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COLECAO RESUMOS Nese le Divelto Comercial (Empresarial), 43% ed., Malheiros Editores, 2013, Hesumo de Obrigagdes e Contratos (Civis, Empresariais, Consumidor), 30° ed., Matheiros Editores, 2012. Hesuna de Direito Civil, 40* ed., Malheiros Editores, 2013, Hesuno de Processo Civil, 388 ed., Malheiros Editores, 2012, Hesumoa de Diretio Penal (Parte Geral), 328 ed., Malheiros Editores, 2013. Kesumo de Direito Penal (Parte Especial), 10% ed., Malheiros Editores, 2011. Keswno de Processo Penal, 272 ed., Malheiros Editores, 2012. Kesuno de Direito Administrativo, 26* ed., Malheiros Editores, 2012 Kesumo de Direito Tributdério, 23 ed., Malheiros Editores, 2012. Keswno de Direito do Trabalho, 234 ed., Malheiros Editores, 2013. Kesumo de Direito Constitucional, 17* ed., Malheiros Editores, 2012. Diciondrio Juridico, 3° ed., Malheiros Editores, 2010. Outras Obras de MAXIMILIANUS CLAUDIO AMERICO FUHRER Crimes Falimentares, Ed. RT, 1972. Koteiro das Recuperagées e Faléncias, 214 ed., Ed. RT, 2008. Manual de Direito Publico e Privado, em coautoria com Edis Milaré, 17* ed., Ed, RT, 2009. Hradugio de aforismos de varios pensadores: Revista dos Tribunais (periodo 1975/1976): “O homicidio passional” (artigo), RT 392/32; “O elemento Subjetivo nas infragdes penais de mera conduta” (artigo), RT 452/292; “Como aplicar as leis uniformes de Genebra” (artigo), RT 524/292; “'O elemento subjetivo no Anteprojeto do Cédigo das Contravengées Penais Confronto com a legislagao em vigor” (artigo), RT 451/501; ‘Quadro Geral das Penas” (artigo), R7611/309. Codigo Penal Comentado, 3° ed., Malheiros Editores, 2010, em coautoria com Maximiniano Roserto ERNESTO FOHRER, PROTEIA OS ANIMAIS. ELES NAO FALAM MAS SENTEM. E SOFREM COMO voce. (De uma mensagem da Uniao Internacional Protetora dos Animais) MAXIMILIANUS CLAUDIO AMERICO FUHRER RESUMO DE DIREITO COMERCIAL (EMPRESARIAL) 43% edigdo atualizada = =MALHEIROS ===EDITORES RESUMO DE DIREITO COMERCIAL (Empresarial) © Maximanianus CLAupio AMErIco Finer 14 ed., 1980; 24 ed. 1982; 34 ed., 1984; 44 ed., 1985; 54ed., 1987; 64 ed, 1988; 74 ed., 1989; 84 ed., 1990; 9 ed. 1990; 10% ed, 1991; 11% ed., 1992; 124 ed, 14 tir, 01.1993; 28 tir, 09.1993; 134 ed, 1994; 14% ed., 1995; 154 ed., 01.1996; 164 ed., 07.1996; 174 ed., 01.1997; 182 ed., 04.1997; 19% ed., 07.1997; 202 ed., 01.1998; 21¢ ed, 1° tir, 04.1998; 28 tir, 08.1998; 224 ed., 01.1999; 234 ed., 09.1999; 244 ed., 01.2000; 254 ed., 08.2000; 26%ed,, 01.2001; 274 ed., 06.2001; 28# ed., 01.2002; 29 ed., 08.2002; 30% ed., 012003; 312 ed., 06.2003; 32% ed., 01.2004; 332 ed., 06.2004; 34% ed, 02.2005; 35 ed., 09.2005; 36% ed., 02.2006; 374 ed., 01.2007; 38% ed., 03.2008; 392 ed., 07.2009; 40% ed, 03.2010; 41% ed., 08.2011; 42% ed., 04.2012. ISBN 978-85-392-0187-7 Direitos reservados desta edigdo por: MALHEIROS EDITORES LTDA. Rua Paes de Araiijo, 29, conjunto 171 CEP 04531-940 — Sao Paulo — SP Tel.: (11) 3078-7205 — Fax: (11) 3168-5495 URL: www.malheiroseditores.com.br e-mail: malheiroseditores@terra.com.br Composigéio PC Editorial Ltda. Capa Criagdio: Cilo Arte: PC Editorial Ltda. Impresso no Brasil Printed in Brazil 04.2013 NOTA DO AUTOR Este é um livro complementar, que nao dispensa a leitura dos mestres. Sua finalidade é a visio panordmica do assunto, 0 que so um resumo pode oferecer — pois nao sabe onde esta quem, fechado num apartamento, nao viu, antes, pelo menos de relance, 0 edificio todo. O espirito do comércio produz nos homens um acentuado sentido de justiga exata, oposto de um lado a rapinagem e do outro G negligén- cia dos préprios interesses. O comércio afasta os preconceitos agressivos, Em toda parte, onde se estabeleceram costumes brandos, existe 0 comércio, e onde se pratica 0 comércio, existem costumes brandos. Monresquigu AGRADECIMENTO ___ Os Autores e a Editora agradecem aos leitores que vém colaborando com cri- ticas e sugestdes para o aprimoramento continuo desta obra: As mensagens podem ser transmitidas para malheirosedi ou pelo fax: (11) 3168-5495. i. EAL ABREVIATURAS .... NaAweene FSee Sue . Esbogo histérico . Conceito de comérci . Livros mercantis.... . Patentes registros St SEL . Duvidas na classificagao das criagdes. " Okmow-how 0 segredo de fabrica Marcas. | Crimes contra a propriedade industrial SUMARIO CAPITULO I - PARTE GERAL Direito Comercial e Direito Empresari Natureza e caracteristicas do comérci Obrigagdes dos empresiirios. Prepostos do empres O estabelecimento Perfis da empr: ponto comercial Registros de interesse da empresa.. CAPITULO Il - PROPRIEDADE INDUSTRIAL A propriedade intelectual A propriedade industrial Legislagdio aplicdvel ... O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI Invengio... Modelo de utilidade, Desenho industrial .. O design CAPITULO Ill - SOCIEDADES EMPRESARIAIS, PRIMEIRA PARTE - RESUMO Introdugao . Caracteristicas gerais, 12 13 14 15 15 15. 16 7 17 18 19 20 Ft 23 23 23 24 26 a 27 28 29 30 30 31 32. 8 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL 3. Classificagio das sociedades no Cédigo Civil. 4. Onome.. . 5. Firma ou raziio soci: 6. Denominagio social, 3 8. . Titulo de estabeleciment . A protegtio do nome empresaria 9. O emptesirio individual. 10. Sociedade em nome coletivo. 11. Sociedade em comandita simples .. 12. Sociedade de capital e indistria 13. Sociedade em conta de participagiio . 14. Sociedade limitada... 15. Empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELD . 16. Sociedade anénima ou companhia 16.1. Caracteristicas ... 16.2 Titulos emitidos pela sociedade anénima 16.3 Os acionistas 16.4 Orgdos da sociedade anénima .« 17. Sociedade em comandita por ages... 18. Sociedade em comum (irregular ou de fato). 19. Modificagdes na estrutura das sociedades 20. Interligagées das sociedades... 21. Microempresas e empresas de pequeno porte. 22. Quadro geral das sociedades empresariais. 23. Quadro geral do comércio individual. SEGUNDA PARTE ~ TEMAS VARIADOS . Sociedade de marido e mulher Asociedade de um sécio 6. Penhora de cotas da sociedade, por divida do sécio Penhora de bens particulares do sécio de sociedade limitada Mercado de capitais. Distribuigdo das agbes ¢ outros titulos . Vocabulario das sociedades por ages e do mercado de capitais Desconsideragdo da pessoa juridica.. Naveen e CAPITULO IV - TITULOS DE CREDITO PRIMEIRA PARTE - RESUMO . Definigao de titulo de crédito. Titulos cambiais e titulos cambiariformes Caracteristicas dos titulos de crédito. O formalismo dos titulos de crédito. Legislagao aplicavel Como aplicar a Lei Uniforme das Letras de Cambio e Notas Promissérias... 7. Pagamento dos titulos de crédito. Avan 33 34 34 35 35 36 36 37 37 38 38 39 41 2 44 46 48 49 31 31 52 52 54 54 35 35 56 57 57 58 68 73 3 74 76 7 7 79 30. Sy aeRe Vor eRe SUMARIO 9 19 19 80 80 81 82. 82 82 83 83 . A apresentaco do cheque. A decadéncia. 85 . A duplicata 85 . O conhecimento de depésito e 0 warrant 86 . Debéntures... 86 . O conhecimento de transporte ou de frete 86 . Cédulas de crédito ., 87 }. Notas de crédito. 88 . Letras imobiliarias . 89 . Cédulas hipotecérias. 89 . Certificados de depésito 89 . Cédula de Produto Rural (CPR) 89 ). Letra de Crédito Imobiliz 89 Cédula de Crédito Imobiliari 90 . Cédula de Crédito Bancario .. 90 . Titulos do agronegécio.. 90 SEGUNDA PARTE — TEMAS VARIADOS A investigacao da causa debendi .. 91 Defesa do avalista baseada na causa debendi. 92 Titulo vinculado a contrato.... Obrigagdo cambial por procuragaio Titulos “abstratos” e titulos “causais 94 Pagamento parcial 94 Pro solvendo ¢ pro soluto 94 Clausulas extravagantes 95 Duplicata simulada. Sustagio dé protesto ¢ execugao contra 0 emitente-endossante .. CAPITULO V - DIREITO BANCARIO Caracteristicas do Direito Bancario Organizagao bancéria Espécies de empresas bancériat O Sistema Financeiro Nacional Intervengfio e liquidagiio extrajudicial Operagées ou contratos bancétios.. 100 101 104 0 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL 7. Caracteristicas do contrato bancério 104 8. Sigilo bancério.. 1) 104 CAPITULO VI - FALENCIAS, CONCORDATAS E RECUPERAGOES ntrodugao ... 106 PRIMEIRA PARTE - LEI ATUAL (L 11.101/2005) {) Recuperacio de empresas 1, Objetivo da le 2. Recuperacdo judicial 2.1 Recuperagdio judicial de microempresas e empresas de pequeno porte 3. Recuperagiio extrajt 107 107 108 109 4. Participantes, na recuperagao judicial e na faléncia. 109 3) Faléncia (L 11.101/2005) 1. Definigao de faléncia.... 110 2. Hipéteses de decretagao de falencia. 110 3. Andamento da faléncia 110 4. Classificagao dos créditos 112 112 12 4.1 Créditos extraconcursais (art. 84) 4.2 Créditos concursais (art. 83,1 a VIII) 5. Cxéditos trabalhistas. Inconstitucionalidade de sua limitago. 113 6. Contratos do falid 4 7. Pedido de restituigao. 14 8. Continuagaio provis6ria das atividades, 14 9. Crimes concursais (arts. 168 a 178) us (0. A lei penal no tempo..... us SEGUNDA PARTE — LEI ANTERIOR (DL 7.661/45) FALENCIAS E CONCORDATAS.. 116 ) Faléncia (DL 7.61/45) A fase de liquidacdo. Inquérito judicial. i: 116 2. 117 3. 117 4, Obrigagées pessoais do falido.. 17 5. A continuagio do negécio ns 6. si SUMARIO. i 8. A ordem das preferéncias... B) Concordatas (DL 7.661/45) .. 7 Og 120 1, A concordata preventiva 2, Aconcordata suspensiva BIBLIOGRAFIA .. INDICE ALFABETICO-REMISSIVO .. JSTI JSTHTRE: JTACSP JTJ L L-JSTI ce LDA LDi LINDB MP PJ RDM RF RITJIEG RITJERT RJTJESP RJTIMS RITIRGS RSTI RT RII RTJE RTJEP RTIRF-3* Reg. STF STI ' 1 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL. ABREVIATURAS Cédigo Civil Cédigo Comercial Codigo de Defesa do Consumidor Cédigo Penal Cédigo da Propriedade Industrial Deereto Decreto-lei Jurisprudéncia Catarinense Jurisprudéncia e Doutrina Jurisprudéncia Mineira Julgados do Superior Tribunal de Justica Jurisprudéncia do Superior Tribunal de Justiga e Tribunais Regionais Federais-Lex Julgados dos Tribunais de Algada Civil de Sao Paulo Jurisprudéncia do Tribunal de Justiga (SP) Lei Lex-Jurisprudéncia do Superior Tribunal de Justiga e Tribu- nais Regionais Federais Lei Complementar Lei de Direito Autoral Lei do Divércio Lei de Introdugao as Normas do Direito Brasileiro Medida Proviséria Parand Judiciério Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econémico e Finan- ceiro Revista Forense Revista de Jurisprudencia do Tribunal de Justiga do Estado da Guanabara Revista de Jurisprudéncia do Tribunal de Justiga do Estado do Rio de Janeiro Revista de Jurisprudéncia do Tribunal de Justiga do Estado de Sao Paulo Revista de Jurisprudéncia do Tribunal de Justi¢a de Mato Grosso do Sul Revista de Jurisprudéncia do Tribunal de Justiga do Estado do Rio Grande do Sul Revista do Superior Tribunal de Justiga Revista dos Tribunais Revista Trimestral de Jurisprudéncia Revista Trimestral de Jurisprudéncia dos Estados Revista do Tribunal de Justiga do Estado do Paré Revista do Tribunal Regional Federal — 3# Reg. Supremo Tribunal Federal Superior Tribunal de Justica Capitulol PARTE GERAL 1. Esbo¢o histérico. 2; Conceito de comércio. 3. Direito Comercial e Direito Empresarial, 4. Natureza e caracteristicas do comércio. 5. Obrigagées dos cempresdrios. 6. Livros mercantis..7. Prepostos do empresdrio. 8, O estabe- lecimento. 9. Perfis da empresa. 10. O ponto comercial. 11. Registros de interesse da empresa. 1. Esbogo histérico Mesmo na Antiguidade, como nao poderia deixar de ser, ja existiam institutos pertinentes ao: Direito Comercial, como o empréstimo a juros € os contratos de sociedade, de depdsito ¢ de comissao no Cédigo de Ham- murabi, ou o empréstimo a risco (nauticum foenus) na Grécia antiga, ou a avaria grossa da Lex Rhodia de jactu, dos romanos. Como sistema, porém, a formagio e o florescimento do Direito Co- mercial s6 ocorreram na Idade Média, a partir do século XII, através das corporagdes de oficios, em que os mercadores criaram e aplicaram um Direito. proprio, muito mais dinamico do que o antigo Direito romano- -canénico, Aevolugao do Direito Comercial deu-se em trés fases. A primeira fase, que vai do século XII até 0 século XVII, corresponde ao periodo subjetivo- -corporativista; no qual se entendeu o Direito Comercial como sendo.um Direito fechado e classista, privativo, em principio, das pessoas matricula- das nas corporagdes de mercadores. Na época, as pendéncias entre os mercadores eram decididas dentro da classe, por cénsules eleitos, que decidiam sem grandes formalidades (sine strepitu et figura iudicii), apenas de acordo.com usos ¢ costumes, ¢ sob os ditames da equidade (ex bono et aequo). A segunda fase, chamada de periodo objetivo, inicia-se com 0 libera~ lismo econémico € se consolida com o Cédigo Comercial francés, de 1808, que teve a participagao direta de Napoleaio. Abolidas as corporacdes e esta- 4 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL yelecida a liberdade de trabalho e de comércio, passou o Direito Comercial i ser 0 Direito dos atos de comércio, extensivo a todos que praticassem leterminados atos previstos em lei, tanto no comércio e na industria como m outras atividades econémicas, independentemente de classe. Durante a primeira fase, e com intensidade maior no inicio da segun- la, houve aspectos ecléticos, que combinavam 0 critério subjetivo com 0 »bjetivo. As vezes, os tribunais corporativistas julgavam também causas eferentes a pessoas que n&o eram comerciantes, desde que o assunto fosse onsiderado de natureza comercial. A terceira fase, marcada entre nds pelo Cédigo Civil de 2002 (art. 166), corresponde ao Direito Empresarial (conceito subjetivo moderno), jue engloba, além do comércio, qualquer atividade econémica organiza- la, para a produgao ou circulagao de bens ou servigos, exceto a atividade ntelectual, de natureza cientifica, literaria ou artistica. Até mesmo estas Ul- imas atividades serao empresariais, se organizadas em forma de empresa art. 966, paragrafo tnico, do CC). rasespo | 7.7048 ee Se = DIREITO erioddo objetivo dos atos de comércio COMERCIAL | Periodo subjetivo moderno — Direito Empresarial (adotado pelo CC de 2002) ?. Conceito de comércio Ato de comércio é a interposigao habitual na troca, com o fim de lucro. A palavta comércio tem ttplice significado: o significado vulgar, 0 -condmico e 0 juridico. No sentido vulgar, traduz 0 vocabulo certas rela- Ses entre as pessoas, como 0 comércio de ideias, de simpatia, de amizade. No sentido econdmico, comércio é 0 emprego da atividade humana lestinada a colocar em circulagdo a riqueza produzida, facilitando as trocas > aproximando o produtor do consumidor. Excluidos os dois extremos — srodutor e consumidor —, comerciais, sob o prisma econdmico, serao todos 9s atos com que se forma a corrente circulatéria das riquezas. De acordo com o insigne comercialista italiano Vidari: “Comercio é > complexo de atos de intromissao entre o ‘produtor € 0 consumidor, que, ercidos habitualmente'e com fins de lucros, realizam, promovem ou fa- ‘ilitam a circulagao dos produtos da natureza e da industria, para tornar nais facil e pronta a procura e a oferta” (cf. Rubens Requiao, Curso de Direito Comercial, p. 5; De Placido e Silva, Nogées Prdticas de Direito Comercial, p. 18; Gastéo A. Macedo, Curso de Direito Comercial, p. 9). PARTE GERAL 1s Destarte, trés os elementos que caracterizam 0 comércio, em sua acep- a0 juridica: mediacdo, fim lucrativo ¢ habitude (pratica habitual ou profis- sional). 3. Direito Comercial e Direito Empresarial Com 0 advento do atual Cédigo Civil, em 2002, o comércio passou a representar apenas uma das varias atividades reguladas por um Direito mais amplo, o Direito Empresarial, que abrange 0 exercicio profissional de atividade econdmica organizada para a produgao ou a circulagao de bens ou servigos (art. 966). O atual Cédigo Civil revogou toda a Primeira Parte do Cédigo Co- mercial, composta de 456 artigos. Com isso, o Codigo Comercial nao mais regula as atividades comerciais terrestres, restando apenas a sua Segunda Parte, referente a atividades maritimas.' 4, Natureza e caracteristicas do comércio Possui o comércio algumas caracteristicas que o distinguem de outras atividades: a) simplicidade em regra, 0 comércio é menos formalista; b) cosmopolitismo — 0 comércio tem tragos acentuadamente interna- cionais; ©) onerosidade ~ no existe, em regra, ato mercantil gratuito. 5. Obrigagées dos empresdrios Tém os empresarios inimeras obrigagdes, impostas por leis comer- ciais, leis tributarias, leis trabalhistas ¢ leis administrativas, tanto no ambito federal como no estadual e no municipal. 1. Mesmo as leis comerciais especiais ou avulsas, como, por exemplo, a Lei de Recuperagdes e Faléncias, L 11.101/2005, devem passar a aplicar-se, agora, no apenas 0s comerciantes, mas a todos os empresérios. Como expressamente dispée 0 art, 2.037 do CC, “Salvo disposigao em contré- rio, aplicam-se aos empresarios ¢ sociedades empresirias as disposigdes de lei nao revogadas por este Cédigo, referentes a comerciantes ou a sociedades comerciais, bem como a atividades mercantis”. O art. 2.037, citado, constitui 0 que se chama de norma de extensio, ou de reenvio, que numa s6 disposigao coordena e consolida toda uma matéria legal. O art. 1.044 do CC corrobora esse entendimento, dispondo expressamente que a sociedade empresiia dissolve-se também pela declaragao de faléncia. Sem distingao de a empresa dedicar-se ou nao ao comércio. 16 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL Entre as obrigagdes da legislac4o comercial contam-se as relativas & dentificacao através do nome comercial, ao registro regular da firma indi- vidual ou do contrato ou estatuto social, 4 abertura dos livros necessdrios > & sua escrituragao uniforme e continua, ao registro obrigatério de docu- nentos, a conserva¢ao em boa guarda de escrituragao, correspondéncia e Jemais papéis pertencentes ao giro comercial, ao balango anual do ativo e assivo, 4 apresentagdo do mesmo a rubrica do juiz etc. 5. Livros mercantis Dividem-se os livros mercantis em comuns e especiais, bem como em »brigatorios e facultativos ou auxiliares. Os comuns sao os referentes ao somércio em geral, ¢ os especiais so os que devem ser adotados sé por ertos tipos de empresas. Entre os livros comuns, entende-se, unanimemente, que € obrigatério ) Diario, ow o livro Balancetes Didrios e Balangos (art. 1.185, CC). E mui- os julgados entendem que sao também obrigatérios 0 Registro de Dupli- -atas, se houver vendas com prazo superior a 30 dias, 0 Registro de Com- yrais, que pode set substituido pelo Registro de Entrada de Mercadorias, > 0 Registro de Inventario. Podem os livros ser substituidos por registros m folhas soltas, por sistemas mecanizados ou por processos eletrénicos de omputagao de dados, Em regra, para os fins da lei comercial, a jurisprudéncia nio menciona omo obrigatérios os demais livros fiscais e trabalhistas. . Didrio Registro de Duplicatas, se houver vendas LIVROS COMUNS | com prazo superior a 30 dias OBRIGATORIOS | 3. Registro de Compras — pode ser substituido pelo Registro de Entrada de Mercadorias Registro de Inventério n > Entre os livros obrigatérios especiais, ou especificos de determinadas ipresas, contam-se, por exemplo, o Livro de Entrada e Saida de Mercado- jas, dos armazéns gerais, o Livro de Balancetes Didrios, das casas bancé- ias, o Livro de Registro de Despachos Maritimos, dos corretores de navios, s livros previstos no art. 100 da Lei das S/A (L.6.404/76) ete. Entre os livros facultativos ou auxiliares estio os seguintes: Caixa, .azéio, Contas Correntes, Borrador, Copiador de Cartas, Copiador de Fa- uras etc. PARTE GERAL 7 Devem os livros seguir formalidades extrinsecas, referentes 4 auten- ticagiio dos mesmos, bem como formalidades intrinsecas, referentes ao modo como devem ser escriturados. O Decreto-lei 486, de 3.3.69, regulamentado pelo Decreto 64.567, de 22.5.69, nos termos em que 0 qualifica, dispensa o pequeno comerciante da obrigagiio de manter e escriturar os livros adequados, bastando, em relagao a ele, a conservacéo dos documentos e papéis relativos ao seu comércio (ver tb. DL 1.780, de 14.4.80).? 7. Prepostos do empresirio Apontam os autores duas classes de pessoas que auxiliam a atividade empresarial. Na primeira classe est&o os auxiliares subordinados ou dependentes, como os comerciarios, industridrios, bancdrios etc. Nao sio empresarios, pois agem em nome e por conta de outrem. Na segunda classe encontram-se os auxiliares independentes, como os corretores, leiloeiros, comissdrios, despachantes de alfandega, empre- sarios de transporte e de armazéns gerais € os representantes ou agentes comerciais. S40 considerados comerciantes e se sujeitam as regras do Di- reito Comercial. 8. O estabelecimento Estabelecimento € 0 conjunto de bens operados pelo empresario. Tem anatureza juridica de uma universalidade de fato, sendo objeto ¢ nao sujei- to de direitos. Compée-se 0 estabelecimento de coisas corpéreas € coisas incorpéreas. Entre as corpéreas est&o os balcdes, as vittinas, as maquinas, os im6- veis, as instalagGes, as Viaturas etc. Entre as incorpéreas estdo 0 ponto, o nome, 0 titulo do estabelecimen- to, as marcas, as patentes, os sinais ou expresses de propaganda, o know- -how, 0 segredo de fabrica, os contratos, os créditos, a clientela ou freguesia e 0 aviamento (aviamento & a capacidade de produzir lucros, atribuida ao estabelecimento e a empresa, em decorréncia da organiza¢io). Pode o empresario ter uma pluralidade de estabelecimentos, surgindo ento 0 estabelecimento principal e as suas sucursais, filiais ou agéncias. 2. Mas as microempresas e empresas de pequeno porte no optantes pelo Simples Nacional sao obrigadas a manter livro-caixa, com a escrituraga de sua movimentagao financeira e bancéria (art. 26, § 22, da LC 123/206). 18 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL balcdes vitrinas méquinas iméveis instalagdes viaturas etc. Bens corpéreos ponto nome titulo do estabelecimento marcas patentes sinais de propaganda Bens expressées de propaganda incorpéreos *\ know-how segredo de fabrica contratos créditos clientela ou freguesia aviamento ete. ESTABELECIMENTO. COMERCIAL 9. Perfis da empresa Segundo Alberto Asquini, apresenta a empresa nada menos de quatro Perfis diferentes: o perfil subjetivo, em que a empresa se confunde com o proprio empresario, vez que somente ele, e nao ela, possui personalidade juridica; 0 perfil objetivo, que corresponde ao fundo de comércio, ou seja, a0 conjunto de bens corpéreos e incorpéreos destinados ao exercicio da empresa; 0 perfil corporativo ou institucional, que corresponde aos esfor- Gos conjuntos do empresdrio e de seus colaboradores; ¢ 0 perfil funcional, que corresponde a forca vital da empresa, ou seja, 4 atividade organizadora e coordenadora do capital e do trabalho. L. Perfil subjetivo: empresa = empresdrio 2. Perfil objetivo: OS 4 PERFIS: empresa = estabelecimento. DAEMPRESA ) 3. Perfil institucional: empresirio + colaboradores 4, Perfil funcional: empresa = organizagiio PARTE GERAL 19 10. O ponto comercial Ponto € o lugar em que 0 comerciante se estabelece. Constitui um dos elementos incorpéreos do estabelecimento ou fundo de comércio. Alguns autores 0 consideram como sendo uma propriedade comercial, ou seja, um direito abstrato de localizagao. Nos termos da Lei 8.245, de 18.10.91 (Lei de Locagiio), o locatario co- merciante ou industrial, bem como seu cessionario ou sucessor, pode pedir judicialmente a renovagao do contrato de aluguel referente ao local onde se situa o seu fundo de comércio, nas seguintes condigdes: a) contrato anterior por escrito e por tempo determinado; b) contrato anterior, ou soma do prazo de contratos anteriores, de cin- co anos ininterruptos; ©)'0 locatario deve estar na exploragao do seu comércio ou industria, no mesmo ramo, pelo prazo minimo ininterrupto de trés anos. Preenchidas as condigdes acima, tem o locatério o direito de pedir a renovacdo do aluguel, através de agao renovatoria, e tera preferéncia, em igualdade de condigdes, sobre eventual proposta de terceiro. A a¢’o deve ser proposta nos primeiros seis meses do ultimo ano do contrato, nem antes, nem depois. Se faltar mais de um ano, ou menos de seis meses, para 0 tér- mino do contrato a renovar, a agao nao sera admitida. Se nao houver acordo quanto ao novo valor do aluguel, 0 juiz nomeara perito para a fixago do mesmo. Se n&o houver renova¢ao, por causa de uma proposta melhor do que a fixada, terd 0 inquilino direito a uma inde- nizagao. locador, por sua vez, tem o direito de promover a revisdo do prego estipulado, decorridos trés anos da data do contrato, ou da data do ultimo reajuste judicial ou amigavel, ou da data do inicio da renovagao do contra- to. Em caso de locago mista, residencial e comercial, o assunto ser4 regu- lado conforme a Area ou a finalidade predominante for de uso comercial ou residencial., Se a ago renovatéria nao for proposta no prazo, pode o locador, fin- do 0 contrato, retomar 0 imével, independentemente de qualquer motivo especial. A Lei de Locagdo manteve a demincia vazia nas locagdes para fins comerciais e industriais. CO direito 4 renovagfo do contrato de aluguel estende-se também as locagdes celebradas por sociedades civis com fim lucrativo, regularmente constituidas. F 20 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL I. Registros de interesse da empresa Assim como toda pessoa natural deve ser registrada ao nascer, inscre- vendo no Registro Civil todos os atos marcantes de sua vida (casamento, Separagao, dbito etc.), também ao empresario se instituiu um registro pu- blico. O Registro do Comércio é, assim, um 6rgao de publicidade, habilitan- do qualquer pessoa a conhecer tudo que diga respeito ao empresirio. Conquanto obrigatério (CC, art. 967), tais so 0s efeitos negativos que a sua falta enseja, que nenhum empresario de bom senso dele prescinde (CC, art. 1.151, § 3°). Os registros de interesse dos empresarios se dividem em duas espécies: 0 Registro do Comércio e 0 Registro da Propriedade In- dustrial. I= Registro do Comércio: A Lei 8.934, de 18.11.94, regulamentada pelo Decreto 1.800/96, estabeleceu o Sistema Nacional de Registro de Em- presas, Mercantis - SINREM, composto pelo Departamento Nacional de Registro do Comércio ~ DNRC ¢ pelas Juntas Comerciais (v. arts. 1.150 a 1.154 do, CC). O Departamento Nacional de Registro do Comércio ~DNRC in- tegra o Ministério do Desenvolvimento, Indiistria'e Comércio Exterior, € € o 6rgao central do SINREM. Tem funcao supervisora; orientadora, coordenadora e normativa, no plano técnico, e supletiva, no plano admi- nistrativo. As Juntas Comerciais sao érgaos locais de execugaoe administraga0 dos servigos de registro, havendo uma Junta em cada unidade federativa, com sede na Capital. Com o'Sistema Nacional, cada empresa tera o seu Numero de Identifi- cago do Registro de Empresas — NIRE. Departamento Nacional de Registro do Comércio - DNRC: SISTEMA NACIONAL DE "|" orgio central, integrante do REGISTRO DE EMPRESAS Ministério de Desenvolvimento, MERCANTIS — SINREM Industria e Comércio Exterior Juntas Comerciais: 6rgaios executores locais As Juntas Comerciais incumbe, portanto, efetuar 0 registro piiblico de empresas mercantis ¢ atividades afins, conforme a denominagao da Lei PARTE GERAL 21 8.934/94. A expressio “atividades afins” abrange os agentes auxiliares do comércio, como 9s leiloeiros, tradutores publicos ¢ intérpretes comerciais, trapicheiros* e administradores de armazéns gerais.* Qualquer pessoa tem o direito de consultar os assentamentos das Jun- tas, sem necessidade de provar interesse, e de obter as certiddes que pedir. O registro compreende a matricula, o arquivamento, a autenticagdo de escrituragdo e documentos mercantis e 0 assentamento de usos ¢ costumes comerciais, além de outras atribuicdes. A matricula € 0 modo pelo qual se procede ao registro dos auxiliares do comércio, como leilociros, tradutores publicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns gerais (art. 32, I, da L 8.934/94). O arquivamento é 0 modo pelo qual se procede ao registro relativo a constitui¢ao, alteragao, dissolugao e extingao de firmas mercantis indivi- duais € sociedades mercantis (art. 32, II, da L 8.934/94). O arquivamento abrange também as cooperativas, embora estas nao sejam entidades comer- ciais, mas civis. As sociedades sem contrato social escrito (sociedades de fato) ou com contrato nao registrado na Junta Comercial (sociedades irregulares) nao tém direito de obter concordata preventiva ou suspensiva. E. seus sécios respondem sempre, de modo subsidiario e ilimitado, pelas dividas sociais. O nome comercial é automaticamente protegido com o registro da Junta, na drea de sua jurisdigao, nao se permitindo arquivamento de nome idéntico ou semelhante a outro ja existente (principio da anterioridade). A prote¢ao pode ser estendida as demais Juntas, a requerimento do inte- ressado. Os contratos sociais das sociedades s6 podem ser registrados na Junta Comercial com o visto de advogado (art. 1°, § 2°, da L 8.906/94 — Estatuto da Advocacia).° I — Registro da Propriedade Industrial: As invengdes, modelos de uti- lidade, desenhos industriais, marcas, patentes e outros bens incorporeos sao tutelados por meio do chamado Registro da Propriedade Industrial, que sera examinado em seguida, em capitulo a parte. 3. Trapiche — armazém geral de menor porte, na drea de importagiio ¢ exportagao. 4. Nos termos do art. 1.150-c/e 0 art, 966 do CC, cabe agora também as Juntas Comerciais o registro das empresas de prestagao de servi¢o, uma vez que se incluem no conceito de empresdrio. 5.ALC 123, de 14.12.2006, dispensou o visto de advogado no caso de microem- presas e empresas de pequeno porte (art. 9, § 22), Capitulo IT PROPRIEDADE INDUSTRIAL 1A propriedade intelectual. 2. A propriedade industrial. 3. Legislagaio apli- cdvel. 4. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INP1). 5. Patentes e registros. 6. Invengiio. 7. Modelo de utilidade. 8. Desenho industrial. 9. Dii- vidas na classificagdo das criagoes. 10. O “design”. 11. O “know-how” € 0 segredo de fiibrica. 12. Marcas. 13. Cultivares. 14. Crimes contra a propriedade industrial. 1. A propriedade intelectual Da-se o nome de propriedade intelectual aos produtos do pensamento e do engenho humano. O tema divide-se em dois ramos: a propriedade industrial ¢ a propriedade literdria, artistica e cientifica, sendo que se tem preferido denominar a ultima como direito autoral. Aos criadores de obras intelectuais assegura a lei direitos pessoais direitos materiais. Entre os direitos pessoais esto 0 direito de paternidade ou personali- dade e 0 direito de nominagao. O direito de paternidade ou personalidade € 0 direito natural que liga para sempre a obra ao seu criador. O direito de nominagao € 0 direito que tem 0 criador de dar o seu nome a obra. Entre os direitos materiais esto 0 direito de propriedade e 0 direito de exploragao, que constituem direitos reais e valem contra todos (erga omnes), podendo ser objeto de licenga, cesstio, compra e venda, usufruto, uso, penhor etc. : No direito autoral (ow propriedade literdria, artistica e cientifica), 0 criador tem desde logo todos os direitos, pessoais e materiais, independen- temente de registro. Na propriedade industrial, porém, os direitos mate- tiais s6 passam a existir, em regra, apés o registro ou patente. PROPRIEDADE INDUSTRIAL 23 2. Apropriedade industrial Da-se o nome de propriedade industrial 4 matéria que abrange as in- vengdes, os modelos de utilidade, os desenhos industriais, as marcas, as indicagdes de procedéncia (ou indicagdes geograficas), as expressdes ou sinais de propaganda e a repressao a concorréncia desleal Direito obras literarias, artisticas € autoral cientificas inyencdes PROPRIEDADE modelos de utilidade INTELECTUAL ; desenhos industriais Propriedade industrial *) Aces us indicagées geograficas express6es ou sinais de propaganda repressfio a concorréncia desleal 3. Legislagdo aplicdvel A propriedade industrial regula-se pela Lei 9.279/96, com vigéncia a partir de 15.5.97. Alguns itens da lei entraram em vigor na data da publica- ¢Ho (15.5.96), como os referentes a regras transitérias de convalidagao no Brasil de determinadas patentes conferidas no exterior. 4. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INP) O INPI é uma autarquia federal. Incumbe-Ihe a execugao das normas da propriedade industrial, como o processamento e 0 exame dos pedidos de patente ou de registro. A Revista da Propriedade Industrial o érgio oficial para a publica~ do dos requerimentos das partes ¢ dos atos do INPI. 5. Patentes e registros As patentes referem-se as invengdes e aos modelos de utilidade. O prazo de protegaio da patente de invengdo é de 20 anos, da data do de- posito, sendo prorrogado, se for 0 caso, para inteirar, no minimo, 10 anos, ‘da data da concessdo, ressalvada a hipotese de o INPI estar impedido de proceder ao exame de mérito do pedido, por pendéncia judicial ou por mo- tivo de fora maior. 24 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL A certas patentes, em andamento no exterior, foi dado um prazo, em cardter excepcional, para a sua conyalidacao no Pais, pelo tempo restante de vigéncia que teriam no pais de origem.! No modelo de utilidade, os Prazos sdo de 15 anos da data do deposi- fo, garantido 0 espago minimo de 7 anos da data da concessdo da patente. Extinta a patente, pelo término de seu prazo de validade, ou outro motivo elencado na lei, 0 seu objeto cai em dominio publico (art. 78, pa- ragrafo nico). Mas, se a extingdo ocorrer por falta de pagamento da retribui¢do de- vida ao INPI, poderd a patente ser restaurada, pelo tempo faltante, se o titular assim o requerer em trés meses da notificagaio da extingdo (art. 87). Neste caso, 0 dominio publico fica sujeito'a uma condi¢ao suspensiva, de correr ou n&o 0 pedido tempestivo de Testauracao da patente. Os registros referem-se 43 marcas e aos desenhos industriais, O prazo de protegdo da marca é de 10 anos, da data do registro, Prorrogavel por periodos iguais e sucessivos. Nos desenhos industriais 0 prazo também é de 10 anos, da data do depésito, prorrogavel Por 3 periodos sucessivos de 5 anos cada. 6. Invengao A invengao consiste na criagao de coisa nova, suscetivel de aplicagio industrial. Seus requisitos s4o a novidade, a industriabilidade e a atividade inventiva. Considera-se novo 0 que nao esteja compreendido no estado da técni- ca. O estado da técnica é tudo aquilo que ja foi feito, usado ou divulgado, em qualquer ramo e em qualquer parte do mundo, antes da data do depd- sito do pedido de patente. A industriabilidade consiste na Possibilidade de produgao para o consumo. A atividade inventiva corresponde a criatividade. Nao basta produzir coisa nova. E necessario também que essa coisa nova no seja apenas uma 1.0 chamado pipeline. As patentes expedidas no exterior, referentes a certos itens, como medicamentos e alimentos, antes ndo patentedveis no Brasil, podem ser reconhe- Cidas no Pais, pelo tempo restante de validade que teriam no pais de origem, até o limite de 20 anos, desde que haja requerimento nesse sentido dentip de um ano da publicagao da lei (art. 230), A palayra inglesa pipeline quer dizer oleoduto, ao pé da letra, mas é empregada, Aqui, com o significado de extensao ou encompridamento, de um ponto até outro, Exten. so da validade de uma patente do exterior Para dentro do territério brasileiro, segundo os critérios estabelecidos nos arts, 230 a 232. PROPRIEDADE INDUSTRIAL 25 decorréncia evidente do estado da técnica, ao alcance de qualquer técnico da especialidade. A “nao evidéncia”, ou.a nao decorréncia evidente do estado da téc- nica, é avaliada, entre outros critérios, pela utilizagao de técnicas radical- mente diferentes, pela ruptura de métodos tradicionais, pela vitoria sobre um preconceito, pela dificuldade vencida, pela engenhosidade, pelo resul- tado imprevisto, pela originalidade etc. Novidade REQUISTLOS | jndastrinbiidade sab 3B eevkanbo [estutdaextivensivas colle Sao patentedveis os produtos novos e os processos novos, bem como a aplicagdo nova de processos conhecidos. Também podem ser patentea- das as justaposigdes, meios ou 6rgaos conhecidos, a simples mudanga de forma, proporgdes, dimensdes ou de materiais, se disso resultar, no con- junto, um efeito técnico novo ou diferente. Agora podem também ser patenteados produtos alimenticios, quimi- cos e farmacéuticos. : Os programas de computador sao protegidos por lei especial, Lei 9.609, de 19.2.98 (Lei do Software): Nao sao patentedveis descobertas, teorias cientificas, métodos mate- maticos, concep¢6es abstratas, regras de jogo, técnicas € meétodos ‘opera- térios ou cirtrgicos, métodos terapéuticos ou de diagnéstico, 0 todo ou parte de seres vivos naturais, materiais biolégicos encontrados na natureza € outros itens arrolados no art. 10 da Lei 9.279/96. A descoberta, por mais importante que seja, nao é patentedvel, Por ndo ser cria¢ao na acepgAo da lei, mas revelago de produto ou lei cienti- fica ja existente na natureza. Pode-se, contudo, patentear algum Processo para a utilizagdo industrial da coisa descoberta. Como tefere Jean-Michel ‘Wagret, a descoberta da flora microbiana nao podia ser patenteada, mas em compensa¢ao Pasteur patenteou validamente a fabricagac de vinagre por fermentagao bacteriana de vinho, bem como a fabricagao asséptica de cerveja (Brevets d'Invention et Propriété Industrielle, p. 24), Exemplos de inveng4o: uma nova maquina para debulhar milho; um novo tipo de lubrificante; um novo aparelho economizador de gasolina; um novo carburante composto; um novo processo para amaciar madeira; um novo processo para fabricagao de aluminio ete. 26 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL 7. Modelo de utilidade. Considera-se modelo de utilidade a modificagao de forma ou disposi- G40 de objeto de uso pratico ja existente, ou parte deste, de que resulte uma melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricagao. Em outras palavras, modelo de utilidade é um aperfeigoamento uti- litdrio de coisa ja existente ou de sua fabricagdo. Seus requisitos sio a novidade de forma, de disposigao ou de fabricagao, a industriabilidade e a atividade inventiva. Exemplos de modelo de utilidade: um novo modelo de enfiador de agulhas; um novo tipo de cabide de roupas; uma cadeira desmontavel; um novo modelo de fossa séptica, com trés cAmaras de decantag’o; um novo modelo de brinco, facilmente adaptavel 4 orelha; um novo grampo para cabelo; uma privada portatil; um novo suporte para ferros elétricos, mantendo-os com sua superficie para cima, perfeitamente estabilizados, podendo também funcionar como um fogareiro elétrico; um novo tipo de churrasqueira etc. 8. Desenho industrial Nos termos da Lei 9.279/96, o desenho industrial passou a abranger dois tipos de criagdes, englobando nao sé 0 desenho industrial propriamen- te dito, como, também, 0 que na lei anterior se chamava “modelo indus- trial”. Existem agora, portanto, duas modalidades de desenho industrial. A primeira modalidade, ou desenho industrial propriamente dito, re- fere-se 4 combinagao de tragos, cores ou figuras a serem aplicados a um objeto de consumo, com resultado ornamental caracteristico. Os requisitos do desenho industrial (nas duas modalidades) sao a no- vidade relativa, a industriabilidade e a atividade inventiva. Exemplos de desenho industrial da primeira modalidade: um novo estampado de tecidos; novo desenho original para caixas de acondiciona- mento de fraldas para bebés, ornadas nas testas superiores por quatro be- bés em posigdes distintas; nova ornamentacio aplicavel a cabos de colhe- res, garfos e facas; um novo desenho de rétulo para caixas de brinquedos; um copo-ornamentado com desenhos gravados; um novo desenho de pa- péis de embrulho para presentes; desenho de uma embalagem, com dizeres e gravuras etc. A segunda modalidade de desenho industrial (que na lei anterior se cha- mava modelo industrial) é uma modificagao de forma de objeto ja existente, 86 para fins ornamentais. E um aperfeigoamento plastico ormamental. PROPRIEDADE INDUSTRIAL a Exemplos de desenho industrial da segunda’ modalidade (antigo modelo industrial): um novo modelo de vestido; um novo modelo de au- tomovel; um novo modelo de frasco para perfumes; uma nova caixa de bombons; um novo conjunto de puxadores para portas e gavetas; um novo modelo ornamental de garrafa ou vasilhame, com hexagonos salientes en- trelagados; uma nova configuragao para biscoitos; um tipo de suporte or- namental para ampadas elétricas; um sabonete infantil com a forma de um grilo; uma nova grade ou uma nova lanterna de automével etc. O desenho industrial, nas suas duas modalidades, nado é mais objeto de patente, cabendo agora apenas o seu registro (arts. 109 e 236). Invengdo — coisa nova industrializavel Here aperfeigoamento utilitario CRIAGOES, Primeira modalidade: tragos, cores ou ea figuras omamentais pererle 4 Segunda modalidade: aperteigoamento plistico omamental (antigo modelo industrial) 9, Ditvidas na classificagéo das criagées ‘As vezes nao é facil determinar em que categoria deve ser colocada uma criag&o. Em razo dessas possiveis dividas, permite a lei que o INPI proceda 4 adaptacaio do pedido, de acordo com a sua natureza correta, quando for 0 caso (art. 35, II). Patenteou-se, por exemplo, um novo desenho de rastro de pneuma- tico como desenho industrial. Parece, porém, que a classificagao correta seria modelo de utilidade, por nao ser uma alteracao linear ou plana, nem ornamental, mas utilitaria, para melhorar 0 agarramento do pneu ao solo, Paolo Greco refere a possibilidade da existéncia de desenhos com funcao estritamente utilitéria e nio ornamental que também deveriam ser protegidos, através de uma interpretac&io extensiva, como um quadro com letras de yarias cores, para aferir mais rapidamente a visdo ou para facilitar operacées aritméticas (Lezioni di Diritto Industriale, p. 259). 10. O “design” A expressao desenho industrial pode referir-se também a uma outra atividade humana, ligada 4 criatividade em geral na industria. 28 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL O profissional do desenho industrial (designer) nao se limita a criar tragos ou formas omamentais, no sentido estrito que a lei dé ao desenho industrial. Conforme ensina Gui Bonsiepe, “como disciplina que Participa do desenvolvimento dos Produtos, o Desenho Industrial ocupa-se dos proble- mas de uso, da fungaio (no sentido de funcionamento), da Pprodugao, do mercado, da qualidade e da estética dos Produtos industriais” (Teoria y Practica del Disefio Industrial, p. 29), A area do desenhista industrial é a forma, a fun¢do'e 0 ctisto dos pro- dutos, sem esquecer 0 aspecto visual. Para o desenho industrial, ou design, © homen nao é um Consumidor, mas um usuario. Dai também a sua preo- cupagao com o ambiente ¢ com a ecologia. A teoria do desenho industrial condena a versio denominada “esti- lismo”, ou stylling, que’ consiste em modificagdes superficiais do produto, Para dar a ilus%o de originalidade e aperfeigoamento, aumentando even- tualmente o valor de troca, mas nao 0 valor de uso. Exceto, naturalmente, €m certos ramos, em que 0 estilo é tudo, como no ramo da moda. O designer tanto Pode projetar uma maquina agricola como desenhar um rotulo ou inventar uma nova aplicagao para uma tinta fabricada por seu cliente. O seu trabalho consiste na elaboragiio dos mais variados projetos aplicados a produgao moderna, Portanto, do trabalho do designer pode eventualmente resultar um in- vento, ou um modelo de utilidade, que os profissionais do setor chamam de “redesenho”, e até mesmo um. desenho industrial, no sentido da Lei de Patentes, composto de tragos ou formas plasticas ornamentais, 1. O “know-how” e 0 segredo de fibrica Existem certas criagées ou conhecimentos que permanecem 4 mar- gem da propriedade industrial, ou por n4o serem patentedveis, ou porque ao detentor nao interessa a patente. Entre estes esto 0 know-how e 0 se- gredo de fabrica. Jean-Marc Mousseron define 0 know-how ou savoir-faire como sendo “o conhecimento técnico nao Patenteado, transmissivel, mas nao imediata- mente acessivel ao piblico” (apud Chavanne e Burst, Droit de la Propriété Industrielle, p. 173). O segredo de fabrica Possui a mesma natureza do know-how, mas tem sentido mais estrito, por se referir a um processo industrial. Ambos sao Pprotegidos por meio de cldusulas contratuais especificas, bem como por sangdes penais e civis. PROPRIEDADE INDUSTRIAL 29 OVINPI fara 0 registro dos contratos que impliquem transferéncia de tecnologia, contratos de franquia e similares para produzirem efeitos em relagdo a terceiros (art. 211). 12. Marcas Marca é um sinal distintivo capaz dé diferenciar um Produto ou um servigo de outro. Seu requisito basico éa novidade, no sentido de origina- lidade e nao colidéncia ou semelhanga com marcas anteriores. A marca pode ser nominativa, se composta Por palavras, ou figurati- va, se composta por simbolos, emblemas e figuras. E sera mista se com- Posta por palavras e figuras. A marca de produto ou servico 6 aplicada para individualizar cada produto ou servigo. A marca de certificagGo & dada por certos institutos Para atestar determinada qualificagio de produto ou servigo, como 0 selo INMETRO (do Instituto Nacional de Metrologia) ou o selo ISO. A marca coletiva é a que pode ser usada pelos produtores ow pres- tadores de servigos ligados a determinada entidade, associagao ou coo- perativa. A protecao da marca opera-se pelo registro, valido por 10 anos, da data do registro, prorrogaveis por periodos iguais e sucessivos. A protegdo nao é geral, mas limitada a classes, dentro das atividades efetivas dos requerentes. Marcas famosas, porém, nacional ou internacionalmente, tém prote- ¢4o especial na sua classe, mesmo sem Tegistro (art. 126) (caso em que a lei as chama de “notoriamente conhecidas”). E tém protec’io em todas as classes, se houver registro (art. 125) (caso em que a lei as chama de “mar- cas de alto renome”). Na ess€ncia, marca notoriamente conhecida e marca de alto renome sao a mesma coisa. A distin¢4o, ou a nomenclatura diferente, fica por con- ta de uma ou de outra situagaio administrativa, perante o INPI. A marca notoriamente conhecida é uma marca famosa que nao tem registro, sendo protegida, mesmo assim, dentro da sua classe. A marca de alto renome é uma marca famosa que tem registro, sendo entiio protegida em todas as classes. As marcas de servigo gozam também de Pprote¢ao especial, dentro de seu ramo de atividade, independentemente de registro (art. 126, § 12), 0 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL Ha possibilidade de convivéncia de marcas idénticas, desde que atuantes em segmentos mercadolégi isti 2 aise 6gicos distintos (TRF-22 Reg., RT nominativa (palavras) Jigurativa (figuras, simbolos, emblemas) ‘mista (palavras e figuras) de produto ou servigo de certificagao (INMETRO, ISO etc.) coletiva (usada por membros de associagbes ‘ou cooperativas) notoriamente conhecida (sem registro, Protegdo na sua classe) de alto renome (tém registro. Proteco todas as classes) ae MARCAS 13. Cultivares A Lei 9.456/97? instituiu a protecao da propri i cultivares, em prazos de 15.a 18 anos, nade intelectual dos Cultivares séo espécies novas de lant i ferae ara plantas, obtidas por pesquisadores Os cultivares podem ser registrados no Registro Nacional de Culti- vares/RNC, junto ao Ministério da Agri Sri . (L 10.711/2003, art. 10). sricultura, Pecuétia ¢ Abastecimento 14. Crimes contra a propriedade industrial ‘ A Lei 9.279196 estabelece crimes contra as patentes, desenhos in- lustriais, marcas, indicagdes geograficas e de concorréncia desleal. Em regra, a acdo penal é pri 6 F > 183e sae Penal € privada, s6 se procedendo mediante queixa (arts. 2, Regulamentada pelo D 2.366, de 5.1 1.97, 3. Sobre a aco penal nos cri 9 ne Braves Pana 's40 penal nos crimes contra a propriedade imaterial, ver Resumo de Capitulo IIT SOCIEDADES EMPRESARIAIS PRIMEIRA PARTE — RESUMO 1. Introdugdo. 2. Caracteristicas gerais. 3. Classificacao das sociedades no Cédigo Civil. 4. O nome. 5. Firma ou razéo social. 6. Denominagdio social. 7. Titulo de estabelecimento, 8. A protegéio do nome empresarial. 9. O emprestirio individual. 10. Sociedade em nome coletivo. 11. Sociedade em comandita simples. 12. Sociedade de capital e indistria, 13. Socieda- de em conta de participagdo. 14. Sociedade limitada. 15. Empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI). 16. Sociedade anénima ou compa- mhia: 16.1 Caracteristicas ~ 16.2 Titulos emitidos pela sociedade anonima ~ 16.3 Os acionistas ~ 16.4 Orgaos da sociedade andnima. 17. Sociedade em comandita por agdes. 18. Sociedade em comum (irregular ou de fato). 19, Modificagées na estrutura das sociedades. 20. Interligagoes das socieda- des. 2]. Microempresas e empresas de pequeno porte. 22. Quadro geral das sociedades empresariais. 23. Quadro geral do comércio individual 1. Introdugéo A sociedade constitui-se através de um contrato entre duas ou mais pessoas, que se obrigam a combinar esfor¢os ou recursos para atingir fins comuns. O que mais diferencia as sociedades comerciais umas das outras éa forma de responsabilidade de seus sécios, pois, conforme o tipo de so- ciedade, respondem eles ou nao com os seus bens particulares pelas obri- gagdes sociais. Outro ponto de distingao entre os diversos tipos de sociedades comer- ciais é a formagao do nome. Por isso, com excegao da sociedade anénima, que é mais complexa e exige maiores detalhes, vamos concentrar nosso estudo nestas duas caracteristicas essenciais das sociedades: a responsabi- lidade dos sécios e a formagao do nome. 32 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL 2. Caracteristicas gerais O quadro abaixo resume as caracteristicas gerais da sociedade empre- sarial. I — Constitui-se por contrato, entre duas ou mais pessoas; TI — nasce com o registro do contrato ou estatuto no Registro do Comércio, a cargo das Juntas Comerciais; III — tem por nome uma firma (também chamada razio social) ou uma denominacao; TV — extingue-se pela dissolugdo, por expirado o prazo de dura- ¢4o ajustado, por iniciativa de sécios, por ato de autoridade, pela falta de pluralidade de sécios! etc.; V— é uma pessoa (pessoa juridica), com personalidade distinta das pessoas dos sécios; VI — tem vida, direitos, obrigagdes e patriménio préprios; VII — érepresentada por quem o contrato ou estatuto designar; VIII — empresaria é a sociedade e nfo os sécios; IX — 0 patriménio é da sociedade e nao dos sécios; X — responde sempre ilimitadamente pelo seu passivo; XI— pode modificar sua estrutura, por alteragdo no quadro social ou por mudanga de tipo; XII — a formagiio do nome da sociedade e a responsabilidade dos s6cios variam conforme o tipo de sociedade; XIII — classifica-se em “sociedade de pessoas” quando os sdcios sio escolhidos preponderantemente por suas qualidades pessoais, ou “sociedade de capital” quando é indiferente a pessoa do sécio, como na sociedade an6nima; XIV-— € nacional a sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira e que tenha no Pais a sede de sua administra- g&o (art. 1.126, CC); XV — nas empresas jornalisticas e de radiodifusio sonora e de sons e imagens so pode participar capital estrangeiro até 0 limite de 30% (art. 222 da CF). 1. Nao ocorreré a dissolugdo da sociedade comercial pela falta de pluralidade de sécios, se 0 socio remanescente pedir a transformacao da antiga sociedade em Empresa Individual de Responsabilidade Limitada-EIRELI ou em empresério individual, no prazo de 180 dias (art. 1.033, IV e pardgrafo tnico, do CC). SOCIEDADES EMPRESARIAIS. 33 3. Classificagao das sociedades no Cédigo Civil Nos termos do Codigo Civil, as sociedades dividem-se em sociedades no personificadas e sociedades personificadas. Sociedades nao personificadas so as que nao tém personalidade juri- dica, a sociedade em comum e a sociedade em conta de participagao. Sociedade em comum é sociedade irregular ou de fato, ou ainda em for- magio, nao possuindo o registro competente. Os sécios, no caso, respondem solidaria e ilimitadamente pelas obrigagées sociais (art. 990, CC). A sociedade em conta de participagdo é a que possui um sécio ocul- to, que no aparece perante terceiros, e um sécio ostensivo, em nome do qual sao realizadas todas as atividades (art. 991, CC). Sociedades personificadas sao as que adquirem personalidade juri- dica propria, distinta da dos sécios. Nesta categoria esto as sociedades simples, as cooperativas ¢ as sociedades empresariais. Sociedades simples sao as dedicadas a atividades profissionais ou téc- nicas, como sociedades de arquitetura ou sociedades contabeis (art. 997, CC). Equivalem as sociedades civis do Cédigo anterior. Podem assumir forma empresarial (art. 983, CC). Cooperativas sao sociedades (ou associagdes) sem objetivo de lucro, constituidas em beneficio dos associados, podendo operar em qualquer gé- nero de atividade. Regulam-se pela Lei 5.764, de 16.12.71. Sao sempre consideradas como sociedades simples, qualquer que seja seu objeto (art. 982, paragrafo tnico, CC). Sociedades empresariais sio as que exercem atividade econémica or- ganizada, para a produgio ou a circulagao de bens ou de servigos. Incluem a indistria, 0 comércio e o setor de prestagfo de servi¢os (art. 966, CC), podendo abranger também a atividade rural (art. 971, CC). Nesta classe esto a sociedade limitada, a sociedade em nome coletivo, a sociedade em comandita simples, a sociedade anénima ou companhia e a sociedade em comandita por agées. As associagées sao pessoas juridicas formadas pela uniao de pessoas que se organizam para fins nado econémicos, em atividades culturais, reli- giosas, recreativas, esportivas etc. 34 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL No personifiening | 8OC6dazD ein Sony (Sem personalidade { _ (irregular ou de fato) Juridica propriay | | 8°cvedade em conta de participagao (6 10 oculto, sdcio ostensivo) Sociedade simples (atividade técnica ou profissional) SOCIEDADES soc, em nome coletivo Soc. em comandita Personificadas simples (com personalidade< sociedade Soc. limitada Juridica prépria) empresarial | soc. anénima soc. em comandita por agdes (comércio, indistria, servigos) cooperativa 4. Onome 5 A sociedade tem Por nome uma firma (também chamada razdo so- cial) ou uma denominagdo social. Ea lei, em cada caso, que determina quando devemos usar uma ou outta, conforme 0 quadro abaixo, so PODE USAR PODEM USAR, TANTO A ‘ DENOMINACAO | PENOMINACAO Como | SOPODEM USAR RAZAO SOCIAL RAZAO SOCIAL Sociedade anénima ' | Sociedade limitada ‘Soc. em nome coletivo Soc. em comandita por agaes | Soc. em comandita simples 5. Firma ou razéo social A firma ou razao social deve ser formada por uma combinagao dos er formada pelos nomes de todos os ente, Mas, se for omitido o nome de far “& Cia.”, por extenso ou abrevia- Sécios, de varios deles, ou de um som um ou mais sécios, deve-se acrescent: damente. Digamos que José Pereira, Manuel Gongalves e Abilio Pei i es reita, lio Peixoto organi- Zaram uma sociedade do tipo em que se deve empregar firma ou razao so- cial. O nome da sociedade poderd, entiio, ser formado da Seguinte maneira: SOCIEDADES EMPRESARIAIS 35 PEREIRA, GONGALVES & PEIXOTO JOSE PEREIRA & CIA. GONGALVES, PEREIRA & CIA. A. PEIXOTO & CIA. etc. Uma ultima observaca firma ou razao social é no sé 0 nome, mas também a assinatura da sociedade. Assim, o José Pereira, sdcio-ge- rente da empresa acima mencionada, ao emitir um cheque, langaré nele a assinatura coletiva (Goncalves, Pereira & Cia.) e nfo a sua assinatura individual. 6. Denominagéo social Na denominacao social nao se usam os nomes dos sécios, mas uma expresso qualquer, de fantasia, indicando facultativamente o ramo de ati- vidade, como, por exemplo, Tecelagem Moinho Velho Ltda. Poder-se-4 usar até um nome proprio, de gente, sem que isso signifi- que, contudo, que exista no quadro social um sécio com esse nome. Ex.: Fiagao Augusto Ribeiro S/A. Neste caso 0 nome préprio representa ape- nas uma homenagem a um fundador da empresa, ou a outra pessoa grada, equiparando-se ao nome de fantasia. Ao contrario da firma ou raz&o social, a denominagao é sé nome, nao podendo ser usada como assinatura. Assim, ao emitir um cheque, em nome da sociedade, o s6cio-gerente lancard a sua assinatura individual, como representante da sociedade. 7. Titulo de estabelecimento O “titulo de estabelecimento” é o nome que se dA ao estabelecimento comercial (fundo de comércio), ou a um local de atividades. E nome de coisa, e ndo de pessoa natural ou juridica. Nao se confunde, portanto, o nome da sociedade com 0 titulo do estabelecimento. titulo de estabelecimento pode também ser considerado como um apelido ou cognome da empresa. Exemplos de titulo de estabelecimento: Livraria Sao Tomé, Esquina das Batidas, O Beco das Loucuras etc. Microempresa (ME) e empresa de pequeno porte (EPP). A micro- empresa acrescentara ao seu nome a expresstio “Microempresa”, ou abre- viadamente “ME”, como, por exemplo, Livraria Camdes Ltda. ME. E a empresa de pequeno porte acrescentard a sua qualificagaio por extenso, ou 36 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL abreviadamente “EPP”, como, por exemplo, Fabrica de Correntes Astro. Ltda. EPP. Ver, adiante, o item 20, 8 A protecao do nome empresarial A protecao ao nome comercial realiza-se no ambito das Juntas Co- merciais e decorre automaticamente do arquivamento dos atos constitu- tivos de firma individual ¢ de sociedades, ou de suas alteragdes (art. 33 da L 8.934/94, que dispde sobre 0 Registro Piblico de Empresas Mer- cantis), Nao podem ser arquivados os atos de empresas com nome idéntico ou semelhante a outra j4 existente (art. 35, V, da L 8.934/94).3 Na esfera penal o nome comercial ¢ 0 titulo de estabelecimento sao protegidos pela Lei de Patentes (L,9.279/96, art, 195,.V).4 9. O empresério individual Embora estejamos tratando das sociedades, cabe a observacao de que © comerciante individual tem de usar necessariamente firma ou ra- zo individual, formada com o nome pessoal do titular. O nome do em- seus bens particulares. O empresdrio individual nao constitui pessoa juridica, nao havendo, Portanto, separacao entre o patriménio pessoal do titular e 0 patriménio da empresa, ou entre dividas Pessoais e dividas da empresa. Portanto, © empresario individual nao pode ser confundido com a Empresa Indi- vidual de Responsabilidade Limitada-EIRELI, que ser estudada logo mais adiante. Apenas para fins tributarios, tem-se empregado a expresso “pessoa Juridica” (impropriamente) para designar a parte do Patriménio individual aplicado na empresa. Mas, no caso de execucdo, serao penhorados todos os bens do titular, e nao somente os aplicados no seu comércio, 2. L 11.307/2006; LC 123, de 14.12.2006. 3. Ver tb. art. 5°, XXIX, da CF e arts. 927 e ss. do CC (responsabilidade civil). 4. Art. 195, V, da L 9.279/96: “Comete crime de concorréncia desleal quem usa indevidamente nome comercial, titulo de estabelecimento ou insignia alheios (...)”. SOCIEDADES EMPRESARIAIS 37 FIRMA OU RAZAO INDIVIDUAL = nome e assinatura (formada com o nome do titular da empresa individual) Exemplo: J. Pereira FIRMA OU RAZAO SOCIAL = nome e assinatura (formada com os nomes dos sécios da sociedade) O NOME Exemplo: Pereira, Gongalyes & Cia, Snead DENOMINACAO = s6 nome (formada por uma expressao de fantasia) Exemplo: Tecelagem Moinho Velho Ltda. TITULO DE ESTABELECIMENTO = apelido Exemplo: Esquina das Batidas 10. Sociedade em nome coletivo Neste tipo de sociedade todos os sécios respondem ilimitadamente com os seus bens particulares pelas dividas sociais. Se a sociedade nao sal- dar seus compromissos, os sécios Ppoderao ser chamados a fazé-lo. O nome 86 pode ter a forma de firma ou razao social. E a primeira modalidade de sociedade conhecida, ¢ costuma ser cha- mada também de sociedade geral, sociedade solidaria ilimitada ou socie- dade de responsabilidade ilimitada. Apareceu na Idade Média e compu; nha-se a principio dos membros de uma mesma familia, que sentavam mesma mesa e comiam do mesmo pao. Dai surgiu a expressio ““& Companhia” (do Latim er cum pagnis, ou seja, 0 pai de familia ¢ os seus, que comiam do mesmo pao). E usava uma assinatura s6, coletiva e valida para todos (um por todos, todos por um), sendo esta a origem da firma ou razio social. Responsabilidade: ilimitada, de todos os s6cios 1 EM 2 NOME COLETIVO. | Nome: ma ou rao social (compasta com o nome pessoal de um ou mais sécios) (+ & Cia.) 11. Sociedade em comandita simples Nesta sociedade existem dois tipos' de sdcios: Os comanditdrios ou capitalistas respondem apenas pela integralizagao das cotas ‘Subscritas, prestam s6 capital e nao trabalho, e no tém qualquer ingeréncia na admi- nistragao da sociedade, E os s6cios comanditados (que melhor seriam chamados de “coman- dantes”), além de entrarem com capital e trabalho, assumem a diregao da empresa e respondem de modo ilimitado perante terceiros. 38 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL x A firma ou razdo social sé podera ser composta com os nomes dos sécios solidérios (comanditados). Se, por distragéo, o nome de um sécio comanditario figurar na razio social, este se tornara, para todos os efeitos, um socio comanditado, Referem os autores que a sociedade em comandita teve origem na comenda ‘maritima, em que 0 proprietario de um navio se langava em negécios além-mares, aplicando capital de outrem. limitada do sécio Responsabilidade 4, omanditério SOCIEDADE EM FO lnnitaas do see COMANDITA SIMPLES gomnditado, Nome: firma ou razao social (composta sé com 0s nomes dos sécios comanditados) 12. Sociedade de capital e industria ’ A Sociedade de capital e industria nao foi mencionada no Cédigo Ci- vil de 2002, deixando de existir, portanto, como tipo’ de sociedade. Nada impede, porém, que se adote a mesma estrutura interna, entre os 56¢i08 numa sociedade em conta de Participagao. ‘ b A sociedade de capital e industria era integrada pelo sécio capitalista, que entrava com o capital e respondia pelas obrigagées sociais. O sécio de indiistria entrava apenas com o seu trabalho ou conhecimentos, e por nada Tespondia perante terceiros, 13. Sociedade em conta de ‘participagdo A Sociedade em conta de participagao, chamada de “conta da metade” no Direito portugués, nao é uma Sociedade como as outras, pois na ver- dade nao Passa de um contrato para uso interno entre os sécios. S6 existe entre os sécios e nao aparece perante terceiros. Nao tem nome nem capital. Nao tem personalidade Juridica. Nem sede, nem estabelecimento. ’ uy Ha ne 2 io ostensivo, em nome do. qual sao feitos os negécios, e um Socio oculto (“participante”, cf. arts. 991 ¢ ss, CC : y » Cf. arts, - CC) que nao ay terceiros. ra Bde i OsrAeo St. B resolvem empreender uma série de negécios em so- ciedade. Por motivos varios, porém, nao Ihes interessa constituir uma em- Presa comercial com nome proprio. Assim, fazem entre si um contrato de Sociedade em conta de Participagao, estabelecendo que os negécios serio SOCIEDADES EMPRESARIAIS 39 todos feitos em nome de A, que é empresdrio, enquanto B nao aparecera perante terceiros. E uma sociedade oculta, mas nao irregular ou ilegal, pois é admitida pela lei. O sécio ostensivo tera que ser um empresario, que respondera perante terceiros. Pode ser constituida para a realizagdo de um negécio apenas, ou para toda uma série de negécios. Como observa Rubens Requiao, “é curiosa a sociedade em conta de participagdo. Ela nao tem razo ou firma; nao se revela publicamente, em face de terceiros; nao tem patriménio, pois os fundos do sécio oculto so entregues fiduciariamente ao sécio ostensivo que os aplica como seus (...) € uma sociedade regular, embora nao possua personalidade juridica” (Cur- so de Direito Comercial). E, como ensina De Placido e Silva, 0 “sécio ostensivo, isto é, aquele que contratar em seu nome individual, j4 por uma obrigacao imposta ao comerciante, deve registrar, regularmente, em sua escrita (livros comer- ciais) todas as operagées referentes 4 participagao em que figure como contratante e responsdvel”.> SOCIEDADE [ Responsabilidade: exclusiva EM CONTA DE. do sécio ostensivo PARTICIPACAO | Nome: no tem 14, Sociedade limitada Na sociedade limitada, cada cotista, ou sécio, entra com uma parcela do capital social, ficando responsavel diretamente pela integralizacao da cota que subscreveu, e indiretamente ou subsidiariamente pela integraliza- go das cotas subscritas por todos os outros sécios. Uma vez integralizadas as cotas de todos os sécios, nenhum deles pode mais ser chamado para res- ponder com seus bens particulares pelas dividas da sociedade. A responsa- bilidade, portanto, é limitada a integralizagao do capital social.® Imaginemos uma sociedade limitada entre A e B, com um capital de R$ 200.000,00, subscrevendo cada sécio uma cota de 100 mil. O sécio A integraliza, isto é, entrega efetivamente os 100 mil a sociedade. O sécio B, porém, embora tenha subscrito também 100 mil, integraliza apenas 50 mil. 5. Nogdes Prdticas de Direito Comercial, p. 197. 6..Na sociedade que envolva sécio incapaz, o capital social deve ser totalmente integralizado (CC art. 974, § 39). 40 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL Em caso de insolvéncia da sociedade, B tera que responder com os seus bens particulares por 50 mil. Mas se B nao tiver bens, nem sen ° qn pa- gar, 0 sécio A tera que cobrir 0 débito, pois na limitada um sécio ¢ fiador do outro pela integralizagao das cotas. COMERCIAL DE BAMBUS Y LTDA. CAPITAL 200 MIL. O sécio B responde por 50 mil, vez que nao os integralizou, Mas, se ele valor subscrito: nio os tiver, A tera de valor integralizado: oe cae gene fiador. valor a integralizar: FABRICA DE LEQUES Z LIDA. CAPITAL 200 MIL Nenhum dos dois sécios responde mais pelas dividas da sociedade, pois ambos integralizaram as ‘suas cotas. valor subscrito: € valor integralizado: valor a integralizar: Como ensina Joao Eundpio Borges, “se todas as cotas foram integra- lizadas, isto é, liberadas, pouco importa que a sociedade, falindo, dé inte- gral prejuizo a seus credores. O s6cio, como tal, nao pode ser compelido a qualquer outra prestagao suplementar” (Curso de Direito Comercial Ter- restre, p. 22). Uma observacao: cada sécio ou cotista da limitada tem apenas uma. cota, que poderd ser maior ou menor. A praxe de se atribuir nos contrat sociais varias ou intimeras cotas a cada sécio nao é de boa técnica juridica, embora isso no cause nenhum inconveniente ou prejuizo. © nome da sociedade por cotas pode ser formado por firma ou ra- Zao social (Pereira, Gomes & Cia. Ltda.) ou por denominagao (Padaria YZ Ltda.), sendo que neste ultimo caso a denominagao deve indicar o ramo SOCIEDADES EMPRESARIAIS 41 explorado (art. 1.158, § 22, CC).” Em regra, € preferivel usar denominagao, pois esta é mais duradoura que a raz4o social ou firma, que precisa ser al- terada cada vez que sair um sdcio cujo nome nela figure. Indispensavel € que, em todo ‘caso, se acrescente'sempre ao nome a palavra “Limitada”, por extenso ou abreviadamente (Ltda.). Se for omiti- da essa palavra, na raz4o social ou na denominagao, serao havidos como ilimitadamente responsdveis os sécios-gerentes e os que fizerem uso da firma social, criando-se, sem querer, uma sociedade geral ou em nome co- letivo. A sociedade por cotas de responsabilidade limitada pode ser alterada pelos sécios, deliberando-se pela maioria, baseada no valor do capital, se 0 contrato nao disser 0 contrario, podendo-se alterar clausulas, modificar a administragao, aumentar 0 capital, admitir novos sécios etc.® Responsabilidade: limitada a integralizagao do capital social SOCIEDADE RESCONGEBLIBEBE firma ou razo social (+ Ltda.) LIMITADA Nome ou denominagio (+ Ltda.) 15. Empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) € pes- soa juridica constituida por uma tnica pessoa (art. 980-A do CC). O capital deve ser necessariamente superior a 100 vezes 0 salario- -minimo e estar totalmente integralizado. O titular nado pode figurar con- comitantemente em mais de uma empresa individual de responsabilidade limitada. Apés'a firma ou a raz4o social constaré obrigatoriamente a ex- pressao “EIRELI”. Afora estas quatro exigéncias especiais, a EIRELI segue 0 regula- mento geral das sociedades \limitadas (veja 0 titulo anterior). 7. Para as microempresas e empresas de pequéno porte, porém, é facultativa a in- dicagao do objeto da sociedade (art. 72 da LC 123, de 14.12:2006, Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte). 8. Nao pode, porém, a maioria transformar.o objeto ou o tipo da sociedade (RT 695/98). Também nio pode a maioria alterar o contrato se houver cléusula restritiva (L 8.934/94, art. 35, VI). Na omissio do contrato, o sécio pode ceder suas cotas, total ou par- cialmente, a quem seja sdcio, independentemente de audiéncia dos outros, ou a estranho, se no houver oposigdo de titulares de mais de um quarto do capital social (art. 1.057, CC). 42 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL Este tipo de empresa pode ocorrer de modo origindrio, na sua consti- tuig&o inicial, ou por transformagao, quando acontecer a concentragéo de todas as cotas sociais de uma sociedade comercial nas maos de um tnico sécio. A transformagao deve ser requerida no Registro Publico de Empre- sas Mercantis. Por este mecanismo, qualquer espécie de sociedade: comercial (em nome coletivo, comandita simples, limitada, anénima, comandita por ages) pode se transformar em empresa individual de responsabilidade li- mitada. Portanto, nao ocorrerd a dissolugao da sociedade comercial pela falta de pluralidade de sécios, se 0 s6cio remanescente pedir a transformagéo da antiga sociedade em EIRELI ou em empresério individual, no prazo de 180 dias (CC, art. 1.033, IV, e paragrafo tinico). Responsabilidade: limitada ao capital social, TAT OE: que deve estar totalmente integralizado RESPONSABILIDADE H LIMITADA Nome { firma ou razio social (+ EIRELD) 16. Sociedade andnima ou companhia 16.1 Caracteristicas ‘A sociedade anénima ou companhia tem as seguintes caracteristicas: a) Grandes empreendimentos — por causa da sua estrutura pesada, a sociedade anénima destina-se apenas aos grandes empreendimentos. b) Minimo dois acionistas — no direito anterior 0 minimo era de sete acionistas. Caso curioso, e a estudar, é a subsididria integral (art. 251 da Lei das S/A°), que pode ter um acionista's6, 0 que aparentemente conflita com 0 conceito tradicional de sociedade. ©) Influi na economia politica ~-nas grandes sociedades andnimas abertas nota-se uma profunda alteracao na propriedade privada. O acionis- 1a minoritario da grande S/A é proprietario de uma parte da mesma, mas sobre ela tem um controle minimo. A administragao de sua propriedade nao Ihe pertence. Neste terreno desaparece 0 antigo jus utendi, fruendi.et abutendi do antigo Direito Romano (direito de usar, gozar e abusar do seu dominio) e surge 0 divércio entre a propriedade e a administragao da coisa. 9. Lei das S/A — L 6.404, de 15.12.76, com as alteragées da L 9.457/97 ¢ da L 10.303/2001. SOCIEDADES EMPRESARIAIS 43 Por outro lado, a expansao das S/A abertas contribui para a distribuigao da renda. d) Impessoalidade — ao contrario dos outros tipos de sociedade, visa- -se na S/A apenas ao capital, sem maiores preocupagdes com qualidades ou aptiddes pessoais dos acionistas. €) Divisdo do capital em agées — 0 capital social é dividido ou fracio- nado em pequenas partes rigorosamente iguais. f) E sempre empresarial — qualquer que seja seu objeto. g) Fechadas ou abertas — as sociedades anénimas sao como as es- fihas dos arabes. Existem as “fechadas” e as “abertas”. Nas abertas predo- minam a subscri¢gao publica e a democratizagao do capital. As abertas es- tao sob a fiscalizacio de um érgdo governamental chamado Comissdo de Valores Mobilidrios. As fechadas, ao contrario, nao langam as suas agdes ao plblico, e por isso permite a lei que tenham uma contabilidade e uma administragao mais simples. h) De capital determinado ou de capital autorizado — a $/A de capital determinado ou fixo constitui-se com o capital inteiramente subscrito. A de capital autorizado constitui-se com subscricdo inferior ao capital de- clarado nos estatutos, ficando, porém, a Diretoria com poderes prévios para efetuar oportunamente novas realizagdes de capital, nos limites da autori- zagio estatutdria, sem necessidade de permissdo da Assembleia Geral ou reforma dos estatutos. i) Nome — designa-se a sociedade anénima por uma denominacao, juntando-se antes ou depois do nome escolhido a expressao “Sociedade ‘Anénima”, por extenso ou abreviadamente (S/A), ou, ainda, antepondo-se a palavra “Companhia”, ou “Cia.”. Exemplo: Sociedade Anénima Tecelagem Sao Paulo S/A Tecelagem Sao Paulo Tecelagem Sao Paulo Sociedade Anénima Tecelagem Sao Paulo S/A Companhia Tecelagem Sao Paulo Cia. Tecelagem Sao Paulo Pode-se porém empregar na denomina¢ao um nome prdprio, do fun- dador ou de pessoa que se queira homenagear (Panificadora José Silva S/A). A denominagao deve indicar os fins sociais, ou 0 ramo explorado. 44 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL j) Responsabilidade dos acionistas ~ 0 s6cio da S/A tem adesignagao propria de acionista. Sua responsabilidade, em principio, é absolutamente limitada, restringindo-se a integralizagao das ag6es por, ele subscritas. Os acionistas controladores, porém, que sao majoritarios e que-usam efetivamente seu poder, bem como os administradores, poderdo responder pessoalmente pelos danos causados por atos praticados com culpa.ou dolo ou com abuso de poder (arts. 117, 158,159 e 165 da Lei.das S/A). ‘a). grandes empreendimentos b). minimo dois acionistas c)_influi na economia politica d) impessoalidade €) divisto do capital em agoes CARACTERISTICAS ) 9’ Esempre empresarial aR g) fechadas ou abertas h) de capital determinado ou de capital autorizado i) nome: denominagao (+ S/A ou Cia.) |) responsabilidade dos acionistas: limitada integralizagao das ages subscritas, mas/os acionistas controladores e os administradores respondem por abusos 16.2 Titulos emitidos pela sociedade an6nima a) Ages — as ages da S/A sao bens moveis e representam uma parte do capital social, a qualidade de sécio, ¢ sao também um titulo de crédito. Conforme a natureza dos direitos que conferem, as ages podem ser ordi- narias ou comuns, preferenciais e de gozo ou fruigdo, E, quanto a forma, podem ser nominativas, nominativas endossaveis, ao portador, escriturais e com ou sem valor nominal. Agées ordindrias ou comuns sao as que conferem os direitos comuns de sécio, sem restrigdes ou privilégios. Agées preferenciais so as que dao aos seus titulares algum privilé- gio ou preferéncia, como, por exemplo, dividendos fixos ou minimos, ou prioridade no recebimento dos dividendos. Contudo, em troca, tais agdes podem ser privadas de alguns direitos, como 0 de voto.}° Agaes de gozo ou fruigéo. As vezes, quando sobram lucros em caixa, pode a diregaio da S/A, ao invés de distribuir dividendos, resolver amorti- zar vim lote de ages, geralmente por sorteio, pagando o valor nominal aos 10, O nimero de ages preferenciais ndo pode ultrapassar 50% do total das agdes emitidas (art. 15, § 2°, da L 6.404/76). SOCIEDADES EMPRESARIAIS 45 seus titulares, Em seguida permite-se que aqueles antigos titulares adqui- ram outras ages, em substituigao. Estas Uiltimas so as de gozo ou fruigao. Nao representam 0 capital da empresa, e terdo apenas os direitos que fo- rem fixados nos estatutos ou na Assembleia. Agées nominativas s40 aquelas em que se declara o nome de seu proprietario. Sao transferidas por termo lavrado no Livro de Registro de Agoes Nominativas, recebendo 0 cessionario novas agées, também com a indicagao de seu nome. As agoes de certas empresas, como as jornalisticas e de radiodifusio, s6 podem ser nominativas.'! Agées nominativas endossdveis trazem também o nome de seu pro- prietario. Mas podem ser transferidas por simples endosso passado no ver- so ou no dorso da agao. Agées ao portador sio as que nao tém declarado no seu texto o nome do seu titular. Sua transferéncia opera-se pela simples tradigao manual. Na lei atual as ages ao portador nao dao direito a voto (art. 112 da Lei das S/A). Agées escriturais sao aquelas em que nao ha em isstio de certificado. So mantidas em conta de depésito, em nome de seus titulares, numa insti- tuigdo financeira, autorizada pela Comissao de Valores Mobiliarios. Conversibilidade das agdes. As agdes podem ser convertidas de um tipo em outro, nos termos do estatuto, como, por exemplo, de ao portador em nominativas, ou de ordindrias em preferenciais, ou vice-versa (art. 22). O valor das agées. O valor das agoes pode ser considerado sob trés aspectos. Temos primeiramente 0 valor nominal, estabelecido pela S/A, sendo que a lei atual permite a emissdo de agdes sem valor nominal. Te- mos também o valor de mercado, que € 0 alcangado na Bolsa ou no Bal- cio. E ainda o aspecto do valor patrimonial ou real, em que sé calcula 0 acervo econémico global da companhia em relagdo ao numero de acdes emitidas. Outro aspecto pode ser 0 valor econémico, que € a capacidade da S/A de gerar lucro. b) Partes beneficidrias — sao titulos negociaveis, sem valor nominal, ¢ estranhos ao capital social. Dao direito de crédito eventual, consistente na participagao dos lucros anuais, até o limite de 10% (art. 46).'? c) Debéntures — sio titulos negocidveis que conferem. direito de crédi- to contra a sociedade, nas condigdes estabelecidas no certificado (art. ae) 11.A partir da L 8.021/90, que alterou 0 art. 20 da Lei das S/A, no apenas as agdes de certas empresas, mas todas as ages, ‘de todas as companhias, devem ser nominativas. 12. As partes beneficidrias, as debéntures e os bonus de subscrigao devem ser nomi- nativos (arts, 50, 63 78 da L 6.404/76). 46 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL. Como ensina 0 mestre Romano Cristiano, “as partes beneficiarias e as debéntures sao titulos estranhos ao capital social; seus titulares so credo- res da empresa. S6 que 0 crédito relativo as partes beneficidrias é eventual: sera pago nos exercicios em que houver lucros, se tal situago se verificar. Ao passo que 0 crédito relativo 4s debéntures nao é eventual: no venci- mento, a debénture deverd ser resgatada pela companhia” (Caracteristicas e Titulos da S/A, p. 102). Em resumo, quem tem uma agdo é sdcio-proprietario da companhia. Quem tem uma parte beneficiaria é credor eventual, em relagdo aos lucros, se houver. E quem tem uma debénture é credor efetivo e incondicional. d) Bénus de subscrigdo — sao titulos negociaveis que conferem direito de subscrever agdes. Podem ser emitidos até o limite de aumento do capi- tal autorizado no estatuto (art. 168). Os bénus de subscri¢o podem ter a finalidade de facilitar a venda de agdes ou de debéntures, contribuindo, em todo caso, para uma melhor programacao do aumento de capital (cf. Romano Cristiano, ob. cit., pp. 134. 137). : ordindrias Quanto a natureza | preferenciais de goz0 ou fruigtio nominativas'? nominativas endossaveis a0 portador escriturais com valor nominal sem valor nominal Acées TITULOS DA S/A Quanto a forma Partes beneficiérias Debéntures Bénus de subscrigéo 16.3 Os acionistas Acionista comum ou ordindrio € 0 que tem direitos ¢ deveres comuns de todo acionista. Tem o dever de integralizar as agdes subscritas (art. 106), de votar no interesse da companhia (art. 115) etc. Tem direito a di- 13.A partir da L 8.02/90, que alterou o art. 20 da Lei das S/A, todas as ages devem ser nominativas. As companhias abertas nfo podem emitir partes beneficidrias (art. 47, pardgrafo tinico, da L 6.404/76, na redagdo da L 10.303/2001). ; SOCIEDADES EMPRESARIAIS 47 videndos (participagio proporcional nos lucros), a bonificagdes (com base na reavaliagao do ativo). Tem também 0 direito de fiscalizar, de participar do acervo em caso de liquidagao, de ter preferéncia na subscrigao dos titu- los da sociedade ete. Acionista controlador é a pessoa fisica ou juridica que detém de modo permanente a maioria dos votos ¢ 0 poder de eleger a maioria dos administradores, e que use efetivamente esse poder (art. 116). Tem os mes} mos direitos e deveres do acionista comum. Mas responde por abusos pra- ticados (art. 117). ‘cionista dissidente 6 0 que no concorda com certas deliberagdes da maioria, como a criagdo ou alteracao de agdes preferenciais, a modificagao do dividendo obrigatério, a cisio! ou fusto de empresas etc. (art. 137). Tem o direito de se retirar da companhia (direito de retirada ou de recesso), mediante o reembolso do valor de suas ages, pelo valor patrimonial ou, conforme 0 caso, pelo valor de mercado ou pelo valor econémico (arts. 45 e 137). Acionista minoritario & aquele que nao participa do controle da com- panhia, ou por desinteresse ou por insuficiéncia de votos. O mestre Waldirio Bulgarelli define a minoria como sendo 0 acionista ou conjunto de acionistas que, na Assembleia Geral, detém uma participa- cao em capital inferior aquela de um grupo oposto (ob. cit., p. 24). Os meios genéricos de protegao da minoria encontram-se no elenco dos direitos essenciais de todos os acionistas, minoritarios ou nao, como © direito ao dividendo, a fiscalizago dos negocios sociais, 4 preferéncia na subscri¢4o dos titulos da companhia, 4 faculdade de convocar a Assem- bleia Geral quando os administradores nao o fizerem ete. Como meios especificos de proteg4o aos minoritarios podem ser apontados, por exemplo, os seguintes: a) direito de retirada ou de recesso (art. 137); b) direito de eleger um membro do Conselho Fiscal (art. 161, § 49, “a”); c) direito de convocar a Assembleia Geral (art. 123, paragrafo inico, “c”); d) dividendo obrigatério (art. 202); e) voto miltiplo (art. 141); f) direito de voto as agdes preferenciais se a companhia nao pagar dividen- dos por trés exercicios consecutivos (art. 111, § 19) ete. Refere Waldirio Bulgarelli que entre as medidas tomadas pelos controladores em desfavor dos demais acionistas situam-se, principalmen- te, a nao distribuigio de lucros, a elevada remuneracao dos diretores, 0 aumento do capital por subscrigdo, a alteracao estatutaria e a dissolugao, com especial destaque para a venda do controle (ob. cit., p. 111). 14. A cisto pura e simples ndo d4 mais direito de retirada ou recesso. Esse direito, na cisio, 86 permanece no caso de cistio de companhia aberta, em que a sucessora, depois, niio venha a ser também aberta (art. 223, §§ 3° 4%). 48 RESUMO DE DIREITO COMERCIAL. Acionista comum Acionista controlador Acionista dissidente Acionista minoritario ACIONISTAS 16.4 Orgdos da sociedade anénima a) A Assembleia Geral O poder supremo da companhia reside na Assembleia Geral, que é a teuniao dos acionistas, convocada e instalada de acordo com 05 estatutos, A Assembleia Geral tem poderes para resolver todos os negécios relativos ao objeto de exploracgao da sociedade e para tomar as decisdes que julgar convenientes 4 defesa e ao desenvolvimento de suas operagées, respeita- dos os termos da lei. Existem varios tipos de Assembleias. A Assembleia Geral Ordinéria (AGO) instala-se regularmente nos quatro primeiros meses seguintes ao término do exercicio social, para os assuntos de rotina, previstos no art. 132 da Lei das S/A, como tomar as contas dos administradores, deliberar sobre a distribui¢do dos dividendos etc. A Assembleia Geral Extraordindria (AGE) pode instalar-se em qual- quer época, sempre que houver necessidade, geralmente para o debate e votagdo de assuntos nao rotineiros, como, por exemplo, a reforma do esta- tuto (art. 131). Além dessas, existem também as Assembleias Especiais, em que se retinem apenas acionistas preferenciais, titulares de partes beneficidrias ou de debéntures, para o debate e votacdo de assuntos especfficos e privativos dessas classes (arts. 18, pardgrafo tinico, 51, §§ 12 € 28, 57, § 28,71, 136, § 19, 174, § 39, e 231). Assembleia Geral Ordindria (AGO) Assembleia Geral Extraordindria (AGE) ASSEMBLEIAS de acionistas preferenciais Assembleias | de portadores de partes Especiais beneficiarias de debenturistas b) A Administragao A administragao da companhia compete, conforme dispuser 0 estatu- to, a0 Conselho de Administracdo e a Diretoria, sendo que nas companhias abertas e nas de capital autorizado é obrigatéria a existéncia. do Conselho SOCIEDADES EMPRESARIAIS. 49 de Administragao (art. 138). As fechadas nao precisam ter 0 Conselho de Administragao. Esse Conselho é que fixa a orientagdo geral dos negécios e, entre outras atribuigées, elege e destitui os diretores, fixando-lhes as atribuigdes. E eleito e destituivel pela Assembleia Geral e compée-se de no minimo trés acionistas (art. 140). A Diretoria é composta por no minimo dois membros, acionistas ou nao, eleitos e destituiveis pelo Conselho de Administragao, ou, se este nao existir, pela Assembleia Geral (art. 143). No siléncio do estatuto, e inexis- tindo deliberagao do Conselho de Administragao, competirao a qualquer diretor a representago da companhia e a pratica dos atos necessarios ao seu funcionamento regular (art. 144).!5 c) O Conselho Fiscal E composto por no minimo trés e no maximo cinco pessoas, acionis- tas ou nao, eleitas pela Assembleia Geral. Entre varias outras atribuigdes, compete-lhe principalmente a fiscalizagdéo dos atos dos administradores (arts. 161 a 165). A existéncia do Conselho Fiscal é obrigatéria. Mas 0 seu funcionamento pode ser permanente ou apenas eventual, restrito aos exer- cicios em que for instalado a pedido de acionistas (art. 161). Assembleia Geral Ordinaria (AGO) Assembleia Geral Extraordinaria (AGE) 1. Assembleia de acionistas preferenciais Assembleias | de portadores de partes wat Especiais beneficidrias ORGAOS de debenturistas DAS/A Conselho de Administrago 2. Administragéo (coat 3. Conselho Fiscal 17. Sociedade em comandita por agées Rege-se a comandita por agdes pelas-normas relativas as sociedades an6nimas, com algumas modificagdes (art. 280 da Lei das S/A), e pelos arts, 1.090 a 1.092 do CC. 15. De acordo com a praxe, um dos membros da Diretoria sera o diretor-presidente.

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