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Dizer Direito wy dierolta.com br Sumula 618-STJ Marcio André Lopes Cavalcante PY ‘O AMBIENTA\ INVERSAO DO ONUS DA PROVA Imagine a seguinte situacéo hipotética: A-empresa “XXX”, apés vencer a licitago, construiu uma usina hidrelétrica no rio Paranapanema, que faz a divisa dos Estados de Séo Paulo e Parand. Jo%0 é pescador artesanal e vivia da pesca que realizava no rio Paranapanema. Ocorre que, segundo alega Jodo, apés a construgao da usina, houve uma grande reducio na quantidade de peixes existentes no rio, em especial “pintados”, “jai” e “dourados”, Diante deste fato, Jodo ajuizou aco de indenizacgo contra a empresa sustentando que a construgso da usina causou degradacdo ambiental com terriveis impactos no ecossistema. Na ago, o autor pediu a inversdo do énus da prova mediante a aplica¢o, por analogia, da regra do art. 62, VIll, do Cédigo de Defesa do Consumidor: Art. 62 Sao direitos basicos do consumidor: (.) VIll - a facilitagao da defesa de seus direitos, inclusive com a inversao do énus da prova, a seu favor, no proceso civil, quando, a critério do juiz, for verossimil a alega¢o ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinarias de experiéncias; E possivel a inversao do énus da prova nas agdes que se pede a repara¢o econémica pelos danos causados ao meio ambiente? SIM. A inversdo do énus da prova aplica-se as aces de degradacao ambiental. Principio da precaugio Uma das razdes que justifica essa inverséo do dnus da prova é 0 principio da precaucdo. Por meio do principio da precaucéo, entende-se que o meio ambiente deve ter em seu favor o beneficio da duvida no caso de incerteza. Em outras palavras, se existe uma desconfianca, um risco de que determinada atividade pode gerar um dano ambiental ao meio ambiente e & satide humana, deve-se considerar que esta atividade acarreta sim este dano. Logo, é a empresa-ré (empresa poluidora) quem tem o énus de provar que a atividade econémica por ela desempenhada nao gerou o dano ambiental que foi alegado pelo autor na aco de reparagao. Nesse sentido: O principio da precaucao pressupde a inverséo do dnus probatério, competindo a quem supostamente promoveu o dano ambiental comprovar que ndo 0 causou ou que a substncia lancada ao meio ambiente nao Ihe é potencialmente lesiva ST). 22 Turma, REsp 1.060.753/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 01/12/2009. Qual é a consequéncia préitica disso? autor precisar provar apenas que existe um nexo de causalidade provdvel entre a atividade exercida e a degradacdo ambiental. Sendo isso provado, fica transferido para a concessionéria 0 encargo (6nus) de provar que sua conduta no ensejou riscos ou danos para o meio ambiente. STJ.32 Turma, Agint no AREsp 1311669/SC, Rel. Min, Ricardo Villas Bas Cueva, julgado em 03/12/2018. Simula 617-STI~Mércio André Lopes Cavalcante | 2 Dizer © Direito ‘Aquele que cria ou assume o risco de danos ambientais tem o dever de reparar os danos causados e, em tal contexto, transfere-se a ele todo o encargo de provar que sua conduta nao fol lesiva. ST). 12 Turma. REsp 1.049,822/RS, Rel. Min. Francisco Falco, julgado em 23/04/2009. Seja 0 poluidor ente piiblico ou empresa privada Vale ressaltar que essa inverséo do énus da prova ocorre tanto nos casos em que o degradador é uma pessoa juridica de direito piblico como também nas hipéteses em que se trata de pessoa juridica de direito privado. Assim jé decidiu o ST! A responsabilidade civil pelo dano ambiental, qualquer que seja a qualificac3o juridica do degradador, publico ou privado, & de natureza objetiva, solidéria e ilimitada, sendo regida pelos principios poluidor- pagador, da reparacao in integrum, da prioridade da reparacdo in natura e do favor debilis, este iltimo a legitimar uma série de técnicas de facilitacao do acesso 2 justica, entre as quais se inclui a inversao do nus da prova em favor da vitima ambiental. STJ. 22 Turma, REsp 1.454.281/MG, Rel, Min, Herman Benjamin, Die 9/9/2016. Os princfpios poluidor-pagador, reparacao in integrum e prioridade da reparagao in natura e do favor debilis 80, por si s6s, raz6es suficientes para legitimar a inversao do énus da prova em favor da vitima ambiental. ST). 22 Turma, Agint no AREsp 620.488/PR, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 04/09/2018. Seja em ACP, seja em agéo individual Importante também destacar que essa inverso do énus da prova pode ocorrer tanto em acao civil publica como em aco individual, desde que relacionada com degradacao ambiental. A inverstio cabivel mesmo que o autor da acdo seja 0 MP A inversao do énus da prova deve ser também admitida em caso de acdo civil publica proposta pelo Ministério Publico pedindo a recomposic3o e/ou a reparagao decorrente de degrada¢3o ambiental. Isso porque, por mais que o Ministério Pliblico ndo possa ser considerado hipossuficiente, ele atua em julzo como substituto processual e a vitima (substituida) é toda a sociedade que, em se tratando de dano ambiental, é considerada hipossuficiente do ponto de vista de conseguir produzir as provas. STJ. 22 Turma, REsp 1235467/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 20/08/2013. Previsdo do principio da precaugao © principio da precaucao tem origem na “Carta Mundial da Natureza”, de 1982, cujo principio n. 11, “b”, estabeleceu a necessidade de os Estados controlarem as atividades potencialmente danosas a0 meio ambiente, ainda que seus efeitos nao fossem completamente conhecidos. Esse principio foi posteriormente incluido na Declarago do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente Desenvolvimento (Eco-92). Além desses documentos, o principio da precaugdo est contido, implicitamente, no art. 225, § 12, IV e V, da CF/88: ay 5 (.) IV exigir, na forma da lei, para instalacdo de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradacio do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dard publicidade; V- controlar a produsdo, a comercializacdo e o emarego de técnicas, métodos e substancias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e 0 meio ambiente; 1.225 (..) Para assegurar a efetividade desse direlto, ncumbe ao Poder Pablico: Regra de instrugao A inversio do énus da prova de que trata o art. 62, VI, do CDC é REGRA DE INSTRUCAO, devendo a decisiio judicial que determiné-la ser proferida preferencialmente na fase de saneamento do processo ou, pelo menos, assegurar & parte a quem nao incumbia inicialmente o encargo a reabertura de oportunidade para manifestar-se nos autos. STJ. 22 Seco. EREsp 422.778-SP, Rel. para o acérdao Min, Maria Isabel Gallotti, julgados em 29/2/2012. Simula 617-STI~Mércio André Lopes Cavalcante | 2

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