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3.abordagens Sobre Cidades Aula Cidade e Industria
3.abordagens Sobre Cidades Aula Cidade e Industria
04 bilhões
01 bilhão
A explosão
populacional das
cidades europeias
no Século XIX
causou dois
fenômenos:
explosão da cidade
medieval (ainda
existente) e
migração em
massa ao Novo
Mundo.
Fluxo migratório e rotas de migração: a
Europa expande suas “fronteiras” culturais
pela exportação de trabalhadores. Ao lado,
as principais rotas, acima o fluxo aos Estados
Unidos.
Inglaterra no século XIX
Lembrando:
1. Os cercamentos
(sec. XVII ao XIX)
concentraram a
terra e iniciaram um
mercado fundiário
agrícola, com preço
dos alimentos
negociados em
mercados
internacionais.
2. Isso forçou uma
migração campo-
cidade sem
precedentes.
Lembrando:
2
Diz Eric Hobsbawn “ A produção de ferro havia atingido ali, mas em nenhum
outro lugar, a ordem da magnitude de milhões na década de 1830 (era de
2,5 milhões de toneladas em 1850). Por volta de 1870, a França, a Alemanha
e os Estados Unidos produzam cada um, entre 1 e 2 milhões de toneladas,
enquanto a Inglaterra, ainda a oficina do mudo, permanecia bem a frente
com 6. Berlim: milhões, ou seja, cerca de metade da produção mundial” (A
Era do Capital, 2009, p.75)
As cidades na Europa explodiram: Viena: de 400 mil em 1846 para 700 mil
em 1880. Berlim: de 378 mil em 1849 para 1 milhão em 1875. Paris: de 1
milhão para 1,9 milhão e Londres: 2,5 milhões para 3,9 milhões entre 1851
e 1881. (HOBSBAWN, 2009, p.321)
Londres Moradia dos pobres: cortiços e aluguel
- William Cobbett chamou Londres (de 1820) de “great wen” (tumor que cresce, sem controle).
Enquanto isso, a Revolução Industrial implantava novo ciclo de acumulação do capital impactando as
cidades vizinhas.
Manchester
Disse Engels,
“Em toda a parte veem-se montes de lixo, detritos e sujeira. (...) Anda-se ao longo de um
caminho muito rústico à margem do rio, entre postes e varais de roupas, para se chegar a um
grupo caótico de pequenas cabines térreas de um único cômodo. A maioria delas tem chão de
terra, e o trabalho, a vida e o sono acontecem todos no mesmo recinto” (A Situação da Classe
Trabalhadora na Inglaterra).
A regulação urbana nos subúrbios era praticamente nula. As fábricas procuravam se estabelecer
perto de cursos de água e onde pudesse explorar ao máximo a terra, longe do olhar da burguesia que
passava a morar perto de parques e áreas livres. Em Manchester (ou Liverpool), havia uma
competição por novos terrenos para fábricas – nos espaços entre elas, nascia um novo cortiço de
trabalhadores.
De Gustave Doré – La Nouveau Paris – essa xilogravura mostra os primeiros ônibus em Paris.
E as primeiras reclamações dos usuários também.
Moradia em cortiços Lewis Mumford: em 1843, em uma
comunidade em Manchester com 7
mil moradores, havia apenas 33
privadas (A cidade na história).
Rua Little Collingwood (1900) foto de John Galt.
Família pobre em East End (1900)
foto de John Galton.
A situação da classe trabalhadora na Inglaterra
Inglaterra, 1842-1845
• Ao voltar, reside uma temporada em Berlim, onde presta o serviço militar, matricula-se
em disciplinas de filosofia – de discípulos de Hegel, impressiona-se pelo pensamento
libertário e republicano (esquerda hegeliana).
• Em 1842, o pai decide que está na hora de que seu sucessor se aproxime dos negócios;
o envia a um estágio em Manchester – uma das cidades com filiais da Ermen & Engels,
encontrando “material” sem fim para seus estudos sobre a formação operária, a
Economia Política inglesa e os movimentos sociais.
• Em 1844 retorna para Alemanha, mas faz uma parada em Paris onde reencontra Karl
Marx – dizem que conversaram sem parar por três dias, regados à cigarros, vinho e
café. Desse encontro, surgirá uma amizade que os levou até o fim da vida. Uma
primeira obra conjunta, em 1845, a Sagrada Família ou a crítica da Crítica critica.
Mergulha no debate socialista.
O jovem Engels, em 1837.
• Antes, ao retornar da Inglaterra, com vários cadernos de anotações, publica em maio
(Cf. HUNT, Tristam. Marx’s General: The Revolutionary life of de 1845 (o sucesso editorial) A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra. Esse
Friedrich Engels) livro colocará Engels na lista de autores modernos, por expor uma nova forma de
contar a história contemporânea.
• O “problema de pesquisa” de Engels é claro: na Introdução de 1845 ele comenta que
“a condição da classe trabalhadora é a base real e o ponto de partida de todos os
movimentos sociais trabalhistas” pois era a evidência de que, embora o progresso
técnico e o conforto nas casas da classe média tenham aumentado de forma visível,
as melhorias não alcançavam os próprios operários.
• O que gerava essa desigualdade? Quais condições básicas (de pobreza) eram
fundamentais para manter a injusta distribuição do bônus econômico?
• É um dos primeiros documentos que registra a Revolução Industrial como causa das
transformações sociais, ambientais, econômicas e políticas com amplo impacto das
cidades britânicas.
Esses temas irão levar Engels – na sua vida – a acreditar na Potência do Proletariado como classe
inovadora e progressista.
Breve nota
• A Liberdade Política e a Liberdade Civil foram traduzidas, cada um a seu termo, em Leis Políticas e Leis
Civis. O que isso significa? O debate filosófico (que pode ser visto nos escritos de Alexis de Tocqueville e F.
Engels) é entender se o que resume a Liberdade é a inviolabilidade da esfera privada (incluindo a
empresa) ou é a Liberdade Positiva – aquela que garante acesso de todos aos mesmos direitos. O Direito
será, então, um campo de Liberdades Negativas (o limite do que não fazer) e Positivas (o ponto de partida
do que fazer).
• De modo mais claro: para o pensamento burguês (ilustrado, diga-se): o pobre teria o Direito ao Voto
(Liberdade Política) mas não poderia requerer Direitos ao Capital pois este é Privado (ausência de
Liberdade Civil), se a propriedade é parte do Capital logo a Propriedade e o Capital são sagrados, e
negativados ao alcance dos Direitos – esfera imanente do Código Civil, não da Política.
• Nasce uma esfera POLÍTICA – a disputa do poder político, sem olhar as condições de vida material. E uma
esfera CIVIL - reino da razão prática, econômica, das coisas e da propriedade. Ora, como são esferas
autônomas, dizem, seria possível conduzir as decisões políticas desde que estas não entrassem no domínio
da vida privada. (em 1833 Tocqueville narra o impacto da supressão da Lei dos Pobres: para comer deve-
se trabalhar – o Estado (político) não pode ajudar o individuo (civil). [Cf. Domenico Losurdo, A
Fenomenologia do Poder: Marx, Engels, Tocqueville. In Lua Nova, n. 38, dec.1996]
A obra será dividida em 10 capítulos e mais uma conclusão psicossocial do
Burguês.
1. Estender a todos os HOMENS (não previa mulheres) de mais de 21 anos, independente da sua
condição financeira ou social, a escolha dos representantes no Parlamento.
2. A Não exigência de PROPRIEDADE para votar ou ser votado. Só proprietários acima de tal valor
poderiam ser considerados eleitores (a “ideia” dos lordes quando criaram essa regra estava baseada
no princípio de que quem não tem propriedade, não sabe dar valor ou respeito...)
3. TROCA DE PODER – o governo poderia manter-se indefinidamente no Poder, desde que tivesse
maioria – isso dificultava as chances de alteração de poder dentro do Parlamento.
4. REPRESENTAÇÃO IGUALITÁRIA – antes, o Bairro (o distrito eleitoral) tinha um “dono” – é um pouco
o que ainda existe nos EUA – não é a maioria dos votos que conta mas sim o peso eleitoral (um
determinado bairro podia ter menos votos que outro, mas o seu “dono” determinava de dois a três
representantes.
5. PAGAMENTO AOS MEMBROS – antes, o Parlamentar não recebia pagamento pela sua participação:
mas como é que o trabalhador conseguiria ser Parlamentar e sustentar sua família?
6. VOTAÇÃO SECRETA – um funcionário de fábrica, ao votar, mostrava a todos em quem votou. Se o seu
patrão fosse candidato...
O Movimento Cartista ganhou cada vez mais
força. Várias tentativas de implementar os seis
pontos foram apresentadas ao Parlamento,
sem sucesso. Greves começaram a aparecer
associada ao Cartismo. Em 1842 mais 3
milhões de assinaturas foram coletadas -
novas greves, havia forte desemprego (esse
foi o período que Engels visitou Manchester).
O Governo reagiu e prendeu vários líderes
sindicais. Logo, alguns candidatos ao
Parlamento perceberam que estar junto aos
cartistas poderia render votos e pegaram
“carona” no movimento.
Em 1848, enquanto na França ocorria a
Revolução, novo pedido de 6 milhões de
assinaturas – o Parlamento não aceitou pela
terceira vez.
Só em 1867, os trabalhadores puderam ver a
reforma eleitoral ampliar sua participação. Em
1872 o voto tornou-se secreto e apenas em
1911 o pagamento aos parlamentares passou
a ocorrer. O maior impacto, contudo, foi o
nascimento do Partido Trabalhista inglês
(Labour Party) entre 1895 e 1900.
Rua à época e como ainda é hoje
(1845)
Linha férrea
Mapa de Manchester,
edição alemã de 1845
(alterada pelas cores)
Centro de Manchester, hoje. Em
vermelho os antigos limites da cidade
em 1844.
A História de Manchester começa ainda na ocupação romana. Mas ao receber as primeiras fábricas de
tecidos, seu crescimento multiplica por 10 em quarenta anos.
(Fonte: socialhousinghistory.uk)
Exemplo de casa operária em Bradford (ING), no século XIX -
No início do século XX
John Storer (em Our Cities: their present position and requeirements, 1870)
escreveu:
“Pode-se por em dúvida se, entre outras artes que ainda estão por ser
descobertas, ou pelo menos aperfeiçoadas, entre as ciências quase não
investigadas que ainda vão tomar forma, elaboradas ou em teoria, não
deveríamos incluir a arte e a ciência da vida urbana...” (citado por L.
Mumford).
• Em 1884 é montada uma Comissão Real para o Problema da Moradia – definindo os parâmetros
mínimos de edificação para famílias trabalhadoras.
• Em 1885 os trabalhos da Comissão tornam-se a Lei para Moradia das Classes Trabalhadoras.
• Em 1875 surge a Lei de Saúde Pública – que definirá o padrão de tratamento das “doenças sociais”,
isto é, aquelas com capacidade de epidemias. [obrigava o proprietário a garantir a oferta de água potável
para todos os usos e moradores da casa, assim como obrigava a construção a ter recuos e janelas de ventilação.
Quem fiscalizava – e multava – era a Local Government Board (uma espécie de agência reguladora) que também
se obrigava a implantar (sem atrasos) sistemas de drenagem , abastecimento e esgotamento sanitário). Aos
poucos, a taxa de mortalidade cai de 23,1/1000 em 1866 para 17/1000 em 1889.]
Centro de Viena por volta do século XVI. Século XIX, a queda das muralhas e a
Observar a grande muralha afastada da ocupação definitiva do centro. Notar que o
“periferia” onde os trabalhadores residiam talude de 250 metros após as muralhas
(anel externo) (vazio desde o século X) é ocupado por
praças, ruas, residências e prédios públicos.
A Modernidade possui em
Viena não apenas um
cenário, mas um ator
fundamental. Entre 1890 e
1910 Viena disputou com
Paris o centro cultural
europeu.
Londres
Barcelona
1859 – Ildefonso Cerdà
“Plano de Expansão para Barcelona” e “Teoria Geral da Urbanização”
Cerdá queria proporcionar higiene, salubridade para todos. Sem distinções. Ao
contrário de Haussmann, seu plano incluía moradia para as diversas classes sociais.
Sua Expansão – fora dos limites da cidade velha, criava opções em grelha (com
quadras arestadas pátio interno), com galerias entre as quadras para permitir melhor
circulação e ventilação.
Caminhos do urbanismo, planejamento e gestão de cidades
Antes só havia arbustos, areia, migrantes pobres e ex-escravos (estes últimos foram desalojados).
Olmsted e Vaux, Central Park, Nova York, 1860
Na cidade de Nova York – nos diz Lewis Mumford – o índice de mortalidade infantil, em 1810, era de 120 a 145
por mil nascidos vivos. Em 1850 subiu para 180; para 220 em 1860 e 240 em 1870.
Fotos de Jacob Riis em seu incrível estudo How the Other Half Lives: Studies among the
Tenements of New York (1890).
Nova York
Exemplo de um “Model Tenements” ou cortiços modelos construídos pelo empreiteiro Alfred Tredway
White em 1870 em diante.
Home and Tower Buildings, Brooklyn, the first model tenements in Greater New York,
construída entre 1876–79 por Alfred T. White.
Eram populares à época, feiras e
exposições das inovações
habitacionais. Ao lado um modelo de
moradia social antes e depois da
intervenção (notar a extrema
densidade nos dois casos)
A reação.
• Em 1901 a cidade de Nova York aprova a Tenement
House Act – disciplina as construções, altura dos
edifícios, obriga ventilação e iluminação natural,
etc.
Teve forte influência nos Planos Diretores do Brasil nos anos 70 e 80.
Cf. em http://www.nyc.gov/html/dcp/html/zone/zonehis.shtml)
Paris,
Cidade espetacular
Os mapas a seguir são parte dos famosos “oito mapas” publicados em 1705, de Nicolas de
Ferr, publicado no “Traité de la police”.
Ocupação romana (sec. II)
Paris, sec. XIII. Em vermelho Notre-Dame.
Paris, sec. XVIII. Em vermelho Notre-Dame.
BASTILHA
FORTERESSE DU
TEMPLE
NOTRE-DAME
LOUVRE
TULHERIAS
Paris, século XVII. Notar as muralhas e a Ilha da Cidade, no meio do Sena, com a Notre-Dame no
canto superior direito. Nos dizeres (canto esquerdo): “essa cidade é um outro mundo... Onde
todas as coisas abundam” (Plan Mérian, 1615)
Grande Paris: no século XVIII, há uma fragmentação e dispersão urbana com a criação de
casas (palácios) de campo. Em verde, Versailles nova residência de Luís XIV,
Versailles, em pintura do século XVIII – parece uma cidade, mas é a casa de campo da realeza.
Esse luxo (700 quartos) irá incomodar, e muito, os pobres franceses. Em 1789 a festa terminou...
•
França,1848
Contexto: A Revolução Francesa havia operado significativas mudanças Políticas. Contudo, socialmente a
tendência do início do século XIX era a pouca mobilidade social, associada a um quadro persistente de
pobreza no campo e pressão por empregos nas cidades.
• Política: Em 1830 Carlos X renuncia (caiu por excesso de apego ao velho modo absolutista de governar),
pressionado pela burguesia que queria Luís Felipe como governante.
“O que foi esmagado nas barricadas de junho foi essa busca pela república
social, assim como as esperanças para a versão burguesa [desta] foram contidas
pelo golpe de Estado em dezembro de 1851. Constatou-se que o Segundo
Império buscava um terceiro tipo de modernidade, que misturava autoritarismo
e um incômodo respeito pela propriedade privada e pelo mercado, ao passo que
tentava periodicamente cultivar sua base populista”
Em outro sentido, surge a crítica Política e Econômica revolucionária - (ex. Engels e Marx) associada às
revoluções – cidade enquanto espaço político da nascente classe operária. Os trabalhadores em seus
subempregos seriam a materialização da própria luta de classes e a cidade refletiria tal luta nos seus
espaços residenciais e de trabalho (Cf. a Comuna de 1871).
Arco do triunfo
Bois de Boulogne
Louvre
Torre Eiffel
Praça da
Bastilha
Ile de La Cité
Ille de la cité
Antes
Bouis de Boulogne
(projeto de Alphand), 1857.
Próxima aula:
A Cidade e a Sociedade.