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Avtigo de Reflexdo DOk: 10.2190112448-3060/self-2020.v0l05.0003 Sel fame & Resa dott uncrino da Sto Pole O dialogo entre as teorias da fisica quantica e psicologia analitica: uma reflexao sobre a qualidade das conexdes humanas Cristiane ADAMO. ‘So Paulo, SP, Brasil Resumo Este trabalho propée uma anélise reflexiva sobre © possivel didlogo entre as mais divulgadas teorios da fisica quéntica € @ teoria da psicologia analitica. Por meio do estudo ¢ reflexdo sobre cada um dos conceitos, fez-se um paralelo, relacionando pontos em comum e diferengas encontradas entre as teorias. Para aprofundar © ossunto, realizou-se uma revisdo de literatura © 0 estudo aprofundado das obras de Jung. A fisica quéntica ilusirou o explicagéo sobre a mudanga de paradigma dos modelos cientificos que influenciaram uma nova visGe € entendimento do ser humano, do mundo & de suas relagdes interacdes. Existem semelhangas entre olgumas descobertas realizadas nos estudos da fisica quntice ¢ nos fendmenos descritos pela teorie da psicologia analftica, similoridades entre os Conflito de interesses: ctusées que ambas as ciéncias chegaram sobre a dinémica do mundo, a Aulora declare no haver rnenhum interesee pprofissional cv pessoal que importancia do ser humane € a tela de emaranhamento = interconexdes existentes entre todas as coisas. © diélogo entre os conceitos contribuiy para explicagées ¢ reflexes de pontos essenciais no proceso de transformagéo posta geror confito de injeresses em relagioo que a consciéncia ¢ a psique podem proporcicnar. este menuscr'o Descritores eorie quontum, consciénda, inconsciente, psicologia junguiana, Jung, Carl Gustav, 1875-1961. \ © Recebido: 14 ago 2019, 1° revisao: 10 jan 2020. Aprovado: 21 jan 2020, Aprovado para ublicaczo. 6 mar 2020 Self—Rev Inst Junguiono Séo Poulo, 2020;5:e3 Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo The dialogue between theories of quantum physics and analytical psychology: A reflection on the quality of human connections Abstract This work proposes o reflexive analysis of the possible dialogue between the most publicized Quantum Psychics theories and Analytical Psychology theory. Through the study and consideration of each of the concepts, @ parallel was outlined, trying to relate some of their points in commen as well as the differences found between theories. In order to go deeper into the subject 0 review of related literature ond an in-depth study of Jung’s works were carried ‘out. Quantum Physics illustrated the explanation of the change of paradigm of scientific models that influenced @ new vision ond understanding of the human being, the world and their relationships and interactions. There are similarities between some findings made in studies of Quantum Physics and the phenomena described by Analytical Psychology theories, and similarities between the conclusions that both sciences have reached in relation to the world's dynamics, the importance of the human being ond the web of entanglement and interconnections existing among all things. The dialogue between concepts has contnbuted to some explanations and reflections of essential points in the process of transformation that consciousness and Psyche can provide. Descriptors quantum theory, conscience, unconscious, Junguian psychology, Jung, Corl Gustav, 1875-1961 EI didlogo entre las teorias de la fisica cuantica y la psicologia analitica: una reflexion sobre la calidad de las conexiones humanas Resumen Este trabajo propone un andlisis reflexivo de un posible didlogo entre las mas difundides teorias de la Fisica Cuéntica y la teoria de la Psicologia Anallitica Por medio del estudio y de la reflexién sobre cada uno de los conceptos, se hizo un paralelo, relacionando puntes en comin y diferencias encontrada entre estas teorfes. Para profundizar en el tema, se realizé una revision de las diferentes literaturas y se estudiaron en profundided las obras de Jung. Lo Self ~ Rev Inst Junguiano $0 Paulo, 2020; Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo Fisica Cudntica ilustré la explicacién acerca del cambio de paradigma de los modelos cientificos que influenciaron una nueva visién y comprensién del ser humano, del mundo y de sus relaciones @ interaccionss. Existen similitudes entre algunos descubrimientos realizades en los estudios de Fisica Cuéntica y los fenémenes descritos por la teorfa de la Psicologia Analitica, y en las conclusiones a las que ambas ciencias llegaron en relacién con la dindmico de| mundo, la importancia del ser humane y la red de enmarafiamiento Interconexiones existentes entre todas las cosas. El didlogo entre los conceptos ha contribuido para explicaciones y reflexiones de puntos esenciales en el proceso de transformacién que la consciencia y lo psique pueden proporcionar. Descriptores feoria de quantum, conciencia, inconciente, psicologia junguiana, Jung, Carl Gustav, 1875-1961 Reflexées sobre a fisica quantica e a psicologia analitica Nada é mais winerével © possageiro do que as teories cientificos que sempre so meros instrumentos € nunca verdades eternas, Wung, 1997, p. 252, 8577) © dislogo entre a fisica © a psicologio ndo 6 recente. Jung muitas vezes explorou @ debrugou-se sobre © assunto. Por meio de objetos de estudos opostos © linguagens diferentes, as duas ciéncias convergiram para um mesmo caminho € se aproximaram em suas pesquisas constatagdes. Concomitantemenle ao desenvolvimento de clgumes teories da fisice quantica, desenvolveu-se « questéo do inconsciente coletive na psicologia analitica. Nessa época, Jung manteve intenso relacionamento com fisicos contemporénecs ©, nesses encontros, ideias @ conhecimentos foram comparilhades (Stein, 2004). Dessa mansira, a associagio com a fisica moderna forneceu 0 contexto histérico apropriade para o desenvolvimento de muitos aspectos @ conceitos da psicologia onclitica. Fisicos famesos desempenharam um popel influente na reflexdo € na formulagao da teoria da sineronicidade, principalmente. Jung conheceu Albert Einstein, eles jantaram juntos vérias vezes, no época em que 0 fisico estava desenvelvendo a Teoria da Relotividade Especial, em 1905. A questéo da relatividade do tempo e do espago foi um didlogo comum nos encontros dos dois, até o momento em que Einstein comegave falar de matemética, quando Jung afirmava néo conseguir acompanhar mais a discussdo (Stein, 2004). Outro fisico com quem Jung manteve contato foi Wolfgang Pauli; eles trocaram correspondéncias durante 26 anos. Pauli trabalhou no Instituto Self Rey InctJunguiane Sao Paulo, 2020503 ET Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo Niels Bohr de Fisica Teérica, em Copenhague, onde nasceu, em 1927, a Interpretagiie de Copenhague, que apresenta os principios bésicos da fisica quantica (Stein, 2004). Com o incentive de Pauli, Jung passa a explorar a questdo de uma simetria oculta dentro do Universo, na perspective da Fisica e da Psicologia. Também foi pela insisténcia de Pauli que Jung publicou suas reflexdes sobre a Sincronicidede, pois eles se tornaram porceiros intelectuais na busca dos padides internes de netureza. 41.8 Gigio Em 1952, Jung e Pauli publicaram um livro juntos, com os textos: (comunicagao “Sincronicidade © © principio de conexéio acausal”, de Jung, e “A influéncia pessoal, 23 jun das ideios arquetipicos nas teorias cientificas de Kepler”, de Pauli (Stein, 2004). Este fato refietiv o quanto o relagdo entre eles foi bastante significotiva, de didlogo e de troca de conhecimentos. Pauli ficou encantado com os fenémenos inconscientes. “Wolfgang Pauli © outros cientistas 2018), comegaram a estudar o papel do simbolismo arquetipice no dominio des conceitos cientificos” (von Franz, 1964/2005, p. 307). A psicologia iniciou seu estudo pela psique, enguento a fisica iniciou pela maténa. Porém, as duas ciéncias encentraram-se em um determinado ponto € verificaram que ocorrem transformagées no mundo a partir da relagio © da interagéio entre elas. A psicologia analitica € uma teoria sabre 0 estudo da psique. A relacdo entre © consciente @ 0 inconsciente, os simbolos arquetipicos © as interagées com a matéria foram os questdes inspiradoras no desenvolvimento dos andlises conceitos. Jung foi um explorader na observagée da dindmica psiquica ¢ o experiéncia do alma foi a base de sua teoria (Jung, 1946/1991) Afisica, no entanto, é a ciéncia que se destace na busca de respostas pora as questdes envolvendo o estudo da natureza © seus fenémenos, em seus aspectos mais gerais. Busca a compreensio cientifica dos comportamentos naturais do mundo em nossa volta, desde as particulas slementares até 0 universo como um todo. Com 0 amparo do método cientifico e da légica, fende a matemdtica come linguagem natural, o fisica descreve a natureze © analisa suas relagdes © propriedades, além de procurar descrever @ explicar a maior parte de suas consequéncias (|nfoescolo, 2017) E importante ressaltar que o que conhecemos como ciéncia é um processo continue de construgéo do conhecimento, esté sempre se renovande € acrescentande novas descobertas ¢ conceitos. Para auxiliar na compreenséio da origem © do ascenstio da ciéncia, faz-se necessério examinar alguns detolhes da histéria e refletir sobre a visio de mundo € @ sistema de valores que se encontravam na base de diferentes momentos da evolugao humana (Copra & Luisi, 2014}. Segunde Frifjof Capra, doutor em fisica € tedrico de sistemas, antes de 1500, @ visdo de mundo dominante na maior parte das civilizagdes ero organica, As pessoas viviam em comunidades pequenos ¢ coesos & Self Rey Inet Junguiane Sao Paulo, 2020503 Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo mantinham uma relagée de comunhdo com a natureza: “experimentavam a natureza nos fermos de relacionamentos pessoais coracterizados. pela interdependéncia de preocupagées espirituais e materiais a subordinagéo de necessidades individuais 4s da comunidade” (Copra & Luisi, 2014, p. 43). Os povos “primitives” eram influenciades por superstigées, medos e precaugées. As pessoas percebiam uma ligagdo entre eventos e fenémenos naturais. Para elas importavam a simbolagic, os significadas, © mistério (Copra & Luisi, 2014}. Na época medieval, aquilo que podemos entender como a “naturezs da ciéncia” tina como base a razdo e a fé © seu principal objetivo era compreender 0 significado ¢ a importancia das coisas, néo sua previséio € 0 seu controle. “Os cientistas medievais, procurando pelos propésitos subjacentes o varios fenémenos naturais, consideravam que questées relacionadas a Deus, & alma humona © & ética eram da mais alto importancia” (Capra & Luisi, 2014, p. 43). A presenga dos alquimistas, que realizavem experimentos em busca da transformagdo por meio dos processes alquimices & buscavam a purificagéo da matéria, também foi marcante no periodo medieval. De acordo com Jung (2011), “a olquimia medisval representa o traco de unio entre o gnose © os processes do inconsciente coletivo que podem ser observados no homem” (.13). Jung descobriv uma incrivel concordéncie entre os simbolos do mundo das imagens do inconsciente ¢ os simbolos da alquimia. Para ele, o processo de individuacéo se parecia com © caminho que os alquimistas jé haviom trilhado, a seu modo, em sua épeca (Jung, 2011). Com © passar des anos, houve uma grande mudanga na mansira como as pessoas imaginavam o mundo, @ @ nogio de um universo orgénico, vivo, espiritual foi substituida pela viséo metaférica do mundo como uma maquina. “Nossa comunicagéo direta com a natureza desapareceu no Inconsciente junto com a fantéstica energia emocional a ela ligada” (Jung, 1997, p. 255, 8585). A concepgéo mecanicista da realidade tomou-se a base da nova perspectiva de mundo. Esse desenvolvimento foi produzide por mudangas revoluciondrias na fisica @ na astronomic, que culminaram nos reclizagdes de Nicolau Copémico, Galileu Galilei, René Descartes @ Isaac Newton (Copra & Luisi, 2014). Assim, a nova mentolidade e a nova percepgao do cosmos tornaram-se a base do paradigma que dominou o cultura durante os Gltimos 300 anos. Fisica cléssica Por anos, acostumeu-se a olhar o mundo por meio das lentes da fisice cléssica. Encarava-se o mundo a partir de porémeiros mecanicistas © matenalistas que surgiram do divisée cartesiana entre mente e matéria e da Self Rey Inet Junguiane Sao Paulo, 2020503 ET Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo fisica newtoniana. De acordo com os fisicos José Carlos Valladao de Mattos 2. ©. Vallado de @ Fernando T. Giglio (2018)? alguns dos principais porémetros da fisico Matos, J. G. Go, cléssica séoz FT Gob, CR Xaver, & JS. Gioto (comunicagao “ Determinismo @ materialismo: © universo é composte por maténa ¢ 6 regido pessoal, malo a pela lei do cousa ¢ efeito. Tudo é determinado: se conhecermes as forgas junho de 2018) que cium e os condigées iniciais, estaremos habilitados o conhecer seus efeitos. Eventualmente, podemos nao conhecer seus efeitos e nao localizar a cause por {alte de meterial, ou sej¢, por falta de um instrumental adequado. % Objetividade: mente © motéaa séo seporadas; esto 6 uma das bases do pesquisa cientifica classica. * Locolidade: objetos separados no espago ¢ no tempo séo independentes entre si. E preciso que exista tempo para que a energia posse fiuir de um ponto a outro, ou seja, para haver uma comunicagée. Ceso contrario, os objetos sdo independentes. * Reducionismo: os sistemas complexos devem ser reduzides és suas partes, fanto a inteire quanto a metade. Na fisica cldssice, 0 oxioma bésico diz que tudo & matéria. Para a ciéncia matenalista, tudo 0 que existe 6, fundamentalmente, apenos matéria. Nesta perspectiva, hé pouco lugar para os valores € © significado ou para os fatos interiores da exoeriéncia; « subjetividede foi descartada na construgéo do saber cientifico. A questéo do sentida ndo cabe em um reducionismo cousal, pois © sentido esté ligado & procure da totelidade, esté ligedo @ uma Visio mais ampla (Adomo, 2017). Porém, no final do século XIX, @ mecdnica newtoniana deixou de desempenhar o papel de teoria fundamental dos fenémenos naturais. Muito embora suos ideias bésicas estivessem corretas, elas eram insuficientes pora explicar @ descoberia de novos fenémenos. A eletrodindmica de Michael Faraday ¢ Jomes Clerck Mexwell © a teoria da evolugéo de Charles Darwin envolviam canceitos que indicavam que © Universo era muito mais complexo do que Descartes ¢ Newton haviam imaginado (Capra & Luisi, 2014). No inicio do século XX, os parémetros da fisica cléssica foram profundamente questionados. Seria preciso construir uma nova ciéncia? E foi assim que duas novas teorios da fisice abalaram os principais conceitos da Self Rey Inet Junguiane Sao Paulo, 2020503 Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo visio de mundo cartesiana e da mecénica newtoniana: a teona do relatividade de Einstein © a teoric quéntica (Capra & Luisi, 2014). “cua Funcamertes deca quanta foooter coms Os conceitos sobre as nogdes de espago absoluto e de tempo psicsogaea ‘ebsoluto, as particulas elementares sélidas, a subsincia material fleofe,coxdenaeo ; porod Seles Giglio fundamental, a netureza estritamente causal dos fenémenos ‘omiisrado pelos naturals, ¢ a descrigéo objetiva da natureza; nao poderiam ser peters estendides aos novos domfnios para dentro dos quais a fisica fey Xover 03s esiava avangando (Capra & Luisi, 2014, p. 60). Cato Vala de wares, José icica cua Foner Nedsan Fisica quantica lio ool Sales Giglio, no Instituto de Paci Anica Surgiv, a partir de 1927, um novo modelo cientifico fundamentado na fisica ‘de Campinss — PAC, Soomoe nods quéntica. As teorias quantices estéio na bose de fede © ciéncia natural: 2018. na Facade quimica, biologia, cosmologia. Estéo presentes ainda na constituigéo do ‘e Clancins Madcas . ‘da Universidade universo como um todo. A prépria descoberta do DNA se deu a partir da Estadual de fisica quéntica.’ Campinas UNCANE. Cae tee por Para a fisica quantica tudo € energia. Tudo no universo esté vibrando, mas ALB.Aufancno em padrdes € frequéncias diferentes. A teoria quéntica envolve conceitos eee awe como os de particulas — concentragdes de energia que compéem corpos analica e fisica maiores; € ondas — energia em movimento, a radiagdo eletromagnética, nica, promo ‘vel set were invisivel para nés. Brass ce Palco Analica ‘Seo Paul, P. em Atvalmente, a presenga da fisica quéntica no cotidiano 6 muito ampla e a ‘Bm de 2016 aplicagao de sua teora contribui de forma inestimével para 0 desenvolvimento da tecnologia moderna. Infelizmente, o conhecimento também foi utilizado para o mal da humonidade. Com os teorias quénticas, foi possivel o surgimento de armas com forte poder de destruiggo em massa, como a bomba at6mica (Adamo, 2017), “81 C. Valladio de Ivaios. JC igo Entretonto, 03 conhecimentos da fisica quantica so utilizados om muitos dos FT. Giglio, C.R produtos de nossa esfera de consumo, camo o pen drive, 0 controle remote, a s © microchip, a méquine fotogrifice digital, 0 laser, a ressonncia magnética (comunicagao 8, até mesmo, 0 computador € os computadores quantices, entre outros.® pessoal, maio 2 Junho de 2018). Para entendermes a esséncia da fisica quéntica, segundo os fisicos José Carlos Valladao de Mattos © Fernando T. Giglio,* alguns dos principais pardmetros sao: + Principio da Incerteza de Heisenberg: no podemes medir com preciso nunca” momento, ou seja, a velocidads (a quantidade de movimento) © @ posicéo pessoal, 16 de de um objeto quantico, pois, quanto mais precisamente sabemos onde um mai de 2016). Self Rey InctJunguiane Sao Paulo, 2020503 Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo objeto quantico esté, menos sabemos sobre seu movimento. E quanto mois localizamos © movimento, menos sabemes onde ele esté. Tal fato torna-se interessante por constituir-se uma impossibilidade ontolégica, néo so tratando, portante, de falta de instrumental adequade. * Princlpio do Complementariedade de Niels Bohr: uclquer objeto quantico - seja proton, elétron ou étomo ~ 6 onda ¢ particule. Onda € particule s60 duas maneiras complementares, embora mutuamente excludentes, de um objeto quantico se apresentar ao observador. “© Principio da Equagéo de Ondas de Schrodinger: na fisica quéntica ndo existe realidade objetiva independente da interferéncia da consciéncia. Qualquer objeto quéntico encontra-se em um estado indefinide que consist apenas de probabilidades e de possibilidades até que uma observagéio seja feita. Antes da observagtio, © objeto encontra-se em uma superposigéio de todos os sous estados possiveis. Erwin Schrodinger deu a isso o nome de equagdo de ondas, Somente quando se observa 0 objeto € que ele & percebido e em apenas um estado possivel, nunca em uma mistura deles. A esse fendmeno deu-se o nome de colapso de fungdo de ondes. © colapso de fungéo de onda a superposigdo de todos os estados possivels, que apenas iro se colapser em um estado Unico, a partir da observagdo. Quando © observador — portanto, a cansciéncia — ndo esté presente, os objetos quéinticos comportam-se como ondas de probabilidades @ espalham-se como qualquer onda normal. Porém, sempre que hé um observador, es ondas entram em colapso © fornam-se objetes de experiéncia consciente, Nenhum sistema fisico, obedecendo és leis da fisica quantica, podena fazer um colapso de fungéo de onda e, a perlir de um estado de superposigéo, J.C. Valladéo de Matos, JC. produzir um estado particular. Somente um observador consciente, fazendo Giglo, FT. Gio, algo que a fisica ndo abrange, é capaz de promover o colapso de fungée de Sooo ‘onda, Antes da observagée, o étomo 6 uma fungéo de onda, ou soja, (comunicagao apenas probabilidade.” pessoal, maio a Junho de 2018). Esse paréimetro, diferentemente dos outros, ainda € questionado per fisicos que se consideram “materialistas”. Mesmo depois de tanto tempo, a presenga do observador e da psique, camo partes integrantes do experiéncia, cinde encontra resisténcias Self Rey Inet Junguiane Sao Paulo, 2020503 Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo % Néo Localidade: trata-se de outro parametro quéntico. muito importante. No nivel quéntico, os cbjetos ndo existem independentes um dos outros. Trata-se de uma verdadeira tela de interconexdes. A teoria quéntica diz que tude € energia e vibra no universo em padrdes © frequéncias diferentes. Tudo esté conectade a uma fonte vibrotéria onginal ¢ existe um campo, uma forga, uma energio que se move em tudo, ctravés de nés. % Propriedades de Totalidade: © fenémeno quéntico tem uma nova propriedade de totalidade, de maneira que nao pode ter se formado em fenémenos parciais, sem que © fendmeno como um fedo transforme-se ‘em maneiras essenciais. Na fisica quéntica encontramos, ao invés de determinismo, incertezo complementariedade; a0 invés de objelividade, temos o née existéncia da SAL B Aufranc realidade objetiva independente da interferéncia da consciéncia; ao invés de eee locolidade, a nde localidade; e do reducionismo, passames para uma visio ‘mala de 2016) de totalidade.* Saimos, portanto, de umo teona classica, pela qual o universo € compost por matéria, sem consciéncia, para uma nova teoria, na qual o Universo & descrito pela relagéo entre mente e matéria Psicologia analitica A relagdo da mente com a matéria sempre intrigou Jung. Sua atengdo estava voliada & investigagéo da psique, & dindmica do mundo interno © & relagéio com © corpo, temas que inspirarom a base de suas refiexdes. Como « psique © a matéria estéio encerradas em um sé € mesmo mundo, ¢ além disso, se acham permanentemente em contato entre si, ¢ em Gltima anélise se assentam em fatores transcendentes € irrepresentaveis, hd ndio s6 a possibilidade, mas até mesmo uma certa probabilidade de que a matéria © a psique sejam dois cspectos diferentes de uma s6 ¢ mesma coisa (Jung, 1946/1991, p. 152, §418). A psicolagia analitice destacou-se pela andlise € descrigao do inconsciente — abrangendo o inconsciente pessoal (no limiar mais préximo & consciéncio) © inconsciente coletivo (numa dimensdo mais arcaica e prmitiva da psique). Segunda Jung, © inconsciente se comporta de maneira compensatéria ou complementar em relagéo & consciéncia. Jung (1946/1991), afirma que “entre a conscigncia € 0 inconsciente, ndo hé uma demarcagéo precisa, com Self Rey Inet Junguiane Sao Paulo, 2020503 Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo uma comegande onde 0 outro termina. A psique forma um todo consciente- inconsciente" (p. 137, §397) © objeto de estudo de Jung também foi o consciéncia, a andlise de seu fluxo @ sua influéncia no processo individual de descoberta do homem ne mundo De acordo com Jung, o percepcao que o homem tem do mundo interno ou do mundo a sua volta limitada pelos sentides © pelo processo de tomada de consciéncia. No entanto, a ligagée com © ego, 0 centro da consciéncia, & a condigdo necesséria para tomar qualquer conteddo consciente, conhecido. Jung aprofundou-se nos estudos ¢ pesquisas sobre os possiveis relacdes do inconsciente com a consciéncia € sobre a dindimica existente entre eles & concluiv que, pora se chegar intagridade, os _ sistemas consciente/inconsciente devem estar em relagdo mitua, pois, a psique consiste em duas metades incongruentes que precisam estar em conexéo & didlogo para um bom funcionamento do todo ¢ para alconcar o transformagéio pessoal Um ponto diferencial © importante na teoria junguicna 6 entender e descrever 0 inconsciente como uma fonte geradora do impulso criador, Segunde Jung, © Self € um padrée arquetipice que opera na psique, € 0 ceniro, 6 0 fetor que ordena todo o sistema psfquico. A psique é um campo que gera tensdo para evoluir; um jogo de energias & forgas; somos movimentaclos por fenémenos internos, da mesma forma que por estimules externas. “Ao me rebaixar, elevei-me como um outro, Ao me assumir, dividi-me em dois, € 40 me conciliar comigo mesmo tomei-me uma pequenc parte do meu si-mesme” (Jung, 2013, p. 203). De acordo com Jung, a relagio entre o conscients ¢ o Inconsciente, © ego 6 © Self, & de fundamental importancia pare se manter © sistema psiquica em equillbrio. A comunicago entre © consciente © © inconsciente torna-se possivel por meio dos simbolos [manifestagées inconscientes) ou imagens simbélicas. Os simbolos fozem a ponte entre o ego e 0 Solf e, quando um simbolo é 6.8. Galo constelado ou opreendido por uma pessoa, ele adquire uma capacidade (comunicacaio potencial de ser um agente transformador, por meio da compreenséo: pessoal, 23 jun simbélica ¢ da integragéo & consciéncia da pessoa.” Assim, ele pode ampliar © conhecimento, © significado € © sentido de uma situagéo especifica ou de grandes quesiées existenciais. 2018), Self Rey Inet unguiane Sao Paulo, 2020503 Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo O dialogo entre as teorias Ao se estudar os fenémenos da psicologia analitica, pode-se encontrar a existéncio de conceitos semelhantes aqueles mais divulgades © apresentados pela fisica quéntica, © que possibilita um interessante didlogo, no qual psicdlogo e fisico se aproximam em suas anélises, embora por cominhos distintos. Quando se estuda as analagias existentes entre as duas ciéncias, € muito importante destocar a fundamental diferengo: alguns fisicos quénticos comegaram considerar o inierferéncia das ideios conscientes do observador na experiéncia. ‘A maloria dos fisicos modemos ccsitou © fato de que o papel representado pelas ideias conscientes de um observador em todas as experiéncias microfisicas néo pode ser eliminado. Mas nao se preccuparam estes cientistas com a pessibilidade de que as condicées psicolégicos totais do observador (tanto as conscientes quanto as inconscientes) também estivessem envolvidas na experiéncia (von Franz, 1964/2005, p. 308). De acorde com Jung (2005), a psique como um todo que esié presente no processo cientifico - consciente e inconsciente juntos, envolvides no. fenémeno. E necessério © ser humano inteiro, com sua condigéo psicol6gica, pois, o totalidade da psique esté presente nas experiéncias © interagées das pessoos com o mundo. “Qualquer ciéncia € fungde do psique, © qualquer conhecimento nela se radica. Ela 6 0 moior de todos os prodigios césmicos € a condiitio sine qua nan do mundo enquanto objeto” (ung, 1946/1991, p. 108, §357). Para q fisica quantica tudo € energia. Por sua vez, a teoria analitico considera a energia como uma caracteristica dinamica da psique. Jung explicou que a energia viel, energic psfquica ov libido, esté ligada o questies de forga vital, como a vontade, o emogéo, a paxxiio, 0 fluxo eo refluxo de interesses, curiosidades, desejos © necessidades. De acordo com Jung (1946/1991), “os contevidos conscientas se tornam inconscientes, em decorréncia da perda de energia, € que, inversamente, os processos inconscientes se tomnam conscientes devide a um aumento de energia” (p. 113, §366). Ao se reflelir sobre um poss(vel paralelo enlre o Principio de Incerleza de Heisenberg (ndo podemos madir © movimento © a posi¢éio de um objeto quantico, pois, quanto mais sabemos sobre sua lecalizagéo, menes sabemos sobre seu movimento € vice-versa) e @ teoria nalitica, encontra-se a seguinte citagéio de von Franz (1964/2005): Self Rey Inet unguiane Sao Paulo, 2020503 Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo © obsenvader deve escolher © seu plano expenmental, mas, a0 foré-lo, exclui (ou antes ‘sacnfica’) outros possiveis planos ¢ resultados. Além disso, 0 mecanismo de avaliogéo deve ser incluide na descrigéo dos acontecimentos porque exerce influéncia decisive, mes incontroldvel, nas condigées da experiéncia (p. 308). Jung, em muitas passagens de suas obras, evidencia @ impossibilidade de abarcarmos um fenémeno psiquico em suc totalidade (Jung, 1997) De acordo com as andlises de Jung, na complexidade da psique: “A consciéncia € relative, porque seus conteidos séo ao mesmo tempo conscientes © inconscientes, isto €, conscientes sob um determinado aspecto @ inconscientes sob um outro aspecto” (Jung, 1946/1991, p. 137, §397). Nao hé, portanto, um contetido consciente que néo tenha um aspecto que seja também inconsciente; © isso corrobora a ideia de que a psique forma um todo consciente-inconsciente, espiritual-material, corpo ¢ alma. Como vimes, a comunicagée entre © consciente € © inconsciente torna-se possivel por meio dos simbolos ou imagens simbélicas. Contudo, néo percebemos plenamente o sentido dos simbolos ou néo os entendemos por completo, pois os simbolos tm um aspecto inconsciente mais amplo, que nunca é totalmente definido @ explicado Na cnélise sobre o Principio da Complementariedade de Niels Bohr (qualquer objeto quéntico € onda € parficula € estas so duas maneiras complementares do objeto quGntico apresentar-se ao observador) © a relagéo com os fenémenos da psicologia, von Franz (1964/2005), ofirmou “A ideia de Bohr @ respeito do complementaridade é especialmente interessante para os psicélogos junguianos, pois Jung percebeu que o relacionamento entre © consciente € © inconsciente formam também um por completivo de contrérios” (p. 308). Como dito, para Jung (1946/1991), somente € possivel manter o sistema psiquico em equilibric, quando o consciente € © inconsciente esto em relagéo. Entretanto, © inconsciente se comporta de maneira compensatéria ‘ou complementar em relagdio & consciéncia € vice-versa. © consciente eo inconsciente séo duas moneiras oposias ¢ complementares; ambos séo fundamentais para a dindmica psiquica. “E verdade que nosso mundo e vida consistem dos opostos inexordveis, dia € noite, bem-estar € sofrimento, nascimento © morte, bam 9 mal.” (Jung, 1997, p. 246, §564).. Self Rey Inet Junguiane Sao Paulo, 2020503 Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo "J.C. Valladio de Matos, J.C. Giglo, FT. Giglo, GR. Xavier, 8S. Gig (comunicaco pessoal, maio a junho de 2018) "ALB Auirane (comunicario pessoal, 1Sde ‘maio de 2016). "ALB Aulianc (comunicago pessoal, 16 de rmaio de 2018). $6 6 possivel conhecer a existéncia da noite, se tivermos vivido a experiéncia do dia. Os opostos juntos formam « totalidade do fendmeno. Ao se refletir sobre 0 Principio da Equagéo de Ondos de Schrodinger e o possivel analogia com a teoria analitica: E importante lembrar que na fisica quantica, em ver de objetividede, temos a nao existéncia da realidads objetiva, independente do interferéncia do consciéncia. Qualquer objeto quantica encontra-se em um estado indefinido que consiste apenas em probabilidades até que uma observagio seja feito. Quando hé um observador, as ondas entram em colapso ¢ tornam-se objetos de experiéncia consciente. 10 Eugen Wingner, fisico ganhador do prémio Nobel, atesta que o papel de consciéncia no émbito da teoria quéntica é imprescindivel. Capra revela igualmente @ imporéncia do observador na produgéio dos fenémenos quainticos. Para ele, observador ndo sé testemunha os atributos do evento fisico, como também influencia ne forma como essas qualidades se manifestarao. Pauli declara: A.ciéncia da microfisica, devido & ‘complementaridade” bésica dos situagées, enfrenta a impossibilidade de eliminar os efeitos da intervengdo do observador por meio de _nevtralizantes determinados ¢ deve, portante, abandonar em principio qualquer compreensdo objetiva dos fenémenos fisicos. Onde « fisica cléssica ainda v8 0 determinismo das Isis causais da notureza nés agora sé buscomes eis estatisticas de probabilidades imediates’. [...] Nenhuma lei natural deve ser formulada dizendo-se “tal coisa cconteceré em tal circunstancia”. Tudo © que © microfisico pode ofirmar € que “de acordo com as probabilidades estotisticas, tal fonémeno dave acontecer (von Franz, 1964/2008, p. 308). Para a fisica quantica, atomes e moléculas nao tém reolidade objetiva, sée pens potencilidades. 1? Segundo Jung (1946/1991), os arquétipos implicam em potencialidades psiquicas que poderdo ser atualizadas ou constelades na consciénei Os orquétipos expressam @ manifestam imagens universais, mitolégices, © refleiem padrées de relacionamentos que pertencem @ toda humanidade. Quando constelodes no consciéncia, exisiem enquanto contexte, enquento Self Rey Inet Junguiane Sao Paulo, 2020503 EE Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo ALB Autrane (comunicagao pessoal, 18de ‘maio de 2016), “ALB Auane (comunicacto pessoal, 18de ‘maio de 2016), uma vivéncia humane individual. Jung (1997) escreveu que os orquétipos sdo tendEncics instintives e formas de pensor a eles correspondentes. Os arquétivos s60, portanto, mediadores das tend&ncias e potenciclidades psiquicos. Pars conduzimos ainda mois lenge @ comparagao entre a psicologia @ a microfisica: aquilo a que Jung chama arquétipes (ou esquemas de comportamento emocional @ mental do homem} fombém se poderia chamar, empregando-se termos de Pauli, “probabilidades dominantes das reagées psiquicas”. [..] “Nao existem leis que governem a forma especifica em que 0 arquétipo vai emergir do inconsciente. Existem “tendéncics” que, mais uma vez, nos permitem openas dizer que é provével acontecer um certo fenémeno em determinadas sitvagées psicolégicas (von Franz, 1964/2005, p. 308). Entretanto, os arquétipos servem como ligagdes diretas entre a psique 6 0 mundo fisico, sendo que o aspecto psicoide do arquétipe serve de ponte entre o mundo interior € 0 exterior, entre c psique e a matéria. A naturezo psicoide dos arquétipos pode estender-se olém de uma base psfquica pera padrées dinémicos gerais de motéria e energia (Jung, 1946/1991] A teoria quéntica intrinsicamente psicofisice. A ideia bésica 6 que o realidade néo 6 feta de qualquer substéncia material, mas sim de potencialidades dos eventos ecorridos. "9 A consciéncio do sujeito que examina a trajeiérie de um elétron voi definir como seré seu comportamento, Segundo Capra, a particula € despojada de seu cardter especifico se méo for submetida 4 andlise racional do observador. Ou seja, tudo se interpenetra 9 torna-se interdependente: mente maténia; 9 individuo que observa € 0 objeto em andlise.* Por sua vez, na reflexio @ andlise sobre o pardmetro quéntico do Néo ica, observa-se Localidade em relagdo cos fenémenes da psicologia ana que no nivel quntico, os objetos ndo existem independentemente um dos outros. Tudo esté conectado a uma fonte vibratéria original, @ existe um campo, uma forga, uma energia, que se move em tudo, através de nés. A dei central € a de que parifculas em estado de emaranhamento se influenciam métua ¢ instantoneamente, independentemente da distancia em que se encontram, realizando © proceso chamade de nao localidade quintica, Troto-se de uma verdadeira teia de interconexdes — emaranhamento quéntice. Self Rey Inet Junguiane Sao Paulo, 2020503 Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo De acordo com Jung, fazemos parte de uma rede dinémica interligada. A fese de Jung (1946/1991) € a de que hé uma dimenséo na qual a psique & ‘© mundo interagem intimaments @ se refletem reciprocamente. Nos escritos de Jung (1946/1991): “nda hé processos psiquicos isolades, como ndo existem processos vitois isolados” (p. 28, §197). © autor também ofirma que: “na representagéio arquetipica € na percepgdo instintive, 0 espinto matério se defrontam no plano psiquico”. (Jung, 1946/1991, p. 153, §420). Jung tomou emprestado 0 termo “Unus Mundus” pore felar do realidade potencial uniféria, que engloba a duslidade psique © matéric. Nesso realidade potencial, encontram-se as pré-condigdes arquetipicas que véo determinar o fenémeno empirico, seja ele fisico, seja ele psiquico. Para a teoria junguiana, no mundo da matéria ou no mundo da psique, este Unus Mundus née tem tempo nem espago; por isso, sto posstveis os sonhos, as telepatias, premonigées @ clarividéncias. Em outras palavras, 6 algo que soi completamente da causa e efeito © que leva a um novo elemento. Segundo Jung (1946/1991), as conexdes existentes entre 0 mundo © 0 psique ocorrem quando os arquétipos operam simultaneamente, por meio dos fenémenos da sincronicidade, em ambas as esferas: a da psique © a do matéria. A sincronicidade, no seu sentido mais restrito, seria @ simultaneidade de um estado psiquico subjetivo com um evento externa objetive, trazendo & consciéncia uma vivéncia significativa. Em outras palavras, 6 uma “coincidéncia” entre um evento psiquico € um acontecimento fisico, que tem um significade importante para a pessoa de acardo com as quesiées © conflites individuais. A expenéncia da sincronicidade € a experiéncia humana da interligagao, & um evento Gnico e individual e, co mesmo tempo, 6 a manifesiagéo de uma ordem universal. A sincronicidade 6 caregada de emogéo e traz um novo significade, um novo simbole, um novo sentido, que alé entée néo tinha sido percebido @ vivenciado. Jung acrediteva na existéncia de uma forga dinamica operendo nos bastideres que crio a ordem evidente nos fenémenos da sincronicidade. Pera le, existe na natureza uma fonte de todo conhecimento, um conhecimento a priori: © Self. Estamos permanentemente em contato cam a unidade e com a totalidade ¢, quando necessério, esse conhecimento intuitive pode nos ajudor. Self Rey Inet Junguiane Sao Paulo, 2020503 ET Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo © Self forma a base para 0 que existe de comum nas pessoas € no mundo. No Self, sujeito e objeto, o eu € 0 outro, juntam-se em um campo comum de estrutura e energia. “E a esta uniformidade fundamental do psique inconsciente que os seres humanos devem a possibilidade universal de se entenderem, possibilidade esta que transcende as diferengas das consciéncias individuais” (Jung, 1946/1991, p. 46, §227) Quando © ego est em ligagéo com © Self, uma pessoa mantém-se em relago com um centro transcendent € pode-se dizer que a pessoa esié conectada o uma reclidade mois profunde ¢ mais ampla do que as meras consideragdes pessouis e rocionais tipicas da consciéncia e de seus conflitos, Ume dltima analogia relaciona 0 parémetro de Propriedades de Totalidade com os conceitos da teoria junguiana. Este parémetra descreve que o fendmeno quantice ndo pede ter se composio em fenédmenos parciais, sem que com isso © fenémeno como um todo transforme-se em moneiras Jung (2005) considera necessdrio o ser humano inteiro e o totelidade de psique envolvidos no fendmeno, na observagio e na interagdo com o mundo. Devem estor presentes consciente € inconsciente juntos, pois, ndo é possivel separé-los sem comprometer o funcionamento de ambas as partes ¢ sem comprometer 0 desenvolvimento humano como um todo. Cada neve contetide que vem do inconsciente é alterado na sua naturezo bésico co ser parciaimente integrado no mente consciente do cbservador. E cada ampliagéo do consciente do observador fem, novemente, uma repercusséo © uma influSncia inestiméveis sobre © inconsciente (von Franz, 1964/2005, p. 308). Quando a dinémics psiquica entra em desequilfbrio, por meio de uma atitude unilateral da consciéncia ou pela invasdo de cantetides inconscientes que a consciéncia ndo dé conte de integrar, 0 sistema psiquico inteiro & afetado: nessa condigéo, as relagdes que se estabelecem na vida, 0 contato a percepgio da realidade podem influenciar © fungdo dos fenémenos pslquicos. Dessa_maneira, a fisica precisou incorporar o elemento subjetivo do "ALB Autranc observador no sua pesquisa, que clé entdo ero supostamente objetiva. en ee Enquanto que a psicologia, ao estudar a natureza subjetiva da psique, ‘maio de 2016). chegou & realidade objetiva dos arquétipes,"> das manifestagdes e imagens arquetfpicas. Self Rey Inet Junguiane Sao Paulo, 2020503 Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo Como dito, 0 questéo do sentido esta ligada & procura da totalidade = a uma viséo mais ampla. Ha, entéo, com © novo paradigma, @ possibilidade do retorne do significado @ do sentido: Como exemplo final de evolugéo paralela da microfisica da psicologia, podemos considerar 0 conceito de Jung de significado. Onde, anteriormente, os homens buscavam explicagdes causais (isto é, racionais) dos fenémenos, Jung introduziu a ideia de procurar-se © significado (isto 6, 0 “propésito”). Vale dizer que, em lugar de perguntar por que alguma coisa acontece (0 que a causou), Jung pergunta: para que ela acontece? Esta mesma tendéncia aparece na fisica: indmeros fisicos modernos procuram na natureza mais as “conexdes” do que as leis cousais (o determinismo) (von Franz, 1964/2005, p. 309) Existem sincronicidades entre o desenvolvimento das teorios e as descobertas da fisica quéntica e do psicologia analftica, assim como, nas conclusdes que ambas chegaram em relagdo 4 dinamica do mundo, a teia de interconexdes, & importncia do ser humano e @ fundamental necessidade da participagao da subjetividade no processo de criagdo da realidade Come sabemos, apencs a forga de vontade e determinagdo egoica néo séo suficientes para assegurar nossa agéo no mundo. € preciso também a colaberagéo. do inconsciente que, através dos seus simbolos, propicie © transformagé0 do energia psfquica e a coloca & disposigdo da consciéncia para seus diferentes propésitos (Almeida, 2011, p. 16) Por fim, cita-se aqui © quantum de fisico quéntico: cada mudange no estado do universo, embora induzida pela agée de um operador localizado, promove uma mudanga global nas tendéncias que possam ser atualizadas. Para a psicologia analitica, a conscientizagéo do material simbélico arquetipice traz para © individuo a possibilidade de se relocionar com aquilo que se constela como probabilidade ou potencialidade. Nés constelamos nosso destino, bem como o da humanidade, *A LB. Autranc «. (comneenae constantemente © partir de conscientizagéo de probabilidedes pessoal, 18de arquetipicas. Na teoria junguiana, o psique individual influencia no maio de 2016), todo ©, por sua vez, a psique coletiva macigamente focada é acompanhade de uma ampliagéo significativa no comportamento 6 Self ~ Rey Inet Junguiane Sa0 Paulo, 2020;5:63 da matéria registrada. Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo Consideracées finais: a unidade psicofisica dos fenénemos Na revolugdo que a fisica quéntica promoveu, em busca de respostas objetivas, a ciéncia encontrou-se com questées subjetivas que envolvem a real condigéo da vide. O avange da fisica quéntica representa uma nova etapa da evolugtio humane, um estado de consciéncia em que a psique e a histérial pessoal das pessoas participam de maneira mais profunda na ardem desse universe. 4s analogias dos ideias descnitas nas teonas do fisica quéntica e do psicologic analitica sugerem, come Jung assinalou, uma possivel unicidade final em ambos os campos da realidade que essos éreas do conhecimento. estudam. Trata-se de uma unidade psicofisica de todos os fendmenos da vide Jung, 1946/1991}. “Pauli chamou © problema psicofisico de a questéo mais importante do nosso tempo. Se nés néio estamos presos a pressupostos ALB Astane materalistas, o Unus Mundus psicofisico de Pauli e Jung parece, de fato, ser (comunicacso @ ontologia natural da mecénica quantica”.'” pessoal, 16 de aio de 2016) 7 Portanto, para ambas as ciéncias tudo esté interligado e em conexdo. Refletir sobre isso troz uma nova responsobilidade © comprometimento, indicando que somos responséveis pelo mundo em que vivemos © que criamos realidads todos os dias (Adamo, 2017). Pods-se usar essa convicgdo para promover verdadeiras mudangos nas relagdes humanas: as quesiées do livre-arbftrio e da consciéncia ética recolocam-se para profundas reflexes. Pode-se pensar nas crises sociais que as civilizagées estao vivendo. ‘A real crise no mundo parece ser uma crise de consciéncia, uma incapacidade de experimentar diretamente a verdadeira natureza, uma incapecidade de reconhecer esta natureza nas pesscos, incopacidade de reconhecer © fato de estarem todos conectados. Portanto, € emergencial refletir profundamente sobre o qualidede das conexdes que esiéio sendo estabelecidas. Reconhecer o fato de que estéo todos unidos, interdependentes em alguma dimenstio, 9, por isso, wlnerdveis © dirstamente afetados pelas consequéncias das escolhas € agdes — tonto em ambito individual, quanto coletive. Self Rey Inet Junguiane Sao Paulo, 2020503 Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo A consciéncia de que a vida tem uma significago mais ampla, que eleva o homem acime do simples meconismo de ganhar © gastar, precisa ser resgatada. Os valores humanos ndo podem ser subjugados por valores comerciais. Ir em busca do profundo € um desafio pés-moderno, pais o desprendimento da nossa €poca distancia a pessoa do contato mais profundo com 0 “ser”, do contato com a alma Tiramos de quase tudo o mistéric e o numinosidade; poucas coisas ainda sGo sagradas. Poderfamos ter aprendide que, com ¢ perde do numinoso, do simbélico, perde-se a razéo de ser, 0 sentido do vida e do organizagéo social (Capra & Luisi, 2014); € isso pode acontecer com um individuo em: particular ou com ume cultura @ uma sociedade inteiras. Entretanto, a energia emacional que se manifesta nos fenémenos numinasos no deixou de existir -- mesmo quando ela desaparece de mundo da consciéncia, ela aparece em manifestagées inconscientes (simbolos), que compensam certos distirbios ¢ desequilibrios na dinémica psiquica (Jung, 1946/1991). Jung (1997] |& chamava a atengéo pora a questéio do ser humano ndo compreender € n@o reconhecer a influgncia dos fenémenos simbédlicos & para os perigos de se viver de ume forma unilateral ¢ de se relacionar com 0 mundo com base apenas nos contetidos da consciéncia e da “razéo”. Esté completamente cego para o foto de que, com toda sua racionalidade ¢ competéncia, & pres de forgas entre as quais ndo tom controle algum. Seus deuses © deménios receberam apenas outros nomes, mas née desapareceram. Perseguem-no através de insotisfogSes, vagos temores, complicagdes _psicolégicas, necessidade incontroldivel de comprimides, dlecol, fumo, distas, cuidados higiénicos ¢, sobretudo, através de uma importante série de neuroses (Jung, 1997, p. 243, 8555). Somos, portanto, todos responsdveis pelos caminhos que escolhemas seguir, pela realidade que criamos ¢ pela qualidade das experiéncias que eles nos proporcionam, como também, por suas devidas consequéncias, que podem ser boas ou més, jonto para 9 individue quanto pare o sociedade. E 6 procurando aprimorar as nossas relages, escolhas ¢ atitudes que, simultaneamente, podemos influenciar nas mudangas de mundo. De ccordo com Jung (1994), aquele que fere ou cura alguém, na verdade esté ferindo ou curando a si mesmo. Self Rey Inet unguiane Sao Paulo, 2020503 Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo ‘O mais alto interesse da sociedade livre deveria ser a questdo dos relagdes humanas, do ponto de vista da compreenséo psicolégica, uma vez que sua conexéo prépria ¢ sua forga nela repousom |... ‘onde acaba 0 amor tem inicio o poder, a violéncia ¢ o terror (Jung, 1997, p. 253, §580). A reconexdio com @ alma € os conexées com as pessoas © a natureze podem ser entendidas como © enraizamento existencial 4 vide psiquica. E 0 afeto facilitador dessas conexSes deve ser o amor. Q amor @ a busca de sentido € significades nas relagées, experiéncias ¢ agdes durante os processos da vido. Procurar ser fiel a si mesmo e ao proceso de individuagée. Se queremos verdadeiraments mudar © mundo, entéio, que comecemes por nés mesmes. “Como é necessério que toda a transformagéio tenha inicio num determinado tempo ¢ luger seré o individue singular que o fard eo levaré a término.” (Jung, 1997, p. 260, §599). Referéncias Adamo, C. (2017). A danga como fungéo transcendente (Monografia nao publicada)., Instituto Junguiano de Sao Paulo), So Paulo. Capra, F., & Luisi, P. L. (2014). A visio sistémica do vide. Sée Paulo: Editor Cult Infoescole. (2017). Fisica. Recuperado de hitp://www.infoescola.com/fisicay. Jung, C. G. (1991). A natureze do psique (OC, Vol. VIll/2, Pe. Dom Mateus Ramalhe Roche, trad., 3a ed,). Pelrépolis, RJ: Vozes. (Trabalho eriginal publicacls em 1946). Jung, C. G. (1994). Memérias, sonhos, reflexdes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira Jung, C. G. (1997). A vido simbélica (OC, Vol. 18/1, 2a ed.). Petrépolis, RI Vozes. Jung, C. G. (Crg.}. (2005). O homem e sous sfmbolos (100 ed.). Rio de Joneiro: Nova Frontera. Jung, C. G. (2011). Estudos alguimicos (OC, Vol. 13). Petropolis, RJ: Vozes. Jung, C. G. (2013). © livro vermelho (Ed. sem llustragées}. Petropolis, Ri Vozes. Stein, M. (2004). Jung: o mapa da alma. (8a ed.). $0 Paulo: Cultnx. Von Franz, M-L. (2005). O processo de individuagéo. In C. G. Jung (Org), O hamem e seus simbolos (10a ed., pp. 158-229.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. {Trabalho onginal publicado em 1964) Self Rey Inet Junguiane Sao Paulo, 2020503 Odialogo entre as teorias da fisica quantica € psicologia analitica | Cristiane Adamo Almeida, V. L. P. (2011). Movimento expressive: a integragdo fisiopsiquica através do movimento. In E. B. Zimmermann (Org.]. Corpo ¢ individuagéo (op. 15-38, 2a ed.). Petrépolis, RU: Vozes. Minicurriculo: Cristiane Adamo - Analista membro do Instituto Junguiane de. S60 Paulo (UUSP], do Associagdo Junguiane do Brosil (AJB) e de International Association for Anaiytical Psychology (IAAP) em Zurique, Suigo. Psicéloga clinica, atendendo criangas, adolescentes © adultos. Realiza supervises individuais © em grupos. Membro do Departamento de Arte @ Psicologia da AJB e do Nucleo de Arte e Psicologia Analitica (NAPA) do USP. Pesquisadora no Nicleo de Estudos Junguianos (NEJ), mestranda pelo Pontificia Universidade Catélica de Séo Paulo (PUC-SP). E-mail: cristiane.cdamo@gmeil.com Self Rey Inet unguiane Sao Paulo, 2020503

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