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Fundamentos de’Arquitetura Ayjasaey eures07 Segunda edigao einyoynbiy ap so}uowepuny ‘Teadugio: Alexandre Salvaterra Arquiteto e Urbanista pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul ‘Versio impressa desta obra: 2014 O 2014 ‘Obra originalmente publicada sob o titulo Fundamental of Architecture, 2nd Bali ISBN 9782940411757 Copyright©2012, AVA Publishing SA, Lausanne. All rights reserved. Gerente editorial: Arysinbe Jacques Affonso Colaboraram mesa edi Coordenacio edioris Daewise Weber Nowacryk Capa: VS Digital arce sobre capa original Leitura final: Renate Ramiseb Editoracio: Tecbboskr F243 Farely, Loraine. Fundamentos de arquiterura recurs eletnico] / 08, LLorcane Farrelly; tadugic Alexandre Salvatera,~ 2 ed.~ é % Dados elerrénicos.~Porto Alegre: Bookman, 2014 ditado também como livroimpresso em 2014. eee. ISBN 978-85-8260-0%0-0 = 1. Arguiterura, I Ticulo, cpu (Catalogagio na publicagio: Ana Paula M. Magnus ~ CRB 10/2052 Reservados todos os direitos de publicagio, em lingua portuguesa, BOOKMAN EDITORA LTDA,, uma empresa do GRUPO A EDUCAGAO S.A. ‘Av. Jerdnimo de Ornelas, 670 Sentana ‘9040-340 — Porto Alegre ~ RS Fone: (51) 3027-7000 Fax: (51) 3027-7070 & probia a dupicago ou reprodusio deste volume, no todo ou em pare, sb quaisquer formas ou por qua outros), sem permisdo expresa da Editor Unidade Si0 Paulo ‘Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 ~ Pavilho 5 ~ Cond. Espace Center ‘Vile Anasticio ~ 05095-035 — Sio Paulo—SP Fone: (11) 3665-1100 Fax: (11) 3667-1333 SAC 0800 703-3448 — www grupoa.com be IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Sumario INTRODUGAO CAPITULO 1 Contextualizando a Arquitetura 10 Oterreno 12 Lugares e espagos 20 O contexto urbano: 22 O contexto da paisagem m4 Estudo de caso: Renovagio de um campus universitirio 26 Exercicio: Andlise de um terreno 30 ee CAPITULO 4 A Representagao Grafica e as Maquetes projeto em CAD Os croquis Acscala A projegio ortogrifica As perspectivas ‘As imagens tridimensionais ‘As maquetes convencionais ‘As maquetes eletronicas Oleiaute e a apresentagio Os storyboards Os portfélios Estudo de caso: Uma renovagio Exercicio: Uma fotomontagem Concluséo Bil Glossario Créditos das ilustragoes 94 96 102 106 112 14 118 120 122 124 126 130 134 liografia e Fontes na Internet CAPITULO 5 As Ideias Contemporaneas 136 As ideias e os prinefpios universais 138 O Funcionalismo 142 ‘A arquitetura determinada pelas formas 146 © Momumentalismo 150 O Zeitgeist 152 Estudo de caso: Uma integragio coma paisagem urbana 156 Exercicio: Diagramas analiticos 160 182 indice 184 Agradecimentos CAPITULO 6 0 Desenvolvimento ea Execugao de um Projeto 162 A linha do tempo de um projeto 165 O projeto 166. Os colaboradores e seus papéis 168 O programa de necessidades. 170 Oconceito 172 Aanilise do terreno 174 O desenvolvimento do projeto 176 O detalhamento 178 A edificagio concluida 180 190 192 193 186 Como trabalhar de maneira ética 188 Sumario Introdugao Arquitetura 1. A arte ou a pratica de projetar e construir edificagées. 2. O estilo no qual uma edificagao é projetada e construida. Esta segunda edigio de Fundamentas de Arguitetura explorar’ as ideias essenciais que os arquitetos devem levar em consideragio ao projetar edificagdes, lugares e espagos. 0 objetivo deste livro é fazer uma introducio aos principios fundamentais de arquitetura. Serdo apresentadas muitas referéncias visuais ¢ ilustragdes que explicam 0 processo de pensamento necessirio para o desenvolvimento de uma ideia e, posteriormente, a execugao de um prédio. Muitas ideias de arquitetura jamais chegam a ser executadas: as edificagdes exigem uma visio, ¢ as ideias podem permanecer no campo conceitual ou no desenho. A arquitetura é uma linguagem visual, e 0s arquitetos se comunicam por meio de desenhos, maquetes e dos espagos ¢ lugares que constroem. Este livro foi dividido em capitulos, que resumem os diversos aspectos dos raciocinios feitos ao longo do desenvolvimento do projeto das edificagies. Esse processo comega com a definigo de um conceito ou ideia, que pode surgir a partir de um aspecto do programa de necessidades ~ a lista das funges que o prédio acomodars. O conceito pode ser um aspecto inspirador do material ou da construgao do prédio ou algum precedente histérico ou contemporanco. A arquitetura é um tema complexo e fascinante. Os prédios esto a0 nosso redor e compéem nosso mundo fisico. Fazer uma edificagio exige varios niveis de pensamento e anilise. / } fe on Em titima anélise, a arquitetura define o mundo fisico que nos cerca ~ por exemplo, um cémodo ¢ os objetos que fazem parte dele. Ela pode ser uma casa, um arranha-céu, um conjunto de prédios ou 0 parte do plano diretor de uma cidade, Seja qual for a escala cago, a arquitetura 6 desenvolvida aos poucos, do eroqui do conceito ou do desenho técnico ao espago ou prédio ocupado. 1. Centro de Convengdes SECC, Glasgow, Escécia Foster and Partners, 1995-1997 Este prédio chama a atengao em seu contexto, unto a0 Fio Clyde, em Glasgow. O Centro tem uma cobertura de aluminio curva que lembra muito @ carapaga de um tatu, transterindo uma metéfora marcante e formal para 0 perfil eo volume da edificacao Introdugéo CAPITULO POR CAPITULO Esta obra foi estruturada e dividida em uma série de temas, a fim de cobrir a totalidade do desenvolvimento do projeto de arquivetura, O primeiro capitulo, Contextualizando a Arquitetura, refere-se a0 terreno que a edificagio ocupa e como ele precisa ser analisado antes de comegar a trabalhar numa ideia, O segundo capitulo, A Histéria e os Precedentes, mostra que toda obra de arquitetura é influenciada por ideias do passado — por exemplo, a referéncia a uma planta, 20 uso de um material ou a uma ideia de estrutura, Nenhuma arquitetura é completamente nova; toda edificagio esté relacionada ao conhecimento de muitos precedentes, sejam implicitos ou explicitos, ou é afetada pelo passado recente e remoto, O terceiro capitulo, A Construgao, introduz os aspectos bisicos das técnicas de edificagio. Esse capitulo inclui t6picos sobre a estrutura e os materiais, bem como a execugio a composicao dos prédios. 1.A Casa Schrider, Utrecht, Paises Baixos Gerrit Rietveld, 1924-1925 Os movimentos artisticos também so capazes de influenciar as formas arquitetdnicas. 0 movimento De Stil (0 estilo), ocorrido nos Paises Baixos, exerceu muita influéncia sobre o desenvolvimento da arquitetura de Gerrit Rietveld —particularmente a Casa Schrdder, em Utrecht. 2. Estudo da Casa Schréder O estudo feito por um aluno mostra uma andlise ‘goométrica da Casa Schréder. Quando sobrepostas 4 elevacao do prédio, as linhas tragadas pelo aluno ‘mostram a conexao proporcional de cada elemento. As linhas vermelhas indicam a incorporagao da se¢ao éurea (vaje a pagina 123), que 6 um sistema de proporgdes ‘geométricas. O capitulo seguinte, A Representacao Grafica e as Maquetes, trata da comunicagio de ideias, de croquis feitos & mio livre a maquetes eletrbnicas € outros desenhos gerados em computador. O quinto capitulo, As Ideias Contemporaneas, explora as muitas maneiras pelas quais a arquitetura pode ser influenciada pelo Zeitgeist, ou seja, 0 espirito da 6poca predominante em determinado momento. O capitulo final, O Desenvolvimento ¢ a Execugio de um Projeto, explora todo o proceso de criagio de um projeto, partindo da primeira etapa—a definigdo do conceito — e chegando a ultima — a execugio da obra. E nesse momento final que todos os raciocinios ~ a anilise do terreno, o estudo dos precedentes, a escolha dos materiais e a concepgio da estrutura ~ convergem em uma solugio. Criar uma edificagio bem-sucedida exige o planejamento das informagées e a organizagio das equipes de profissionais que facilitam © processo de execugao e dos empreiteiros, responsiveis pela construcio propriamente dita. O sucesso de uma edificagio pode ser julgado pela avaliagao feita pelo cliente e pelo cumprimento do programa de necessidades. 3. Andlise da Casa Schrider Este desenho em perspectiva da Casa Schréder sugere como os espagos internos da edificagdo sao definidos por planos horizontais e vrticais que se cruzam. AA sombra projetada na parte inferior do desenho esta diretamente relacionada com a planta baixa do prégio. Introdugéo Contextualizando a Arquitetura Fundamentos de Arquitetura Capitulo 1 Contextualizando a Arquitetura Em arquitetura, o “contexto” geralmente se refere ao lugar no qual a arquitetura ou as edificagdes se localizam. 0 contexto é especifico e afeta de maneira significativa a geracao das ideias de arquitetura. Muitos arquitetos usam a contextualizagao para estabelecer uma conexao clara do terreno com o conceito proposto, de forma que a edificagao resultante esteja integrada e praticamente camuflada em seu ambiente. Outras propostas reagem ao meio, fazendo com que a edificagao seja claramente distinta e desconectada de seu entorno. Em ambos os casos, a questao fundamental é que o contexto tenha sido estudado, analisado e considerado de maneira deliberada e clara. sajuepedaig S0 9 eUOISIH Y < eumaynbay e opuezyemxewog > oB3nposul ndo a Arquitetura O terreno A arquitetura pertence a algum lugar, repousa em um local especifico: um terreno ou sitio. Cada terreno tem caracteristicas distintas em termos de topografia, localizagao e definigdes historicas. COMO ENTENDER O TERRENO Cada terreno urbano tem uma hist6ria fisica que influi no conceito de arquitetura. Geralmente, ha recordagdes resquicios de outras edificagies no local, ¢ as construgies do entorno apresentam caracteristicas préprias muito importantes; isso inclui desde 0 uso de materiais, ou sua forma ¢ altura, até os detalhes e as caracteristicas fisicas com 08 quais 0 usuério entrara em contato. Areas nio urbanizadas costumam ter histbrias menos evidentes. Contudo, suas caracteristicas fisicas ~ topografia, geologia € vegetagio, por exemplo — atuarao como indicadores para © projeto de arquiterura, E essencial que 0 arquiteto compreenda o terreno onde a edificagio sera implantada, O terreno sugere uma, série de parimetros que afetam o projeto de arquietura. ‘As consideragdes gerais podem incluir, por exemplo, a orientagio (0 percurso do Sol ao redor do terreno) € 0 acesso (como se chega ao terreno ou qual é 0 percurso até a edificagio, e dela a outras partes da cidade). A localizagio de uma edificagio niio depende apenas do terreno, mas também da fea ao redor. [sso resulta em mais uma série de questées a serem consideradas, como a escala das edificagies do entorno e os materiais j6 utilizados nas construgdes da érea. No caso do terreno, 6 importante considerar possibilidades de ocupagio do solo, volume, materiais, entradas e vistas. O terreno condiciona o projeto mas também oferece oportunidades incriveis. Isso torna a arquitetura especifica e tinica, uma vez que no existem terrenos exatamente iguais, Cada sitio tem seu proprio ciclo de vida, ¢ isso gera um mimero ainda maior de variveis em termos de interpretagio e compreensio. A anélise do terreno ou sitio G crucial para a arquitetura, visto que oferece os eritérios com 0s quais 0 arquiteto deve trabalhar. 1.Casa Malaparte (Vila Malaparte), Capri Italia ‘Adalberto Libera, 1937-1943, ‘Aldaberto Libera nos oferece um exemplo claro de uma edificagao que corresponde & sua paisagem. A Casa Malaparte repousa no topo de um rochedo, na face leste da liha de Capri, na itélia. Ela foi Construida com alvenaria, ¢ esté tao fortemente arraigada a seu terreno que até parece fazer parte da paisagem natural. 2.Um horizonte urbano, Londres, Inglater Em um ambiente urbano, uma mistura de edificagées histéricas @ contemporéneas pode formar um belo conjunto. A silhueta de Londres, aqui mostrada da margem sul do Rio Témisa, mostra uma cidade que esta se desenvoivendo hé centonas de anos e na qual cada elemento se relaciona com seu vizinho em termos de material, forma e escala 13 Contextualizando a Arquitetura Mapa de uma érea de Istambul que se desenvolve ao longo da orta maritima. O cestudo identifica os principais centros de im de demarcar as varias “Areas caracteristicas” previstas, or meio do uso de cores. O LEVANTAMENTO E 0 MAPEAMENTO DO TERRENO As técnicas para registrar e entender um terreno sio variadas, incluindo levantamentos in Joco(a avaliagao quantitativa do que jé existe) e aspectos de interpretagio qualitativa da luz, dos sons e da experincia fisica do local. Em outras palavras, uma simples visita ao local com a observagio ¢ o registro de seus ciclos de vida pode oferecer muitas dicas sobre como elaborar uma resposta de arquitetura adequada a ele. As respostas contextuais respeitam os parimetros, conhecidos do terreno. Ja as respostas anticontextuais so deliberadamente contririas aos mesmos parimetros, criando contrastes e provocando reagdes. Em ambas as abordagens, é necessério que o arquitero tenha lido € compreendido bem o sitio por meio das varias formas de anilise. Para que se possa analisar um terreno de maneira adequada, deve-se mapeé-lo, ou seja, fazer um registro das varias categorias de informagio que ld estio. O ‘mapeamento ou levantamento de campo inclui aspectos fisicos, mas também outros fatores de natureza qualitativa que refletem as experiéncias ¢ interpretagées pessoais do lugar. Hii uma variedade de ferramentas disponiveis para 0 ‘mapeamento e a investigacio de um terreno, resultando em um projeto baseado nesses indicadores. Também dispomos de ferramentas de anilise que permitem que 0 sitio seja registrado de iniimeras formas. 2. Interpretacdo pessoal de um terreno Esta colagem de Londres inciui uma série de croguis de um percurso, utiizando a sobreposigo a um mapa do metrd. a interpretagao pessoal de uma vista & cidade. FERRAMENTA UM: A INTERPRETACAO PESSOAL DE UM TERRENO A primeira impressio que se tem de um lugar é essencial Nossas interpretagdes do cardter geral de um lugar trardo informagées importantes para as decisées de projeto que seguirio, e é importante registré-las de maneira honesta e imediata, A ideia de um percurso pessoal em volta de um terreno € sua interpretagdo foi proposta por Gordon Cullen a0 descrever o conceito de “visio serial” em seu livro Concise Toronscape, de 1961. Esse conceito sugere que a frea em estudo seja desenhada como um mapa, e nele sejam, identificados uma série de pontos, cada um indicando uma vista diferente da area. Essas vistas sio entio esbocadas como pequenos croquis, que oferecem impresses pessoais do entorno do terreno. A visio serial é uma técnica itil que pode ser aplicada a qualquer terreno (ou edificacao), para que se possa explicar ‘como ele funciona espacialmente ¢ se identifique sua importincia. As vistas podem ser criadas como uma série de croquis ou fotografias do percurso, desde que estes cestejam reunidos ¢ sejam lidos em sequéncia. O terreno > Lugares e espagos 16 Contextualizando a Arquitetura 1.,2.63. Estudos de figura e fundo 1. Estudo de figura efundo de Londres. O Rio Tamisa ¢ claramente identificado como o espago aberto. 2.Torreno om Old Portsmouth, Inglaterra. As areas em azul indicam a orla martina, as vas principais estdo em cinza e 0s prédios mais importantes, em negrito. 3. Esta série de imagens iustra a otientagao solar de um terreno. FERRAMENTA DOIS: ESTUDOS DE FIGURA E FUNDO Um estudo de figura e fundo & um tipo de desenho em abstrata do terreno, além de permitir 0 foco na figura (as que as edificagoes so registradas como blocos macicos, edificagdes) ou no fundo (0 espago entre elas). Os estudos mostrando claramente os espagos vazios entre elas. Esse de figura e fundo sio usados ha séculos para identificar os método de representagio grifica apresenta uma cidade diferentes tipos de espagos das cidades. como dreas de cheios ¢ vazios, produzindo uma anélise aw olin a ‘extn FERRAMENTA TRES: 0 LEVANTAMENTO HISTORICO DE UM TERRENO O mapeamento de um terreno em termos de suas etapas importantes de desenvolvimento ao longo da hist6ria nos oferece uma descrigdo da vida e da meméria de um lugar. O mapeamento hist6rico pode ser obtido pela sobreposigao de varios mapas na mesma escala, cada um representando um estigio distinto do desenvolvimento do local. Esse processo permite que todos os mapas sejam lidos concomitantemente e gera uma imagem do terreno que captura tanto seu presente como seu passado. O levantamento hist6rico pode nos fornecer importantes motes para uma ideia de projeto. Talvez, haja um percurso histérico, um caminho, uma rua ou uma linha ferroviéria no local que possa sugerir um cixo significative a ser aproveitado em uma proposta de projeto. Da mesma maneira, as ruinas de uma muralha romana ou outras construgGes importantes também podem ser reconhecidas em uma ideia para a nova edificacao. A andlise historica de um terreno pode trazer inspiracao para uma ideia contemporinea, diretamente vinculada com a arqueologia de um sitio. 4.0 levantamento histérico de um terreno A andlise historica de um terreno pode reunir todas as transformagées, significativas que se deram ao longo da Vide de um lugar. Isso nos oferece uma imagem “completa” do terreno, a qual ode entéo ser usada como fonte de inspiragao para projetos futuros. O terreno > Lugares e espagos LEVANTAMENTOS TOPOGRAFICOS A situagio topogréfica atual de qualquer terreno deve ser registrada em ‘um levantamento. © levantamento topogréfico pode ser descrito como «um registro de algo jf existente, que pode ser feito na forma de um mapa, ‘uma maquete ou um desenho em escala indicando, por exemplo, onde estao as janelas, portas ou divisas, e da informagdes especificas, como as aleuras relativas das edificagdes do entorno, os detalhes das elevagées ou os diferentes niveis do solo no terreno. Uma anilise detalhada do terreno fornecer4 os aspectos fisicos do local. O levantamento apresentars a langura e a profundidade do terreno, e indicaré qualquer edificagao adjacente por meio do uso de plantas baixas, elevagdes € cortes (veja a pégina 106), criando um registro preciso do que ha no local atualmente, Essa é uma etapa essencial dos estudos preliminares a0 desenvolvimento de um projero. Os levantamentos topogrificos também podem registrar os diferentes “niveis” do terreno, Uma planta planimétrica mostra as diferentes curvas de nivel e os acidentes topogrificos em planta baixa, e também pode sugerir maneiras de desenvolver um conceito de projeto. 1. Andlises de uma érea urbana Uma série de croquis da cidade de Havant, Inglaterra, fi feta para ilustrar os diferentes tipos de espago de ume érea. 2. Maquete de volumes Maquete das massas construldas de uma parte de Istambul, Turquia, mostrando a densidade da cidade. 3, 4.05. Combinagao de i Essas imagens combinadas fundem uma vista aérea digitalizada com uma maquete eletrénica da paisagem urbana, 2 sodedsa a saveGiny 0 contexto urbano O terreno: 5 i £ i i : i Bons f, ¢-«» Sensorial divertido O contexto urbano A cidade 6 0 ambiente que acomoda grande parte da nova arquitetura. E um contexto para se viver e trabalhar na sociedade contempordanea. Além de fornecer precedentes para a arquitetura, a cidade 6 um ambiente de interagao e enriquecimento. UMA CRIAGAO ‘As cidades sio lugares onde eventos ocorrem e a vida se O contexto da paisagem Contextualizando a Arquitetura 0 contexto da paisagem No contexto de uma paisagem, as edificagdes podem se tornar parte do meio ou estar distintas e desconectadas dele. Muitas edificagoes e construgGes grandes podem configurar por si so um contexto ou uma paisagem, como é 0 caso de aeroportos, parques ou estagdes ferroviarias centrais. Elas sao estruturas de uma escala tao grande que contém edificagdes e outras construgées dentro de si. A PAISAGEM E 0 CONTEXTO ‘Uma paisagem, independentemente da sua escala, gera novas possibilidades de trabalho, moradia e lazer. Para que um arquiteto possa responder & paisagem com uma proposta de projeto — urbana, aberta, fechada ou rural -, serd necessria sua compreensio tanto intuitiva e subjetiva como quantitativa ¢ objetiva. Juntos, todos esses aspectos variéveis da compreensio de {rea de intervengdo criam importantes parametros, que podem sugerir uma solugio de arquitetura adequada a0 lugar e a0 significado e que contribua de alguma maneira ‘com seu contexto. 1. Aeroporto Madrid Baraj Rogers Stirk Harbour and 1997-2005 Algumas ecificages contemporéneas, como aeroportos, ‘apresentam uma escala tdo grande que se tornam uma paisagem em si. Este aeroporto apresenta uma forma orgénica que foi criada como resposta ao seu entorno, O projeto modulado ¢ bem legivel do prédio cria uma sequéncia repetitiva de ondas formadas por enormes asas pré-fabricadas de ago. A cobertura 6 sustentada por pilares compostos em forma de arvore e foi perfurada por claraboias que banham cuidadosamente com luz natural os interiores do nivel superior do terminal Madri, Espanha Renovagao de um campus universitario Projeto: Campus de Headington, Universidade Oxford Brookes ‘Arqutetura: Design Engine Architects Lid. Cliente: Universidade Oxford Brookes Localizagdo/data: Oxford, Inglaterra /a partir de 2008, Este capitulo abordou o contexto das edificagées, 0 qual exige uma profunda andlise da area na qual os prédios se inserem, bem como as caracteristicas de orientago solar, vistas, escala, volumetria e forma; ‘estas, por sua vez, relacionam-se com as edificagdes € 08 espacos ao redor delas. Quando a Universidade Oxford Brookes decidiu renovar o campus de Headington, seu principal campus, ela contratou o escritério de arquitetura britnico Design Engine para elaborar um novo plano diretor para o terreno, que tem 2.276 m’. Foi solicitado aos arquitetos que projetassem uma série de prédios conectados entre si, como parte de um plano para a universidade que seria executado em fases. Os projetos elaborados pela Design Engine foram aprovados, e as obras, orcadas em 123 milhdes de d6lares, iniciaram ‘em 2011. O projeta inclui uma nova biblioteca, um grémio estudantil e uma Escola do Ambiente Construido, todos distribuidos ao redor de novos patios internos, e uma érea comercial que leva a ‘uma nova praga com pisos seco. O desafio para a frea de intervengio era trabalhar com uma variedade de prédios e espagos preexistentes, mantendo a escala de uma vila ou cidade pequena. O programa de necessidades do projeto exigia a anilise de varios prédios e espagos: alguns grandes, como os espagos abertos e as bibliotecas, outros menores, como as salas de aula, ‘0s pequenos audit6rios e os espagos de servigo. Os espacos previstos para o campus terdo uma diversidade de escalas e tipos, permitindo que 6 estudantes interajam entre si e combinando espagos de convivio com ambientes de aprendizado em grupo. Esses espagos iro se adaptar as necessidades variveis dos estudantes e serio flexiveis, para que possam ser utilizados tanto para o estudo individual como em grupo. Além disso, haver’ espagos externos e a céu aberto, além das pragas ¢ dos patios internos. Por fim, uma série de espagos distribuidos na periferia da 4rea terd carter mais piblico; tais locais fazem parte dos espagos visrios e piblicos da cidade e da comunidade nas quais o campus se insere. Os espagos e prédios sao parte da paisagem e trabalham juntos para criar um novo senso de lugar, um novo campus e uma identidade para a universidade. Um conjunto de ruas ¢ passcios seré empregado para conectar os prédios, as salas de aula e outros equipamentos de aprendizado dos estudantes. 1. Desenho do conceito de projeto Este desenho de conceito tridimensional mostra as relagGes entre os principais elementos do projeto para © novo campus @ @ rota que conecta os diferentes elementos do conjunto. Contextualizando a Arquitetura O conceito O conceito do projeto é o estabelecimento de uma rota linear através do terreno, conectando todos os prédios e espacos. O principal espago ou “bloco” do esquema € uma biblioteca com drea de estudo, que sera fechada com vidragas especialmente tratadas, conferindo uma identidade visual tinica a0 prédio. A ideia do prédio é que ele conecte uma série de blocos e espacos; suas paredes externas sio como uma pele ~ uma camada que une todos os elementos do terreno, conferindo homogeneidade ao conjunto, Essa “pele” & composta de paingis de revestimento eum sistema de vidracas que foi especialmente desenhado para o projeto. O prédio em si serio tema de varias pesquisas e anilises. O sistema de 1. Diagrama da implantacao Este diagrama mostra os blocos preexistentes, os blocos novos € os novos espagos abertos do campus. vidragas e painéis de revestimento extemo usa imagens da estrutura celular das rvores para se relacionar visualmente com a pauta ambientalista da universidade, bem como para trazer a natureza para as vedagies ¢ o interior do prédio. © acabamento empregado no prédio criaré um feito muito peculiar, tanto internamente, uma vex que ele filtra a luz incidente, como externamente, em termos de suas superficies ou fachadas. 2.Plano diretor Planta geral do plano diretor, mostrando © projeto de paisagismo, os prédios proexistentes e o entorno imediato. 0 contexto da paisagem < Estudo de caso > Exercicio izando a Arquitetura Context Capitulo 1 Exercicio: Analise de um terreno A anilise de um terreno envolve o registro dos aspectos que irdo influenciar o desenvolvimento de um projeto. Cada terreno é Unico e exigira o registro de um conjunto diferente de consideragées. E importante dedicar algum tempo a “leitura” do terreno, para cruzé-lo e circunda-lo a pé, experimenta-lo e tentar registra-lo por meio de suas informagées fisicas e seus diversos dados, como tamanho e orientagao solar. Também é preciso fazer interpretagdes de cunho mais pessoal, como a identificagao de espagos abertos e vistas interessantes. Todas essas informagées poderao ser consultadas durante a elaboragao do programa de necessidades. A anélise do terreno deve oferecer subsidios a sua proposta de ocupagao. Para fazer este exercicio: 1. Escolha um terreno e elabore uma planta de situagao, inserindo-o em seu contexto. 2. Riscando em sua planta de situagao, registre as questies relativas ao terreno que poderao influenciar seu projeto. 3. Use diagramas para relacionar as diferentes questGes identificadas ao longo de todo o terreno. Use diferentes cores ou hachuras para distinguir visualmente suas ideias. Vocé podera utilizar uma série de diagramas elaborados sobre a mesma planta de base e focar os temas mais importantes do terreno. Algumas questées que poderao afetar seu projeto: Clima Vistas Eixos existentes Meios de transporte Aspectos hist6ricos Escala Construgées preexistentes Materiais 1, Mapa em escala Ao analisar 0 contexto de um terreno, a elaboragdo de um mapa em escala & importante para o entendimento de sua situagao e dos elementos que o circundam. Esse mapa de base poderé ser trabalhado posteriormente com o uso de cores e textos que aorescentardo informagoes sobre o terreno, como a diregao dos ventos, a orientagao solar, etc. > BEEP! i iiy i i = fi O mundo antigo A Historia e os Precedentes 0 mundo antigo Os faraés viam a construgdo desses timulos como @ expressao de seu reinado, assim como muitas corporagées internacionais e gavernos atuals constroem edificios cada vez mais altos e mais caros para simbolizar seu poder ‘eimportancia, A historia da arquitetura esta intrinsecamente conectada a histéria da civilizagdo. Embora nossos ancestrais nomades tenham desenvolvido abrigos temporarios sofisticados — alguns deles, como as tendas dos yurt, nas planicies mong6licas, ainda sao usados —, a adogao de um estilo de vida mais sedentario resultou na necessidade de abrigo permanente. 0 EGITO ANTIGO Diferentemente das cidades-estado da Mesopotimia, que passavam grande parte do tempo guerreando entre si, 0 Rio Nilo (em seu percurso final de 1.100 km até o Mar Mediterraneo) era cercado por desertos em ambos os Jados, o que dificultava o ataque por quem vinha de fora e resultou em uma sociedade que se manteve intocada em relagao as influéncias externas por mais de trés mil anos. Durante esse perfodo, os egipcios desenvolveram uma arquitetura caracterizada, em suas primeiras dinastias, por tiimulos piramidais erguidos acima do chi e, posteriormente, pelas tumbas subterrineas belissimamente decoradas construidas no Vale dos Faraés. Em ambos os casos, as edificagdes refletiam a crenga na vida apés a morte, fortemente arraigada entre os egipcios. Essa crenga também se refletia no cotidiano e cra experimentada como uma séric de dualidades: noite e dia, enchentes e secas, gua e deserto, Tal crenca e tais dvalidades nos ajudam a entender por que o Vale dos Faraés (onde enterravam os mortos) fica no lado oeste do Rio Nilo, o horizonte onde o Sol se poe, enquanto os templos e assentamentos de Luxor ficam no lado leste, que € 0 horizonte do Sol nascente. Esse posicionamento simbélico das antigas edificagies egipcias também era enfatizado pela precisio de sua construgao. As pirimides de Gizé foram construidas por volta de 2600 a.C. com uma imprecisio de apenas 10 cm sobre uma hase perfeitamente quadrada de 150 m de lado, e seu pice cria uma forma geométrica precisa derivada da segio éurea (veja a pagina 123). No interior de cada pirimide, os corredores estreitos que levam as cdmaras mortudrias estio completamente alinhados com as constelagdes celestes, uma vez que estas eram vistas como © local de repouso para onde iam as almas dos faraés apés a morte. A escala e a precisio com que essas estruturas foram executadas so assombrosas, exigindo, inclusive pelos padres atuais, conhecimentos avangados de engenharia ~ 4 comegar pela origem dos milhdes de blocos quadrados, usados em sua construgio. As pedas foram retiradas de pedreiras do Alto Egito, a quase 640 km do local, e transportadas pela 4gua antes de serem erguidas ¢ posicionadas, i AS ESTRUTURAS NEOLITICAS A Tdade da Pedra compreende trés perfodos: 0 Paleolitico, 0 Mesolitico e o Neolitico. As culturas neoliticas criaram estruturas colossais de pedra na paisagem das Ilhas Britnicas, Essas estruturas muitas vezes configuravam grandes circulos de monélitos e impressionam pela escala, pelo método de construgio e pelas relagdes que elas supostamente tém com os percursos aparentes do Sol e da Lua. Stonehenge, contudo, provavelmente & a estrutura neolitica mais famosa de todas, O cfrculo de pedras desse sitio 6 de aproximadamente 3100 aC. Inicialmente, Stonehenge era uma série de escavagies, as quais geralmente chamamos de uma “obra de terraplenagem” ou “trabalhos em terra”. Essa estrutura foi substitufda mil anos depois pela etapa de construgao seguinte, que envolveu o transporte de pedras do litoral sudoeste do Pais de Gales. Stonehenge nio foi construida para fins utilitérios. Ela nfo 6 uma construgio feita para servir de abrigo, e sim para representar uma conexio espiritual entre os mundos natural e celestial. 2. Tamulo megaltica de Newgrange, Knowth, Ilanda, c. 3200 .C. Este 6 0 observat6rio solar mais antigo do mundo. Newgrange & tuma enorme colina de rochas, pedras e terra e foi construido para ccomemorar a aurora do sostico de inverno, quando um feixe do luz entra no eixo do tmulo e lumina sua cdmara central 13. Stonehenge, Condado de Wiltshire, Inglaterra, c. 3100-2000 a.C. Stonehenge é um monumento megaiitico do Periodo Neolitco e da Idade do Bronze. Ele é composto de obras de terraplenagem em torno de um conjunto circular de grandes pedras vertcais. Os arque6logos acreditam que os mondltos tenham sido erguidos entre 2500 a.C. © 2000 a.C., embora o banco de terra circular 0 fosso que 08, circundam remontem a aproximadamente $100 a.C, Uma linha do tempo de precedentes de arquitetura < O mundo antiga > 0 mundo cléssico O mundo classico Na arquitetura, a influéncia das civilizagdes grega e romana se reflete em conceitos, formas, ideias, decoragGes e proporgoes que foram reinterpretados pelos estilos renascentista (na Italia do século XV), georgiano (na Londres do século XIX) e colonial norte- americano. Ha um espirito duradouro de elegancia e equilibrio na arquitetura e ideias classicas. AGRECIA ANTIGA Ainda que as civilizagOes mesopotimica e egipcia tenham formado a base da arquitetura, foram as sociedades da Grécia Antiga que formalizaram a linguagem da disciplina pela primeira vez, Boa parte da cultura moderna deve suas origens & civilizagao grega clissica. A democracia politica, 0 teatro e a filosofia derivam de uma sociedade que, tendo dominado a produgio de alimentos, descobriu que tinha tempo de sobra para pensar, refletir e tentar entender as regras do mundo em que vivia. Algumas das maiores mentes da histéria, incluindo Platio, Aristételes e Pit4goras, langaram os padrdes de pensamento que dominariam a cultura ocidental pelos préximos dois mil anos. A arquitetura da Grécia Antiga (produzida durante 0 chamado “Perfodo de Ouro” ou *Século de Péricles”) chegou a tal nivel de refinamento e qualidade que passou a ser definida como “cléssica”. Atualmente, as referéncias feitas & linguagem clissica da arquitetura no aludem apenas a forma, mas também A maneira pela qual os arquitetos da Grécia Antiga desenvolveram uma metodologia que poderia ser aplicada a todas as tipologias de edificagio. Literalmente, os blocos de construgao de tal metodologia so as colunas usadas para sustentar a construgio. De acordo com sua esbelteza e nivel de decoragio, essas colunas pertencem a um dentre cinco estilos. Sao eles: roscano, dérico, jénico, corintio ¢ compésito, variando, na ordem citada, de curtas e atarracadas a esbeltas e elegantes. Coletivamente, essas colunas sio conhecidas como as “cinco ordens”. O diimetro de cada coluna é determinado tanto por sua altura como pelo espago deixado entre elas (chamado de intercolinio), e, consequentemente, pelas relagdes com 0 todo e as proporgGes da edificagao sustentada, Cada elemento individual da arquitetura grega se relacionava matematicamente com todos os demais, transformando a edificago em uma totalidade integrada. 1. As cinco ordens da arquitetura cléssica Quase todos os edificios piblicos da Grécia e da Roma Antigas foram projetados com base nas cinco “ordens” da arquitetura. Tais ordens so expressas de acordo com © projeto das colunas e os detalhes da parte superior das ‘fachadas que sustentavam. As cinco ordens so (da esquerda para a direital: toscana, dérica, jnica, corintia e compésita; seus desenhos variam de simples e despojados a extremamente decorados. Os ndmoros indicados neste entre altura e diémetro da coluna. A altura da coluna toscana, por exemplo, é sete vores 0 seu diématro. Esse sistema modular, em que a largura da coluna determinava as proporgées da edificagio, gerou uma formula de projeto. O esquema poderia ser aplicado tanto uma casa pequena como a uma cidade inteira, e, 20 fazé-lo, permitia a criagio de uma arquitetura homogénea e harmoniosa. Muitos exemplares da arquitetura clissica da Grécia Antiga permanecem até hoje; 0 mais conhecido deles provavelmente seja a Acr6pole de Atenas — 0 centro simbélico do mundo clissico. A Acrépole 6, na verdade, um conjunto fortificado de prédios individuais erguidos ao redor do grande templo do Partenon, Esse icone da arquitetura era um local de culto que abrigava uma estétua gigantesca, feita de marfim e coberta em ouro, da deusa ‘Atena, a proterora da cidade. Embora poucas pessoas tivessem o privilégio de ver a estitua, a parte externa da edificagio jé era uma expressio de orgulho civico e nacional. Seu friso, isto 6, a faixa de paingis esculpidos que cerca a edificagio acima da linha das colunas, é considerado por muitas pessoas uma das maiores obras de arte jé feitas pelo homem. Tendo gerado muita controvérsia, eles agora esto expostos no Museu Britanico ¢ representam a Grande Panatenas, 0 ritual de vestimento realizado a cada quatro anos ~ executado com tal perfeigao que o mirmore ‘macigo parece flutuar nas dobras do material que compe ‘0s mantos dos deuses. Isso ressalta 0 valor que os gregos, davam & observacao e 4 compreensao da forma humana, O mundo classico também langou mao do planejamento urbano. Em cidades como Mileto e Priene, a ordem social se refletia nas moradias ¢ edificagées piblicas, sales de reuniio e gindsios centrais, todos langados cuidadosamente sobre uma grelha. O planejamento das cidades estava orientado, acima de tudo, a um intercimbio de bens e ideias, o que faz. com que a “agora”, ou mercado, seja considerada 0 coragio das cidades gregas. Além disso, os arquitetos da Grécia Antiga produziram grandes anfiteatros, capazes de acomodar cinco mil pessoas com facilidade, oferecendo linhas de visio e uma actistica perfeitas — qualidades que, ainda hoje, muitos arquitetos acham dificil de igualar. (0 mundo antigo < O mundo classico > 0 mundo medieval A Historia e os Precedentes O mundo medieval A queda de Roma e o declinio da civilizagao ocidental levaram ao caos cultural que caracterizou a Idade das Trevas, criando uma visdo de arquitetura que diferia muito daquela que marcou a antiguidade classica. Em um periodo de incertezas, inseguro de sua propria capacidade de compreender o mundo ao seu redor, o homem geralmente se volta para fontes externas capazes de determinar o futuro. Por essa razao, 0 periodo medieval testemunhou certo distanciamento do secular, enquanto o divino era buscado como fonte de certezas. A ARQUITETURA GOTICA principal objetivo de boa parte da arquitetura medieval era transmitir narrativas biblicas para as massas quase que completamente analfabetas. Para atender a esse fim, as catedrais medievais desenvolveram uma forma tinica que reduzia o tamanho da estrutura em uma edificagio e permitia que vitrais, iluminassem seu interior, trazendo a luz e a mensagem divinas de um deus cristio. Além disso, 0 desejo de escapar dos tormentos da existéncia terrena e buscar conforto na vida pés-morte acarretou uma énfase na verticalidade, resultando no estilo arquitetdnico da ascensio. Ao voltar os olhos para os céus, o estilo gético utilizou arcos apontados de maneira caracteristica, colocando a estrutura no exterior das edificagdes. Um dos principais exemplos pode ser encontrado na Saint Chappelle (Santa Capela), uma capela perto da imensa catedral gotica de Notre Dame, na Isle de la Cité, em Paris, Franga. A énfase arquiterdnica na verticalidade se faz presente no exterior nos pindculos de suas torres, que jé serviram como marcos para peregrinos (refletindo a crenga de que quanto mais alto 0 pinéculo, maior a importincia religiosa da cidade). A arquitetura gética também adotou uma organizacio bastante precisa e frequentemente complexa, onde proporgoes sagradas (veja a pagina 123), refletindo o mundo natural, eram empregadas para celebrar o divino. Nas edificagdes habitacionais, os avangos do mundo classico se perderam, ¢ a arquitetura gética voltou a tipologias em grande parte vernaculares, usando técnicas de construgio e materiais locais, muitas vezes com estruturas de madeira, Ainda que primitivo em muitos aspectos, o resultado geral dos métodos de construcao aplicados pelos carpinteiros medievais apresentava uma considervel criatividade em termos de tecnologia. O uso de materiais autéctones geralmente sem revestimentos conferia ’s edificagdes uma relagio intima com a paisagem da regito e da localidade. Essa caracteristica das construgSes hoje esta sendo reinterpretada pelo movimento da arquitetura ecologicamente sustentivel. Além disso, o desenvolvimento paulatino das vilas e cidades durante todo © perfodo resultou em um planejamento urbano irregular, o que conferiu a muitos burgos charme e carver préprios. No final do perfodo medieval, © ressurgimento do poder secular levou a construgio de edificagées mais significativas em torno dos pontos centrais de comércio. Mesmo na escala ‘menor, isso fica evidente nas muitas cruzes de mercado que foram erguidas em pequenas cidades. No outro lado do espectro, 0 perfodo testemunhou a construgio de alguns dos prédios medievais mais belos, como 0 Palécio do Doge, em Veneza, Itilia, que foi uma das raras edificagoes laicas trabalhadas e ornamentadas no nivel de uma catedral medieval. 1. Desenvolvimento da Catedral de Chartres ‘a0 longo da historia Emma Liddell, 2007 Este diagrama demonstra como a Catedral de Chartres evoluiu de suas raizes como ‘capela centralizada galo-romana (c. 500 d.C até chegar a catedral gética (de aproximadamente 1250 4.C.) que 6 tdo conhecida. Cada uma das fases subsequentes da edificagao envolve completamente @ anterior. (0 mundo classico < 0 mundo medieval > 0 Renastimento A Historia e os Precedentes 0 Renascimento Poucas vezes a historia da arquitetura passou por mudangas tao rapidas e fundamentais em termos de postura como as testemunhadas pela Italia no inicio do século XIV. O HUMANISMO Este periodo foi marcado pela rejeicio da escoléstica medieval e um interesse renovado pela arquitetura clissica. Embora estivessem familiarizados com as edificagies goticas da Europa, os arquitetos se lembravam claramente da arquiterura grandiosa do Império Romano e comegaram a readotar a linguagem classica da arquitetura, Essa linha de investigagao artistica ganhou forga em Florenga, onde mercadores ricos ¢ autoconfiantes, juntamente com novas familias de banqueiros, como os Medici, tornaram-se patronos de um pequeno grupo de arquitetos que comegara a reavaliar e a fazer experimentos, por tentativa e erro, com a linguagem clissica da arquitetura. Para a geracZo anterior, as obras criadas no mundo cléssico antigo pareciam ter formas e complexidade inimaginiveis. A nova sensibilidade buscava compreender a arquitetura cléssica com base na validaglo da capacidade de raciocinio do homem e da possibilidade de entender o mundo por meio da observagio ¢ do intelecto, deixando de lado as explicagies predeterminadas. Leon Battista Alberti defendeu essa abordagem intelectual e expés as novas descobertas do mundo classico no tratado De Re Aedificatoria Libri Decem (Dex Livros sobre Arquitetura), Nele, Alberti afirmou que a perfeigio matemética das formas platénicas era um reflexo da perfeicio divina criada por Deus, afirmando que igrejas com plantas baixas centralizadas e simétricas seriam mais indicadas que a forma tradicional da cruz latina adotada pela arquitetura gética. Seu ideal levou alguns anos para se concretizar, manifestando-se nas plantas baixas criadas por Michelangelo para a Basilica de Sao Pedro, em Roma, um testemunho da influéncia dos escritos tedricos de Alberti sobre arquitetura. Um dos simbolos mais marcantes do Renascimento italiano provavelmente 6a capula de Santa Maria del Fiore, em Florenga, projetada por Filippo Brunelleschi, conhecida simplesmente como /I Duomo (a catedral ou o domo, em italiano), Nela, a necessidade de cobrir um vao de 42 metros exigiu uma solugao sem precedentes na histéria, levando Brunelleschi a elaborar um método criativo para amarrar a base da cipula com uma corrente de ferro gigantesca, de modo a resistir aos enormes empuxos para fora. Além de adaprar a linguagem da planta baixa das igrejas géticas para produzir uma arcada semicircular que se apoiava nas colunas cléssicas da Basilica de Santa Maria do Espirito Santo, Brunelleschi uusou uma forma semelhante na arcada extremamente delicada na fachada do Hospital dos Orftios, em Londres. Assim, ele reinterpretou a linguagem clssica de maneira criativa, modificando os precedentes encontrados na arquitetura classica e adaptando-os as tipologias de edificagdes contemporaneas. TO Wa (I Duomo}, Florence, po Brunelles Esta cdpula octogonal domina a Catedral de Sante Maria del Fiore. Brunelleschi buscou inspiragao no domo com casca dupla do Panteon, em Roma. 0 projeto octogonal {mpar da cOpula dupla, que repousa sobre ‘um tambor e no na cobertura propriamente dita, permitiv que a estrutura inteira fosse ‘construide sem 0 uso de andeimes apoiados no solo. Esse construgdo enorme pesa 37 mil ‘toneladas e contém mais de quatro milhdes de tjolos, 2. Fachada da Basilica de Santa M Novella, Florenca, Italia Concluida por Leon Battista Alberti, 1456-1470 Esta edificagao 6 Gnica porque todas as suas dimensdes se relacionam entre si em ‘uma razdo de 1:2. (O mundo medieval <0 Renascimento > 0 Barroco 1. Piazza del Campidoglio, Roma, télia Michelangelo Buonarroti, 1538-1650 Este espago foi projetado como um patio eliptico. Michelangelo também projetou as duas edificagdes que ladeiam a praga, de modo a dar a sensago de aumento de perspectiva, exagerando as vistas em toda a cidade. A Piazza del Campidoglo (Praga do Monte Capitélio) possui luma estétua equestre centralizada do imperador romano Marco Aurél A praga de Michelangelo redne geometria, percursos arquiteténicos e monumentos em um exemplo coerente de projeto urbano. 2. Croquis de Roma Os esbagos a mao livre podem ser iteis para o estudo e o entendimento dos detalhes de construgao de eUificagdes impressionantes ou curiosas que descobrimos ao visitar uma nova cidade.

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