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Sermão - Flávio Cardoso de Pádua
Sermão - Flávio Cardoso de Pádua
Campinas
2022
Uma certa dúvida me veio à mente enquanto eu meditava sobre alguns
versículos: existe alguma diferença entre ser e compreender quem sou? É possível
eu ser alguém e, ao mesmo tempo, não compreender que tipo de pessoa eu possa
ser?
Por meio de exemplos práticos, eu poderia afirmar que sim, pois várias vezes
comum, olhando para a parábola do filho pródigo (parábola que não será estudada
nesta ocasião), podemos notar que essa distinção existe realmente. Se observarmos
bem, o filho mais velho era muito rico, graças ao seu pai, porém, ainda assim, não
compreendia a riqueza que possuía. Por isso, segue-se como está escrito: “25 Ora, o
filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu
E ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o
recuperou com saúde. 28 Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém, o pai,
procurava conciliá-lo. 29 Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo
sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para
alegrar-me com os meus amigos; 30 vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os
teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado. 31 Então,
lhe respondeu o pai: Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu.
(Lucas 15:25-31). Com essa passagem, fica bem claro que é possível uma pessoa
desconhecer quem ela é, verdadeiramente. Sendo assim, até que ponto isso pode ser
prejudicial em nossa vida? Vamos abrir a palavra de Deus em Lucas 7:36-50, e ver o
com ele. Jesus, entrando na casa do fariseu, tomou lugar à mesa. 37 E eis que uma
mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou
um vaso de alabastro com unguento; 38 e, estando por detrás, aos seus pés,
beijava-lhe os pés e os ungia com o unguento. 39 Ao ver isto, o fariseu que o convidara
disse consigo mesmo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que
lhe tocou, porque é pecadora. 40 Dirigiu-se Jesus ao fariseu e lhe disse: Simão, uma
coisa tenho a dizer-te. Ele respondeu: Dize-a, Mestre. 41 Certo credor tinha dois
nenhum dos dois com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Qual deles, portanto, o
amará mais? 43 Respondeu-lhe Simão: Suponho que aquele a quem mais perdoou.
Replicou-lhe: Julgaste bem. 44 E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta
mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; esta, porém, regou os
meus pés com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. 45 Não me deste ósculo;
ela, entretanto, desde que entrei não cessa de me beijar os pés. 46 Não me ungiste a
cabeça com óleo, mas esta, com bálsamo, ungiu os meus pés. 47 Por isso, te digo:
perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a
quem pouco se perdoa, pouco ama. 48 Então, disse à mulher: Perdoados são os teus
pecados. 49 Os que estavam com ele à mesa começaram a dizer entre si: Quem é
este que até perdoa pecados? 50 Mas Jesus disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te
episódio de Abel e Caim. Caim, mesmo após o assassinato de seu irmão, conversa
com Deus como se ele não fosse um assassino, mas sim, um homem inocente: “Disse
o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei; acaso, sou eu
tutor de meu irmão?” (Gênesis 4:9). Não é certo afirmarmos que Caim havia se
esquecido de seu ato, mas podemos compreender que ele seguiu sua vida como se
aquele episódio nunca tivesse ocorrido. Mas por qual motivo? Porque toda a
humanidade, e não somente Caim, está morta espiritualmente (Efésios 2:1), e mesmo
sendo pecadores miseráveis, não conseguimos compreender esse fato. Assim sendo,
uma pessoa nunca poderá se converter por si mesmo, pois o caminho que ela segue,
rumo ao inferno, parece-lhe bom aos seus olhos, então não pode ver a real
o fariseu; a mulher, tida por pecadora e os que estavam à mesa de Simão. Simão, o
porque não conseguia reconhecer quem ele próprio era de verdade. Até aqui tudo
acontece de forma normal (normal em relação a esse mundo pecaminoso), pois vimos
que o homem não consegue reconhecer aquilo que ele é de verdade. Mas olhando
para a mulher, vemos algo diferente. E o quê é? O fato de que ela reconhecia quem
ela era realmente. Mas como ela conseguiu reconhecer aquilo que é impossível aos
mesmo. Portanto, hoje, gostaria de propor um tema: A graça por trás da desgraça.
ela carrega, que tomamos uma postura diferente, semelhantes à postura da mulher
desse texto. Por isso, gostaria de destacar alguns pontos sobre a graça que
faz com que o nosso coração seja plenamente atraído por Jesus. Nos versículos 36-
37, podemos observar que Jesus não recusa o convite de jantar na casa desse fariseu.
Jesus tinha um propósito com tudo isso: converter corações para a honra e glória de
Deus. Chegando até a casa de Simão, Jesus se senta à mesa, porém, muito provável
que tenha sido da maneira oriental (sentados sobre as panturrilhas, e não da maneira
ocidental (sentado sobre o quadril). Nisso, Lucas relata que certa mulher, pecadora
(poderia ter cometido algo que a estigmatizou), chega até onde Jesus estava. Não era
incomum pessoas entrarem sem serem convidadas nas casas onde ocorriam as
ceias. Essa gente se sentava no chão, encostada na parede, e até mesmo conversava
com alguns dos convidados que estavam à mesa. E o motivo dessa mulher entrar
nessa casa é o fato de que ela estava totalmente atraída por Jesus. Provavelmente
pelo fato de ela ter sido tocada por alguma mensagem de Cristo, outrora, ou por algum
feito ou mensagem contadas por terceiros que tomaram conta de seu coração.
Reparem que a mulher, com fama de pecadora, não querendo se justificar, mas
aceitando essa fama, corre para Cristo, porque um pecador que reconhece seu
pecado, é totalmente atraído por aquele que tem o poder para curá-lo.
condição, faz com que o nosso coração seja completamente apaixonado por Jesus
(versículos 37-46). Graças a maneira como Jesus se sentava, a mulher teve fácil
acesso aos seus pés. Estar aos pés de alguém demonstra respeito, reverência e
humilhação. Seu choro, águas do coração, como dizia Lutero, era tamanho que foi
capaz de lavar os pés do Mestre. Ela se humilha ainda mais, quando usa o seus
sujeira que estavam presentes nos pés de Jesus. Não satisfeita, ela utiliza o seu
perfume (o melhor, provavelmente) para ungir os pés do Senhor! Mas Simão, vendo
essa cena maravilhosa, em vez de se envergonhar por não ter feito o mínimo por
Cristo, dúvida que Jesus seja de fato um profeta, afinal, uma pecadora estava o
no de Simão, propõe-lhe uma parábola. Um homem perdoa uma dívida alta e uma
baixa, de ambos devedores que não tinham com que o pagar. E lança uma pergunta
para Simão: qual desses dois devedores amará mais o perdoador da dívida? Simão,
sem pensar muito, descobre que é aquele a quem muito foi perdoado, e Jesus
confirma. Essa mulher, havia derramado o seu melhor para Cristo, pois reconheceu o
tamanho de sua dívida, reconhecia quem ela era. Simão não! Por isso, ele oferece o
básico a Cristo, para não dizer que não ofereceu nada. Portanto, um pecador que
reconhece seu pecado, é totalmente apaixonado e devoto por aquele que o amou
ainda mais.
nossa impureza, faz com que o nosso coração seja completamente acalmado por
Jesus (versículos 47-50). Agora, a mulher que era ignorada pela grande maioria,
recebe a atenção do Senhor Jesus Cristo. Ela havia reconhecido seus muitos pecados
e sua grande imundícia, mas Jesus reconhece o seu quebrantamento e lhe dirige
palavras de alívio: perdoados são os seus muitos pecados! Enquanto ela recebe alívio
Quem perdoa pecados é Deus (ou seja, Cristo é Deus)! Quão dura e impossível de
digerir é essa verdade! Essa verdade só é aceita se o Pai, por meio do Filho e do
Então, Jesus sem se desviar dessa mulher, derrama sua última fala ao coração dela:
a tua fé te salvou, vai-te em paz. Essa mulher já havia se quebrantado outrora, como
já vimos acima, mas agora é a primeira vez, em que a Palavra nos mostra, que ela
plenamente nessa afirmação (vai-te em paz), pois essa paz não é uma paz qualquer,
é a paz que excede todo entendimento (Filipenses 4:7), pois um pecador que
reconhece seu pecado, recebe a perdão e a paz de ninguém menos do que o Príncipe
da paz!
e miserável, e que não pode reconhecer isso por si mesmo. Mas olhando para a nossa
vida, será que temos reconhecido quem nós somos? Muitas vezes somos capazes de
nos humilhar na presença de Deus, mas basta alguém nos apontar o dedo para a
correção que nós nos tornamos o segundo Jesus, totalmente sem pecado. Se nós
aceitamos quem somos, sabemos que não merecemos nada mais do que o inferno, e
tudo o que vier para nós, que não seja isso, é lucro! Mas como saber se reconheço
Em primeiro lugar, questione o seu coração se você tem sido atraído por
outras atividades da igreja. Mas pode ser que nenhuma dessas atividades seja por
que somos atraídos por Cristo, mas sim, pelo dinheiro, status, amizades, etc. Somente
um coração sincero sobre sua condição vai mostrar a sua real intenção. A mulher do
texto foi capaz de entrar numa casa cheia de pessoas que a condenavam como
pecadora para encontrar a Cristo, pois ela reconheceu quem era e precisava de ajuda,
e nós, tendo o conforto de nosso quarto, deixamos de buscá-lo com o mesmo fervor
dessa mulher. Essa falta de atração, indica que não necessitamos de perdão e
relacionamento com Cristo, e isso é um erro que nenhum ser humano deveria
cometer.
verdadeiramente apaixonado por Jesus. Aquela mulher deu a Cristo tudo o que ela
tinha de melhor, sua reputação, seu dinheiro e seu coração. Nós temos amado a Cristo
dessa maneira? O que nós temos de melhor, temos oferecido a Cristo, ou temos
oferecido a nós mesmos? O nosso tempo, dinheiro, reputação, têm servido para os
nossos propósitos egoístas, ou tem servido para demonstrar o nosso amor ao próprio
Senhor Jesus Cristo? Quantas vezes nós temos feito de tudo para nós e nada para
Deus. Se temos ainda servido a nós mesmos com mais amor e devoção do que a
Deus, é provável que não reconhecemos o nosso pecado, pois, caso contrário,
repousado sobre a paz de Jesus Cristo. Quando nós não reconhecemos a graça de
Cristo, nós podemos fazer de tudo pela igreja, e até mesmo aparentarmos sermos
verdadeiros filhos de Deus, mas isso tudo será como peça de troca com Deus. Se
você e eu temos tido medo de nos perder, após cometermos algum deslize, é porque
ainda temos a ideia errada de quem somos e as nossas obras não serão para a
glorificação de Deus, mas sim como se elas mesmas pudessem nos salvar. Se o
nosso coração não descansa na salvação dada por Cristo, ainda não fomos
Portanto, se você e eu, nessa manhã, nos vemos distantes de Cristo, sem
verdadeiro amor e devoção para com Ele e ainda tememos por nossa condição eterna,
clame a Ele e obedeça o que que disse o profeta Isaías: “Buscai o Senhor enquanto
se pode achar, invocai-o enquanto está perto.” (Isaías 55:6). Essa mulher não agiu
daquela maneira, como vemos no texto, por maneira própria, ela agiu assim porque
tem se renovado sobre todos nós, pois estamos vivos, ouvindo a Palavra de Deus e
podemos clamar a Ele por socorro. Por isso, aquele que ainda não reconhece
verdadeiramente a desgraça de seu pecado, clame a Cristo para que isso lhe seja
revelado, e a graça de Deus percorrerá sobre sua vida! E aqueles que se sentem no
estado em que a mulher se encontrava, clame a Deus, para que Ele os mantenha
firmes, para que os vossos pés vacilantes não venham lhes derrubar. Que Deus