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Trabalhadores pretos ganham 40,2%

menos do que brancos por hora


trabalhada
Diferença salarial é praticamente a mesma há 10 anos,
mostrando que não houve avanços desde 2012.
Por Thaís Matos, g1

15/11/2022 05h00  Atualizado há 2 horas

Diversidade ainda é desafio nas empresas — Foto: RF Studio/Pexels

Trabalhadores pretos ganham em média muito menos do que brancos


por uma hora de trabalho: a hora de trabalho de uma pessoa preta
valeu 40,2% menos que a de um branco no país entre abril e junho
deste ano. No caso dos pardos, o valor foi 38,4% menor que o
recebido pelos brancos.
Os dados são da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD Contínua), divulgada em agosto pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com informações
referentes ao segundo trimestre do ano.
Em média, a hora de trabalho do brasileiro vale R$ 15,23.
Por cor, os valores médios são:
 Brancos ganham R$ 19,22;
 Pretos, R$ 11,49;
 E pardos, R$ 11,84.
Isso implica que pretos e pardos precisem trabalhar mais horas para
conseguir ganhar, no fim do mês, o mesmo valor que brancos.
Considerando o rendimento médio por hora, para chegar ao valor de
R$ 1.212, equivalente ao salário mínimo:
 Um trabalhador branco precisaria trabalhar 63 horas;
 Já um preto levaria quase 105,5 horas.
Segundo o IBGE, as populações preta e parda representam 9,1% e
47%, respectivamente, da população brasileira. Já na força de
trabalho, a população parda representa 45%, e a preta, 10,2%.
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Uma década de estagnação
Em uma década, a situação não evoluiu. No mesmo período de 2012,
o valor pago por hora a uma pessoa preta era 42,8% menor do que o
pago a uma pessoa branca.
A falta de acesso à educação superior é um dos fatores que
influenciam na diferença de renda. Segundo um documento do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado em 2021,
nas últimas duas décadas 65,1% dos cargos de nível superior eram
ocupados por pessoas brancas. Já pretos e pardos preenchiam 27,3%
dessas vagas.
Outros fatores que entram na conta são o tamanho do mercado de
trabalho informal e a discriminação indireta, segundo o diretor do
Núcleo de Estudos Raciais do Insper Michael França.
Capital da desigualdade
O Distrito Federal é a unidade da Federação com a maior discrepância
entre os rendimentos: pretos ganham 51% menos do que brancos por
hora trabalhada. De acordo com os economistas Raul Velloso e
Michael França, a presença massiva de cargos públicos com salários
altos na capital federal, os quais tendem a ser preenchidos por
brancos, ajuda a explicar essa disparidade.
Dados do Ministério do Planejamento mostram que 48,1% dos servidores
públicos são brancos, enquanto apenas 4,2% são pretos. Pardos são
24%. O percentual restante é de amarelos, indígenas e outras etnias.
É possível ver que há uma sub-representação de pretos e pardos no
serviço público em relação a sua presença na força de trabalho: 7,7%
dos trabalhadores do Distrito Federal são pretos e 43,9%, pardos.
Conquistas pernambucanas
Pernambuco é o estado com menor disparidade de valor por hora
trabalhada entre brancos e pretos no país. Em 2012, a diferença
salarial por hora entre brancos e pretos era de 45,7%. Em 2022, esse
número diminuiu 26 pontos percentuais, para 19,4%.
De acordo com o pernambucano Hugo Melo, economista do
Observatório da Indústria, possivelmente a população reagiu a
incentivos de novas políticas públicas. Uma delas é a política de cotas,
que forneceu oportunidade de adentrar no mercado de trabalho com
qualificação.
A maioria da população do estado é composta por pretos e pardos,
enquanto os brancos compõem apenas 36% da população. Isso faz
com que o impacto da qualificação por meio das políticas de cotas e
da inserção no mercado de trabalho fiquem mais evidentes.
Para o economista, além da política federal, programas estaduais
foram fundamentais para a diminuição dessa disparidade. Alguns
exemplos são a ampliação do ensino integrado das escolas e o
Programa Ganha Mundo, no qual jovens de escola pública do ensino
médio ganham bolsas para estudar em diversos países, como
Austrália, Canadá, Portugal, Inglaterra e Espanha.
Entre 2007 e 2014, o PIB de Pernambuco cresceu acima da média
dos outros estados, com a chegada de indústrias como a refinaria da
Fiat e o estaleiro Atlântico Sul. Para Hugo, o aumento do PIB, a
chegada de polos industriais e as políticas de inserção social podem
ter influenciado na diminuição de disparidades.
*Agradecimentos a Ananda Ridart, José Luiz Florentino, Luana Nova e Luize
Sampaio.

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