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Of.

00123/2022 – GAB
Belo Horizonte, 07 de Novembro de 2022.

Ilmo. Sr. Dr. Patrick Salgado Martins


Procurador (a) Geral da República do Ministério Público Federal de Minas Gerais.

Prezado Dr. Patrick,

Com nossos cordiais cumprimentos, a Deputada Estadual Beatriz Cerqueira, na condição de


Presidenta da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa e o Deputado
Federal Rogério Correia, ambos, no uso das suas prerrogativas institucionais, vêm através do presente
ofício expor e solicitar o seguinte.

A representação em tela tem o intuito de que o douto Representante do Ministério Público


Federal, como fiscal da lei e da ordem, promova a apuração da irregularidade da conduta e
responsabilidade do Reitor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Sr.
Janir Alves Soares.

Conforme amplamente noticiado, o Reitor da Universidade Federal dos Vales do


Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Sr. Janir Alves Soares, protocolou um documento ao Comandante do
3° Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) solicitando apoio para o bloqueio das estradas1,
fomentando os atos antidemocráticos que se iniciaram em diversos estados da Federação contra o
resultado do pleito eleitoral em 30.10.2022 para os cargos de Vice-Presidente e de Presidente da
República.

O documento assinado pelo Reitor direcionado ao Comandante do 3º Batalhão da Polícia


Militar de Diamantina demonstra o pedido de solicitação de apoio da Polícia Militar para o bloqueio da
BR 367, na cidade de Diamantina, conforme abaixo.

1 https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2022/11/01/interna_politica,1416057/reitor-de-universidade-
mineira-pede-apoio-da-pmmg-para-bloqueio-de-estradas.shtml

https://economiaempauta.com/reitor-de-universidade-mineira-pede-apoio-da-pmmg-para-bloqueio-de-estradas/

https://twitter.com/JSPendot/status/1587753267345473537
Gabinete da Deputada Beatriz Cerqueira
Palácio da Inconfidência – Rua Rodrigues Caldas, 30 – 2º andar – Sala 244 – Santo Agostinho –
Belo Horizonte – MG – 30190-921 - Tel.: (31) 2108-5415 – dep.beatriz.cerqueira@almg.gov.br
O documento, inicia-se com o texto: “Eu sou Janir Alves Soares, membro de um grupo de
pessoas diamantinenses e apoiadores do movimento nacional pela INTERVENÇÃO FEDERAL, contra a
posse de um LADRÃO, DESCONDENADO e CORRUPTO que pretende assumir a presidência do nosso
país”. E, no Oficio, continua: “Nosso grupo está representado por trabalhadores, cidadãos ordeiros e
patriotas, razão pela qual manifestamos nossa reprovação ao resultado desta eleição presidencial
ocorrida neste mês de outubro de 2022. Além disso, estamos bastante temerosos à pauta econômica, da
educação, da liberdade de imprensa (censura), da liberdade de expressão, da agenda de costumes, da
intolerância religiosa, enfim, do regime de governo comunista defendido pelo ex-presidente Lula”.

Como é notório e público, no dia 31 de Outubro de 2022, o Supremo Tribunal Federal, nos
autos da ADPF nº 519, a partir de um pedido da Confederação Nacional dos Transportes e do Vice-
Procurador-Geral Eleitoral. Dr. Paulo Gustavo Gonet Branco, determinou que a Polícia Rodoviária
Federal e as Polícias Militares dos Estados desbloqueassem as vias públicas interditadas por
caminhoneiros que fecharam as rodovias e vias públicas de diversas regiões do País, por não
aceitarem o resultado das urnas do pleito eleitoral de 2022. Na decisão, o relator, Ministro Alexandre
de Moraes, bem destacou:

“No caso vertente, entendo demonstrado o abuso no exercício do direito de reunião


direcionado, ilícita e criminosamente, para propagar o descumprimento e desrespeito ao
resultado do pleito eleitoral para Presidente e vice-Presidente da República, cujo resultado
foi proclamado pelo Tribuna Superior Eleitoral na data de ontem e que vem acarretando
gravíssima obstrução do tráfego em rodovias e vias públicas, impedindo, a livre circulação
no território nacional e causando a descontinuidade no abastecimento de combustíveis e no
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fornecimento de insumos para a prestação de serviços públicos essenciais, como transporte
urbano, tratamento de água para consumo humano, segurança pública, fornecimento de
energia elétrica, medicamentos, alimentos e tudo quanto dependa de uma cadeia de
fabricação e distribuição dependente do transporte em rodovias federais – o que, na nossa
realidade econômica e social, tem efeitos dramáticos. Merece, portanto, a afirmação
contida na petição inicial, convergente com o que vem sendo noticiado nos veículos de
imprensa nas últimas horas, no sentido de que estão a ocorrer “manifestações
relacionadas com os resultados das eleições divulgados na noite de ontem, mediante
obstrução com veículos, de rodovias, em dezenas de pontos de interrupção, acarretando o
impedimento ao livre trânsito de veículos e prejuízos aos cidadãos. Desafios dessa espécie
atingem o processo eleitoral, no que tange à sua legitimidade e eficácia como forma de
expressão da vontade popular.
(..)

As manifestações, em si mesmas consideradas, mormente no que obstruem, interrompem e


obstaculizam de modo indiscriminado vias públicas federais, bem assim, também as falas de
agentes da Polícia Rodoviária Federal, desnaturam e desvirtuam o direito de reunião, isso
porque, segundo aponta o Ministério Público Eleitoral, são motivadas por uma pretensão
antidemocrática, qual seja, um protesto contra a eleição regular e legítima de um novo
Presidente da República, em 30 de outubro de 2022, inclusive com pretensão impeditiva
de posse por meio de atos ilegítimos e violentos como seria uma absolutamente impensável
intervenção militar.”

A discordância com o resultado do pleito presidencial ocorrido no país a partir das


manifestações, nada mais são, que atos antidemocráticos e, potencialmente, criminosos, por atentarem
contra o Estado Democrático de Direito.

Nesse sentido, tal conduta ora denunciada, é abusiva e atenta contra aos ditames da
Constituição Federal, principalmente no do que diz respeito aos princípios da manutenção da ordem
pública e da obediência a soberania popular. A soberania do povo deve ser respeitada, já que os cidadãos
e cidadãs elegem, de forma democrática, os seus líderes para representá-los no Estado, nos termos do
§único do art. 1º da Constituição Federal que estabelece: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Assim, a soberania
popular é exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, nos
termos do art. 14 da Constituição Federal.

Ademais, a ação do Reitor, Sr. Jair Alves Soares, contraria a decisão proferida pela Suprema
Corte nos autos da ADPF nº 519 que determinou à Polícia Rodoviária Federal e as Polícias Militares dos
Estados o desbloqueio das rodovias e vias públicas de diversas regiões do País, em decorrência dos atos
antidemocráticos por não aceitarem o resultado das urnas do pleito eleitoral de 2022. É o verdadeiro
atentado contra a democracia e o Estado de Direito.

Gabinete da Deputada Beatriz Cerqueira


Palácio da Inconfidência – Rua Rodrigues Caldas, 30 – 2º andar – Sala 244 – Santo Agostinho –
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O Ministro do STF, Alexandre de Moraes, na data de 03/11, durante a Reunião de Plenário
da Corte Suprema, reforçou2 que “aqueles que criminosamente não estão aceitando, aqueles que
criminosamente estão praticando atos antidemocráticos, serão tratados como criminosos, e a sua
responsabilidade, as responsabilidades, serão apuradas". E acrescentou: “As eleições acabaram, o
segundo turno acabou democraticamente no último domingo, o Tribunal Superior Eleitoral proclamou o
vencedor, o vencedor será diplomado dia 19, até 19 de dezembro, e tomará posse dia 1º de janeiro de
2023. Isso é democracia, isso é alternância de poder, isso é estado republicano”.

Os atos têm atentado contra a sociedade democrática, de maneira abusiva e contra à proteção
dos direitos e liberdades dos demais, as exigências da saúde ou moralidade, da ordem pública, a segurança
nacional, a segurança pública, da defesa da ordem e prevenção do crime, e o bem-estar da sociedade. Sem
dúvidas, é a promoção de ataques as próprias Instituições Democráticas de representação política e social
do Brasil.

Como é cediço, os atos antidemocráticos têm impedido a livre circulação no território


nacional, causando prejuízos imensuráveis para a população com relevante impacto na economia
nacional, a começar com o comprometimento do abastecimento de combustível, alimentos, insumos para
hospitais, fornecimento de água, isto é, o impedimento da prestação de serviços públicos essenciais e
inadiáveis para a sociedade.

Além disso, o pedido de “intervenção federal” do Sr. Janir Alves Soares contra o resultado
das eleições estimula, sobremaneira, mais ataques ao regime democrático do nosso país e atenta contra a
ordem pública, como um todo.

Não obstante, o Reitor é professor titular da Universidade Federal dos Vales do


Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) nomeado para o exercício da função do cargo, conforme nomeação
publicada no Diário Oficial da União em 09/08/20193, para um mandato de 4 (quatro) anos.

O Estatuto da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri4, estabelece, que


é vedado à Universidade tomar “posição sobre questões político-partidárias ou religiosas, bem como
adotar medidas discriminatórias ou baseadas em preconceitos de qualquer natureza”, conforme consta no
§único do art. 3º. Ainda, o estatuto estabelece:

“Art. 24. Ao Reitor compete:

I- cumprir e fazer cumprir o Estatuto e o Regimento Geral da UFVJM;”

Muito embora o Ofício enviado à PMMG não tenha sido emitido em nome da Universidade,
pois trata-se de uma solicitação pessoal do Sr. Janir, não podemos desconsiderar que ele ocupa um cargo
de tamanho renome e responsabilidade à frente da Reitoria de uma das maiores Universidades Federais.

2 https://www.otempo.com.br/eleicoes/no-tse-moraes-diz-que-resultados-nao-serao-contestados-e-elogia-
comparecimento-1.2760839
3 https://www.in.gov.br/web/dou/-/decreto-de-8-de-agosto-de-2019-209780103
4 https://portal.ufvjm.edu.br/page/acesso-a-informacao/institucional/bases-juridicas/bases-juridicas-1/estatuto-da-
ufvjm
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Tal comportamento não é condizente com a liturgia e as atribuições do cargo de Reitor que o mesmo
ocupa, bem como contrário aos princípios que devem reger uma Universidade, principalmente, quando
estamos diante de uma conduta que incita o ódio e a violência, descumpre decisão judicial e se atenta
contra o regime democrático do nosso País, sem respeito ao voto popular.

Ademais, a repercussão5 gerada pela manifestação do Sr. Jair não realizou qualquer distinção
do seu nome ao cargo que ocupa, sendo veiculada de forma a ressaltar a manifestação enquanto Reitor da
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, logo, envolveu diretamente a imagem da
instituição de ensino federal e a relevância de seu cargo, bem como, revela a sua utilização para fins de
maior alcance da mensagem antidemocrática que pretendeu dar publicidade.

As universidades públicas se apresentam como uma das facetas da democratização do


ensino que a Constituição Federal estabelece, isto é, constituem assim, uma conquista democrática
da sociedade. Portanto, o Reitor, na condição de representante máximo de uma Universidade
democrática, deve respeitar e zelar a Constituição Federal, as leis e as suas instituições democráticas,
principalmente no que diz respeito à soberania popular.

Dentre os direitos e garantias fundamentais previstos no art. 5º da Constituição, ainda é


importante ressaltar que o inciso XLIV estabelece que “a ação de grupos armados, civis ou militares,
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático”, constitui crime inafiançável e imprescritível.
A Constituição Federal é a carta máxima democrática e cidadã do nosso País, portanto, todos,
indistintamente da posição que ocupa na sociedade, devem zelar e respeitar os direitos e garantias
fundamentais nela prevista.

A partir do momento em que o Sr. Janir, sente-se autorizado a apoiar direta ou indiretamente de
atos que afrontam a vontade soberana da população manifestada nas urnas, demonstra, que adotou um
comportamento contrários aos princípios mais básicos do regime republicano, que é o único no qual as
Universidades podem funcionar de forma livre. As Universidades são o espaço da democracia e do diálogo e
devem ser as instituições republicanas mais importantes de qualquer Estado e que existem no contexto de uma
sociedade livre e democrática.

Igual modo, o Sr. Janir, apesar de estar no exercício do mandato de Reitor, permanece sujeito
aos deveres funcionais do seu cargo efetivo como professor titular da Universidade. A Lei Federal nº
8.112/990, que dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e
das fundações públicas federais, em seu art. 116, estabelece como deveres funcionais, à lealdade às
instituições a que servir, a observância das normas legais e regulamentos e manter conduta compatível
com a moralidade administrativa, que não estão sendo observados pelo Sr. Janir, na condição de servidor
público federal da Universidade.

5 https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2022/11/01/interna_politica,1416057/reitor-de-universidade-
mineira-pede-apoio-da-pmmg-para-bloqueio-de-estradas.shtml

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Também, a Lei Federal nº 14.197, de 1º de setembro de 2021, acrescentou ao Código Penal
os crimes relativos contra o Estado Democrático de Direito e assim estabelece:

“DOS CRIMES CONTRA AS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS

Abolição violenta do Estado Democrático de Direito

Art. 359-L. Tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado
Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes
constitucionais:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência.

Golpe de Estado

Art. 359-M. Tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo
legitimamente constituído:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos, além da pena correspondente à violência.”

Portanto, a conduta denunciada, é criminosa e atenta contra o Estado de Direito e as suas


Instituições Democráticas, merecendo, a devida apuração e instauração de inquérito administrativo por
parte deste D. Ministério Público Federal, de modo que, possa ser fielmente cumprida a decisão judicial
proferida pelo Supremo Tribunal Federal na ADPF nº 519, bem como, que seja respeitada a Constituição
Federal e o processo eleitoral, no que tange à sua legitimidade e eficácia como forma de expressão da
vontade popular no pleito eleitoral de 2022.

Atenciosamente,
Assinado de
BEATRIZ forma digital por
DA SILVA BEATRIZ DA SILVA
CERQUEIRA
CERQUEIRA Dados: 2022.11.07
___________________________________
15:40:53 -03'00'

Beatriz Cerqueira - Deputada Estadual (PT)


Presidenta da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da ALMG

________________________________________

Rogério Correia – Deputado Federal (PT)

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