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ti ITETURA | CONTEMPT ABA NO BRASIL PRIMEIRA PARTE DE UM ECLETISMO SEM ORIGINALIDADE A AFIRMAGAO INTERNACIONAL DA NOVA ARQUITETURA BRASILEIRA (1900-1945) 4. OS ESTILOS HISTORICOS © panorama oferecido pela arquitetura brasileira or volta de 1900 nada tinha de animador. Nenhuma ori- idade podia ser entrevista nos numerosos edificios eém-construidos, que nao passavam de imitagSes, em feral mediocres, de obras de maior ou menor prestigio tencentes a um passado recente ou longinquo, quan- indo cram meras 6pias da moda entdo em voga na Eu- (Ora, essa evolugdo $6 fi se acentuando durante as tas décadas do século XX. Os cariocas e paulistas Isbastados, que iam com freqiiéncia ao Velho Mundo, ad- jravam em seu contexto natural, os chalés suigos, as f casas normandas de estrutura de madeira apa ‘as moradas riisticas da antiga Franga, os palécios inos ou venezianos, mas néo compreendiam que fencanto dessas casas provinha de sua autenticidade, sua perfeita adaptagio as condigdes do meio e. néo , de sua inseredo num conjunto do qual no podiam desvinculadas. Assim, um notdvel mostrudrio de re- Ses mais ou menos fiis, e sobretudo verdadeiras neiro, em So Paulo e, em menor grau, nas demais fandes cidades do pais. Essc fato era por si s6 suficienr ppara subtrair todo cardter a esses construgées, justa- is de modo arbitrério, mesmo que tivessem alum r estético (0 que era raro). Portanto, o ecletismo que nou entfo plenamente as construgées particulares, ‘menor grau, 0s edificios piblicos era por sua prépria, eza um fato profundamente negativo. O mau gos- fou mesmo a total falta de gosto, que predominava na veio somar-se a esse ecletismo; seria facil enume- 4 série de horrores e fantasias arquiteténicas edi das durante exse periodo!. Mas isso seria de pouco in- se, cabendo estudar apenas as grandes correntes sentativas desse ecletismo de carter hist6rico: ‘so efetivamente 0 reflexo de uma época, ca racterizada pela falta de originalidade e por um com- plexo de inferioridade levados ao extremo sob 0 ponto de vista local, mas que j4 contém o germe dos elemen- tos de ume reago salutar que nfo demorou em se ma nifestar. 1. OS ESTILOS CLASSICIZANTES No Brasil, costuma-se englobar sob o rétulo “neo- cléssico" todos 03 edificios onde se pode notar o empre- go de um vocabulério arqueteténico cuja origem distan- te temonta & Antigiiidade greco-romana. Portanto 0 que se convencionou chamar de neoclassicismo, na realidade ndo passa de uma forma de ecletismo, onde € possivel encontrar justepostos todos os estilos que utilizam co unas, comijas fronibes, da Renescenga italiana a0 Segundo Império franc&s, passando pela classicismo, pe- lo barroco e pelo verdadeiro neoclassico de fins do sécu- Jo XVIII e primeira metade do XIX. Assim, nessa cale- goria de obras nao existe qualquer unidade profunda, ‘mas apenas um certo parentesco, devido ao espirito aca démico que marca as diversas construgSes desse tipo. Existem, contudo, diferencas regionais, que colecam em coposigae principelmente os dois grandes centros, Rio de Janeiro, a capital federal, © Sao Paulo, a metrépole ri- val, de crescimento espantoso devido a0 poderio econé- mico originado da comercializagao do café, 1. A escola carioca © verdadeiro neocléssico foi introduzido no Rio de Janeiro pela missio artistica francesa, que veio a0 Brasil em 1816 a convite de D. Joao VI. O arquiteto Grandjean de Montigny, fundador da Escola de Belas- ‘Artes do Rio ¢ primeiro titular da cadeira de arquite- tura, exerceu considerével influéncia, apesar da tiv dade que a princfpio se estabeleceu entre ele © seus 33 Jegas®. Aos poucos, ele foi impondo & arte oficial. um neoclassicismo puro, construindo edificios de qualida: de (o mais importante {di o da Escola Imperial ou Ace: demia de Belas-Artes) e dando a seus discfpulos uma formacéo muito rigida, bascada nos prinepios aplica- dos na Franga na época da’Revolugio ¢ do Império. Es sa corrente neocléssica tardia prolongou-se, como é 16- 0, por muito mais tempo do que no resto do mundo © 56 comegou a degenerar depois de 1860, quando ou: tros estilos histéricos vieram aos poucos nela se enxer tar, Ainda se podia encontrar seus vestigios por volta de 1900, mas nao passavam de um corpo sem alma, de uma moda como as demais, utilizada para construgdes destinadas a abrigar os poderes oficiais; de fato, 0 es tilo ncogrego (para utilizar © vocabulétio da época) cra considerado como simbolo de majestosidade e equilt brio, especialmente apropriado para sedes do governo, assembléias legislativas e tribunais. Esse simples fato basta para provar a influéncia exercida pelo espirito da missdo francesa na mentalidade brasileira, ou melhor, na mentalidade da aristocracia e da grande burguesia que dirigiam o pais. Quase todas as casas do centro da cidade, com suas fachadas semelhantes alinhadas mas sem solugio de continuidade de ambos os ledos da rua, wonservaram seu aspecto portugués durante todo 0 século XIX; alias, era freqiiente que elas fossem cons- truidas por pedreiros portugueses, cuja imigragio era constante. Em compensacio, os edificios péblicos, ¢ de pois 0s palicios ¢ grandes casas da classe dominante, adotaram 0 vocabulério arquitet6nico importado pelos franceses. Assim, uma rivalidade cada vez maior colo- cou em confronto o antigo mestre-dé-obras de origem portuguesa ou local, formado no canteiro de obras, e 0s arquitetos, safdos da Escola de Belas-Artes do Rio ou vindos da Europa. O triunfo destes havia se tornado evi- dente desde 1880, de tal forma que 0 grupo rival foi forgados a imité-los, ao menos parcialmente, e a utilizar, como eles, as'novas possibilidades da técnica moderna, a fim de tentar sobreviver’. No infcio do séeulo XX predominava portanto no Rio de Janeiro a influéncia francesa: aproveitando a plantada pela misso francesa de 1816, esta havia se fortalecido apds um ligeiro eclipse nos’ anos 1860-1900, quando a Renascenca italiana os palécios romanos do séeulo XVII eram fonte de inspiragao mui- to freqiiente'. © prestigio de Paris, no auge naquela épo- ca, contribuia significativamente para isso: as grandes obras de Haussmann (que tinham dado & capital fran- ccesa um novo aspecto, com a criagao de grandes aveni- das) obcecavam os espfritos e fizeram com que Fran cisco Pereira Passos, quando prefeito do Rio (de 1902 a 1906), destruisse parte do centro antigo para abrir am- plas avenidas das quais a principal foi a Avenide Cen- 2, CL A. DEE. TAUNAY, A Minge Artic de 116, Rin, Palin fy t Diviote do Pruimiis indie "Aveo Nason, ne «ade eaQOSEA, Decemeae 4. 0F J. GIURIA, cla Riera Argue et Beal nd separa in Revit dela Sctded tr Aigo te le iene vi, Tae ein, Raila fo SPAN, a 4 tral (hoje, Rio Branco). Alids, sua abertura demonstrou como havia mudado a mentalidade dos arquitetos: tor naram-se, acima de tudo, fazedores de projetos, traba Thando no papel e pelo prazer de desenhar plantas e fae chadas, mesmo sabendo tratar-se de um gesto puramen te gratuito; o concurso de fachadas instituido em 1903 para os edificios da futura Avenida Central teve 138% candidatos, embora nem 0 governo nem os particulares tivessem se comprometido a executar os projetos vences dores®, De certa forma, isto era tipico do gosto da épo4 e do espfrito da “Escola de Belas-Artes”, que cada di dominava mais. Nao é de espantar que, no momento em que icava o principio de Haussmann em matéria de urb mo, também se tenha manifestado a influéncia d arquitetura do Segundo Império francés. Esta havia pee netrado amplamente por toda a Europa ¢; por vee havia mesmo exercido em outros paises uma influéni mais profunda do que na Franga®. Este estilo chegou a Rio com certo atraso, o que pode ser sentido princi mente em alguns edificios publics, Entretanto, suas ¢ racteristicas principais podem ser encontradas em gram de mimero de construgdes particulares, sem que os at tores destas tenham tido plena consciéncia disso; estesy enquanto acreditavam seguir o estilo Lufs XIV, L XV ou Luis XVI “modernizado”, freqientemente tavam mais préximos do Napoledo III do que dos mo delos originais. O edificio de estilo mais nitida e cong cienciosamente Segundo Império é 0 que abriga hoje Escola 0 Museu Nacional de Belas-Artes, obra de Adgk pho Morales de los Rios, arquiteto de origem espankig la, exaluno da Escola de Belas-Artes de Paris ¢ di cipulo de Guénepin. Construido em 1908 para abriga a venerdvel instituicdo académica e suas colecces, qi 4 no cabiam no elegante palécio neocléssico de Gran jean de Montigny, a nova constru¢do era uma imitag do Louvre de Visconti ¢ Lefuel, imitagao especialmi visivel na ala principal, cuja fachada dé para a Aven da Rio Branco (Fig. 1). Pavilhdes com coberturas ef mansardas (retos na extremidade, convexos no centr arcadas em arco-pleno flanqueadas por macigos pil com ranhuras no pavimente térreo, ordem corintia, 6 riftides no ético dos pavilhées, alternéncia de fronts triangulares e circulares (estes seccionados no cenit — todos estes elementos, essenciais na fachada do seu carioce, provém diretamente de Paris e, mais pa cisamente, do Louvre de Visconti ¢ Lefuel. O parents ‘entre 0s dois edificios fica evidente & primeira vista, sar de algumas diferencas, como a coluna do andar bre existente no Rio ¢ a falta de uma decoragio em levo to abundante quanto a do edificio parisiense, resultado, contudo, ¢ infeliz: a obra de Morales de ,, muito atarracada, nao tem distingao nem eat brio ‘de proporgdes; 0 sentido de majestosidade que novo Louvre transmite transforma-se, aqui, emt coisa pesada, desprovida de harmonia TNHAS, DE QUEIROZ, Arqutctaa « Dereralsinent, amo te 00h pp R_HITCHCOCK, drcilcape, Nincgath, ond Toentath G Se oe aS ca trie), Haedmonmor traba- fa. amen- 1905 138 J Adolpho MORALES DE LOS RIOS. Musew Ne clonal de Belas-Artes. Rio de Janciro, 1208. Menos marcada ¢ a influéncia da arquitetura do mdo Império no Teatro Municipal (1906-1909), vagamente na Opera de Charles Garnier, na Ma elevacao e na decorago interna, feita ori ente de mérmores e bronzes". Foi construido por Bisco de Oliveira Passos, engenheiro conselheiro da istracfo municipal, vencedor de um concurso ins- Bem 15 de outubro de 1903 ¢ julgado em margo Persistem diividas quanto a imparcialidade do incipalmente quando se considera que se tratava ho do prefeito na época, Francisco Pereira Passos, pel decisivo no campo urbanistico jf foi assina. E certo, porém, que esse projeto correspondia per- ile a0 gosto da época, muito mais do que o de Dubugras, cujas caracteristicas art nouveau nio devidamente apreciadas. Oliveira Passos era en , mas no se preocupava apenas com proble enicos. Utilizou amplamente o ferro e 0 aco para fa Ou suporte da ciipula central c dos pisos, pois S65 materiais mais adequados para resolver os pro: Fes ardante documents fotos de fem SiS to brine ce fee do in blemas apresentados. Mas no havia af nada de novo: eta a aplicagdo pura e simples das solugdes encontrae das durante a segunda metade do século XIX. Em com pensagao, eram evidentes as preccupagées estilisticas © até arqueol6gicas®: o aspecto de conjunto, em estilo Se gundo Império, foi procurado, propositalmente, em rae 20 do prestigio da Opera de Paris; até mesmo as tor rinhas de angulo coroadas por cGpulas que flanqueiam a fachada estio plenamente no espitito da época, em- bore nada tenham a ver com a Opera de Paris em si © gosto pelo estilo Napoledo IIL, claramente sem sivel na primeira década do século, declinow posterior mente, e assistiu-se a um retomo aos estilos anteriores, que continuaram a ser essencialmente franceses. O pres tigio do classicismo francés era tal que classificavamese 05 edificios com caracteristicas cléssicas em trés cate gorias principais: Luis XIV, Lufs XV e Luis XVI, segundo sua decoragdo fosse mais ou menos rica suas fachadas fossem planas ou tivessem corpos ava sados ligeiramente salientes. O arquiteto carioca que Scupou entéo © primeiro plano foi sem divida Heitor de Mello, em atividade de 1898 2 1920, quando morreu prematuramente. Durante esses vinte ¢ dois anos, elae borou oitenta e trés projetos, dos quais quatorze nfo foram realizados. A importincia a ele atribulda por seus contemporineos € ressaltada pela homenagem, Péstuma prestada no nimero inaugural da primeira revista de arquitetura do Brasil’: podese af ver a tela: dio de todos 0s seus trabalhos © a indicagdo do “estilo” em que foram construidos. Essa relagio é particular mente instrutiva, pois mostra como o ecletismo esta entdo profundamente enraizado na mentalidade brasi leira; e explica 0 verdadeiro carrossel arquitet6nico da. época, quando o mesmo arquiteio mudava de estilo de uum projeto para outro, sem o menor constrangimento, Contudo, 0 exame da obra de Heitor de Mello revela uma nitida predominancia dos estilos classicizantes,, tanto em némero (quarenta ¢ dois projetos somando-se 08 estilos Renascenca, Francisco I, Luis XIV, Luis XV, Luis XVI, Adams ¢ neogrego), quanto em importancia, Quase todos os edificios piblicos obedecem a tais esti Jos, enquanto que os estilos pitorescos regionals eram reservados as casas particulares e sem divide comes pondiam ao gosto de seus proprietérios. Além disso, existe uma divisio caracteristica dos estilos cléssicos segundo a fungao do imével: o Francisco I era utilizado para quartéis © postos policiais, o Luis XIV ¢ prime cipalmente o Luis XVI e 0 neogrego eram quase obri- g2trios para_os demais edificios piblicos (hospitais, clubes, correios, prefeituras, bibliotecas, sedes de assembléias legislativas, palécios de justica, que, aliés nio foram todos construfdos), ¢ 0 Luis XV convinha fis residéncias particulares de’ alto luxo. © apogeu de Heitor de Mello situa-se na éltime écada de sua vida, relativamente curta, Nessa época, ecebeu muitas importantes, —algumas Oficiais (como o imével da Assembléia Legislativa © 0 Palicio da Justica do Estado do Rio, em Niter6i, ou a Prefeitura do Rio de Janeiro), outras particuleres (como a sede do Jockey Clube e do Derby Clube da antiga capital federal). Todas essas obras possuem uma distingdo que geralmente faltava as construgées da ép © trazem a marca pessoal de Heitor de Mello, Na cabe aqui dar muita importincia as afirmagées das més linguas rivais, que garantiam que o estilo do mestre mudava cada vez que empregava um “negro” novo. E certo que o atelié de Heitor de Mello foi a primeira organizagio comercial do género no Brasil ¢ logo atingiu grande envergadura, mas, como observou Licio Costa!®, o sabor caracteristico de suas realizagoes, desapareceu depois de sua morte; scus auxiliares ¢ sucessores n&o puderam manté-lo, nem reencontré-lo, prova evidente do papel desempenhado por Heitor de ‘encomendas Heitor de MELLO. Derby Clube. Rio de Janeiro. Brana, Rio de Jnsva, 1852, p. 2. A sede do Jockey Clube (1912), na A Femce c tum da henna Bee catgtte tovide oon coor tr aes Vetble © Weldena Bordance; fol tet divida, Inspired ¢ copieda da excaltuen fram BEIGE? {yodees meso encontrar il peesuladietysics ds Marl), que ter com Gil Seam aualiiesta ée "Lui XIV", cobail $l cerns do pollen cs ta teeta ee aiceicainG: do Sequad> Tel 3 gue do oboe Xvi Hast Wotan tacit cds armontoae “Lufs XVI", 0 Derby Clube, (1944 conttnguo a sede do Jockey Clubs) e a Prefeitra (1920 ambos derivados da arquitctura classica francesa, primeiro (Fig. 2) foi construido num terreno bastante} Eorelioye ete pais conallurs, © os the Coal tank PEERS nicl pouco ortcocs, boar gada de modo feliz pelas pronunciadas saliéncias hori Saas dei baled) Sopetenira, andar role a cornijas que enquadram o ético; o andar nobre é duploy oe eee eee wien cohen! oe capitel j6nico conserva sua unidade arquiteténica © atenua tanto quanto possivel a excessiva elevagdo dessa) parte do edificio. Naturalmente, as consideragées prdg ticas e os interesses de ordem financeira prevaleceram) sobre a exatidao histtrca e eatlica: eli, ea rl era uma grande preocupagdo: certos elementos arquiy teténicos, como os consoles em volutas sustentando 0 balcao, esto muito mais ligados @ arte do século XVIT do que 8 do XVIII. O mesmo ocorre com a Prefeitura Fig. 3), cuja fachada para a Praca Floriano é con: tuida por um pavimento térreo com ranhuras, vazedo deportes ¢ janclas em arco-pleno, encimado por uma colunata jGnica flanqueada por dois pavilhdes coroados com aqueles pequenos templos que se gostava tanto, de erigir nos parques durante o reinado de Lufs XVI ‘em contrapartida, as estétuas postadas nos cantos Fig. 3. Heltor de MELLO. Prefeitura. Rio de Janeiro. 1920. base desses pequenos templos e, de modo geral, toda a escultura do seu coroamento provém diretamente do Versalhes de Luis XIV. Portanto, empregava-se indi- ferentemente nos mesmos edificios 0 vocabulétio formal das diversas épocas do classicismo francés, © a dis fingdo entre os estilos Luis XIV, Lufs XV ¢ Luis XVI idevia-se, antes de tudo, a algumas caracterfsticas gené- icas: coroamento do edificio com mansardas para 0 IPrimeiro, corpos avangados ligeiramente salientcs ¢ Wecoracio mais ou menos rococé para o segundo!, Fachadas retilineas em planta e retangulares em eleva Igfo, tetos planos mascarados por balaustradas para 0 Giltimo, mais ou. menos inspirado na arquitetura de facques-Ange Gabriel", Faziase uma distingao cuida- entre o Luis XVI e 0 neocléssico, chamado ogrego, mais austero, sem decoragies em relevo, com ‘volume cibico ainda mais acentuado pelo fato de a jagao da fachada desenvolver-se no plano tinico da nua, coroada por um grande frontio susten- do por uma ordem colossal. Esse estilo severo foi ptado por Heitor de Mello em Niterdi para a sede ‘Assembléia Legislativa e do Paldcio de Justiga do ido do Rio, bem como para os projetos nio construt de um Palicio do Congress Nacional (entre 1898 1905), ¢ depois para o de um Palicio do Senado deral (entre 1914 © 1920). ‘A morte sdbita da Heitor de Mello marcou o gio do declinio dos estilos classicizantes. Ele possuia indiscutivel conhecimento da arquitetura do pas- ; evitava toméla como modelo e copiéla fiel- ene; de fato, nio existia qualquer preocupaséo jolégica; misturava estos, utilizava certos ele- tos formais num contexto completamente diferente Crriginal, mas sabia efetuer esses arranjos © dava toque particular a cada um de seus ediffcios. Estes spondiam ao programa espectfico que Ihe havia @ proposto, mas tal programa funcional era inte- ‘numa concepoio formal predeterminada, sem chegar a desvirtué-la. Existia, conseqiientemente, grande unidade arquiteténica nas obras de Heitor Mello, embora uma andlise detalhada evidencie seu tismo académico. Seus sucessores, pelo contrério, nfo souberam fer esse equilibrio. Quando, em 1922, os herdeiros teu atclié, Arquimedes Meméria e F. Cuchet (tam- professores de composicdo na Escola de Belas- 3) receberam, do presidente da Camara dos Depu- , Amolfo de Azevedo, a incumbéncia de projetar io destinado « essa assembiéia, realizaram um smento mediocre, pesado e sem o mesmo interesse #3. A construgéo prestavase muito bem & sua 0 interior estava disposto com habilidade: a ira de concreto armado, oculta dentro de paredes jolos, assegurava plena liberdade aos arquitetos; 0 fo era iluminado por vasta cupula dupla, cujo 1, Archie cite Des nV 491, ute de ‘ning stn segundo andar, em estruturk metélica, era provido de grandes paingis de vidro, por onde penetrava livre: mente a luz, Embora os problemas técnicos tivessem sido resolvidos satisfatoriamente, o mesmo néo ocorria ‘com 0 aspecto geral do edificio: a mistura do portico corintio, inspirado na arte antiga, com estétuas que tendiam para o barroco 2 coroavam um corpo avangado macigo, chocante pela nude de sua parte superior com uma cipula de perfil renascentista, cujo volume ¢ materiais no esto em harmonia com a planta e @ decoragdo interna, que lembram e Opera de Paris, desva- Joriza a obra — que, por causa de sua feitra, nem chega a alcancar a monumentalidade ¢ imponéncia dese- jadas. E evidente que Meméria © Cuchet pouco se am pelos estilos cldssicos e que suas preocups: ses voltavam-se para outra direcio, a do estilo neocolonial, tendéncia que se afirmava dia-a-dia, depois da Exposigio Internacional do Centenério da Indepen- déncia do Brasil. Alids, neste estilo foram muito mais felizes, mas 0 preconceito em favor de uma arquitetura oficial’ classicizante ainda estava muito enraizado na mentalidade das classes dirigentes para que, nesse caso especifico, 0 tabu pudesse ser transgredido. Depois da Primeira Guerra Mundial, a influéncia francesa foi reforcada pela presenca, no Rio, de varios arquitetos vindos da Franca. OQ. primeito prédio de apartamentos construfdo na cidade foi projeto da firma Viret ¢ Marmorat; segundo Licio Costa, que conheces © edificio, podia-se dizer que ele tinha sido transpor- tado diretamente de Paris’. © Hotel Copacabana Pa lace! foi projetado e construido em 1920 por André Gire, ex-aluno da Escola de Belas-Artes de Paris; a planta, perfeitamente académica e simétrica, resolvia de modo pratico os principais problemas funcionais do complexo programa, dado tratar-se ao mesmo tempo de um hotel de alto luxo e de um cassino; a deco- ragdo era em “ estilo Luis XVI", mas tratava-se apenas de revestimento aplicado sobre’ uma estrutura oculta. Gire também construiu a estado Bardo de Maud, uma das principais do Rio, e, um pouco mais tarde, outros dois arquitetos franceses, Sajous e Rendu,, também desempenhavam um papel importante. Quando se tra tou de estabelecer um plano urbanfstico para o Rio de Janciro, mais uma vez foi chamado um francés, ‘Alfred Agache, Todos esses arquitetos, formados pela Escola de Belas-Artes de Paris, nao pertenciam mais ao ecletismo classicizante propriamente dito; conserva: yam certos principios do classicismo (como a simetria © 0 cuidado da medida, 0 senso de proporgio), mas evitavam, salvo algumas excegdes, empregar 0 vocabu- Tétio do estilo; procuravam timidamente uma arquite- tura que, sem romper com o passado, tirasse prov das possibilidades dos novos materiais disponiveis especialmente do concreto armado, Sofriam a influéncia de Perret e encontra-se neles o desejo de simplificagao Classica deste, mas sem 0 mesmo conhecimento € & mesma originalidade. Ora, essas novas tendéneias cone Manna ce 13 de Jono “sh eB, com 6 Se 4, L. COSTA, argo pubicde no Corrie ei raprodai ems Sole tra ‘Bapnensn fe wn Argue Carica + Baa ce «Utena 2 oeania do 185, oe 37 denavam irremediavelmente a arquitetura formal das duas primeiras décadas do século. Além do mais, ofe ciam uma solucio para o desenvolvimento da cidade, que rapidamente se transformava numa grande metr6- pole. © concreto armado, cuja utilizacio em grande escala difundiuse depois da guerra de 1914-1918, per- mitia a construgo econémica de grandes iméveis sem cardter, que se multiplicaram com a especulacdo imobi- Tiéria!® © que, depois de inundarem a arquitetura pri- vada, invadiram também a arquitetura pibl entiéo dominio reservado da arte classicizante. Os enor- mes blocos de forma cébica ou em paralelepipedo, com fachadas despojadas, sem molduras nem ornamentos, do Ministério da Guerra e do Ministério do Trabalho, sao exemplos significativos desses edificios utilitérios que nao tinham o menor interesse estético © que continua. ram sendo construidos mesmo depois da eclosio do movimento “‘moderno”. Com efeito, ao contririo do que or vezes se pensa, ndo foi este movimento que matou © ecletismo inspirado nos estilos cléssicos; o ecletismo ji havia sido quase completamente abandonado no Rio nos iltimos anos que precederam a revolueao politica de 1930, ponto de partida da reforma da Escola de Belas-Artes sob a diregio de Lucio Costa, 2. 0 caso de So Paulo A capital do café conheceu um ecletismo pelo menos equivatente 20 do Rio, ¢ ali, mais uma vez, 05 estilos classicizantes tiveram papel importante nas primeiras décadas do século, Contudo, o contexto onde se desenvolveram era totalmente diferente. A tradiglo neocléssica, solidamente implantada no Rio pela missio francesa de 1816, surgiu com atraso em Séo Paulo. Até por volta de 1880, a cidade tinha o aspecto de um bburgo colonial e apenas algumas residéncias dos plan- tadores de café inspiravam-se nos modelos em voga na capital imperial’?. A ruptura com a tradico local, ocorrida em 1878 com o “Grand Hotel” do alemio Puttkamer, s6 se firtmou com a construcio do monu- ‘mento comemorativo da Independéncia (atualmente Museu Paulista, no bairro do Ipiranga), vasta constru- G0 com arcadas e ordem corintia, sem originalidade nem poesia, mas de proporgées corretas. Projetada pelo italiano Tommazio Bezzi ¢ construida entre 1882 © 1885 por seu compatriota Luigi Pucci, essa obra teve grande repercussio ¢ inaugurou a cra italiana em Sao Paulo. Com efeito, a influéncia peninsular foi tio pro- funda em Sao Paulo quanto a da Franca no Rio de Janeiro, embora por motives diferentes. A enorme imigracgo italiana levou a Sao Paulo mio-de-obra abundante, compreendendo vérios ariesios e pedreiros formados nos canteiros de obra de seu pais de origem: era uma tima oportunidade para os arquitetos italia ‘nos, que também vieram em grande nimero™®; a maioria 16. L, COSTA, op. cit. wp. 180109. 17, Y. DE ALMEIDA PRADO, Sig Paulo Antigo «= Sus Arete: ur lntaghe Brat, ow y= 1d, sino Se OB a ‘is fe. DEBENEDETTI ¢ 8. SALMONI, Arckigue ia 2 Sun ied, Sans agua Tina om S60 Pel 38 ; estabeleceu-se na cidade em definitive, enquanto alguns) como Pucci, que retornou em 1896, voltaram A sua pétria depois de alguns anos. Além disso, muitos imie grantes enriqueceram rapidamente com 0 comércio e a inddstria, formando uma clientela abastada, ¢ mesmo ima (como as familias Matarazzo e Crespi), que) rigui naturalmente dava preferéncia aos compatriotas ali estas belecidos — quando nfo ia buscar arquitetos e construe ores diretamente na Itélia, Portanto existia um ambiente italiano em Sao Paulo nas dltimas décadas do séeulo XIX e, principalmente, nas primeiras décadas do XX; ambiente este que nfo era meramente superfie cial, e sim decorrente de uma firme intengao da colonia italiana de recriar uma atmosfera que atenuasse & nose talgia pelo pais distante que fora preciso deixar. Fol naturalmente © periodo dureo da Renascenga ¢ do) Maneirismo que™forneceu modelos e fontes de inspis agli. O livro de cabeceira dos mestres-de-obra originge rios da peninsula era o Tratado das Cinco Ordens da} Arguitetura de Vignola Contudo, nfo se deve pensar que essa arquitetura italiana foi imposta de modo arbitrario a um meio tradi ional brasileiro que no estava preparado paral recebéla, Pelo contrério, nfo houve qualquer resistin cia local. © jtalianismo estava na moda; predomin também no Rio de Janeiro entre 1860 ¢ 1900, € aristocracia dos plantadores de café adotou-o com’ enti siasmo. A diferenga esti em que, devido as circunstf cias favordveis encontrades om ‘Sio Paulo, ali cle 8 manteve vivo durante muito mais tempo que no Ri € néo foi inteiramente suplantado pelos estilos fr ceses, Mas 05 arquitetos italianos ndo foram os init 1 introduzir em Sio Paulo as formas ¢ 0 vocabulé cléssico. Até por volta de 1900, os alemaes desemy nharam’ um papel determinante; trazidos a So Pal por seus compatriotas que formavam uma col6nia imy ante ¢ préspera, de imediato passaram a gor grande prestigio, nfo s6 junto a rica clientela indust germinica dos Glette e dos Nothmann, mas tamt junto a importantes familias locais (Prates, Paes Barros, Chaves, Queitoz). Suntuosas mansbes, gf mente isoladas no meio de belos parques, foram ent construidas segundo os projetos de Matheus Hall ¢ Julius Ploy'® nos novos bairros elegantes criados notte ¢ ceste da cidade. A mais importante foi a Elias Chaves (mais tarde, Paldcio dos Campos Elisi eresidéncia do governador do Estado), iniciada em I por Haiissler c terminada por Claudio Rossi, que Peitou fielmente 0 projeto original. Fra uma miscelé curiosa, onde se encontravam lado a lado pérticg loggia italianos, formas vagamente palladianas, avancados laterais & francesa e cobertura com mi das. O resultado, apenas aceitivel, deviose a dosagem muito hébil, mas o precedente aberto set dos mais arriseados, principalmente nas mBgs) dos engenheiros civis que dominaram rapi varias sociedades construtoras. A prova disto est velha fotografia do Parque do Anhangabad, em 08. dois feios 'e coracao da cidade (Fig. 4): Kiichase fotate Ben, Bene, Iedificios em primeiro plano ndo se vinculam a nenhum at da roupagem de que foram revestidos, fim de mascarar a estruture de ferro c as lajes de ereto armado, que tornaram possivel sua construx0 Gum terreno tio instével quanto o desse anti Bo) larbitrariedade com que foram justapostos um emba- Mento de alvenaria grosseira de linhas sinuosas, uma da italianizante com loggia ¢ belvederes, alas que mbram os prédios parisienses de fins do século XIX, o isso coberto de telhados de ardésia artificial com psardas, mostra o baixo nivel a que tinha chegado jtetura nas mos de certos profissionais da cons- jo durante a década de 1910, Apesar de tudo, era mais nobre a terceira “sen- f” do vale, que traziaa marca (ao menos oficial- nte) do mais conhecido arquiteto autéetone da época, mos de Azevedo (1851-1928). Engenheiro da Com- hia Paulista de Estradas de Ferro, cuja sede era smpinas, a 100km de So Paulo, havia estudado ura na Europa, na Universidade de Gand; ali, seguido os cursos de Cloquet, conservando por fa vida a orientagio académica recebida®. Voltando mpinas, foi chamado a Sio Paulo, por volta de por seu protetor, o Visconde de Parnaiba; ali jou uma longa e brilhante carreira que 6 termi- com sua morte, em 1928. Enérgico ¢ dinimico, yndo de um apoio poderoso, logo se impés e garanti sia maioria das encomendas oficiais da. época. fez 0 Paco Municipal (1886), projetou ¢ construiu Fedificios gémeos das Secretarias das Finangas e da eo, mo $8 setembre de 1912, pp, 138 wie; ds’ ptila Pres & eget inf 9 Viaduto Go Chi e's Av. Sao Jato, talon construides fae W600. Be Re as sarees toa, pp. 2651 al Biadicesr, es Depot Justiga (1886-1896), modificando assim inteitamente antigo Largo do Palicio (hoje, Patio do Colégio), que até entdo conservava sua arquitetura colonial. Final- mente, na mesma época, construiu_a Escola Normal (hoje, Caetano de Campos, conclaido em 1894) na Praga da Repiblica, ¢ a Escola Politéenica (1897), onde ingressou como professor em 1894, a fim de org. nizar o curso de engenheiro arquiteto que dirigiu até sua morte, Blocos ciibicos ou prisméticos com massas € volumes simples, claramente definidos, fachadas planas sébrias ¢ bem proporcionadas, divisio tripartida per- feitamente simétcica, ordenada em fungao de corpos ligeitamente avangados constituidos por um pavimento térreo em arcedas, ¢ um andar nobre com colunas frontao, sio as caracteristicas gerais dessas obras pura mente neoclissicas, que um observador incauto pode- ria datar da primeira metade do século XIX. Apenas alguns tragos italianos aparecem dispersos no vocabu- lirio arquiteténico e na decoragao. Ramos de Azevedo estava impregnado de cultura académica: para ele, Vignola era o mestre indiscutivel, exigia dos alunos do curso de composicéo arquite- ‘nica um conhecimento profundo da sua obra; em sita opiniéo esta era a melhor orientagdo que era pos- sivel dar © dedicava especial atengao aos projetos dos alunos, ao controle das proporgoes, chamado de “geo- metria’ do arquiteto”®. Mas nao se deve pensar que suas Gnicas preocupagdes eram o estilo ¢ 0 desenho. Sua formagao técnica de engenheiro © suas qualidades de empresério levaram-no a criar uma empresa de materiais de construgio e mais tarde reorganizar a antiga Sociedade de Difusio da Instrugdo Popular, fundada em 1873, transformada por ele ¢ chama em 1882, de Liceu de Artes e Oficios; a nova in tuigéo tornou possivel a formagao dos artesios quali cados de que ele precisava, em todos os setores. Assim, desde fins do século, Ramos de Azevedo dirigiu uma grande firma, onde ‘empregava muitos colaboradores estrangeiros, "principalmente italianos, destacando-se dentre eles Domiziano Rossi, Claudio Rossi, Felisberto Ranzini ¢ Adolfo Borione. E perceptivel uma mudanga de estilo devida & influéneia destes. © toque neocléssico caracteristico das primeiras obras, ainda visivel na Caixa Econémica, anterior a0 comego do século™, foi entao desaparecendo, eclipsado por um novo estilo, onde predominavam ele- mentos da arquitetura italiana dos séculos XVI ¢ XVII. Inicialmente, foi o Teatro Municipal (1903-1911), onde Ramos de Azevedo parece terse subordinado a Domi- ziano ¢ Claudio Rossi: a concepedo de conjunto é da pera de Paris, mas a maioria dos motivos interiores e exteriores inspirase em modelos do Seicento. Em compensacao, sao mais discutiveis os edificios “Renas- ccenga Modernizada” que entao proliferavam em némero considerdvel. A sede da Associagio Comercial?® (1912) 23,16, p28, Sve, News (alan de Rance de Asevo ma Baal Poise Eegnie, win‘posunormente 4 econar seas mem eal SERYSGS eho Puce de Alea mode na fescds ecorie do movimento smadernos. Seq tesemunhoy eseito © oral, © frei ‘ae oe referee 0% wns de 1912, pe 1H (lo Teta Paltchnces nt PTET a 90, fev. de 1909, yp. 9499 (tora). 39 Fig. 5. Porque do Ankangabat, Séo Paulo, (Por volta de 1920 AZEVEDO, Domiziano ¢ Claudio ROSSI) jd mencionada (Fig. 4, & extrema esquerda) ¢ 0 edificio da Companhia Docas de Santos” sio exemplos caracte- risticos dessa tentativa de adaptagdo de formas antigas @ programas modernos. O aumento da altura e do nidmero de pavimentos permitidos pelas novas técnicas construtivas e exigidos pelos proprietdrios, ou a neces- sidade de colocar lojas no térreo eram fatos novos que alteravam os problemas cléssicos de proporgdes e arranjo das fachadas, mas mesmo assim o atelié de Ramos de Azevedo nao renunciou as galerias em arcadas, as colu- nai, aos entablamentos e as janelas com frontdes. Con- tudo, esse vocabulério arquitetOnico nfo era empre. gado de modo arbitrério, e sim procurava obter (as ‘vezes com sucesso) um novo equilibrio relecionado com estilo imitado. Firmemente imbufdo de suas convicgSes, académicas, Ramos de Azevedo continuou fiel, até 0 fim, a linha de conduta que tragara e nao se deixou seduzir, nem pelos estilos medievais, nem pela atragao exercida pelas experincias do art nouveau ou do estilo neocolonial, embora Victor Dubugras e Ricardo Severo (os principais representantes deste estilo) tenham sido seus colaboradores durante slgum tempo. Condenava como um deslize de seu assistente Domiziano Rossi a tinica obra de aspecto Modern Style realizada por sua firma (uma casa, hoje demolida, na Rua Visconde de Rio Branco) E claro que Ramos de Azevedo no desprezou habitagdo particular, e muitas foram as cases de porte construfdas por sua empresa, O extraordinério cresci- mento de Sd0 Paulo, a especulagao imobiliéria ¢ o surto de arranha-céus que invadiram, a partir de 1940, os antigos bairros periféricos residenciais empurrando-os ‘cada vez mais para longe, e, finalmente, a mania paulista de derrubar ou reformar totalmente toda casa com mais de vinte anos, fizeram desaparecer inapelavelmente os vestigios dessa atividade. A maioria de seus colegas no teve melhor sorte, excetuando-se, talvez, Giovanni Battista Bianchi (1885-1942), autor de algumas mansoes, ainda preservadas (sem diivida por pouco tempo) na 26. Areiiuctwa no Bros, 2 74, shilinio de 192, p. 8 (ito 40 do a invasio dos grandes edificios hé apenas dezena de anos e ainda nao esté comp sumado 0 aniquilamento de tudo o que aspecto anterior. Este arquiteto ita So Paulo de 1912 @ 1927 ¢ de 1933 a 1942; interes nos principalmente 0 primeiro periodo, quando a aris cracia de origem italiana incumbiu-o da construgla) Tuxuosas mansGes isoladas em meio a grandes jard que cm geral ocupam todo 0 querteiro (casas do Attilio Matarazzo, da Condessa Marina Crespi, em 19 de Renata Crespi Prado em 1924; do Conde Adri Crespi em 1925; todas situadas na grande artéria @ gente que cra entéo a Avenida Paulista)"". A casa! Adriano Crespi € francamenie neoclissica no extetl ‘mas seu interior € bastante hibrido: a0 fundo do tibulo central, quatro colunas corintias, finas ¢ demais para respeitar os cénones cléssicos, flanquel uma escadaria de dois lances com corrimdes de fe fundido cujo desenho de arabescos ¢ em estilo nouveau; a decoracéo é inieiramente italiana, quen trate dos estuques em cima das portas, quer dos af de espirito renascentista do antigo salio de miisicas casa de Renata Crespi Prado, com as loggias st postas, os tetos planos e sbbrias paredes vazadas janelas retangulares dispostas com regularidade, ria parecer uma casa romana do século XVI. Eni a de Marina Crespi, embora menos caracteristica, bbém tem uma pequena loggia sustentada por finas eg nas de mérmore rosado © uma decoracéo de es ressaltando 0 contorno das janelas, que a fazem perten & mesma linha das anteriores, onde o italianismo dente e corresponde a uma vontade firme de reconst tum clima que lembre a mie-pétria. O mesmo espitito de ser encontrado nas obras de Giulio Micheli (i 1919) e Giuseppe Chiappori (nascido em 1874), mais caracteristica a sede do Banco Francés e Italian) by. &, pene Hh sha ‘rau i que or tngon rt sigur slemeaten, fa América do Sul (1919), uma c6pia pouco fiel do fo Strozzi mas ainda assim o suficiente para sur Ender o observador que passa pela primeira vez na 15 de Novembro. Alias, prédio_inaugurou “moda florentina que surgiu em So Paulo logo fra Guerra Mundial’* do, de fato, proliferou na habitacdo Hicular um ecletismo desordenado: a fantasia andava Blta © 0 exético, o inesperado, o bizarro, tornaram-se i. F curioso notar que, pelo menos num caso, 0 buldrio clissico foi utilizado com esse espirito € pu-se a um resultado um tanto surpreendente, de uma casa de 1922 (na Rua Martiniano de Iho, 277)**, situada num terreno muito abaixo do 6); ocorreu a0 seu proprietério e for, um portugues cujo nome foi esquecido, de ura (trés andares sobre térreo), ia pelo dltimo andar, ligado & rua por B Cane Paulo. 1922. Herraco-passarela que contornava todo o ed ferraco € sustentado por enormes colunas de capi- fiferentes entre si encimados por grandes vasos de- ique originalmente nao estavam ligados por uma firada; devido a essa disposiedo, o andar supe icamente decorado (olhos-de-boi circundados de j ameias) apresenta-se como um ético que repouse Juma colunata, atrés da qual desaparece na sombra bz das paredes inferiores. O efeito obtido pelas bes brutais, 0 jogo espacial de passarelas ¢ esca- que Ievam diretamente da rua ao_jardim® dente e no consegue nos deixar indiferentes. Saia®, diretor do IPHAN em Sao Paulo, classi- essa casa, com algum desprezo, como arquitetura Gho, de carder surrealista, quando na verdade & to barroco que ali predomina. A condenaclo ‘a solucdo adotada ndo ¢ irracional, ise justifica The falta encanto nem originalidade; coisa 180 ie. pp. 5758. (5 ash es algarbnoy cosmos et feria Tnfmente, hoje wacformade em coro. TLSHIA, op. cit, pp 2 da, rara om So Paulo naquela época, que merece ser des- tacada. Em Sio Paulo, o ecletismo classicizante teve por tanto um carter bem peculiar, um toque italiano, percetivel principalmente depois de 1900, em oposi 0 predominio francés que ocorria entao no Rio de Janeiro. E também foi mais diversificado, a Renascenga € 4 posRenascenea forneceram os modelos preferidos, mas nfo os tinicos: desde 0 Quattrocento até 0 século XIX, de Roma a Veneza, de Florenca a Milio, todos os estilos e suas variantes regionais foram em maior ou menor grau empregados. O declinio desse estilo iniciado em 1920 6, mais apzrente do que real: © edificio do Correio Central de Ramos de Azevedo ¢ Ranzini (concluido naquele ano) foi certamente um dos wiltimos monumentos italianizantes, mas no seri ele um dos dltimos edificios representantes desse estilo pela simples razdo de que, a partir daquela data, come- cam a rarear as construgdes de edificios piblicos®, em Sao Paulo? Basta consultar algumas fotografias antigas™* para constatar que esse género de ecletismo s6 veio real- mente a terminar, no ambito local, com advento da arquitetura “moderna”. 3. Os outros centros brasileiros: Salvador, Belo Horizonte Idéntica situagdo € encontrada em quase todo o Brasil; até cerca de 1940, a adogdo de um estilo neo- clissico ou neo-renascentista, relativamente puro ¢ um pouco pesado, foi regra quase constante na maioria dos edificios oficiais, fossem eles faculdades, escolas, teatros (como 0 célebre grande teatro de Manaus) ou sedes dos principais érgios governamentais. Seria initil cansativo estudar detalhadamente 0 que foi feito nas principais cidades brasileiras, pois todos esses edificios fapresentam um interesse muito limitado. Assim, toma- remos como exemplo dues cidades onde a realizaga0 de tais obras teve um significado particular, 0 que ilustra bem a importancia psicol6gica atribuida & apa- réncia formal neocléssica Salvador, a yelha capital colonial, ainda hoje con- serva seu encanto de cidade colonial gragas & predomi- nfincia em seu centro de construgdes do século XVITI, tanto da arquitetura religiosa, quanto da civil. Mas essa caracteristica era ainda muito mais marcanté hd uns sessenta anos; pode-se mesmo dizer que, enido, ela era Praticamente exclusiva, pois todos os edificios cons. iam o mesmo estilo, que preservava a unidi de perfeita do todo. Mas o valor desse conjunto € dos elementos que © compunham ndo foi percebido pels autoridades; responsdveis pelas primeiras mutilagdes em. edificios de qualidade inegével, preconizando dessa forma a pressio dos interesses econmicos que s6 se is Jovign de Praca Chis ‘2 aS Gee pps Melton ea cia manifestaram mais tarde, O desaperecimento da pre feiture (que, como ¢ regra no Brasil, continha original- mente também a priso) e do Paliicio dos Governadores (que passou em 1900 ¢ 1912 por duas reformas tio completas que nada deixaram subsistir das caracterfs ticas originais do monumento) alteraram totalmente 0 aspecto de uma das pracas mais tipicas da cidade. Ora, esse ato de vandalismo s6 pode ser explicado por moti vos psicolégicos™; a arquitetura colonial era despre zada, considerada indigna de abrigar os poderes locais — ccujo prestigio s6 podia ser acentuado a0 ocupar edificios com fachadas decoradas com colunas, pilastras e frontes, e até mesmo, no caso do Palicio des Gover nadores, coroado por uma ctipula fein ¢ indtil. Assim, uma mentalidade complexa, onde se misturavam 0 de- | sejo de imitar de modo servil o que era feito nas outras capitais do pafs**, a preocupacdo de ndo ficar_ para trds ede seguir 0 “progresso”, a vontade de afirmar que Salvador nio era apenas um vestigio do possado, como também uma cidade moderna, atualizada, nio permitiu que @ Bahia hist6rica escapasse a influéncia de um pseudoclassicismo que ali protiferou de mancira acentuada © com longa duragdo¥, embora jé estivesse superado quando foi ali introduzido. Se esse estado de espirito tinha conseguido penetrar até nos antigos centros da gpoca colonial, € evidente que s6 podia impor-se com vigor nas cidmdes de criagao mais recente, principalmente tratando-se de Belo Hori zonte, a capital administrativa de um dos principais Estados da federacdo®. Dessa forma, esta foi bene- ficiada com uma indiscutivel unidade, que Ihe conferit um carter nitidamente definido 40 qual nio falta um certo ritmo, apesar da auséncia de qualidades intrin- secas nos edificios construfdos entéo, Existia uma con- cordancia entre a rigidez do plano urbanistico (cuja dupla quadriculagio superposta formava figuras geomé- tricas definidas), a aparéncia neocléssica dos grandes edificios piblicos (dispostos em torno da Praca da Liberdade em fungio de uma hierarquia cuidadosamente estuudada, onde dominava a preocupacao com 0 arranjo das perspectivas) e enfim 0 aspecto geral das casts (que formavem um conjunto homogéneo apesar de sua : diversidade). claro que ndo se pode falar de unifor- idade em relagdo a estas dltimas, construfdas com toda 4 liberdade por seus proprictarios", mas existia um certo parentesco mareando suas fachadas (todas elas académicas, estreitas ¢ muito carregadas, aplicadas arbi- pois Svar te Mima. pol tro fea quan da ix Frc or eer tit pl oc, wae oy. tc i ig a Bede non, coe : m8 pg pile do Fico Ral Dahnn fo ‘ial do Esa de et ‘deze 2 ae me a SE" WEqac ce repsamentor monicipar abo preiam Hmtachee muito cotritat allen 'ds secenfdade de tlshar a lachadas vo Tonge 2a "on a2 trariamente a construgdes modestas, que se alongaval em profundidade). Em geral desenhados por especial listas no assunto, esses frontispicios nfo passavam ¢ uma espécic de’ paravento, mascarando quase to mente 0 resto da casa, no raro em oposigio to com a pega correspondente, que era a empena fron que ela revestia grotescamente. Isto pode ser constatad a0 examinarem-se as faces laterais dessas habitagd que se abrem para um jardim: a fantasia teve livre ou erguendo varandas leves com pequenas colunas € ot tura.de ferro, freqiientemente decoradas com mo art nouveau (que também so caracterfsticos da arg tetura civil da época)®. © exemplo de Belo Horizonte mostra que o acad micismo classicizante ainda era uma forca que preé minava no comeco do s até época da Primcira Guerra Mundial. O_prestig formal do qual o estilo desfrutava no tinhe sido ai abelado pelo emprego dos novos materiais industri ferro e mais tarde concreto armado, cuja difusdo m Brasil era fato consumado desde fins do século Entretanto, esse academicismo j4 nfo passava de: revestimento superficial, com que se recobriam partes mais visiveis dos edificios, qualquer que [6 a técnica de construgdo utilizada’?. Esse comportat pouco racional devia-se, antes de mais nada, @ atitude intelectual, onde estavam associados uma 06 rotina profissional, a preocupacio de conservar tradicéo mesmo scndo esta relativamente recente € violento desejo de imitar os estilos nobres que tin contribuido para a grandeza da civilizagio europ De fato, o classicismo ndo foi a tinica fonte de i ragdo dé que langou mao o espitito eclético da épa 2. OS ESTILOS MEDIEVAIS E PITORESCOS ‘As autoridades civis transformavam a adogdig. um estilo que empregava as tendéncias © o vocabull classicos em necessidade psicolégica, ¢ as autorid religiosas faziam o mesmo quando confessavam preferéncias pelos modelos romanos e géticos que § bolizavam o apogeu da f€ catélica, Por con todas as igrejas construfdas no comego do mesmo mais tarde, jé que o clero brasileiro, em conjunto, € muito conservador) langaram mao das des tradigdes medievais. Deve-se dizer que 0 resul deixou muito a desejar: ndo 36 € dificil citer um éxito do ponto de vista estético, como também pa que os arquitetos e construtores rivalizavam-se incrivel competigio de feitra. Sto bem vaviadas razbes desse fracasso total. Uma das causas era, com certeza, a falta de gosto e, na maioria casos, a falta de conhecimentos arqueoldgicos dos ponsiveis. De fato, € preciso lembrar que a tra académica era muito menos forte nese setor do na construc nao-religiose; as regras precisas la cls de Ang vicar fog "se 8 BE YASCOR ‘Scenvelws ea Eorope, de onde’ 2 cae ireturas «i tein poner purser Fol ai So nen 2 eben a ito pelas proporgdes clissicas, que constituiam 0 ito do ensino nas escolas, no achavam equiva. quando se abandonava as formas a que se apli- esses principios; os arquitetos, entao, tinham de suas proprias solugdes — 0 que evidentemente Eatastrofico quando se tratava de profissionais me- que nao se destacavam por sett talento natural. @ Indo, as misceldneas arbitrérias de elementos , Boticos e renascentistas, feitas por engenheiros siresde-obras que nem sempre compreendiam 0 esses varios estilos, provaram ser muito mais do que as misceldneas feitas pelos arquitetos entre os diversos estilos clissicos. E, por falta de pedra de boa qualidade (cujo grao € Sniribuem para a beleza das velhas igrejas euro- freqiiente utilizacdo de tristes revestimentos nto cinzento vinham apenas completar 0 aspecto p da maioria das igrejas da época dos arquitetos mais atuantes no setor foi o Max Hehl, professor da Escola Politécnica de , cidade onde se estabelecera. Dentre seus do perfodo de 1908 1913, devem ser citados: da Consolagdo", uma nova igreja paroquial fe a nova Catedral de Sao Paulo, estas ftinadas a substituir antiges igrejes da época que eram consideradas mesquinhas ¢ indignas cidades em pleno desenvolvimento. Todas ém uma caracteristice comum: a tentativa de gr uma planta de basilica com cépula central gsigo tradicional do coro (capela-mor), sem mem capelas laterais, trazida pelos portugueses século XVI. A solucdo um tanto desvirtuada ino inicio (naves laterais apoiadas na cipula ¢ desviadas ao longo desta para formar os ido transepto, terminados por uma pequena 4bsi Faperfeicoada para a catedral ¢ levou a uma planta @ naves (trés naves centrais da mesma altura, fa total corresponde a0 didmetro da cipula, de ambos os lados por um corredor estreit Baixo que chega até a cabeceira. O estilo era fem funedo de considerayées_particulares em p: a Igreja da Consolagao (simples igreja de ecebeu um exterior neo-romano, enquanto que 9s, somava-se a um conjunto gético, uma cipula p a de Santa Maria da Flor (de Florenca), ¢ Catedral de Sio Paulo foi escolhido um estilo ente gético™ por se tratar de uma basilica ar- opal. Aliés, nesse ponto o projeto de Hehl @) era bastante puro e nitidamente nérdico, com la & italiana que recobria o ato do transepto; sem duivida alguma, uma B40 fel deste projeto teria sido melhor do que a construgao que hoje ali se encontra, ainda ‘que nao passa de uma parédia do desenho Pobyechnice, x 26, fox, de 1918, p. 14 (demo da fe ° noes. de 198, pp, 386 (deshon 6 acta 4, mnojalio e291, pp. 20-2 (det, sain) Ji adele ‘is Sue Encontrase a influéifeia do gético alemio em outra grande basflica paulista, a de Séo Bento, obra basicamente alemé, realizada pelo abade Dom Miguel Kruse que, em 1910, tinha trazido de Munique 0 pro- jeto elaborado pelo arquiteto Richard Berndl, Porém no conjunto das igrejas do Estado de Sio Paulo, 0 neo-romano® teye mais receptividade do que 0 neo- Fig. 7. Mex HEHL, Projeto da nova catedral de Sdo Pawo 1915. Deseno. ‘6tico; iss0 deve-se, com certeza, & predomindncia dos italianos, que eram nitidamente avessos a esse estilo. Em compensagio, 0 neogético foi preferido pelos arqui- tetos cariocas, mais voltados para a Franca, como jé foi dito; sempre que possivel, estes empregavam certas particularidades arqueolégicas regionais, como as abé- badas com nervuras finas origingrias de Angers na Igreja das Carmelitas Descalcas*?, projetada em 1921 por Raphael Gelvao, Contudo, nenhuma dessas obras merece um exame mais detelhado e & somente o estado, de espirito manifestado através delas que apresenta algum interesse. Saki in “Kcltectare xo Bra, 1, owt, de 1801, pp. 613 (planta, net. oS 45 © gético “modernizado” também foi usado em alguns edificios religiosos que nao se destinavam eo cculto (hospitais como a Santa Casa de Sao Paulo, de . Micheli e Pucci, ou colégios como o das Cénegas de Santo Agostinho, de Max Hehl*), isso naturalmente sem falar dos conventos erguidos junto as igrejas contiguas, © que era perfeitamente Wégico do ponto de vista da época Em compensacdo, € muito menos justificav adogio dos estilos medievais para edificios pablicos ¢ residéncias particulares. E curioso observar que em fins do século XIX eles foram bastante utilizados na construso de casernas e pristes; de fato, & princips mente sli que parece existir gosto duvidoso pelo pito- resco e pela literatura roméntica"®, Existem, contudo, algumas excegSes; no comeco do século, Victor Dubu- gras (cuja obra seré novamente mencionada 20 estu- darmos 0 art nouveau e 0 ncocolonial) passou por . uma fase medieval que foi de 1891 (data de sua inst lagao em So Paulo) até 1902: nesse periodo, ele foi uma espécie de funcionério encarregado de construir, no interior do Estado — Botucatu, Siio Manoel, Sio Carlos, Santa Barbara, Sd0 Joao do Curralinho, Araras, Jaboticabal —, vérias escolas e prisdes, onde empregou tanto 0 neo-romano, quanto o neogético™®. Também construiu varias casas para os plantadores de café, especialmente a mansio UchOa® em Séo Paulo, com motives decorativos aplicados sobre © arco-pleno da entrada e sobre as balaustradas (Fig. 11)" lembrava muito a [dade Média, dando um toque sui generis a um edificio que, por sua arquitetura, jé se ligava ao art nouveau. ssa inspirago medieval pode ser sentida prin- cipalmente nos iltimes anos do século XIX, mas pro- longotse ainda por vérias décadas e so abundantes 19s exemplos extempordneos. Existe em Itaipava (Estado do Rio de Janeiro), um castelo (com torreio de canto, miuralha flanqueada por torres e vigias, com seteiras, estando 0 todo coroado por ameias e mate-caes) que fez ‘com que seus autores, Lticio Costa e Fernando Valen- tim, ganhassem a grande medalha de prata do salio da Escola de Belas-Artes de 1924, juntamente com uma casa de estilo normando com madeiramento sparente construida em Teres6polis pelos mesmos arquitetos®. A grande cultura de Liicio Costa e seu bom gosto, jé visiveis em suas primeiras obras, permitiram que cle realizasse edificios de indiscutivel qualidade, implanta- dos na paisagem montanhosa. Contudo, o anacronismo 4h, Reina Polyernice, 08 25, jan. de 1H, p. 12 (demnbo & 9, Bremplo spice dem apoittra de fachada ¢ 0 lh peur obra de Hate 5). F. MOTTA, Gostibicae do Enude do cArt Noutanr no Bra Sio Paste, 7, 9 80 (ea. 3 at puto na Eas, de BelarArtes do Rio om 1902 « ‘TB, ‘Beye trnowe propiceade dar Chee 52, Alida, em decurghe cm tito ecléien, mistarande entaacadn roan Bc SL sa ae, Terie oe fanboy, Soginton's Scheele Due, 205 etvout: de 1984'pp. 1417 pitoresco era um petigo temivel; que em Liicio C no passou de um pecado de sua juventude do logo se desvencilhou, mas muitos outros, que nfo suiam mesmo talento nem o mesmo discernimel cairam na armadilha, a comecar por Morales de Rios (autor da nova’ Escola de Belas-Artes) que deixou passar a oportunidade de construir em est persa na Avenida Rio Branco”, O aspecto carnavale ‘que assumiram entre 1900 © 1920 as grandes aver do Rio e, pouco mais tarde, as de Sio Paulo, foi seqiiénicia desse gosto mérbido pela fantasia e de preocupagio superficial com uma crudigdo male preendida, O mal estava tao profundamente enraiz que nem mesmo um movimento como 0 art nou conseguiu escapar dessa mentalidade. 3. 0 “ART NOUVEAU" A. primeira vista, pode parecer estranho classi ar entre os estilos histéricos um movimento que ci de tudo foi uma pesquisa basicamente inovadora livre, uma tentativa de encontrar um estilo que mente pertencesse & sua época, e que, conseqiien mente, foi uma ruptura com o pasado, uma reag contra o ecletismo entao predominate. E certo qi rele pode-se encontrar motivos decorativos (abundant da flora naturalist linhas que ondulam como cham: que também pertencem a0 repertirio da arte goti (ou tragos em comum com o barroco (amor pela Cur pelo movimento, pela profusio de omamentos); m © parentesco de femas ou tendéncias ¢ totalmente sups ficial e mais aparente do que real; no se trata jam de reminiscéncias, mas sim de uma interpertagio fun mentalmente nova, sem qualquer vinculo profundo co 6 que foi realizado anteriormente. Mas 0 que € ver deiro para a Europa, bergo do art nouveau, nem sem Gvalido quando se muda de hemisfério e se focaliza movimento dentro de seu contexto brasileiro. No Vel Continente, 0 art nouveau foi uma tentativa de rend: vvacdo e de sintese das artes — arquitetura, artes plas ticas e, principalmente, das artes decorativas; que em bora efémero e tendo durado no méximo uma dezena de anos, tinha rafzes profundas na realidade & qual estava vinculada e correspondia a condigdes peculiares} de sua época, tentando solucionar (solugdes estas is vvezes contraditérias) 0 aviltamento que ocorria em des terminados sctores da arte, devido ao advento da era industrial. No Brasil, pelo contrério, desaparecet totale mente 0 equilfbrio entre 0 aspecto técnico ¢ 0 aspects formal do art nouveau: a indiistria local era praticas ‘mente inexistente e tudo, ou quase tudo, era importado) da Europa; os problemas fundamentiis que deram) forigem as novas pesquisas no podiam ser sentidos de ‘modo acentuado ¢ 0 art nouveau era visto como a siltima, moda em matéria de decoracdo, que era de bom tom, imitar, na medida em que fazia furor_nos paises tradi cionalmente de grande prestigio econémico e cultural. Assim, trata-sc mais uma vez de uma mentalidade A. Aebitectura no Brasil, mo 1, out. de 121, 5 3) Como indica claramente sun vison somes: rf meen, madera ote fund ib sito semelhante aquela que tornou possfvel © sucesso Decletismo: era novamente uma arte exética, impor- por europeus ¢ apreciada enquanto tal por uma Fistocracia rural © uma grande burguesia que vivia m os olhos fixos na Europa Nessas condigoes, é facil compreender por que o nouveau desenvolveu-se principalmente em Séo Jocal onde vieram a conjugarse uma série de i favordveis. A riquissima clientela dos planta de café, cujas freqiientes viagens ¢ leitura de sias gerais ou especializadas® mantinham-na em contato com a Europa, encontrou af arquitetos, ge artesios*™ emigrados diretamente dos paises esse estilo alcancou grande forge. Alm do mais, jase indiscutivelmente da cidade bras jtada a apreender e partilhar 0 entusiasmo que aha spoderado da Europa no comego do século XX, #6 no futuro da qual o ar! nouveau era uma mani- o: embora a industrializagao em Sao Paulo fosse uma promessa do que-uma realidade conereta, 0 olvimento de uma importante rede ferrovidria ibuiu para a transformacio da mentalidade, a0 @ tempo em que o crescimento répido da cidade ficava 0 entusiasmo ¢ as esperancas da populaio. Mas 0 art nouveau nao foi um fenémeno simples, de ser definido. Principalmente no campo da felura, o termo nio esté isento de equivocos, ni fa .uma certa ambigtidade jé mencionade™: fi mente engloba sob certos tracos comuns ten: ariadas e por vezes contraditérias. De fato, exis fis tipos de arquitetura modern siyle, que c« ‘40s centros regionais marcados pela ativi ide uma ou mais personalidades particularmente Essa situacdo nfo podia deixar de se repetir @ Paulo, cidade onde 0 art nouveau foi obra de pios vindos de lugares distintos. fnfluéncia da Sezession vienense & perceptivel 1 Ekman, embora pareca ter sido principal: Tivresca®*: ‘nascido em 1866, na Suécia, estudou Eandinévia, indo depois para a América, onde para diversas firmas em New York ¢ na y antes do se estabelecer por conta prépria Depois de uma répida estadia no Ri fixouse em Sao Paulo, onde construiu uma edificios importantes: a Escola Alvares. Pen: "© Teatro Sao José, a Maternidade Sio Paulo esidéncias, das quais se destacam as da familia Penteado (Vila Penteado e Vila Antonieta)”, Hodes, hoje, desapareceram ou form de uma mera dren eurplit de arte cal, gue dian Maa, rselde ‘tm So Paks ura de male’ ite ea io Ct) MOTTA ane Neuere tie de tor, a008, raso-iunho de 1 aos Miso Mtn een, aig niin Ea (a FMOTTA, Cenieibuisér’ so Kitedo do atrt No Pale, Sb 3 MOTT, op. at Fa cs a MOTTA, Sp fs j ou outra forma mutilados®!. Os exteriores eram sébrios e 0 desenhio das fachadas era fruto de um projeto geométrico tipico da escola austriaca de Otto Wagner: paredes lisas vazadas por estreitas janelas retangulares, dispostas préximas umas ts outras, a fim de equilibrar por sua acentuada verticalidade® a horizontalidade do volume do edificio, predomindncia da linha reta, valorizando o emprego de arcos © curvas em pontos estratégicos, decoraglo floral ou linear limitada a alguns motives bem delicados, mas dispostos de modo a des- tacar sua importdincia, Podia-se encontrar essa mesma influéneia austriaca em certas obras de Max Hehl, mas ja no era tio pura: com efeito, 0 gético modernizado de seu Colégio de Santo Agostinho nao passava de uma miscelénea de algumas caracteristicas Secession somadas a um conjunto onde predominavam formas ‘ornamentagio géticas Contudo, a arquitetura de Ekman nfo se resumia nese aspect externo Sezession, geralmente adotado, Pelo conirario, foi no tratamento dos interiores de suas Karl ERMAN, Casa Alvares Penteado, 1902, Estado tual, esmagada pelos prédios que a circundam. casas que obteve os melhores resultados ¢ impos sua marca pessoal. Destes, somente um sobreviveu até 08, dias de hoje, por milagre o mais importante, em termos histricos e estéticos — a Vila Penteado, construida fem 1902. Esta residéncia foi de fato 0 primeiro edificio, art nouveau de Sio Paulo, Seu proprietério, o Conde Alvares Penteado, uma das personalidades paulistas Seer Tatiana oontearin sen contents anal (Pig) Ceol ante ties da época, a0 mesmo tempo latifundié era grande conhevedor da vida européia e tinha um espirito esclarecido voltado para o futuro; foi ele quem encomendou a Ekman uma casa em estilo art nouveau, langando uma moda que se espalhou como rastilho de pélvora. © elemento bésico da composigo & 0 vestibulo Fig. 9), que ocupa todo 0 corpo ceniral, em compri- menio, largura e altura; no € um mero ponto de pas sagem, mas a pega essencial, onde se concentram todos 08 efeitos estéticos, tanto decorativos, quanto espaciais. Podemos encontrar ali uma aplicacio caracteristica dos prinefpios de Victor Horta, cujas grandes realizacGes Ekman certamente conhecia, seja pessoalmente, ou por meio de revistas especializadas, A liberdade da planta ¢ da distribuigéo dos diferentes niveis, o efeito visual obtido pelas escadarias, tribunas e aberturas de tipo, forma e dimensdes variadas que dao para esse vestibulo, 1 interpenetragao de espacos daf resultante, tanto ver tical, quanto horizontalmente, derivam certamente de solugdes e concepedes adotadas por Horta nos edificios construfdos em Bruxelas alguns anos antes. Por seu lado, a decoracao predominantemente com curvas e arabescos resultantes mais-do jogo absirato da geometria do que da imitagdo da natureza aproxima-se muito do espirito de Henry Van de Velde, outra grande personalidade artistica da Bélgica, nessa época. Ekman, portanto, estava certamente a par das realizagdes européias e das modificagdes no gosto, ocorridas nas grandes capitais. Sabia inspirarse nelas, mas no era um imitador servil: a feliz sintese que conseguiu efetuar entre a rigida sime- tria do estilo Sezession, a audécia e a liberdade de wengio dos mesires belgas é uma prova da seguranca de sua escolha, de seu tlento para a assimilagio, e de Fig 9. Karl EKMAN. Case Alvares Pesteado. Vestibulo sua cristividade. Contudo, sua originalidade deve-se principalmente & habilidade com que transformou_a madeira no elemento essencial de seus interiores. Foi desse material que ele extraiu quase todos os seus 46 cfeitos decorativos, quer pelo tratamento oma gue The dava, quer pelo jogo de contrastes obti de fato, soube manipular com destreza o contr entre a cor escura da madeira envernizada ¢ a el dade uniforme das paredes"® © usar a contraluz. realgar 0 desenho das balaustradas, cujo perfil d cavase nitidamente de um fundo lumino Ekman, entretanto, a madeira era muito mais do q simples meio de decoracio: explorou ao méximo mi 86 suas qualidades estéticas, como também suas bilidades funcionais e construtivas; isto pode ser o provado pela escadaria da Vila Penteado ou pelo da casa do Dr. Kowarick, jé demolida. Dessa manei criou obras de uma unidade e uma coeréncia perfet onde @ madeira assumia um papel semelhante ao fer fundido na arquitetura de Horta. Isto pode ter sido t esso. As condigdes ainda bastante artesanais pais, mas € pouco provavel, pois havia na época facil dade de importar tudo 0 que fosse necessério a custo relativamente baixo: na propria Vila Penteat lareiras, lustres, objetos e estatuetas de metal mesmo'a grande fonte do jardim vieram diretame da Europe. Estruturas, vigas metélicas, colunas de fe forjado, prontas para montar na obra, grades, corri de escads, etc, tudo entrava livremente, como ja Nao foi por necessidade, portanto, que Ekman decidi fazer art nouveau utilizando a madeira como elemen fundamental. Pode ser que tenha sido encorajado pel abundancia ¢ beleza das espécies encontradas no Brasi mas sua firme tomada de posigao certamente decort da experiéncia secular que os escandinavos tiveram esse material, habituados que estavam a viver em mei ‘a imensas florestas: 0 amor atévico daf resultante ff com que a madeira ainda hoje seja um dos meios expresséo preferidos pelos povos nérdicos. © sucesso da Vila Penteado foi imediato. B langado © art nouveau, e em alguns anos os bairros novos (Santa Cecilia, Campos Elisios, Higien6polis, Vila) Buarque, Bela Vista) estavam cobertos de belas resly déncias ou de simples casas de aluguel que traziam a) marca indelével — embora muitas vezes superficial —| desse estilo, Quase todas foram demolidas, sendo subs: titufdas por enormes prédios de apartamentos; 0 fato} € lamentivel, mas nfo se deve esquecer que a maioria dessas construgSes estava longe de ser obra-prima faltava-lhe autenticidade. Além de Ekman, somente lum outro arquiteto, parece ter conseguido se impor de} maneira indiscutivel: Victor Dubugras. Nascido em La Fleche (Sarthe, na Franca) em 1868 e falecido no Rio de Janeiro, em 1935, ainda crianga) migra com a familia para a Argentina, Estudow arquic tetura em Buenos Aires e trabalhou com o italiano Tam borini, mas cansado da situacdo instével desse pais, instala-se em So Paulo em 1891. Durante algum tempo, foi um dos colaboradores de Ramos de Azevedo, senda, admitido em 1894 como professor de desenho arqui tetdnico na Escola Politécnica. Inicialmente partidé convicto dos estilos medievais®, chegou ao art nouveau ental 4902, quando expds seu projeto para a casa de tid; fo Uchda"®, construida no ano seguinte. Como jé raste 5, essa casa ainda cra uma mistura bastante curiosa clari- fheogstico, predominante na decoragZo extema em j, € de pitoresco, resultante da justaposicgo ark de elementos tomados de diversos"® dda principal; estava relegado a entrada lateral, da por uma marquise de cobre pontilhada de lam. elétricas (Fig. 10), Era mais visivel no intetior © vestibulo em galeria ccupava dois andares ¢ Sdecorado com pinturas inspiradas pela flora brasi eira, executadas a partir de esbosos do proprio arqui ‘tas, Mig. 12). Parece certo que Dubugras empregou ferro amas das ligdes titadas de Ekman na Vile Pen: uma onstrufda no mesmo ano em que fez seu projeto. ; do Uchéa foi um edificio de transigéo na obra cil gbugras: o exterior, ainda impregnado de ecletis nee ide reminiscéncias de outros estilos histéricos, cra ae tinuagao I6gica da linha que vinha seguindo; Fig, Victor DUBUGRAS. Casa Uchéa, S80 Paulo. 1905 acé fo, « liberdade das solugSes adotadas na Deiaihe da’ porta principal. ene infers, tanto na planta, quanto na oma erro , prenunciava a orientagio muito diversa que nBes fitelo, bruscamente convertido 20 art nouveau, nOs. Be a ter logo depois. eo Som efeito, o ano de 1903 marca uma reviravolta Victor DUBUGRAS. Casa Uchéa. Sio Paulo. 1905. estilo. E claro que a ruptura nao foi total Vestibule Al) Wisior DUBUGRAS. Casa Uchda. So Paulo. 1908. Entrada lateral decorativos modern style, utilizados a p: Ista, a principio assemelhavam-se claramente fo antes tomado de empréstimo & arte.gética: falista, arcos trilobados, rede de curvas entre. Rbrando um pouco 0 estilo flamboyant, prin- Quando cram empregadas. para ornamentar 7 as balaustradas ou eram esculpidas na pedra para for- to mais originel. Tinha respeitado a so ‘mar os peitoris das janelas, como na casa de Numa de sica, marcando com volumes distintos as tres parted ita (Fig. 15)°". Rapidamente esses motivos torna- essenciais de um teatro: paleo, sala de espetéculo, joven ramvse mais abstratos ¢ também mais caracterfsticos Mas apenas a planta do palco px do art nouveau, onde quet que Dubugras empregasse retmgulo, enquanto que, nas demais, predominava en © ferro: grades, varandas, caixithos de algumas janclas. termos absolutes, a elipse (longitudinal ¢ trunceda nol A cada ano, seus projetos tornavam-se, menos rigidos, caso da sala, transversal ¢ completa no caso do foyer cm planta ¢ em volume, 0s tragados arredondados fica (Fig, 15). Essa forma incomum era perfeitamente visi ram mais freqiientes, as varandas passaram a assumir vel do exterior, embora scu movimento fosse atenvadal uma importincia fundamental na composigao, chegando pela aplicagdo de galerias superpostas. O exterior eral mesmo a contornar quase inteiramente a casa, era 0 iia curiosa mistura de formas inovadoras e de deco primeiro passo no sentido da etapa seguinte da car- racdo tradicional, esta tomada de empréstimo tanto & reira do arquiteto: 0 estilo neocolonial. f facil acom- arte romana italiana (galeria de arc CETL Bama nee Hig 15, Vielor DUBUGRAS. Casa de Numa de Oliveira So. Paulo, 1905. Victor DUBUGRAS. Dente. Si panhar essa evolugdo através das fotografias publice- Sas por Flavio Motta®™: constata-se uma crescenre liber. pleno colocadas imediatamente abaixo do teto), quant tagao das formas romanas e géticas®®, mas também uma & deuterobizantina (pequenas torres flanqueando a certa depuragio daquilo. que o art nouveau tinha de f#chada) e & gética (arcos tilobados das balaustradas gratuito, com procura de solugGes arquitetGnicas, ao © 4a galeria lateral no térreo); & certo que 0 conjunto Samo tempo fetticas ¢ funclenais, beseadas no en, ‘ria Teaultado pesado c heterogéneo, Em compens eee ere GateiGa oe each tmx, uo tatetioe uo oe fepsta a tasoms falta do unital tuma das preocupagées essenciais do movimento curo- Vestibulo era o toque de mestre (Fig. 16): via-se 9 peu, e gue Dubugras foi dos pouicos a preserver no Mor de Dubugras pelas galerias em arcadas que $e Brasil. superpunham em trés fileiras, mas desta vez sem quale (© Teatro Municipal do Rio de Janeiro teria sido, quer reminiscEncia histérica; 0 movimento das eseam sem divida, se houvesse sido construido, sua obra- darias, o desenho sinuoso da abébada, a decoragagl prima e forneceria a melhor sintese de suas succssivas floral estilizada do piso, contrastando com as. linha fendénciss. O projeto de Dubugras obteve apenas o gcométricss, porém dinimicas, dos corrimées ¢ balause segundo lugar no concurso realizado em 1904, sendo tradas de ferro forjado, finalmente a original idéia de preferido pelo projeto do engenheiro Francisco Oliveira agrupar as [uminérias em torno das colunas como se Passos®. Contudo, 0 projeto de Dubugras era mui- fossem capitéis, todos elementos combinados teriam criado um conjunto sem precedentes, homogeneoy eat on an cana, gu wirerveri wo momaere ge modemo, muito avangado para a época Sipe pees ee Le Dubdevatalllg nfo: f08-ahciiicedido (Ace ecciel eee, Sa Coe aa tenia tions ome che aie ® tudos para edificios oficieis, pois seu projeto paral Seger Canam, Feira, am, poneo postion 00 tei Op 72%, ¢ Heit, no 10, jan-mar de 188, pp.318 tampouico foi construido. De boa concepcio técnica’ onthe de Bat © funcional, nao apresenta mesmo interesse na men te fete Dene ticia ‘got sete" E0) age Siete cae eh cee eat jets ocho wis cee Siu ce aot LO ct momen 8 wi 48 fem que seu autor nao pode ou no quis neste ci fabster de utilizar um vocabulirio decorativo clissico visivelmente no o atraia, © resultado, macigo e gado, no teria sido feliz — € 0 minimo que se pode um, {© mesmo no aconteceu com a estagio de May. , primeira edificio no Brasil construido to- mente em concreto armado, onde irrompe a origi dade das concepgdes de Dubugras, muito mais agadas do que as de seus colegss, tanto do ponto E vista técnico, quanto estético. A escolha do concreto do, neste caso especifico, oferecia uma série de fagens essenciais: tornava possivel a obtengdo de um Victor DUBUGRAS. Projeto para 0 Teatro Muni cipal do Rio de Janeiro. 1908, Plantas. Térreo. nico, indeformavel ¢ capaz de resistir as trepi. disttibuindo 0 peso uniformemente no terreno, ppéssima qualidade; além disso, era um processo Tani mais que a estrutura foi feita com trilhos Mas Dubugras néo era apenas um engenheiro te, era também um arquiteto que jamais es- ponto de acd do con- farmado, até entio desprezado e cuidadosamente lado quando empregado. A estacdo, & qual se facesso através de uma passagem subterrdnea, esté fa entre 2s linhas das duas companhias ferrovié- @.utilizam, o que constitui uma solusdo prética {F viajantes que tém de fazer baldeacao; assim, o tem fachada frontal ¢ posterior pode set con: sobre uma planta absolutamente simétrica: cor etangular iluminado por grandes vidragas, flan- p por dois corpos secundarios em semicirculo que im a parte de servigos. A mesma simplicidade da es fencontra-se na elevacio. Mas foram acrescenta- ° fro torres nos cantos do corpo central, com 0, de puramente estética™ (embora sejam utiliza- jo telégrafo); so coroadas por plataformas em 1 go, muito salientes, sustentadas por montantes de ferro forjado que, junto com a marquise que circunda © cdificio, lembram a afeigéo que Dubugras tinha pelo rt nouveau. O conjunto prenuncia de modo nitido a arquitetura funcional, mas denota um gosto acentuado pelas preocupagées formais, que nio foram esquecidas: no jogo habil de curvas e de linhas retas, na justaposi- ‘40 de volumes simples, pressentia-se o caminho que mais tarde tomaria a arquitetura brasileira, Era cedo demais, porém, para que esse caminho fosse trilhado firmemente e 6 préprio Dubugras logo 0 abandonou para se lancar na aventura neocolonial E muito mais fécil detectar em Dubugras, do que em Ekman, as influéneias que atuaram nesse perfodo 15a. Victor DUBUGRAS. Projeio para 0 Teatro Mu: nicipal do Rio de Janeiro. 1904. Planta do ter ceiro andar, Fig. art nouveau de sua carreira. Embora nascido na Franga, passou toda sua vida na América do Sul; sua formagao portanto, apesar de européia, ndo foi direta, mas sim transmitida de segunda mio por intermédio de arqui- tetos emigrados, como o italiano Tamburini. Daf um certo atraso em sua evolucio, compensado pela ne- cessidade de um esforgo inaior para se manter atuali- 49 zado ¢ de um aprofundamento mais pessoal nos. pro- blemas arquiteténicos ¢ estilisticos. Nao hd duvida de que Dubugras possufa grande cultura arqueoldgica © técnica; todos os seus trabalhos 0 comprovam. F evi- dente que ele mantinha continuo contato com a Europa através de revistas especializadas de arte ou de cardter cientifico, conservando sempre um equilibrio entre 0 aspecto formal e 0 aspecto construtivo propriamente dito; de fato, desenvolveu sempre esses dois aspectos, inctinando-se ora para um, ora para o outro, Dadas cessas preocupagées fundamentais, as realizagies que mais despertaram seu interesse foram as dos belgas Horta e Van de Velde ¢ talvez as do escocés Mackin- tosh, mas ¢ dificil encontrar nele uma influéncia deci siva’seja de qual mestre for. Aliés, ele jamais foi tio Jonge no art nouveau quanto seus colegas curopeus © 86 raras vezes se desembaracou das imposigdes dos es- tilos hhist6ricos, sem davida alguma por causa do am- biente que 0 cercava no Brasil e da incompreensio que teria acompanhado toda tentativa mais audaciosa de se libertar desse contexto. Por conseguinte, a diversi- dade da obra de Dubugras, passando do neo-romano ¢ Grr Fig. 16, Victor DUGUBRAS. Projeto para o Teatro Muni cipal do Rio de Janeiro. 1908. Elevaca0 do vest blo. do neogético a0 art nouveau ¢ mais tarde 20 neocolo- nial, € mais aparente do que real; possivel identifi carse nela uma grande continuidade e uma l6gica interna que justificam o parentesco, sensivel apesar de tudo, entre obras pertencentes a estilos to diversos, a 3 Comparados a Ekman e Dubugras, os arquitetos italianos que trabalharam em So Paulo no estilo arf rouveau fazem uma triste figura"®, De fato, content: ram em aplicar as suas construgdes ume decoracio nae turalista, que no lembra nem de longe o vigor floredle, de seu pais de origem. Essa posigdo retrogada € muito curiosa, jé que, no campo das artes aplicadas, foram 05 italianos, sob a diregao de Luigi Scattolini, ‘que tik veram papel de destaque no Liceu de Artes ¢ Oficio isto pode certamente ser explicado, pelas razbes psico- légicas j4 mencionadas®® e pelo controle rigido de Ra- mos de Azevedo, pouco propenso a permitir que seus colegas se afasiassem do vocabulério arquitetOnico cléssico, mas que em matéria de ornamentago era mu to mais tolerante"’. Assim, nem Domiziano Rossi, nem, Micheli, nem Chiappori, nem mais tarde, Bianchi, po- dem ser considerados por suas realizacdes como adeptos fervorosos do art nouveau; aderiram por vezes & moda, da época e conservaram ainda por muito tempo (prin- cipalmente 0 iltimo) um gosto acentuado pela decorae do floral, mas sua arquitetura inspirou-se mais nos, modelos da Renascensa do que nas construgées realic zadas na Europa no comeco do século, No Rio de Janeiro, o art nouveau no se desen- yolveu tanto quanto em Sio Paulo, Segundo Licio, Costa?*, um dos arquitetos mais significativos desse movimento foi Silva Costa, que construiu vérias casas; na Praia de Copacabana; contudo, ndo se pode formu- lar qualquer juizo sobre elas, jé que desepareceram sem deixar vestigios. Em compensacao, subsistiram al- gumas obras do italiano Virzi, outro grande nome do art nouveau carioca; so construgbes bem curiosas,, onde caracterfsticas do modern style misturam-se a re- miniseéncias hist6rieas. A cesa situada na Rua da GI6- ria, construfda para o laboratétio “Elixir de Nogueira®, possivelmente terminada em 1916", tem a entra flanqueada por potentes atlantes barrocos, exemplo caracteristico de uma decoragio sobrecarregada. Mais interessante é # casa (Fig. 17) situada no mesmo bairto, ana Praia do Russel n. 734 (antigo n 172), que sem divide alguma logo iré cair sob a picareta dos demo- lidores*®. Como a anterior, € uma hal eujo trago dominante € a verticalidade; inspiracéo medieval € claramente visivel nessa verdadeira torre que lembra) as solugdes adotadas em certas cidades italianas; 0 com opp 938 « apt OL pre, vs 38 37, Bas ein ake wou marcas come tema fndanenil da cash de Maret‘ Marehan em bome "ae sete cago sieht ja Oe ee ee Te mento em terrago, coberto por um telhado sustentado finos pilares de madeira geminados ¢ assentados suportes de pedra muito salientes, tom um ar de ficacio de opercta que no é fruto do acaso; as fadas que contornam trés lados do mindsculo VIRZI, Cas da Praia do Russel n* 754, Rio de Janeiro. Por volta de 1920. p se fosse um pequeno claustro, 2 abundancia de ts colunas geminadas encimadas por capittis, os ‘omatos em relevo, 0 volume saliente do segundo it do edificio recuado, e varios outros detalhes, gbém contribuem para uma aproximago com a ar- ptura da Idade Média. Por outro lado, as formas , estranhas e nfo raro irregulares, adotadas Fincipalmentc no trayado dos arcos, a fantasia total i io de volumes, undincia de grades e balcdes de ferro forjado onde destaca o jogo linear das diagonais ¢ das. volutas, eem 40 espitito ¢ ao vocabuldrio do art nouveau. intese ¢ feliz e lembra um pouco a obra do catalao Gaudi, que também tina partido de uma inspiragio de origem medieval para chegar a criagSes totalmente inéditas. Naturalmente, Virzi ndo etingiu a forga nem a audécia caracteristicas das realizagdes de Gaudi, mas incontestével que ele foi, no Brasil, um digno repre- sentante de uma tendéncia muito pouco difundida do modern style, na qual a énfase maior era dada aos problemas forma art nouveau parece ter se prolongado por muito tempo no Rio, integrandose no setor da habitagi popular, & anda’ de ecletismo histérico que assolou a cidade. Também alcangou certo éxito em edificios co- merciais ¢ industriais, cujas fachadas ndo raro eram omamentadas com abundante decoracdo naturalista ou por grades e baledes de ferro forjado com intrineados arabescos®, A’ moda do modem style nfo se limitou aos dois principais centros do pais. Alguns tragos esparsos desse estilo podem ser encontrados cm Salvador ¢ em Belo Horizonto!. Apesar de ter sido construida na época de maior impulso do art nouveau, nesta cidade apenas algumas casas, pertencentes a’ personalidades locais (como Joao Pinheiro, governador do Estado de 1906 1908) adotaram a nova moda, conservando, a0 mes- ‘mo tempo, alguns tragos tradicionais; o que ocorria na maioria dos casos era apenas uma justaposicao de al- guns elementos funcionais e, mais ainda, decorativos 2 construgdes de espfrito diverso*®. Nzo se tratava alids de criag6es locais, mas sim de estruturas e de ornamen- tos de ferro importados diretamente da Europa ¢ depois sem qualquer alteragéo montados na obra, A obra-pri- ma € indiscutivelmente a magnifica escadaria met instalada no Palécio da Liberdade, sede do poder exe- cutivo: o interesse que ela apresenta € redobrado pois mostra prestigio que tinha o ferro no campo das ar tes aplicadas; nesse setor, e somente nele, eram reco- nhecidas 2s qualidades estéticas do ferro, que o torna- ‘vam digno de figurar no lugar de honra de um edificio oficial, cujo arquiteto — pelo contrério — era cbrigado 4 obedecer a um academicismo classicizante, Contudo, a cidade brasileira mais atingida pelo art nouveau, além de Sao Paulo ¢ Rio, acha-se as m gens do Amazonas. Trata‘se de Belém, capital do Paré, que, gragas_o comércio da borracha, teve um desen- volvimento-fantéstico, mas efémero durante a primeira década do século, A’ riqueza rapidamente acumulada por particulares reflete-se na construcio de belas re déncias ou de edificios comerciais mais ou menos sun- tuosos, onde podem ser encontrados virios.tragos modern style**. Nao hé nada de extraordindrio uuma vez que 0 periodo éureo da borracha, que fez a fortuna de Belém e de Manaus, coincidiu com o grande gems pe Een ober Modal Ck. "COSEA, 9h ley £3, Yoon puedes per Pio Mots om Codernr Pro Wh. Médalo, ne 8, deembro de 1864, pp. 1 (Slogan) 86. Arguitetre, 0.9 2, ball de 1964, pp. 1215 (fotogralian). st prestigio internacional do art nouveau; pelo contrério, teria sido estranho que essa clientela de novostricos, com ofhos ¢ interesses voltados inteiramente para a Europa, no tivesse sido seduzida pelo cardier de os- tentacio dessa moda. Os resultados, porém, foram bas- tante mediocres. Mais ainda do que em Sio Paulo ou no Rio, a maicria dos edificios construidos era uma extraordinéria miscelénea de estilos do passado. A Vila Bolonha, obra do engenheiro Francisco Bolonha, figura de destaque do art nouveau em Belém, com sue peque na torre hexagonal vagamente medieval, 0 pértico em arcadas, a cornija sustentada por suportes que lembram ‘mata-cfes, 0 térreo com ranhuras, a cobertura com man- sardas, as janelas Sezession e, nas salas de estar do primeiro andar, as varandas em projecio que lembram 1 arquitetura do inglés Webb de fins do século passe- do,,sio. um exemplo tipico desse fato, Assim, 36 se pode falar de uma penetragéo superficial do. modern style nas margens do Amazonas, ¢ néo da implantagao conereta de um movimento original". © art nouveau assumiu portanto no Brasil aspec- tos bem diferenciados segundo as regiGes e segundo a personalidade © a formagao dos arquitetos que 0 intro- duziram ou 0 adotaram, Existe, entretanto, um deter- minado nimero de pontos comuns que devem ser res- saltados. S6 raras vezes foi uma tentativa de renovacdo da arquitetura, uma procura de um estilo caracteristico de sua época; no teve portanto a mesma significagdo profunda que teve na Europa. Longe de tentar comba- ter o ecletismo entdo reinante, integrou-se perfeitamen- te nele, tornandose essencialmente uma moda como as demais. Nao houve uma ruptura, uma incompatibili- dade total com a imitagio dos estilos do passado, mas ‘uma curiosa sintese de elementos tomados de emprés- imo desses estilos, principalmente da arte gética™*, e de tracos tipicos do art nouveau. Nada de duradouro podia surgir dessas preocupacdes quase sempre pura- mente formais, principalmente numa época em que o gosto ere tao instével, Enquanto que na Europa © mo- dera style foi um primeiro passo no sentido de uma arquitetura realmente contempordnea, no Brasil ele ni passou de mero episédio sem futuro: de fato, nesse pais no se pode estabelecer qualquer relagdo entre esses dois movimentos, separados por um intervalo de no mi- imo vinte anos, e tendo sido o primeiro decididamen- te ignorado pelo segundo. A nova arquitetura brasileira nfo nasceu de uma lenta maturacdo da arquitetura lo- cal — ela foi resultado mais uma vez de uma importa- so pura e simples do Velho Mundo. Contudo, logo superou o estégio da aplicacio mais ou menos servil de certas regras e principios e encontrou um caminho proprio. Isto deve-se indiscutivelmente ao nascimento de uma personalidade artistica genuinamente brasileira, cujo primeiro sintoma foi ainda uma vez mais um es- tilo histérico: © neocolonial. ‘Pande tade nar a Si 13, A jomliwsa des tap decraon edn sn gs (an ode lambs tan renin | gaps ‘Suite cctmoDebugrs ‘tam do seepce ie 52 4, © ESTILO NEOCOLONIAL Conforme observou Licio Costa’, a controvérsia entre 0 “falso colonial” e “o ecletismo dos falsos est los europeus” (que chegou ao seu ponto critico logo apts 1920) pode hoje parecer uma discussio infantil sobre 0 sexo dos anjos. Os partidérios das duas teorias no percebiam as profundas modificacoes que a revolu- ¢40 industrial havia causado na vide contemporéne nem o§ novos problemas que os arquitetos seriam cha mados a resolver, a fim de dar uma resposta adequada as necessidades do-homem do século XX. Ora, «are quitetura jamais foi ¢ jamais seré uma arte pela art id intimamente ligada as necessidades mate izagdo que a faz nascer e da qual 6 um dos nos mais evidentes; ela nao pode ignorar essas neces sidades, sob pena de perder toda sua autenticidade qualquer velor duradouro, Por conseguinte, o debate puramente formal que tinha sido instaurado cra total mente aeadémico, © nfo abria qualquer perspectiva nova. Seria um erro, porém, desprezar o aspecto psico- Jégico da questio e considerar a moda do neocolonial como um epis6dio inconseqiiente. Esse movimento fol na realidade a primeira manifestacao de uma tomada) de consciéncia, por parte dos brasileiros, das possibile dades do seu pais ¢ da sua originalidade. Jé assinalamos anteriormente a importincia desse fendmeno, sem 6 qual a arquitetura brasileira nao seria hoje 0 que €*, Nessas condigtes, pode parecer um pouco esta: iho que os precursores do neocolonial tenham sido estrangeiros radicados em So Paulo — cidade inteira: mente voltada para o presente e para o futuro, que des prezava e audacfosamente destruia os vestigios de seu ppassado, aliés pouco significativos quando comparados aos de outras regides. Essa anomalia pode ser explicar da em parte quando se considera a nacionalidade de tum desses dois arquitetos, o portugués Ricardo Severo, a personalidade do outro, o jé conhecido Victor Dus bugras. Origindrio do Porto, onde fizera seus estudos, 0 engenheiro Ricardo Severo” foi forcado a exilar-se no Brasil depois de uma conspiragio para derrubar a mo narquia em Portugal. Permanecendo aqui mesmo de- pois da proclamacao da reptiblica em seu pais, em 1910, tornando-se sdcio © mais tarde sucessor de Ramos de Azevedo, gozando, conseqiientemente, de uma sélida) posigao. Homem de grande cultura, era muito ligado & arquitetura tradicional de Portugal, principalmente & da regido Norte™, que conhecia de modo admirével inelue sive do ponto de vista arqueolégico, Para Severo, por tanto, procurar inspiracio através de uma relativa imi tagio dos modelos de sua terra natal, era uma atitude tio natural quanto a dos imigrantes italianos, quando davam preferéncia aos diversos estilos originados day Renascenca. Ora, esse nacionalismo portugués (fran camente admitido por Ricardo Severo na série de con ©. 1, CORTA, of et, 0. Gh, apne, 925 ee eee te is feitas em 1914, sob 0 patrocinio da Sociedade Cultura Artistica) podia encontrar no Brasil um Freno propicio ¢ uma certa l6gica interna; afinal, tra- ge de uma volta & tradiglo, que jemais tinha sido Imente esquecida e que podia ser considerada como ‘manancial caracteristico da personalidade luso-bra- 8. Mas Ricardo Severo ndo se limitou a conduzir jor sua campanha em favor do “estilo colonial sileiro”®®, deu o exemplo, construindo, para si pré- @ ¢ para alguns clientes atraidos por suas idéias © elegincia de sua arquitetura, belas residéncias, 1o- las infelizmente jé demolidas. As mais caracteris- B foram aquclas destinadas a seu proprio uso, uma B Sao Paulo, outra no litoral, no Guarujé (Fig. 18), 18. Ricardo SEVERO. Case do arguieto. Guarujé (Sto Palo). 1922. ‘residéncia Numa de Oliveira na Avenida Paulista’. ter dessas residéncias provinha do emprego sis tico de elementos tomados de empréstimo A arqui- civil portuguesa dos séculos XVII e XVIII: va- ‘sustentadas por simples colunas toscanas, telha- wplanos com largos beirais, feitos de telhas-canal © nos vértices, uma telha em forma de pluma para cima (lembrando a moda do exotismo chinés (Século das Luzes), rétulas ¢ muxarabis de longingisa em muculmana, azulejos fabricados diretamente no j@ recobrindo as paredes das varandas®®. Contudo, se tratava de cépias de casas antigas, as quais ti M um esquema muito simples tanto em planta, ato no tratamento dos volumes. As casas de Ricardo . pelo contrério, eram extremamente variadas € com toda a liberdade permitida pela técnica smporinca. Nao vacilava em jogar com os. planos distribuicdo das massas e, mais ainda, recuos pro- Bsivos em clevacSo, particularmente vistveis na casa (Guarujé. Na época colonial, jamais houve semelhan- F Piblcos cm 1918 en tvro sre arguitetur tacoma no BR Revroinsda em Deswimenio, 190, p. 28 tue suriracagidanente como tema ‘apeciicn dx arte neocloaal) ts. eovatio ral em uul'e basco no sve tl Got tclnds tes exercicios de virtuosistho gratuito, € tampouco era possivel cogitar o grau de refinamento alcangado por Ricardo Severo, Portanto, suas obras eram modernas, mas concebidas de modo a evocar intensamente uma arquitetura do. passado, AA distingao alcangada com naturalidade, sem es- forgo aparente, por Ricardo Severo, nio podia ser encontrada em Victor Dubugras; devido a suas origens e formacio, este ndo podia ter a mesma sensibilidade agucada do portugués em relacio & arquitctura 1uso- brasileira, nem o mesmo conhecimento profundo dos mais infimos detalhes. Era bem diferente portanto 0 espirito que o animava: nfo se preocupava em empregar ‘os mesmos materiais da época colonial, nem em repro- duzir sisiematicamente um repertério'decorativo fiel, limitando-se a um cetto parentesco formal, sem jamais se ater a0 respeito de prinefpios absolutos. Com efeito, seu espirito ao mesmo tempo eclético ¢ inovador I ya-o a pesquisar todas as fontes, para delas extrair 0 que considerave melhor. Desde 1915 Dubugras vinha adotando 0 novo ¢s- tilo; portanto parece que sua conversio foi devida & campanha em favor do neocolonial feita por Ricardo Severo em 1914, Ali estava uma nova possibilidade que surgia no momento em que 0 yeio do art nouveau estava se esgotando, e Dubugras ngo iria deixar passar uma oportunidade de sucesso, mas também no estava disposto @ renegar sua obra anterior. Sua “arquitetura tradicional brasileira” (termo que adotou para designar essa Ultima tendéncia) nfo rompeu totalmente com as fases anteriores de sua obra, como ainda hoje pode ser constatado, através das realizagdes que tiveram a sorte de chegar até nds: a escadaria da Ladeira da Meméria, executada quando Washington Lufs era prefeito de Sio Paulo, e 0 conjunto de monumentos comemorativos do centendrio da Independéncia®”, construidos em 1922 a0 Jongo da antiga estrada para Santos quando o mesmo Washington Luis era governador do Estado, Em todos ses monumentos, Dubugras fez amplo uso dos azule- jos desenhados por Wasth Rodrigues® e retomou al- guns elementos cléssicos da arquitetura luso-brasileira (varandas, baledes, telhados planos de telhas-canal com largos beitais, lintéis das janelas, frontdes com piné- culos tomados de empréstimo & arquitetura religiosa e no & civil), mas sem pretender utilizélos de modo arqueologicamente correto; a tudo isso junta outras for mas que jé vinha utilizando anteriormente com fre- aliéncia (arcos-plenos de coloracio romana, curvas dos, degraus da escada ou das muretas das varandas que lembram o art nouveau); finalmente ¢ acima de tudo, usava pedra bruta muito eseura disposta de modo irre- gular, 0 que dava a seus ediffcios (Fig. 19) um aspecto ruto e pesado, em violento contraste com a cor clara do reboco empregado sistematicamente na arquitetura portuguesa. A mistura de estilos e a fantasia pitoresca era ainda mais visivel num de seus iltimos projetos, He ELMOTTA, op, sits p33 (on sonsrck erie mace ‘cn mem aca, ema grande cr mo spe dn montane, Sl, ‘Denne ue Tl elaberadee'c alge de Dsbugeas: eu grande costecedor'de arguletra colonial, ebre = tal abe fete "ee Soe 33

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