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Empatia Publicado pela primeira vez em 31 de marco de 2008; revisdo substantiva Qui 27 de junho de 2019 © conceito de empatia é usado para se referir a uma ampla gama de capacidades psicolégicas que sio consideradas centrais para a constituigo de seres humanos como criaturas sociais, permitindo-nos saber 0 que outras pessoas estdo pensando e sentindo, nos envolver emocionalmente com elas, compartilhar seus pensamentos, ¢ sentimentos, ¢ cuidar de seu bem-estar, Desde o século XVIII, devido principalmente & influéncia dos escritos de David Hume e Adam Smith, essas capacidades tém estado no centro das investigagdes académicas sobre a base psicolégica subjacente de nossa natureza social e moral, No entanto, 0 conceito de empatia é de heranga intelectual relativamente recente. Além disso, como pesquisadores de diferentes disciplinas concentraram suas investigagdes em aspectos muito especificos da ampla gama de fendmenos relacionados a empatia, provavelmente no devemos nos surpreender com uma certa confusio conceitual e uma multiplicidade de definigdes associadas ao conceito de empatia em diversos discursos cientificos e nao cientificos, O objetivo desta entrada é esclarecer o conceito de empatia examinando sua histéria em varias discussdes filoséficas e psicolégicas e indicando por que a empatia era e deveria ser considerada de importancia tao central na compreensao da agéncia humana em contextos comuns, nas. cigneias humanas, ¢ para a constituigdo de nés mesmos como agentes sociais e morais. Mail especificamente, apés uma breve introdugo histérica articulando 0 contexto filoséfico em que o conceito de empatia foi cunhado, a segunda e terceira segdes discutirao as dimensdes epistémicas associadas s nossas capacidades empaticas. Eles abordarao a afirmagao de que a empatia é o principal meio epistémico para conhecer outras mentes e que deve ser vista como o método tinico que distingue o humano das cigncias naturais. As segdes 4 e 5 se concentrardo em afirmagdes que vem a empatia como a cola social fundamental e que entendem a empatia como 0 principal mecanismo psicolégico que nos permite estabelecer e manter relagdes sociais e assumir uma postura avaliativa em relagao ao outro, +L Introduedo Histérica + 2 Empatia c o problema filoséfico de outras mentes 3._A Empatia como Método Unico das att Humanas © 3.LA Critica da Empatia no Contexto de uma Concepedio Hermenéutica das Ciéncias Humanas © 3.2.A Critica da Empatia no Contexto deuma ‘Concepeio Naturalista das Ciéneias Humanas + 4 Himnata ume fone pico de Explora + 5. Empatia, Filosofia Moral e Psicologia Moral © 5.1 Empatia c motivacio aliruista © 5.2 Empatia, sua parcialidade, © 5.3 Empatia, Julgamento Moral e Autoridade das Normas Morais © Bibliografia Ferramentas académicas ‘© Outros recursos da Internet © Entradas relacionadas 1. Introdugao Histérica Antes do psicélogo Edward Titchener (1867-1927) introduzir 0 termo “empatia” em 1909 na lingua inglesa como a tradugdo do termo alemao “Einfiihlung” (ou “sentimento em”), “simpatia” era o termo comumente usado para se referir fendmenos relacionados & empatia, Se alguém apontasse para um nucleo conceitual para a compreenso desses fendmenos, provavelmente seria melhor apontar para a maxima de David Hume de que “as mentes dos homens sdo espethos umas das outras” (Hume 1739-40 [1978], 365), jé que em ao encontrar outras pessoas, os humanos podem ressoar ¢ recriar os pensamentos e emogdes dessa pessoa em srentes dimensdes da complexidade cognitiva, Embora, como veremos, nem todos compartilhem essa concepgao de ressondncia de empatia (alguns filésofos da tradigdo fenomenolégica a rejeitam enfaticamente), cla certamente constitui o centro da compreensao de Theodor Lipps, hitps:lstanford brary sydney.edu aulentiestempathy! 128 os107i2022 22:44 Empat (Encilopédia de Flosofia de Stanford) Theodor Lipps (1851-1914) também estava muito familiarizado com o trabalho de David Hume (ver introdugdo de Coplan ¢ Goldie 2011 a esse respeito). Mais importante, foi Theodor Lipps, cujo trabalho transformou a empatia/Einflihlung de um conceito da estética alema do século XIX em uma categoria central da filosofia das ciéncias sociais e humanas. Para entender essa transformagao, primeiro precisamos avaliar as quais os filésofos do século XIX achavam necessirio apelar 4 empatia para explicar nossa capacidade de apreciar objetos e artefatos naturais de maneira estética. De acordo com a concepgao positivista e empirista dominante (ainda que nao universalmente aceita), os dados dos sentidos constituem a base fundamental para nossa investigagdo do mundo. Mas do ponto de vista fenomenolégico, nosso encontro perceptivo com objetos estéticos e nossa apreciagdo deles como sendo belos — nossa admiragao por um belo pdr do sol, por exemplo — parece ser tio direto quanto nossa percepgao de um objeto como vermelho ou. quadrado, Ao apelar para os mecanismos psicolégicos da empatia, os filésofos pretendiam fornecer uma explicagdo explicativa do imediatismo fenomenolégico de nossa apres tica dos objetos. Mais especificamente, para Lipps, nosso encontro empatico com objetos externos desencadeia “processos” internos que dao origem a experiéncias semelhantes as que tenho quando me enyolvo em varias atividades envolvendo 0 movimento do meu corpo. Como minha atengdo esti focalizada perceptivamente no objeto extemo, eu as experimento — ou automaticamente projeto minhas experiéncias — como estando no objeto. Se essas experigncias so de alguma forma apreendidas de uma maneira positiva e como sendo, em certo sentido, afirmativas da vida, eu percebo o objeto como belo, de outra forma, como feio. No primeiro caso, Lipps fala de positivo; no ultimo de empatia negativa, Lipps também caracteriza nossa experiéncia de beleza como “auto-prazer objetivado”, uma vez que ficamos impressionados com a “vitalidade” ¢ a “potencialidade de vida” que reside no objeto percebido (Lipps 1906, 1903 a,b. papel na estética ver particularmente Breithaupt 2009; Coplan e Goldie 2011 (Parte II); Curtis & Koch 2009; e Keen 2007. Para uma histéria recente do conceito de empatia ver também Lanzoni 2018). no iiltimo de empatia negativa. Lipps também caracteriza nossa experiéncia de beleza como “auto-prazer objetivado”, uma vez que ficamos impressionados com a “vitalidade” e a “potencialidade de vida” que reside no objeto pereebido (Lipps 1906, 1903 a,b. papel na estética ver particularmente Breithaupt 2009; Coplan e Goldie 2011 (Parte Il); Curtis & Koch 2009; e Keen 2007. Para uma histéria recente do conceito de empatia ver também Lanzoni 2018). no iiltimo de empatia negativa, Lipps também caracteriza nossa experiéncia de beleza como “auto-prazer objetivado”, uma vez que ficamos impressionados com a “Vitalidade” e a “potencialidade de vida” que reside no objeto percebido (Lipps 1906, 1903 a,b. papel na estética ver particularmente Breithaupt 2009; Coplan e Goldie 2011 (Parte II); Curtis & Koch 2009; e Keen 2007. Para uma historia recente do conceito de empatia ver também Lanzoni 2018). Em sua Aesthetik, Lipps liga intimamente nossa percepgao estética e nossa percepgao de outra pessoa encarnada como uma criatura mental. A natureza da empatia estética é sempre a “experiéncia de outro humano” (1905, 49) . Apreciamos outro objeto como belo porque a empatia nos permite vé-lo em analogia com outro corpo humano. Da mesma forma, reconhecemos outro organismo como uma criatura mental por causa da empatia, A empatia neste contexto é mais especificamente entendida como um fenémeno de “imitagdo interior”, onde minha mente espelha as atividades ou experiéncias mentais de outra pessoa com base na observagao de suas atividades corporais ou expresses faciais. A empatia se baseia, em dltima anAlise, em uma disposigdo inata para a mimica motora, fato bem estabelecido na literatura psicol6gica e ja observado por Adam Smith (1853). Mesmo que tal disposigdo nem sempre se manifeste externamente, Lipps sugere que ela esté sempre presente como uma tendéncia intera que dé origem a sensagdes cinestésic: semelhantes no observador como sentidas pelo alvo observado. Ao ver o rosto zangado de outra pessoa, instintivamente temos a tendéncia de imitd-lo e de “imitar” sua raiva dessa maneira. Como nao temos consciéneia de tais tendéncias, vemos a raiva em seu rosto (Lipps 1907). Apesar de os exemplos primérios de empatia de Lipps focarem no reconhecimento de emogaes expressas em gestos corporais ou expresses faciais, sua concepgao de empatia nao deve ser entendida como limitada a esses casos. Como sugerem suas observagdes sobre a empatia intelectual (1903b/05), ele considera nosso reconhecimento de todas as atividades mentais — na medida em que sao atividades que requerem esforgo humano — como sendo baseado na empatia ou na imitagao interior (veja também o capitulo introdutério em Stueber 2006). . Como nao temos consciéncia de tais tendéncias, vemos a raiva em scu rosto (Lipps 1907). Apesar de os exemplos primarios de empatia de Lipps focarem no reconhecimento de emogdes expressas em gestos corporais ou expressdes faciais, sua concepgao de empatia no deve ser entendida como limitada a esses casos. Como sugerem suas observagées sobre a empatia intelectual (1903b/05), ele considera nosso reconhecimento de todas as atividades mentais — na medida em que sao atividades que requerem esforgo humano — como sendo baseado za empatia ou na imitagio interior (veja também o capitulo introdutério em Stueber 2006). . Como nao temos consciéncia de tais tendéncias, vemos a raiva em seu rosto (Lipps 1907). Apesar de os exemplos primarios de hitps:lstanford brary sydney.edu aulentiestempathy! 2028 os107i2022 22:44 Empat (Encilopédia de Flosofia de Stanford) empatia de Lipps focarem no reconhecimento de emogées expressas em gestos corporais ou expressdes faciais, sua concep¢ao de empatia no deve ser entendida como limitada a esses casos. Como sugerem suas observagées sobre a empatia intelectual (1903b/05), ele considera nosso reconhecimento de todas as atividades mentais ~ na medida em que sao atividades que requerem esforgo humano — como sendo baseado zna empatia ou na imitagZo interior (veja também o capitulo introdutério em Stueber 2006). . sua concepgio de empatia nao deve ser entendida como limitada a tais casos. Como sugerem suas observagdes sobre a empatia intelectual (1903b/05), ele considera nosso reconhecimento de todas as atividades mentais — na medida em que sio atividades que requerem esforgo humano — como sendo baseado na empatia ou na imitago interior (veja também 0 capitulo introdutério em Stueber 2006). . sua concepsao de empatia no deve ser entendida como limitada a tais casos. Como sugerem suas observagées sobre a empatia intelectual (1903b/05), ele considera nosso reconhecimento de todas as atividades mentais — na medida em que sto atividades que requerem esforgo humano — como sendo baseado na empatia ou na imitago interior (veja também o capitulo introdutério em Stueber 2006). 2. Empatia e o problema filoséfico de outras mentes Foi, de fato, a afirmagao de Lipps de que a empatia deveria ser entendida como o principal meio epistémico para obter conhecimento de outras mentes que foi o foco de um animado debate entre os filésofos no inicio XX do século século (Prandtl 1910, Stein 1917, Scheler 1973). Mesmo os fildsofos, que ndo concordaram com a explicagdo especifica de Lipps, acharam o conceito de empatia atraente porque seu argumento para sua posigdo estava intimamente ligado a uma critica completa do que era amplamente visto na época como a nica alternativa para conceber o conhecimento de outras mentes. , isto é, a inferéncia de Mill a partir da analogia. Tradicionalmente, a inferéncia da analogia pressupde uma concepsao cartesiana da mente segundo a qual o acesso nossa prépria mente é direto e infalivel, enquanto o conhecimento de outras mentes & inferencial, falivel e baseado em evidéncias sobre 0 comportamento fisico observado de outras pessoas. Mais formalmente, pode-se caracterizar a inferéncia da analogia como consistindo nas seguintes premissas ou tapas, i.) Outra pessoa X manifesta comportamento do tipo 2. ii.) No meu caso, 0 comportamento do tipo 8 & causado pelo estado mental do tipo iii.) Como 0 comportamento externo do tipo B de meu e de-X é semelhante, ele deve ter causas mentais internas semelhantes. (Assume-se, portanto, que eu e as outras pessoas somos psicologicamente semelhantes no sentido relevante.) Portanto: O comportamento da outra pessoa (comportamento de X’) é causado por um estado mental do tipo M. Como Wittgenstein, mas bastante anterior a ele, Lipps argumenta em seu artigo de 1907 “Das Wissen von fremden Ichen” que a inferéncia da analogia fica fundamentalmente aquém de resolver o problema filos6fico de outras mentes. Lipps no argumenta contra a inferéncia da analogia por causa de sua base evidentemente ténue, mas porque ndo nos permite entender seu pressuposto basico de que outra pessoa tem uma mente psicologicamente semelhante 4 nossa. A inferéncia da analogia, portanto, nao pode ser entendida como fornecendo evidéncia para a afirmagao de que a outra pessoa tem estados mentais como nos porque, dentro de sua estrutura cartesiana, somos incapazes de conceber outras mentes em primeiro lugar. Para Lipps, 0 raciocinio analégico requer o empreendimento contraditério de inferir a raiva e a tristeza de outra pessoa com base em minha tristeza e raiva, mas pensar nessa tristeza e raiva simultaneamente como algo “absolutamente diferente” de minha raiva e tristeza. De maneira mais geral, a inferéncia analégica é um empreendimento contraditorio porque envolve “entreter um pensamento completamente novo sobre um eu, que, no entanto, ndo sou cu, mas algo absolutamente diferente” (Lipps 1907, 708, minha tradugio). No entanto, enquanto Lipps diagnostica o problema da inferéncia da analogia dentro do contexto de uma concepgao cartesiana da mente de forma bastante sucinta, ele falha em explicar como a empatia é capaz de nos fornecer uma compreensio epistemicamente sancionada de outras mentes ou por que nosso “sentimento :m” a mente da outra pessoa é mais do que uma mera projeciio. Mais importante, Lipps nfo expli suficientemente por que a empatia no encontra problemas semelhantes aos diagnosticados pela inferéncia da analogia e como a empatia nos permite conceber outras pessoas como tendo uma mente semelhante a nossa, hitps:lstanford brary sydney.edu aulentiestempathy! 328 os107i2022 22:44 Empat (Encilopédia de Flosofia de Stanford) sc estivermos dirctamente familiarizados apenas com nossos proprios estados mentais (Ver Stueber 2006). A critica de Wittgenstein & inferéncia da analogia é no final mais penetrante porque ele reconhece que seu problema depende de uma explicagiio cartesiana dos conceitos mentais. Se minha compreensio de um conceito mental é exclusivamente constituida por eu experimentar algo de uma certa maneira, entdo & impossivel para mim conceber como esse mesmo conceito pode ser aplicado a outra pessoa, dado que ndo posso experimentar os estados mentais de outra pessoa, Portanto, ndo posso conceber como outra pessoa pode estar no mesmo estado mental que eu, porque isso exigiria que eu pudesse conceber meu estado mental como algo que nao experimento, Mas, de acordo com a concepgdo cartesiana, essa parece ser uma tarefa conceitualmente impossivel. Além disso, se nos apegamos a uma concepgdo cartesiana da mente, nao fica claro como o apelo a empatia, como concebido por Lipps, deve nos ajudar a conceber os estados mentais como pertencentes a outra mente. entdo & impossivel para mim conceber como esse mesmo conceito pode ser aplicado a outra pessoa, dado que nao posso experimentar os estados mentais de outra pessoa, Portanto, no posso conceber como outra pessoa pode estar no mesmo estado mental que eu, porque isso exigiria que cu pudesse conceber meu estado mental como algo que ndo experimento. Mas, de acordo com a concepeao cartesiana, essa parece ser uma tarefa conceitualmente impossivel. Além disso, se nos apegamos a uma concepsao cartesiana da mente, nao fica claro como o apelo 4 empatia, como concebido por Lipps, deve nos ajudar a conceber os estados mentais como pertencentes a outra mente. entao ¢ impossivel para mim conceber como esse mesmo conceito pode ser aplicado a outra pessoa, dado que ndo posso experimentar os estados mentais de outra pessoa. Portanto, nio posso conceber como outra pessoa pode estar no mesmo estado mental que eu, porque isso exigiria que eu pudesse conceber meu estado mental como algo que nao experimento, Mas, de acordo com a concepgdo cartesiana, essa parece ser uma tarefa conceitualmente impossivel. Além disso, se nos apegamos a uma concepgao cartesiana da mente, nao fica claro como o apelo 4 empatia, como concebido por Lipps, deve nos ajudar a conceber os estados mentais como pertencentes a outra mente. Portanto, nao posso conceber como outra pessoa pode estar no mesmo estado mental que eu, porque isso exigiria que eu pudesse conceber meu estado mental como algo que ndo experimento. Mas, de acordo com a concepgdo cartesiana, essa parece ser uma tarefa conceitualmente impossivel. Além disso, se nos apegamos a uma concepsio cartesiana da mente, nao fica claro como o apelo empatia, como concebido por Lipps, deve nos ajudar a conceber os estados mentais como pertencentes a outra mente, Portanto, ndo posso conceber como outra pessoa pode estar no mesmo estado mental que eu, porque isso exigiria que eu pudesse conceber meu estado mental como algo que nao experimento. Mas, de acordo com a concepgao cartesiana, essa parece ser uma tarefa conceitualmente impossivel. Além disso, se nos apegamos a uma concepgao cartesiana da mente, nao fica claro como o apelo 4 empatia, como concebido por Lipps, deve nos ajudar a conceber os estados mentais como pertencentes a outra mente, Dentro da tradigdio fenomenoldgica, as deficiéncias acima da posigdo de empatia de Lipps eram bastante aparentes (ver, por exemplo, Stein 1917, 24 e Scheler 1973, 236). No entanto, apesar de nao aceitarem a explicagdo da empatia de Lipps como sendo baseada em mecanismos de ressondncia e projecZo interna, os autores da tradicaio fenomenolégica da filosofia foram persuadidos pela critica de Lipps a inferéncia da analogia. Por isso mesmo, Husserl e Stein, por exemplo, continuaram usando conceito de empatia e consideraram a empatia como um “tipo de ato experiencial sui generis” irredutivel (Stein 1917, 10), que nos permite ver outra pessoa como sendo andloga a nés mesmos sem que essa “apreensao analégica” constitua uma inferéncia de analogia (Husserl 1931 [1963], 141). (Para contrastar sua posi¢’o com Lipps, Scheler preferiu usar o termo “nachfiihlen” em vez de “cinfiihlen”.) Para Scheler, o erro fundamental do debate sobre a apreensio de outras mentes consiste no fato de que nao levar a sério certos fatos fenomenoldgicos. Prima facie, nfio encontramos apenas os movimentos corporais de outra pessoa. Em vez disso, estamos reconhecendo diretamente estados mentais especificos porque eles so caracteristicamente expressos em estados do corpo humano; nas expressdes faciais, nos gestos, no tom de voz e assim por diante. A empatia dentro da tradigdo fenomenoldgica, entdo, no é concebida como um fenémeno de ressondncia que exige que 0 observador recrie os estados mentais da outra pessoa em sua propria mente, mas como um ato perceptivo especial (ver Scheler 1973, particularmente 232-258; 2.1 Neurénios Espelho, Simulagio e a Discussio da Empatia no Debate da Teoria Contempordnea da Mente ‘A ideia de que a empatia entendida como imitagao interior ¢ o principal meio epistémico para entender outras mentes foi, entretanto, revivida na década de 1980 por teéricos da simulagdo no contexto do debate interdisciplinar sobre psicologia popular; um debate empiricamente informado sobre a melhor forma de hitps:lstanford brary sydney.edu aulentiestempathy! 428 os)o7i2022 22:44 Empat (Eneiclopédia de Filosofia de Stanford) desctever os mecanismos causais subjacentes de nossas habilidades psicolégicas populares para interpretar, explicar e prever outros agentes. (Ver Davies e Stone 1995). Em contraste com a teoria da teoria, os tedricos da simulago concebem nossas habilidades comuns de leitura da mente como um método egocéntrico e como uma estratégia “pobre de conhecimento”, onde eu nao utilizo uma teoria psicolégica popular, mas me uso como um modelo para a mente mental da outra pessoa. vida. Nao cabe aqui discutir extensivamente o debate contempordneo, mas deve-se enfatizar que os teéricos contempordneos da simulagio discutem igorosamente como explicar nossa compreensao dos conceitos mentais e se a teoria da simulagao est comprometida com o cartesianismo. Enquanto Goldman (2002, 2006) vincula sua versio da teoria da simulaco a uma explicago neocartesiana dos conceitos mentais, outros tedricos da simulago desenvolvern -versdes da teoria da simulagao que nao esto comprometidas com uma concepgao cartesiana da mente, (Gordon 1995a, b e 2000; Heal 2003; e Stueber 2006, 2012). outros te6ricos da simulagdo desenvolvem versdes da teoria da simulago que nao estio comprometidas com uma concepgao cartesiana da mente. (Gordon 1995a, b e 2000; Heal 2003; e Stueber 2006, 2012). outros tedricos da simulagao desenvolyem versdes da teoria da simulagdo que nao estdo comprometidas com uma concepedo cartesiana da mente, (Gordon 199Sa, b e 2000; Heal 2003; e Stueber 2006, 2012). Além disso, descobertas neurocientificas segundo as quais os chamados neurdnios-espelho desempenham uum papel importante no reconhecimento dos estados emocionais de outra pessoa ¢ na compreensio do irecionamento de objetivos de seu comportamento foram entendidos como fornecendo evidéncias empfricas para a ideia de empatia de Lipps como imitagdo interior. Com a ajuda do termo “neurénio-espelho”, os cientistas se referem ao fato de que ha uma sobreposigdo significativa entre as dreas neurais de excitagdo subjacentes & nossa observago da ago de outra pessoa e as dreas que so estimuladas quando executamos mesma ago. Uma sobreposigio semelhante entre areas neurais de excitagdo também foi estabelecida para nosso reconhecimento da emogdo de outra pessoa com base em sua expressio facial e em nossa experiéncia da emogao. (Para uma pesquisa sobre neurdnios-espelho, veja Gallese 2003a ¢ b, Goldman 2006, cap. 6; Chaves 2011; Rizzolatti e Craighero 2004; e particularmente Rizzolatti e Sinigaglia 2008). Uma vez que 0 encontro face a face entre pessoas é a situacdo priméria na qual os seres humanos se reconhecem como criaturas mentais ¢ atribuem estados mentais a outros, o sistema de neurdnios-espelho tem sido interpretado como desempenhando um papel causalmente central no estabelecimento de relagGes intersubjetivas entre criaturas mentais. Por essa mesma razio, o neurocientista Gallese pensa nos neurénios-espelho como constituindo 0 que ele chama de “variedade compartilhada da intersubjetividade” (Gallese 2001, 44). Stueber (2006, cap. 4) — inspirado na concepgio de Lipps de empatia como imitagio interna — refere-se aos neurdnios-espelho como mecanismos de empatia bisica; Uma vez que o encontro face a face entre pessoas & a situagdo priméria na qual os seres humanos se reconhecem como criaturas mentais e atribuem estados mentais a outros, o sistema de neurdnios-espelho tem sido interpretado como desempenhando um papel ausalmente central no estabelecimento de relagdes intersubjetivas entre criaturas mentais. Por essa mesma razio, o neurocientista Gallese pensa nos neurdnios-espelho como constituindo o que ele chama de “variedade compartilhada da intersubjetividade” (Gallese 2001, 44). Stueber (2006, cap. 4) —inspirado na concepgao de Lipps de empatia como imitago interna — refere-se aos neurdnios-espelho como mecanismos de empatia bisica; Uma vez que 0 encontro face a face entre pessoas é a situago priméria na qual os seres humanos se reconhecem como criaturas mentais e atribuem estados mentais a outros, o sistema de neurdnios- espelho tem sido interpretado como desempenhando um papel causalmente central no estabelecimento de relagdes intersubjetivas entre criaturas mentais. Por essa mesma razdo, o neurocientista Gallese pensa nos neurdnios-espelho como constituindo o que ele chama de “variedade compartilhada da intersubjetividade” (Gallese 2001, 44). Stueber (2006, cap. 4) — inspirado na concepgdo de Lipps de empatia como imitagao interna —refere-se aos neurdnios-espelho como mecanismos de empatia basica; o sistema de neurénios- espelho foi interpretado como desempenhando um papel causalmente central no estabelecimento de relagdes intersubjetivas entre criaturas mentais. Por essa mesma razio, o neurocientista Gallese pensa nos neurénios- espelho como constituindo o que ele chama de “variedade compartilhada da intersubjetividade” (Gallese 2001, 44). Stueber (2006, cap. 4) — inspirado na concepso de Lipps de empatia como imitagao interna — refere-se aos neurénios-espelho como mecanismos de empatia basica; o sistema de neurénios-espelho f interpretado como desempenhando um papel causalmente central no estabelecimento de relagdes intersubjetivas entre criaturas mentais. Por essa mesma razo, o neurocientista Gallese pensa nos neurénios~ espelho como constituindo o que ele chama de “variedade compartilhada da intersubjetividade” (Gallese 2001, 44). Stueber (2006, cap. 4) — inspirado na concepedo de Lipps de empatia como imitago interna — refere-se aos neurénios-espelho como mecanismos de empatia basica;!2] como mecanismos que nos permitem apreender diretamente as emogdes de outra pessoa a luz de suas expressdes faciais e que nos permitem entender seus movimentos corporais como ages direcionadas a um objetivo, ou seja, direcionadas Itpsistanfor.ibrarysydney.odu aulentiesiepathy! 5128 os107i2022 22:44 Empat (Encilopédia de Flosofia de Stanford) 4 um objeto externo como uma pessoa que pega a xicara. A evidéneia dos neurdnios-espelho —¢ 0 fato de que ao perceber outras pessoas usamos mecanismos neurobiolégicos muito diferentes da percepgdo de objetos fisicos — sugere que em nosso encontro perceptual primario com 0 mundo nao encontramos apenas objetos fisicos, Em vez disso, mesmo neste nivel bisico, jé distinguimos entre meros objetos fisicos e objetos que sio mais parecidos conosco (veja também Meltzoff ¢ Brooks 2001). Os mecanismos da empatia basica devem ser vistos como a maneira da Natureza de dissolver um dos principais pressupostos da discussio filos6fica tradicional sobre outras mentes compartilhadas por posigdes opostas como o cartesianismo e 0 behaviorismo; isto é, que percebemos outras pessoas principalmente como objetos fisicos e nao distinguimos jéno nivel perceptivo entte objetos fisicos como arvores ¢ criaturas mentais como nds. Mecanismos de ‘empatia basica podem, portanto, ser interpretados como fornecendo-nos uma base perceptiva ¢ no conceitual para o desenvolvimento de uma estrutura psicolégica popular intersubjetivamente acessivel que & vel ao sujeito e a outros observados (Stueber 2006, 142-45). que percebemos outras pessoas principalmente como objetos fisicos e nao distinguimos j4 no nivel perceptivo entre objetos fisicos como Arvores e criaturas mentais como nés. Mecanismos de empatia basica podem, portanto, ser interpretados como fornecendo-nos uma base perceptiva ¢ nao conceitual para o desenvolvimento de uma estrutura psicolégica popular intersubjetivamente acessivel que é aplicavel ao sujeito e a outros observados (Stueber 2006, 142-45). que percebemos outras pessoas principalmente como objetos fisicos ¢ nao distinguimos j4 no nivel perceptivo entre objetos fisivos como arvores e criaturas mentais como nés. Mecanismos de empatia basica podem, portanto, ser interpretados como fornecendo-nos uma base perceptiva ¢ nao conceitual para 0 desenvolvimento de uma estrutura psicolégica popular intersubjetivamente acessivel que é aplicavel a0 sujeito e a outros observados (Stueber 2006, 142-45). E preciso reconhecer, entretanto, que essa interpretagdo dos neurénios-espelho depende crucialmente da suposi¢ao de que a fungdo primaria dos neurénios-espelho consiste em nos fornecer uma compreensio cognitiva das agdes ¢ emogdes de outra pessoa, Essa interpretagao, no entanto, foi criticada por pesquisadores e filésofos que pensam que a ressondncia neural pressupde, em vez de nos fornecer, uma compreensio do que est acontecendo na mente dos outros (Csibra 2007, Hickok 2008 e 2014). Eles também apontaram que, ao observar a emogo ou o comportamento de outra pessoa, nunca “espelhamos” totalmente a estimulagao neural de outra pessoa. O neurocientista Jean Decety argumentou que, a0 observar a dor de outra pessoa, nossa mattiz de dor vicariamente estimulada nao sensivel 4 qualidade fenomenal da dor. Pelo contrario, é sensivel a dor como um indicador de “aversao ¢ retraimento quando exposto a perigos ameagas” (Decety e Cowell 2015, 6 e Decety 2010). Pelo menos no que diz respeito 4 empatia pela dor, nossa ressonaneia neural também é modulada por uma variedade de fatores contextuais, como quiio perto nos sentimos do sujeito observado, se consideramos a dor moralmente justificada (como no caso de punigio, por exemplo) ou se a consideramos inevitivel e necesséria, como em um procedimento médico (Singer e Lamm 2009; mas ver também Allen 2010, Borg 2007, Debes 2010, Gallese 2016, Goldman 2009, lacoboni 2011, Jacob 2008 , Rizzolatti e Sinigaglia 2016 e Stueber 2012a). No entanto, deve-se notar que a leitura didria da mente nao se restringe ao reino da empatia basica. Normalmente, nao apenas reconhecemos que outras pessoas estio com medo ou que estéio buscando um objeto especifico. Entendemos seu comportamento em contextos sociais mais complexos em termos de suas razGes para agir usando toda a gama de conceitos psicoligicos, incluindo os conceitos de crenga € desejo. Evidéncias da neurociéncia mostram que essas tarefas de mentalizacdo envolvem areas neuronais muito diferentes, como o cértex pré-frontal medial, o cértex temporoparietal e o cértex cingulado. (Para uma pesquisa ver Kain e Perner 2003; Frith e Frith 2003; Zaki e Ochsner 2012). A leitura da mente de baixo nivel no dominio da empatia bisica deve, portanto, ser distinguida de niveis mais altos de leitura da mente (Goldman 2006). E claro que as formas de baixo nivel de compreensio de outas pessoas devem ser concebidas como relativamente conhecimento — pobres, pois nio envolvem uma teoria psicolégica ou conecitos psicoligicos complexos. Como exatamente se deve coneeber habilidades de leitura de mente de alto nivel, se envolvem principalmente estratégias de simulago pobres em conhecimento ou inferéncias ricas em conhecimento é controversamente debatido dentro do debate contempordneo sobre nossas habilidades de leitura de mente psicolégica popular (Ver Davies Stone 1995, Gopnik ¢ Meltzoff 1997, Gordon 1995, “urrie e Ravenscroft 2002, Heal 2003, Nichols e Stich 2003, Goldman 2006 e Stueber 2006). Os tedricos da simulaco, no entanto, insistem que formas ainda mais complexas de entender outros agentes envolvem fendmenos de ressonancia que envolvem nossas capacidades cognitivamente intrincadas de adotar imaginativamente a perspectiva de outra pessoa e reencenar ou recriar seus processos de pensamento (para varias formas de tomada de perspectiva, ver Coplan 2011 ¢ Goldie 2000). Assim, os tedricos da simulagao distinguem entre diferentes tipos de empatia, como entre empatia basica e reenativa (Stueber 2006) ou entre hitps:lstanford brary sydney.edu aulentiestempathy! 628 os107i2022 22:44 Empat (Encilopédia de Flosofia de Stanford) espelhamento ¢ empatia reconstrutiva (Goldman 2011). Curiosamente, 0 debate sobre como conceber essas formas mais complexas de leitura da mente ressoa com o debate tradicional sobre se a empatia ¢ 0 método imico das ciéncias humanas e se é preciso ou nao distinguir estritamente entre os métodos das ciéncias humanas e naturais . [gualmente digno de nota & 0 fato de que no debate contempordneo sobre a teoria da ‘mente se tornaram mais fortes as vozes que afirmam que o debate contemporanco sobre a teoria da mente desconhece fundamentalmente a natureza da cognicao social. A luz dos insights das tradigdes fenomenoldgica e hermenéutica na filosofia, eles afirmam que, no nivel mais basico, a empatia nao deve ser concebida como um fendmeno de ressonincia, mas como um tipo de percepgdo direta, (Ver particularmente Zahavi 2010; Zahavi e Overgaard 2012, mas Jacob 2011 para uma resposta). Formas mais complexas de cognigdo social também no devem ser entendidas como baseadas em teoria ou empatia/simulagdo, mas s4o melhor concebidas como a capacidade de encaixar diretamente unidades de agdes observadas em estruturas narrativas ou culturais mais amplas (para este debate ver Gallagher 2012, Gallagher e Hutto 2008, Hutto 2008 e Seemann 2011, Stueber 2011 ¢ 201 2a, e varios artigos em Matravers e Waldow 2018). Para o ceticismo sobre a tomada de perspectiva empatica entendida como uma identificagdo completa com a perspectiva da outra pessoa, ver também Goldie 2011). Independentemente de como se vé esse debate especifico, deve ficar claro que as ideias sobre leitura da mente desenvolvidas originalmente pelos XX proponentes da empatia no inicio do século XX, jé ndo pode ser facilmente descartado ¢ tem que ser levado a sério. 3. A Empatia como Método Unico das Ciéncias Humanas 20 No inicio do dia No século XX, a empatia entendida como um método nio inferencial e nao tebrico de aprender o contetido de outras mentes tornou-se intimamente associada ao conceito de compreensao (Verstchen); um conceito que foi defendido pela tradigao hermenéutica da filosofia preocupada em explicar os métodos usados para apreender o significado e o significado de textos, obras de arte e ages. (Para um levantamento desta tradicdo ver Grondin 1994), Pensadores hermenéuticos insistiram que o método usado para entender o significado de um texto ou um evento historico deve ser fundamentalmente diferenciado do método usado para explicar um evento dentro do contexto das ciéncias naturais. Esse dualismo metodolégico € notoriamente expresso por Droysen ao dizer que “a pesquisa histérica no quer explicar, isto é, derivar na forma de um argumento inferencial, ao invés disso, ela quer entender” (Droysen 1977, 403), e similarmente na maxima de Dilthey de que “nds explicamos a natureza, mas entendemos a vida da alma” (Dilthey 1961, vol. 5, 144). No entanto, Droysen e autores antes dele nunca conceberam a compreensio apenas como um ato de imitagdo mental ou apenas como um ato de “transportar” imaginativamente a si mesmo para 0 ponto de vista de outra pessoa. Tal “interpretagao psicologica”, como Schleiermacher (1998) costumava chamar, foi concebida como constituindo apenas um aspecto do método interpretativo utilizado pelos istoriadores. Outras tarefas mencionadas neste contexto envolveram avaliar criticamente a confiabilidade das fontes histéricas, conhecer as convengGes linguisticas de uma lingua e integrar os varios elementos derivados de fontes histéricas em uma narrativa consistente de uma determinada época. As diferengas entre esses varios aspectos do procedimento interpretativo foram, no entanto, minimizadas no inicio de Dilthey, Para ele, apreender o significado de qualquer fato cultural tinha que ser entendido como um ato mental de “transposig&io”. (Ver, por exemplo, Dilthey 1961, vol. 5, 263-265). . Ironicamente, a estreita associagdo dos conceitos de empatia ¢ compreensdo ¢ a afirmagao associada de que a empatia é 0 tnico e tnico método das ciéncias humanas também facilitou 0 declinio do conceito de empatia € seu quase total desrespeito pelos fildsofos das ciéneias humanas e sociais posteriores, em ambas as tradigdes analiticas e continentais/hermenguticas da filosofia, Dentro de ambas as tradigdes, os proponentes da empatia cram — por razées muito diferentes — geralmente vistos como defensores de uma concep¢ao epistemicamente ingénua e insuficientemente ampla dos procedimentos metodoligicos nas ciéneias humanas. Como resultado, a maioria dos filésofos das ciéncias humanas e sociais manteve distancia da ideia de que a empatia é central para nossa compreensdo de outras mentes e fenémenos mentais. ExcegSes notiveis a este respeito sio RG Collingwood e seus seguidores, que sugeriram que reencenar os pensamentos de outra pessoa & necessério para entendé-los como agentes racionais (Collingwood 1946, Dray 1957 ¢ 1995). Observe, no entanto, que em contraste com o debate contemporaneo sobre psicologia popular, 0 debate sobre empatia na filosofia das ciéncias sociais nao est4 preocupado em investigar mecanismos causais subjacentes, Em vez. disso, aborda questdes normativas de como justificar uma explicagdo ou interpretagdo hitps:lstanford brary sydney.edu aulentiestempathy! 128 os107i2022 22:44 Empat (Encilopédia de Flosofia de Stanford) especifica, o debate sobre empatia na filosofia das ciéneias sociais ndo se preocupa em investigar ‘mecanismos causais subjacentes. Em vez disso, aborda questdes normativas de como justificar uma explicagdo ou interpretagdo especifica. o debate sobre empatia na filosofia das cigncias sociais nao se preocupa em investigar mecanismos causais subjacentes. Em vez disso, aborda questdes normativas de como justificar uma explicagdo ou interpretagdo especifica 3.1 A Critica da Empatia no Contexto de uma Concep¢ao Hermenéutica das Ciéncias Humanas ciéneias humanas e sociais insistem em uma Gl estrita divisdo metodol6gica entre as ciéneias humanas e naturais. 2 No entanto, hoje em dia eles favorecem o conceito de compreensio (Verstehen) ¢ rejeitam a identificagdo anterior de compreensdo € empatia por duas razées especificas. Em primeiro lugar, a empatia nao € mais vista como 0 método tinico das cigneias humanas porque os fatos significativos, nos quais um historiador ou um intérprete de textos literarios e nao literarios esto interessados, nao dependem apenas de fatos dentro da mente individual. Um istoriador, por exemplo, nao esti limitado pela perspectiva do agente ao contar a historia de um determinado periodo histérico (Danto 1965). Da mesma forma, filésofos como Hans Georg Gadamer argumentaram que o significado de um texto nao esté vinculado as intengdes do autor ao escrever o texto. Os filésofos que defendem uma concepgao hermenéutica di As consideragées acima, no entanto, nio justificam a afirmagdo de que a empatia nao tem papel a desempenhar no contexto das cigncias humanas. Justifica apenas a afirmagao de que a empatia nao pode ser seu tinico método, pelo menos enquanto se admite que reconhecer os pensamentos de agentes individuais tem que desempenhar algum papel no projeto interpretativo das ciéncias humanas. Assim, uma segunda razo contra a empatia também é enfatizada, Conceber a compreensio de outros agentes como sendo baseada na empatia é vista como uma concepcio epistemicamente extremamente ingénua da interpretagdo de agentes individuais, pois parece conceber a compreensiio como um encontro misterioso de duas mentes individuais fora de qualquer contexto cultural, Os agentes individuais so sempre criaturas social e culturalmente incorporadas. Compreender outros agentes pressupde, portanto, uma compreensio do contexto cultural dentro do qual um agente funciona. Além disso, na situago interpretativa das ciéncias humanas, a formagio cultural do intérprete e da pessoa que deve ser interpretada pode ser muito diferente. Nesse caso, no posso facilmente me colocar no lugar da outra pessoa ¢ imitar seus pensamentos em minha mente. Se entender os cavaleiros medievais, para usar um exemplo de Winch (1958), exige que eu pense exatamente como 0 cavaleiro medieval pensava, entio nao esta claro como tal tarefa pode ser realizada a partir de uma perspectiva interpretativa constituida por pressupostos culturais muito diferentes, Dar sentido a outras mentes deve, portanto, ser visto como uma atividade culturalmente mediada; um fato que os tedricos da empatia de acordo com essa linha de critica nao levam suficientemente em conta quando concebem a compreensio de outros agentes como um encontro direto de mentes que é independente e no auxiliado por informagdes sobre como esses agentes esto inseridos em um ambiente social mais amplo. (Ver Stueber 2006, cap.6, Zahavi 2001, 2005; para o iltimo Dilthe, ver Makreel 2000. Para uma discussdo critica sobre se 0 conceito de compreensio sem recurso & empatia é util para marcar uma distingdo epistémica entre as ciéncias ‘humanas e naturais, consulte também Stueber 2012b. Dentro do contexto da antropologia, Hollan e Throop argumentam que a empatia é melhor compreendida como um processo dinamico, culturalmente situado, temporalmente estendido e dialégico, envolvendo ativamente nao apenas o intérprete, mas também seu interpretado. Ver Hollan 20012; Hollan e Throop 2008, 2001; Tropa 2010).). 3.2 A Critica da Empatia no Contexto de uma Concepgiio Naturalista das Ciéncias Humanas Filésofos, que rejeitam o dualismo metodolégico entre as cigncias humanas e as cigncias naturais como defendido no contexto hermenéutico, so comumente chamados de naturalistas na filosofia das ciéncias sociais. Eles negam que a distingao entre compreensio e explicagdo aponte para uma importante diferenga metodolégica, Mesmo nas ciéncias humanas ou sociais, ponto principal do esforgo cientifico é fornecer explicagées (¢ previsdes) epistemicamente justificadas de eventos observados ou registrados (ver também Henderson 1993), No méximo, a empatia recebe um papel heuristico no contexto da descoberta, No entanto, nao pode desempenhar qualquer papel no contexto da justificago. Como particularmente Hempel (1965) argumentou, explicar um evento envolve - pelo menos implicitamente - um apelo a regularidades hitps:lstanford brary sydney.edu aulentiestempathy! 8128

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