iuero, A austneia de ‘culpa ou a Jicitude da atividade nsio mais inibe o dever de eparar eventuals danos causados. Aqui, faz-se necessério lembrar os ensinamentos do Professor Hugo Nigro Mazzili, que, na sistemética da Lei 7.347/85, “cabe liminar tanto nas agdes cautelares, como no Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Metodologia Ana Dorotéia Arantes Medeiros & Reprodusio proibida sob pena de violagao de Direitos Autorais, Proprio bojo da ago principal” (Defesa dos interesses difusos em jufzo, Ed. Rt). Esse mesmo racioefnio € desenvolvide por Edis Milaré: Independentemente de ajuizamento cle again cautelar, poterd ser proposta demanda objetivando a protegio dp ambiente, cumilada com pedido de liminar, que seci concedido, com ou sem justificagdo prévia, uma vez presentes os requisitos de admissibilidade do periculun in mora e do funus bond juris. (Aga0 Civil Publica, Ea RT, 2001, p. 202) b. 2. Doutrinando a respeito, o insigne Dr. Joao de Lima Teixeira Filho, em artigo publicado na Revista Trabatho e Doutrina, de setembro de 1996, afirma que: advertido, suspenso ou demitido por acusagio que the tisne a honra (ex: pritica de ato de improbilide), ¢ licito ao empregado postular 6 ressarcimento por dino material (pena xplicada) e a ‘compensagao pelo dano moral (acusagdo infundada). & 0 que tem sido proclamado tanto pela Justiga do Trabalho quanto pela Justiga Comum Também 0 grande doutrinador pétrio Dr. Tosé de Aguiar Dias, em sua obra Da responsabilidade civil". 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994, v. 2, faz 0 seguinte comentario sobre dano moral [io € 0 dinheiro nem coisa comercialmente reduzida a dinheito, mas a dor, 6 espanto. & emioga0, a vergonha, a injria fisica ou moral, em geral uma dolorosa sensagao experimentada pela pessoa, aribuida & palavra dor © mais largo significado, 14 0 excelentissimo Desembargador do Tribunal de Justiga de S20 Paulo, Dr. José Os6riv de Azevedo Jénior, em artigo publicado na Revista do Advogado, n° 49 de dezembro de 1996, leciona que: © valor da indenizagio deve ser razoavelmente expressive, Néo deve ser simibético, como ji acontgceu em outros tempos (indenizac3o de um franco). Deve pesar sobre 0 bolso do ofensor ‘como um fator de desestimulo a fim de que no reincida na ofensa ¢, Argumento apoiado na jurisprudéncia: A jurisprudéneia patria, nesses casos 6 unissona: © exame de anomalia na citagio independe de provocagio da parte, uma vex que ao Judicirio mbe apreciar de oficio os pressupostos provessuais e as condighes da agio . CPC, ART. 267, € 301, 1. (4° STI 4° Tuna, Res 22.487-5- MG, j 2.6.92, Rel, Min. Sélvio de Figueitedo, deram provimento, vi... BIL! 29.6.92, p, 10.328, 2 cal. A falta ou nulidade de citagio , torna impresertivel @ faculdade de desfurer a viciada relagto processual, (RT 648/71), 1.2.3, Argumento a contrario sensu Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Metodologia Ana Dorotéia Arantes Medeiros 9 Reprodugdo proibida sob pena de violugdo de Direitos Autorais, 6 sin Geguiene nasi penis Upiod do. Dinette, mas tarnbeini dat ore junteiou: Vejamos: diz o Art. 5° da Constituigo Federal, inciso II: “ninguém seré obrigado a fuzer ‘ou deixar de fazer alguma coisa sendo em virtude da lei. Este argumento a conclusio de uma proposicdo admissfvel, pela proposicio que Ihe & oposta. Ou, é 0 que concede a uma proposicao uma interpretacao inversa, como o siléncio da lei. Se o legislador especifica, taxativamente, os casos de uma incidéncia, @ contrario sensu, 0s casos nao especificados 0 abrangidos, Exemplos: a. Reza 0 “Art. 312: Apropriar-se funcionério pablico de dinheiro, valor ow qualquer outro bem mével, piblico ou particular, de que tem a posse em razdo do cargo, ou desvid-lo, em proveito proprio ao alheio: Pena — recluso, de 2 (dois) a 12 anos, ¢ malta 4 contrario sensu, aquele que nao for funciondrio piiblico nio responde por esse crime. conseqiiéncia AV.AXAY=/=a bie “Tudo que nao € juridicamente proibido esti juridicamente permitido” (Kelsen. Hans). Nota: Hé autores que consideram apenas como casos “inqualificados” b. © parigrafo 1° do artigo 897 da Consolidago das Leis do Trabalho, diz exatamente o seguinte: “O agravo de petigfo 6 sera recebido quando o agravante delimitar, justificadamente, as matérias ¢ os valores impugnados, permitida a execucto imediata da Parte remanescente até o final, nos prprios autos ou por carta de sentenca.” A agravante, ao apresentar © agravo de petigio de fis. .... dos autos em questo, deixou de delimitar, justificadamente, as matérias ¢ os valores impugnados, somente fazendo a indicagdo de itens, contrariando, desta forma, o dispositivo legal acima mencionado, Diante de tais ponderagées, nfo resta a menor diivida de que essa C. Turma Julgadora ndo hesitaré em negar conhecimento ao agravo de petigdo de fis. eis que, Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Motodologia Ana Dorotéia Arantes Medeiros 10 Reprodugdo proibida sob pena de violugdo de Direitos Autorais, contrariow as disposigGes legais contidas no pargrafo 1° do artigo 897 da Consolidagao das Leis do Trabalho, por questao de Justiga. Esta argumentagio pode levar a falso raciacinio: Art. 27 do Cédigo Penal: “Os menores de 18 (dezoito) anos siio penalmente inimputaveis, ficando sujeitos as normas estabelecidas na legislagdo especial.” contrario sensu, maiores de 18 anos S80 criminalmente responsaveis, Este raciocinio ndo pode ser aceito, pois hé inimputdveis os inteiramente incapazes, mesmo maiores de 18 anos © argumento contrétio sensu, ou seja, 0 argument de interpretaeio inversa, ¢ utilizada pelo argumentante nao apenas para interpretar dispositivos legais, dentro do principio da legalidade, Ble 6 também articulado para teaball 2 favor do argumentate, jurisprudéncia e doutrinas, transformando-Ihes 0 sentido, de forma I6giea, para adequar-se w uma tese qualquer, pela interpretacao por via inversa (Rodrigue, 2000, p. 236) Este argumento € combatido demonstrando-se que a inversdo do racioeinio € equivocada. 1.2.4, Argumento a pari ou simili Consiste em relacionar dois casos semelhantes entre si ¢ concluir que: se para ambos vale a mesma hipdtese, devem valer também as mesmas conseqiiéncias. O argumento @ pari ou. simili baseia-se no principio de que a justiga deve dar © mesmo tratamento a casos idénticos. E a argumentagdo por analogia. Este argumento deve prevalecer, quando hi idemtidade de fatos e arguments, Casos semelhantes devem ser tratados de maneira idéntica, para que se mantenha a cqtiidade no judiciatro. Jurisprudéncias, devises de magistrados so casos comuns de argumento a simiti. O que vale para X, deve valer para todos os casos semelhantes aX As semelhangas devem ser relevantes ¢ muito mais significativas que as difereng pois nao hé como impor resultados iguais a casos que divergem em sua esséncia. Assim sendo, na citagio de jurisprudéncia, as ementas (sumério de julgamento), ou trechos de Aposila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica ¢ Motodologia Ana Dorotéia Arantes Medeiros 11 Reprodusio proibida sob pena de violagao de Direitos Autorais, [Jo argumento por analogia 6 bastante til, ¢ se revela com maior intensidade no texto juridico pela copia de devisOes jusisprudenciais. Todavia, no deve 0 ‘argumentante se olvidar de que nfo & 6 niimery de decisdes copiadas que persuade, mas principalmente a prava de que os casos compardos so idéntieos € que 0 raciovinio da decisio paradigmtica € adequada. Sem isso, a analogia perde seu fundamento e, da, sua fungio de persuacir. (Rodriguez, 200, p. 244) Exempl a, Na hasta piblica realizada aos ...., nfio houve langadores para arrematar os bens penhorados no referido proceso de execugio. Conseqiientemente, o credor exeqilente, edit ¢ obteve a adjudicagao dos bens. Ocorre que, ao tomar posse deles, em companhia do Oficial de Justiga Fulano (qualificagdo), foi informado pelo devedor executado que o produto da adjudicagdo havia sido furtado, conforme boletim de ocorréncia que lhe foi exibido ¢ ora juntado aos autos (doe.). Ao caso em tela, ajusta-se como luva decisio do Eg. Tribunal de Justiga do Estado de Sio Paulo, C. 7* Camara na apel. 124676-2, cuja ementa é esta: “Adjudicagao., Anulagdo. Furto dos bens. Admissiilidade. Alegagiio de que a expedigao da carta tornon perfeita, acabada e iretratavel. Hip6tese que significa apenas que no mais poder ser discuti, o que nfo impede a superveniéneia de Tato que venha a torné-ta insubsistente. Recurso nto provid, LI b. Ao paciente foi imputado o crime tipifieado no art... do CP, sendo certo que a exordial acusatéria foi recebida (doc.), pedida e decretada a prisio provis6ria do referido paciente, (doc.), sendo certo que inexiste na cidade prisdo especial compativel com o status do paciente que € bacharel em direito (doe.).. Ao caso concreto aplica-se hipstese semethante decidida pelo Eg. Tribunal, verbis . JURISPRUDENCIA. V. julgado estabelece que Prisio especial. Cumprimento de prisio proviséria. em prisdo domicitiar. Admissibilidade, Inexisténeia absoluta de sala especial de Estado-Maior. Enguanto nfo houver transitado em julgado a sentenga condenatiia, deve o advogado pesmianecer recolhido em prisio domiciliar, por absoluta inexisténeia de Fstado-Maior. Esse direit, que a principio parece se consituir num privilégin, nfo foi eonferido em atengio A pessoa, mas sim, em homenager aos imieresses_piblicos que a esses. profissionais so confiados, porquanto, inobstante nao seja funcionéio piblico na acepeao juridica do temo, o advogado, no exereicio de sua atividade privada, presta scrvigo piblico, sendo elemento indisponsivel & Administracéo da Justica, "TACTimSP, hc. 275.4745, 15°C Posto isso, pede-se e espera-se que V. Exa. digne-se requisitar as informagdes que entender titeis, enviando a cépia que acompantia este pedido (CPP, art, 662), devendo receber, processar e conceder a ordem, ordenando x anulaco do proceso a Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Metodologia Ana Dorotéia Arantes Medeiros 12 Reprodugdo proibida sob pena de violugdo de Direitos Autorais, partir da r, sentenga, cumpridas as necessirias formalidades legais como medida de inteira justiga, 1,2, 5, Argumento ad hominem © argumento ad hominem € também chamado de ex concessis. Ele limita a validade de uma tese & qual esta disposto a conceder, avs valores que se reconhecem e/ou aos fatos aos quais estdde acordo, © argumento é, basicamente, utilizado para se obter acordos prévios em que Ihes silo estabelocidas as base: Na argumentagiio juriica, isso se d implicdncia da conseqiién em contririo”, no que diz respeito a concessdes de fato sem ia juridica, ou presunco do tipo: “ninguém é culpado até prova Exemplo: admite-se que a lei é inconstitucional, mas aceitando-se que nao fosse (ad argumentandum), mesmo assim, ndo se pode conchiir, como deseja a parte adversa, que determina que seja ilegal. © argumento ad hominem nao consiste em desqualificar 0 adversario. se confunde com o argument ad personam, que Veia-se: “AD ARGUMENTANDUM TANTUM” Admitindo ter sido arbitréria a dispensa, ainda assim no caberia a condenagdo a reintegrar. Como afirmou a recorrente em seu memorial (fis. ...), a tinica conseqiiéncia da dispensa sem justa causa, ou arbitréria, 6 0 pagamento da multa de 40% sobre os depdsitos feitos na conta do FGTS do empregado (corrigidos e acrescidos de juros capitatizados), por forga do que dispée o artigo 10 do Ato das Disposigdes Constitucionais Transitérias da Constituigdo Federal vigente, no cogitando de reintegracao, 1.2. 6. 0 argumento ad personam, também chamado argumento de fuga © argumento ad personam & 0 que desvia da questo principal para questoes subjetivas. Ou seja, procura atingir a pessoa da parte adversa, E, as vezes, usado, por Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Metodologia Ana Dorotéia Arantes Medeiros 13 Reprodugdo proibida sob pena de violugdo de Direitos Autorais, exemplo, em separagées judiciais, quando casais magoados discutem e envolvem elementos subjetivos ¢ ofensas & pessoa das partes, © argument de fuga desvia-se da questo discutida nos autos, para discutir os valores pessoais, idoneidade, profissio ou desgraga que bateu sobre a pessoa da parte. Este argumento apela ao subjetivismo do leitor, para que ele fique predisposto a uma tese objetiva. Exemplificando: © requerido tenta justificar sou desleixo em relagiio & familia e principalmente em relagdo & esposa, alegando basicamente que sempre procurou colocar ao aleance da mesma. © conforto © amparo para que 0 nivel de vida se estabelecesse acima da média, que para s0, necessitou esforgar-se de tal maneira que sacrificou até mesmo a propria familia, Ora, tal situagiio nao justifica 0 comportamento do requerido, de que as auséncias constantes do lar davam-se, sem quaisquer explicagdes, & sua esposa, Simplesmente 0 requerido desaparecia, sem dar notfeias de seu paradeiro. Por mais que suas viagens, ou melhor, seus sumicos, fossem em razio de sua atividade profissional, deveria ter o minimo, de consideragio com sua familia, avisando pelo menos o local onde se encontraria, até mesmo para ser alertado de qualquer emergéneia que poderia advir, principalmente em relagiio aos fill 1.2.7. Argumento ad rem FE também conhecido por argumento ad /umanitatem. Trata-se do argumento que se reputa valido para qualquer pessoa (ad humanitatem), Diz respeito a provas que sustentam a validade de uma tese em fungo dos fatos e verdades em que ela se baseia, Exemplos: = © argumento a causa deposita a validade da tese na demonstragao da causa do fendmenk = © argumento @ loco privilegia ou enfraquec segundo o local; =O argumento a modo privilegia o aspecto ou maneira como uma ago foi realizada, © comportamento 1.2. 8. Argumento @ fortiori Este argumento (= com maior razaio) divide-se em dois tipas distintos: o argument a minori ad maius ¢ 0 a maiori ad minus. Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Metodologia Ana Dorotéia Arantes Medeiros 14 Reprodugdo proibida sob pena de violugdo de Direitos Autorais, 1.2.9, Argumento a maiori ad minus © argumento a maiori ad minus tem aplic permissiva. Se é concedido um beneficio, certamente, também seré concedida um heneficio menos, o qual esté contido nele. Trata-se de argumento pelo qual se passa de uma validade mais extensa a uma validade menos extensa. Se a lei concede um beneficio a um delito mais grave, deve conceder o mesmo beneficio a um crime menos grave. Exemplo: Desapropriagaio implica portanto, interferéneia ilegal da autoridadle em propriedade alheia implica indenizagio. \deniv: =O que € aceito © reconhecido em um caso, deve ser aceito ¢ reconhecido em outro menor, A relagdo envolve © apsia-se em jufzo de valor ¢ na construgdo de hierarquias. (Obs. o exemplo acima € de FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Introdugio ao estudo do direito: técnica, decisio, dominagao, 3. ed. Sao Paulo, Atlas) 1.2.10, Argumento a minori ad maius Este argumento & muito aplicado em caso de prescrigdes negativas. Diz. respeito & alegagio que passa da validade de uma disposigiio menos extensa para outra mais exten Se a lei proibe o menor, evidentemente, deve proibir o maior. Exemplos: - Se anegligéncia deve ser punida, tanto mais 0 ato premeditado, = Se o crime culposo deve ser punido, tanto mais o crime doloso. A argumentacio € construida com auxilio de juizos de valor © na construgio de hieranquia. Este argumento, assim como 0 anterior ~ @ maiori ad minus ~ apoiam-se no prinefpio da igualdade perante a lei 1.2. 11. Argumento a posteriori Na idade Média, foi muito usado, depois cai em desuso.Fle se propde a fundar na validade pela enumeragdo de julgados da jurisprudéncia. Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Metodologia Ana Dorotéia Arantes Medeiros 15 Reprodugdo proibida sob pena de violugdo de Direitos Autorais, A forca do argumento repousa no reconhecimento — admitido como mais claro ~ das conseqiiéncias, 0 que, eventualmente, permite voltar as causas — menos comhecidas no cé em tela, E 0 raciocinio que leva A conclusio dos efeitos i causa, 1.2, 12, Argumento a priori E a apli dedutivo e indutive que leva a coneluir das conseqiiéncias para os principios, das causas para os efeitos As causa podem ser tanto de natureza psiquica, em termos de motive da ago, como de natureza fésica Exemplo: Um crime sem testemunhas ¢ com ind{cios reveladores: = busca-se um. suspeito que tenha motivos suficientes para té-lo cometido, 1.2, 13, Argumento silogismo ou entimema, (© entimema é também. chamado de epiquerema (a denominagao entimema € de Aristételes, epiquerema € de Quimtiliano) e corresponde a0 silogismo imperfeito ou silogismo ret6rico. Na retérica elissica, 0 entimema nao era propriamente uum argumento, mas 0 método ov forma de argumentagiio que correspondia a0 procedimento dedutivo da I6gica formal. Na retérica moderna, ele 6 classificado, contudo, como um argumento quase-légico de transitividade (Perelman e Tyteca, 1970:309). A transitividade ¢ uma propriedade formal das relagies que permite passar de afirmagio da mesma relagio entre Ae Be De C pata afirmagio da relagdo entre A eC, O entimema é uma relagao quase-Iégica de implicagao desse génern. F quase-légica porque nao tem 0 rigor formal do silogismo, pressupondo jizos de valor ni formalizaveis. Fste & 0 easo quando se argumenta do seguinte modo: admitindo-se o prinespio da irretroatividade diss leis (ha aqui um juizo de valor que considera a ieetroatividade superior. por ‘motivos éticas, sociais © mesmo técnicas, & retroatividade), e a lei x é, em religio ao caso C, um caso tipico de retroatividade (que deve ser recusada), sogue-se a exigéncia de nfo-aplicagSo da lei X ao caso C: Ao lado do earéter de método de raciocinio, o entimema tem forga de argumento de que a quase- dedugo que ali acorre di a impressao de rigor ligico, o que fortalece no espitito do endderecado 0 sentimento de persuasaa. Nesse sentido, a redagio das decisdes judiciais na forma de entimema, além de constituir um método, tem a fungio de reforgar a credibilidade da semenca, jogando com o respeita que se confere a0 rigor I6gico (na verdade, quase-Iégico) nos procedimentos de argumentagi. (Fereaz Ir, 2001, p. 338-339) Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Motodologia Ana Dorotéia nantes Medeiros 16 Reprodugdo proibida sob pena de violugdo de Direitos Autorais, Exemplo de silogismo: A Portaria 190/89 faz clara distingto entre « administradora ¢ grupo, para que, em momento algum, haja confusio entre essas duas figuras. Dispée 0 citado diploma legal em seus itens 10 € 11, verbis: “Grupo é um conjunto de participantes, na forma prevista no item 1.1, em conjunto determinado, reunidos pela administradora para a aquisicgo de bens, durante prazo previamente estipulados ¢ modalidades contratuais especificas.” “Apés constituido, eada grupo terd identifi aos demais que a administradora organiza.” \cdo prdpria ¢ sera auténomo em relagao Yo caso em exame, o grupo é capaz de direitos e obrigagdes, tendo individualidade pripria, pois, os consorciados que o constitufram com ele no se confundem, e, finalmente, tem o grupo plena autonomia patrimonial, Todas estas caracteristicas evidenciam a sua personalidade juridica. Portanto, 0 grupo é tecnicamente parte legitima para responder aos termos da acao. Tanto € assim, que, na pouco provavel hipétese de nao ser dado provimento ao recurso, seri © grupo apelante quem devolverd as quantias jd pagas pelo autor; portanto, dele € que sairao 0s recursos para esse fim. 1.2. 14, Argumento exemplar ou exempla E a utilizagao de decisdes jurisprudenciais para fortalecer uma conclusio. Utiliza-se 0 prinefpio da semelhanga (a pari ou a sinili). Os exemplos tém maior forca argumentativa, quanto maior for a semelhanga entre eles, € deles com 0 caso ao qual se aplicam, A forga, por principalmente, na autoridade dos exemplos citados, Isso aproxima, a0 ab autoritatem. n, no est apenas nas semelhangas qualitativa e quantitativa, mas, e tipo de argumento, Pode ser wtilizado, também, na demonstragdo de diferengas, quando os exemplos mencionados devem, por dissemelhanga quanto ao acaso, por em relevo uma situagao oposta Observern as amostras: «a. O que foi exposto pode ser ilustrado com entendimento de nossos Tribunais: Aposila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica ¢ Motodologia Ana Dorotéia Arantes Medeiros 17 Reprodusio proibida sob pena de violagao de Direitos Autorais, Despejo, Puplicidade de loeatrins. Litiseonséircio necessévio. Nulidade da sentengaproferida com dispensa da eto de co-locattio, ¢ decretadla em mandado de seguranga: Havendo soidariedade passiva, 0 eredor tem o direito de exigir de qualquer dos devedores a totaiade da divida coum. ‘Aqui, porém, nao se tata de agio de eobrangs de alugueres, mas de agio de despejo, visando a resend 0 contrato de locagio wom dlpliidade de ocatérios, dole a conseqiéneia processval Inisconsércio necessérin, ficando a eficaica da sentenca dependendo da citago de ambos (CPC, art. 47) (Revista de Julgados do Tribuned da Algada do Estado do Rio Grande do Sul, de7, 1980, 0 Sop. 247-248)" b, O Superior Tribunal de Justiga também ja pronunciou-se sobre o tema: CIVIL, SUBSTITUICAD PROCESSUAL. REPARAGAQ DE DANO. EGITIMIDADE DO MINISTERIO PUBLICO PARA PROPOR A ACAOQ QUANDO A VITIMA DO CRIME FOR POBRE. CP.P, ART. 68. A substituigio processual ¢ a representagio ‘das partes no pracesso so insttutos diversos; bem por isso, a substituigio processuall prevista no artigo 68 do Codigo de Processo Penal subsist a despeito dos dispositivos legais posteriores que ‘conferiram privativamente aos advogados a representagio das partes no processo, Recutso especial nao conhecido.” (Recurso Especial 25.956 - Sio Paulo (92.20026-5), Brasilia, 22.08.96) 1.2. 15. Argumento a completudine E 0 argumento que usa a assergao de que no Direito nao deve haver lacunas. Supée- se que 0 ordienamento juridico é completo. O juiz nao pode deixar de apreciar ¢ julgar um feito, ainda que a lei silencie. Este argumento € assegurado pelo art 5°, inciso XXXV da Constituigdo Federal Iei nfo excluiré da apreciacao do Poder Judiciario lesao ou ameaga a direito”) eo “Antigo 4°. Quando a lei for omissa, 0 juiz decidird o caso de acordo com a analogia, os costumes € os prinefpios gerais do direito.” (Lei de Introdugio a0 Cédigo Civil) “Artigo 126. O juiz nfo se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-Ihe-d aplicar as normas legais; ndo as havendo, recorrerd 2 analogia, aos costumes ¢ aos prinejpios gerais do direito” (Cédigo de Proceso Civil Brasileiro) “Artigo 127. O juiz 56 decidira por equidade nos casos previstos em lei.” (Cédigo de Processo Civil Brasileiro) © Direito deve ser visto como um ordenamento completo, como sistemas proprios para suprir suas Tacunas, Observem: Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Metodologia Ana Dorotéia Arantes Medeiros 18 Reprodusio proibida sob pena de violagao de Direitos Autorais, a. Ao estabelecer que “a lei no excluiri da apreciagdo do Poder Judiciério esto ou ameaga a direito”, o constituinte garantiu o direito & tutela preventiva, Corroborando, leciona Luiz Guilherme Marinoni > Ninguém prefere 0 dano 8 sua prevengo: negar o diteito & prevenyio do dano é admitir que 0 cidaclao ¢ obvigado a suportar © dano, tendo apenas direito A indenizagao, Ov o que & pio, € criar uum sistema de tutelas onde impera a “monetizaga0” dos direitos, ineompativel, como & dbvio, com ‘6s direitos com contetido no patsimonial. O atigo So, XXXV. da Constituigdo da Republica, garamte o digcito & tutela inibitoria, pois o dieeito de acesso & justiga tem como coroliio 0 direito & adequada tutela jurisdicional,e esse, por sua vez, 0 direito & tutela preventiva, diseito inelimindvel ‘em um ordenamento juridico que pretenda tutelar de forma efetiva os direitos. (Revisra de Direito Processuat Civil, 2. ed. Curitiba Genesis, 1996) Nota: No exemplo acima, temos a associagdio dos argumentos a completudine © ab auctoritat. Outro exemplo: Esta disposto no art, 8" da CLT que: [L.J. na falta de disposigdes legais ou contratuais, decidir, conforme o caso, pela jurisprudéncia por analogia, por equidade e outeos principios e normas gerais de direito, prineipalmente do diceito do trabalho, [..], mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevalega sobre o interesse piblice.” inferindo-se dai que o juiz do trabalho esti autorizado a aplicar a teoria da despersonalizacio da pessoa juridica, sempre que esta se revelar como medida aclequada para “que nenhumt interesse de classe ou particular prevaleea sobre o interesse piblico, este revelado pela necessidade de se garantir a efetividade e eficdcia da tutela jurisdicional 1.2, 16, Argumento a coherentia Por este argumento, busca-se demonstrar que, havendo duas normas juridicas que ‘o mesmo fato, a lei mais benéfica € que deve ser aplicada ao caso em tela. regulai £ um argumento facilmente contrapasto pela coeréncia do ordenamento juridico. pois dificilmente haverd disposig&o de admitir contradigdo do legislador. 1.2. 17. Argumento psicolégico A lei é claborada para determinado fim e este deve prevalecer. Entretanto, uma imprecisio de termos empregados na claboragio do texto legal pode levar a uma interpretacdo divergente da vontade do legislador. Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Metodologia Ana Dorotéia Arantes Medeiros 19 Reprodugdo proibida sob pena de violugdo de Direitos Autorais, © argumento psicolégico procura resgatar a intencao do legislador na ocasiao da claboragio da lei, demonstrando que a interpretago literal da lei desvirtua a que o legislador queria alcangar. Em outras palavras, a interpretagdo da lei pelo que ela diz desvincula-a de suas razdes originals, 1. 3. Defeitos da argumentagio Falécia & um raviocinio falso com aparéneia de verdadeiro. © termo faldcia deriva do verbo latino fallere que significa enganar. As fakicias que so cometidas involuntariamente, designam-se paralogismos; as formais séo produidas para confundir alguém numa discussio, Sao constitufdas por raciocinios invalidos de natureza dedutiva. Exemplo: O aleodlatra bebe. Logo, quem bebe é alcodilatra ‘Numa faldcia, as premissas podem ser verdadeiras ou falsas, mas a conclusio & falsa. A conclusio ¢ abusivamente inferida, ignorando-se as outras alternativas Vejamos algumas falécias: 1.3.1. Cireulo vicioso 0 citeulo vicioso acontece quando proposta ¢ argumento so a mesma coisa, X EX porque EX; se ndio fosse X nfio seria X, ento EX Argumentar 0 que estd propondo como ponto de vista é redundancia. Exemplo: 0 6pio € sonifero porque tem substincia soporifera; se nfo tivesse substiincia soporifera nao seria sonifero, entao o 6pio € sonifero. 1.3.2. Contradicao Consiste em usar argumento que, em vez de defender um ponto de vista, acaba negando. E um argumento contririo a idéia defendida. Exemplo: ~ Desejaria saber qual é © pior: ser violada cem vezes por pitatas negros, perdor uma nddega, receber agoites dos bilgaros, ser espancado e enforeado num Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Metodologia Ana Dorotéia AArantes Medeiros 20 Reprodugdo proibida sob pena de violugdo de Direitos Autorais, Outro exemplo: “O poeta cretense Epiménides afirma que todos os cretenses so mentirosos”. Ora, se Epiménides € cretense, como podemos saber se a af auto-de-fé, ser dissecado, remar numa galera, experimentar enfim todas as ‘misérias porque ji passamos, ou ficar aqui sem fazer nada) — Bis uma grande ‘questa — disse Candido, Tais palavras provocaram novas discusses; e Martinho coneluin que o Jhomem nascera para viver nas convulsbes da inquietude on na letargia do tédio, CAndido nko concondava, mas também nao afiemava coisa alguma, Pangloss confessava que sempre sofzera horrivelmente: nus, tendo uma vez afirmado que ‘ude ia as mil maravilhas, continuava a sustenti-lo, embora wi eresse nisso, (Voltaire, Candido, apud: Amaral, Emilia et all, 1994 — grifos noss0s) magio é verdadeira? 1.3.3. Analogia inadequada E a comparagiio que tem mais diferencas que semelhangas, ou os contextos sao diferentes, portanto nao s Exemplo: 1.3.4, Antiautoridade 10 reciprocamente aplicéve: Havia, ainda, um engenhoso arquitero que havia imaginado um novo método de ceonstruir casas, comecando pelo telhado descendlo até os alicerces. Jusificava, le tal pritica dizendo-me que tal era usada por dois insetos prudentes, w abelha & ‘.aranha. (Swift, J. Viagens de Gulliver. apud: Amaral, Enaflia et all, 1994) Consiste em citar uma pessoa que no € autoridude no tema defendido, ou de a citagdo no se enquadrar no assunto. 1.3.5. Sofismas ‘Sao raciocinios que levam a resultados falsos, com aparéneia de verdadeiros, Exemplo: “VOCE ACHA QUE TRABALHA DEMAIS? ENTAO VEIAMOS, OANOTEM. . 365 dias “Menos: 8 h de sone por dia 122 dias, Sobram, 243 dns Menos: 8 h de descanso diss. 122 dias Sobram 121 dias, Menos: Domingos 52 dias Sobrar, 69 dias Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica ¢ Metodologia Ana Dorotéia Avantes Medeiros 21 Reprodusio proibida sob pena de violagao de Direitos Autorais, Menos: 4 dia por Sibado. 26 dias Sobram, 43 dias Menos: Fetiados, dias Sobram. 30 dias Menos: Fa. .asssnnnininn ens os dias ‘Sobran, 10 dias Menos: ‘Tempo gasto no caferinho, lavaiGrio, papinho ete: 10 dias Sobratn. 000 dias “QUE TAL, AINDA ACHA QUE TRABALHA DEMAIS?" (Amaral, Emilia eral, 1994, p. 67) 1.3. 6. Emprego de nogées confusas Ha palavras com extensio muito ampla de significado, que possuem sentido vago, ‘ou com significado confuso como: paz. honestidade, liberdade, etc. Os mesmos termos podem ser igualmente empregades por pessoas que tém ideologias (complexo de dias orientadoras das agdes © do pensamento )’ adversas, Se tais palavras sto usadas sem uma cdo prévia, podem prejudicar a clareza do texto, porque 0 argumento esvazia-se, perdendo a forga persuasive. 1.3.7. Emprego de nocées de totalidade indeterminada O emprego de nogdes de totalidade indeterminada compromete a argumenta generilizagio, a imprecisio pode ser fortemente contra-argumentada, quando se estende ao todo aquilo que se tem em apenas em alguns aspectos, As veres pereebemes que alguns ids tomam vida prdpria e passam a nos dominar. Mal sabemos o imenso poder uve las tam sobre ngs quando eslamos desatertos ou quando pensamox que pensumos. Mas com eosciencia exited, tds ‘nds podenos labora nossesprdprias eoncepgSes |Mdeotogia & um forma de conscitaeie da realidade, mas uma conscinct parcial exéria © eagansdorn que se basa na erlagdo de conceitos ¢ preconceitos como instruments de dominagio, Designa os sistent de idéias que elaboram uma “eompremnsio da realidade para oeultar on dissimilar o dominio de um grupo sobre outro Anterforidade a deotogia fuciona como um vonjunio eid. Generalizagio- a ideologia tem como finalidade produzirum consenso colaive. ‘Lacuna- a ideologin € uma Kigiea consirulda na hase de lacuna, orniss0es,slenciose sais, Ideologia X Filosofia: a tcoria filosfica constitu uma construgo aberta, dinfmica eriadora, Ap contriio, as ideologias so doutsinasfechadss,rigidas pretensamente completas A parcialidade da racionalizasio idealdgica: » msior perte de racicinia humm comsiste em descobrimas srgimeniot [para continarmos«erer no que cremos, FONTE:hiyy//ow Fharioaline consilosori/id-dom-teo.hum (81-03) kdealogae doninagio sok Apostila de Lingua Portuguesa, Linguagem Juridica e Metodologia Ana Dorotéia Arantes Medeiros 22 Reprodugdo proibida sob pena de violugdo de Direitos Autorais, Exemplo: Os baianos so indolentes, Ora, uma afirmagio como essa demonstra falta de visto analitica, desinformagio. simplismo e 1.3.8, mprego de nogdes semiformalizadas Palavras unfvocas de linguagem técnicas s6 devem ser usadas em contextos especificos. Significagio subjetiva nfo pode ser atribufda a termos cientificos porque, nao 86 08 banaliza, como também Ihes afrouxa o significado, além de se correr o risco de emprego com acepeao oposta a real 1, 3, 9. Pergunta eapciosa: pergunta presta-se a confusdes. Exemplo: Vocé sempre pratica atos ilicitos? Qualquer resposta do tipo sim ou ndo compromete 6 sujeito em atos ilicitos 1.3.10. Mailtiplas perguntas Consiste em confundir 0 adversdrio com varias perguntas de modo a que nao seja poss(vel uma Gnica resposta, ou levando-o a contradizer-se. 1,3. 11, Argumento ad ferrorem Evocam-se as conseqiiéncias negativas que podem resultar da nao admissio de determinada tese Exemplo: A escolha 6 sta: ov nds ou 0 caos! 1.3.12, Argumento ab baculum Perante a auséncia de argumentos ameaga-se com punigdes, Exemplo: Ou aceita o que Ihe proponho, ou sera demitido, 1.3.13. Argumento ad populum Apela-se 2 emogio das pessoas, ndo 2 sua razio. Exemplo: Se querem solugdes para seus problemas, votem em Fulano de Tal. 1. 3. 14, Argumento ad personam pode ser considerado falécia, porque ataca a pessoa do adversirio, sem discutir 0 assunto principal da contend

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