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68 AESCOLA DE FRANKFURT [No dia 6 de agosto, feces, vikima de um enfarto durante suas fia na Suiga Alpune meses mais tarde, em fevercico de 1970, um aidente de automével exe soua morte de ans Jargen Kral, 0 mais importante tesico do SDS, que nfo Lina imporcacia fia esta logo formalmente dssolvdo. Foi asim que fim do movimento de protestocoinidu extanhamente com o fim daguele que, ais dlo que qualquer rt, langou 2s bases nelecuis a longo prazo da necenidade, {qu stomata fgalmenteirreprimive, de sar do "Restauratorium”=" Habermas a ciminho de una tori comunisciond de sociedede — O textamento de Adorno: a tora extica coins fundamen de rma fila coloeada sob 0 signo dda promeses de flcidade “Nao me sinto absolutamente consteangido ao declarae, com toda a fian= ‘queda, que estou trabalhando num grande livo sobre a extética”: eram ees 08 pprdpriostermos de Adorno na entrevista que dew a Spigel poco tempo depois da bademna que interrompeu seu curso de filosofia. Asetiche Theorie, que ficou ina cabado, er 0 segundo livro da série de obras que, segundo ele pretendia, deveria mostrar © que havia para se pér na balanga; esse fi seu testamento que, a princt- pio, passou quase despercebide numa época marcada pelas conseqiéncias do int- cio do entusiasmo pela arte. Duas obras de Habermas publicadas em 1968 tive- Fam muito sucesso einflutncia: Evkennnis und Intereve(Conhecimentoe interes- 8) ¢ Technik und Wisenschaft ele Ideologe (Téenica e ctacia como ideologia). Erkenntss sd Interese, escrito entre 1964 € 1968, era concebido como prolegh- menos que deveriam ser segudos de uma andlise em dois volumes sobre 0 desen- volvimenco da filosofiaanaltca, prolegmenos gragas as quais Habermas queria preparar um acesoo@ uma nove tori da sociedade que nose baseaste num fun- damento idealist Esse veo teconstruia a pré-histéria intelectual do positivismo recente e buscava apresentar uma jusificativa da teotia ertica da sociedade por intermédio da antropologia do conhecimento. Esse caminho atraiu mites criti- ‘eas quando Habermas o fer objeto de um seminirio de filosafia no semestre de inverna de 1968-1969, “Probleme materalstcher Erkenntnisthea:ie” (Proble- ‘ma da teoria do conhecimento materialista), em que os estudantes tentaram pe ‘em pritica a participagdo na elaboragfo dos temas ¢ das probleméticas:censura- vvam-no por fear preso' problemas imanentes&ciéacia, Technik und Wizenachaft apresentava uma proposta de andlise do contexto social em que o positivism sur- gira edo qual tina herdado uma fungi ideolégica e tirava conseaiiénciasdissa para eslarecer as condigées a serem preenchidas para uma revolucio das socieda- des capitalistas avanadas. Os estudantes extralram imediatamente desse trabalho 2 idtiaforga da técnica e da ciéncia concebidas como primeira forca produtiva. "TRefedaca 2 proce de ecostusio sci eecontmicnd Aleman no plrgct sob cutee dos EUA. (N-ILT) ATTEORIA CRITICA NUMA POCA DE RENASCIMENTO 669 Exkennons tnd Ineree ( pati de agora, Ful) estava no prolongamento dos artigos retomados em Theorie nd Pras que giravam em tomo de uma def- iio do estatuto da cftica, lis da teoria marsista, como forma de conhecimen- to insalada entre fosofiaeeifaca,e também no prolongamento das contribui~ Bes de Habermas 20 confito do positivism, e, enfir, de sua aula inaugural “Erkenntnis und meres". O lve apresentava uma progres, ao longo da his- ‘éria, dos problemas cienticos axé uma epistemologia citica que, diversemente da epistemologiacientifia se langava numa teora global das formas de conheci- mento disponiveis nas eociedades industaizads, formas esas diferenciadas em todo o leque das citncas. A novidade em relagio &s obras precedentes res sobretudo na apresentagio mais impressionante ¢ minuciosa dos processos no ‘eampo de objetos com os quas as ciéncas de orientagho critica tinham que ver. Habermas expliitava iso mais detalhadamente a respico da psicanlise, “Na fase desua auroeflexao, a merodologia das iéncas da natureza pode descobrir uma relagio espectia entre inguagem e acio instrumental, a merodolo- sa das citncias humanas pode descobrir uma entce linguagem e interagio, mbas podem li seonhecer rages objetivas e precisa em seu papel earscendental (dela). A mevapsicologia wata de uma relagéo fundamental, a exstente entre deformagio da ngua e patologa do comportamento, Els prestupoe, para faélo, tum teoria da lingua eotiiana euja tarefaconsiste em eslarcero valor intesub- jetive dos simbolos ea medias lingstica das interagSes sobre abuse do reconhe- ‘imento reiproco, asim como tomar compreenavel a introdugio socializante de jogos de pales na gramécica, conccbida como processo de individuacio.Jé.que, segundo essa eoria, a estruura da lingua determina igualmente a lingua ea prt ‘eavital, os motvos das ages também sto compreendidos como necesidades inter pretadas lingliscamence ainda que as motvagbes nd tepresentem impulsos que pressionam, mas com intengées que guiam subjetivamente, pasando por uma ‘mediagfo simbslieae, por isso mesmo, lmitando-e teciprocamente ‘Acarefa da metapsicologia consis, de fato, em demonstrar que exe caso ‘normal & um eas limite de uma estutura de motivacio que depende ao mesmo ‘tempo das necessidades de interpreagio comunicadas abertamente e das que si0 reprimidas¢privatizadas. Os simbolos desagregados eos temas rejitados exercem sua forga por sobre as cabeyas dos sujetes¢ constrngem a stishages de subs tuigho ea simboliagio de enaz.. O stmbolo dessgregado nfo perdeu de epen- te toda relagto coma lingua explcita; mas esa rlagSo gramatical tomo tam- bbém, de um golpe,subternea, Ele extrai sua farga do fato de desorientar aligi- cx do uso lingulsico explicit. O simbolo reprimido € ligado 20 nel do texto cxplicio por regras, sem duvids, objetivamente compreensves e que resultam das circunseincias contingentes da vida pessoal, mas, justamente, nfo éligado pels repras reconbecidasincersubjtivamente. Por iss, a dssimulacio sintomati- cado sentido ea percurbagio da incersubjetividade que disso tesulta soa princ- pio incompreensves tanto para outrem como para préprio sueto, las s6 se 0 AESOOLA DE FRANKFURT tornamn compreensics em uon nivel deintrsubjtvidede que deve instaurer-se entre osujito camo Jeb eu) € 0 sueito como £5 (sto), onde, em comm, © médica eo paclnterompem reflexivamente as barreirs da comunicacio..0 que faz com que éesparegam, 20 mesmo tempo, a deformago da linguagem privada c-asatisfago sincomitiea de substuigto dos motivosrecalcados da ag aos quis 0 contle consceate tem aes” (Eu! 311,312 €98) ‘Av apoias-sesobre ea teosia inpiada por Alfred Lorenzs, colege de Habe smas em Frankfurt, que recor zo jogo de plavas para incerpretarateoiapsicane Inca do spareimento e desparcimento dos sintomas como o de um proceso de dlessmboliacio e ressimboizaco, Habermas tentava também extra de Freud tuma tora do nascimentoe da dsslug des insiuigbes eideolgias. “Freud con- cebe a instiuigSes como um poder que tocou uma violencia exterior aguda pla coerga interna de longa duragio de uma comunicagio desvada que imp limites asi mesma, Ele compreende, pos, a waio culrural como oincasienteeaeivo sempre censuraa, isoado de fora onde os sbolos probidos orienta os mativos dlesagrgados da comunicagio — mas sempre tansportados daqul para é—rumo wma sito viral so ox poderes que substituem os perign exeriores ea sane Go media para embriagar a eonscénclaleptimando a dominacio, Sio, a0 mex smo eno, ox podees des quis a consciénciaprisioncia da ideologia pode s liber tar pela avto-reflexio quando um novo potenial de dominagio da natureza dese cdi was legitimagses” (541 sg). bjeivo que Freud deduzia dso era “0 fundamento em rao das premisss cultura", uma idfi que Habermas cansfor raya em uma organiza das relagtes sodas segundo o principio de que avai dade de toda norma poltcanente important serdtomada dependence de um con- sexo obi por uma comunicago live da dominagio” 348). (Chegsvace assim aa ponto em que Habermas consepuia fier a lgasto como diagnésico que exabeleca sobre o sistema atal de dominago le xara ‘edunido a desconeerar as questbes privcas de uma vide pblicadespolitzada,e0 movimento de proto, insistindo em que se patcipase de uma dscusio publ casobrea mancia de ever uma vida digas de se vivid tinha tocado 0 panto fe co dese sea de dominaso. “A nova ideologia®prjudica. um interese que se prende a uma dis dias condigies fundamentas de nossa exiténcia cultural & lin ‘0, mais exatamente& forma de acalizagioe de indviduagio determinada pela comiunicagio na lingua coidana. Exe iteeseetendese 8 manurengo de uma inwersubjetividade da concoedincia e 2 instauragio de wma comunicasio live de ddominacso. A consiénciatecneritica fa. com que desiparega esse intereseprt- 0 por tes daquele que consagramos 3 extensio de nosos podetestécicos” (Teclnit und Wienehafals Tee’ 91. No entanto, a jusficagio ds tora eica da socedade pela antropologia do conhecimento provocira uma sce de problemas. Havienelaatensi entre a F Quer dr, conaitnca wcnocca. (NA) ATTEORIA CRITICA NUMA EPOCA DE RENASCIMENTO. on hipétese de um sueito unitsio da espécie humana eo fundamento do interesse de conhesimento pritico ¢ emaneipador nas estruturas da incersubjetividade. Hhvia também a heterogencidadeensre um inteese de conhecimentotéenio € pritca, cujo valor indispensivel para a reproduséo da espécie humana era Sbvio, ‘eum interesse de conhecimento emancipador em que se tatava, apatentemente, de muito mais do que de reprodugso e autoconservagio, isto é, de uma vida shumana na liberdade e ignidade. Se “um interesse da ato pelo estado adulto, pela auconomia da acio e pela libertagio em relagio ao dogmatismo” (Dogmatismus, Vernunge und Entscheidung” (Dogmatismo, rao e determina 40) in Theorie und Pras, 233) devera estat entre os fandamentos da reprodu~ co de uma expécie nana ele no devera, ent, integrase, necesariamente, no interesse de eonhecimentoténico ¢prtico? Habermas reagiua esses problemas e a outros mais tansformando o proje- 10 dejustificar ede problematizar a teora rtica da sociedade pela antropologia do conhecimento em um projeto de uma teoria erica da sociedad que comega~ ria pel teoria da comunicagéo. Tomando como ponto de partida o fato de que os homens fam e agem uns com os outros, le tentava demonstar que a antecipa- ‘glo de uma comunicagio sem distorgfo era a condigio para que uma aslo comue nicativa fosse possivel — isto é, visando ao entendimento miiruo. Recebeu, neste sentido, iflutncias decisivas de seu amigo flésofo Kat!-Ouo Ape. As idealiza- .8es, que ele havia demonstrado no contexto de uma pragiétca universal, que cram as condigées de possbilidade da comunicagiolingistca, deveriam consti- ‘ir a normas que permitissem uma efticacuja jusificagio no dependesse mais de cradigdeshistricas. A teria erica poderia,entdo, confrontaridealizagbes indispensives vida com 0 process ral da vida da sociedade. Alguns anos mais tarde, uma formulacio brilhante desse ponto de vista de urna teora enciea da sociedade e ds histra jusificado por uma pragmica universal reapareceu em Legiimationsproblerce im Spashapitalonus (Problems de legtimidade no capita. lismo tardio): “Como ox membros de um sistema social ue atngiram um certo pponto de desenvolvimento das forgas produtivas triam interpretado coetiva- rente ¢ com forga de lei suas necesidadss, e que normas acitariam eles como jusificadas, se tivessem podido e querido se encontrar de posse de um conheci- ‘mento suficiente das eondigBes marginais¢ dos imperativos Funcionais de sua sociedade para tomar dscusivamente suas decsbes sobre 2 organizago das rela- Bes sociais” (Legiiationsprobleme ims Spithaptaloms, 156). Technik und Winenohaf als “Tdeologe™ (de agora em diante Tu) stuava- = no prolongamento da desconsteugio da insergio da técniea no mundo social vivido j4iniiada, em seus primeiros artigos, por um Habermas discipulo de Rothacker e, numa ceta medida, eambém de Heidegger. Era sua primeita andli- se complexa reanindo intimerasespécies de cores, a patologia da modernidade, «© progresio mutiador do Aufténeng, Habermas entiva defini 0 fendmeno do ‘aumento da forma racional da ciénca eda técnica (em outess palavras, da racio- mn AESCOLA DE FRANKFURT nalidade encarnada nos stemas de agiesraconais em slagio a seus fins) até se tornar a totalidadehistrica de uma forma de vide, de um modo mais preciso do ‘que, antes dele, o haviara feito Max Weber ¢ Herbert Marcuse. Weber havia intesprerado esa evolugio como um processo de “racionalizagéo” combinado ‘com um proceso de “desencantamento® das tradig6es. Marcuse haviatentado ‘concsiuio como fusio da técnica e da dominacio. ‘A.ténica como dominagéo — aguilo davasobretudo a impressio de que a ddominasfo era inatactvel na medida em que ela parecia ter tomado a forma da racinalidade cienificae das coergies objetivastéenieas. Se, outrora, a teoria mat sista nha visto mas Forges produtivaso que fia se partitem as adeias de relagbes de produto antiquadas, aqui actncia ea tenia, comadas primeiras forges pro- dducivas, adquitiam mais 0 aspecco de sustenticulo des eelagbes de producto dlominantes. A velha observagio da teoria erica — a forma de sociedade capita lista Funcionava, mesmo a0 prego de pesados satifcis,e, por isso, 2 maiora dos ‘membros da sociedad se sentiam mais igados 8 ordem existente do que & poss- ila de uma sociedade melhor — tomava em Marcuse a forma de um julga- mento desmoralizante: 0 progresso cientifio e téenico no sé legitimava as relagbes de producto dominantes, mostrndo que eles esavam adaptados a sua angio, mas era, ele proprio, concebido pata a dominaco Diversamente de Weber © Mareuse, Habermas nfo eoneebia 0 acesso da sacionalidade centificaeténica ao lve de totalidade hi so iteprimivel que no se preocapava com justfcagio, mas como um processo ‘que ambém agravavaos problemas. Como contrast, ele escolheu um resumno de cvolusio social que tomava como fo eondutor a repantigéo desigual c, no entane ‘0, legftima, da iqueza edo poder. Em sociedades eadicionas, ese problema era resolvido pelo firo de que a dominacio era acompanhada de imagens do mundo que davam, mesmo Aqueles que deveriam reprimir mais necessidades do que 0 necesrio, 0 seetimento de partcipar de uma forma de vida que vsava 0 mais, leo grau possvel de vida em comum saisfaéria e boa. No capitslismo, aecono- mia, a técnica ea citnca se libertavam, em uma cera medida, de sua ‘num quadro de dominacio poltticasustentads por imagens tradicio do, ea ideologia da troca live ejusta, desencancada, mas ainda guiada pea repre sencago de uma vida em comum bos; cornava-se a lgitimagéo decisva do siste- rma socal. Ans olhos de Habermas, duastendéncias definiam 0 capitalismo avan- ‘sado: 0 aumento do intervencionismo do Esado para garanir um sistema social «esmagado por crises e cada vez menos conforme aideologia da troc lve just, ‘ca transformagio da cigncia eda ténica em primeicas Forgas produtivas. Depois, das formas tradicionais de leitimagto, também as ideologies burguesssviram 0 cho thes Fugic dos pés quando a extensio e a complexidade dos “subsistemas de agfes racionas em relesSo aos fins” sumentaram. © Estado incervencionistaten- ‘ou desde logo sutisfizer sua necesidade de legitimacio por uma platforms poll- tica de recompensas: mantendo em seu lugar um sistema que garanta a seguran- ‘como um proces- ATTEORIA CAfTICA NUMA SPOCA DE RENASCIMENTO on 6 social eas oportunidades de ascenséo proporcionais aos desempenhos. Para [poder garantir sso numa ceta medida e, assim, obter a lealdade das masss para ‘com a forma de sociedade capitalist, era necesirio um grande espago de mano- bra para intervengées estasis que corrolam profundamente a vida sociale piva~ a. Iso no fizia mais do que aumentar a necesidade de legicimaséo. sso resultava um problema: toenar pleusvel, junto aos membros de uma democtacia,aidéia de evitardiscutir publicamente quests priticas e guiar a ago dos dominates visando exclusivamente resolver as questestéenicas admi- ristrativas. A tarefa dos dominadores era, ent, faciltada porque a extensio e a ‘complexidade enormemente agugadas pela economia, pla técnica e pela citncia, ‘contribu para fiver sugir a impresio de que as leis imanentes a esss domi- nagées produsisiam coergGes objetvas i quas a polttica sera forgada ase dobrat para cumprir a plataforma poltica de recompensas. Assim como, para aepstero- Jogi cienttfica, desligar das cinciasa dimensio da orientacio das ages ¢ do papel de fozmaso io causava problema, assim também, para 2 massa despolitizada da populasio, a aparinciarecnocrticaassumia o papel de justficaiva de sua despo- lizagio ede sua exclusio dos processos de decisfoessencias para o conjunto da sociedade Technik und Winenschaf als “Ideologie” — ito quetia fet com que se ccompreendese que a consciéncia tecnocritica era menos ideol6giea do que as idcologas precedents e, por isso mesmo, mais temivel. Nao podia mats ser redu- ida a uma figura fundamental de interaco juta ¢isenta de dominasio. “Na consciéncia tecnocrtica, nfo hi oreflexo da destuigio de um conjunto moral, € sim o recalque da ‘moralidad’ em geal, como categoria dis relagSes vivid. A consciéncia comum positivist toma indi o sistema referencal da interagfo na lingua cotidiana, sistema em que, em condigbes de comunicacio desfigurada, a dominasio e a ideologia podem constituir-se, mas, também, ser apreendidas teflexivamente A despolitizagio da massa da populagfo que élegtimada por uma ‘onsciénciateenocritica 20 mesmo tempo, uma auto-objetvario dos homens cm categoria que revelam tanto de ago raconal em relagfo aos fins quanto de comporcamento de adaptaglo: o modelos reificados da citnca invadem o mun- do vvido sociocultural eadquier um poder objetivo sobre a sutocompreen niclo ideoldgico dessa conscitncia Ea eliminagto da diferenga entre pritica€ técnica —um reflex, mas néo 0 coneeito, da nova constlagi entce © context institucional despojado de seu poder eo sistema tornado automo da ago racio- inal em relagfo aos fins (TW, 905). Em TulW, Habermas opunta sbruptamente a esa andlise — eujo pestis mo nfo ficava ats dos diagndsticos oferecdos por Dilek der Aufhlirung a One-Dimensional Mane ao taposdo ‘mundo administrado’ — a solugio de subs- titigfo ‘a racionalizago no nivel do context institucional 6 pode eliza se 00 ‘io da prépriainteragéo mediaizada ingsticament, io, por uma liberagio da comunicasio. A discussio ptbica em limitagées¢ sem dominagio sobre 0 ons ‘ABSCOLA DE FRANKFURT carkcer apropriado e devel dos princpioee norms que orentam a ago & uz dos efeitos ococultursis pr sua vex produrids pelo subsstemas em progres, de aes raionaisem clago a seus fins — uma comunicago dese genet em todos ot nveis dos process de tomada de decisfo politicos ou tornados politicos €0 Unico mete que torn possivel algo que se poder qualiicar de ‘acionalzao’ (TW, 98). © movimento esudantl, como potencal de protesto presionando para polar a vide pdblics que sco, fo pares, no entanto, ainda se indi- cador de um proceso pelo qual o capitalism regulado pelo Estado teria grado 0 agravamento dor problemas insoldves para ele ‘Mesmo na polémica com Niklas Lubmann, Habermas afirmava, simples: mente, que 0 novo modo de legicimagdo tna sua origem na tejegfo de uma solugio de substitugSo das ideoogiastornada sm forga,fssem eas deorigem burgues ou mesmo pr-burguesa, que apaeciam nas socedades complexas. "A solusio desubsiuigdo que seaboraéaquela da democrtizago de todos os pro- cess de dcisto importantes para oconjunto da socedade, que, pela primeira ver nahistria mundial, comaria o lugar da legtimasio no sentido dejustifiasso aparentee permitria desafar as normas de ago que reivindicam um valor legit smo, afim de reasumi-es pelo raciociio om ej” (Habermas e Lukmann, Theorie der GeslichafederSeraechnologie(Teria da socedade ou tecnologia social] 265 eg). Foi apenas paride Legtimaronsprableme im Spathoptlionus (1973) que Hiabermas comegou a scrediar que cle haviadescoberco mais de um ponto frac do eapitalismo organizado pelo Estado. “Um limite sstemsico para as tentativas de compensa dicts de legiiagio por manipulagdes intencionais ‘reside, pos, na heterogeneidade eutural entre as dteas da ago administativa da wadigfo cultural. Para dizer «verde, x6 podemos constr a idea de uma zie se he aeescntarmes uma outa perspectva:&expansio da atvidade etal tem por eftito secundéro um aumento desproporional &necesiade de leit smaglo, Eu consider provivel um aumento despropotconal porque a exensio dos dominios geridos administrativamentetorna necssria nfo 6 a eldade das smassas para aprovar esis nova fungées da atividade esa, mas também porque «ssa extensio desloc a fontsra do sistema poco em rlagio ao campo culta- tal E assim que pressupostos eultras, qu, a€ aq iam parte das condi. smargnas do stems politico, entcam no dominio daplanificagGo administrative assim quesechegn.a probleratzartadigGs que tnham sido subtaldes da pro- gramitica oficial e mesmo de todo raciocinio autenticemente pritico” CLegitimaonsproblome im Spacapitalsmas, 100 3g). Mas desde que radigbes cultura eam introduidas eeatepicamtente as perdi sua orga, que sb sub- sista quando a radio ea apropriads pela cca e enguanto suas pretensées 8 validade susentavat a prova do racocno. "Em todos os planos a planifieaglo administrative tem efits no deja dos de desconcentamento ¢ de eiagSo de publicidade que enfiaquecem a capaci- dade de jusificagao das eadigbes que nso peidem em naturldade. Uma ver |ATEORIA CRITICA NUMA HPOCA DE RENASCIMENTO. os (que seu carter incontestado foi destuldo, a consolidasso de suas pretenses & validade 56 pode realizar-se por meio da reflecio. A percurbacio dos pressupostos ‘cultutasfavorece, pos, a politizagio de apectos da vida que até entZo podiam ser auibuldos 8 vida privada, Mas isso implica um perigo pare a privacdade dos cida- ‘dies, informalmente garantda ao pasar por cima des extruturas da vide pica. As spiragées i paricipaglo eos modelos alternativos —em parccular nas dreas cultu- rais como a escola, a univecsade, a imprensa, a grea, 0 texto, aedicio, etc. — so, pois, indicadores dessa tendéncia, assim comoo aumento do nimero de nici. tivas dos idaos" (102). Uma polities visando manterlatente a estrutura de clas- ‘ses parecia, pois, corroer sus prépria base, jf que era evidente que a destraigfo de tradigSes culturais provocada pela intervengio erescente do Estado no campo sociocultural ea rarefiio do sentido no poderiam ser indefinidamence compenss- das por eparagbes socais e valores consumtveis. De modo que aandlse de Haber- mas do capitalismo avangado desembocava num apefeigoamento do velho roporda ‘eoria critica: a socializacdo total ‘minava seu proprio fundamento. Apoiando-se sobre sua distingéo ence cna eprtica (que devera tansformasse em distingio ‘entre sistema e mundo vivido), Habermas se langava na tentativa de asociar a eti> ‘ceacerba da sociedade, a quale liberava da antiga teoria crc, com tra teria das crises que tomava da tori crltica um pouco de seu efcito desmoralzante, “Habermas havia criticado severamente © movimento estudancl, mas em nome do sentido que este movimento retomava em sua interpretagio, Em com- pensasio, era 0 movimento de protesto que lhe hava indicado a dresSo na qual cle explicit sua distingSo entre técnica e pritica ea colocou em relagéo com as tendénciassociais contemnporineas. Ele trou desse moviraento e de suas formas variéveis — grupos de base por bairos, ocupagdes de prédios, movimentosalter- nativos, movimencos feminists, inicativas elvicas de natuteza extremamente idéi de que ali havia boss rauSes para avangar a hipétese de uma racionalizasio rezoluta no campo da pritica e de que o problema se reduzia a teforgar esta racionalizacio obstinada, gras A colaboracio da teoria critica da sociedade edo protesto contra as reformas tecnocriticas ‘Apesar de todo o desafio que sesentia na entrevista concedia 20 Spiegel por Adomo, em maio de 1969, quando proclamava seu ecorno & torre de marfim ea seu trabalho em estética (Como se tude aquilo nfo tives absolutamente sofido a influtncia dos acontecimentos dos iltimos anos), nfo se poderia supor que, ncle também, o expeticulo do movimento de protesta tivesse provocado alguma rmodifiacdo ou aperfeigoarento da concepcio de uma masigue, leérature, socio Logie informeled lava em Adorno, elementos que — de una maneita menos sis- temézica do que em Habermas, mas lve, também, menos e(gida — retomavam caperiéncia vividas — “animado da necesidade de prestar contas sobre a arte € sua possbilidade hoje” (Adorno, “Carta aberta a Max Horklaeimer", Die Zee, 12 de fevereito de 1965) — numa época em que a revolugio culcual ea superagio dare estvam na order do dis até no ambiente da cultura? ors ‘AESCOLA DE FRANKFURT “A filosofia que outrora pazeca superada mantémese viva porque 0 instan- te de sua realizagio perdeu-se”, segundo as primciras palavras de Negative Dialekrik. Um tcecho da Auhetsche Theorie nio deveava de tet analogia: “No momento em que se pasa interdigioe se deceta que isso nfo tem mais oditi- to de exist, a arte tome a encontrar, no seio do mundo administrado, aquele direto&exstincia que nose pode contest aca sem se apreximar do ato admix risccativo” (AT, 373). O entusiasmo pela arena época do movimento estudari serefeia As associagées da Alemanha Ocidencal para a “revolugfo cultural” chine ss rads dadaisae surealist, 3 ertica feta por Maccuse do “cater air- rnativo de culate", em seu ago de 1937 de ZS, e20 acigo de Benjamim sobre 1 obra de arte em 2/6 do ano anterior, assim como a ouras obras suas nos anos 30, Esse fenémeno assustou Adorno que nele via uma pars ae, uma destuigto da arte prsioneira da ilusto de poss rmodifcages decisivas, que destrua as oportunidades de se chegar a uma tans- formagio que raicalizase a are. A partir de 1967, comesaram a crtici-lo por stu edigio das obras de Benjamin dos anos 50 e a censuré-lo por ter ecultado 0 Benjamin materialist defensor do grande papel da arte nas uta de classe, mas ‘sus erties permaneceram incompteensves para Adomno Pata cle, o Benjamin “mars” hava sido sempre um elemento estanho a Benjamin em Benjamin, ‘quesé se poderiaexplicar pla influéncia de Brecht, um elemento hosil Aare que no convinha a Benjamin Apéso pathos do Aufldérunginincerrapto em seus primeitos artigos de ZS —Amisica esclarecida, que hava atingido, em seu campo, um doranio comple- to da natureza, constitu uma provocagto para a sociedude no exclrecidas {depois deapostar no momento revtalzador da barbie num Schinberg dodecs- fico que volara 3 ondem, em Philosophie der neuen Musk; depois de seu cet ‘mo em relagio ao desenvolvimento rumo 8 misiea serial durante 0 pés-guetra, fem Das Alters der neuen Musk; depos de sua defesa da abertara musical pés- serial em Vers une musique informe, Ashetnche Theorie representava um apogen «que, mais do que outra qualquer teria daarce depois da guecr, defendiao pro- jeto da arte moderna numa época em que aarte moderna parecia ter ierevogavel= mente ulapassado sua époex here. Mas qual era sentido disso? No fim dos anos 60, Adorno percebia um progreso além da escola de Schinberg, de Joyce, de Picasa possbildade de realizar uma are verdadeiramente live gragasa uma liberagio ainda mais radial daquilo que estava ulrapassado? Que perspectives ‘Adorno abria para um autor contemporineo? Como Adorno se situava ali, no tusbilhdo de eritros possiveis de apreciago da obra de arte que ele prépro havia proposto: a qualidade, o lado progresssta da técnica, a idossinerasa em face de ‘ado que esava ultrapasado, a plenitude do sentido (quer dizer, 0 poetizado, 0 ‘compost, o pintado), o conteido histico-ilos6fico, 0 conteido de verdade, a ‘oposisao tornada forma, 0 prau de liberdade? O movimento de protesto eondu- 1 Adorno — por mais rticente que ele fosse em reconhecé-lo — a modificar ATTEORIA CRITICA NUMA EPOCA DE RENASCIMENTO on sua concepgo da estrutura da sociedade captalisca avangadae, por conseguint, 4 modlficar sua visio das oportunidades e dos pergos que se apresentavam pata a ate, quando ele proprio estava ligado & estrutua da sociedade por uma selao dif de elucidas? AT podera ter sido um corretivo para as aspiragées de revolu- «0 cultural que o movimento de proceso alimentava,¢ um reforgo da entca da neatralizagio da culeura que esse movimento continha? ‘Adorno dava, a ests perguntas,respostas que provavam seu entusasmo pela arte moderna em gera sua perplexidade diante da ttima forma dessa arte, ‘sua compreensio peas fuses frusrantes da evolugHo da ate e sua fxagio por um ‘eaminho do progreso em arte que conduzia jutamente a resultados frustrantes, Por analogia com seus trabalhos floséficos no sentido estrico do termo — que afiemavam que uma abstagio nfo tinha o direito de se exear completamente daquilo de que se tinha abstraido — ele expcava 0 mistéio das obras de arte ‘modernas convincentessupondo que elas ndo se emancipavars totalmente do que ppunham fora de jogo. Camo explicava um trecho-chave do capitulo “Kunst und Kunstftemdes" (A arte ea liberdade da art) “a camada pré-artistica da arte € 20 mesmo tempo 0 momento de seu lado antculcural, de su irrtagio contra sua antiese no mundo empirico que deixa esse mundo empiico na obscuridade, As cobras de arte significanes esforgam-s por incorporar asi, apesar de tudo, ssa camada hostl& arte. Quando ela fracasa porque € suspeita de infantilidade — ‘quando flea aoineérprete de misica de chmaraespirtual oUlkimo vestgio de vio- Ta da gamba, no drama com cetera, 0 éltimo milagre dos bastidores — ‘apitulou. Mesmo para Fin de Pertie (Fim de partids) de Beckea, a cortina se Jevanta cheia de promescas s pega teatas eas encenagBes que constcuem sua ‘economia brincam com a pr6pria sombra num truque zombetezo, © momento fem que a cortina se ergueé, de qualquer forma, o momento de uma apparition. Se as pegas de Becket, cinzentas como depois do pérlo-ol e fim do raundo, {qustem exorcizar o lado multicoloride do creo, elas permanccem fis a iso, pis se desenrolam no palo e sabe-se até que ponto seus ant-herbis se inspiram nos pathagos e nos mes grotescos. Apesar de toda sua uteri, eles no renunciam, contudo, a0 toes e aos bastidores... Seva ais, algo para se indagar se mesmo ss pintaras mais abstratas nto comportaritm, por seu material e sua organieagio visual, restos d objetividade que clas pGem fora de jogo” (AT, 126 sg) ‘© que Adorno consierava a causa da grandeza de Beckett ere, seus olhos, também, a caractritica dos epogeus passados da ate, quer dizer, das éltimas obras dos artists pré-modernos. “Sem o momento da contradigio eda nfo-iden- tidade, a harmonia sera etericemente desprovida de incerese... Fe-se apenas uma generliagio incongruente pela ilosofia da hstéria dle elementos excessva- mente divergentes quando se deduzem os gests anti-harménicos de Miguel Angelo, do iltimo Rembrandt, do timo Beethoven nao de uma cvolugio subje- tivamente apaixonada, mas da dintmica do préprio conesito de harmonia,afinal de conta, de sua precaredade. A dissondncia €a vedade da harmonia, Lead a os ‘ABSCOLA DE FRANKFURT sécio, las revel inatinglel segundo seus proprioseritérios. Sé se pode satisfiner suas exighncias quando essa impossibilidade aparece como um pedago de (sia) ‘soca; omo no quese cana de estilo final de artistas exsenciais” (168). via, pois, dois momentos eetamente ligados que, 20s los de Adorno, caracteri2a~ ‘vam a grande arte moderna: uma tendéncia para a fragilidade da bela spancia conservada ¢, com isso uina abertura dessa apattncia ao que estavaoutrora tluido, Quando esses momentos se reuniam redente, a arte moderna cra de uma hele amarga ede una melancola spessva. “Aquilo que ohedonismo esté- tio, que sobrevvea Bs catkscofes,eensura como win perversio a0 potulado do cseuro sombrio do qual os surealists zeram um programa sob a forma de humor negro, aid6a de que ot mais sombrios momentos da arte devesiam pro- due alguma coisa como prazer, nfo passa do fito de que arte ¢ uma conscién-

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