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O curso de Pedagogia e a formagio de educadores! Dermeval Saviani* Palavras-chave: Key words: Saviani, Dermeval — Interviews wiani, Dermeval — Enerevistas Revista Perspectina: Professor, a temitica sobre a qual o convidamos para esta entrevista refere-se 4 Resolucio CNE/CP 9° 1/06, de 2006 Gostariamos de cconhever sua avaliagio dessa reforma do Curso de Pedagogia e dos tumos que ppoderi tomar depois dela. Tambem nos interessa saber por que o senhor se man. jstante do debate que envolvea inmeros iateleeruais da drea Dermeval Saviani: Es paricipe’ do inicio do processo, cm 1980, na I* Cone ‘éncia Brasileira de Educagio,” quando foi organizado o primeiro simpsio sobre 2 formagio do educados, no qual surgiu o "Comité Peo-participacio na Reforma lacio dos Comoe de Pedagogia ¢ de Licencianara". Depo, aeabei nfo podendo fear diretamente envolvido na onganizagao do processo e acabei me dstaneiando, Acompanhei 4 distinca, partcipei de algumas discusses como eonvidado, mas ‘io fiz parte dirtamente de todo 0 proceste. Quando comecon o nove goxeeno,! cm 1994, eno MEC ficou © Paulo Renato, © propeio debate da LIB entrou na zeta final Acompanbsi o provesso,claborei um artigo com um anteprojeto de LLDB que, por sinal, se converte no projeto original da Cimara dos Deputados, {fe muias paestas sobre a LB, analise, publiqei um live” imediatamente apos 2 aprovacio da nova LDB. Mas ao paricipeidirtamente do processo em rela ho 20 Curso de Pedagonia Revista Perpectina Fa que se deveu esse afastamento? Dermeval Saviani: De um lado, por que nio fui convidado para tomar decisies sais diretas ¢, de outro, por que também entendi, como um analista, como al iguém que estava estudando os processos, que deveria manter distincia, Outro clemento é que eu discordava radiealmente da proposta educacional do gover ‘Doutor em Filosofia da Talucagio pela Pontificia Universidade Catética de Sio Paula Professor aposcado cla Universidade staal cle Campinas. 1 Pr UNICAMP ¢ Coordenadoe Geral do Grupo de Estudos Pesquisas Educagao no Brasil” (HISTEDBR) PERSPECTIVA Flanapais, 1 25,F- AT EBU, HIGEE 2005 We Taw pomp TRER 642 Drm Sie no FHC e nio poderia participar do processo enquamto formulacio de politica, Enquanto movimento critica, participei, Tive participagio ativa nos Congressos Brasileiros de Edueagio, de mado especial em 1997, na claboragio da proposta de Plano Nacional de Educagio, tendo publicado ji em 1998 0 livro Da nora LDB ao ovo Plano Nacional de Fdwagi, No caso da Pedagogia, quando comeco a Form lagio das Diretrizes Nacionais eu no estava fizendo parte do Conselho Nacional de Educacio e também no integrava as diretorias das entidades. Por isso, acom panhei A distincia. Quando surgiu a primeira proposta das dirctrizes da CNE* ‘ex, tomando conhecimento dela, eserevi sobre o seu eariter e, em seguida, me rmanifestei via e mail para a Heder ‘slo da ANFOPE,’ perguntando 0 que era aquilo ¢ fazendo algumas eriticas, pois ime patecia que a referida proposta acabava por reduvit o curse de pecagogia a0 normal superior. Helena dew retorno dizendo que era possive reverté-l. Aiveio a mobilizacio da ANFOPE, ANPEd, FORUNDIR® com uma nova proposta; dei tema olhada na proposta que resgatava um pouco a histéria do eurso e eontinha ispositivos que melhoravam sensivelmente o texto gestado no CNE. Mas eu nto tinha condighes, até por falta de tempo, de priorizar essa atividade € assumir 0 ‘compromisso de participar mais dirctamente. Finalmente houve « aprowagio. das DCNP c tomei conhecimento na medida em que as coisas aconteciam, Nunca fui ‘chamado a participar mais dirctamente, o que nao me imped, & claro, de tomar A iniciativa de conversar com as pessoas e encaminhar eontribuigSes para © pro- ‘cesso de claboracie das referidas diretrizes, De fato, porém, estow sempre eave vido com muitas coisas ¢ acossado por solicitagies dos mais diferentes tipos, no tendo condigiies de me envolver em todas as inicativas do campo da educagion \ razio decisiva, porém, é que, avaliando o processo de uma posicio externa aquela mobilizagio, cu notava que era muito dificil reverter aquela situacio. {que sempre se manteve mais ou menos na dite Revista Perspectiva: Professor, tendo em vista 0 resultado a que se chegou, qual sua posieao? ‘Dermeval Saviani: a ciria que o resultado final melhoros relativamente & po posta gestada em mango de 2005 no Conselho Nacional de Edueagio, mas niio satisfatitio.”” De um lado, por toda a histéria do processo © porque nis no fomos eapazes de formular uma proposta mais consistente enquanto coletiv, De outro lado, ela nio & satisfatéria porque 0 contesto também niio possibilta isso. O contento sociale politico que nés atravessamos nio tem possbilitado a ‘emengéncia de alternativa mais sélida no que se refere 3 formacio do educador, ai entendidos 0 professor de modo geral e 0 pedagogo em particular. Entio, do ponto de vista dessa debilidade historica ‘¢ vou reromar — acho que o movimento prt formacio de edueadores da déeada de 1970 sempre ficou muito preso a problemas de ordem onganizacional. Isto é ji disse isso em trabalhos anteriores ‘PERSPECTIVA, Foianopois, 26, n 2 6460, jldez, 2508 raiwnw pape mE Oar Polaron deeb 643, a formulicio de uma proposta de come onganizar um curso dentro dos pari metros que estio ai, Fu venho insstinda, jé fax um tempo, na seguinte questi: a educagio no pais foi fortementealterada com o regime militar, que introdurie rmudangas de fando na estruturs organizacional da educacio do pais. No caso do casino superior nis temos a regulamentacio de 1969, decortente da Lei 5540, de 1968." Bla alkerow o ensino superior fortemente haseada no modelo american, adotando 0 sistema de eréditos, matricula por dscplina, cursos semestais, de paraimentalzacio, separasio entre ensino pesquisa. Eseas si0 conseqiéncias sétias que dizem respeito & qualidade, negativas a meu ver, do ensino superior. Coisas simples, como a propria questio do eutso anal passa a semestel,téan impacto. O eurso fea concentrado por semeste, fragmentado, com a matricula por dsciplina se perde a nogio da cass, o professor 35 toma conhecimento da Situacio teal das seus alunos quand j se eneaminha para o final de semestre. E tudo se encerea ali para. recomecar do zero no inicio do semestreseguinte com ‘uma nova turma que pode se formada por alunos de diferentes eursos. O profes Sor ni tem como acompanhar a dificuldades dos alunos e tomar medias para sani las. No curso anual ¢ seriado era diferente porque a turma entrava e seguia até final, até a formatura. Eno curso anal o professor tha a vantagem de Kear tum ano junto aos alunos © com as férias de julho. ao mei, Para aqueles aksnos que trabalhavam enquanto faziam 0 curso, especialmente os do noturno, © que tinham dificuades de acompanhar €seyvir todas as exighneias que o professor faria, hava as feria de julho, wim momenta cm que, nio precsande assis alas, cles podiam atualizar as leturas do semestre, podiam refizertrabalhos eonforme © professor tinha orientado. E, ao retornar em agosto enteegavam os trabalhos, 6 professor avaliava e podia dar o retorno: malhorow aqui, mas no melhorow I aqui ainda é preciso aprofundar, tem que sanar esse tipo de dificuldade ete. Bo trabalho prosseguia durante todo o segundo semestre até ikima avalagio no final de novembro € inicio de dezembeo. Agora nao, O professor toma cantata com os alunos em marco ¢ quando comega a conhecé-los melhor, esti no final de abril ou inicio de maio. E quando comeca a querer tomar as medidas para sanar as clifculdades dereeadas, maio termina e chega 0 més de junho quando € necessisio fazer a avaliagio final. Or, fe2-se 0 tempo todo a ertca a0 modelo implantado pela reforma universitiria de 1968, fex sea erica as universidades, 0 tcenicismo ¢ tudo mais. Depois victim onteas paopostss, como a do Grupa Bxccutivo para a Reformulagio do Ensino Superior (GERES) criado em 1986, pelo eatio Mist da Edueagio, Mareo Maciel, que insoduzu a distingSo entre seiorsidaes de pocpina c wieder de oni, Mas no se modilicoss a esta, no se discusi a estrutura. Ent, fla se em reforma universititia, em reforma curticular, mas mantém se a estruturaatual,sendo que essa estrutura é um Obie séro para uma educagi mais qualitative para 0 encamiahamento da formacio PERSPECTIVA Flanapais, 1 25,F- AT EBU, HIGEE 2005 We Taw pomp TRER 644 Drm Sie outra direcia, Entendo que o movimento pré-reformulacio do campo de formacio de educadores também teve sua marca na tetomada de cettos pontos, mas nunca se aprofundavam essis questes, O que eu estou querendo dizer com isso? O que é um docente hem formado, o que € uma docéncia sida eo que isso implica? O que & a base comum nacional? Esta era reterada em todos os encon: tos, mas nunea se eonseguis uma definigio efetva Revista Perspectiva: A hase comm nacional desapareceu nas DCNP, permane ccendo apenas a hase docente. Dermeval Saviani: Mas esti na LDB [Lei n” 9594/96] (BRASIL, 1996). Ali se rmantém a hase comum nacional na formacio dos profissionais da educagio. O ‘educador seri formado na pedagogia ou em nivel de pis-graduacio, garantida a base comum nacional (Art. 4). Esta era uma palavra de ordem do movimento & nas direttizes ficou a base docente e a liceneiatura ¢ bacharelado transformaramn se numa coisa $6, embora as diretrizes eamuffem wim pouco porque falam do car so como uma licenciatura. Mas a queda da base comum nacional tlver tenha se dado porque nunca conseguimos tima definigi positiva dela, Sabiamos que no ‘era sinGnimo da parte comum do curricullo ¢ nem de eurricalo minimo; que no seria obtida por definigao de algum colegiado; ¢ que também nao resultara da ca boragio de intelectuais que supostamente fossem especialistas na tea e teconhe ‘dos como tais. Ha deveria sungit de: movimento, quer dizer do eoletivo. Desse modo, a nogio de “base comum nacional” permaneceu um tanto vaga € toda a forca das propostas girou em tomo da reonganiza¢io do curso, mantida a mesma cestrutara. Entio © curso continua sendo em média de quatro anos, em regime semestral, com matricula por disciplinas. E formar a docéncia foi interpretado, pelo movimento como formar professores para Educagio Infante para os anos sino) Fundamental. Entio era isso, as expetiéncias se organizaram iniciis do F dessa forma. E isso que eu chamo de debilidade do movimento. A propia historia do movimento di indieativo de que nio fomos capares de claborar uma proposta sais slid. Venho insstindo ~ ¢ jf fax um cetto tempo, desde a laboragso do testo “Contribuigio a uma definigio do curso de pedagoa”, em 1971," passa do em 1980 por aqucle documento que esti no caderno da ANDE™ e depois, foralmente, quando favia pales, e retomei agora em rermos mais sistemtios ‘no projeto de pesquisa denominado “O espago académien da pedagogia no Bra sil” —na necessidade de uma formagio sla em edueagio, Esto insstindo que ‘curso de pedagogia deveria ser um ambiente sco, intenso exigent de este intelectual, que retomasse os elissios, acolhesse 0s jovens e 0s eolocasse em pro cesso de formacio. Foi essa a minha eontraposigio 4 Indiagio 0.70, laborada por Valnir Chagas! © aprovada pelo Conselho Pedeml de Eaucagio em 1975, ‘que dia que se deveria formar o especialista no professor. Ful muito elaeo nis: ‘PERSPECTIVA, Foianopois, 26, n 2 6460, jldez, 2508 raiwnw pape mE Oar Polaron deeb 645 cm lagar de formar o especialist no professor eu propuit alse sci © professor no educador. Eu me contrapunha iquela idza de Valnic Chagas de formar o expecialista no professor que pressupunha, para ingresso a0 curso de formacio de especialistas em edueacio, nao apenas a conchisio de wma licencituea anterior, mas experinca no magistéria, no exinimo de dois anos. Ou scja, 0 nteressade em realrarestudos superiores de educagio teria que fiver um curso de licencatura se formar professor, econar dois anos e depois volar para a universidace ese Formar educador. sso, a pita, stuatia a formagie do ccucador cm nivel de pn raduagio de sn, que pressupuanha uma lcenciatra, Chagas, porém, consderindo a exstincia de professores habltados em nivel de segunda au que, portnto, possum o requisito da experiencia prvi, situou a rferida for _magio na propria yrduagio, definindo-a come habiltagies que se acrescentamn a ‘uma lcenciatura anterior. Mas deixou claro, no projet de Resolucio que se seguit Indieagio, que “o nivel natural de eutivo do pedagogo € 0 da pos graduacio”. Nao diva de ser interessante observar que a LD, ao mesmo tempo em que se propeis a elevar a0 nivel superior a formacio dos professores dos anos iicais da escola 7acio, mantexe, no ji menionado artigo 4, a graduacao em pedagoria como alter nativa i pos graduagio para a formagio dos profissionas da educagio destinados 4 amar na edcago hisica os Ambitos da administraco, planejamento inspecio, supervise orientago educacional. Na epoca, 0 argument que cu Kvantava para me contrapor ao Chagas ett. o suites por que voce tem que condicionar a forma io do educador, do especilsta a exerci profissional prévio se nenhuma caerira cxige iso? Para um jovem ser engenhito primeito ele rem que fazce construgties « depois fiver o euro? Eu dvi: assim como woeé encontra jovens querende se auira carrera de médico, de adwopado, dentist, enfermeir, entre outras, voeé tem também jovens interessados em aprofundar estudos no eampo da educagio, que tendo set edueado, ser professor naquele sentido forte da palara, ni apenas de transmissor do conheeimento, Eatin, por que no caso dos joven interessados em «studareclucacio tere que dizet “voce quer sereducador? Tuco bem, mas primeiio ‘ocd vai estuda isa, nutematca ou qualquer outa matéra dos euriculos exeola res pars se rornar professor, ear dois anos lecionand e depois woct volta ag aa Faculdade de Bducagio”. Nao, Nio concordo com esse encaminkamentos Afinal, pata que existe a Faculdade de Educagio? Cabe the cm lugar de dissuadi os jovens jnteresados na educacio, acolhé-losimediaamente e coloci-los aur ambiente reo « eximulante, envolvendo.os diretamente nas ativdades de ensino, estudos e pes dquises. Com efeito, quanto mais eedo eles forem colocados mum dima deintenso € exigent tabalho inteleerual, um processo de aprofundamento de estudes sobre «aducacio, tanto melhor. S6 que o movimento desencadeado em 1980, por vis tor tas acabou se orentand por uma condutasemethante i proposta de Valni Chagas. Adotando a dacéacia como base da formacio do educador possibiltos, ao menos formar seja 0 espe PERSPECTIVA Flanapais, 1 25,F- AT EBU, HIGEE 2005 We Taw pomp TRER 646 Drm Sie 4 primeira vista a Ieitura de que para ser edueacor primeiro tem que ser professor Aquele movimento langado para combater o projeto de Chagas acabou adotande a pripria tese por ele esposid Revista Perspectiva: Ea que 0 senhor atsibui essa mudanga de rox? A impossi bilidade de ser qualquer coisa antes de set professor nio estretaria © campo da, formacao? Dermeval Savini: Talvez iso tenha relagao com a questio da pritiea, A pritica ‘educativa € 2 base da formacio do educador e essa pritiea foi compreendida ‘como docéneia. © problema ‘que se trativa, Docéncia se refere ao trabalho pedugogico que se desenvolve na relacao entre 0 professor ¢ 0 aluno nas escolas, geralmente nos espagos earactet zados como salas de aula? Ou se estende a miltiplos espacos de diferentes tipos? Isso abriu caminho para se entender a docéncia de uma forma um tanto eastica. Parece-me que o cans presente nessa tese da docéncia como base da formagio do. jue munca se conseguia definir exaramente de ceducador & a idéia de que a educagio & um process mukifacerado que consiste ‘na docéncia, mas a docéncia es igada a um aspecto da visio majoritiria, da eda ‘eacio formal, da educacao escolar. Entao desde o movimento da Escola Nova!* ‘passando pelo movimento da UNESCO, com a proposta da educagio permanen te, vem se combatendo a concepeio que liga a docéncia ao trabalho escola, vista ‘como uma caracteristca da pedagogia tradicional, da educagio como transmissio de conhecimento, Assim, pode se definir a docéncia como compativela essa visio ‘na medida em que se considera docéncia como pritica edueativa, Revista Perpectio: Ou seja, no se rofese 4 pritica restria A sala de aula, Dermeval Saviani: Coube, nesse processo, um debate que foi acirado contra 0 Libineo por conta daquela tese defendida por ele de que a sala de aula € o lugar Privilegiado do trabalho diditico, Patio houve aquela diseussio de que isso seria tum reducionismo, No entanto,a ANFOPE abragou a tese da docéncia como base dda formaciio do educador, texe essa que veio a ser criticada exatamente por Libs rca!” como redutora da educacio ¢, portanto, da pecagogia, exjo objeto aio se redu7 a docéncia. Dai, a objegio contra as Diterrizes Curriculares Nacionais do Curso de Pedagogia, de certo modo endossadas pela ANFOPE: tais ditetrizes acabaram eriando um curso para formar coisas que sio diferentes, sendo The im possivel dar conta de todas elas, Entende se que seria melhor manter o eurso de. Pedagogia formando o especalista em educagio e ctlar um outro curso, de licen ‘catura, para formar professores para a Fducacio Infantil e para os anos inicias do Ensino Fundamental, licenciaruras nos moldes das outras, jf existentes, que formam professores pata as séties finas do Ensino Fundamental e pata o Médio, Minha posicio se diferencia tanto daquela que se corporificou nas diets ‘PERSPECTIVA, Foianopois, 26, n 2 6460, jldez, 2508 raiwnw pape mE Oar Polaron deeb 647. 2es curticulares nacionais, com respaldo da ANFOPE, como, posta, que defende dois cursos distintos, esposada pelo grupo Fiderado por Tibi neo, Parto da constatagio de que a escola na sociedade moxleena se converten 0 cespago por excelencia da educagio, O dacente é, assim, edueador por exeeléncia porque ¢ aquele que atua na instituigio educativa para formar as novas geragies. Em consegjgncia, a escolt passou a ser a referénein para as outras formas de ceducacio, sendo valorizada pela fala, pela sociedade e, até mesmo, por aqueles| {que sio contra cla naquele sentido de ser formativa, Nao movimento, Até os neoliberas, os assistencilistas, que tentam transforma a es cola num espace de assistencialismo, no abrem mao da escola. Entio, por esse Angulo poderia se defender a docéncia como base comum do educador ¢ também perguntar qual & 0 edueador que nds queremos formar. A meu ver esse educador seria exatamente 0 pedagogo, entendide como o especialista na organizagao dos processos educativos. E onde esses processos educativos sio organizados de for ‘ma mais sistemitica? F. nas escolas. Decorre desse entendimento a posigio que venhodefendende e queapresento tanto no tema em destague sobre a pedavo,” que organize’ para a Revista Cadermas de Pegnica, da. Fundagio Carlos Chagas, como no livro A pedagesia no Brat histtiae teoria.” Nessa perspectiva niio se toma tio complicado pensar © curso de Pedagogia ariculando a formacio do pedhazogo, isto é do especialista em educagio, com a formagao dos professores dla Educagio Infantil e dos anos inieiais do Ensino Fundamental, Mas para isso ou teria que tomar como campo de referéncia a escola. Tatar se ia, entio, de formar ‘© pedagogo ou 0 especialista da educagio que tem o dominio da escola, isto €, da forma como-a escola esti consttuida com seu curriculo em pleno funcionamento. Assim, 0 pedagogo, a0 dominar © modo como a escola funciona, estaia, sem lavida, capacitado tanto para ministrar © ensino, como para coordenae as ativida les diditico-pedagigieas ou gerit o funcionamento da escola, Isso especialmente porque, no caso da educagio infantil e das séres iniciais do easinn fundamental estamos diante de professores integrados ¢ nio parcelados, como ocorte com as {quatro iltimas séries do Ensino Fundamental e no Ensino Medio, aos quais esta mos diante de professores especializados no contetide, o que implica outa mo elo de professor. Aqui € preciso ter presente a existéncia de dois modelos para a formagio do edueador. Hi um que chamo de “modelo dos contedidos eulturais ccognitivas” ¢ outro, o “modelo didatico pedagégico””. Para o primeira modelo professor & aquele que domina os eonteiidos das disciplinas: no hi preocupagio dliditico-pedagigiea. A questio diditico-pedagogica se resolve por conseqitncia, za experigncia pritica, nio sendo objeto de Formagio sistemética. Por isso, 8 an versidade no vai se preocupar com esse tipo de coisa. Na universidade, vin de apr, prevalece o entendimento de que o professor precisa dominar os objets de censino, ou seja, para ser professor de historia tem que saber histria, para ser 4 como batrar esse PERSPECTIVA Flanapais, 1 25,h- AT EBU, HIGEE 2005 We Taw pompoona TRS 648 Drm Sie professor de matem se ensina” decorreria do. priprio conhecimenta, conforme principio “quem se aprender hist, ele sabe ensinarhistéria, Garantida a condicio ica tem que saber matemtica, € assim por diante. © “como sabe, ensina! bisica do “o que ensinar”, o “como ensinat” seri adquiride na propria pritica, seguindo-se 0 principio de “aprender fazenda”, vigente no sistema das corpora. ‘gbes de offcin, Diversamente, o modelo diditico-pedagegieo argumenta que professor, para ser tal, necessita ter formacio especifiea no aspecto diditien pe dagégico. Tradicionalmente na historia da educagio européia o que presenciamos Co seguinte: a questio diditieo-pedagigica foi consicerada como farende alam sentida para 0 professor primério, mas nio para © professor secundério, muito menos para a formagio do professor do ensino superior. Escrevi sobre isso no. livre. Formas de proecurs: a experiénein internacional sob o olhar brasleita2” Uma outta hipotese que eu poderia levantar refere-se & pedagogia como campo. cpistemoligico igado & educacio das eriancas, consoante 0 significado etimol6g- cco do termo “pedagogia”. Neste ambito foram organizadas as escolas normais de nivel médio para formar professores primitios segundo o modelo pecagdgieo didatien, prevendo-se também a criagio de escolas normais superiores para for mar professores secundirios. Mas isso nio funcionou na pritica, porgue as eseo las normais superiotes tanto na Franca como aa Italia se trinsformaram em ‘escolis de altos estuds, desvinculadas de qualquer prencupagio de cariter peda ‘BSgica, No Brasil, com a nova LDB aptovada em dezembro de 1996, abriv-se a ‘possibilidade da instalagao de eseolas normais superiores para formar 0 profes sor primario em nivel superior, mantendo-se a formagio dos professores secun ditios nos cursos de licenciatura, Estes continuam com o wigs de cursos centrados no conteside acoplados, portanto, ao bacharclado. Na historia da educagio bras Ieira essas medidas remontam a iniciativa de Francisco Campos eriando, em 1931, a figura da Faculdade de Féucagio, Ciéneias e Letras — que, entretanto, no vin ‘2011+ Quando se eriow a USP, em 1954, instru se a Faculdade de Pilosolia, Ci Encias € Letras ¢ incorporou-se o Instituto de Edueagio decorrente da reforma Fernando de Azevedo de 1933.2 Em 1935 eriow-se a Universidade do Distrito Federal com uma Fscola de Educagio Fim 1938 encerra se o Instituto de Ed ‘eacio da USP que € ineorporado como Socio de Edueacio a Faculdade de Filo sofia, Ciencias e Letras. partir daf vio ser eriados os cursos de Pedagogia e de Diditiea segundo o modelo do decreto de 1939: Os cursos da Faculdade de Fi losofia eram de estudos bisicos, de exniter cientificn e desinteressado, devendo, fandamentar todas as profissbes, Fago aqui um paréntese: eu costumo dizer que ‘6 ensino superior & sempre prolissionalizante, mesmo nos easos dos cursos gue ‘iio tim uma destinagio direta e imediatamente profissional. Um curso de heb ‘co, por exemplo, embora se possa admitir que seja procurado por jovens de ot: gem judaica com o objetivo especilien de mantera tradigo de sua lingua original, ‘PERSPECTIVA, Foianopois, 26, n 2 6460, jldez, 2508 raiwnw pape mE car Paar de oat 649 nds observamos que, no final, quando o aluno sai da universidade ele vai utilizar a formagio reccbida pata fazer carrcira diplomsitica, vai se intérprete tradutor de textos escritos em hebraico om vai set ertieo literitio especializado na literatura hhebaica, Sua atividade profissional resulta daquele curso que aparentemente seria desinteressado nic tendo, pois, uma destinagio profissional determinada, Portan. 10, 08 cursos de nivel superior desembocam sempre, de uma forma ou de outa, ‘em algum tipo de formacio profissional. Inversamente ao que corre com 0 F sino Superior, o Ensino Fundamental nunca é profissionalizante. Quanto ao F sino Médio, a reforma imposta pela Lei n® 5692/71 pretendia torné-lo compels riamente profissionalizante:® a reforma decorrente da Lei n° 9394/96 (a nova LDB) ealiemou seu easiter propedéutico, desvinculando-o da formacio profis sional.” No easo da Faculdade de Filosofia, Ciéncias e Letras em sua concep original, cla teria cariter desinteressado, fornecendo a base cientfica para todos ‘os demais cursos da universidade. Mas & medida que as faculdades profissionais lo abriram mio de suas pretrogativas de formagio, mantendo cm seu interior as clisciplinas de base cientiiea & Faculdade de Filosofia, Cigneias Letras coube a formagiio de professotes para 0 ensino secundito, Revista Perspectinat Quando 0 carso de Pedagogia foi ctiado, em 1939, ele aio cra uma licenciatura, Pama o pedagogo ser professor, ina que fazer @ curso de Diditica, de um ano. Eta 0 modelo bacharelado mais licenciatura, 0 chamado cesquema 341 Dermeval Saviani: © aluno fizia trés anos numa sie specifica e 0 curso de diditica. Endo era licenciado em Histéria, em Letras etc. No caso da pedago gia também o aluno fiiatrés anos de um curriculo especifico, mais o curso de dlidética com a duragio de um ano e era licenciado em qué? Ia lecionar onde? "Nem mesmo nas eseolas normais, porque a Lei Orginiea do Ensino Normal, de 1946, nio especificon que a condigio para ser professor da escola normal era ter licenciatura em pedagogia. O pedagogo tinha que competir com os outros que também podiam lecionar li pela tadicdo, Quem podia lecionar nas cadeitas das ceseolas normais que preparavam os profescores primarios eram os intelecraais da Epoca, os profissionais de direito, medicina, engenharia. ‘Também podiam lecionae tos padres que tinham formagio em teologia e Filosofia, além dos demais leencia dos da nova Faculdade de Filosofia, Ciéneias e Letras. © curso de Pedagogia 96 velo a se firma depois, com a LDB 4.024/61, quando se eonfigurou como curso. que licenciava para o maistétio das disciplinas pedagdgicas das escolas normals, Revista Perpectina: Professor, retomando a questio da docéncia, para a ANFO. PE a docéncia no seria a conjugagio do professor e do especialista? Dermeval Saviani: No movisnento que surgiu em 1980 com o “Comité pro participaci na refirmulacio dos cursos de pedagogia ¢ licenciaruen”, que de PERSPECTIVA Flanapais, 1 25,F- AT EBU, HIGEE 2005 We Taw pomp TRER 650 Drm Sie sembocou na ANFOPE, desenvolveu-se um combate is especializagies, porque ceram vistas como teenicistas; era a divisio de trabalho 0 campo pedagégico reproduzindo uma visio do processo produtive tal como se dava nas fabticas, Havia o supervisor e o trabalhador que executava as tarefas; esses supervisores ‘eram os agentes do patio para impor seus interesses aos trabalhadores que exe ccutavam as tarefas nessa divisio de trabalho, A concepcio era retirada dos que fariam © passaca pata quem dirigia, Reproduriu-se isso na educacio © a forma ‘com que se traduziu foi o advento do especalsta. © professor foi desapropriad da concepsio de seu trabalho que coube aos especialistas, De Fato a le teve um papel importante nessa reorganizacio da escola e da formagio dos profissiona dda educagio, Enfatizou se a questo do planejamento tinhamos os pacotes cam cespecificagies e cada professor na sua disciplina tinha que preencher formulitios segundo aquelas diretrizes emanadas dos Grgios de planejamento. A eritica aos ‘especialstas assentava-se sobre o fato de que controlavam 0 processo ¢ retiravam, cesta pretrogativa dos professores, os werdadeitos agentes do processo educative Nesse contexto, uma das principais direcies assumidas pelas experiéncias de re formulacio do curso de pedagogia foi a extingio das habilitagies pedagogicas, ccentrando se a organizacio curricular na formagio de professores para a educa ‘cio infantil eas primeinas séries do casino fandamental, consoante o principio da docéncia como base da formagio do pedagogo. Portanto, respondendo direta mente i pergunta, eu ditia que a coneepgao vigente a ANFOPE no implicava a conjugacio do prafessor e do especialista. Talver o que estava em causa fosse ‘uma outra concepeo de especialista em educacio, uma outra concepeio de peda ‘2080, cuja base seria a doce, Mas, como ji afirmei, essa hipotética nova con: ‘cepcio em nenhum momento foi explicitada, Him eontrapartida, como jéassinalel antes, minha posicao tem como base exatamente a conjugagio entre a formagio do pechagogo enquanto especialista da educagio © 0 professor, admitindo que isso pode ser feito num mesmo curso, o de pedagogia, desde que este se volke para ‘modo de organizacio ¢ funcionamento da educacio escokit. Expressei essa posi ‘cio na conclusio da segunda parte do livia A pedagaia no Bra historia e tora”, fos seguintes termos: ‘Tomando a histiria como exo da organizagion dos contetidos curriculares e a eseola como seus privile ado para o conhecimento do modo como se realza Co tmbalho edueativo sera possivel articular, nam peo cesso unifiead,a formagio dos novos pedagogos.em suas virias modalidades. Por esse caminho poder se ating, ao mesmo tempo © no mesmo pracesso, os cinco objetivos previstos na Resolugio que fixow as rnovas ditetrizes curticulares para o Curso de Peda ‘PERSPECTIVA, Foianopois, 26, n 2 6460, jldez, 2508 raiwnw pape mE Oar Polaron deeb 651 goeia: « formagio para o exercicio da dacéncia (I) zna Fducagio Infantil, 2) nos anos inciais do Ensino Pundimental, 3) nos eursos de Easino Médio na modalidade Normal, (4) em cursos de Educagio Profissional na dtea de servigos e apoio escola, (5) em outras reas nas quais sejam previstos eonheci mento pedagéicns. E nie apenas isso. Também a Formagio para as atividades de gestio e, portanto, 0 pprepato inicial dos especalistas referidos no artigo: 64 da LDB poderi ser contemplado nesse mesmo projeto, Isso porque, ao centraro face de process Formative na unidade escolar, aquilo de que se trata Ede eapacitar o futuro pedagogo ao pleao dominio cdo funcionamento da escola. Assim, uma escola viva, Fancionand em plenitude, implica um processo de gestio que garantaa presenca de professores exercens cdo a docéneia de disciplinas articulacas uma esta: ‘ura curricular, em agio coordenacl, supervisionada c avaliada a har dos objetivos que se busea atingie. ‘Ora, um aluno que € preparado para 0 exercicio da locéncia assimilanddo 0s conhecimentos clementares queintegram o curricula escolar; estudando a forma como esses eonhecimentos sin dosados, seqiencia: los e coordenados ao longo do pereurso das séries escolaress compreendendo o cariter integral do desenvolvimento da personalidade de cada aluno 90 processo de aprendizagem; e apreendende o mado ‘como as ages so plancjadas e administradas, estari sendo capacitado, 20 mesmo tempo, para assumit a docéncia, para coordenar e supervisionar a pritica pedagogies, orientar o desenvolvimento dos alunos « phinejar ¢ administrar a escola; e, asseguracla essa formagio, estari também capacitado a inspecionar 0 fancionamento de outras escolas. Claro que, sobre a base dessa formacio inicial, ser recomendvel que, demodo especial para exeroet as refetidas fungbes a0 Ambito dos siscemas de ensino, sejam feitos estudos de aprofundamento, aperfeigoamento e especial do em nivel de pés-graduacio. (SAVLANI, 2008, p. 152-153), PERSPECTIVA Flanapais, 1 25,F- AT EBU, HIGEE 2005 We Taw pomp TRER 652 Drm Sie [Nessa concep que acabo de expor, tomar a docéncia na Educagio In fantil e anos iniciais do Easino Fundamental como base da formacio do pedago- 20 significa que o especilista vai se formar educador aprendendo como se forma, ‘como se educa, como se organiza 0 processo educativo; € nesse sentido que, se vou formar o educador que tem esse dominio, posso pensar a escola como uma tunidade onginiea em que professores e educadores (os especialista) estio mama inter relacio pedagéigiea. O que fazem essas pessoas ¢a pritica de um nove curt culo, O educador, o pedagogo, tem que ter dominio desse compleno. S na escola ¢ vivencia 0 eontat ‘entio esti tendo dominio da docéneia como trabalho com as crianeas, bém de como a escola é organizada, como é dirigida © como é administrada. administrgio do. processo, a coordenagia, pode set pensada individaalmente © no coletivo, Nesse sentido posso formar, ao mesmo tempo, 0 pedagogo € 0 pro fessor para Educagio Infantile anos iniviais do Ensino Pundamental. Formar 0 bom administrador, o bom supervisor significa o mergulho nas questies da ed ‘eacio, da escola. Sea gente conseguisse recuperar, pela nase na histéria,o sent do do clissico, nbs poderiamos chegar a um modelo formative consistente. Com feito, 0 clissicn fornece um eritério para se distinguir, na edueagio, o que & Principal do que é secunditio; o essencial, do acessério; o que € duradouro do que € efémero; o que indica tendéncias estruturais daquilo que se redu. cesfera conjuntural. Por esse caminho nds podemos libertar a pedagogia e os pedagogos da quase ieresistivel atmcio pelas novidades, o que os torna presas Ficeis de modismos ¢ de propostas enganosas que surgem € se difundem com a aparéncia de grandes achados, mas que logo se desfazem como cortinas de fumaca sendo substituidas por novas ondas para onde os pedagogos passario, a flutuar. Hoje tudo € equivalente, tudo é considerado como igualmente im portante, Como eu vou dar conta de tudo? Entio, results inevitavel 0 mote pis moderne: deixa Hue. clas eriangas desde a fase infantil até a fundamental, Revista Perpeetina: De fato, as DCN indieam uma horizontalizagio, ado € impor tante, Se formos pensar numa proposta curricular com base nessa horizontalidade teremos uma formagaio inchada e cortemos o risco de perder de vista o que seria es sencial na formagiio docente. im outa ponto que queriamos diseutircom 0 senor rofere se perspectiva de pesquisa nas DCNP. Nestas diretsizes, por exemplo, ela ‘esti colada na pritica pedayéyica interna i sala de aula, distante, portanto, do modo ‘como o senhor entende a dacéacia. Nas DCNP a docéneia€ alargada pelas Funcies ‘que supée, mas niio pelo eseopo da formagii. Nesta perspectiva, como articula a ‘concepeio de conhecimento com a de produgio do intelecual? ‘Dermeval Saviani: A pesquisa esti no centeo, porque quando digo que nosso papel na universidade e, especificamente, na Faculdade de Educagio € receber ‘PERSPECTIVA, Foianopois, 26, n 2 6460, jldez, 2508 raiwnw pape mE car Paar de oat 653 fos jovens € colocélos num ambiente que thes permita familiarizar se com os clissicos, nesse mesmo processo eles estio aprendendo a conbeces, a interpretat, 4 pesquisat: Entio, ao mesmo tempo em que estou formando © docente pata a escola, estou formando os intelectuais para refletiem sobre a escola. Mas ai surge problema para o curso de pedagogia. A tatefa do educador & a formagio Ihumana, Mas a formacio humana é algo muito complex, Portanto, « Forma do educador, isto é, daquele que sera encarregado de formar os seres humanos, rio pode ser de curta duragia. Deverd, pois, aecessariamente, ser organizada ‘como uim curso de longa duragio, Para formar um mélieo levam se seis anos 208 quis se actescenta o tempo de residéncia e de especializacio, Conseqientemente, para formar um educador cujatarefa, a de euidar de gente, & bem mais séria do «que cuidar da sade, & necessirio um tempo bem maior do que aqucle que tem sido destinado aos cursos de form: esbarramos na desvalorizacio social da profissio, na orientacio da politica edu: ceacional que busea redurit o tempo de formagio e mas limitagdes orgamentirins decortentes da visio produtivise, investimentos na edueagio. Sem reverter essas tendéncias de moxlo a conte & Formagio de educidores o hagar de destaque que Ihe eabe na sociedade humana, 6 curso de pedagogia nio tera um tratamento adequado e cartegaré indelinida mente a marca da precariedade, dio dos profissionais da educa, Mas a nds sempre empenhada na reduc de custos e de Notas 1. Entrevista realizada por Olinda Evangelista, em 8 de agosto de 2006. Participaram Olga Durand, Suze Scalcon c Wilson Schmidt, professores da Universidade Federal de Santa Catarina — UPSC. Jocemara Triches, sacadémica de Pedagogia, ransereveu a fita 2. Fm 2006,0 Consetho Pleno do Conselho Nacional de Edueagio apro- vou a Resolugio n' 1/06 que institui Diretr para o Curso de Pedagogia (BRASIL. CNI 3 As Conforéncias Brasileiras de Educagio ~ CBE, ~ comegaram a ser organizadas no Brasil em 1989. Constituiram-se em importante espaco de discussio tesrica ¢ luta politica de educadores brasileitos em favor da educagio publica. Him 1991 realizou-se a VI ¢ lima CBE, As se os Congressos Nacional de Educacio, CONED. O ‘mais de cinco mil participantes em Belo Horizonte, de 31 de julho a3 de agosto de 1996, PERSPECTIVA Flanapais, 1 25,h- AT EBU, HIGEE 2005 We Taw pompoona TRS 654 Drm Sie 6 10 u © governo Fernando Henrique Cardoso (FHO) comegou em prime’ +0 de Janeiro de 1995 (primeito periodo) ¢ encerrou em primeiro de Janciro de 2003 (segundo periodo). Paulo Renato Souza foi Ministro da Educacio durante os oite anos do governo FHC e implementou a chamada “reforma dos anos 90”. Apés a promulgagio da Constituigao de 1988, educadores se organi- zaram no F6rum Nacional em Defesa da Escola Publica para elaborar tum projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educaeio Nacional—LDB, io. O primeito projeto, de autoria do entrevistado, foi apresentado pelo entio Deputado Federal, de acordo com 0 que rezava a Constitui Otavio Bilisio, antes Secretirio de Estado da Educagio de Minas Gerais durante © governo de Tancredo Neves. A nova Lei da educagio (LDB): trajetsria, limites ¢ perspectivas. (SA- VIANI, 2006). A primeira proposta do CNK, apresentada em margo de 2005, indicava ‘que o curso de Pedagogia formatia, exclusivamente, o professor para atuar na Educagio Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental (O eespecialista seria formado em nivel de pos-graduagio © a formagio seria aberia a qualquer licenciado. (BRASIL, 2005). Helena de Freitas foi presidente da Associagao Nacional pela Formagio de Educadores — ANFOPE Entre as entidades que participaram das negociagSes com 0 CNE durante as diseussties acerea das DCNP se destacaram a ANFOPE, a Associagio Nacional de Pés-Graduagio ¢ Pesquisa em Educagio— ANPEd,o Férum de Dirctores de Faeuldades de Edueagio ~ FORUMDIR. A Resolugio aprovada pelo ONE recuou da transformagio do curso de Pedagogia em uma licenciatura em sentido estrto, incorporando & formagio do docente, a do gestor ¢ a do pesquisador. Nesta Resolu- io, o conceito de docéneia eompreende os trés elementos referidos (BRASIL, 2006) Nos anos de 1960 o Brasil passou por transformagdes importantes no campo edueacional. Com 0 advento da Ditadura Militar, ariculou-se ‘uma reforma, em consonincia com interesses norte-americanos, que ‘PERSPECTIVA, Foianopois, 26, n 2 6460, jldez, 2508 raiwnw pape mE car Paar de oat 655 Jangou seus tenticulos primeiro sobre o Hinsino Superior, com a Len 5.540, de 28 de novembro de 1968 (BRASIL, 1968). Seguiu-se a ela a reforma do depois denominado Ensino de Primero ¢ Segundo Graus, correspondentes 20 anterior Ensino Primario ¢ Médio, em dois ciclos, ginasial ¢ colegial, Lei n” 5,692, de 11 de agosto de 1971 (BRASIL, 1971), Histas lis coneretizaram a concepgao tecnicista de educagao. 13. Esse texto foiineluido no livro Edaeaaia do senso comum i consciéneia filoséfiea (SAVIANI, 2007, p. 65-75). [Nota do Autor — NA] 14 Trata-se do texto “Uma estratégia para a reformulagio dos cursos de pedagogia ¢ licenciatura: formar o especialista ¢ 0 professor no educa dor. \ formagio do edueador”. (CADERNO DA ANDE, 1981) 15. Valnir Chagas, entio membro do Conselho Federal de Edueago, apés a homologacio da LDB 4.024/61 (BRASIL, [20002), foi relator dos Pareceres do CFE n° 251/62 (BRASIL, 1963) € 252/69 (BRASIL, 1969) que regulamentou o Curso de Pedagogia. 16 © professor refere-se ao movimento escolanovista brasileiro, cuja predominiincia comegou nos anos trinta c declinou em fins dos anos 50. Neste projeto, do qual fizeram parte intelectuais como Fernando de Azevedo, Anisio Teixeira ¢ Lourengo Filho, nao hi mengao a curso de Pedagogia 17 © professor José Carlos Libinco liderou, com outros intelectuais, claboragio do Manifesto dos Educadores Brasikirar (LIBANEQ, 2005), difundido por meio cletrdnico em Setembro de 2005. A posigio do Manijesto cra contritia da ANFOPE e apoiadores, partic que tange 4 atribuigio do curso de Pedagogia. 18 Saviani ¢ Marin (2007) 19 Esse livro resultou do projeto de pesquisa “O expago acaclémico da pedagogia no Brasil: perspectiva hist6rica e tedrica” que teve alguns de seus resultados antecipados no referido “tema em destaque” dos Cader- ms de Pesquisa, depois consolidados no livro mencionado, lancado pela Editora Autores Associados em agosto de 2008 (SAVIANI, 2008}. 20 Trata-se do texto Formac de profesores a experiencia internacional sob o olbar brasileiro, em co-autoria com Pedro L. Goengen (SAVIANI; GOERGEN, 2000), PERSPECTIVA Flanapais, 1 25,h- AT EBU, HIGEE 2005 We Taw pompoona TRS 656 Drm Sie 21 _O Curso Normal Superior foi criado para formar professores para a Educacio Infantil eanos iniciais do Ensino Fundamental. Hle seria parte de Institutos Superiores de Educacio (BRASIL, 1996). Hssa proposigio foi rechagada pela comunidade académiea, entre outros motivos, porque interferiria na formacio que vinha sendo desenvolvida nos cursos de Pedagoga 22 © Deere federal n° 19851, de 11 de abril de 1931, (BRASIL, 1934) Fsia- ‘ntos das Universidades Braskiras, previa quc a ctiagio de uma universidade deveria contar com trés das seguintes unidades: Faculdade de Educagio, Ciéncias ¢ Letras, Faculdade de Direito, Faculdade de Medicina ¢ Escola de Engenharia, O Art. 3° rezava que havendo obediéncia aos preccitos sgerais da lei, admitiam.se “ariantes regionals”. A Regulamentagao do ar- ‘igo 3° do Desreto federal n®°19851, de 11.04.31, rezava que seria “também facultado ao Governo do Estado constituir em unidade didaticamente auténoma qualquer uma das segées da Faculdade de Kdueagio, Ciencias, € Letras, a que alude o parigeafo anterior”. 23 Com base nos Estanutos de 1931, a USP criou a Faculdade de Filosofia, Giéncias ¢ Letras ¢ incorporou o Instituto de Educacio do Estado de Sio Paulo. A FECL formava o Bacharel em freas exspecifieas eo IEUSP, medlian- tea realizagio do Curso de Rormacao do Professor Seeundito,licenciava para o magistétio. No IEUSP também se formava 0 professor primitio, im 1938, 0 governo de Ademar de Barros extingui o EUSP. A area de ducagio foi subsumida pela FECL como Segio de Hdueagao transfor mada, em 1939, em Secao de Pedagogia (EVANGELISTA, 2002). 24 Lim 1935 Anisio Teixeita criow a Universidade do Distrito Kederal ¢ incorporou o Instituto de Educagio do DF, denominando-o Escola de Educagio. Criow também a Escola de Filosofia, A UDF foi extinta em 1938, n0 mesmo més em que se extinguiu o IEUSP. Com esses atos, 0 governo de Getilio Vargas eneerrou, arbitrariamente, as duas cexperiencias escolanovistas de formagio docente no Brasil em nivel superior. Nesse processo, em 1939, criou-se o Curso de Pedagogia, agora no interior das Faculdades de Filosofia (EVANGELIST, 2002) 25. O professor refere-se a0 Decreto-Lein® 1.190, de-4/4/1939 (BRASIL, 1939). ‘PERSPECTIVA, Foianopois, 26, n 2 6460, jldez, 2508 raiwnw pape mE car Paar de oat 657 26 Pela Lei n° 5.692/71 0 Bnsino de 2” Grau era obrigatoriamente pro- fissionalizante. O Curso Normal, por exemplo, passou a denominar-se Habilitagio Magistério, 27 O Decreto n. 2.208, de 17 de abril de 1997 (BRASIL, 2009), que re- gulamentou os dispositivos da Lei n. 9.394/96 referentes 4 educagio profissional, retirou o carter profissionalizante do Ensino Médio. 28 Referéneia ao Deereto-lei n. 8.530, de 2 de janeiro de 1946 (BRASIL, 1946). 29. A legislacao definiu as habilitagdes possiveis na formagio do Pedagogo: Administracio Escolar, Inspecio Escolar, Supervisio Escolar, Orien- tacio Edueacional, Vale meneionar que essas habilitagies sofreram mudangas, desaparccendo alpumas e sendo eriadas outras, dependendo das politicas estaduais ¢ municipais. Vale meneionar também que a formagio para magistério nos anos iniciais do Knsino undamental 10 interior do curso surgiu nos anos de 1980, Referéncias BRASIL. Decreto-lei n. 1.190, de 4 de abril de 1939. Dé arganizagio Faculdade Nacional de Filosofia. 1939. Dito Oficial da Unio: Secao 1, 6/4/1939 , Pagina 7929 (Publicagio) BRASIL. Conselho Nacional de Hducagio. Conselho Pleno. Projet de Resoluc, bnstitui Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de grduacio em Pedagogia. Brasilia, 2005. BRASIL. Conselho Nacional de Educagio, Conselho Pleno, Resoluia I, de 15 de maio de 2006, Institui Diretsizes Curticulares Nacionais para o Curso de Graduagio em Pedagogia, licenciatura. 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