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Capitulo | | A educagao escolar publica e democratica no contexto atual: um desafio fundamental Scanned with CamScanner —S A educacio escolar publica e democratica no contexto atual: um desafio fundamental ce 1. Impactos © perspectivas da revolugéo tecnolégica, da globalizagao e do neoliberalismo no campo da educacao A televisio, 0 video, a parabélica e 0 computador ja comegam a fazer parte do cotidiano de muitas escolas particulares e piiblicas, assim como a educacio a dis- tancia, a internet, os CD-ROMs educativos/interati- vos € outros recursos de multimidia. Essa equipagio eletr6nico-educativa estd associada a certa ansiedade e corrida produzidas pela revolugio tecnolégica € pelas demandas e finalidades diversas de politicas educacio- nais em intenso processo de transformacées técnico- -cientificas, econdmicas, sociais, culturais e polfticas pelas quais passam as sociedades contemporaneas. A equipacio eletrdnica da escola constitui, todavia, apenas a ponta do iceberg que a revolugio tecnolégica representa para o campo educacional. f preciso mer- gulhar e ir mais fundo nas razes, impactos € perspec- tivas dessa revolucao para a educagio e, especialmente, para a escola, de modo que se possam avaliar as polfti- cas educacionais que incluem a equipagio eletrénica ou a propagacao dos multimeios didaticos. os Scanned with CamScanner £5 08 SOCHONDE CON LA IDUCACKO ISCOLAR NO CONTENTO DAS TRANSFORMAGO! T is evidente 0 fato de Torna-se cada vez mais eviden! ae de ue revolugio tecnoldgica esté favorecendo © surgimen, de uma nova sociedade, pelo conhecimentO, COMO ViMOs ang, outro modo, de UMA socieda, al ou sociedade do conhecimenys Esta se caracteriza ainda por nove paradigma de py ducio ¢ desenvolvimento, que tem como elemen,, ioeico a ceneralidade do conhecimento € da educacs, "Bissa centralidade ocorre porque EdUCaGzo € conte, cimento passam a set, do pono de vista do capitalis. tno globalizado, forga motriz.¢ eixos da transformags, produtiva e do desenvolvimento econdmico. Sao, por. tanto, bens econdmicos nec produgio, a ampliagio do potencial ci gico e ao aumento do lucro ¢ do poder de competci em um mercado concorrencial que se pretende livre e globalizado. Tornam-se claras, assim, as conexdes edu- cagio-conhecimento e desenvolvimento-desempenhs econémico. A educagio constitui um problema econ. mico na visio neoliberal, j4 que € 0 elemento central desse novo padrio de desenvolvimento. No novo processo de produgio, em que esto pre- sentes as novas tecnologias € as novas ou mais flexiveis ¢ eficientes formas de organizacio da produgio, nio hi praticamente lugar para o trabalhador desqualificado, com dificuldades de aprendizagem permanente, inc paz de assimilar novas tecnologias, tarefas e proced- mentos de trabalho, sem autonomia e sem iniciativ especializado em um oficio e que nfo sabe trabalhar em equipe — enfim, para o trabalhador que, embora stibt realizar determinada tarefa, no é capaz de verbalizat © que sabe fazer, A desqualificagio passou a significat exclusio do novo processo produtivo. Por i380, bi marcada pela técnica, yy) + Pel, informagio € riormente; dito de técnico-informacion: essarios & transformagio d, entifico-tecnols. 124 Scanned with CamScanner 01 “OLAR Pein ‘A EDUCAGKO ESCOLAR PUBLICA E DEMOCRATICA NO CONTEXTO ATUAL: UM DISAFIO lugar, no novo sistema i a : a » versatil, qualifica~ do intelectual ¢ tecnologicamente ¢ capaz de subme- terse a um continuo processo de aprendizagem. Verifica-se, entio, que 0 novo processo de trabalho requer flexibilidade funcional ¢ novo perfil de qualifi- cagio da forca de trabalho. Hé, em consequéncia, cres- cente demanda por qualificagio nova € mais elevada do trabalhador, assim como por educagiio de maior nivel, mais flexivel, mais polivalente ¢ promotora de novas habilidades cognitivas e competéncias sociais e pessoais, além de bom dominio de linguagem oral ¢ escrita, conhecimentos cientificos basicos ¢ de iniciagio/alfabe- tizagdo nas linguagens da informatica (Paiva, 1993). Isso ocorre simultaneamente ao aumento da produtivi- dade, da eficiéncia e da qualidade de servigos e produ- tos, com constante reducio dos postos de trabalho e do emprego da forca de trabalho humana. Parte do que foi exposto neste t6pico pode ser exemplificado no esquema a seguir, que apresenta as 5 conexées ¢ determinagoes entre tecnologia, miilciplas mento, edu- novo paradigma de produgio e desenvolvi cago de qualidade ¢ elevagao da qualificagio. mminagées entre tecnologia, e desenvolvimento, ago Esquema 3 - Conexées e deter novo paradigma de produsco educardo de qualidade e elevacéo da qual Tecnologia oo Novo paradigma de Educacao producdo e desenvolvimento de qualidade = Elevada qualificagéo wm Scanned with CamScanner 126 1S DA SOCIEDADE CONTE nA ty tae mercadolégica, Presente nomicis a econom! i aay x tiva do capital: Jo produti ISMO, 0 dey Na btica ie actual reestrucurag' . fio consiste Na Capacitacs, Fo essencial dit educagao consis Pacitacsg i 10 essencii ee fi Je obrae na requalificagao dos trabalhadore baty mio de obra : _ : ‘fazer 0S exigéncias do sistema produtivo @ fotmg, satisfazer - 1 ovivente € sofisticado para um me, o consumidor exigent cee ™Meteady liversificado, sofisticado € Competitive. Trata.se, yp, diversificado, ‘ . preparar trabalhadores/consumidores para . tanto, de ;: s de consumo ¢ de vida moderna. O cided novos estilo a eficiente ¢ competente, nessa erica, © aquele capa de consumir com eficiéncia e sofisticagio e competir com seus talentos ¢ habilidades no mercado de trabalho, Por isso, no campo da educaco, existe um projeto de elevagio da qualidade de ensino nos sistemas educativos (e nas escolas), com 0 objetivo de garantir as condi¢ées de promogio da competitividade, da eficiéncia e da produtividade demandadas e exigidas pelo mercado, Obviamente, trata-se de um critério mercadolégico de ensino expresso no conceito de qualidade total. No Ambito dos sistemas de ensino e das escolas, procura-se reproduzir a légica da competigao e a regras do mercado, com a formagao de um mercado edi- cational, Busca-se a eficiéncia pedagégica por meio d instalagéo de uma pedagogia da concorréncia, da ef- ciéncia e dos resultados (da produtividade). Essa ped gogia tem sido levada a efeito, em geral, median a)a adocio de mecanismos de flexibilizagio € diversi- ficagio dos sistemas de ensino e das escolas; ba atencao a eficiéncia, A qualidade, ao desempenho® as necessidades basicas da aprendizagem; ©)a avaliagio constante dos resultados (do dese™ Penho) obtidos pelos alunos, resultados esse que 7 Scanned with CamScanner ADUCAGKO ESCOLAR PUBLIC comprovam a atuacao eficaz e de balho desenvolvido na escola; qualidade do tra- d)o estabelecimento de rankings dos sistemas de ensi- no e das escolas ptiblicas ou privadas, que ficadas/desclassificadas; sao classi- e)acriagao de condigées para que se possa aumentar a competigio entre escolas ¢ encorajar os pais a parti- cipar da vida escolar e escolher entre varias escolas; f) a énfase sobre a gestio e a organizacio escolar, com aadogao de programas gerenciais de qualidade total; g)a valorizacao de algumas disciplinas — Matematica ¢ Ciéncias — por causa da competitividade tecnolégi- ca mundial, que tende a privilegié-las; h)o estabelecimento de formas inovadoras de treinamen- to de professores, tais como educagio a distancia; i) adescentralizagao administrativa e do financiamen- to, bem como do repasse de recursos, em conformi- dade com a avaliago do desempenho; j) a valorizagio da iniciativa privada e do estabeleci- mento de parcerias com 0 empresariado; k)o repasse das fungdes do Estado para a comunidade e para as empresas. Quando se consideram as possiveis contradicdes desse projeto com a melhoria da qualidade de ensino e com a qualificagio profissional, em decorréncia da tevolucio tecnolégica e do novo paradigma produtivo, Pode-se concordar que as perspectivas para 0 campo educacional no indicam a construgio de uma educagio democritica, equalizadora, formadora e distribuidora de Cidadania. Em vez de um projeto educacional para a incluso social e para a produgio da igualdade, adota-se 127 Scanned with CamScanner Hext0 I 11+ Pant — A EDUCAGKO ESCOLAR NO CONTEXTO! Em rcagio 3s polticas implementadas Brasil especialmente nos governos Coll € Fernando Henrique Canloso, Abicalil (1996, p22) a ceri politic da selena comagrads de mansformagio da escola submetido as mesmas rms de mercado” er que proaleceu “t competitvidade ea produtividade,xegundo vtrios empreariais”, 128 1. TRANSFORMAGOES DA SOCIEDADE OH, uma légica da competigio a que a equidade, ; melhor, a mobilidade social é pensada sob o eng estrito do desempenho individual (Costa, 1994) Parece inegdvel que a revolucio tecnol6gica © demais mudangas globais promovam a crescente inte. lectualizagao do trabalho, a generalizagao de Conhecj. mentos ¢ habilidades ¢ a demanda acentuad, a te educagaio de qualidade ou mais teérica. Isso, no entan. to, nao implica que o projeto educacional deva ser por forga competitivo e seletivo socialmente, até porque el tem servido basicamente a criag&o de um mercado edu. cacional, & ampliagio da esfera privada no campo dz educagio e & reprodugio ou autovalorizacdo do capital, A universalizagio do ensino e a melhoria de suz qualidade, a elevagao da escolaridade, a preparacio tec. nol6gica e a formacéo geral, abstrata, abrangente ¢ polivalente dos trabalhadores so fundamentais pars toda a sociedade, especialmente quando se tem em vista, no mfnimo, a garantia da igualdade de oportu- nidades. Nesse sentido, os impactos da revolugio tec- nolégica no campo da educagio podem e devem set absorvidos, de modo que gerem perspectivas demo- craticas de construgio de uma sociedade moderna, justa e solidéria, 0 que, evidentemente, nao deve sig- nificar a aniquilagao da diversidade e das singularids- des dos sujeitos. Em uma sociedade de conheciment? ede aprendizagem, é Preciso dotar os sujeitos socials de comperéncias e habilidades para a participasi0™ Vida social, econdmica e cultural, a fim de nio ens Jar novas formas de divisio social, mas, sim, 2 CO" = s ‘ ‘tugao de uma sociedade democratica na forma ¢™ contetido, Scanned with CamScanner A Eoucacho EscouaR Pi CA DtMocedt HCA DEMOCRATICA NO CONTEXIO ATUAL: UM DISATIO FUNDAMENTAL 2. Objetivos para uma educacao publi 0 i i¢ao publ de qualidade diante dos desafios “ da sociedade contemporanea Diante dos desafios da sociedade contemporinea ¢, especialmente, do ensino no Brasil, que objetivos edu- cacionais devem ser estabelecidos para uma educagio publica de qualidade? Que diretrizes ¢ pressupostos fundamentais devem guiar a pratica educativa, a fim de construir uma sociedade democritica e igualitéria? Que cidadao se quer formar? Que preparacio os alunos precisam ter para a vida produtiva em uma sociedade técnico-informacional? Nao é tarefa facil responder a essas questdes, sobretudo porque, como vimos, 0 qua- dro econdmico, politico, social e educacional é bas- tante complexo ¢ contraditério. As ideias a seguir sugerem pontos para a discussio de alguns elementos norteadores do trabalho docente. ‘As transformagoes gerais da sociedade atual apon- tam a inevitabilidade de compreender 0 pafs no con- texto da globalizacao, da revolugdo tecnolégica ¢ da ideologia de livre mercado (neoliberalismo). A globa- lizagdo € uma tendéncia internacional do capitalismo que, com o projeto neoliberal, impde aos paises peri- féricos a economia de mercado global sem restrigdes, a competi¢ao jlimitada e a minimizagio do Estado na ftea econdmica e social. O resultado mais perverso dlesse empreendimento tem sido o aumento do desem- prego e da exclusio social em diferentes regides € pai- ses, Todavia, tendéncia nao € destino nem obstéculo nser¢ao do Brasil nesse quadro eco- se sem comprometimento da sobe- a riqueza ¢ os beneficios advindos intransponivel. A i némico precisa dar- tania. O progresso, 129 Scanned with CamScanner 1 Pant — A EDUCAGAD 1SCOIN 130 1x10 DAS TRANSFORMACOLS DA SOCIIDADE CONTE Nt dessas transformagoes nao podem Pa ape. has por pequena parcela da sociedade. Com efeito, gp lado dos avangos cientificos © tecnolOgicos ~ com » aumento dos bens de consumo, do bem-estar, da dify, sio cultural -, ha a fome, © desemprego, a doenga, falta de moradia, 0 analfabetismo das letras das tec. nologias. Nao se pode, por iss0, Near 0 Progresso té. nico, o avanco do conhecimento, 08 novos processes educativos ¢ de qualificagao ou simplesmente perma. necer no plano da resisténcia ou achar que as deman. das feitas aos sistemas educativos € a escola seriam parte de uma conjuragio dos neoconservadores. Trata- -se, antes, de disputar concretamente 0 controle do progresso técnico, do avango do conhecimento ¢ da qualificagio, arrancé-lo da esfera privada e da l6gica da exclusio e submeté-lo ao controle democratico da esfe- ra ptiblica, para potencializar a satisfacdo das necessi- dades humanas (Frigotto, 1995). As opgies do pais devem basear-se em varias ins- tancias da sociedade civil e do Estado. O controle do Estado pela sociedade civil organizada torna-se funda- mental para o estabelecimento de um projeto nacional de desenvolvimento econdmico e social auténomo ¢ solidério. E preciso definir claramente o papel do Esta- do e recuperar seu poder de aco em dreas que interes: sem a toda.a sociedade, de modo que no permanesam & mercé dos organismos financeiros internacionais ¢ das entidades supranacionais. Diante da globalizagio econémica, da transform! so dos meios de produgio ¢ do avango acelerado 4 ciéncia e da tecnologia, a educagao escolar precisa of tecer respostas concretas & sociedade, formando qu* dros profissionais para o desenvolvimento e pati * Scanned with CamScanner A EDUCAGKO ESCOLAR HCA E Deo PMOCEATIA NO CONTEXT ATUAL UM DEAF FUNDAMENTAL geragio de riqueza que sejam capazes, também ticipar criticamente desse processo. Em relacio. as tare- fas dos sistemas de ensino, mais uma vez ha que reconhecer a urgéncia da clevacio dos niveis cientfh. co, cultural e técnico da Populagio, mediante a uni- versalizacio efetiva da escolarizagao bésica ea melhoria da qualidade de ensino. de par- Conclui-se dessas consideragdes que os eixos nor- teadores das acdes nao significam a supervalorizagio da competitividade, do individualismo, da liberdade excessiva, da qualidade econdmica e da eficiéncia para poucos com a exclusao da maioria, mas o incremento da solidariedade social, da igualdade, da democracia e da qualidade social. Apresenta-se, assim, a enorme tare- fade integrar e desenvolver o Brasil em uma economia global competitiva, sem perder a soberania, sem sacrifi- car sua cultura, seus valores, sem marginalizar os pobres. Ou seja, o grande desafio é incluir, nos padrdes de vida digna, os milhdes de individuos excluidos e sem condi- ges basicas para se constitufrem cidadios participantes de uma sociedade em permanente mutagio. No Ambito da educagio escolar, 0 ensino piiblico de qualidade para todos é necessidade ¢ desafio funda- mental. Hé, atualmente, claro reconhecimento mundial e social de sua importancia para o mundo do trabalho, para o desempenho da economia e para o desenvolvi- mento técnico-cientifico. Tal reconhecimento tem sido transformado em reformas e em politicas educacionais em varios pafses. O Brasil tem experimentado, desde © inicio da década de 1990, amplo processo de ajuste do sistema educativo. Todavia, esse reconhecimento e esse empreendimento, especialmente no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), deram-se 131 Scanned with CamScanner 1) Part — A tDUCACAO ESCOLAR NO CONTEXTO DAS TRANSTORMACOES DA SOCILDADE CONTEMPORIyg, 132 de acordo com uma légica economicista, cujo projet, educativo teve como objetivo adequar a educacio escola, as novas demandas ¢ exigéncias do mercado. Nesse sen, tido, a educagio assumiu a perspectiva de mercadoria oy servigo que se compra, € nao de um dircito universal, 4 que a leva a tornar-se competitiva, fragmentada, duali. zada e seletiva social ¢ culturalmente. Em todas as reformas educativas, a partir da décad, de 1980, a questo da qualidade aparece como tema central. Na realidade, a educacao busca novo paradig. ma, que estabelece o problema da qualidade, uma pedagogia da qualidade. Mas esta no pode ser trata- da nos paraimetros da qualidade economicista. A esco- la nao é empresa. O aluno nfo é cliente da escola, mas parte dela. E sujeito que aprende, que constréi seu saber, que direciona seu projeto de vida (Silva, 1995). Além disso, a escola implica formagao voltada para a cidadania, para a formagio de valores — valorizacéo dz vida humana em todas as dimensoes. Isso significa que a instituigéo escolar nao produz mercadorias, nio pode pautar-se pelo “zero defeito”, ou seja, pela per- feicio. Ela lida com pessoas, valores, tradicGes, crengas, opgées. Nao se pode pensar em “falha zero”, objetivo d2 qualidade total nas empresas. Escola no é fabrica, ms formacdo humana. Ela no pode ignorar 0 contexto pol tico e econdmico; no entanto, nfo pode estar subordins- da ao modelo econdmico e a servigo dele. Devemos inferir, portanto, que a educagio de qu lidade € aquela mediante a qual a escola promov’s para todos, o dominio dos conhecimentos e 0 dese” volvimento de capacidades cognitivas e afetivas indis: pensveis ao atendimento de necessidades individu ) Scanned with CamScanner EDUCACKO ESCOLAR __AEDUCAGAO ISCOLAR PUBLICA F DEMOCRATICA NO CONTEXIO ATUAL UM OFSAHIO FUNDAMENTAL e sociais dos alunos, bem como a insergio no mundo € a constituicio da cidadania também como poder de patticipagio, tendo em vista a construgio de uma sociedade mais justa ¢ igualitaria, Qualidade é, pois, conceito implicito A educagio e ao ensino, A educagio deve ser entendida como fator de reali- zagio da cidadania, com padrées de qualidade da oferta e do produto, na luta contra a superagio das desigualdades sociais ¢ da exclusao social. Nesse sen- tido, a articulagao da escola com 0 mundo do trabalho torna-se a possibilidade de realizagio da cidadania, pela incorporagao de conhecimentos, de habilidades técnicas, de novas formas de solidariedade social, de vinculagio entre trabalho pedagégico e lutas sociais pela democratizagao do Estado. No contexto da sociedade contemporanea, a educa- cio piiblica tem triplice responsabilidade: ser agente de mudancas, capaz de gerar conhecimentos e desen- volver a ciéncia e a tecnologia; trabalhar a tradicao e os valores nacionais ante a pressio mundial de descarac- terizagio da soberania das nagdes periféricas; preparar cidadaos capazes de entender o mundo, seu pais, sua realidade e de transformé-los positivamente. Essas responsabilidades indicam, complementar- mente, trés objetivos fundamentais que devem servit de base para a construgao de uma educagio publica de qualidade no contexto atual: preparagao para o proces- 0 produtivo e para a vida em uma sociedade técnico- -informacional, formagao para a cidadania critica e Participativa e formacao ética. A preparagdo para o processo produtivo e para a vida em 4ma sociedade téenico-informacional envolve a necessidade 133 Scanned with CamScanner 015 DA SOCIEDADE CONTIMFORAyy, Fs pA soe NORA 15 PARTE — A EDUCAGAO ESCOLAR NO CONTEXTO DAS TRA’ ar para 0 mundo do trabalho ¢ para formas alternativas de trabalho, tendo em vista , flexibilizagio que caracteriza 0 PFOcesso produtiyg orfinco ¢ a adaptagao dos trabalhadores 35 ces de exercicio d jo escolar deverd centrar-se: dea escola prepare contemp complexas condi implica que a educag Je sua profissio, Isso Jtural € cientifica que per. a diversidade/integrasao de conhecimentos éncia contemporanea ¢ de habilidades ndamentam 0S NOVOS PFOCessos so- © na formagio geral, cu! mita basicos da ci técnicas que fu ciais e cognitivos; # na preparagio tecnolégic: saberes, habilidades ¢ atitude zam 0 processo de escolarizagao, qualificagées do novo processo produtivo, como compreensio da totalidade do processo de produgio ¢ capacidade de tomar decisdes, fazer andlises glo- balizantes, interpretar informagoes de toda nacureza, pensar estrategicamente e desenvolver flexibilidade a e no desenvolvimento de s basicas que carac- teri incluindo as intelectual; * no desenvolvimento de capacidades cognitivas € operativas encaminhadas para um pensamento auténomo, critico e criativo. Tal desenvolvimento esta intimamente relacionado & autossocioconsttu- ao do conhecimento, com a ajuda pedagégica do professor. A Sormagio bara a cidadania critica e participativa dit Fespeito a cidadios-trabalhadores capazes de interferit criticamente na realidade para transformé-la, e 90 apenas para integrar 0 mercado de trabalho. A escol# deve conti i i inuar inv es 134 estindo para que se tornem criticos Scanned with CamScanner A.LDUCAGAO EscOLAR PUiRLICA ____AEDUCACKO ESCOLAR FUIICA F DEMOCEATIN NO CONTEETO ATUAL: Ut DISAFIO FUNDAMENTAL ese engajem na luta pel justiga social. Deve ainda entender que cabe aos alunos empenhar-se, como cida- ai fticos, na langa da realida i dios criticos, na mudanga da realidade em que vivem e no processo de desenvolvimento nacional ¢ que é fungio da escola capaci papel. Cidadania hoje significa, usando expresso do educador italiano Mario Manacorda (1989), dirigir o« controlar aqueles que dirigem, e, para que isso ocorra, 0 ‘clos para desempenharem esse aluno precisa ter as condigdes bésicas para situar-se competente € criticamente no sistema produtivo. Nesse sentido, a preparagio para a vida social é exi- géncia fundamental, especialmente porque um dos pontos fortes da chamada sociedade pés-moderna é a emergéncia de movimentos localizados, baseados em interesses comunitarios mais restritos, no bairro, na regio, nos pequenos grupos, organizados em associa~ des civis, entidades no governamentais etc. A prepa- ra¢io para a vida social & exigéncia educativa para viabilizar 0 controle nio estatal sobre o Estado, median- te 0 fortalecimento da esfera ptiblica nfo estatal. Cons- tata-se que muitos movimentos sociais atuais tendem a dispensar a intermediagio politico-partidiria para a con- quista de seus objetivos, seja por inoperaincia deste canal, seja pela hostilidade com que setores da opiniio ptiblica encaram os politicos profissionais. f preciso aliar a acua- Gio dos movimentos localizados nao governamentais com as formas convencionais de representagio politica. Daf a necessidade de a escola preocupar-se com 0 desenvolvimento de competéncias sociais como rela- ses grupais e intergrupais, processos democraticos © eficazes de tomada de decisées, capacidades socio- Comunicativas, de iniciativa, lideranga, responsabi- lidade, solucio de problemas etc. 135 Scanned with CamScanner 1 Pant 136 A tnucacho IscO1At NO CONT TEMPORA NY A formagao ica € um dos pontos fortes da col do presente ¢ do futuro. Trata-se de formar valores ¢ atitudes diante do mundo da politica € da economia Jo consumismo, do individualismo, do sexo, da droga da depredagio ambiental, da violéncia ¢, também, dag formas de exploracao que s¢ mantém no capitalism, contemporineo. Segundo Habermas (1987), € possive| reabilitar a sociedade no ambito da esfera piiblica, de modo que as pessoas possam participar das decisies nao por imposicao, mas por uma disposi¢ao de dialo. gar e buscar consenso com base na racionalidade das agées expressa em normas juridicas compartilhadas, A emancipagio objetiva de todas as formas de dominacio torna-se possfvel se os individuos desenvolverem capaci- dades de aprendizagem alicercadas em uma pritica comunicativa. A escola pode auxiliar no desenvolvimen- to de competéncias comunicativas que possibilitario didlogo e consenso baseados na razio critica. Para que os indivfduos possam compartilhar de uma situaco comunicativa ideal, recomenda-se: © investimento na capacidade do individuo de situar- -se em relagio aos outros, de estabelecer relacdes entre objetos, pessoas e ideias; © desenvolvimento da autonomia, isto é, individuos capazes de reconhecer nas regras € normas sociais 0 resultado do acordo miituo, do respeito ao outro ¢ da reciprocidade; formagio de individuos capazes de ser interlocut™” tes competentes, de expressar suas ideias, desejos ¢ vontades de forma cognitiva e verbal, incluind® # erspectiva do outro (nivel de informacéess * intengGes etc.); * capacidade de dialogar. Scanned with CamScanner JcAGKO ESCOLAR PUBLICA € DEANocRAn A ewucnd PEMOERATICA NO CONTEXTO ATUAL UM DESAnO FUNDAMENTAL pibliografia ABICALIL, Carlos Augusto. A educagio no contexto geval: reflexes sobre o ensino de 1" 2° graus, Educa- oem Revista-Revista do Sintego, Goiania, 1996, ALIVATER, Elmar. Sociedade e trabalho: conceitos e sujeitos hist6ricos. 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