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O process politico na Primeira Reptiblica ¢ o liberalismo oligarquico Maria Efigénia Lage de Resende Professora tiulae de Histéria do Brasil do Departamento de Hisedri da Universidade Federal de Minas Gerais Eda coexisténcia de uma Constitaicto liberal com prdticas politcasoligét- ismo oligdrguico, com que se caracteriza no periodo compreendido entre 1889 ¢ | | expressio revela que o advento da Rept- blica,cujo pressuposto tedrico é o de um governo destinado a servi coisa ‘bli ou a0 inieresse coletivo, teve significado extremamente limitado no? fico de construgao da democracia e de expansio da cidadania ‘Adenominagt lica oligarquica, frequentemente atribuida aos ingore Replica, denuncia um sistema baseado na domins-jy/ cio de uma minora ena excuslo de uma maioria do processo de participa: io politica. Coronelismo, oigarguiae politica dos governadoresfazem parte do vocabulério politico necessério ao entendimento do perfodo republicano ‘em andlise. Para o desenvolvimento do tema, este texto est dividido em trés partes: 1 AConstituigdo de 1891: estadualizagdo e negacao da cidadania; Militarismo, federalismo e instal le politica; e Polftica dos governadores e funciona- mento do sistema politico. A primeira parte —A Cons ao de 1891: estaduatizagdo e negagdo da cidadania — & dedicada a esclarecer as bases tebricas da Consttuig Vlicana de 1891, elegendo como questbes bisicas 0 federal Gualismo, Nela tem-se como referéncia obrigat6ria 0 mapa do movimento asides liberais no decorzer do século XIX. Nessa abordagem destacam-se as adaptagbes que as elites pe ibe textos da independéncia da proclamacio da Rept ismo nos con- No desenvolvimento do tema federalismo, 0 of ses do sistema poli fo é examinar as ba 10 predomina: Para isso, € necessdrio identificar of elementos que dio sustentagdo & forma- :magio do poder dos coronéis nos municipios © dos oligarcas na a estadual e nacional. Na segunda parte — — teaga-se um quadzo geral das marchas € cont lidade politica ‘ico em nivel nacional, marcado pela irrupgdo continua de movimen- rebelides € motins, episédios pontuais ou de me- dois movimentos que, pela duragio e motivacio, abalaram os primeiros anos da hi Revolugio Federslista (1893-1895), que, partindo do Rio Grande do Sul, Jevou a luta aos estados de Santa Catarina ¢ Parani, ¢ a Revolta de Canu- dos (novembro de 1896) ya em um massacre inominivel da populagio do arraial de Canudos, localizado no sertio da Bahia. Na terceira parte — tos armados. A revol duragio, acresce ‘ma politico — aborda-se 0 arranjo p ar 0 apoio necessitio ao desenvolvimento de suas ag6es de governo. Pode-se dizer que nesse arranjo os coronéis ocupam 0 centro da cena ca. Sao 0s corontis, chefes politicos locas, a base € # origem de uma complexa rede de relagdes que a partir do munieipio estrutura as relagbes de poder que vao desde o coronel até o presidente da Repiblica, envolvendo compromissos recfprocos (Carvalho, 1998, p. 131). ‘Na anilise da politica dos governadores inclui-se, também, a dinimi- do jogo d ligérquicos coincidentes ou conflitantes. Tem-se como norteador o fato de que 0 balango das eleigées preside ie se examina, quase sempre favordvel sos interesses e/ou acocdos entre seis negociagOes entre as respectivas ol garquiss; muitas eres ampliadas pela participagio de outeas oligarquiss cextaduais. A impossi jo nacional ¢ os nteragio entre 0 poder do iais, no perfodo finas ¢ Sio Paulo, esconde dade de acordo abre espago a intimeros conflitos «, finalmente, a confronto aberto, de que resulta a ruptura do sistema fo rnocesso vouirico mA pRIMeiRA REPUBLICA oligirquico w .0 20 qual, historicamen- , se tem atribuido 0 nome de Revolugio de 1930. de Revolugto de 1930._ ada com 0 movimento p [A CONSTITUIGAO DE 1891: ESTADUALIZAGAO E NEGAGAO DA CIDADANIA [Aproclamagio da Replica, em 15 de novembro de 1889, ocorcena cont suidade dem processo de cogarcamento da leptimidade do governoimpe- Tal, cle mateo inicial tem sido datado do Manifesto repuliano de 1870. ‘Kabotigio da escravidio, em 13 de maio de 1888, pbe fim a um processo |, que faz ru a base social do regime imperil. Eses dois acon- ¢ proclamacio da Repiblica — constituem marcos Estados Unidos da América. Com ele, enquadra-se o Brasil na ceconémico. findar do século, ja deixara sua marca na Constitwigio de 1824. Nesse as- pecto, @ Constituigéo dos Estados Unidos funcionaré menos como uma ino- | ‘vagio e mais como reforso para justficar € consolidar 0 individualismo que 0 lo em substitu ao cx confee os extados uma enorine soma de poder, que © io edifica-seaforga politica do eo- / cerne da ideia de Repiblica, funciona como barreira no processo de cons- y ‘ostersitérose poder realizar ent juste convensbes sem cater po co. Podem legisla também, sobre qualquer assunto que _expressa ou implctament, pelos principio constitcionas da Unio (art. 63) Esse dspostivo permite cos estado, por exemplo, cobratimpostosineresta- dais, deretar imposos de exportaglo,conirair empréstimos no exeros el torar sistema eetoral e pr6prios organiza orga milter ee. ‘Uma comparacio entre os presidentes de provincia no Impétio e os sgovernantes dos estados ajuda a entender a profunda mudanga que se pro- cessa na substituigio do Impétio Unitrio pela Reptblica Federative Os presidentes das provincia si politicos de confianga dos min do lenpéro, passveis de remogio a qualquer tempo. Eles devem trabalhar para manter bem ariculados os interesses co Império com os interesses dos srupos de poder privado locsis,exidando a0 mesmo tempo para evtar que nenhum deles se sina preterido em fungto do outeo. Cab 20 presidente de indicar os acupantes da mais alta patente da Guarda Nacional, igo que agrega os interests entre o centro e a periferia AGuarda Nacional, instituicao imperial, fundadana Regéncia, funciona como ‘uma espécie de forca paramilitar de elite. O posto supremo, o de coronel, é atri- buldo aos homens de grande fortuna e, melhor ainda, se sio ilustrados, os off- ciaisprovém de famtlis abastades eos soldados de estatossociais mais baixos. [No entanto, mesmo esses mo, Cabe 0s coronis da Guarda cuidae do aparelhamento do corpo paramli tar sob suas ordens, fazer o recrutamento € a convoci-lo, quando necesito. reesentantes do imperador, esses presidentes ocupam 0 cargo ito pouco tempo, Sio mudados rotineiramente de uma provincia para cca — se porque cumprem logo sua principal missio sea porque demons- tram parcialidade em favor de alguma faccdo de poder local, Sao, também, muitas vezes removidos para o Rio de Janeiro para ocuparem posigées-chave na admit | ou para se ocupar de funcées menores por serem considerados incompet (Graham, 1997, p. 87). Além de serem rigorosa- mente controlados nas fungbes de intermedtios entre 0 poder centrale 08 10s deve comprovar um padrlo de renda mini- \ ‘grupos de poder ‘cem em uma provincia tempo necessirio para enraizaremtse politicamente ivado locas, os presidentes de provincia nunca permane- 20 fetialisns nomope cove o:ssiema de relgo dlinca coéva'na deteate res do poder locale o centro de poder nacional prevalecente no Brasil i fblica, governadores ou presidentes, conforme denominado na ‘respectiva constituigao de cada estado, sao el de poder que thes advém do préprio texto constitucional. Eles ditigem ¢ controlam a politica do estado a partir de poderosas méquinas partidérias estaduais, Nesse process, os coronéis, nos municipios, serio pegaschave Se o poder do estado é grande, também o 60 poder dos municipios. Nees ddominam de forma inconteste os coronéis, astm designados por associagfo com 0 mais alto titular da Guarda Naci igdo, de origem imperial, jf decadente a partir da década de 1870. Sio eles grandes proprietirios de em a chefia da politica mai Para entender 0 poder dos coronéis € preciso atengio a0 principio da jose detém uma enorme soma Cor igo Federal de 1891, que atribui aos estados a organizagio dos municipios, desde que garantida aos mesmos autonomia no que se refere 20s, unicipalismo, baseada no principio é para oestado assim como o estado estd para a Unido”, impoe- leita, 0 coronelismo ndo se confunde com as praticas hist6ricas — lutas ia ¢ 0 mandonismo local — de exercfcio do poder privade no Brasil, tess tradicionsis, melhor dizendo, atemporais, que atravessam sil colonial e imperial. 10 demarca uma mudanes qualitativa na tradicional domi- nnagio do poder privado. Embora também uma forma de exereicio de poder privado, ele ndo é uma pritica, © coronelismo tem uma identidade especfi- a, constitu um sistema politico e € um fendmeno datado, fobrevive até a Revolusao de 1930, 3, pela nomeasio de homens de sua confiangaparainterventores os estados. Aestes, porta ver, cabe aomea- sii dos responsiveispelas prefeituras de cads municipio, A liquidagio final do coronelismo viri com a ultacentraizagao imposta por Geilo Vargas, com o Estado Novo, em 1937, 0s estudos sobre coronelismo tim sua matrz na obra clscca de Victor Nones Leal, Cronelimo, enxada e voto, publicada pela primeira vez em 1943. Para eid corr im fenémeno que #6 pode ser entendido a partir da _ssaea sca do antigo e exrbtame poder prvado; da esrutua ager indidria que fornece a base de sustentagao pata as diferentes formas de tagio do poder privado; da superposigio de formas de sistema repre- oa uma estuturn econdmica e soca, basicament ru controle de uma vata populagio em posigio de dependénc findio; e de um sistema de compromissos, uma troca de proveitos, e1 poder piblico fortalecido e um poder fnangurado com a Repiblica, quando o centralismo de Vargas imp6: ivado jé em fase de enfraquecimento. 0 poe cape mip a noir po mee to Gom poderosns rivas, Yencida a siicipal, o que no entanto, a maior parte das veze comum é a existéncia, quase permanente, de uma c com as “persons ” Locals — médicos, advogados, padres, funcionérios além de uma guar- da pessoal, formada por capangas ¢ cabras. Em caso de necessidade, ele nfo hesita em organizar milfias privadas tempordras, mobilizadss em situacGes pitblicos, comerciantes ¢ farmacéu de conftonto armado com corot rivais € mesmo contra governantes de capangagem €0 cangago desemp. cas municipas. seus estados ‘enorme papel | Ocoronel exerce uma ampla jurisdicéo sobre seus dependentes: ele ar} | pitra rixas ¢ desavencas; resine nas mios fungées poli ypondo-se mi Se como ocupar.na drea.executiva fungées burocréticas rendosas, ‘Na sua auséncia, um membro de sua confianga assume a posigio de lugar- tenente, tornando-se um verdadeiro chefe local, tributésio do chefe maior que se ausentou (Leal, 1975, p. 22-23 Os coronéis que aleangam a hegemonia nos seus estados passam a inte- far as oligarquiasestaduais. A essas oligarq por corontis, & comum a presenca de bacharéis — médicos, advogados, en sgenheiros —, muitos dels ja inseridos no meio urbano atcavés do exercicio profissional. O poder das oligarquias estadusisestruturase a partic dos par- tidos estaduais — méquinas pol ieas poderosas — e no uso da forga sma. Hii estados em que a dispata pelo poder esta mais stitucionalizada. Neles, 0 partido estadual funciona como uma estrutura de agregacio dos interesses, fato que torna a violéncia menor, Estlo nesse ‘aso Minas Gerais e Sao Paulo, Em Minas Gerais, 0 Partido. Republicano Mineiro congrega os interesses de grupos familiares dominantes ns diversas ¥ ~econibmicas diferenciadas. Bm Sio Paulo, o Par nante ¢ praticamente, & época, exclusiva do estado, Nos estados dominados por oligarquis constituida de wma dinia faa iqueles em que ocorrem tas armadas entre faces oigérquces pela -gemnonia no estado, a violéncia é mai imeiro caso Goids, Mato Grosso, Amazonas, entre outros, € no segundo caso Parand, Santa Catarina, Bahia ¢ Piaut, por exemplo. O caso do Rio Grande do Sul é extre- ‘mo, Fortemente influenciado pelo positivismo, o Rio Grande do Sul vive & { f ‘Medeicos mantém 0 poder até 1924, fazendo-se reeleger, continuamente, pela maquina do Partido Republicano Rio-grandense. i eicooieeti, mria dS inlatel, corre nds €tados, desde os primeiros momentos de vida republicana. Nos visando a obter 0 controle local ¢, via de regra, posicionar-se na condigio de aliado da oli- garguia que detém 0 poder no estado, um grupo de fa ela uma pessoa, uma familia on s, entrelagadas por casamentos, aliangas u controle de fungées piiblicas. No ni disputa entre facgées oligrquicas € quase uma constante. Seo federalismo pos lo estado, a a a emergéncia de oligarcas e coronéis podero- sos mi Seus Féspectivos ambitos de atuacao, a preponderancia dos interesses impede que os temas da nagio e da cidadania adquiram posicio icos externos, os constituintes de 1891 cen- tralizam suas preocupagées na organizagio do poder e na definigio das ins- tincias de decisio, deixando de lado os problemas sociaise de participagso a aboligio da escravidio. jos da Consttuigéo dos Estados Unidos para a A transplantagio de Constituigio republicana de 1891 é feta sem que se leve em consideragio a rea « econémica do pais, marcada pela alta concentragéo da proprie- nso poder dos proprietivios de terase pela enorme desigualdade lacfo, hierarquizada pela pobreza, pelo estigma da eseravidio pela cor da pele, Esquecem-se 0s consttuintes de 1891 que a Constituigéo america- za surge para regular uma sociedade igualitériaformada pelos colonos em um dificil simago da miséria popular (Arendt, la os escravos do restante da populagio. Jefferson ci para a Africa (Mor nacional 4 nal € a0 governo , mantém-se ata iva. Ou seja, adotam iam a liberdade & independéncia constitucional. Do ponto de vista da participaséo pol dosaum um liberalismo essencialmente conservador. aca Morse, 0 cendio brasileiro, no momento da independéncia, nfo favorece a expansio das ideias de ps ca, considerando-se a heterogencidade de tipos sociais na composigio da populagio — brancos, indigenas, senhores, escravos, cvilizados, barbaros, iber- ig20 ocupacional da populagio, em que quatro em cada cinco pessoas sio escravos, trabalhadores rucais dependentes,agricultores e pasto- res que vive da economia ce subsist fan «6es, nas poucas brechas abertas ao trabalho livre, finalmente, uma cultura politica marcada pelo tradicionalismo ibérico, em que prevalece a nocio de cia e alguns ocupantes de out que bem comum nio é, necessariamente, um assunto pars a opiniso da raioria (Morse, 1988, p. 74). Das restrigdes impostas, no Império, ao exercicio da cidadania surge a ambigua denominacio de “democracia censitéria”, selecionando-se os ele- tores pela renda ¢ posse de propriedade. Assim, prevalece o conceito de hhomem livre, detentor do direito de participasio p: polis grega. Nela, homem livre é somente aquele que tem a condicio de pro- 0 €, portanto, renda assegurada pelo trabalho de outros. ea, que vigorava na tando Kant, esclarece essa forma de pensar defendida pelos ais conservadores. Para Kant, o empregado doméstico, o bal- conista, 0 uabalhador ou mesmo 0 barbeiro no sio membros do Estado euas pessoas subsstem da venda desea trabalho e, assim, no con co bastante para to, para serem Para tando com uma base de propriedade, nao sio independent cidadios (Merquior, 1991, p. 149). Arendt chama a atengio para a permanéncia da i , nos sécul ima conexdo entre XVII, XVII ¢ propriedade e liberdade que prevalece, acai a lei propriamente dita, que assegurava aliberdade. E, conclui surgem pessoas que sio livres, sem que possuam propriedade, é que as leis se tornam necessétias para proteger diretamente os individuos e sua liberdade (Arendt, 1990, p. 145). do processo de aboligéo gradual tem implicagoes profundas na visio das elites Dp sobre a populacio live, entendida aqui como aquela parte da populagio que consegue preencher 0s requisites minimos para se clasificar como eletores. Para elites, esa “massa de votantes” nio passa de uma es" nio pas bamulta ignorante “edependente, Dessa perspectiva, o espectro dos ex-libertos votando torna-se ~ paa cles uit prsigio de cas social (Graham, 1997, p. 248-263), Pel ficagio da propriedade e exi lei eleitoral de 1881, 0 Império estreita as exigencias sobre a quali- dos eleitores a obrigatoriedade de saber ler € eserever. Hssas exigéncias, cados, tornam pr dania. Por essa nova le, 0: (Carvalho, 1998, p. 92). Em todo o Brasil, pouco mais de 150 mil contra o mais de um milhao de eleito- sem 1870 (Graham, 1997, p. 262). lo de pouco mais de um ano, situado entre a aboligéo da escra- io permanece voltado para a vidéo e a proclamagio da Repablica, o Impi polémica em torno das exigéncias dos antigos proprietirios de escravos de serer indenizados pelo Estado. Para os libertos nada muda, mesmo depois da Lei Aurca (1888). No en: | tanto, propostas de reforma agria e de educagfo para os ex-ctravos exs- fam no decotser da sucessio de pelo menos desde década de 1870. lgnoradas pelo Império, essas propostas assim permane- ccem pelos constituintes de 1891. nogativas que as ivre no perfodo imperial cont ainda muito acraigadas. Na Consti Ihamento de valores que negam he ranga de uma sociedade escravocrata, que ainda hoje marca, de forma igo de 1891 prevalece o compart: profunda, a sociedade bs No que se refere aos dir se, basicamente, a0s dir assim, de direitos relativos & liberdade de culto e de expresso de pensamento, de seguranga de igualdade perante a lei, e do direito de propriedade em sua Quanta aos dizetos politicos, a Constituigdo inclu a liberdade de as ciagaoe eaniin ea diteta de voto. No caso do dieto de voto, consider EY Pao) 60 WA PRiMeIRA REPO: do 0 mais importante dos direitos politicos, 1 priedade, mas ma se a exigéncia de pro- esto ausentes, poi ce a0 dominio do privado, presa is atividades de reprodugio da epécie, sen do, portanto, inapta para a politica —atividade que se processa nos domi 40 espago piblico. No que se refere aos direitos socials, esses passam aol indi A maneira defendida por Benjamin Constant (1767-1830), politico eseritor francés, em texto fae rmoso, escrito em 1826, Da liberdade dos antigos, comparada diberdade dos ‘modernos. Apoiando a ideia de qué os antigos — gregos ¢ romanos — nio possufam qualquer nocéo de dretosindividuais, Constant considera quea iia de liberdade dos antigos compreendia somente a partiha ativa e constante do poder coletivo, pois tinham de assegurar sua prépria existéncia ao prego da guerra. Com ela compravam, cotidianamente, seguranga ¢ independéncia. O 0 dos modernos,esclarece, 6a seguranca dos privilégios privados. As- ‘para os modernos aliberdade é feta das garantias concedidas pelas insti ivilégios (1985, p. 15). Desse ponto de vista, consagra-se a preponderincia dos interessesprivados sobre ointeresse coletvo. es de 1891 que, embara Constant _considere verdadeira liberdade moderna, ele reco Tliaos que é aliberdide poltca a garantla Indispenatval dx paimelea. Para “dle, operiga da liberdade moderns esta em que os homens, absorvidos pelos interesses pati ito de partcipar do poder pol Nessa argumentacio, que tativo para a garantia dos dade de conciliae as duas espécies de de autoridade dos gover Assim, ee conclui pela necessidade de um Estado em promover a formacio € 0 aperfeigoamento de seus cidadios. juanto para 0 aperfcigoamento de um povo. bando suas ocupagses, dever, no entanco, consagear ainfluénciadeles sobre 1 coisa piblica, chamé+los a participar do exerecio do poder, través de de- de controle e vigildacia pela mani 25) Sem Constant de seu contexto, em que propriedade eliberdade ainda so coincidentes, suas reflexes nos ajudam a perceber que a Cons de 1891 deixou no limbo toda e qualquer ago visando & construgio do pro- cesso de participagio dos cidadios no exereicio do poder. embora a Constituigio de 1891 ampl pagio politica pelo voto ¢ pelo direito de associacao e re que se impée € uma verdadeira negacio da ideia de pai mento das cleigbes; e pela erimi ago da eapoEira, represenativas de um populagio do pais. Dessa forma, verfica-se que, ao insiuiro regime re- presentativo democratic, a les da Repitblica abrem juridicamente a par- icipagio no processo politico, ao mesmo tempo que cerceiam, na pratica, seu funcionamento, Néo faltam, também, e aqueles que contestam a Repiblica marcada pela busea de posigdes rendosas nos escales admit ntelectuais e/ou membros das elites polticas tivos do Estado, prvilégios e concessées. A que se acresce 0 gosto pelo luxo ea exibiglo de padres de vida importados, com a marca da belle époque, desconhecendo os cortgos usbanos e a pobreza in- gente da populacio rural. Lima Barreto, no seu ultraidealismo, sonha com uma repiblicaperfeita, representada no ufanismo vsionario do personagem central do seu mais famoso romance, publicado em 1919, Triste fim de Poli carpo Quaresma (Riedel, 1898, p. 57-58). Em A bancarrota do regime federativo no Brasil (1912), Silvio Romero, analisado por Maria Aparecida Rezende Mota, evidencia seu desencanto com iar qualquer mobilizagio po- 5. Contra Romero, que dissera em 1894, em Doutrina contra dowtrina, que 0s res deviam afastar-se da politica ativa, clama em 1912 para que o Exérci cencontre um “general resoluto” (si) para aglutinar as oposigGes oprimidas pelas 21 oligarquias do pafs (2000, p. 104-105). [Nas obras de modernizagio do Rio de Janeiro, o pr manda demolir 590 prédios, a maioria corticos habitados p 0 objetivo é a construgio de dois amplos bulevares, sob i boulevards de Paris, visando a dar A cidade uma imagem europ indo o fato, registra Skidmore: "Houvesse ou nio a intengio, a el «a estava tornando o centro do Rio numa zona livre da ‘ral, fato que impressionaria os estrangeiros e manteria as ‘lasses perigosas' a distincia” (1988, p. 111). Fazendo uma anilise do eleitorado da cidade do Rio de Jancis provavelmente, 0 eeitorado mais alf valho informa que nas primeiras eleigées presidenciais da Repabl votaram somente 7% do eleitorado potencial, 0 que equivalia 2 1,3% da populagéo (1987, p. 85). Considerando-se que o direito de voto é o mais importante dos direitos p nificou pouco em termos de ampliagao da participagio da populagao. Essa situagio permanece, basicamente, imutavel no periodo que se examina. An- tes de 1930, o nimero de votantes em relagio ao total potencial de eleitores, jamais ulteapassou a casa dos 3,596. referido sobre a participagio politica na cidade do Rio de Janeito, cujo titulo Os bestializados & emblemético de uma certa visio da elite sobre o povo do Rio de Janeiro, José Murilo de Carvalho ob- serva: “Nossa Repitblica, passado 0 momento inicial de esperanca de expan- sio democritica, consolidou-se sobre um minimo de participacio eleitoral, sobre a exclusio do envolvimento popular no governo. Consolidou-se sobre 4 vitria da ideologia liberal peé-democraties, darwinista, reforgadora do po- der oligérquico” (1987, p. 161). Concluindo 0 estudo Da combinagio entre um foderalismo, que se traduz em estadualizagio nconteste dominio de oligarquias, ¢ um individnalismo, que se traduz cos, emerge uma blica preocupada com a manutencio da ordem, mesmo a cassetada, de te da soberania popular e ciosa da missio das elites — o de condutoras dos pel ‘em umm liberalismo podado em seus getmes democt ‘mesmo cerceados, os setores populares urbanos exercem igdrquico, J& nas décadas de 1910 e 1920 o movi- salarmente 0 anarcossindicalismo, ¢ as reivindicagoes pressio sobce mento oper de outras eategori ica. Confrontos entre manifestantes policia sio uma constante. Com divergéncias no que se refe- re Aampliagao de direitos politicos, geralmente deixada de lado por operétios com alguma tendéncia anarquista, a luta por direitos soci te referentes & regulamentagao do trabalho e pela garan particularmen- fetiva dos di tos civis, esté na pauta das reivindicacées dos trabalhadores urbanos. Nessa mobilizagéo sé0 mazcos importantes 2 organizagio do Pa -0 (1922) e a campanha pelo voto secreta. Entre os moviment ‘0 movimento de Canudos, oco: Com is da 6poca, ressalte-se, no meio rura do nos anos de 1896 e 1897, IIILITARISMO, FEDERALISIMO E INSTABILIDADE POLITICA Embora a ideologia militar de participagdo ativa na vida piblica, apés a atuagio na Guerra do Paraguai, tenha funcionado como o clemento catalisador da de- ;posicio do imperadr, o que de fato se efetiva em 15 de noverbro de 1889 € a caulmindncia de um processo antimonérquico que vinha da década anterior. Esse processo envolve segmentos poderosos da sociedade — cafeicutores, ex-pro- prictétios de esceavos, abolicionistas,Igreja e militares postivistas, partidérios cde uma ditadura militar —, além dos partidérios da Repiiblica. No momento da proclamagio da Repiiblica, o Exército ¢ o Partido Republicano Paulista (PRP) sm, basicamente, as forgas politica mais organizadas no ps consti No Exército predomina um forte e tmarginalizados na ordem imperial — soldos baixos, pouca patticipagio na ito corporativo. Considerando-se res assumem, a partir da Guerra do Paraguai (1864-1871 de sua importincia como instituigio no sociedade, Nesse processo definem-se como superiores & Guarda Nacional ior da —nilicias locais,institufdas no Império sob o comando de proprietatios de terras — e elaboram uma espécie da “fusto mistica entre a corporagio ¢ a cia de um professor — Ben- jamin Constant. O pi res de uma aguds critica poltt- cae da concepgio de uma missio civica — a de expurgar os males do pais derepabli © caminho para o progresso. Lema que acabou por tomnar-se o da bandeira dda Repiblica, Embora nem toda a oficialidade seja repul fem seu conjunto confrontam-se com as liberal de repablica. £ sempre importante jvismo no se restringe aos militares. As faculdades de dircito si0, como as escolas militares, focos de difusio das ideias po ‘O PRE dotado de uma organizagio bastante sélida, congrega os interes- ses dos cafeicultores, A burguesia agréria do café esté particu rtar-se do peso das amarras do Império Unitatio e em assumit o controle de decisées politicas, econémicas efinanceiras de interesse para 0 desenvolvimento da cafei Seu projeto polit fino Ma republicano de 1870, €0 de uma Reptblica rep iva, organizada sob a forma federativa pela reuniio de estados. Essestilkimos ligados, uni mente, pelo vinculo da nacionalidade e da solidariedade dos grandes i resses de representagio e de defesa exterior. ‘A deposigio do ministério do visconde de Ouro Preto pelo marechal Deodoro da Fonseca funciona como catalisador das forcas de oposicio a0 Império, tomando icreversivel a derrubada da Monarquia. No dia 15 de rnoverbro, na sequéncia, militares civis, comprometids com as ideias re- publicanas ati lagao de um governo pro- vis6rio, Em pou: , proclamada a Reps como a nova forma de governo do Brasil. © primeiro ministéio, a ore pressupée uma ditadu vistas. rmente inte- ressada em zado desde 11 de nove composigio reflete as cito eo PRE 0 15 de novembro, apazentemente um acontecimento pacifico, 6a pon- assume 0 poder sob a chefia de Deodoro. Sua orcas politics organizadas da época — 0 Exér- 1m iceberg cuja emergéncia faz aflorar uma multiplcidade de posigBes tuagio é, ainda, mais complexa, pela passagem ideranga do movimento, de fornia imprevista, -vador e amigo do imperador, mais interessado na queda de Ouro P to do que na queda do Império. O primeiro io da Reptiblica langa os fundamentos do novo ordenam « politicos es garantias individuais, dissolve a Camara dos Deputados Ie.o Conselho de Estado e a vitaliciedade do Senado. Vérios decretos tratam da separagio da Igreja do Estado, assanto que une liberais e positivistas & provoca a rebeldia do clero catdlico. Com a separagio da Igreja do Estado instieuem-se 0 registro de nascimento, 0 casamento ci dos cemitérios. ‘Nos primeiros dias da Repiiblica, confrontam-se posi ‘quanto a forma de governo a ser adotada. Os 1 transformagio do governo provisério em 0s politicos do PRP, com politi nam para formalizar a convocagio de uma Constituinte, © decreto de qua- dos eleitores, datado de 19 de novembro de 1889, abre 0 processo \c, enquanto 10s ¢, ainda, Rui Barbosa, pressio- :rém, petmanecem atuantes ¢ deixam suas marcas na Constituigéo republicana de 1891, A preacupagio com a pt naturalidade brasileira, a todo estrangeiro que no se manifeste em conteé- fio, no prazo de seis meses. Benjamin Constant, ministco da Guerra, decreta 6 aumento dos vencimentos dos oi Barbosa, ministo da Fazenda, decreta uma reforma financeira, bbuindo aos bancos o diteto de emissio de papel-moeda, visando’& expansio do crédito para ento econémico do pats através da eriagio de empresas. A reforma, marcada pela ci dades andnimas e intensa especulagio com ag6es, fica conhecida como

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