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Creer Ti Penny) Q Fr a ¢ = FS o 3 Es 2 gS iS} Ei a 5 = Ei Fa 3 S 2 ES ROGER CHARTIER @ REVISAO DE UMA GENEALOGIA ret ee ce histriadores da atalidde, sobretid em virtue de seustrabalhossobreas pitas reer tes UP ORC Rerrerner meet CL ts orca mets aclebrecnferéncade Michel RO enero Sree tea Reet oes etd ror ict auto. Ta ge To Cree eet rato Risin canon Conant Arete 9 Pret enone ry en nee tl renee t Rouen as1) Roseanne Coenen) Teen tu nr it) hist, vlend-se de fontes muito ditinas. eer er ae ree oc oa Cou nee es) Pre ee Roce ort enn ce supore qu patipam da produc conceta os textos por soda constitu de sua Pere cers Poaeeccet rt) Pent erry Or eer Se re eee tay et ta tors cus UFSCar- tora da Univer ar de So Caras Roger Chartier © QUE E UM AUTOR? REVISAO DE UMA GENEALOGIA ‘Oswald iv Seta Tur (Mesiente) Tatugo Luamara Curcino (Catios Eduardo Bezera cone {rasa sous Sus Prk rico Mor ne Gases pet a alr fas eee Propane dees ‘otal Guan Cate rue tir dren tortie Tamaasnacodar Fda alga diborata lo DET aia Comune URC “aver ovat eu pe doa po pou cae eur qu en cin ncn ind ie tics ui on em pins rs Apresentacao Roger Chartier leitor de Michel Foucault, 0 respeito 2 um legado e o enfrentamento de seus limites: reflexdes sobre a autoria lwzwaea Cunano 0 que é um autor? Revisao de uma genealogia Foces Cuaerien 7 APRESENTACAO. ROGER CHARTIER LEITOR DE MICHEL FOUCAULT, O RESPEITO A UM LEGADO. E O ENFRENTAMENTO DE SEUS LIMITES: REFLEXOES SOBRE A AUTORIA Luzstana Corcrso Estar no que se imaginaria sera origem do que foi dito ow escrito nao faz-de um individuo um autor. Nem tampouco tudo o que um autor diz ou escreve constitui sua obra. As razdes para tanto se relacionam direta ou indiretamente aos diferentes estatutos atribuidos ao que € enunciado, uma vez que 0 mesmo pode gozar de um considerivel perenidade ao longo da histéria ou desapa- recer tdo logo sua enunciagio se finalize. Essas sao teses essenciais defendidas na famosa ia “O que é um autor?! proferida por Michel Foucault, no final da década de 1960. Nela aborda-se, de modo original einstigante, a polémica em torno da morte confers 1 "Qutace qu satu’ pubad intents em 1985 no Buln de Suet Prat de Plisophe, poster, com agamas mosis, evista Tel Steg, todo em Dist eit 3994 Li ports “0 (que € um star” ipa em Dlr Brits a Ml Etlio Heratura ¢ Pint, si cine (FLEA 300%. 364- 298), (que eum ave Reh due geelags do autor, mas, a0 contririo de the validar a certidao de ‘Sbito em interpretacoes demasiadamente apressadas da ideia aventada por Roland Barthes, Foucault opta por remontar as condigées de seu nascimento e por tragar as regras hist6ricas e culturais de seu funcionamento em nossa sociedade. ‘Com vistas responder a pergunta-ttulo de sua in- tervencio,o filésofo formula uma outra questio: “Impor- ta quem fala” Para respondé-, Foucault reflete sobre os dispositivos de diferentes ordens a partir dos quais, num dado tempo e espago, tornou-se nao apenas possivel ¢ legitimo, mas também necessério, atribuira certos textos ‘um nome proprio, a certos enunciados uma paternidade, fazendo, assim, de um individuo, um autor, e de alguns de seus ditos ¢ escritos, uma obra, Pela importancia de seu pensamento, Foucault no ‘escapa aos dispositivos por ele identificados, préprios da Cultura Eserita no Ocidente, por meio dos quais 0 filé- sofo é algado a condigdo de um autor € o que enuncia, & de uma obra. Assim, seus enunciados ora sio repetidos, por vezes excessiva e ingenuamente, ora sio retomados respeitosa e engenhosamente, estabelecendo uma espé- cie de ultrapassagem por adesio, prépria de quem Ihe recomhece a forga eo alcance do pensamento, mas no se intimida em superar seus limites e em retificar algumas Foger Charier de suas interpretagoes. Este & 0 caso do presente texto de Roger Chartier Convidado a proferir uma palestra, no ano 2000, para a Sociedade Francesa de Filosofia, Chartier decide entdo revisitar a célebre conferéncia que, aproximada- mente 30 anos antes, havia sido apresentada por Michel Foucault, a essa mesma Sociedade. Este texte, que hoje se apresenta a0 piblico brasileiro, nao é 0 primeiro no qual o historiador encontra-se com a obra do fildsof. ‘Ao longo de toda sua carrera, Chartier ver estabele- cendo um dislogo constante e proficuo com o trabalho de Foucault a quem considera uma fonte de inspiragao ‘maior para toda a sua geracio A partir de incorporagoes, deslocamentos e ques- tionamentos do pensamento foucaultiano, Chartier nio apenas Ihe reconhece o cariterinspirador e amplia seu alcance, como também avalia seus limites com base em sua sélida experiéneia de historiador e em seu denso co- nhecimento de histéria da Cultura Escrita Ocidental, no, Conform se ober ems A qulmer a orgem: Fool 0 anise Rewhisio Frncents"O post ome, avr Foucault tor de Fuca amlbospubleads em A ea fase Hira ene crea age (Curt, 2002, 00a); e Figura do stor em erie do ron een ures bits ma Europ treo seo XIV e XVI Ga 9), 0 que um ator Revs de ums greg interior da qual se inscrevem as distintas modalidades histéricas de construcio da figura do autor. Reconhecido como um dos mais importantes his- totiadores da atualidade, sobretudo em virtude de seus trabalhos sobre as priticas e representagdes da leitura € da escrita, cujos méritos conduziram-no, em 2007, a citedra Ecrit et Cultures dans "Europe Moderne, do Collége de France, Chartier revé de forma meticulosa © texto de Foucault no qual é abordada a emergéncia a “fungio autor” no Ocidente. O historiador justifica esse seu empreendimento de revisio do texto “O que & uum autor?” afirmando que para ser fiel a0 pensamento deste a quem tanto respeita intelectualmente valet-se-i da pequena (¢ talvea odiosa) maquinaria proposta pelo proprio Foucault, segundo a qual, 20 produzir o comen. tirio de textos como os de Foucault, é preciso colocar em suspenso a sua propria figura de autor, assim como a concepgio de obra, produzindo, de fato, “uma leitu- a ‘foucaultiana’ de Foucault’ Isso implica nfo buscar ecessariamente coeréncia absoluta em tudo que Fou- cault disse a0 longo de sua vida, implica nio lhe atri- buir irrefletidamente a condigio de fonte origindria ¢ singular de certas ideas e implica, enfim, ndo legitimar obrigatoriamente proviveis e efetivas imprecisdes de suas consideragdes, Roger Cr Por meio de um trabalho minucioso de identifica ‘0 e de articulagao de indicios historicos de diversas ori sens, Chartier parte do roteiro antes tragado por Foucault em sua conferéncia, com vistas a revé-lo e a rediseutir as origens da figura do autor e os dispositivos histéricos ¢ cculturais que a promoveram. Para tanto, o historiador analisa as mutagdes nos modos de representagio do autor a0 longo da histéria, valendo-se de fortes muito distin- tas. Sua andlise compreende desde a insergdo de imagens (brasbes, retratos e fotografias) em frontispicios de obras ‘manuscritas e impressas da Antiguidade a Contempo- raneidade; passando pelas variagées na designagio de “autor” presentes em verbetes de dicionsrios de diferentes épocas e culturas, pelos processos ¢ formas dle penaliza ‘Go dos responsiveis pela escrita, impressio e difusio de textos, mantidos em arquivos da Inquisigao e outros ow pelas narrativas literdrias nas quais se recuperam repre- sentagbes dos autores que nelas se tornaram personagens, ou ainda pelos contratos estabelecidos entre escritores ¢ livreiros impressores ou pelas trocas de missivas entre es- tesatores da cultura escrita; até, enfim, as mutagoes fisicas softidas pelo texto ou por seu suporte, que nio apenas ‘atestam esse trabalho feito a vitias maos como também % 12 Qeueumastr Rese deus grea participam da produgdo conereta dos textos ¢ da cons tuigdo de sua significagio’ Em suas andlises destas fontes variadas, 0 historia dor compartilha de um mesmo principio com o filbsof0, aquele segundo o qual a fungao autor ndo & nem univer- sal, nem atemporal, Aliando sua profunda erudicio ao cemprego de uma linguagem acessivel ao grande piiblico, Chartier retoma, neste seu texto, a genealogia da figu- ra do autor, tal como empreendida por Foucault, foca- lizando, em sua revisio, alguns aspectos da cronologia ‘empregada pelo filésofo para descrever a emergéncia da figura do autor moderno e alguns dados hist6ricos mo- bilizados em sua argumentagio genealégica. Entre esses aspectos, ressalta-se, por exemplo, o ‘questionamento feito por Chartier da data referente & atribuigéo da emergéncia da fungi autor (inal do século XVIII) e de sua relagio direta com a invengio do direito do autor, ou sea, da propriedade literati, tal como exer- cida na modernidade. Contrariamente a0 que afirmara Foucault, essa invengio nio corresponde a uma extensio do individualismo burgués e da criagao da propriedade burguesa. Trata-se, antes, do resultado de um processo que visava ao reforgo de um direito vigente no Antigo Re- 3 Gopi pp8, = Pager Carer ‘gime, aquele dos privilégios tradicionais de que gozavam, (8 livres impressores, na Europa, que lhes garantia 0 proveito sobre a reproducao ¢ comercializagio de um tex- toadquirido junto a um escritor Portanto, diferentemen- teda cronologia apresentada por Foucault, que localizava 2 eriagio do direito autoral no final do século XVIIl e que concebia sua origem como tributéria da instituigio do diteito burgués & propriedade, Chartier advoga que a emergéncia da propriedade literdria deve ser remonta- da a0 comego, e nao ao fim, deste mesmo séeulo, assim como deve ser atribuida mais a protecio de um direito jé existente e consolidado desde 0 século XVI, comum a0 Antigo Regime, do que conquista de um novo, oriundo da Revolucao Burguesa de 1789. O historiador relembra que a formulagao do Estatu- toda Rainha Ana, volado pelo Parlamento Ingles em 1709, alterou decisivamente as priticas de publicagio dos tex- tos, na Inglaterra, porque colocou em xeque o monopélio #4 perpetuidade da propriedade literiria de que gozavam ‘9s liveeiros e impressores de Londres, Diante da ameaca ‘que essa regulamentacio representava & manutencto de seus privilégios tradicionais e exclusivos, os livreiros im pressores, ingleses e franceses, conceberam o copyright, 0u seja, 0 diteito de propriedade literéria do escritor sobre stia obra, Pautados em dois argumentos - 0 primeiro, de 14 Oqueéumauie? fais eure sels ‘ordem filoséfica, segundo o qual todo homem deve gozar do direito natural de ser proprictirio dos frutos de seu trabalho, ¢ 0 segundo, de ordem estética, segundo o qual se deve defender a propriedade do autor sobre os seus tex- tos, em fungio da originalidade e da singularidade de sua produgi, de seu genio criador -, 0s livreiros impressores reclamaram aatribuigio de propriedade literdtia a0 escri- tor que, por sua ver, teria 0 direito de dispor do fruto de seu trabalho como bem Ihe apronvesse, podendo, assim, “vender” e “transferie” a esses livreiros impressores este seu diteito, exclusivo e imprescritivel, sobre o texto e suas reprodugdes. Chartier constata, portanto, esse paradoxo funda- ‘mental que se encontra na emergéncia do sistema juridi- co que instaura a figura do autor moderno: de um lado, sustentam-se Valores burgueses que advogam 0 direito comum, indistinto e natural a todos os indivicuos sobre suas produgdes; de outro, essa sustentagio em valores burgueses teve por objetivo a defesa e perpetuasao de velhos privilégios, aristocraticos e tradicionais, proprios lo Antigo Regime. ‘Al de rte dete ena no presete tet. histsadr também aborda 2 “mena do dio do ator em ideo ees cosio’ a hea cee ¢ pag ctr rie raters eds XI RVD ie 2097), FogerCharer Essa é uma das retficagées empreendidtas pelo his- toriador com o objetivo, nfo de comprometera amplitude € 0 valor do principio postulado por Foucault para a ané- lise da emergéncia do autor, antes, de lembrar que, dado 0s avangos das pesquisas historicase também a emergen-

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