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ARTE NA EDUCAGAO BSCOLAR Maria Felisminda de Rezende ¢ Fusati Maria Heloisa Corréa de Toledo Ferraz Capa ¢ projeto grifico: Carlos Clémen Preparagao de originais. Vicente Chel Revisdo: Maria de Lourdes de Almei Composicdo: Dany Editora Luda. Coordenagao editorial: Danilo X. Q. Dforabes 869 ™ aN “N @, ye maad esa Keotao Maglstério~ 2* Gf’ Série Formagao Geral \ COORBENACAO © J \Selma Garrido Pimgfta/ José Carlos LiBneo 3* reimpres Dados Internacionais de Catalogagao na Publicagao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Fusari, Maria c7 7 Arte na educagio escolar / Maria Felisminda de Resende ¢ Fusari, Maria Bibliografia ISBN 85-249-0452-6 I, Arte ~ Estudo ¢ ensino (2° grau) I. Ferraz, Maria Heloisa Corréa de Toledo. UL. Titulo. HL. Série. 92-0211 CD-707 indices para catdlogo sistematico: 1. Arte : Estudo e ensino 707 Nenhuma parte autoras e do editor. obra pode ser reproduzida ou duplicada sem autorizagio expressa das © 1991 by Maria Felisminda de Rezende ¢ Fusari e Maria Heloisa Corréa de Toledo Ferraz EDITORA Rua Bartira, 317 - Perdizes 5009-000 - Sto Paulo — SP Tel.: (11) 3864-0111 Fax: (11) 3864-4290 E-mail: cortez@cortezeditora.com.br www.cortezeditora.com.br Impresso no Brasil ~ agosto de 2006 IL. hai EDUCACAO ESCOLAR EM ARTE 1, 0 COMPROMISSO DE SABER ARTE E SABER SER PROFESSOR DE ARTE O compromisso com um projeto educativo que vise reformulagoes qualitativas na escola precisa do desenvolvimento, em profundidade, de saberes necessdrios para um competente trabalho pedagdgico. No caso do professor de Arte, a sua prdtica-teoria artistica e estética deve estar conectada a uma concepgao de arte, assim como a consistentes propos- tas pedagdgicas. Em sjntese, ele precisa saber arte e saber ser professor de arte. Mas, 0 que é esse conhecimento? O que é ser professor de arte? E atuar através de uma pedagogia mais realista e mais progressista, que aproxime os estudantes do legado cultural e artistico da humanidade, per- mitindo, assim, que tenham conhecimento dos aspectos mais significati- vos de nossa cultura, em suas diversas manifestagdes. E, para que isso ocorra efetivamente, é preciso aprofundar estudos e evoluir no saber es- tético e artistico. Os estudantes tém o direito de contar com professores que estudem e saibam arte vinculada & vida pessoal, regional, nacional e internacional. Ao mesmo tempo, o professor de arte precisa saber 0 al- cance de sua acio profissional, ou seja, saber que pode concorrer para que seus alunos também elaborem uma cultura estética e artistica que expresse com clareza a sua vida na sociedade. O professor de arte € um dos. Tesponsdveis pelo sucesso desse processo transformador, ao ajudar 0s alunos a melhorarem suas sensibilidades e saberes prdticos e tedricos €m arte. Encontrar uma maneira de organizar 0 trabalho de educagao es- Colar que contribua nesse rumo é um desafio para o coletivo dos profes- Sores compromissados em conseguir escolas de melhor qualidade para toda a populacao. 53 Consegiientemente, para desenvolvermos 0 nosso trabalho com efi. ciéncia, precisamos praticar agdes tais como estudar, participar de cu Ss, buscar informagées, discutir, aprofundar reflexGes e prit IS COM OS Cole. gas docentes. £ importante participar ainda das associagoes de profe: ‘Ores, de arte-educadores, 0 que contribui para a atualizacao e o desenvolvimento profissional e politico, em todos os nfveis de ensino, Ao mesmo tempo, é preciso desmistificar a idéia de que € impossive} atualizar-se porque certas localidades se apresentam com poucos meios culturais ou esto desprovidas de aparatos tecnolégicos. Uma das princi- pais indicagSes para esse aprimoramento é a atualizagao de Icituras. Os acervos de bibliotecas regionais e das universidades contam com publica- gGes de textos e periddicos de arte e ensino. Tais publicagdes podem orien- tar 0 aprofundamento na rea. E, quando houver falta de materiais, a troca de informagées interleitores e interbibliotecas deve ser estimulada e solici- tada. Uma vez que as bibliotecas escolares podem incluir inimeros documen- tos icénicos, sonoros (mfdias), devemos lutar por sua ampliacio, transfor- mando-as em midiatecas, onde professores e alunos de Arte tenham a pos- sibilidade de contar com as seguintes condigdes, como sugerem Ferraz e Siqueira:! * uma vasta bibliografia atualizada, com textos de autores nacionais e estrangeiros sobre as diferentes linguagens, para o professor consultar. (H4 muitas traducées, inclusive referentes a teoria e as experiéncias com Arte- Educagaio em diversos pafses); * um atualizado elenco de audiovisuais (fitas gravadas em dudio e em video, diapositivos etc.), maquina fotogrdfica, gravadores de imageme som, além de computador, que poderio ser usados para miisica, teatro, danga € artes plasticas; * um grande acervo de reprodugées de obras artisticas, preferenci mente brasileiras, incluindo livros de historia da arte. Pensando no desen- volvimento da percep¢ao estética do aluno e lembrando que a crianga e 0 jovem praticamente nao tém acesso a museus, galerias ¢ exposigées, 0 li- vro podera ser um primeiro contato com o mundo da arte. Fazem parte ainda, deste universo, os livros de imagem e literatura infantil, que se ofe- 1. Ver Maria Helofsa C. T. Ferraz ¢ ldméia S. P. Siqueira, Arte-Educagao: Vivencia, livro Didético? Sao Paulo, Loyola, 1987, pp. 60-61 54 Lxperienciagdo oH recem como forma de comuni D estética. As ilustra na maioria das vezes, sao criadas por artistas de renome; Ges desses livros, *um conjunto de textos de pegas teatrai infanto-juvenis; «um elenco de livros sobre mtis as rodas infantis; ca folclérica do pafs, especialmente «um rol de partituras para diversos instrumentos de F ca; para instrumento melédico, por exemplo, a flauta-doce. ussdo ritini- Além da possibilidade de contato direto com tais materiais bibliogra ficos, iconograficos, sonoros, 0 professor de Arte poderd interagir com 0 bibliotecario (profissional responsdvel por essas multimfdias), ampliando o seu papel de agente transformador do processo educacional. Completando, a fregiientagao a museus, MonuMentos hist6ricos e artis- ticos, centros de cultura da prépria regizio ¢ o conhecimento das atividades desenvolvidas nesses setores ou de outras do pafs so também impor- tantes para o desenvolvimento e¢ agao profissional do professor de arte. Assim, preparando-se continuadamente, ¢ tendo um dominio presente da sua drea, cabe a ele detectar os contetidos fundamentais de arte que, de fato, contribuam para a formagao de seus alunos. Os contetidos escolares sero selecionados, portanto, a partir do conhecimento de arte, em seus aspectos universais, e das necessidades ¢ direitos que todos os cidadaos tém de acesso, pelo menos ao que é basico dessas nogdes. No préximo capitulo tocaremos mais diretamente nessa questo dos contetidos escola- tes de arte e na escolha dos métodos e procedimentos de ensino e aprendi- zagem que possam compor uma metodologia de educagio escolar em arte, Coerentemente articulada 4 comunicagao e apreensdo dos conhecimentos aos alunos e pelos alunos. 2, FUNDAMENTOS ESTETICOS E ARTISTICOS DE UMA EDUCACAO ESCOLAR EM ARTE : Existem intmeras abordagens teérico-metodoldégicas s ensinar e aprender arte, mas, como vimos na primeira parte des Poucas tém se preocupado com as elaboragées estét e art alunos. Até Porque na maioria das propostas nao se considera 0 envolvimento 55 ica. As ilustragdes desses livros, tas de renome; : So criadas por artis «um conjunto de textos de Pegas teatrais infanto-j : . : -juvenis; «um elenco de livros sobre musica folcléri 7 Is clérica do pais ; qs rodas infantis: © Pals, especialmente + um rol de partituras para diversos instruments de percussao ritmi io ritmi- ca; para instrumento melddico, por exemplo, a flauta-doce. Alem da possibilidade de contato direto com tais materiais bibliogré- ficos, iconogificos. sonoros, 0 professor de Arte poderd interagir oa ° pibliotecario (profissional responsdvel por essas multimidias), ampliando o seu papel de agente transformador do processo educacional. Completando, a freqiientagdo a museus, monumentos histéricos e artis- ticos, centros de cultura da prépria regio e 0 conhecimento das atividades desenvolvidas nesses setores ou de outras regides do pafs so também impor- tantes para o desenvolvimento e ago profissional do professor de arte. Assim, preparando-se continuadamente, e tendo um dominio presente da sua area, cabe a ele detectar os contetidos fundamentais de arte que, de fato, contribuam para a formagiio de seus alunos. Os contetidos escolares serio selecionados, portanto, a partir do conhecimento de arte, em seus aspectos univers e das necessidades e direitos que todos os cidadaos tém de acesso, pelo menos ao que € bisico dessas nogées. No préximo capitulo tocaremos mais diretamente nessa questo dos contetidos escola- res de arte e na escolha dos métodos e procedimentos de ensino e aprendi- zagem que possam compor uma metodologia de educagao escolar em arte, coerentemente articulada 3 comunicagio e apreensio dos conhecimentos aos alunos e pelos alunos. 2. FUNDAMENTOS ESTETICOS E ARTISTICOS DE UMA EDUCACAO ESCOLAR EM ARTE ; Existem intimeras abordagens tedrico-metodolégicas sobre 0 ariel Snsinar e aprender arte, mas, como vimos na primeira parte deste ivr. Poucas tém se preocupado com as elaboragées estéticas ¢ artisticas alunos, Até Porque na maioria das propostas nfo se considera o envolvimento 55 estetico como uma parte do conhecimento da arte integrado na cultura hu. mana, O nosso compromisso com a democratizagdo do saber arte na esc . ‘Ola eXige que nos posicionemos Lambénr a esse respeito, antes de defi ir con. fetidos eseokures, mctodos ¢ procedimentos pedagdégicos que permitam atin. gir tis ments. Fin outray palavras, o professor de Arte precisa posicionar. se com clare za sobre as dimensdes estéticas ¢ artisticas que devem conectap. se na educagio escolar dos estudantes. Ein visti disso, vamos tratar das concepgdes de estético e artistico, embora nao se pretenda fazer aqui uma extensa rcflexao sobre as teorias da arte, Isto se forma necessitio porque tais concepgdes geralmente sio utili. aadas de forma indistinta, ¢ até con o mesmo significado. O fildsofo ingles David Best (1985) lembra que, em muitos casos, os julgamentos artisticos envolvem julgamentos estéticos. Cita, como exemplo, 0 julgamento de idades estéticas nos movimentos dos dangarinos como parte integrante da apreciagao artistica de uma danga. Esse exemplo pode ser aplicado a qualquer modalidade de arte. Assim, no caso de uma pintura, poderemos fer fantas apreciacdes estéticas quanto os métodos existentes de compreendé- la. independentemente dos propésitos, da técnica, da intengao do artista e da propria obra em si Oestetico em arte diz respeito, dentre outros aspectos, 4 compreensio sensivel-cognitiva do objeto artistico inserido em um determinado tempo/ espago sociocultural. Todavia, a experiéncia estética pode ser mais amplae nao necessariamente derivada da arte, embora a arte seja uma de suas prin- cipais fontes de aplicagdo (Munro, Best). Ela pode dar-se inclusive frente aos fendmenos naturais ¢ ao meio ambiente desde, que tenham sido mobi- li ‘ensiveis, que por seu lado so fundamentados em valores estéticos. Por exemplo, todos nés nos extasiamos ao ouvir 0 canto dos pas- Saros ¢ ver o nascer-do-sol ou a danga das borboletas, porque desenvolve- mos um conhecimento especifico de Categorias sonoras, visuais, movimento, Titmo ete. Existem autores que defendem até ponto de vista no qual 4 natureza € admirada como uma verdadeira obra de arte. dos valores s A diversidade de atitudes estéticas do homem frente a realidade € to multifacetiria quanto sao variados os fatores culturais e sociais, te- ponsiveis pela formalizagio dos sentimentos estéticos e praticas artfsti- Por isso é importante um aprofundamento tedrico para que se poss* discutir também a abrangéncia dos fatores culturais e sociais 1 formalizag4o do pensamento e agio educativa em Arte, Néstor Canclint em seu livro a Socializagdo da Arte (1980, p. 12), afirma que existe uma 56 intermediayilo da produgdo artistica e © meio social, e que “a distingao entre ay obras de arte e os demais objetos, e a especificagdo da atitude estetica adequadat para captar 0 ‘artistico’ so o resultado de convenges relativamente arbitrarias, cuja tinica ‘legitimidade’ é dada pelas necessi- dades do sistema de producao e pela reprodugao das atitudes consagradas como estéticas pela educagio” As wleias desse autor apontam para a interferéncia do meio socioeco- ndmico sobre a produgado artistica, que, por sua vez, condiciona-se as ca- {egotias esteticas vigentes, Todavia, as manifestagdes artisticas nado sao necessartamente traduydes literais de uma linha estética dominante ou da “moda", mas, por estarem conectadas a um contexto sociocultural, elas incluem sempre UM posicionamento estético do artista evidenciado em sua obra Esse “cariter social da arte” é redimensionado nas palavras do filéso- to Luigi Pareyson (1984, p. 93), que amplia as conotagdes do processo artistico e estético para a nossa vida, Para ele, existe um “carater artistico da propria sociedade”, principalmente nas acdes formativas que intervém NO Processo soci “as cerimOnias da vida social, quer publica ou privada, quer politica ou religiosa, implicam um intenso exercicio de inventividade formante; os cditicios e os locais destipades tereulto religioso, ou as fungées civis, ou aos entendimentos priyédos, querem ser cuidados na arquitetura e no mobi- liario; os discursos eft puiblico e os entendimentos privados tendem a uma clegancia formal e a uma busca de efeitos; 0 porte da pessoa e o vestudrio desejam adequar-se 4 importincia das reuni6es; em suma, todo momento da vida social implica um exercicio de formatividade, que se pode acentuar numa deliberada budga de efeitos artistices e dar lugar a formas de arte ve verdadeiras ¢ propriamate ditas — yson completa essa discu: silo abordando a questio do “gosto do publico” que, para ele, pode ser uma elaboragao cultural ou estabelecido Pelo artista, mas sempre resultado de “uma consciéncia estética socialmen- te organizada, com os seus jufzos & as suas sangdes” Nesse conteato, a produgdo artistica, além de sua concretude fisica, stagdo imaginativa, cognoscitiva, logo, co- Material, € também uma manil Municativa e cultural de seus criadores. 57 A concepsio de artistico relaciona-se diretamente com 0 ato de crig. go da obra de arte, desde as primeiras aborages de formalizagio dessas obras até em seu contato com o publico, O fazer artistico (a criagao) é g mobilizagdo de agdes que resultam em construgdes de formas novas a par- tir da natureza e da cultura: ¢ ainda o resultado de expressdes imaginativas, Provenientes de sinteses emocionais & Cogn Mas, como ja abordamos na parte inicial deste livro, a obra artistica 56 se completa de fato com a participagde do espectador, recriando novas dimensdes dessa obra a partir do seu grav de compreensao da linguagem, do contetido ¢ da expressio do artista. Quando estamos diante de uma pin- tura ou ouvimos uma misica, por exemplo, estamos articulando diferentes graus de conhecimento especificn dessas modalidades artisticas, 0 que per- mite uma nova int ¢ com seus autores. Para completar © verificar como se dé a difusdo da ‘agdo com as obra artistica é prec as dimensGes da prix obra de arte no mundo da cultura e no contexto histérico-social. Essas intermediagdes do processo artistico estado contidas no quadro- sintese que apresentamos a seguir, onde destacamos os diversos compo- nentes desse processo. 58 Principals articulagées: do processo artistico* | ADAG MAAN AHO OES, | ve povsons vada Fernpofespaze sore ultural © que peaicanletleten, de diverse mor Fon apes nvr tee igbeeds ha pneditia atbsic Jaerdaboallan is onstenls representa wn vention sonhertmente de mundi fu gej8, mobilizur eluborayties ——o6 seja, snanifestar expresstincs perceptive, copnitivs, intuit raustvels cugnitlcas, erin fies vvnatidade que tansformam en vase estélicns Can ver, alhar, ——conmeguidas em Hinguayens antl sn formas (alors) sith funyit, mover se, deseabrir, pe fies, Aan a eonhenen (gem mais tinndee w algwtni, spor ga, geaficalas, gostar, mesnurl —— AcexpreesZes inedhutas, aticula tir de condiybes tuateriain © car, pensar) a respedi do inn dos on interpretadas) us sinbeser lecmuldgicas exiatenten mt 1 do da natuness © dx cultura, 9 goradas a partir de estaden ten tio da natures da causa patie de Coneepyhies, univers —siedals ene de valosen, idelugias, forya inlerion <» extesiori Gulturais dev gost”, 6, ab ines Lin subjelividade. <— ohye iw tempo, reprosenté fas con Siridade «= envergia emuenivmal nificades, inaginiaylin, (yea + Sens veibilidade <7 rein de init produ see Hiragliny, comeretiande a Jormay (obs antbticas destin das alguérn re ciinbolo concretizando- as nas Wi formas (ohniss) attics destin dis a alguéon | FORMASSOBRASIPRODUTOS. ARTISTICOS, =| Sto produyden/produton em divernas modalidades, artfsticas, inseriday num contexto xocio-hivtd- Fico € que sintetizain modos vhricis Ue sews autores/artintas/produtores, com Felagiy ao fazer — reprerentar Si modos de expor, de ; Intermediar an obras, as produyics artisticar, ar concepytes estéticas, enfim, » ate entre s Hn, arte entie ax periwas, ao longo do procerso hintGrico-nocial; —_—— | ESPECTADORES/P UBLICOLPLATEIMAPRECIADORES. Sao pessoas tambérn situ Ban faday nuit temnpolespayo sociocultural © que se selacionasn com produtos mm, 4 a Chlttralege ta ath arte, em diferentes modusipatamnases de saber estétivo € artistico mente apreendidos © caracterizados em “co Ei wutorias” vivaas, Quads Parte dan eg, labora, con IKK, por Maria F. de K. © Fusari, © Maria Heloisa C. de T. Ferraz, a 0 (Laigs pine ts Publicaysew: Kefleadies Sobre a Arte (Allred Bosi, 1985), Os Problemas da Este ‘yn, 1IKA) © A Sine talizagdo da Arte (Néstor Careta Canclini, 1980) 59 Educagio Estética e Educagiio Antistica nas Aulas de Arte Apés e: reflexdes vamos retomar as concep¢Ges de processog wr isticos ¢ estéticos, pois sio fundamentais para a elaboracao de uma pro- posta pedagogica de Arte. Partindo de um posicionamento te6rico-metodo. ldgico construfdo em bases estéticas e artisticas, atenderemos ao objetivo de uma educagao escolar em arte que favorega aos estudantes uma melhoria dos seus saberes priticos e tedricos. Habitualmente, o ensino-aprendizagem de arte volta-se apenas para Os aspectos de uma educagiio do “fazer artistico”. Mas, nao podemos nos esquecer de que, durante a concretizagao desse fazer em arte, jd existem concepgées de natureza sensfvel-cognitiva, que também do do ato criador. subjacentes out influem no resulta Em vista disso, € importante que os cursos de Arte sejam pensados também pelos caminhos de uma educagao estética, a qual deveré articular- se com esse “fazer”, partindo do contexto da percepgio, do uso, conheci- mento, apreciagao e critica artistica. A educagio estética ird contribuir para a ampliagio das habilidades j4 existentes, estabelecendo no processo edu- cacional a ponte entre o fazer e o refletir (pensar). A inclusio da educagao estética nos cursos de Arte nao € recente, ain- da que no Brasil pouco se tenha trabalhado com ela. O que observamos em nossas escolas siio atividades onde esto subentendidas algumas nogoes de apreciacao artistica. Entretanto, néo existe, na maioria dessas escolas, um trabalho ativo que mobilize reflexdes de ordem analitica, comparativa, his- t6rica e critica das coisas percebidas, como deveria ocorrer numa propost de educagio estética. Na verdade, 0 que se nota é a inexisténcia de um programa especifico dessa ordem, que a nosso ver complementa significa tivamente a estrutura de um curso de Arte. Em vista disso, a vivéncia dos processos artisticos depender4 da for- ma de orientagio dos profissionais que atuam nas 4reas especfficas (Artes Plasticas, Desenho, Musica, Artes Cénicas, Danca, Video, Cinema, Tele- visio, Desenho Industrial etc.). Por essa razdo deve-se estar atento para ae © processo artistico se oriente pelas miltiplas oportunidades que deverso aparecer no andamento dos trabalhos escolares, Nao é procurando unica mente uma producao final, nem atribuindo aos alunos um nimero infind&ve de “técnicas” <"", que atingiremos as metas desse curso, Mais do que tudo isso 60 ad importa a obs servaigtio de como eo que é detinido no transcorrer da: las de arte. Ou seja. estamos falando em uma educagao da praxis artinice,p ocupada com o aprofundamento de conceitos, critérios e processos daha yam acrianga ¢ o adolescente a dominarem a linguagem espectfica ae Pesquisando estudiosos sobre o ensino de arte, encontramos interes- santes propostas, que podem nos auxiliar nas discuss6es sobre este as- sunto. Alguns autores, como Galetti (1977), consideram a amplitude da edu- cacao estética como fator de ascendéncia desta sobre a educagdo artistica (é claro que ao tocarmos na educagao artistica, nfo estamos nos referindo aos desvios e mal-entendidos que cercam a disciplina, e sim enunciando uma educagio da praxis artfstica), A posigio desse autor fica mais evidente quando ele afirma que a educagio estétic semelha-se profundamente com a educagio intelectual, principalmente por aprofundar o interesse cognoscitivo e desenvolver o processo de percepgiio e capacidade de obser- vagiio. Em outras abordagens, como as de Thomas Munro (1956) e, mais recentemente, Sofia Morozova (1982), encontramos 0 ensino-aprendiza- gem de arte apoiado na educay ‘a ¢ educagio artistica. Esses dois autores véem a educacdo estética como parte integrante da vivéncia em arte, independente da educagiio artistica mas passivel de uma orientagdo sistematica. Expdem com clareza que o desenvolvimento estético estd di- retamente ligado a um crescimento constante de fatores, permitindo ao in- dividuo.a discriminagio entre “qualidades perceptuais ¢ imagens”, bem como 0 desenvolvimento de nfveis de percep¢io ¢ composi¢ao. Para Munro e Morozova 0 campo da educagio estética amplia-se com © conhecimento adquirido nas aulas dos demuais cursos freqientados pelos alunos, pois, se tomados em conjunto, & cursos podem auxiliar a com- Preensio e representagdo do mundo. Sofia Morozova (1982, p. 5) lembra Os contetidos das outras matérias, como por exemplo os de Biologia, Geo- grafia, Quimica, Fisica, onde os alunos aprendem “a grandeza € 2 maravi- Thas da natureza, penetrando nos egredos do cosmos, na transformacgao das substancias, nas leis que determinam as particularidades dos processos biolégicos. Assim, os alunos adquirem grandes conhecimentos estéticos da gama dos fenémenos da natureza”. ém o mundo natural apresenta-se como uma ampla alunos 0 interesse por Dessa forma, tamb fonte perceptiva de material visual, despertando nos tudo o que tem vida. 61 ja, Muitos jovens demons, ao contrdrio do grande Como sabemos, até uma perda do entusiasmo pelas quest envolvimento manifesto pelas criangas. Um dos desafios para o professo; de Arte & manter vivo esse interesse, para que seja possivel a continuidade do crescimento e aprendizado iniciado na infancia. Do ponto de vista de Thomas Munro? a educagio estética pode atender as necessidades, interes. ses e desejos do jovem que, através das orientagdes estéticas, poder4 en- contrar elementos para o seu proprio desenvolvimento. Entretanto, para desabrochar, esse sentimento estético necesita de uma orientag’io que responda as suas principais metas, sem perder de vista os pro- pésitos mais progressistas de transformagao social (¢ nao mero ajustamento a sociedade). O que importa é trabalhar atitudes analiticas, para que os estudan- tes ultrapassem o senso comum e adquiram posicionamentos mais criticos, Conquanto possam existir divergéncias nos encaminhamentos metodo- légicos do ensino de Arte, encontramos um certo consenso entre a grande maioria dos autores que estudamos. Praticamente todos consideram que as atividades artisticas praticadas nas oficinas e salas de aulas descerram 0 mundo da arte para os alunos, desempenhando uma fungao importante na constitui¢ao de sentimentos e pontos de vista estéticos, desde que metodi- camente trabalhados. Dentre os varios autores, consideramos que as proposigdes de Thomas Munro podem nos ajudar a discutir as mudangas no 4mbito das agdes esté- ticas na escola. Ele propGe, entre outras idéias, alguns caminhos para 0 professor de Arte, enfatizando que a determinagao do programa de educa- Go estética deve combinar as influéncias artisticas da comunidade local com as tendéncias nacionais e internacionais em arte: “A heranga cultural deve ser apresentada aos estudantes gradualmente, em tal qualidade e selegdo que possa ser melhor apreendida, entendida e apre- ciada em cada fase do desenvolvimento ... O estudante deve comparar 0S trabalhos da popula¢iio de sua localidade com a de outras, para tornar-se S2- bedor de seus diferentes valores e limitagdes e de como a arte de sua localida- de pode ser desenvolvida e enriquecida sem perda de suas caracteristicas.” 2, Com relagdo a Thomas Munro ¢ interessante notar que, numa fase de sua vida profissional, em meado® dos anos 20, foi diretor educacional do Museu da Barnes Foundation, sob a presidéncia de A. C- Barnes ¢ de John Dewey, como informa no prefécio de sua coletinea Art Education: its Philosophy Psychology, 1956. 62 Um outro aspecto importante para os adolescentes é que a sua educa- gdo escolar em arte vincule-se ao mundo do trabalho. O jovem que se est4 preparando para uma futura atividade profissional sente necessidade de clarecimentos sobre 0 campo de trabalho das diferentes 4reas do conhecimento humano, e cabe aos professores uma orientagao precisa so- bre as variadas possibilidades da sua drea. Dentre as carreiras artisticas existem hoje multiplas fungSes, além daquelas ocupagées tradicionais tais como pintura, escultura, gravura e arquitetura. So carreiras voltadas para o desenho industrial, comunicagao visual, sonora, audiovisual, decorago, hist6ria da arte, atividades em murais, gréficas, publicidade, educagio em arte e gerenciamento cultural-artfstico (tais como teatros, museus, orques- tras € centros recreativos em comunidades). Fora do campo artistico, a arte poder ser importante auxiliar como elemento mediador de conhecimento, em carreiras cientificas, comerciais ou técnicas através de filmes, fotogra- fias, videos, radio, TV etc., que informam e, ao mesmo tempo, recriam ambientes e componentes estéticos. Assim, a totalidade das vivéncias artisticas, estéticas e culturais vao au- xiliar significativamente na determinagio dos contetidos e métodos de edu- cago escolar em arte. Mas, para a realizacao desse projeto de educagao esté- tica e artistica, faz-se necessdrio ainda que o professor trabalhe sempre com: 1) documentos artisticos produzidos culturalmente (pinturas, esculturas, gravuras, filmes, arquiteturas, fotografias, partituras, gravagdes em dudio € video, textos dramaticos, roteiros etc.); 2) informagées. complementares elaboradas pelo proprio professor, pela midia ou contidas em publicagées especializadas (textos, livros, teses, artigos em jornais, revistas, catalogos); 3) materiais e instrumentos para produgées artisticas (papéis, tintas, lapis, argila, madeira, pedra, tecido, arame, luz... instrumentos sonoros, musi- cais, microfones ... roupas ou figurinos, pincéis, goivas, gravadores, cameras de fotografia, de video etc.). Apoiando nossa proposta em torno dos eixos estético e artistico estamos organizando, na prdtica, uma interpretagio da teoria da arte que considera- Mos mais proxima de nossas agdes. Nao seria possivel pensar uma pratica © ter uma teoria diferente ou oposta a ela. Como vimos, a praxis da arte, no Processo cultural, apresenta-se sempre reordenada em torno de suas di- 63 mensdes estéticas ¢ artisticas. Até mesmo quando nos defrontamos Produgdo art ica. a sua natureza estética também esté presente; 9 artis “oonstruir”, “representar 0 mundo” e “exprimir-se”, reflete em suas © movimento dessus dimensdes. A obra artistica encerra sempre um do estéticn (de tempo, estilo etc.), assim como € a concretude e express, de uma linguagemi ¢ sentimentos. A educagio escolar em arte, portanto, segue esse caminho das elabo. ragdes estéticas ¢ artisticas. configuradas agora em um processar continuo consideragGes, dentre outras, se consti. tem no no principal emt asamento desta proposta de curso de Arte dirigida ads estudantes em escolas de ensino médio. Sugesties de Anvidades Para que se possa planejar as atividades artisticas e estéticas dos cur- sos € organizar documentos, informagGes e materiais necess4rios as aulas de Arte. sugerimos: * fazer um estude dos artistas e suas produgées (regionais e internacionais) preferidos ou colecionados pelos estudantes: * fazer um estudo dos artistas e de suas produgGes (regionais e internacio- nais) ainda desconhevidos desses adolescentes, mas que possam ser sele- cionados para mobilizar os interesses estéticos e artisticos dos alunos; * fazer um estude Jo pairimdnio cultural de sua localidade, comparando-o com os equivalentes de outras regides do Brasil; por exemplo, verificat as obras arquitetGnicas. urbanfsticas, visuais, musicais, draméticas das diferentes regides: + selecionar critérios estéticos-artisticos para andlise desse patriménio cul- tural: * verificar, junto aos avervos de bibliotecas, centros culturais, museus, lecionadores etc.. a possibilidade de preparar novas atividades te6ric” Sticas com os estudantes: prati + fazer um levantamento (pesquisa, enquete) com os alunos para conhe suas expenéncias artisticas, bem como técnicas e materiais ja utiliza * verificar, na sua regido, as possibilidades teéricas e materiais cq para uso nas atividades artisticas propostas na escola; verificat 4 64 materiais podem ser conseguidos facilmente, quais podem ser produzi- dos e quais formas de usé-los; « reestudar, praticar técnicas artisticas e uso de diversos materiais; verifi- car que artistas desenvolveram trabalhos com essas técnicas e mate- riais; colecionar alguns desses trabalhos para serem analisados com es- tudantes. Bibliografia para Complementacio dos Estudos BOSI, Alfredo. Reflexdes Sobre a Arte. Sio Paulo, Brasiliense, 1982. CANCLINI, Néstor Garcia. A Socializagao da Arte: Teoria e Prdtica na América Latina. Sao Paulo, Cultrix, 1980. COLI, Jorge. O Que é Arte. Sio Paulo, Brasiliense, 1982. FISCHER, Ernst. A Necessidade da Arte. Rio de Janeiro, Zahar, 1971. PAREYSON, Luigi. Os Problemas da Estética. Sao Paulo, Martins Fon- tes, 1984. SUBIRATS, Eduardo. A Flor e o Cristal: Ensaios Sobre Arte e Arquitetu- ra Moderna. Sao Paulo, Nobel, 1988. WOLFF, Janet. A Produgdo Social da Arte. Rio de Janeiro, Zahar, 1982. SUGESTAO PROGRAMA - DE CURSO. Nos capttulos anteriores procurames evidenciar a importincia do co- nhecimento arte na cducagde escolar, Consideramos esse conhecimento significative na formagio dos estudantes por ser um dos meios de contri- buir para as suas agdes no ambiente sociocultural em que vivem, o que se constitu no principal objetivo dos cursos de Arte. Dando continuidade a essas idéias, vamos tratar agora do ensino € aprendizagem de atte direcionados para a escola de ensino médio, Nessa etapa da escolaridade © estudante deve progredir em seus conhecimentos artistions ¢ estéticos vinculades dagagdes que fazem sobre a vida coti- diana e o mundo de trabalho. Na primeira parte deste capitulo faremos unr abordagem sobre con- tetidos, métodos ¢ procedimentes escolares no curso de Arte. Em seguida, apresentaremos indicaydes de unidades de estudos vi ando colaborar com a8 discussdes sobre uma melhor tormagdo estética ¢ artistica dos estudan- tes. Essas indicagdes podem servir come ponto de partida para a elabora- ¢30 de cursos destinados as diferentes realidades escolares. 1 CONTEUDOS, METODOS E PROCEDIMENTOS ESCOLARES EM ARTE 11.0 Ga Estudar om Ane As produgées artisticas presentes nas culturas das diversas sociedades humanas fazem parte direta e indiretamente da vida dos estudantes. Por isso, os aspectos artisticos ¢ estéticos dessas culturas, em sua gama de ela- 69 ~ boragdes histéricas € conteniporineas, deverao mobilizar as escothas dos contetidos escolares em, arte “Dentre os conhecimentos, é importante terse como critéfio a opgio por aqueles considerados mais significatives para q formagad do cidadio contemporfineo. Em aulas de Arte (mais especificamente nas aulas de Musica, Artes Plasticas, Desegho, Teatro, Danga), espera-se que os estudantes Vivenciem, intensamente 0 processo artis ico, acionando e evoluindo em seus modos de fazer técnico, de representagdo imaginativa ¢ de expressividade, Ag mesmo tempo, espera-se que aprendam sobre outros autores, artistas, obras de arte, complementando assim seus conhecimentos na area, Tsto porque os alunos da escola média fazem parte do universo dos espectadores ¢ usua- tios que entram em contato com as obras de arte ¢ seus autores. Por outro lado, relembramos que precisam saber sobre a produgio dos artistas tam- bém como resultante da articulagfo do construir, do representar o mundo, do exprimir, e como € difundida por varios meios de comunicagie, Esta difusdo se faz por intermédio de exposigdes (em - Museus, cireos, fei- ras, teatros etc.), de reprodugées e veiculacdes massivas (em ridios. televisdes, audiocassetes, videocassetes, jornais, revistas, livros, cartazes, cartées, selos, fotografias, diapositivos, computadores ete.) ¢ deve ser estu- dada pelos alunos. Um outro aspecto a ressaltar-se é que alguns dos autores com suas obras artisticas, seus difusores, e também seus espectadores, po- dem ou ndo se encontrar préximos dos estudantes ¢ dos professores dat escola de ensino médio. Cabe a eles (professores e alunos) aprofundar seus saberes estéticos e artisticos estudando as manifestagdes locais, regionais. nacionais e internacionais. Um curso de Arte s6 pode ser consistente, portanto, se incluir o “fazet artistico” (pessoal, grupal) e as elaboracdes sensfveis-cognitivas frente 48 préprias produgGes artisticas e de outros autores. : Esses conhecimentos precisam ser metodicamente apreendidos. pelos alunos, para lhes servirem de base em suas priticas sociais como cidadios do mundo — e nao s6 da regido onde moram. Estamos, portanto, reatir- mando que nao € suficiente conhecer-se apenas a arte individual. local. regional. Depoimentos de docentes, acompanhamentos de programas de CULES de Arte (desenvolvidos no Brasil e no estrangeiro), contatos com estudat tes e profissionais da drea mostram-nos que o encaminhamento indicad® neste livro é possivel e necessrio para se garantir um conhecimento artis- tico bdsico. Com esse encaminhamento pode-se atender o conjunto de z6es que fundamentam a estruturagdo de um programa de Arte. 70 As sugest6es apresentadas neste livro enfatizam de um modo geral as Artes Visuais', devido a sua amplitude e a maior concentragao de profis- sionais formados na rea, em nosso pais. O conhecimento basico é a con- cepgiio de visualidade gerada no cotidiano cultural, mas sem deixar de tra- palhar as nogdes que envolvam as habilidades de producio e andlises de formas visuais a partir do ver, imaginar, descobrir, inventar. Ou seja, € preciso desenvolver concepgées a respeito de como essas formas se confi- guram para nés e também organizar possibilidades de reformar e transfor- mar essas configuragées, com significado cultural. A Teoria e a Histéria da Arte compdem outras unidades de estudo inclufdas neste programa. Na maioria das vezes, elas sfio vistas apenas em cursos especializados e universitarios, mas entendemos que esse contetido é fundamental para a compreensao e 0 desenvolvimento estético e artistico dos estudantes. A preocupagao em incluir uma visio pormenorizada da Histéria da Arte na escola média visa complementar a formagao artistica dos alunos. Esta maneira de entender o ensino de Arte € defendida por muitos autores (Munro, 1956; Parini e Calvesi, 1978; Morozova, 1982; Ostrower, 1983). Dentre eles, Munro é um dos mais insistentes no aprofundamento de assuntos de arte com os jovens. Além de procurar na Hist6ria da Arte um corpo de conhecimentos que permita 0 estudo das so- lugGes estéticas encontradas pela humanidade nas obras de arte, ele consi- dera também necess4ro encorajar no jovem o espirito critico. Segundo Munro, por intermédio da explicacao, da andlise e da apreciagio de traba- Thos de arte (dadas a partir dos conceitos gerais de valores estéticos), 0 jovem pode chegar a entender e refletir sobre as principais correntes de critica de arte contempordnea. Essa habilidade critica se desenvolve por estudo e comparagao de obras de arte do mundo contemporaneo € do pas- sado. Por sua vez, o exercicio de explicagao, andlise e apreciagao das obras dos préprios alunos completa todo esse processo. E por isso que é impor- tante fazer a classe chegar concomitantemente & produgao de trabalhos em arte. Através do “fazer artfstico” torna-se mais facil a compreensao de con- Ceitos tedricos e da propria linguagem artistica. Logo, para estruturar-se um curso de Hist6ria da Arte deve-se vincular as bases hist6ricas e reflexivas a conhecimentos especificos de linguagens —__ |. Acreditamos que os professores de Arte formados em Misia, Artes Cénicas, Danga, encontrado, nas indicagées gerais desse texto e na unidade sobre Teoria e Histéria da Arte, alguns encaminhamentos Que podem contribuir para as suas discussdes e propostas de programa de curso de Arte em suas respec- livas reas e que devem ser objeto de outras publicagdes. 1 artisticas e Teoria da Arte. Com isso, poderemos concretizar experiénciag isticas e estéticas em nogdes a serem discutidas, analisadas e criticadas Mais ainda, o jovem tomard conhecimento, tanto dos aspectos Constitutivos da obra de arte (forma, contetido, técnica, composi¢ao...), quanto da sua relacao histérica, fungio, formalizacio de expressdes sensiveis e represen. Com estas unidades sobre a Teoria e a Historia da Arte sugerimos que: a) se tome como ponto de referéncia a arte desenvolvida no Brasil, relacionando-a com a latino-americana, a européia, a internacional; e b) se discuta, ainda, questdes sobre os artistas, as obras, os difusores e os espectadores que contatam essas obras, tanto no passado como no pre- sente. A opgio pela arte no Brasil se deve as possibilidades de estudar- Mos nossos prdprios documentos artisticos e relacioné-los com os de outras culturas. Nessa abordagem pretendemos buscar a arte na relacao homem-mundo. dentro da dindmica da sua historicidade. Esses so co- nhecimentos basicos que os cursos de Arte devem oferecer no ensino médio. 1.2 Como estudar Arte na escola A articulagao entre a educagdo estética e a educagdo artistica 6a base metodolégica desta proposta e gerada pelo que se necessita saber em arte como ja foi discutido no capitulo precedente. Embora estejamds considerando 0 processo de ensino e aprendizagem a partir dessa idéia, nada impede que o professor tenha os seus préprios métodos para tratar os aspectos especificos das linguagens e saberes artisticos. Importante mesmo 6 integra-los de forma que o processo de aprendizagem da arte ocorra. Antes de dar continuidade 4 nossa proposta precisamos esclarecet 0 que se entende por método relativo as aulas de Arte. Os métodos de edu- cagdo escolar em Arte so os préprios caminhos delineados no ensino & aprendizagem artistica e estética para se chegar a uma finalidade, isto ¢ ao conhecimento da arte. Mas, s6 poderemos percorrer tais caminhos atta vés de procedimentos intencionalmente escolhidos, dentro de um dete minado posicionamento pedagégico. Ou seja, a decisio pelos procedi- mentos de ensino e aprendizagem € que vai indicar as tendéncias € 8 agdes pedagégicas que foram incorporadas. Exemplificando, sao esses procedimentos que vio mostrar se os passos dados no método centrali- 22 ma atividade artfstica num espontanefsmo, na técnica pela técnica, no oritarismM0 do professor ou na apreensao e reelaboracao da cultura ar- as vivida pela humanidade. Com base nessas consideragdes vamos agora explicitar as principais rapas para um planejamento da atuagio profissional docente, preocupado : jéncia e crescimento cultural/artistico do estudante: com a expert a) Ponto de partida: conhecer a prdatica social e cultural vivida pelos alu- nos com relagdo aos aspectos artisticos, estéticos e histéricos aborda- dos nas unidades do programa; identificar ao mesmo tempo o que thes falta ainda saber sobre o assunto. Para desenvolver um bom trabalho de Arte o professor precisa desco- brir quais so os interesses, vivéncias, linguagens, modos de conhecimento de arte e praticas de vida de seus alunos. Conhecer os estudantes na sua relagdo com a propria regifio, com o Brasil e com o mundo, é um ponto de partida imprescind{vel para um trabalho de educagao escolar em arte que realmente mobilize uma assimilagdo e uma apreensao de informagdes na drea art(stica. O professor pode organizar um “mapeamento” cultural da drea em que atua, bem como das demais, préximas e distantes. E nessa relagdo com o mundo que os estudantes desenvolvem as suas experiéncias estéticas e artisticas, tanto as referentes a cada um dos assuntos abordados no programa de Arte, como as da 4rea da linguagem artistica desenvolvida pelo professor (Artes PlAsticas, Desenho, Miisica, Artes Cénicas etc.). A preocupagao com o cotidiano dos alunos nao deve se restringir ape- nas ao momento do plano ou inicio do curso. Essa agdo pedagdgica deve acompanhar todo o desenrolar das atividades de estudo, para uma interligag3o mais viva com os contetidos. b) Processo de desenvolvimento das aulas de Arte: organizar atividades de ensino e aprendizagem que permitam o aprofundamento dos conteti- dos escolares em Arte por meio de elaboragées praticas e tedricas nas dimensées artisticas e estéticas. ne Para organizar tais atividades o professor precisa ter bem estabelecido cae © os tépicos de estudo necessdrios no curso de Arte. Esses etidos, por sua vez, jA devem englobar os aspectos mais significativos 73 do conhecimento arte ¢ 0 levantamento das caracteristicas artfsticas, estét. cas, cientfficas etc., de sua regidio, bem como os interesses vivenciaig dos alunos ¢ 0 que Thes falta saber quanto aos assuntos especificos de arte, Quanto aos procedimentos de ensino e aprendizagem sera preciso que as aulas de Arte sigam orientagdes que propiciem atividades aos estudantes para o aprender a fazer ¢ a analisar produgd artisticas e estéticas (Visuais, sonoras, cénicas), Isso, de tal maneira que apresentem progressos em sey saber artistico ¢ estético nas dimensdes técnica, inventiva, representacional e expressiva do mundo por eles conhecido. Os caminhos escolhidos devem contribuir para os alunos exercitarem aplicagées pratico-tedricas sobre os contetidos estéticos e artisticos. Os procedimentos pedagégicos que viabilizam o fazer artistico dos alunos e a relagdo com as manifestagdes estéticas sio, por sua vez, os definidores do processo e produto educativo nos cursos de Arte na escola, Ao serem propostos os exercicios ou as atividades praticas e tedricas deve-se observar uma constante sintonia com o desenvolvimento das capa- cidades e habilidades artisticas e estéticas que esto sendo trabalhadas. Assim, pode-se organizar exercicios e atividades como uma busca de solu- ges para problemas de arte pensados a partir da realidade dos alunos. Es- ses trabalhos escolares podem levar o aluno tanto ao fazer artfstico quanto ao ato de comparar e contrapor produgées artisticas prdprias e de outros autores. Dependendo da problemitica estudada, pode-se conseguir a am- Pliagdo de saberes artisticos que incluem 0 Ambito mais préximo, particular, singular (a regido, a escola, a sala de aula, as pessoas individualmente), bem como o mais totalizante (as outras regides do Brasil, a América Lati- na, o mundo). Agdes pedagégicas como essas que impliquem em trocas, comparagées, podem mobilizar transformagdes, tomando-se, assim, um desafiante e dinfmico caminho na direcio do conhecimento da arte ¢ de sua aplicaciio na pratica social viva. c) Sinteses e novos pontos de partida nas aulas de Arte: verificar 0 estdgio em que se encontra o conhecimento estético e artistico dos alunos apés as intervengées educativas pratico-teéricas e propor uma seqiténcia par? o curso. Em algum momento do curso, os alunos ja terdo alcangado novos “pa tamares” de entendimento no campo da arte e, com isso, adquirido condi: Ges de interpreta¢do mais elaborada das priticas sociais vividas ness4 74 yconhecimento, Tais mudangas mostram na pratica 6 proceso de erenct mento cognitivo-sensivel em relagdo aos aiveis antetioien Para o educador Cipriano Luckesi (1990, p. 160), exne procomna de selevagdo cultural do educando” se caracteriaa Por UM movimento de “coutinuidade © raptura pelo qual os educandos ae elovant de uma sitagdo ingénua, do ponto de vista do conhocimento 6 da cultura, para uma perspective critica © universal, Esse Ploveano & clomenty exsencial em uma pedagogia que esteja preocupada com aque os educandos eleven seu nivel de entendimento do mundo ¢ da cealidade, Continuidade-tptu ra € uM processo que cnvolve o entendimento da contuuigdo, segundo o qual 0 novo nasce do velho. O novo nao é simplesmente a pura novida de, mas o velho superado por uma sintese vivificadora, O velho fa nao: existe mais em si, Mas estd absolutamente incorperado ao novo, O nove: foi engendrado dentro do velho, superando-o em nova forma sintética, No processo ensino-aprendizagem, isso faz pela continuidade © ruptura cultural.” As novas possibilidades interpretativas que sdo incorporadas pelos estudantes devem ser acompanhadas pelo professor, durante o processo de teflexdo que caracteriza o planejamento de sua proposta escolarem Arte, A finalidade desse acompanhamento é retomar continuadamente 0 planeja- mento do curso. 2. PROGRAMA DE CURSO DE ARTE _ A sugestdo de programa de Arte que estamos apresentando esta centrada, como dissemos, no estudo das Artes Visuais, da Teoria da Arte ¢ da Hist6ria da Arte no Brasil. Ressaltamos, novamente, que este pr envolve questées tedricas de ordem estética-artistica que devem xe compor com a pratica especifica de cada linguagem arkistica, O professor de Arte vai encontrar proposicdes que podem ajudé-le ms preparacdo do seu cur $0 com vistas ao aprimoramento dos seus alunos, ™~ Para uma complementagav do programa, anedamos tambem trechos de diferentes autores, que constituem pistas indivativas de material a ser debatido e trabalhado em sala de aula. Esses textos foram incluides como 15 13es para leitura, interpretagdo € debates com os alunos, de aco Oe: ura, “vtos ndo sé, suges: a a a assunto da unidade em estudo. Os ae nao sao Concly. ren veins 7 se pretende que sejam os unicos possiveis As SUugestoes de hits ii - nem S¢F , som o material disponivel em cadg ibliografia podem regido. » do encaminhamento do Professor >, de forma a contribuir para 0 Apropria experténcia profissional tor uproveitamento desse mate. dade das sugest6es no todo ou em A sequiéncic que fard suas m. aprofundame: do educ rial. Isso significa Parte. a adeqi quais esta trab. grama nao foi pe desenvolvendo. ma: MON OG idade dos alunos com os io planejamento de curso. Este Pro- ituir o trabalho que o professor vem A preparagdo de cade fessor outras idéias Procedimentos. téc tetidos. 4m dos opicos propostos dard ainda ao pro- Para organizar ¢ concretizar seus proprios métodos, icas © meios de comunicagade, articulados aos con- Dentre os assunios Sugeridos, os de ser desenvolvidos por licenciados em qualquer uma das habilitagées hoje existentes — Artes Piasticas, Desenho, Musica, Artes Cénicas, Danga — necessitando apenas de organizagdo, exemplos ¢ aprofundamentos nas res- pectivas dreas de formacao. Teoria e Historia da Arte podem

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