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ZILBERMAN Regina Prefácio Ensinar É Preciso Resistir Também 2021
ZILBERMAN Regina Prefácio Ensinar É Preciso Resistir Também 2021
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naescola
Di reção: ANDRÉiA CusTÓDio
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lsBN:978-85-7934-231-8[papel]
978-85-7934-232-5 [dig ital]
© do texto: Maria do Socoi.ro Alencar Nunes Macedo [org.], 2021
© da edição: Parábola Editorial, São Paulo, 2021
Prefácio
Ensinar é preciso -
resistir também
Não é de hoje que a literatura faz parte do currículo escolar. Sua pre-
sença é registrada entre os sumérios, povo que ocupou e colonizou
a região da Mesopotâmia há mais de 5.000 anos. Os sumérios dispu-
nham de instituições encarregadas de transmitir a crianças e jovens
a tradição em verso e prosa constituída por hinos e narrativas. Para
eles, o ensino da matéria verbal que, com o tempo, toma o nome,
primeiro, de poesia e, depois, de literatura tinha intuitos religiosos.
0 ensino de literatura se tornará laico só bem mais tarde, em outro
local - a saber, na Atenas do século V a. C., onde assumiu finalidade
igualmente pragmática, pois estava voltado para a aprendizagem da
gramática e da retórica, visando o adestramento de oradores para a
vida pública.
Em seu longo- percurso no decorrer da história do Ocidente, o
pacto da literatura com a escola foi gerenciado, a cada época, por se-
nhores diversos -religiosos, políticos,pedagogos -, todos, por sua
vez, vinculados ao poder. Quando, a partir dos séculos XVIIl e XIX, se
decidiu que o letramento deveria atingir todas as camadas da popu-
lação, mesmo as mais pobres ou rurais, vinculadas mais fortemente
à cultura oral, o que estava em jogo era menos a universalização da
educação e mais a preparação de um público consumidor para as
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novas formas de comunicação em expansão - entre as mais notó-
rias, o jornal, a revista, o livro -, com o bônus de habilitar as pessoas
destinadas aos novos lugares de trabalho oferecidos pela ascendente
revolução industrial a receberem instruções por escrito, o que dará
margem à emergência de uma classe social: a dos proletários.
Nem sempre a alfabetização e o conhecimento da literatura ca-
minharam juntos. A escola ajustou-se às repartições da sociedade,
oferecendo produtos distintos para camadas sociais distintas: le-
tramento para todos; literatura elevada para poucos, preferencial-
mente os de sexo mascu,ino e procedentés dos grupos no poder. A
esses poucos não era apresentada toda a literatura, só a parte que
poderia agradá-los: clássicos já domesticados por décadas, séculos
de difusão em catálogos, dicionários ou histórias da literatura; novos
ou modernos que se referissem às suas proezas, como, no caso da
literatura brasileira, os romances históricos (e indianistas) de nos-
sos românticos que celebram as conquistas e feitos dos portugueses
colonizadores, omitindo tanto o genocídio indígena quanto a escra-
vização de africanos.
Nenhum desses protagonistas,.porém, é imóvel ou acomodado: a
sociedade se transforma, a escola se renova, a literatura transgride.
0 resultado é que o pacto precisa ser reformulado na direção ou de
sua afirmação retroativa, ou de sua metamorfose revolucionária.
É diante dessas alternativas que os ensaios de Aflnçõo dci /itgrci-
tura na escola.. resistência, mediação e fiormação leitora se posicj\orLaLm.
2. Qual partido?
Regina Zilberman
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