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A CIRCULAÇAO DAS FO
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«Mandou um rei dos cristãos do Ocidente, gue Os reinóis levavam (ou procr~-'
são os nossos irmãos Frangues, a estas partes da In- vida de luxo e ostenta cão mal d
dia navios poderosos; e demoraram um ano no mar Boa Esperança, vingando os anos -== -;rri-r-.::
até chegarem. Primeiro vieram à região meridio- pátria. Um viajante francês que .:.~ ::::::::i
nal, para lá das partes do Cux, ou seja da Abissínia, tre 1608 e 16n, Pyrard de Laval, ;- . ~ S
e chegaram depois a esta terra da Índia. E compra- dalgos (ou tidos como tal) andavam ~
ram pimenta e outras coisas e foram-se para sua portados da Pérsia e da Arábia,
terra. E abriram o caminho e aprenderam-no bela- Bengala, da China ou da Pérsia, reeie
mente. [00'] E a terra deles, dos ditos Frangues, cha- ouro, prata, aljôfar e pedras preciosas, <,~
ma-se Portugal [00.]. E o seu rei chama-se Manuel - se deslocavam a cavalo, faziam-no de ~
de quem seja sempre Emanuel o guarda!» (Tho- lanquim, acompanhados por numerosa se
maz, 1991: 139). Assim descrevia em 1504 um mon- pajens, lacaios e escravos, os quais ~
ge siríaco do Malabar, ao seu patriarca na Mesopo- pa e espada. Também as damas se :;~"",,,--
tâmia, a notícia da chegada de Vasco da Gama a palanquins de seda seguidas por escra-.
Calecut, em tom de naturalidade e até simpatia, um cerimonial que se tornava pan::iC!-'~.~~
longe dos extremos da euforia portuguesa e da hos- borado em determinadas ocasiões, coe;
tilidade muçulmana, reflectindo um ponto de vista missa. Neste caso, saíam com as resoecz
que devia ser compartilhado por larga percentagem criadas e escravas cobertas de pulseiras (Y-! - -~~
da população. E o curioso neste texto pouco co- de ouro, levando para o interior rio = ~
nhecido é que, mais do que a mera busca de «cris- alcatifa para estender no chão sobre a 0="- '':WO~G
tãos e especiarias» ou a violência e crueldade de lavam uma esteira, almofadas de velu
que se tem rodeado o feito do Gama, o que dele do, uma cadeira, o leque, a bolsa de ~~-
melhor ressalta é o facto (decerto logo percebido livro de orações, um lenço e OUITOS o::.j:=~
pelas comunidades cristãs nestorianas do Sul da Ín- como indispensáveis. Era um estilo de Y;-=',
dia) de se ter aberto uma nova rota, um caminho a arte não andava nunca dissociada com
regular de contacto com a cristandade ocidental bilitante e símbolo de status social.
pelo qual, além dos interesses mercantis e políticos,
tornava-se enfim possível um convívio frutuoso
pela, via do diálogo cultural e artístico. TIPOLOGIAS E
E assim que aquilo a que podemos chamar as PERIODIZAÇÀO
«artes luso-orientais» - e, concretamente, o com-
plexo fenómeno baptizado com o nome de «estilo A cobiça, roçando a avidez, na
indo-português» quando da Exposição de Arte Or- objectos de carácter oriental (a que se =--=
namental no Museu de South Kensington (Victoria conotações de luxo, comodidade, podezí
and Albert) em Londres em 1881, e da que no ano za acima do vulgar) foi desde cedo in: -5;: -;
seguinte daria origem ao Museu Nacional de Arte nunca cessou de aumentar, tanto por ~-= .:
Antiga, termo logo adoptado pela erudição nacio- der régio quanto pela classe senhorial e ~
nal (Viterbo, 1893) - deve ser entendido não ape- tadas, ou até mesmo pelos próprios <:"f--"-"$Z;;;--'~-
nas em sentido geográfico, mas sobretudo social e Existia um interesse genuíno de ap,-o.:- "'-?i='
histórico. De facto, elas estão imediata e intima- «exótico» como meio de ascender ao C02::e~
mente relacionadas com a vida quotidiana dos por- to universal e ao contacto directo co
tugueses no Oriente, com a percepção das suas da de no seu todo (uma atitude de que ~
gentes, climas e costumes e os novos hábitos ad- tre nós sintomas desde Damião de Góis ~ _
quiridos, tanto quanto com o acesso directo ao de Faria e Sousa e à constituicào das ""';--'-;";:--:c,"oo
acervo imenso de riquezas que durante séculos ha- lecções e museus); mas por trás des~ ~.
via alimentado o imaginário europeu sobre o mun- manismo podem encontrar-se morivações ::.e
do para lá dos confins do Oceano. ordem - que não se excluem enrre si. --
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em paralelo - tais como a questão do gosto, o de- vindo a Lisboa, aqui permaneciam alguns anos tra-
sejo de ostentação ou a procura de uma forma de balhando directamente para a corte.
entesouramento seguro. Deste contexto complexo de mobilidade total
A necessidade de constantes deslocações e a de obras, formas e artistas decorre a dificuldade de
consciência da fragilidade e carácter provisório da classificar e, sobretudo, fixar critérios de definição
presença lusa em muitas das zonas do Indico e do do que constituem as diferentes modalidades e va-
mar da China determinaram em larga medida as ti- riáveis do conceito, mais vasto e abrangente, de ar-
pologias do que se pode designar, globalmente, por te luso-oriental. Algumas tentativas para distinguir,
arte luso-oriental. A característica mais comum aos subdividindo-as e compartimentando-as, as várias
objectos fabricados no Oriente durante o período manifestações artísticas consoante as regiões geo-
da permanência portuguesa reside, precisamente, gráficas a que estariam supostamente associadas de-
no seu carácter «portátil», mais do que no facto de ram lugar ao surgimento recente de termos mistos,
serem executados em materiais e estilos tidos por tais como o «cingalo-português» (de Ceilão), o «si-
exóticos a um olhar europeu.' Facilmente transpor- no-português», o «luso-malaio» ou até o «luso-
táveis, destinados a fins de ordem prática tais como -persa». Embora úteis quando se trata de estudar os
o recheio doméstico ou alfaias religiosas, eles cons- materiais e os locais ou áreas de origem e de exe-
tituem uma categoria à parte, bem distinta tanto cução, trata-se, porém, de categorias extrínsecas à
das artes orientais quanto das ocidentais, na medida obra de arte, com escassa aplicabilidade, e que em
em que aliam formas e funções tipicamente portu- última instância podem levar a uma visão redutora
guesas a uma gramática decorativa híbrida. Estas de um fenómeno muito mais vasto e multifa-
peças, que testemunham melhor do que qualquer cetado.
texto escrito o encontro de culturas e de modos ci- Se no panorama da arte luso-oriental dos sécu-
vilizacionais diversos, são o fruto de uma sociedade los XVI e XVII são frequentes as peças que assumem
dinâmica e de forte personalidade. Não eram ne- uma identidade própria, isto é, em que se verifica
cessariamente realizadas somente em solo oriental, uma perfeita simbiose e hibridismo formais, tal sig-
nem por artistas orientais a trabalhar em territórios nifica que, de acordo com o que foi referido, o ti-
sob o domínio ou submetidos a influência lusa; po- po de colonização efectuado pelos Portugueses no
diam, também, ser produzidas por artistas portu- Oriente foi determinante para o nascimento e pos-
gueses indianizados ou sujeitos a modelos e padrões terior desenvolvimento dessas novas formas de ex-
orientais, ou mesmo por artistas locais que, tendo pressão. É, por isso, revelador que, no conjunto das
Dama num palanquim em Coa, in Jan Huygen van Linschoten, Itinerarium ofte Schipvaert naer Oost ofte Portugaels
Indien, Amesterdão, 1614 (BN)
.~
, I
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o QUESTIONAMENTO DA IDENTIDADE
artes luso-orientais, seja o dito «indo-português» a apresenta uma originalidade bem vincada e incon-
corrente artística que assume, de longe, uma maior fundível, que irá, ter reflexos na cultura artística
individualidade e aquela em que melhor se pode tanto do Brasil, Africa e ilhas atlânticas - com o
constatar o diálogo formal e de linguagens decora- ainda mal definido «indo-açoriano» (Martins, 1981) -
tivas resultante da miscigenação cultural, sem equi- quanto da própria metrópole. Mas nem tudo ~ que
valente na literatura - mas sim na música e até na é orientalizante ou idealmente ligado à rnítica lndia
culinária, que falam mais aos sentidos -, produto cabe nos seus limites: peças como a série de 26 ta-
refinado de uma sociedade luso-oriental verdadei- peçarias encomendadas por D. Manuel à Flandres
ramente integrada. para agradecer à Virgem do Restelo o sucesso do
Sob essa categoria (que é uma vivência mais do Gama, desaparecidas, e suas prováveis réplicas, fa-
que um estilo) se inclui um número considerável mosas até ao século XVII, de cortejos de girafas e
de peças chegadas até aos nossos dias, hoje dispersas elefantes ou o desembarque em Calecut (conquan-
por igrejas, museus e colecções particulares em to conhecidas em antigos inventários como «à ma-
Portugal e no estrangeiro - de que é tarefa urgen- neira de Portugal e da India»); ou cenas costum-
te estabelecer o inventário -, raramente in sítu, bristas da vida de São Francisco Xavier, como na
cobrindo um arco temporal que vai do final do sé- sacristia de São Roque em Lisboa, e tantos martí-
culo xv ao século XIX (em rigor, até 1961) e um rios e fundos de retratos seiscentistas, não passam
sem-fim de objectos cuja beleza e diversidade não de visões do orientalismo fantasioso que desde
cessam de surpreender. Atingindo o apogeu a partir sempre alimentou o imaginário, ocidental, nada
do último quartel de Quinhentos e durante todo o tendo a ver de autêntico com a lndia.
século XVII - em que a convivialidade luso- Papel fundamental na evolução dessa nova arte
-indiana, e em particular goesa, parecia destinada a coube, sim, à sucessão sequencial de contextos e
perdurar para sempre, até ser posta à prova pela épocas ao longo das quais ela definiu a sua persona-
pressão de inimigos internos e das potências euro- lidade: o faseamento de uma progressão muito rá-
peias rivais, começando a abrir brechas na sua au- pida que nos permite estabelecer filiações, formas
to confiante identidade -, mas mostrando já sinais de contacto ou influências e uma cronologia relati-
de decadência e de esgotamento criativo ao longo va (já que são muito raras as peças datadas). A um [e-G:-
do século XVIII, o universo visual indo-português primeiro momento, que coincide com a chegada rie ~
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A ClRCLL-\Ç.:"O
dos Portugueses, e que se pauta pela curiosidade reunir uma colecção de peças do Oriente: no ;
suscitada de imediato pelo novo mundo que lhes ventário datado de 1517-1518 em que se meneio ~
era dado ver, traduzi da no desejo de adquirir ob- os objectos pessoais guardados na Casa da lina e-
jectos evocadores dessas paragens lendárias, seguiu- pois do seu falecimento referem-se, por exem~ lo.
-se a paulatina afirmação de uma clientela abastada, relicários, espelhos, pratas, uma pulseira de madre-
que, ao estipular as suas próprias encomendas, abriu pérola com o seu estojo, uma pequena caixa de
caminho ao fenómeno de «asmas e estética» - marfim, fieiras de colares de inúmeras pedras (ága-
mais que de colonização - que viria a culminar tas, âmbar-negro, olho-de-gato), colares de ouro
nas diversas manifestações dessa arte sem par na indianos, jóias com rubis e diamantes ou de laca e
Europa até ao barroco, a qual constituiu uma das pérolas. Também as suas filhas - a imperatriz Isa-
mais ricas e originais contribuições de Portugal pa- bel de Espanha, mulher de Carlos V, e Beatriz de
ra a arte universal. Sabóia - levaram nos seus dotes muitas jóias reali-
zadas na Índia (Gschwend, 1996: 90). O dote da
o ENCONTRO ESTÉTICO: duquesa de Sabóia D. Beatriz incluía colares de ru-
bis, âmbar e pérolas, 79 pulseiras de esmeraldas, ru-
ENTRE COMPRAS bis «barrocos», isto é, não lapidados (decerto das
E OFERTAS minas do Pegu, os melhores do mundo), pérolas e
olho-de-gato, 14 anéis de rubis, esmeraldas e dia-
o terreno estava preparado, com a prévia ex- mantes, bem como um cinto cravado de pérolas,
periência adquirida nas costas africanas, e seguiu a rubis e diamantes. O maior sob esse aspecto, feito
mesma sequência lógica dos entrepostos da Serra para impressionar a Europa, seria o dote reunido
Leoa e Mina: após a acção exploratória das feitorias, em 1565 por D. Maria de Bragança (hoje espalha-
seguiram-se as primeiras encomendas de carácter do entre Nápoles e Viena), perita no conheci-
específico, em quantidade e riqueza crescentes, até mento de gemas graças às ofertas do seu tio vice-
se atingir, com o estabelecimento de núcleos po- -rei (1558-1561), D. Constantino de Bragança.
pulacionais estáveis, o nível de exigência e de cul- Através do enorme acervo da literatura de via-
tura visual capaz de se pautar por uma verdadeira gem e das cartas-rnissivas vindas do Oriente, depa-
alteração no gosto e nos padrões de apreciação e ramo-nos a cada passo com menções a presentes
percepção dos valores. Acresce que, no Oriente, o enviados para a corte. Segundo Gaspar Correia, o rei
contacto com altíssimas civilizações (porventura su- de Melinde mandou ao monarca português «um co-
periores à própria Europa) fez rodear esse encontro lar de ouro largo com pedrarias e pérolas e um cai-
dos requintes de uma etiqueta e de regras de com- xão muito lavrado de lavores de prata e marfim,
portamento a que os nossos rudes nautas não esta- cheio de panos brancos e de seda e de fio de ouro,
vam habituados. que nunca os nossos tais viram, dizendo elRey que
Datam logo de 1498 os primeiros testemunhos eram para a Rainha, com vinte anéis de pedraria de
da compra de objectos em sistema de mercado li- outro tanto preço como o colar. E deu aos capitães
vre, nomeadamente de porcelana chinesa (cujo lo- também jóias de ouro e panos de sortes, tudo de
cal de origem se ignorava), de que Vasco da Gama muito preço» (Correia, 1858: 1, 132). Não se tratava
trouxe algumas peças para oferecer aos seus monar- de um caso isolado, mas de prática corrente entre
cas. Em simultâneo, os potentados locais enviavam soberanos.
para Lisboa ofertas destinadas ao rei, encontrando- Outras ofertas partiam de fidalgos em serviço
-se no inventário do «guarda-roupa» de D. Manuel oficial no Índico, constituindo o produto do saque
e em cartas de quitação inúmeras referências a todo após a tomada de Malaca o episódio exemplar das
o tipo de artefactos orientais chegados à corte no riquezas que afluíam a Lisboa. Escreve Gaspar Cor-
final do século xv e inícios do seguinte. Dentre as reia que nas naus «vinha carregado todo o rico des-
peças mencionadas - além das páreas em ouro do pojo de Malaca, e moços e meninas fermosas, e
rei de Quíloa plasmadas por Gil Vicente na custó- mormente que o governador trazia, para mandar à
dia de Belém - destacam-se punhais ornados de Rainha D. Maria e a elRei, as mais ricas coisas que
rubis e diamantes, anéis e brocados de seda da Chi- nunca foram vistas [.. .]».
na, para além de objectos que o monarca adquiria A carga da Flor de la Mar, que naufragou ao lar-
através dos seus feitores e intermediários tais como go de Java em 1511, ficou como um tópico dessas ri-
porcelanas e cerâmicas chinesas, jóias, peças de ou- quezas inimagináveis. Sabemos que se destinavam a
ro e prata, madeiras exóticas e até desenhos, como D. Manuel quatro perfumadores de ouro em forma
um Caderno de pimturas dos Chyns que parecem samtos de leão cobertos de pedras preciosas, três alcatifas da
(Freire, 1904: 381-415). Pérsia, um saio de brocado, estofos de veludo, o an-
Em 1513 o rei reservava-se o direito a escolher dar do rei de Calecut e uma adaga persa. Manso de
um quarto das mercadorias que vinham a bordo Albuquerque informava o rei de que os presentes
das naus que apartavam a Lisboa vindas da India, mandados pelo rei de Sião - uma espada, um rubi
tendo na mesma data oferecido a D. Maria uma sé- e uma taça de ouro, símbolos de aliança e amizade
rie de produtos exóticos. A própria rainha viria a - escaparam do naufrágio e em breve chegariam a
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o QUESTIONAMENTO DA IDENTIDADE
OS MECANISMOS
DA ENCOMENDA
Após as importações, ou puró e simples esbn-
lho, para uso próprio, ofertas de cortesia, pagamen-
to de promessas a santuários, lembranças ou p:rra
revenda, logo começaram a afluir as peças especial-
mente encomendadas aos artífices locais para
específicos e com formatos adequados às necessioa-
des europeias que o artesão devia ser capaz de co-
piar, interpretar e decorar a seu modo (e era-o
sempre, com incrível habilidade e bom gOSto.
Num primeiro momento, em que prevaleceu a en-
comenda laica de ocasião, trataram-se de execuzzr
réplicas dos utensílios de viajante que todo o po::--
tuguês trazia consigo, tais como baús de roupa, oe-
jectos de mesa - pratos, garrafas, escudelas, g07"":';
de água, taças de pé para fruta -, cantis de tiracoi
para as caminhadas, arque tas para papéis e dinheiro,
mesas de camarote desdobráveis, oratórios de sns-
pender no convés para a§ orações em comum :=
missas improvisadas, etc. E comovedor como essas
peças de uso quotidiano e materiais humildes. c'
mo o barro e o estanho, de formas absolutamecre
inéditas nunca vistas até então no Oriente, se me-
tamorfoseiam nas mãos do artista indiano ou chínés
em obras de arte dotadas de nova vida, como q:::~
descobrindo-lhes uma alma que o Ocidente ~::~
sabia existir.
Menino Jesus Salvador do Mundo, cristal de rocha montado São os «caixões» ou arcas entalhadas em
em ouro com rubis e scifiras do Ceilão, séc. XVII (Colecção lim e policromas, de que se fizera uma especialica-
Particular) de a cidade de Cochim (Felgueiras, 1994), o~
existia, mesmo, uma Rua dos Caixeiros; as GlÇ2S a::.
Lisboa, acrescentando que, apesar de alguns estragos, fruteiras de aparato revestidas de madrepêrola, =
ele próprio os mandara consertar (Correia, 1858: n, técnica de escamas nacaradas típica do reino 2
parte I, 268-270; Pato, 1884: 58). Cambaia, que decerto já se encomendavam na =-=-
A obra-prima do género terá sido a famosa sela ve feitoria que funcionou em Diu de 1513 a :::~
e conjunto de arreios que o senado da Câmara de antes da ocupação definitiva em 1535, pois já :::::::
Goa mandou executar em 1565 para D. Sebastião, 1529 Francisco I de França comprava «un cb::].:-=
em ouro maciço coberto de pedrarias, que, após marquetê à feuillages de nacre de pede» feito =z
demorada e custosíssima execução, foi pesada e lndia mas proveniente de Portugal (idem. =~;=;
avaliada por Miguel de Holanda, irmão de Francis- 135); pratos nacarados - um deles datado de 156S-
co de Holanda e tesoureiro das rendas da cidade, e e os cofres de tartaruga e nácar do Guzarate ou ~
que já em 1571 deslumbrava em Lisboa o legado filigrana de prata de Goa, tampos de mesa e m-
papal, cardeal Alexandrino (Alves, 1935). Goa subia com embutidos de Chaul, tecidos. ricos e 05 -==-
então ao auge da fama e poder, materializados nes- meiros bordados de temática europeia, erc .. C. -
sa oferta à altura das expectativas postas no jovem origem a uma verdadeira indústria de alto arteszca
rei-cavaleiro. to para uma privilegiada clientela portuguesa, :
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A CIRCULAÇÃO DAS FORMAS
mesmo tempo, começavam a surgir as baixelas per- ter plenamente chinês, pondo assim em evidência
sonalizadas em porcelana que se encomendavam o recurso à imitação de protótipos metálicos (Ma-
em Malaca, de que nos chegaram as escudelas de tos, 1992: 101).
Pêro de Faria legendadas em português em 1541 por A situação divergia nas metades ocidental e
um ceramista chinês - a mais antiga porcelana no- oriental do Indico, e sobretudo no Extremo
minal ~ datada em toda a Europa -, as garrafas de Oriente. Aqui, nesse «império-sombra» (Winius)
Jorge Alvares, o descobridor do Japão, cronografa- onde predominava a iniciativa privada sobre um
das de 1552, os gomis com esfera armilar destinados longínquo controlo pelos vice-reis, não se tinha
a D. Manuel e D. João III, os grandes pratos armo- acesso directo às oficinas régias e aos fornos cerâ-
riados (como um com o brasão de D. João de Al- micas que trabalhavam em regime de exclusividade
meida, capitão de Macau em 1570); e alfaias religio- para a corte imperial, tendo de repousar em inter-
sas com letras e emblema dos Jesuítas, que se mediários, em negócios nas feiras sazonais do Cam-
multiplicam a partir dos meados do século, e jarros boja e Sião, nos monopolistas de Malaca e Macau
com os dos Agostinhos desde 1585. Particularmente ou l}a boa vontade de altos funcionários corruptos.
significativo desse processo de transposição das for- Na India as condições eram outras: os anos de con-
mas são as garrafas brasonadas de Filipe II, de que vívio criaram uma vasta mão-de-obra familiarizada
se conhece uma dezena de exemplares, datáveis de com o gosto europeu, hábil em produzir os artigos
1580-1598, em que a forma é a de um cantil de via- com maior procura. A crescente demanda levará,
gem e as armas reais foram copiadas de uma moeda mesmo, no decorrer do século XVII, ao estabeleci-
corrente, mas toda a restante decoração é de carác- mento de uma extensa rede fornecedora, centrali-
zada em Coa, com «bazares» e centros produtores
Garrafa de porcelana com as armas de Filipe II (I de Portugal), especializados em determinados tipos de géneros.
China, cercade 1580-1590 (ColecçãoAlpoim Calvão) Assim, em torno a 1630 compravam-se algodões,
sedas e bordados em Surrate (Cambaia) - a escá-
pula do Império Mogol - e havia em Diu «exce-
lentes marceneiros de escritórios, que fazem mui
bons», e em Damão 200 tecelões activos, além da
melhor madeira de teca para a construção naval; as
oficinas de Tana (Bombaim) eram célebres pelos
seus «excelentes escritórios, contadores e bofetes,
com marchetes de paus pretos e marfim, muito
mais duráveis que de nenhuma outra parte deste
Estado», tal como entre os mouros de Chaul de
Cima havia «muitos oficiais tecelões de sedas, que
se fazem de toda a sorte, marceneiros de obras de
escritórios e marchetaria, de que há muita abun-
dância». De Cochim, já em franco declínio pela
concorrência holandesa, traziam-se peças e barcas
em pau de angelim, «as melhores e mais perdurá-
veis que de toda a outra parte do mundo», além de
jóias de pedraria e aljôfar; e de Porto Novo (Nega-
patão) e São Tomé de Meliapor (Madrasta) «muita
copia de roupas pintadas» ou de estamparia, muito
apreciadas por não desbotarem, e os famosos rubis
do reino de Pegu (na realidade das minas de Mo-
gok, na Alta Birrnânia). Coa, com os seus mais de
500 oficiais mecânicos, era a grande placa giratória
que concentrava, imitava e reexportava «toda a sor-
te de fazendas» do Oriente inteiro: «dourados de
Japão e China, escritórios e contadores de Diu e
todo o norte, colchas lavradas e camas de Diu,
Chaul, Bengala, China [...] curiosidades de Ceilão,
de cabides de lanças, alabardas, imagens de marfim,
peças de cristal [...] e da China louça de toda a sor-
te, a melhor que há no mundo» (porcelana), «muita
seda, assim em peças como em rama, e muitos
dourados», e até peças de tartaruga e ouro trazidas
de Manila, nas Filipinas; além de enormes carrega-
mentos de pedras preciosas das «minas novas» des-
cobertas em 1620 no reino de Colconda e explora-
537
o QUESTIONAMENTO DA IDENTIDADE
das pelo vice-rei conde de Linhares, que «houve Sé de Goa (onde ainda se pode admirar). e ':._
nau que levava duas arrobas» (30 quilos) «de dia- constitui um ponto alto da pintura porruguesa c
mantes» (Bocarro, 1992: n, passim). Renascimento, porém sem qualquer traço de ~-
Ainda não foi notado que os maiores centros fluência oriental, muito embora a padroeira da
dade fosse, deveras significativamente,
=-
natural -::
de produção da arte indo-portuguesa parecem ter
coincidido com as zonas de mais forte cristianiza- Alexandria.
ção, quase podendo circunscrever-se à área de irra- A referência mais antiga que conhecemos 2 ~
diação dos principais institutos religiosos, como a retábulo pintado na India data de 1516, ano em ç::=
Sé de Diu (colégio jesuíta de São Paulo, 1601), o o padre Diogo de Morais, vigário de Calecuz, ;--
dos Agostinhos em Tana (que aí tinham o seu formava o rei de que um certo D. João da C:-=
maior convento fora de Goa, em estreito contacto conhecia um pintor capaz de realizar um cou_:'=
com as missões de Bengala, Arracão, Pegu e Pér- retabular sobre a Paixão de Cristo. D. João zs.
sia), dos Dominicanos em Chaul (Nossa Senhora Cruz era um mercador e ourives (chatim) que. ç::-
de Guadalupe, 1551-1575) e as casas dos Jesuítas em viado para Portugal pelo rei de Calecut e
Goa: verdadeiras «empresas», senhoras de vasto po- para observar os modos da corte e aprender a '~ -
der económico e social - uma intuição que ganha gua portuguesa, se converteu ao catolicismo. aàr:-
foros de verosimilhança ao constatar-se que foram, tando então esse nome (Pissurlencar, 1936'. o\;'
também, intensos focos de aculturação (já em 1569 do episódio se revestir de contornos curiosos. -~
os Dominicanos indicavam o «pai de cristãos na ci- sabemos, contudo, se o pintor referido seria de c=-
dade de Chaul», o líder espiritual das comunidades gem indiana ou portuguesa, como o eram
nativas). A comprovar-se esta hipótese, as principais outros que por lá laboraram - além de flam~'::L~
ordens religiosas teriam, assim, tido um papel notá- e até italianos -, de que é exemplo Amónio ?:E-
vel no fomento do hibridismo artístico, quer vei- reira, pintor da infanta D. Isabel, que de 1565
culando ou tramitando encomendas vindas da me- esteve em Goa a realizar alguma importante
trópole, quer através do controlo exercido sobre os (Serrão, 1994: 107).
artífices locais. E maior força, ainda, teriam nas Casos há, porém, que não deixam rna.rge;= ~
ilhas do Leste, onde eram praticamente a única pre- dúvidas: em 1548 a Confraria de Nossa Senhora .:
sença estruturada, chegando a importar pedreiros e Rosário de Goa pedia um retábulo maior ?~ ~
materiais da costa do Malabar para a execução das sua capela, alegando que o que lá se encontrava :::-
suas igrejas, conventos e fortificações privativas, co- nha sido executado por artistas locais, 5e::J.':'
mo Solor (1566) e Ende (1595) junto a Timor. óleos e as tintas de má qualidade. Seria. car::....---=..
O papel de encomendante que as missões por- certamente nativo o habilidoso ilurninador q'"..!e::
tuguesas do Oriente assumiram neste processo, meados do século reuniu num álbum 40 c~:.._,
sobretudo no âmbito do espírito catequético da coloridos de tipos humanos do Estado da c -
Contra-Reforma, revela-se, pois, a todos os níveis dos cafres aos chins - o chamado Côdice Czs
fundamental para o entendimento do despontar e im- tense (Matos, 1985) -, porventura o mesmo ?~_
plantação das manifestações artísticas luso-orientais, homem da terra que tinha grande narura, ~= ,,=-
designadamente do indo-português, devido à escassez gundo Gaspar Correia, executou em 1# soe ~ ~
de peças de culto e consequente decisão de recorrer à direcção, e por encomenda de D. João de (2,,-=.
mão-de-obra local, até como meio de propaganda galeria de retratos dos vice-reis. Era-o, sem ~-:.
e introjecção psicológica nas comunidades nativas. o que assinou em caracteres etíopes o retrate ~
Já uma carta de Afonso de Albuquerque a D. Ma- turno de Luís de Camões, oferecido em I
nuel, a I de Abril de 1512, revela bem até que pon- ce-rei por alguns amigos que com ele haviam _
to era indispensável o apelo ao poder régio para a vivido em Goa, e· que bem pode ter rv':-;:>-,n
obtenção dos objectos de culto associados à presen- também imagens religiosas.
ça portuguesa: a par de alguns pormenores curio- Numa carta enviada a D.João III em ~O~:3:::-
sos, como a alusão ao Paço de Sintra enquanto pa- bro de 1545 pelo padre Miguel Vaz, o antigo ~:7-
radigma de riqueza e luxo - porém incomparável rio-geral da India dá conta da existência de ?
com as preciosidades existentes no Oriente -, re- res gentios em Goa que pintavam im2~ ,~~
conhece que «a igreja de Malaca há mester de um Cristo, da Virgem e de santos, vendendo-os '""''''?
retábulo da Anunciação de Nossa Senhora e seja ri- de porta em porta: «Em Goa acustumavam os c:c'--
co, porque há aí mais ouro e azul em Malaca que tores gentios pintar imagens de Nosso
nos paços de Sintra; e um pontifical bem o merece Nossa Senhora e dos outros santos e vendê-los =-
Malaca; damascos, sedas e brocados mande vossa las portas. Defendi-lhes isto o mais que ?~ c-
alteza ao vosso feitor que gaste bem deles, que em provisões também dos governadores. _b=
Malaca se acharão em abastança» (Pato, 1884: 53- havia um que era dos outros mocadão. :rr
-54). De igual modo terá sido obtido o excepcional principal deles e que olha pelo que fazem, C= :::'
retábulo sobre madeira com cenas da Vida e Martí- de habilidade neste mester de pintar e o -=.-
rios de Santa Catarina, executado antes de 1540 em oficial de todos. Este, porque tinha dado .
Lisboa pelo pintor régio Garcia Fernandes para a se vir comigo, a este Reino ver-se com
538
A CIRCULAÇÃO DAS FORMAS
oficiais que cá há e acabar de aprender e fazer-se «oleiros» anónimos que modelaram e pintaram as
também cristão, pintava nas igrejas e casas de por- 22 imagens de santos e o apostolado dos nichos das
tugueses retábulos. Fez em Goa muitos em que ga- naves eram seguramente nativos, como se depreen-
nhou bem sua vida» (Azevedo, 1959: 101). O hábito de dos seus baixos salários.
hindu da venda de amuletos domésticos era, assim, A encomenda religiosa incidia igualmente em
cristianizado e bem aceite, até pela própria Igreja. alfaias litúrgicas, tais como a paramentaria, frontais
Sintomática da generalização desta prática e do de altar e toalhas de missa. A sua ornamentação ca-
sucesso alcançado por artistas autóctones, é a deci- racteriza-se pela densidade decorativa e, em alguns
são tomada no primeiro concílio provincial de Goa casos, por não apresentar motivos cristãos reconhe-
no ano de 1567, em que se estatuiu a proibição a cíveis. Não havia pejo em utilizar vestimentas bor-
qualquer cristão de encarregar pintores «infiéis» de dadas de simbologia idólatra, nomeadamente de
pintar ou debuxar imagens e tudo o mais relacio- origem chinesa. Simultaneamente, cortinas e col-
nado com o culto divino. A medida estendia-se chas «cristianizam-se» pela inclusão de temas bíbli-
também a ourives, fundidores e latoeiros que ela- cos, símbolos eucarísticos, emblemática das ordens
borassem objectos e artefactos utilizados no interior religiosas e armas episcopais, servindo assim aos ob-
dos templos católicos. Mas os sucessivos decretos jectivos de propaganda do Padroado português, já
mostram que a proibição não surtiu efeito e as au- abertamente contestado em Roma pela Propaganda
toridades fechavam os olhos, até pela ausência de Fide e por outras ordens. Essa fusão de duas lingua-
alternativas. O mesmo devia suceder com os raros gens decorativas - a europeia e a oriental - co-
escultores de imaginária de vulto, cujo estilo parece mo instrumento de persuasão e argumento em fa-
claramente indianizado. Se o Mestre Inácio que em vor da superioridade das missões portuguesas, com
1675 esculpiu as estátuas da fachada da igreja dos o exclusivo nacional que se pretendia manter, deu
Teatinos devia ser um pedreiro português, de estilo lugar à encomenda de muitos dos mais belos
mais rude que o do que em 1610 fizera a imagem exemplares. Cite-se, COlTlO exemplo, uma colcha
de Vasco da Gama para o Arco dos Vice-Reis, já o em bordado policromo do Museu Nacional de Ar-
Mestre Sequeira que 15 anos antes realizara uma te Antiga cujo motivo central é o monograma dos
efémera «estátua de esteiras» para o altar-mor e os Agostinhos - a águia bicéfala poisada num cora-
À esquerda: estátua de Vasco da Cama, Coa, 1610. À direita: igreja dos Teatinos, Velha Coa, 1656-1661
539
o QUESTIONAMENTO DA IDENTIDADE
ção trespassado por duas setas - e em que os ân- Gaspar da Gama, ou da Índia, mercador de ~~
gulos do campo e da barra são preenchidos por judeu de Alexandria, de origem polaca, fixado ~
najinas, divindades do panteão hindu associadas à Calecut e contratado em Angediva, ao largo -""
água, com corpo de mulher e cauda de serpente. Goa, como intérprete de Vasco da Gama, a c:-=~.
Por ironia, a Igreja da Contra-Reforma tinha de acompanhou na viagem de regresso a Lisboa, (0;,::---
abrir o seu imenso potencial de encomendante às do-se cristão e o mais importante agente info
influências e gostos locais, como forma de preservar e conselheiro dos Portugueses na sua política ori~
o seu papel e importância na sociedade luso-oriental. (Lipiner, 1987). Diga-se, incidentalrnente, que. ::.:::::-
A mesma ambiguidade de atitudes tinha vivido, afi- do também acompanhado Pedro Alvares Cabra, -
nal, o Estado (e em breve, ao longo de todo o sécu- sua viagem de 1500 e vindo a criar fortes ince;
lo XVII, também a sociedade civil) desde os primeiros no Brasil, terá sido este poliglota especialista ~
tempos da presença activa na Índia, percorrido por gemas, pedras e materiais preciosos a primem:
tendências contraditórias só conciliáveis no terreno soa em toda a história universal a obter urna ::-=::--
fraternal da arte. A esses caminhos inócuos, no dile- cepção global da «economia-mundo» e seus -~
ma entre a inclusão e a exclusão, procurou acolher- nismos comerciais e financeiros; da Eurooa
-se uma via de resposta que os eventos económicos Oriente e ao Pacífico, depois verificada «no ~-=-_-
e políticos não podiam dar. O «indo-português» apa- no» pela viagem de Magalhães.
rece-nos, assim, como a conciliação pela arte, im- A excelência e aptidão dos ourives ine
possível nos outros campos, e que só o diálogo de tornou-se rapidamente reconhecida, quer Il2 =:.:;-
estéticas e o aprofundar de uma cultura visual co- trópole, quer em Goa, onde dominavam o co=,--
mum podia tornar frutífera: a começar pelo género cio na Rua Direita, agindo também como C2 --
artístico de maior valor comercial, e por isso mesmo tas e banqueiros. Aí viriam a adquirir estam: -
potencialmente mais polémico. privilegiado que em 1558 o seu mocadão (o~
principal que detinha uma posição similar ao .!
OURIVESARIA de oficio), ao receber o baptismo, teve corno '..
drinho o próprio vice-rei, D. Constantino éz 3
Se são numerosas as referências escritas a ouri- gança, e adoptou o nome de Sebastião de Br:=.:r ;
ves indianos que, logo após a chegada dos Portu- em homenagem ao novo rei de Portugal ~
gueses ao Indico, começaram a trabalhar para essa 1991b: 106).
nova clientela receptiva e ainda pouco exigente, Na vastíssima produção da ourivesaria = -
mas ávida de ouro e pedrarias até à cupidez - sem -portuguesa, dirigi da maioritariamente à ~~.
nunca, porém, chegar aos extremos dos conquista- lusa, destacam-se os objectos religiosos tais _
dores espanhóis no Novo Mundo ... -, estão cálices, píxides, oratórios, relicários e cofres, ~
igualmente bem documentados ourives indianos inúmeros conventos portugueses recebido r~.•-::;
que, vindos ao reino, aqui produziram obras desti- de alfaias desse tipo. Um dos conjuntos
nadas à realeza. .portantes foram as pratas oferecidas em 1)_ _
De todos os casos, o mais conhecido é o de padre André Coutinho ao Convento do C.,-,
Raulu Xete (ou Chatim, do nome da casta social a Vidigueira, vila condal dos Gama: um P0rI2-?=
que pertencia), mocadão dos ourives de Goa que filigrana, um oratório-relicário e uma es
veio a Portugal em 1518, aqui permanecendo dois de missa, guardadas na casa das relíquias c2 :.: _
anos ao serviço do rei D. Manuel, que, nos seus assim associadas à memória de D. Vasco éz S.
próprios dizeres, «mandou que lhe fizesse algumas (Orey, 1996: 157). O mesmo alcance simbôf -,::,w:::-
obras e jóias as quais lhe eu fiz e acabei o melhor ve ser atribuído às dádivas em ouro e pêroízs -
que pude posto que fossem de feição e nosso uso por Afonso de Albuquerque ao Convemo ==
da Índia» (Pissurlencar, 1936: 3). O facto não seria mela, sede da Ordem de Santiago da qual e=;:
de todo inesperado, dada a presença na Índia de la- leiro.
pidários e comerciantes de gemas e pedraria, italia- A importação de objectos luso-orier: ",.."_
nos e judeus, desde antes da chegada dos Portugue- oferta a instituições religiosas, a familiares ~ T-_
ses, como o veneziano Niccolo de Conti, que tornou-se ao longo dos séculos XVI e XYII ...-"
visitou a costa do Malabar no século xv, e o judeu tica comum da realeza, nobreza e burguesi
magrebino Monçaide, que acolheu os nossos em da, obrigando a uma demanda crescente éz ?:=
Calecut aos gritos de «Buena ventura! Muitos ru- materiais. A sua fartura não abrandou, sec:::-_ c~
bis, muitas esmeraldas!»; mas é significativo que a crise que se seguiu ao desastre de Alcácer
fosse o próprio monarca a encomendar jóias para si Da lista de presentes enviados pelo
e para a rainha com a indicação de que estas deve- D. Henrique ao xarife de Marrocos conszavzza
riam ser feitas segundo o modelo das que eram chas de Bengala «de montaria», um pa\";~~50 6=:
usadas pelos rajás indianos. Tal como o é que ele fetá branco, da China, decorado com ::-;-
fizesse acompanhar a armada de Vasco da Gama de animais e plantas, couros de Sinde e ai--
três lapidários romanos. Um papel essencial coube, isto é, leitos baixos de pernas articulacas =
sem dúvida, à apaixonante figura do enigmático mente desmontáveis. Dois destes são ~ -.;;;-•..•...
540
A CIRCULAÇÃO DAS FORMAS
541
- ------------ -----,- .. -
o QUESTIONAMENTO DA IDENTIDADE
Púlpito, teca entalhada e policromada, arte indo-portuguesa, Coa, sécs. XVII-XVIII (Fundação Medeiros e A
542
julgar originário das ilhas Léquias, ou de Riu-Kiu), o mesmo efeito da ourivesaria, que elevava a rea-
que D. Catarina já possuía desde antes dos meados leza acima do comum dos mortais, podia obter-se
do século. Esses pequenos abanas de mão desdo- através de objectos «de virtude», sintomas da cres-
bráveis eram usados no Japão, donde na realidade cente familiarização com uma cultura da diferença.
provinham, como signos da autoridade imperial;
e, conhecidos na corte portuguesa - a partir da MOBILIÁRIO
qual, após os anos de 1560-1570, se difundem pelas
corres de toda a Europa -, aqui assumiram o rnes- A abundância de excelentes madeiras no
. cada, antes de o seu uso se vulgarizar. Oriente e uma mão-de-obra habilidosa e barata
será fútil ob ervarmos (Moreira, 1995) que propiciavam as encomendas de móveis com idênti-
- ~_ .. '" -~ '::'ha do rei D. Ma- co sentido de apropriação do exótico. Dadas as di-
-o Inverno de 1551 em Almeirim mensões dessas peças, é natural que começassem
Anzónio Moro, e o da princesa por ser encomendadas pelas grandes casas religiosas,
- mãe de D. Sebastião, feito em que nas suas propriedades podiam obter os mate-
:X>~Crisróvâo de Morais, contêm as riais necessários e dispunham em seu redor, nas al-
-:::====:;;s.~_=-:;:: .-~ ções de leques modernos na ar- deias de catecúmenos ou nos bairros urbanos cres-
-'-'~........:_ ~ -=!mraIldo, tal como nas imagens de cidos à sombra das igrejas, de exércitos de bons
==:-~:;01ik:5:-;:: aeses que os devem ter inspirado, artífices entre servos e escravos, fazendo mesmo
-C-'''''':::;--Ai> _ ~ , dessas herdeiras do trono por- disso um estímulo de ascensão social para lá do rí-
_ - a riqueza das jóias e os es- gido sistema de castas.
":"'-0_ mas também o porte de simples No vasto conjunto do mobiliário litúrgico, as
-===- -- - de que Portugal foi pioneiro peças realizadas seguindo tipologias ocidentais, ou
- _ !rem gestual a que dava-lugar, até islâmicas - como é o caso das estantes de mis-
~-~6":0- como atributo de excelência sal indo-portuguesas e namban, cujo modelo adop-
sobre as terras do Sol-Nascente. tado foi o dos suportes para leitura do Corão e não
543
o QUESTIONAMENTO DA IDENTIDADE
544
A CIRCULAÇÃO DAS FORMAS
Contador, teca, sissó e mosfim, arte indo-portuguesa, Coa, séc. XVII (MAB)
545
o QUESTIONAMENTO DA IDENTIDADE
Aptas a guardar instrumentos para a escrita - te, zonas famosas pela finura dos seus algodões, das
o tinteiro, o areeiro, as penas ou aparos e o pa- sedas e das quase transparentes cambraias de linho
pel-, as gavetas e escrivaninhas eram objectos de (nome que revela a sua origem, em Cambaia o
dimensões reduzidas, facilmente transportáveis, Surrate) e pela mestria com que aí se manufactura-
aliando a utilidade à riqueza do material usado na vam e ornamentavam as peças. Daí provinham as
sua feitura e revestimento. Ligados ainda ao acto de cobertas de cama tão apreciadas na Europa pelas
escrever, e complementares entre si, encontramos cores fortes, variedade de pontos e utilização de fio
«escritórios» ou móveis com múltiplas gavetas e es- de seda (por vezes importado da China) e finas là-
caninhos com portas em forma de tampas de car- minas de ouro e prata. Normalmente o bordado
teira; e escrivaninhas de tamanho mais reduzido do era composto a partir de um medalhão inserido no
que as anteriores, mas cuja beleza em nada era in- rectângulo central da colcha, circundada por uma
ferior à sua vertente mais prática (Ferrão, 1990: IV, larga barra com elementos vegetalistas. No entanto,
259)· as encomendas variavam consoante o gosto de cada
Ao contrário das habitações indianas, pratica- um, podendo ser mais «orientalizante», o que se
mente desprovidas de mobiliário, a vida quotidiana traduzia numa exuberante policromia, ou, ao con-
dos nobres e portugueses no Oriente, e sobretudo trário, mais próximas dos padrões europeus mono-
na Índia, era, como vimos, envolta numa ostenta- cromáticos com a utilização do branco, amarelo e
ção que se pretendia reveladora da importância so- carmesim, típico das bordadeiras de Bengala (VUl
cial que detinham. O testamento de Baltasar Jorge Orienialis, [. . .J: 105-107).
de Valdez, juiz da Alfândega de Diu que morreu Nessas colchas, panos de armar e guarda-portas
no segundo cerco à fortaleza em 1546, publicado encontram-se inúmeros exemplos em que o dese-
por Gabriel Pereira, é um dos documentos mais nho central é baseado, ou mesmo copiado, a partir
instrutivos a esse respeito que conhecemos: nele de ilustrações dos textos bíblicos, sobretudo do
constam vestidos e tecidos orientais, duas caixas la- Antigo Testamento, ou em imagens alusivas a len-
cadas da China, 34 escudos defensivos fabricados das e textos clássicos greco-latinos, nomeadamente
em Cochim, porcelanas chinesas, terrinas douradas episódios das Metamorfoses de Ovídio, obra tão pró-
de Diu, um búzio para beber, um cofre de madre- xima da mitologia hindu. O humanismo cristão e a
pérola e oito abanos, sendo dois chineses e dois cultura local encontram-se, assim, em curiosas
persas. A tão rico quadro apenas falta o revestimen- coincidências e paralelos.
to de tecidos para imaginarmos todo o fausto exó- O preenchimento dos espaços deixados em
tico em que vivia. branco em torno do tema central era, na sua maio-
A
ria, constituído por motivos indianos, nomeada-
TEXTEIS mente por divindades hindus, padrões geométricos
e motivos vegetalistas, havendo exemplos de col-
A vinda de ourives para Portugal, a que atrás chas em que alguns dos desenhos se inspiraram em
aludimos, não foi um facto isolado; é, também, monumentos locais. E o caso de um fragmento que
quase certa a presença de bordadeiras indianas em repete modelos de arquitecturas da capital do Gu-
Lisboa. Os testemunhos escritos referem-se às zarate, importante centro fornecedor de tecidos e
«muitas mulheres grandes lavrandeiras de bastidor» de bordados para a clientela portuguesa em geral, e
(Albuquerque, 1973: rr, 218) que vinham na Flor de goesa em particular, de onde devia partir a maior
la Mar naufragada em 15II, mas a intenção de Albu- parte das encomendas, sobretudo durante os sécu-
querque foi sem dúvida concretizada noutras oca- los XVII e XVIII (Via Otienialis, [. . .J: 140) .
siões. Temas como a «Justiça de Salomão», no que é
Os têxteis, nome genérico usado por comodi- uma referência clara à justiça da Coroa pç>rtuguesa
dade para designar todo um mundo de objectos e dos seus representantes no Estado da lndia, ou
tecidos e bordados - colchas, goderins (colchas cenas da mitologia clássica, como a lenda de Ac-
estofadas como edredãos), panos de armar ou col- téon ou os trabalhos de Hérculos (Pereira, 1988;
gaduras, guarda-portas, «panos pintados» (decerto Via Orientalis, [... J: 105-106), eram utilizados para
algodões estampados, como chintz ou chitas), alca- definir e exaltar a gesta lusíada. Surgem também
tifas de estrado, tapetes - contam-se entre os ob- batalhas da Antiguidade e guerras bíblicas, com as
jectos encomendados em maior número a artistas respectivas legendas explicativas em português, cujas
indianos. No seu Livro das Grandezas de Lisboa, ilustrações foram retiradas de gravuras incluídas em
Frei Nicolau de Oliveira refere a chegada de gode- obras como as Antiquitatum Judaicorum de Flávio Jo-
rins orientais ao porto de Lisboa no ano de 1620, sefo, numa edição impressa em Basileia em 1540,
afirmando não haver nenhum navio vindo da Índia ou os episódios das guerras púnicas incluídos nas
que não trouxesse pelo menos 400 deles (Via Décadas de Tito Lívio, cuja publicação ilustrada
Orientalis: 105). aparecida em Veneza em 1520 serviu de base para o
Os principais centros de bordados indianos lo- desenho da composição de um pano de porta bor-
calizavam-se nas costas setentrionais, concretamen- dado no Guzarate um século mais tarde.
te no reino de Cambaia a oeste e em Bengala a les- Dessas belíssimas peças historiadas destacam-se
546
A CIRCULAÇÃO DAS FOR.\IAS
das
--~O
~-'-= ou
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- .!a-
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Colcha, linho bordado a seda, arte indo-portuguesa, segundo terço do séc. XVII (MNAA)
547
o QUESTIONAMENTO DA IDENTIDADE
Pano de armar ou guarda-porta, tcifetás de seda e algodão, bordados a sedas policromas, arte indo-portuguesa,
sécs. XVI-XVII (MNAA)
548
A CIRCULAÇÃO DAS FORMAS
Sentidos, etc.) ou jocosas e até cenas de claro con- culares eram livres de os trazer sem que estes tives-
teúdo erótico. Um goderim do último quartel do sem que ficar registados (Dias, 1996: 38). Embarca-
século XVII, do Museu do Caramulo, representa das no Oriente com destino a Lisboa e, daí, para o
Vulcano surpreendendo a sua mulher Vénus no resto da Europa, as porcelanas eram contadas em
leito com Marte, segundo uma gravura de edição corjas, isto é, em grupos de 20 unidades cada um,
quinhentista de Ovídio, destinando-se, com ironia estimando-se que cada nau trouxesse entre 2000 a
ou sentido de humor, a algum presente de núpcias 3000 corjas de porcelana, o que dá uma média de
(Moreira, 1991: 238). cerca de 50 000 peças transportadas por cada nau
Talvez baseado, ao invés, em obras orientais, (XVII Exposição - jerónimos lI). Refira-se ainda
tais como miniaturas turco-persas, um conhecido que em 1522 o regulamento do porto de Lisboa au-
pano de armar (ou guarda-porta) do Museu Nacio- torizava. que um terço da carga de cada navio fosse
nal de Arte Antiga, que tem figurado em várias ex- composto ,por porcelana (Matos, 1993).
posições, representa uma caçada na barra. Isto o Se na India os serviços de porcelana faziam par-
aproxima das colchas mono cromáticas de Bengala te do uso quotidiano (os doentes do Hospital Real
de um tipo muito característico, que nos inven- em Goa eram servidos em pratos de porcelana), no
tários dos séculos XVI e XVII aparece designado reino ela era apanágio da realeza e nobreza, tornan-
por «de montaria». do-se indispensável em qualquer festividade ou re-
Os cantos da barra são preenchidos por animais cepção oficial. Assim, e de acordo com a descrição
heráldicos e a tarja é decorada com bordados vege- de De Marchi, um viajante italiano que se encon-
talistas estilizados, constituindo este último o ele- trava em Portugal em 1565, por ocasião do casa-
mento que divide dois momentos de uma batalha, mento da princesa D. Maria, neta de D. Manuel,
ou duas batalhas diversas. Da esquerda surge um com Alexandre Farnese, foram utilizadas baixelas
numeroso exército constituído por tropas de infan- de porcelana azul e branca num sumptuoso jantar
taria, cavalaria e artilharia, enquanto do lado direi- durante o qual foram servidas iguarias confecciona-
to, ocupando a altura total do pano, trava-se luta das por cozinheiros indianos e, simbolicamente,
acesa. Particularmente interessante é o facto de se água do Ganges, do Indo e de outros rios africanos
haverem incluído pormenores descritivos do palco e das Molucas (Bertini, 1991: 89). Extremamente
da acção - um cenário densamente arborizado curioso é também o episódio que teve lugar em
percorrido por um rio - e da fortaleza que está a Itália no ano de 1563, data em que D. Frei Bartolo-
ser tomada, dentro da qual se perfilam armas e sol- meu dos Mártires se encontrava na corte papal du-
dados. Mas o mais curioso é que, pelos estandartes, rante o Concílio de Trento. Num dos banquetes
indumentária e armamentos, as duas forças em oferecidos, o embaixador português criticou junto
combate parecem ser ocidentais, o que constitui do papa Pio IV a utilização de baixelas de ouro e
um dado intrigante (Pinto, 1995: 180-181). de prata, afirmando que deveriam ser substituídas
Também no Oriente documenta-se a existência por serviços de porcelana, mais conformes ao espí-
de panos com a ilustração de exércitos e batalhas, o rito da Contra-Reforma, realçando que este,s, fa-
que pode indiciar uma confluência de fontes de zendo-se na China, chegavam a Lisboa via India.
inspiração. Entre os presentes enviados pelo rei De facto, poucos anos volvidos, baixelas de porce-
de Java ao conquistador de Malaca contava-se «um lana chinesa estavam a uso comum na corte de
pano muito comprido em que vinha pintado o Roma. Singularmente, cerca de 50 anos antes
modo em que o Rei vai à guerra, com suas carre- Afonso de Albuquerque escrevia ao rei D. Manuel
tas, cavalos e alifantes armados com seus castelos de a pedir que lhe enviasse baixelas de prata porque as
madeira [...] e tudo isto muito bem pintado» (Al- de porcelana por ele usadas a bordo do navio se
buquerque, 1973: n, 181). De Java a Cambaia e à partiam com muita facilidade (Correia, 1858: n,
distância de dois séculos, o fosso cultural não era, parte I, 409).
afinal, tão grande. Se, como foi anteriormente referido, data do
início do século XVI a encomenda das primeiras
PORCELANA porcelanas para uso pessoal com a inscrição do no-
me do proprietário, paralelamente, embora tendo
Embora os têxteis tenham suscitado uma curio- por trás o poder régio no papel de encomendador,
sidade e interesse crescentes, as porcelanas contam- surge a porcelana azul e branca com a inscrição das
-se entre as peças mais cobiçadas e procuradas pela armas reais e da esfera armilar, a divisa de D. Ma-
clientela europeia. Entre Fevereiro de 15II e Abril nuel L Estas peças personalizadas que se baseavam
de 1514, período durante o qual João de Sá ocuppu em desenhos fornecidos pelos portugueses, deno-
o cargo de tesoureiro das especiarias da Casa da In- tam na sua larga maioria a dificuldade por parte dos
dia em Lisboa, deram entrada nos armazéns reais artistas chineses em reproduzir de forma fiel, tanto
692 peças. Contudo, é preciso ter em linha de os elementos heráldicos e as cenas figurativas, co-
conta que, à semelhança do mobiliário, tecidos e mo a própria grafia ocidental. Particularmente inte-
outros produtos, as porcelanas não estavam sujeitas ressante e revelado r da incapacidade de compreen-
ao monopólio régio, o que significa que os parti- são do motivo fornecido, e da sua consequente
549
o QUESTIONAMENTO DA IDENTIDADE
deturpação, é o gornil de porcelana azul e branca recido pelos Portugueses séculos antes da res
da dinastia Ming, período Jiajing, datável de 1550- Europa: já Frei Gaspar da Cruz, 1)0 seu Tratad •. _
-1566. Nesta peça em que o artista associou moti- que se contém as cousas da China (Evora, 1569). ~
vos decorativos de tradição chinesa - as chamas crevia o caulino e explicava em pormenor o ~
que ornamentam o bico, os painéis de lótus simpli- moroso processo de fabrico.
ficados e estilizados no pé e as folhas que decoram A importação maciça a partir de meados do ;..::-
o bolbo -, a uma gramática ornamental islâmica culo XVI invadiu o país em cifras impossíveis ~.
patente no medalhão lobulado que acompanha a calcular, sendo reexportada para toda a Euro
silhueta oval do corpo do objecto, figura o brasão em 1580 só a Rua Nova dos Mercadores, em T
de armas atribuído a António Peixoto, navegador boa, contava com seis lojas de porcelana chia
português que, com António da Mota e Francisco em 1620 elas eram já 17. Mas há que ter em c
Zeimoto, terá sido o primeiro europeu a aportar que se tratava de produção comum de exporraçã
ao Japão em 1543. Contudo, ao não ter entendido quase em série - como podemos ver no admirá
o desenho original do brasão encimado por elmo tecto da Sala das Porcelanas do Palácio de
de grades e paquife, o artista reinterpretou-o, con- em Lisboa, uma das maiores colecções que exis::~
vertendo o elmo em barrete e o paquife em folha- fora da China. As melhores peças fora do ,~-.:: ,..
gens (Matos, 1993: 47). com características pessoais, como os grandes jJ::
As encomendas eram feitas via Malaca (e, a com as armas do vice-rei Matias de Albuquer ~
partir da criação do entreposto de Macau cerca de (1591-1597) ou as garrafas brasonadas de D.~-\i
1567, cada vez mais por esta cidade de mercadores Vilas-Boas, de 1640 a 1650, continuavam a obter
e contrabandistas) às oficinas chinesas da zona de por encomendas específicas, que desaparecem :-L'-.
Cantão, não se tendo ainda atingido os grandes o fim da dinastia Ming (1644) e a crescente conccr-
fornos porcelaneiros de Jingdezhen, que trabalha- rência holandesa, para só reaparecerem meio s'
vam em exclusivo para a casa imperial: o que signi- mais, tarde, sob a forma da policroma «Comp~
ficava uma menor qualidade de fabrico, mas tam- das Indias» de produção massificada, com a ---
bém preços mais convidativos e uma melhor da chinoiserie e o estilo barroco.
facilidade de acesso. E assim que o enigma da ori-
gem da porcelana (que se imaginava feita de con- MARFINS
chas moídas e cascas de ovos!) foi cabalmente escla-
Também os escultores de marfim tiveram zc;
Gomi/, porcelana azul e branca, China, Jingdezhen ?, so, quer a gravuras trazidas da Europa ou a irn2':-=-
dinastia Ming, período Jiajing, 1550-1566 (Fundação impressas em Goa, quer à escultura europeia, o .;
Medeiros e Almeida) deu origem à produção de obras de carácter l:.:::..--:. -
do com a progressiva inclusão de motivos ?~-
em imagens sagradas, ou à transformação s::
rnica dos personagens através dos traços do
penteado e do tratamento das vestes. A ?
marfim esculpido (Museu Nacional de Arre _~ _
cujo desenho se inspira numa gravura de _-\2:~-~
Dürer datada de 15II e em trabalhos de ~.l~
Schongauer, constitui um exemplo paradigrar
Igualmente excepcionais são o miniatural ~::-~
(46 cm de altura) da Colecção Hipólito !ta?
meados do século XVII, decerto destinado
oratório privado ou de navio (De Coa a li;
n.? 21); e o baixo-relevo em marfim que se _
tra hoje no Museu Municipal de Viana do C.,zs.::=
o qual apresenta como tema iconográfico
goria ao amor profano e ao amor divino. o r
ro representado como Cupido, e o segundo
rioso, munido de arco e flechas. As l~,-=-;;-;
latim repartidas pela composição incluem, r:
to inferior, versos alusivos à submissão ;3
profano, logo impuro, ao amor divino e 2. ~~.~
da de dos fiéis em abrir o seu coração"
topo, a, inscrição «Mostras de quem RI
quem Es), incita à reflexão sobre o cam'-;-:=>
mar (Via Orientalis, [. . .]: 156-157).
Identicamente elaborados e iconosra - . M
sincréticos são os cofres do Ceilão - -.::~~-.,J..,..-=-.-.=..
550
A CIRCULAÇÃO DAS FO~ ~\S
551
o QUESTIONAMENTO DA IDENTIDADE
552
A CIRCULAÇÃO DAS FORMAS
soare cobre e caixa lacada com embutidos de madrepérola, Japão, final do séc. XVI (FRESS)
553
I ,
tanto ao dáimio e à sua mãe, que imediatamente pe- em 1570, em que foi morto num ataque de piratas
diram para se fazer uma cópia (Cartas dosJesuítas [. ..], apesar de empunhar uma «Virgem de São Lucas»,
199r fi. 36). cópia feita do original em Roma, em 1569, para a
Poucos anos volvidos, mais precisamente em rainha D. Catarina, que já em 1561, como vimos,
1561, Catarina da Austria enviava outro quadro da enviara outra para o xógum japonês - mas sobre-
Virgem com o Menino como presente para Y ukinaga, tudo pela sua acção devota (hoje diríamos «psico-
dáimio de Uto e, já na década de oitenta, a embai- pedagógica»), infundindo pelo simples olhar a vir-
xada de quatro jovens dáimios representantes dos tude da fé aos incrédulos. Não havia casa jesuítica
senhores de Bungo, Omura e Arima, que visitaram que a não tivesse ou nova missão que a não reque-
entre 1584 e 1586 a cidade de Lisboa, a corte de Fi- resse. Vemo-la, mesmo, nas sacristias de sés, em re-
lipe II de Espanha (então já rei de Portugal) e a licários (como o da Vidigueira), em medalhas, on-
Santa Sé, levaram para o Japão livros, atlas, pinturas de quer que a graça da fé pudesse faltar ou vacilar.
e gravuras europeias (Sullivan, 1973). Nos seminários e colégios dos Jesuítas erguidos
Se na altura do episódio passado com Shimazu em vários pontos do arquipélago nipónico, os alu-
Takashima não foi possível encontrar meios nem nos japoneses estudavam, a par da religião e do la-
pessoas capazes de realizar uma cópia da imagem da tim, pintura e gravura. Não admira, pois, que esta
Virgem com o Menino, poucos anos volvidos essa não fosse uma das primeiras imagens a ser cuidadosa e
seria uma tarefa impossível de se concretizar. Pelo repetidamente copiada; como, aliás, sucedia no co-
contrário, ela seria quase obrigatória: haja em vista légio de Macau, tendo o padre Matteo Ricci con-
o culto obsessivo, quase fetichista, que os primeiros seguido introduzir uma em 1601 na cidade proibida
missionários jesuítas dedicaram ao ícone medieval de Pequim, onde a própria imperatriz a tinha ex-
de origem bizantina (século IX) da «Virgem com o posta nos seus aposentos. Tal como nos tempos he-
Menino» venerada sob o nome de Nossa Senhora róicos do cristianismo, seria um primeiro passo pa-
do Pópulo, ou Salus Populí Romani, que se tinha ra a conversão de toda a corte imperial, pelos
por a vera efígie de Maria retratada pelo apóstolo- poderes da pintura; e o mesmo se esperava conse-
-pintor São Lucas, exposto na Basílica de Santa guir no Japão. Ambos, como se sabe, falharam,
Maria Maggiore em Roma (onde ainda se conser- criando mais problemas do que os que soluciona-
va, no altar-mor da Capela Paolina, feita proposita- ram; e a arte kirishtan (scristã») foi um dos mais
damente em 1605). Copiada em réplicas de série belos legados dessa experiência frustrada.
desde a Contra-Reforma, os Jesuítas encarregaram- A destacar um nome de entre os inúmeros pa-
-se de a difundir por todo o mundo não cristão, dres que leccionavam ao serviço da Companhia de
como que sublinhando a analogia da sua actividade Jesus no Japão, é sem dúvida o do italiano Giovan-
com a dos primeiros mártires dos tempos paleocris- ni Niccolo que, chegado a Nagasáqui em 1583-
tãos. A feição primitiva da pintura (muito atenuada fundou em 1585 a Academia de São Lucas onde en-
nas cópias) actuaria qual amuleto na protecção sinou a jovens japoneses convertidos ao cristianis-
contra os perigos - como os que o Beato lnácio mo pintura a óleo, pintura a fresco e gravura. De
de Azevedo enfrentou na sua viagem para o Brasil entre os seus discípulos alcançaram notoriedade
554
A CIRCULAÇÃO DAS FORMAS
J.
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o Kimura, que se tornou pintor, impressor Par de biombos com mapa-múndi e imagens de estrangeiros,
ista, e Shiozuka, referido como pintor, orga- Japão, início do séc. XVII (IMA)
e mestre de coro. Manuel Pereira e Jacob Ni-
_ o o dos seus pupilos, partiram mais tarde pa- emprego da perspectiva e seus resultados praticos
- China, rendo sido dos primeiros artistas a - que os persistentes soldados de Cristo consegui-
- ~ aos seminaristas chineses as técnicas euro- riam obter acesso à complexa mentalidade chinesa
- - - da pintura e da gravura. e japonesa, com a publicação do tratado de Andrea
"amada Emosaku, aluno de Niccolo em Ari- Pozzo De Perspectiva Pictorum et Architectorum em
-" e rrou ao serviço do dáirnio de Shimabara, pa- tradução ilustrada (Shih Shue, ou seja «Lições de
__ ':.. em pintou quadros a óleo à maneira européia. Visualidade», Pequim, 1725; 2.a ed.: 1735) ou da Hi-
. ~ . obras destacam-se uma pintura do arcanjo dráulica (Pequim, 1612) de Sabatino de Ursis, morto
. tiQUel, provavelmente baseada numa gravura em Macau em 1620. Outro método de rnissionação
.: :imeuao Jerome WierL'C, e os biombos com a que os jesuítas italianos ao serviço de Portugal ex-
~Lacào de cavaleiros cristãos e muculmanos ploraram com grande êxito - a começar pelo mais
~ =- '::!!1lTaÇlOde um monarca europeu corri mem- inteligente de todos, o notável Matteo Ricci, que já
. .::.a respectiva corte inseridos numa arquitectu- em 1584 fazia gravar o seu primeiro mapa-múndi
-'; ~izante. Reconhecido como artista de gran- chinês - foi o conhecimento científico da terra e a
=-= ::::lé::-o, foi levado por Matsudaira para Edo, curiosidade pelo aspecto das suas gentes e cidades.
J= '::cou a trabalhar sob vigilância apertada, ten-
555
o QUESTIONAMENTO DA IDENTIDADE
de raiz portuguesa, tendo-se utilizado para esse mente bem sucedido. Nesta missiva a':: . :-
efeito obras que traduziam, à época, os mais recen- que os pintores e artistas japoneses que R-r-':= -
tes conhecimentos geográficos no Ocidente como, vura em cobre tomavam-se cada dia mais ~
por exemplo, o Theatrum Orbis Terrarum da autoria sendo os seus trabalhos «pouco inferiores 2Ô5 c".=
de Abraão Ortélio. Em paralelo com o ensino teó- trazem de Roma» (Boxer [s. d.]: 205).
rico da cartografia e astronomia, os Jesuítas incenti- Assim, se por detrás da realização dos ~:...:-:.------
varam, como já referimos, o estudo da pintura oci- carta gráficos podemos detectar uma clara
dental que, a avaliar por uma carta de Francisco por parte dos Japoneses de informar e ser ~.--~.~-
Pasio datada de Setembro de 1594, foi particular- dos, a que não foram decerto alheias ql!.
556
A CIRCULAÇÃO DAS FORMAS
557
o QUESTIONAMENTO DA IDENTIDADE
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Par de biombos com mapa-múndi e imagens de estrangeiros, tantos outros, pode ser que percam "-
Japão, início do séc. XVII (NBK) se dignem a darem com outros rei
(D'Elia 1942-1949: Ir, doc. 893,
ses, era um ponto comercial estrategIco em cUJo
porto fundeava o grande navio de Macau.
Era certo que mesmo após a expulsão dos Por-
o ORIENTE EM POR--
tugueses do Japão haveria quem acalentasse a espe- Mantendo quase sempre o seu =--=
rança de que o trabalho realizado levasse, em úl- partir de finais do século XVI e, so
tima instância, a uma nova abertura da civilização toda a centúria de Seiscentos, começ
japonesa à europeia. Foi esta, pelo menos, a ideia zados em Portugal objectos que. j,,':;~~
expressa pelo autor da História da Introdução do Crís- arte do Oriente, adquiriram caracrer:s::
tianismo na China em relação ao «Reino do Meio»: que os distinguem das peças encomeczsd .~ ,_
«E estando isto continuamente nas salas do Rei, tadas. Estamos já perante um «efeito C;: __ •
pode-se esperar que este Rei ou o seu filho, ou fenómeno de perfeita simbiose e:,-;-l!'"
--."
outros parentes seus, venham um dia a querer saber derá ser considerado um aporrugu~
ou perguntar aos Nossos, estando eles assim tão fe- luso-oriental e a sua consequeme =~.--.::-
chados sem falar com ninguém. Ou então, ao ve- neralização, em que se cria algo de no
rem o seu reino tão pequeno por comparação com tível apenas à arte europeia ou à :~.c=:::::
~~h
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.~~'lI *''' ni,
558
A CIRCULAÇÃO DAS FORMAS
_ -O caso da porcelana chinesa, deu-se no fim do ve de referente às manifestações artísticas então ori-
XVI início à fabricação em Lisboa de louça vi- ginadas. Nomeadamente, mesmo no campo da
~ imirando a da China. A faiança feita pelos olei- azulejaria, os frontais de altar em azulejo são, na
~ foi posteriormente exportada para o resto verdade, perfeitos substitutos dos panos de altar
- ~ do rendo sofrido rapidamente a concorrência bordados. Seguindo padrões orientais, surgem neste
::.c "- . ingleses e holandeses. São inúmeros os seus tipo de obras representações de pagodes, árvores da
_:!aresao longo de todo o século XVII, os quais, vida, animais e flora exóticos que tudo indica se-
- .: - 2. sua especificidade, pertencem já à arte portu- rem cópias de modelos asiáticos.
e não às artes luso-orientais. Não será de admirar que, além destes, outros
_'- yar do mobiliário, é nos têxteis que encon- exemplos da «invasão luso-oriental» na arte portu-
- os exemplos mais evidentes da assimilação e guesa do século XVII venham um dia a ser compro-
-=.::.=çào de motivos orientais reinterpretados vados, desde têxteis caseiros (como as chitas), cer-
_ ;a:;:cisras
e artesãos portugueses. As colchas de tos géneros da ourivesaria popular (a filigrana) e
'-._~_l_ Branco e os tapetes de Arraiolos são, a este muitos motivos dos bordados típicos (Viana do Cas-
=== . 2 ~ rova concludente da apropriação da gra- telo, Guimarães), até temas mais eruditos, como os
- - decorativa das civilizações do Indico e da
- z: .?clariz.ação em Portugal. Par de biombos com mapa-múndi e pintura da Batalha de
~ iosamente, é o modelo dos têxteis que ser- Lepanto, Japão, início do séc. XVII (MAK)
559
o QUESTIONAMENTO DA IDENTIDADE
560
A CIRCULAÇÃO DAS FORMAS
reduzi relativamente às suas similares euro- buquerque: uma cadeia de fortes de onde podiam
:--== - rezábulos, altares, cadeirais, púlpitos, arcazes, partir rapidamente agéis surtidas anfíbias, tirando o
:;!::- - de cavalete, a escultura devocional ou de- máximo partido da artilharia de fogo embarcada
,-0-:::7,,- :-3 _ a arte da construção parece ter optado, que era o segredo da sua supremacia fulgurante,
:::::l~do português e muito em particular no mas de mediano tamanho. Mesmo assim, seriam
-~-e_ ~ elo extremo oposto: a grande escala, o enormes para os padrões portugueses do tempo,
- - '= amplitude próprio a impressionar e a riva- como a fortaleza de Goa (15IO) ou a de Ormuz, na
com as artes congéneres locais. Era uma arqui- estratégica entrada do golfo Pérsico (1515), devidas
ara ficar», símbolo de uma vontade férrea ambas ao talento do mestre-de-obras Tomás Fernan-
:ixaç:lO e permanência duradoura, ao mesmo des. A de Malaca (15II), no estreito de Singapura, era
- .:-'0 que componente essencial na europeização conhecida por «A Famosa» pela sua torre de mena-
zz :;::r., m tanto urbana como rural. A Coroa (se- gem que superava os 30 metros de altura: um arra-
==~" pela Igreja) não olhava a meios quando se nha-céus à beira-mar, a competir com as torres das
_~ de manifestar a sua presença, numa afirma- mesquitas numa marca insolente da soberania lusa.
- '= superioridade dos princípios éticos e estéti- Mesmo as primeiras defesas abaluartadas, obe-
_ s que a regiam face aos das potências vizinhas. decendo a outras concepções e escala e a outro ti-
:h" sua maior visibilidade, tomava-se impossível po de desenho, mantiveram esse singular gosto pela
":::-0= o entido político dessas intervenções. grandiosidade, das muralhas de Diu (1546), devidas
Tal norma construtiva é notória desde o come- ao talento de D. João de Castro, aos baluartes da
.,. _ com as primeiras fortificações destinadas a pro- Mina (1548) e Salvador da Bahia (1549), desenhados
~ as feirorias comerciais e a garantir a segurança pelo arquitecto Miguel de Arruda, ou a ainda hoje
.: _ reis aliados. a indefinição (ou polémica) de impressionante Fortaleza de São Sebastião na ilha
~ 2...;cas dó início da época manuelina, se o pri- de Moçambique. Aliás, é notório o esforço de in-
~~-o vice-rei, D. Francisco de Almeida, favoreceu vestimento em construções: o censo de 1535 em
construção de um número tão reduzido quanto Goa contabilizou como tributáveis seis pedreiros
i: ' el de grandes fortalezas - de que resta o (um dos quais da terra) e dois carpinteiros, contra
Czszelo de ant'Angelo em Cananor (assim bapti- nenhum pintor ou escultor (Moreira, 1995). Não se
..: . imodestamente, em 1507 em lembrança da mediam despesas a fim de estar em dia com as últi-
~Cência dos papas em Roma) -, acabaria por mas novidades do estrangeiro: fazia-se, mesmo,
~ecer a visão mais moderna de Afonso de Al- aquilo que os engenheiros italianos (essa nova elite
561
o QUESTIONAMENTO DA IDENTIDADE
de especialistas de saber técnico, altamente disputa- Índico durante todo o século XVI - tratava-se "'"'"
dos, que domina o campo a partir dos meados do ra de erguer linhas defensivas que constitlúss..""::..
século XVI) propunham nas gravuras dos seus tratados uma barreira intransponível pela inter-relaçâo ~
impressos, mas ninguém em Itália tinha a coragem pontos em permanente contacto, criando uma ~=
- ou os meios - de construir. E assim que no fortificada mais eficiente em romper um a.sséC
«Forte português» do Bahrein, que visava controlar prolongado do inimigo (jâ familiarizado com o
o interior do golfo Pérsico, o engenheiro Inofre de das armas de fogo), em pontos capazes de se apa-
Carvalho realizou em 1560 um tipo de duplo baluar- rem mutuamente em caso de perigo. Assim se
te ilustrado na obra de Maggi e Castriotto 01eneza, neou uma teia de linhas de fortificações interligaczs
1554), que faz pasmar tanto pela audácia da realização de modo ágil e coeso - sem ser monolítico -
técnica como pela rapidez com que circulou a infor- usando diferentes tácticas adequadas a vastas regiões
mação (Moreira, 1988: 197). Também a nova mura- do globo: os diversos «Atlânticos» Norte ~ Sul
lha de Goa, com baluartes «de orelhões» de dimen- mar de Adém, o golfo de Cambaia, os «lndic
são colossal, iniciada em 1567 sob a traça enviada do Ocidental e Oriental, etc.
reino e só concluída no século XVII, fechava pelo la- O grande eixo fortificado, verdadeira espinha
do de terra toda a ilha, delimitando um perímetro dorsal de todo o sistema, era a costa oeste do Ia-
urbano de quase dez quilómetros. dostão que se estendia da Província do Norte, coe;
O reinado de D. Sebastião foi particularmente capital em Baçaim (a antecessora, pelas funções co-
propício a esse tipo de actividades, a ponto de em mo pela grandeza, da actual Bombaim), até às cos-
1569 o próprio rei mandar suspender qualquer des- tas do Malabar e Coromandel e a ilha de Ceilão. 2-
pesa pública com as obras reais (incluindo a nova sul. Era em tomo desse eixo - com o seu centro
capela-mar do Mosteiro dos Jerónimos, que teve natural em Goa - que tudo girava e a que tudo
de ser concluída às custas da rainha-viúva D. Cata- conduzia. Não par acaso, a partir desse momento.
rina!) a fim de as concentrar em obras militares. nos anos 1560-1570, começa a surgir a percepção uni-
Após quatro décadas de pacifismo joanino, a época târia expressa pela designação oficial de «Estado da
sebástica assistiu àcrise generalizada do império em India», ao mesmo tempo que circulava no Orien
todas as frentes. A permanente luta contra o Islão Próximo, espalhando-se do Cairo e Alexandria paI2.
juntaram-se a ameaça turca em Marrocos (o grande toda a Europa, uma onda de notícias sobre a preten-
objectivo conseguido travar, à custa do sacrifício da sa intenção do vice-rei D. Constantino de Bragança
nação, em Alcácer Quibir. ..) e os desgastantes ata- proclamar a sua autonomia; desligando-se de Portu-
ques de corsários das potências europeias rivais, os gal (Aubin, 1996: 410).
«hereges» Holandeses, Ingleses e Franceses. Boatos, é claro, pois nunca como então a uni-
Impunha-se uma mudança radical de estratégia: \bde era vital. Após o desbarate do reino hindu de
em vez de concentrar forças em centros isolados e Bisnaga na Batalha de Talicota em 1565, os senho-
distantes, mas vulneráveis - apesar da indiscutível res muçulmanos vitoriosos aliam-se, do Turco ao
superioridade militar dos Portugueses nos mares do Achém em Java, para esmagar de vez o poderio
562
A CIRCULAÇÃO DAS FORMAS
563
o QUESTIONAMENTO DA IDENTIDADE
a contratar para servi-lo em Portugal e Marrocos, planta triangular (de que o meínor "'~
como Filipe Terzi -, pagos a peso de ouro, varre dúvida, a Fortaleza de São ~eró~"
o país numa onda irresistível, criando um cosmo- de 1615; Bocarro, 1992: 11. 86.- c,..~ ~
politismo novo que favorece o gosto matemático dística erudita como a ideal ::' .
por linhas puras, de execução rápida e espaços ra- mar, no que correspondería ao ::õ'
cionalizados: é um primeiro «estilo internacional», lista de Cairato (1583-1596; e co
que se estenderá à arquitectura religiosa com o no- dor-mor das fortificações da Í:::22> .= . c
me de «estilo chão», isto é, simples e plano, fácil de da Fonseca (1612-164°), que co~---..,-=--: = ~- -
exportar e expedito na acção. A mesma simplicida- França e Alemanha; enqU2.:l:O=0 3~
de dará lugar a obras militares de rara beleza geo- preferência pelas tipologias C~ .~ i r--;;~-
métrica e grande eficiência, cujas dimensões ainda Bugio lisboeta (Spannochi.. 1590 _
hoje causam pasmo. E a época em que os litorais c
Com fonte nos tratados especialistas italianos çambique a Mascate, de Ceílâo 25 :\kf--..:;
mais correntes (em Portugal parecem ter sido os brem de fortificações de (Ocos cs--.-...-r-- h-..:::
Quattro Libri, 1554, de Maggi e Castriotto, e L'Ar- tios, tal como no-las apresem:a o .!.
chítettura, 1567, de Pietro Cataneo, os preferidos), os mandado fazer por Filipe fi; e ~c:,
mesmos modelos são ,adaptados aos mais diversos gosto bem «indo-português- s:
lugares e tamanhos. E assim que a Fortaleza dos do e traço ingénuo das represenzacô
Três Reis Magos (1603) na barra da cidade de Na- nista-mor António Bocarro e ~ ;' n •
tal, no Nordeste brasileiro - aliás uma das mais dro Barreto de Resende em 1655. ==
pitorescas e belas realizações da arquitectura militar uma dezena de cópias apesar Co~-::= ~---
portuguesa -, traçada inicialmente em terra e ma- cial. Simultaneamente, e ram.hé= :J
deira em 1598 pelo engenheiro Gaspar Sampere régia, o sargento-mar Diogo ce ê _
(Galvão, 1979), apresenta uma planta antropomórfi- executava o Livro que Dá R.ez3.J. i::. t:::;.
ca idêntica à da Fortaleza de Jesus em Mornbaça (1612-1613) com 18 mapas e pia:iT,?<; ~ ~
(1593), obra do primeiro engenheiro-mor da lndia, leiras. Mas a história desras 020 é :io ~=----
Giovanni Battista Cairati (ou João Baptista Caira- da: se, na maior parte, devem ser J ~
to). Curioso - e decerto explicável por razões se- genheiro-mor do Brasil Ff21lD_"::
melhantes - é que ao longo do século XVII o Mesquita (1603-1643), autor 00 iS?="~
Oriente tenha mostrado maior apego ao tipo de do Mar em Salvador (1622) e do ~!<s=--;:;
565
99S
_~ QUITECTURA RELIGIOSA
_·:.H do da arquitectura militar, a construção
=--_ 2z figura de parente pobre: quase passa desa-
~e::-..e' i Além de alguns edificios de maiores
=_- = 5Ões em Goa, de onde terá vindo para o rei-
~ gosto pelos telhados pontiagudos «em
..;::"u,",--«>, que caracteriza o nosso século XVII (Ribei- Ruínas da abside da igreja da Fortaleza de São Tiago de
_ . -96r; Carita, 1995), é apenas nas ilhas atlânticas e Sirião, Birmânia
B_ ~. que, pelas características do povoamento
:: - :recur.;os estáveis da economia do açúcar, se er- actual Paquistão (caso do antigo empono de Tatá,
== residências particulares de maior porte e sur- na foz do Indo) e o interior do planalto iraniano.
5= nma arquitectura original adaptada às peculiari- A saga heróica desses missionários ficou escrita em
~ do clima e dos materiais. E de salientar que o edificações, na sua imensa maioria hoje desapareci-
-~5 amigo edificio que se conserva no Brasil é um das ou em ruínas, que muitas vezes só pelo exame
:: ......!" de latifundiário: a Casa da Torre de Garcia de da escassa documentação gráfica podemos vislum-
~ (cerca de 1580: capela hexagonal, não a restante brar: como, por exemplo, as inúmeras igrejas, colé-
de planta em U, já setecentista). A demorada gios e seminários erguidos no Japão durante o
:;resença dos holandeses de Nassau no Nordeste açu- «século cristão» selado com o martírio em 1639
zeiro - sobretudo no Recife, que substitui a (Bourdon, 1994).
?lrrnguesa Olinda como centro de maior significa- Pelas suas características próprias, o período fili-
. - também contribuiu para a difusão de novas pino - gozando da solidez ideológica de um im-
:OIlIldS construtivas, quer nas «casas esguias» típicas pério cristão «onde o Sol nunca se punha» - foi a
;:2S cidades da Holanda, quer na arte militar pós- idade de ouro dessas edificações religiosas, que se
-renascentista, de que Portugal saberá tirar todo o multiplicaram ao pOl}to de ser necessário pôr-lhe
?2frido quando as guerras da Restauração com a cobro, no Estado da India, com a proibição após a
::nportação de mão-de-obra e de engenheiros ve- Restauração de qualquer nova fundação, fosse sob
.cran9s dessas campanhas contra Maurício de Nas- que pretexto fosse. A braços com crescentes pro-
sau. E, por isso, no reino que iremos encontrar a blemas económicos, as cidades não comportavam
repercussão da obra dos engenheiros holandeses no mais templos ou mosteiros com suas cercas, nem
Brasil, ao reformularem-se «à moderna» as defesas parecia sensato deixá-los crescer ao acaso fora das
::ionteiriças contra a Espanha. Mesmo na capital, zonas de mais estrita segurança. Apenas no Extre-
Salvador, os palacetes senhoriais (como o Solar mo Oriente, dominado pela iniciativa privada de
Berquó, datado de 1691, ou a casa de Gregório de aventureiros ou colonos à margem da lei, a instala-
_ latos, anterior a 1687) e as quintas e «engenhos» ção de missões ficou entregue ao critério das res-
'Solar do Unhão, posterior a 1584) fazem papel de pectivas ordens (como os Dominicanos em todo o
excepção, não alcançando expressão significativa Sueste asiático), algumas prosperando graças a um
antes dos últimos anos do século XVII. feliz conjunto de circunstâncias, como a Igreja de
Em contrapartida, a arquitectura eclesiástica Santiago na feitoria de Sirião (1612), no reino do
promovida pelas grandes ordens religiosas domina Pegu, actual Myanmar (Birmânia), ou as da cidade
do alto o panorama das artes, tanto em quantidade de Malaca após a sua conquista pelos Holandeses,
quanto em qualidade. Não cabe aqui tentar, se- em 1641 (Hoyt, 1993; Guimarães e Ferreira, 1996).
quer, um inventário de quantas igrejas e conventos Ainda hoje, em raras comunidades cristãs do inte-
se ergueram por esse mundo fora, com ou sem rior da lndonésia, é possível encontrar nomes, ora-
apoio oficial, por iniciativa privada de religosos ou ções, festas e imagens portuguesas com os seus te-
financiados por irmandades e ricos mercadores lo- souros de prata seiscentista (França, 1988).
cais, nas condições mais difíceis e longínquas - do Nada reflecte melhor essa realidade do que
Amazonas ao rio da Prata, do Zambeze às ilhas in- uma visita às ruínas de Velha Goa: a cidade desapa-
donésias e japonesas -, por vezes mesmo em ter- receu, dizimada por epidemias e tragada pela vege-
reno hostil onde as forças portuguesas não chega- tação tropical dos palmares (a sua lenta transferên-
vam, como os portos de Bengala à Birmânia ou no cia para a vizinha Pangim dá-se ao longo do século
567
o QUESTIONAMENTO DA IDENTIDADE
À esquerda: Igreja do Bom Jesus de Velha Coa, 1594-1605. À direita: fachada da Igreja de São Frandsca, G:.
568
A CIRCULAÇÃO DAS FORMAS
AS CIDADES:
D_\ PERIFERIA AO CENTRO
_-ia podemos terminar este relance sem uma
~ __. ncia àquilo que constituiu, porventura, o me-
-=- _ lesado deixado pela arte e cultura portuguesas
- resto do mundo. Se a língua parece estar em re-
o e o universo das artes confinado a museus
z colecções ou em imparável processo de ruína,
co ienado a perder-se a médio prazo, só as cidades
:= -r...laS fundadas por Portugal, e logo apropriadas
~ " . populações locais, resistem e parecem gozar
-:~ oa saúde. São hoje capitais populosas, megaló-
;-ales como São Paulo e Bombaim, ou portos de
:::-= e tráfego, onde já ninguém parece capaz de
~embrar a remota origem lusitana; e, no entanto,
~" esrá escrita no terreno e na morfologia urbana,
bem parente na escolha do sítio, no desnível da
,...: de alta» e da «baixa», nas ladeiras e elevadores
emes, no traçado tendencialmente rectilíneo
ruas e desenho irregular dos largos e praças, no Ruínas da Igreja de São Paulo, Macau, 1602·1640
carácter familiar da paisagem a um virar de esquina,
quanras vezes até no próprio nome e na toponímia
.ocal. . queta que real) para servir de padrão pelo qual to-
1 agasáqui era, em 1580, um lugarejo de pobres das as outras deviam ser edificadas. A força da nossa
. scadores quando o seu senhor, convertido ao arte de fazer cidades foi tal que esse próspero por-
crisrianismo, decidiu doá-la aos Jesuítas a fim de aí to, capital do Norte do Brasil desde 1621, conti-
se estabelecerem, longe do convívio com a popula- nuou a crescer até ao século xx segundo as mesmas
ção nativa. Em poucos anos era uma das mais ricas directrizes, sendo hoje, como tantas outras de ori-
e populosas cidades da região, com uma malha viá- gem lusa, «património da Humanidade». Na sua sé,
ria quase regular descendo em curva suave para o de final de Seiscentos, guarda-se um raro crucifi-
mar, ao mesmo tempo que um grande centro de xo indo-português, que devia pertencer às alfaias
cultura cosmopolita e de ensino; e continuou a ser, trazidas em 1679 pelo primeiro bispo, oferecidas
mesmo após a proibição da religião cristã e expul- pelo rei. ,
são dos Portugueses, a única porta por onde eram A carreira da India instaurara uma circulacão
ermitidos os contactos, na ilha artificial de Deshi- nào apenas de bens comerciais, mas também' de
ma (o antigo porto português), com qualquer in- pessoas, obras de arte, ideias e formas. Com pontos
íluência do estrangeiro até ao século XlX. de apoio nas escalas marítimas e entrepostos, neles
o extremo oposto do mundo, às portas da vir-se-iam a desenvolver núcleos de população ra-
Arnazónia, São Luís do Maranhão era outra cidade, pidamente defendidos e urbanizados, dando ori-
fundada em 1615 sobre um forte francês (de que, gem a circuitos civilizacionais, com ramificações
caso excepcional, conservou o nome) constituída da Amazónia ao Japão, percorridos por intensos
com o fim de servir à penetração no interior hostil fluxos de energia criadora. A partir do último ter-
da tórrida floresta equatorial. Já no fim desse ano o ço do século XVI, a sangrenta talassocracia rnanue-
engenheiro que dirigira a expulsão dos ocupantes, lina - que não teria passado de um cordão de
Francisco de Frias de Mesquita, deixava feito o pla- praças-fortes e colónias à maneira dos mundos
no (e talvez as linhas abertas no solo) de uma grego e púnico, segundo o modelo recriado na
«cidade bem arruada», com as ruas traçadas direita- Idade Média por Pisanos, Genoveses e Venezianos
mente em quadrícula igual unindo a acrópole do - era claramente substituído por um «império ur-
paço e da matriz à zona baixa portuária da praia; e bano» baseado na cidade como estilo de vida, lu-
um modelo de casa (mais provavelmente em ma- gar fisico do poder e centro de produção, corisu-
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