You are on page 1of 205

SL-033FV-21

CÓD: 7908433201076

PM-RJ
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Curso de Formação de Soldados


A APOSTILA PREPARATÓRIA É ELABORADA
ANTES DA PUBLICAÇÃO DO EDITAL OFICIAL COM BASE NO EDITAL
ANTERIOR, PARA QUE O ALUNO ANTECIPE SEUS ESTUDOS.
DICA

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação.
É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa
encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.
Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou este artigo com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!

• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho.
• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área.
• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total.
• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo.
• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.
• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame.
• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

Se prepare para o concurso público


O concurseiro preparado não é aquele que passa o dia todo estudando, mas está com a cabeça nas nuvens, e sim aquele que se
planeja pesquisando sobre o concurso de interesse, conferindo editais e provas anteriores, participando de grupos com enquetes sobre
seu interesse, conversando com pessoas que já foram aprovadas, absorvendo dicas e experiências, e analisando a banca examinadora do
certame.
O Plano de Estudos é essencial na otimização dos estudos, ele deve ser simples, com fácil compreensão e personalizado com sua
rotina, vai ser seu triunfo para aprovação, sendo responsável pelo seu crescimento contínuo.
Além do plano de estudos, é importante ter um Plano de Revisão, ele que irá te ajudar na memorização dos conteúdos estudados até
o dia da prova, evitando a correria para fazer uma revisão de última hora.
Está em dúvida por qual matéria começar a estudar? Vai mais uma dica: comece por Língua Portuguesa, é a matéria com maior
requisição nos concursos, a base para uma boa interpretação, indo bem aqui você estará com um passo dado para ir melhor nas outras
disciplinas.

Vida Social
Sabemos que faz parte algumas abdicações na vida de quem estuda para concursos públicos, mas sempre que possível é importante
conciliar os estudos com os momentos de lazer e bem-estar. A vida de concurseiro é temporária, quem determina o tempo é você,
através da sua dedicação e empenho. Você terá que fazer um esforço para deixar de lado um pouco a vida social intensa, é importante
compreender que quando for aprovado verá que todo o esforço valeu a pena para realização do seu sonho.
Uma boa dica, é fazer exercícios físicos, uma simples corrida por exemplo é capaz de melhorar o funcionamento do Sistema Nervoso
Central, um dos fatores que são chaves para produção de neurônios nas regiões associadas à aprendizagem e memória.
DICA

Motivação
A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.
Caso você não seja aprovado de primeira, é primordial que você PERSISTA, com o tempo você irá adquirir conhecimento e experiência.
Então é preciso se motivar diariamente para seguir a busca da aprovação, algumas orientações importantes para conseguir motivação:
• Procure ler frases motivacionais, são ótimas para lembrar dos seus propósitos;
• Leia sempre os depoimentos dos candidatos aprovados nos concursos públicos;
• Procure estar sempre entrando em contato com os aprovados;
• Escreva o porquê que você deseja ser aprovado no concurso. Quando você sabe seus motivos, isso te da um ânimo maior para seguir
focado, tornando o processo mais prazeroso;
• Saiba o que realmente te impulsiona, o que te motiva. Dessa maneira será mais fácil vencer as adversidades que irão aparecer.
• Procure imaginar você exercendo a função da vaga pleiteada, sentir a emoção da aprovação e ver as pessoas que você gosta felizes
com seu sucesso.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.
A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Se você quer aumentar as suas chances
de passar, conheça os nossos materiais, acessando o nosso site: www.apostilasolucao.com.br

Vamos juntos!
ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. As questões poderão ser teoricamente baseadas nos seguintes pontos: interpretação e compreensão de textos . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Construção de sentido e efeitos de sentido (semântica); denotação (sentido literal) e conotação (sentido figurado) . . . . . . . . . . . 15
3. Relações lexicais; intertextualidade; gêneros textuais; tipologia textual; linguagem verbal e não verbal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
4. Funções da linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
5. Variedades linguísticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
6. Tipos de discurso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
7. Acentuação gráfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
8. Ortografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
9. Classe de palavras (substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção, interjeição) . . . . . . 22
10. Estrutura e formação de palavras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
11. Sintaxe (frase, oração, período; termos essenciais, integrantes e acessórios da oração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
12. Concordância nominal e verbal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
13. Regência nominal e verbal (crase) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
14. Colocação pronominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
15. Coesão; coerência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
16. Pontuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

Geografia
1. Características Gerais do Estado do Rio de Janeiro - reconhecer as relações entre sociedade e o ambiente natural no Estado do Rio de
Janeiro, destacando os impactos ambientais produzidos e as influências dos elementos naturais na sociedade fluminense . . . . . 01
2. Identificar as principais regiões do Estado e suas características gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
3. Apresentar noções básicas sobre a geografia do Município do Rio de Janeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
4. Reconhecer aspectos gerais do processo de favelização e suas características atuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
5. Identificar em textos e gráficos situações problema típicas da sociedade fluminense e reconhecer formas de reduzir os problemas
gerados em tais situações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
6. Apresentar noções de localização espacial dentro do Estado do Rio de Janeiro a partir da utilização de mapas . . . . . . . . . . . . . . . . 14

História
1. A expansão Ultramarina Portuguesa dos séculos XV e XVI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. O sistema colonial português na América - Estrutura político-administrativa, estrutura sócio-econômica, a escravidão (as formas de
dominação econômico-sociais); as formas de atuação do Estado Português na Colônia; a ação da Igreja, as invasões estrangeiras,
expansão territorial, interiorização e formação das fronteiras, as reformas pombalinas, rebeliões coloniais. Movimentos e tentativas
emancipacionistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
3. O período joanino e o processo de independência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
4. A presença britânica no Brasil, a transferência da Corte, os tratados, as principais medidas de D. João VI no Brasil, política joanina, os
partidos políticos, revoltas, conspirações e revoluções, emancipação e conflitos sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
5. O processo de independência do Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
6. Brasil Imperial - O Primeiro Reinado, o Período Regencial e o Segundo Reinado: aspectos, políticos, administrativos, militares, cul-
turais, econômicos, sociais, territoriais, a política externa, a questão abolicionista, o processo de modernização, a crise da monarquia
e a proclamação da república . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Sociologia
1. Relações entre indivíduo e sociedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Distinção do espaço público e privado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
3. Estado e os direitos humanos, cidadania e diversidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02

Noções sobre Direitos Humanos


1. Direitos e Deveres Individuais e coletivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Considerações sobre a polícia e os Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
ÍNDICE
Legislação Brasileira de Trânsito
1. Penalidades aplicadas às infrações de trânsito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Medidas administrativas a serem adotadas pela autoridade de trânsito e seus agentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

Informática
1. Aplicativos para processamento de texto, planilhas eletrônicas e apresentações: conceitos e modos de utilização . . . . . . . . . . . . . 01
2. Conceitos básicos e modos de emprego de tecnologias, ferramentas, aplicativos e procedimentos associados à rede de computadores,
internet e intranet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
LÍNGUA PORTUGUESA
1. As questões poderão ser teoricamente baseadas nos seguintes pontos: interpretação e compreensão de textos . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Construção de sentido e efeitos de sentido (semântica); denotação (sentido literal) e conotação (sentido figurado) . . . . . . . . . . . 15
3. Relações lexicais; intertextualidade; gêneros textuais; tipologia textual; linguagem verbal e não verbal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
4. Funções da linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
5. Variedades linguísticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
6. Tipos de discurso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
7. Acentuação gráfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
8. Ortografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
9. Classe de palavras (substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção, interjeição) . . . . . . 22
10. Estrutura e formação de palavras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
11. Sintaxe (frase, oração, período; termos essenciais, integrantes e acessórios da oração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
12. Concordância nominal e verbal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
13. Regência nominal e verbal (crase) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
14. Colocação pronominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
15. Coesão; coerência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
16. Pontuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
LÍNGUA PORTUGUESA

AS QUESTÕES PODERÃO SER TEORICAMENTE BASE-


ADAS NOS SEGUINTES PONTOS: INTERPRETAÇÃO E
COMPREENSÃO DE TEXTOS

Compreensão e interpretação de textos


Chegamos, agora, em um ponto muito importante para todo o
seu estudo: a interpretação de textos. Desenvolver essa habilidade
é essencial e pode ser um diferencial para a realização de uma boa
prova de qualquer área do conhecimento.
Mas você sabe a diferença entre compreensão e interpretação?
A compreensão é quando você entende o que o texto diz de
forma explícita, aquilo que está na superfície do texto.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Por meio dessa frase, podemos entender que houve um tempo
que Jorge era infeliz, devido ao cigarro.
A interpretação é quando você entende o que está implícito, Além de saber desses conceitos, é importante sabermos iden-
nas entrelinhas, aquilo que está de modo mais profundo no texto tificar quando um texto é baseado em outro. O nome que damos a
ou que faça com que você realize inferências. este processo é intertextualidade.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Já compreendemos que Jorge era infeliz quando fumava, mas Interpretação de Texto
podemos interpretar que Jorge parou de fumar e que agora é feliz. Interpretar um texto quer dizer dar sentido, inferir, chegar a
Percebeu a diferença? uma conclusão do que se lê. A interpretação é muito ligada ao su-
bentendido. Sendo assim, ela trabalha com o que se pode deduzir
Tipos de Linguagem de um texto.
Existem três tipos de linguagem que precisamos saber para que A interpretação implica a mobilização dos conhecimentos pré-
facilite a interpretação de textos. vios que cada pessoa possui antes da leitura de um determinado
• Linguagem Verbal é aquela que utiliza somente palavras. Ela texto, pressupõe que a aquisição do novo conteúdo lido estabeleça
pode ser escrita ou oral. uma relação com a informação já possuída, o que leva ao cresci-
mento do conhecimento do leitor, e espera que haja uma aprecia-
ção pessoal e crítica sobre a análise do novo conteúdo lido, afetan-
do de alguma forma o leitor.
Sendo assim, podemos dizer que existem diferentes tipos de
leitura: uma leitura prévia, uma leitura seletiva, uma leitura analíti-
ca e, por fim, uma leitura interpretativa.

É muito importante que você:


- Assista os mais diferenciados jornais sobre a sua cidade, esta-
do, país e mundo;
- Se possível, procure por jornais escritos para saber de notícias
(e também da estrutura das palavras para dar opiniões);
- Leia livros sobre diversos temas para sugar informações orto-
gráficas, gramaticais e interpretativas;
- Procure estar sempre informado sobre os assuntos mais po-
• Linguagem não-verbal é aquela que utiliza somente imagens, lêmicos;
fotos, gestos... não há presença de nenhuma palavra. - Procure debater ou conversar com diversas pessoas sobre
qualquer tema para presenciar opiniões diversas das suas.

Dicas para interpretar um texto:


– Leia lentamente o texto todo.
No primeiro contato com o texto, o mais importante é tentar
compreender o sentido global do texto e identificar o seu objetivo.

– Releia o texto quantas vezes forem necessárias.


Assim, será mais fácil identificar as ideias principais de cada pa-
rágrafo e compreender o desenvolvimento do texto.

– Sublinhe as ideias mais importantes.


Sublinhar apenas quando já se tiver uma boa noção da ideia
principal e das ideias secundárias do texto.
• Linguagem Mista (ou híbrida) é aquele que utiliza tanto as pa- – Separe fatos de opiniões.
lavras quanto as imagens. Ou seja, é a junção da linguagem verbal O leitor precisa separar o que é um fato (verdadeiro, objetivo
com a não-verbal. e comprovável) do que é uma opinião (pessoal, tendenciosa e mu-
tável).

1
LÍNGUA PORTUGUESA
– Retorne ao texto sempre que necessário. CACHORROS
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os
enunciados das questões. Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma
espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
– Reescreva o conteúdo lido. seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-
Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, tó- zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
picos ou esquemas. precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
Além dessas dicas importantes, você também pode grifar pa- comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
lavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu vocabu- podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
lário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas são uma casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
distração, mas também um aprendizado. outro e a parceria deu certo.
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a com-
preensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula nossa Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora nos- sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
so foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além de to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória. falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias se- do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso-
letas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens.
do texto. As informações que se relacionam com o tema chamamos de
O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é a iden- subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram,
tificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se as ideias ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida-
secundárias, ou fundamentações, as argumentações, ou explica- de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto
ções, que levem ao esclarecimento das questões apresentadas na fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
prova. conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães.
Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um signi- Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi
ficado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso o can- capaz de identificar o tema do texto!
didato só precisa entendê-la – e não a complementar com algum
valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e nunca Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-
extrapole a visão dele. -secundarias/

IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM


O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia TEXTOS VARIADOS
principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen- Ironia
tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja, Ironia é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que
você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou
significativo, que é o texto. com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem).
Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex-
texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um
título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre novo sentido, gerando um efeito de humor.
o assunto que será tratado no texto. Exemplo:
Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atraí-
do pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
estudos?
Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?

2
LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplo:

Na construção de um texto, ela pode aparecer em três modos:


ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).
ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊ-
Ironia verbal NERO EM QUE SE INSCREVE
Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig- Compreender um texto trata da análise e decodificação do que
nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter-
intenção são diferentes. pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao
Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível! conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha
com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
Ironia de situação Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual-
A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia
resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja. principal. Compreender relações semânticas é uma competência
Exemplo: Quando num texto literário uma personagem planeja imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos.
uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No li- Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-
vro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a -se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento pro-
personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da fissional, mas também o desenvolvimento pessoal.
vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces-
so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que Busca de sentidos
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo
morte. os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na
apreensão do conteúdo exposto.
Ironia dramática (ou satírica) Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma
A ironia dramática é um dos efeitos de sentido que ocorre nos relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já
textos literários quando a personagem tem a consciência de que citadas ou apresentando novos conceitos.
suas ações não serão bem-sucedidas ou que está entrando por um Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici-
caminho ruim, mas o leitor já tem essa consciência. tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder
Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas
que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa- entrelinhas. Deve-se ater às ideias do autor, o que não quer dizer
recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem- que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é fun-
plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história damental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas.
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a Importância da interpretação
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos. A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se
informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter-
Humor pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos
Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare- específicos, aprimora a escrita.
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor. Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa-
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti- tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre-
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor- sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi-
rer algo fora do esperado numa situação. ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto,
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti- pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico; que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais
acessadas como forma de gerar o riso. presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apreen-
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em são do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não es-
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges. tão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira aleató-
ria, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários,
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido,
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos.

3
LÍNGUA PORTUGUESA
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au- Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas. berdade para quem recebe a informação.
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas.
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão, Fato
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes. O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência
do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é
Diferença entre compreensão e interpretação uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma manei-
A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do ra, através de algum documento, números, vídeo ou registro.
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta- Exemplo de fato:
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O A mãe foi viajar.
leitor tira conclusões subjetivas do texto.
Interpretação
Gêneros Discursivos É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso- quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou sas, previmos suas consequências.
totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
romance nós temos uma história central e várias histórias secun- Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
dárias. ças sejam detectáveis.

Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente Exemplos de interpretação:
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso- A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única tro país.
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
encaminham-se diretamente para um desfecho. do que com a filha.

Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferencia- Opinião


do por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem a A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um
história principal, mas também tem várias histórias secundárias. O juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação
tempo na novela é baseada no calendário. O tempo e local são de- que fazemos do fato.
Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên-
finidos pelas histórias dos personagens. A história (enredo) tem um
cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação
ritmo mais acelerado do que a do romance por ter um texto mais
do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião
curto.
pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais.
Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações que
Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações
nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para
anteriores:
mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos tro país. Ela tomou uma decisão acertada.
como horas ou mesmo minutos. A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
do que com a filha. Ela foi egoísta.
Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lin-
guagem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento, Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião.
a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên-
imagens. cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões
positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta-
Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a mos expressando nosso julgamento.
opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião,
que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con- principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando
vencer o leitor a concordar com ele. analisamos um texto dissertativo.

Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um Exemplo:


entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações. A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando
Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas com o sofrimento da filha.
de destaque sobre algum assunto de interesse.
ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS
Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali- Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si
za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do
crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando texto. Um dos maiores problemas nas redações é estruturar as
os professores a identificar o nível de alfabetização delas. ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto.
Fazer uma estrutura no texto para poder guiar o seu pensamento
e o do leitor.

4
LÍNGUA PORTUGUESA
Parágrafo Língua escrita e língua falada
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma- falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela- ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre- mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
sentada na introdução. conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
Embora existam diferentes formas de organização de parágra- pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalís- berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.
ticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em
três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem Linguagem popular e linguagem culta
a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em pa- Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua-
rágrafos curtos, é raro haver conclusão. gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala,
nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja
Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou
uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que
irá identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo o diálogo é usado para representar a língua falada.
escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria
prova. Linguagem Popular ou Coloquial
Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase
Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin-
ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí- guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo
vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo-
citações de pessoas que tenham autoridade no assunto. nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação,
que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular
Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas,
e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na
diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma expressão dos esta dos emocionais etc.
pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias con-
clusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento. A Linguagem Culta ou Padrão
É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que
Outro aspecto que merece especial atenção são  os conecto- se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins-
res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên-
fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem
ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do pe- escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial,
ríodo, e o tópico que o antecede. mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas,
Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi-
ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também cas, noticiários de TV, programas culturais etc.
para a clareza do texto.
Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér- Gíria
bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como
vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro, arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam
sem coerência. a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa-
Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta- gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos.
tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores. Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam
o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de
Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es-
comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os
trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento
novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode
mais direto.
acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário
de pequenos grupos ou cair em desuso.
NÍVEIS DE LINGUAGEM
Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”,
“mina”, “tipo assim”.
Definição de linguagem
Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias Linguagem vulgar
ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos, Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco
gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar
da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti- há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na
cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa comida”.
linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com Linguagem regional
o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa-
incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala-
social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico,
e caem em desuso. nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino.

5
LÍNGUA PORTUGUESA
Tipos e gêneros textuais Tipo textual expositivo
Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran- A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio-
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição,
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e discussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma pode ser expositiva ou argumentativa.
como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás- A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as-
sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma-
dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate.
exemplos e as principais características de cada um deles.
Características principais:
Tipo textual descritivo • Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
A descrição é uma modalidade de composição textual cujo • O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor-
objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma mar.
pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto, • Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente.
um movimento etc. • Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa
Características principais: de ponto de vista.
• Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje- • Apresenta linguagem clara e imparcial.
tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função
caracterizadora. Exemplo:
• Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu- O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no
meração. questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex-
• A noção temporal é normalmente estática. pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de-
• Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini- terminado tema.
ção. Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta-
• Normalmente aparece dentro de um texto narrativo. ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa).
• Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún- Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as-
cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial. sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente.

Exemplo: Tipo textual dissertativo-argumentativo


Era uma casa muito engraçada Este tipo de texto — muito frequente nas provas de concur-
Não tinha teto, não tinha nada sos — apresenta posicionamentos pessoais e exposição de ideias
Ninguém podia entrar nela, não apresentadas de forma lógica. Com razoável grau de objetividade,
Porque na casa não tinha chão clareza, respeito pelo registro formal da língua e coerência, seu in-
Ninguém podia dormir na rede tuito é a defesa de um ponto de vista que convença o interlocutor
Porque na casa não tinha parede (leitor ou ouvinte).
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali Características principais:
Mas era feita com muito esmero • Presença de estrutura básica (introdução, desenvolvimento
Na rua dos bobos, número zero e conclusão): ideia principal do texto (tese); argumentos (estraté-
(Vinícius de Moraes) gias argumentativas: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho
de autoridade, citações, confronto, comparação, fato, exemplo,
TIPO TEXTUAL INJUNTIVO enumeração...); conclusão (síntese dos pontos principais com su-
A injunção indica como realizar uma ação, aconselha, impõe, gestão/solução).
instrui o interlocutor. Chamado também de texto instrucional, o • Utiliza verbos na 1ª pessoa (normalmente nas argumentações
tipo de texto injuntivo é utilizado para predizer acontecimentos e informais) e na 3ª pessoa do presente do indicativo (normalmente
comportamentos, nas leis jurídicas. nas argumentações formais) para imprimir uma atemporalidade e
um caráter de verdade ao que está sendo dito.
Características principais: • Privilegiam-se as estruturas impessoais, com certas modali-
• Normalmente apresenta frases curtas e objetivas, com ver- zações discursivas (indicando noções de possibilidade, certeza ou
bos de comando, com tom imperativo; há também o uso do futuro probabilidade) em vez de juízos de valor ou sentimentos exaltados.
do presente (10 mandamentos bíblicos e leis diversas). • Há um cuidado com a progressão temática, isto é, com o de-
• Marcas de interlocução: vocativo, verbos e pronomes de 2ª senvolvimento coerente da ideia principal, evitando-se rodeios.
pessoa ou 1ª pessoa do plural, perguntas reflexivas etc.
Exemplo:
Exemplo: A maioria dos problemas existentes em um país em desenvol-
Impedidos do Alistamento Eleitoral (art. 5º do Código Eleito- vimento, como o nosso, podem ser resolvidos com uma eficiente
ral) – Não podem alistar-se eleitores: os que não saibam exprimir-se administração política (tese), porque a força governamental certa-
na língua nacional, e os que estejam privados, temporária ou defi- mente se sobrepõe a poderes paralelos, os quais – por negligência
nitivamente dos direitos políticos. Os militares são alistáveis, desde de nossos representantes – vêm aterrorizando as grandes metró-
que oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou poles. Isso ficou claro no confronto entre a força militar do RJ e os
suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino su- traficantes, o que comprovou uma verdade simples: se for do desejo
perior para formação de oficiais. dos políticos uma mudança radical visando o bem-estar da popula-
ção, isso é plenamente possível (estratégia argumentativa: fato-
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar

6
LÍNGUA PORTUGUESA
de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o Dissertativo-argumentativo Editorial Jornalístico
caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma Carta de opinião
cobrança efetiva (conclusão). Resenha
Artigo
Tipo textual narrativo Ensaio
O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta Monografia, dissertação de
um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu- mestrado e tese de doutorado
gar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um enredo,
personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo). Narrativo Romance
Novela
Características principais: Crônica
• O tempo verbal predominante é o passado. Contos de Fada
• Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his- Fábula
tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história – Lendas
onisciente).
• Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da for-
prosa, não em verso. ma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, infi-
nitos e mudam de acordo com a demanda social.
Exemplo:
Solidão INTERTEXTUALIDADE
João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era A  intertextualidade  é um recurso realizado entre textos, ou
o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe- seja, é a influência e relação que um estabelece sobre o outro. As-
liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se. sim, determina o fenômeno relacionado ao processo de produção
Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni- de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos
rem, um tirou do outro a essência da felicidade. existentes em outro texto, seja a nível de conteúdo, forma ou de
Nelson S. Oliveira ambos: forma e conteúdo.
Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossur- Grosso modo, a intertextualidade é o diálogo entre textos, de
reais/4835684 forma que essa relação pode ser estabelecida entre as produções
textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escri-
GÊNEROS TEXTUAIS ta), sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música,
Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes dança, cinema), propagandas publicitárias, programas televisivos,
de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um provérbios, charges, dentre outros.
texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro-
dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem Tipos de Intertextualidade
funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são • Paródia: perversão do texto anterior que aparece geralmen-
passíveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preser- te, em forma de crítica irônica de caráter humorístico. Do grego (paro-
vando características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela dès), a palavra “paródia” é formada pelos termos “para” (semelhante)
que apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos e “odes” (canto), ou seja, “um canto (poesia) semelhante a outro”. Esse
textuais que neles predominam. recurso é muito utilizado pelos programas humorísticos.
• Paráfrase: recriação de um texto já existente mantendo a
mesma ideia contida no texto original, entretanto, com a utilização
Tipo Textual Predominante Gêneros Textuais
de outras palavras. O vocábulo “paráfrase”, do grego (paraphrasis),
Descritivo Diário significa a “repetição de uma sentença”.
Relatos (viagens, históricos, etc.) • Epígrafe: recurso bastante utilizado em obras e textos cientí-
Biografia e autobiografia ficos. Consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha
Notícia alguma relação com o que será discutido no texto. Do grego, o ter-
Currículo mo “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior)
Lista de compras e “graphé” (escrita).
Cardápio • Citação: Acréscimo de partes de outras obras numa produção
Anúncios de classificados textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem expressa
Injuntivo Receita culinária entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor.
Bula de remédio Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação sem re-
Manual de instruções lacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o termo
Regulamento “citação” (citare) significa convocar.
Textos prescritivos • Alusão: Faz referência aos elementos presentes em outros
textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois
Expositivo Seminários termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).
Palestras • Outras formas de intertextualidade menos discutidas são
Conferências o pastiche, o sample, a tradução e a bricolagem.
Entrevistas
Trabalhos acadêmicos ARGUMENTAÇÃO
Enciclopédia O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa-
Verbetes de dicionários ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva
de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente,

7
LÍNGUA PORTUGUESA
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
propõe. outro fundado há dois ou três anos.
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo der bem como eles funcionam.
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
vista defendidos. acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu- pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi-
tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera
que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur- associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos,
sos de linguagem. essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori-
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de zado numa dada cultura.
escolher entre duas ou mais coisas”.
Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des- Tipos de Argumento
vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar. Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa-
Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu-
coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre- mento. Exemplo:
cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-
mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna Argumento de Autoridade
uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas
domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para
que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos- servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur-
sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra. so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor
O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a
um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto
enunciador está propondo. um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver-
Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação. dadeira. Exemplo:
O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende “A imaginação é mais importante do que o conhecimento.”
demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-
missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para
admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe-
crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea- cimento. Nunca o inverso.
mento de premissas e conclusões. Alex José Periscinoto.
Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento: In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2
A é igual a B.
A é igual a C. A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor-
Então: C é igual a A. tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela,
o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se
Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente, um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem
que C é igual a A. acreditar que é verdade.
Outro exemplo:
Todo ruminante é um mamífero. Argumento de Quantidade
A vaca é um ruminante. É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú-
Logo, a vaca é um mamífero. mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento
Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz
também será verdadeira. largo uso do argumento de quantidade.
No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se Argumento do Consenso
mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau- É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se
sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como
confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o
da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de
banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con- que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu-
fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não

8
LÍNGUA PORTUGUESA
desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as - Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao tal por três dias.
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu-
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen-
carentes de qualquer base científica. tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser
ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação
Argumento de Existência deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar texto tem sempre uma orientação argumentativa.
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar- traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um
gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo
do que dois voando”. ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza.
Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto
(fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre- dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó-
tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não
a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci- outras, etc. Veja:
to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa “O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca-
afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser vam abraços afetuosos.”
vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela
comparação do número de canhões, de carros de combate, de na- O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras
vios, etc., ganhava credibilidade. e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse
fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até,
Argumento quase lógico que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada.
É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra-
e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros:
chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi- - Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am-
cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá-
elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí- rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser
veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en- usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor
tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica. positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas
Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo” de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente,
não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável. injustiça, corrupção).
Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente - Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por
aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con- um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são
correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir
tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se o argumento.
fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais - Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con-
com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e
indevidas. atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por
exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite
Argumento do Atributo que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido,
É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi- uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir
cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais outros à sua dependência política e econômica”.
raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o
que é mais grosseiro, etc. A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa-
Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce- ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi-
lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza,
dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação,
alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor tende
o assunto, etc).
a associar o produto anunciado com atributos da celebridade.
Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani-
Uma variante do argumento de atributo é o argumento da
festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men-
competência linguística. A utilização da variante culta e formal da
tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas
língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social-
(como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente,
mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto
afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto,
em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de
dizer dá confiabilidade ao que se diz. sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve
Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali-
de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei- dades não se prometem, manifestam-se na ação.
ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade- A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer
quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a
estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico: que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz.
- Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um
conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui
por bem determinar o internamento do governador pelo período a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar-
de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001. gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che-

9
LÍNGUA PORTUGUESA
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo - evidência;
de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se - divisão ou análise;
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu - ordem ou dedução;
comportamento. - enumeração.
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli-
da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro- A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão
posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o
empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen- A forma de argumentação mais empregada na redação acadê-
tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí- mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que
mica e até o choro. contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con-
Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades, clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con-
expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa- clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa
vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen- maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não
ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos caracteriza a universalidade.
dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo-
“tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta- gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do
ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o
ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de- silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em
bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à
possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de
de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de
um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun- fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para
damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista. o efeito. Exemplo:
Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis- Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal)
curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia. Fulano é homem (premissa menor = particular)
Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições, Logo, Fulano é mortal (conclusão)
é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e
seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve- A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia-
zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre, se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse
essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par-
aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol- te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci-
ver as seguintes habilidades: dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo:
- argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma O calor dilata o ferro (particular)
ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total- O calor dilata o bronze (particular)
mente contrária; O calor dilata o cobre (particular)
- contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os O ferro, o bronze, o cobre são metais
argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta- Logo, o calor dilata metais (geral, universal)
ria contra a argumentação proposta;
- refutação: argumentos e razões contra a argumentação oposta. Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido
e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas
A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar- também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos,
gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu-
válidas, como se procede no método dialético. O método dialético são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata,
não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas. uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção
sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques- deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem
tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade. essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de
Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé- argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de
todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do sofisma no seguinte diálogo:
simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes- - Você concorda que possui uma coisa que não perdeu?
ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões - Lógico, concordo.
verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co- - Você perdeu um brilhante de 40 quilates?
meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio - Claro que não!
de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana, - Então você possui um brilhante de 40 quilates...
é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos Exemplos de sofismas:
e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.
A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a Dedução
argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro Todo professor tem um diploma (geral, universal)
regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma Fulano tem um diploma (particular)
série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa)
da verdade:

10
LÍNGUA PORTUGUESA
Indução nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são
O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti- empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação,
cular) no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e
Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular) espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís-
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades. ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial.
– conclusão falsa)
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão,
Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio,
pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são profes- sabiá, torradeira.
sores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Redentor. Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá.
Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou infun- Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo.
dadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise su- Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira.
perficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, basea- Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus.
dos nos sentimentos não ditados pela razão.
Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen- Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé-
tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda- tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de
de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é
outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de
processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par- uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais
ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro
demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é
classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por- indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração
que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou
pesquisa. seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização.
Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados; (Garcia, 1973, p. 302304.)
a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in-
todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de-
trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres-
pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a
sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio-
síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém,
nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam.
que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém
É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição
reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu
adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos
o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria
de vista sobre ele.
todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina-
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua-
das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então,
o relógio estaria reconstruído. gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma
Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a
meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con- espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen-
junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise, cia dos outros elementos dessa mesma espécie.
que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo- Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição
sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A
operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa-
relacionadas: lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou
Análise: penetrar, decompor, separar, dividir. metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica
Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir. tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos:
- o termo a ser definido;
A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias - o gênero ou espécie;
a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação - a diferença específica.
de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco-
lha dos elementos que farão parte do texto. O que distingue o termo definido de outros elementos da mes-
Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in- ma espécie. Exemplo:
formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca-
racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen- Na frase: O homem é um animal racional classifica-se:
tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe- Elemento especie diferença
lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as a ser definido específica
partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos: É muito comum formular definições de maneira defeituosa,
análise é decomposição e classificação é hierarquisação. por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par-
Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme- tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é
nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é
classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me- forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan-

11
LÍNGUA PORTUGUESA
te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973, ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme,
p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”. segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no
Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos: entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela
- o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece,
que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está assim, desse ponto de vista.
realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de
ou instalação”; elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são
exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de-
para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade; pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de-
- deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade, pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente,
definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”; respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí,
definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem” além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no
não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem); interior, nas grandes cidades, no sul, no leste...
- deve ser breve (contida num só período). Quando a definição, Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de
ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma
ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan- ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma
dida;d forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta-
- deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) + belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos
cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as que, melhor que, pior que.
diferenças). Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se:
As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade
paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir-
consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala- mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi-
vra e seus significados. bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no
A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem- corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer
pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li-
necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou
com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais
mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda- caráter confirmatório que comprobatório.
mentação coerente e adequada. Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli-
Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás- cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por
sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse
da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco- caso, incluem-se
nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes, - A declaração que expressa uma verdade universal (o homem,
as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu- mortal, aspira à imortalidade);
rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a - A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula-
reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis- dos e axiomas);
sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos - Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature-
são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão
expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se
elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro- discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que
cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que parece absurdo).
raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe-
cífico de relação entre as premissas e a conclusão. Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con-
argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação: cretos, estatísticos ou documentais.
exemplificação, explicitação, enumeração, comparação. Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau-
de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes- sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência.
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações,
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa- julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opi-
nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados niões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprova-
apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de da, e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que
causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por- expresse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na
que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade
virtude de, em vista de, por motivo de. dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra-
Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli- -argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar-
car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar gumentação:
esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta- Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran-
ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como: do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu-
quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista, mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”;

12
LÍNGUA PORTUGUESA
Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses - analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur-
para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver- banos;
dadeira; - como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar
Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi- mais a sociedade.
nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali-
dade da afirmação; Conclusão
Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consis- - a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/conse-
te em refutar um argumento empregando os testemunhos de auto- quências maléficas;
ridade que contrariam a afirmação apresentada; - síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos
Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de- apresentados.
sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se
em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes. Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda-
Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados ção: é um dos possíveis.
estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em Coesão e coerência fazem parte importante da elaboração de
uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para con- um texto com clareza. Ela diz respeito à maneira como as ideias são
traargumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento organizadas a fim de que o objetivo final seja alcançado: a com-
é que gera o controle demográfico”. preensão textual. Na redação espera-se do autor capacidade de
Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para mobilizar conhecimentos e opiniões, argumentar de modo coeren-
desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao te, além de expressar-se com clareza, de forma correta e adequada.
desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui-
da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a Coerência
elaboração de um Plano de Redação. É uma rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto.
Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação se-
Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução mântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na
tecnológica linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com
- Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder outra”).
a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos- Coerência é a unidade de sentido resultante da relação que se
ta, justificar, criando um argumento básico; estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreen-
- Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e der a outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma
construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação das partes ganha sentido. Coerência é a ligação em conjunto dos
que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la elementos formativos de um texto.
(rever tipos de argumentação); A coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito
- Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos
que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po- elementos textuais.
dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e conse- A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante
quência); de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as propo-
- Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o sições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística,
argumento básico; tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de
- Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que imediato a coerência de um discurso.
poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em
argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu- A coerência:
mento básico; - assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto;
- Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se- - situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão concei-
quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às tual;
partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou - relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com
menos a seguinte: o aspecto global do texto;
- estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases.
Introdução
- função social da ciência e da tecnologia; Coesão
- definições de ciência e tecnologia; É um conjunto de elementos posicionados ao longo do texto,
- indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico. numa linha de sequência e com os quais se estabelece um vínculo
ou conexão sequencial. Se o vínculo coesivo se faz via gramática,
Desenvolvimento fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário,
- apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol- tem-se a coesão lexical.
vimento tecnológico; A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre pala-
- como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as vras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos
condições de vida no mundo atual; gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os compo-
- a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica- nentes do texto.
mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub- Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical,
desenvolvidos; que é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes ge-
- enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social; néricos e formas elididas, e a gramatical, que é conseguida a partir
- comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas- do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados
sado; apontar semelhanças e diferenças; advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais.

13
LÍNGUA PORTUGUESA
A coesão: para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica
- assenta-se no plano gramatical e no nível frasal; de suas verdades incontestadas anteriormente, com esse proces-
- situa-se na superfície do texto, estabelece conexão sequen- so há uma indagação sobre os dogmas estabelecidos e uma busca
cial; pela verdade real, concebida através do raciocínio e da crítica. Os
- relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes programas humorísticos fazem uso contínuo dessa arte, frequente-
componentes do texto; mente os discursos de políticos são abordados de maneira cômica
- Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases. e contestadora, provocando risos e também reflexão a respeito da
demagogia praticada pela classe dominante.
Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece
entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na A Epígrafe é um recurso bastante utilizado em obras, textos
criação de um novo texto. Pode-se definir, então, a intertextualida- científicos, desde artigos, resenhas, monografias, uma vez que con-
de como sendo a criação de um texto a partir de outro texto já exis- siste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha alguma re-
tente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções lação com o que será discutido no texto. Do grego, o termo “epígra-
diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que ela fhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior) e “graphé”
é inserida. (escrita). Como exemplo podemos citar um artigo sobre Patrimônio
O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento, Cultural e a epígrafe do filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.): “A
não se restringindo única e exclusivamente a textos literários. cultura é o melhor conforto para a velhice”.
Em alguns casos pode-se dizer que a intertextualidade assume
a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a A Citação é o Acréscimo de partes de outras obras numa pro-
cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, dução textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem ex-
escultura, literatura etc). Intertextualidade é a relação entre dois pressa entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro
textos caracterizada por um citar o outro. autor. Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação
A intertextualidade é o diálogo entre textos. Ocorre quando um sem relacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o
texto (oral, escrito, verbal ou não verbal), de alguma maneira, se termo “citação” (citare) significa convocar.
utiliza de outro na elaboração de sua mensagem. Os dois textos – a
fonte e o que dialoga com ela – podem ser do mesmo gênero ou A Alusão faz referência aos elementos presentes em outros
de gêneros distintos, terem a mesma finalidade ou propósitos di- textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois
ferentes. Assim, como você constatou, uma história em quadrinhos termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).
pode utilizar algo de um texto científico, assim como um poema
pode valer-se de uma letra de música ou um artigo de opinião pode Pastiche é uma recorrência a um gênero.
mencionar um provérbio conhecido.
Há várias maneiras de um texto manter intertextualidade com A Tradução está no campo da intertextualidade porque implica
outro, entre elas, ao citá-lo, ao resumi-lo, ao reproduzi-lo com ou- a recriação de um texto.
tras palavras, ao traduzi-lo para outro idioma, ao ampliá-lo, ao to-
má-lo como ponto de partida, ao defendê-lo, ao criticá-lo, ao ironi- Evidentemente, a intertextualidade está ligada ao “conheci-
zá-lo ou ao compará-lo com outros. mento de mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao
Os estudiosos afirmam que em todos os textos ocorre algum produtor e ao receptor de textos.
grau de intertextualidade, pois quando falamos, escrevemos, de- A intertextualidade pressupõe um universo cultural muito am-
senhamos, pintamos, moldamos, ou seja, sempre que nos expres- plo e complexo, pois implica a identificação / o reconhecimento de
samos, estamos nos valendo de ideias e conceitos que já foram remissões a obras ou a textos / trechos mais, ou menos conhecidos,
formulados por outros para reafirmá-los, ampliá-los ou mesmo con- além de exigir do interlocutor a capacidade de interpretar a função
tradizê-los. Em outras palavras, não há textos absolutamente origi- daquela citação ou alusão em questão.
nais, pois eles sempre – de maneira explícita ou implícita – mantêm
alguma relação com algo que foi visto, ouvido ou lido. Intertextualidade explícita e intertextualidade implícita
A intertextualidade pode ser caracterizada como explícita ou
Tipos de Intertextualidade implícita, de acordo com a relação estabelecida com o texto fonte,
A intertextualidade acontece quando há uma referência ex- ou seja, se mais direta ou se mais subentendida.
plícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer
com outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela etc. A intertextualidade explícita:
Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextuali- – é facilmente identificada pelos leitores;
dade. – estabelece uma relação direta com o texto fonte;
Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo, – apresenta elementos que identificam o texto fonte;
um saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um diá- – não exige que haja dedução por parte do leitor;
logo entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as – apenas apela à compreensão do conteúdos.
mesmas ideias da obra citada ou contestando-as.
A intertextualidade implícita:
Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia do texto – não é facilmente identificada pelos leitores;
é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, rea- – não estabelece uma relação direta com o texto fonte;
firmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer com – não apresenta elementos que identificam o texto fonte;
outras palavras o que já foi dito. – exige que haja dedução, inferência, atenção e análise por par-
A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros tex- te dos leitores;
tos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso é objeto – exige que os leitores recorram a conhecimentos prévios para
de interesse para os estudiosos da língua e das artes. Ocorre, aqui, a compreensão do conteúdo.
um choque de interpretação, a voz do texto original é retomada

14
LÍNGUA PORTUGUESA
PONTO DE VISTA Leitura vertical consiste em uma leitura mais atenta; é o levan-
O modo como o autor narra suas histórias provoca diferentes tamento dos referenciais do texto-base para a perfeita compreen-
sentidos ao leitor em relação à uma obra. Existem três pontos de são. É importante grifar, em cada parágrafo lido, as ideias principais.
vista diferentes. É considerado o elemento da narração que com- Após escrever à parte as ideias recolhidas nos grifos, procurando
preende a perspectiva através da qual se conta a história. Trata-se dar uma redação própria, independente das palavras utilizadas pelo
da posição da qual o narrador articula a narrativa. Apesar de existir autor do texto.
diferentes possibilidades de Ponto de Vista em uma narrativa, con-
sidera-se dois pontos de vista como fundamentais: O narrador-ob- Perífrase
servador e o narrador-personagem. Trata-se da substituição de um nome comum ou próprio por
uma expressão que a caracterize. Nada mais é do que um circunló-
Primeira pessoa quio, isto é, um rodeio de palavras.
Um personagem narra a história a partir de seu próprio ponto
de vista, ou seja, o escritor usa a primeira pessoa. Nesse caso, lemos Exemplos:
o livro com a sensação de termos a visão do personagem poden- – astro rei (Sol)
do também saber quais são seus pensamentos, o que causa uma – última flor do Lácio (língua portuguesa)
leitura mais íntima. Da mesma maneira que acontece nas nossas – Cidade-Luz (Paris)
vidas, existem algumas coisas das quais não temos conhecimento e – Rainha da Borborema (Campina Grande)
só descobrimos ao decorrer da história. – Cidade Maravilhosa (Rio de Janeiro)

Segunda pessoa Existe também um tipo especial de perífrase que se refere so-
O autor costuma falar diretamente com o leitor, como um diá- mente a pessoas. Tal figura de estilo é chamada de antonomásia
logo. Trata-se de um caso mais raro e faz com que o leitor se sinta e baseia-se nas qualidades ou ações notórias do indivíduo ou da
quase como outro personagem que participa da história. entidade a que a expressão se refere.

Terceira pessoa Exemplos:


Coloca o leitor numa posição externa, como se apenas obser- – A rainha do mar (Iemanjá)
vasse a ação acontecer. Os diálogos não são como na narrativa em – O poeta dos escravos (Castro Alves)
primeira pessoa, já que nesse caso o autor relata as frases como al-
guém que estivesse apenas contando o que cada personagem disse. Síntese
A síntese é uma técnica de escrita que consiste em reduzir um
Sendo assim, o autor deve definir se sua narrativa será transmi- texto às suas ideias essenciais, com liberdade na ordem e organiza-
tida ao leitor por um ou vários personagens. Se a história é contada ção das ideias.
por mais de um ser fictício, a transição do ponto de vista de um para Trata-se de um texto que é um tipo especial de composição que
outro deve ser bem clara, para que quem estiver acompanhando a consiste em reproduzir, em poucas palavras, o que o autor expres-
leitura não fique confuso. sou amplamente. Desse modo, só devem ser aproveitadas as ideias
essenciais, dispensando-se tudo o que for secundário.
PARÁFRASE, PERÍFRASE, SÍNTESE E RESUMO
Resumo
Paráfrase Resumir um texto é reproduzir com poucas palavras aquilo que
Ao parafrasear, reescrevemos um texto com nossa própria lin- o autor disse. Saber resumir as ideias expressas em um texto não
guagem, mantendo o conteúdo e a clareza originais. A pontuação é difícil.
adequada, a variação vocabular e novos torneios frásicos assegu- O resumo é uma técnica de escrita que consiste em condensar
ram a qualidade da paráfrase. as ideias principais de um texto, não introduzindo qualquer comen-
Paráfrase é a “tradução” de um texto em outro, na mesma lín- tário e respeitando o sentido, a estrutura e o tipo de enunciação.
gua. É um exercício de leitura aprofundada, porque exige e favorece Nos resumos de livros, não devem aparecer diálogos, descri-
uma compreensão completa do texto que estamos parafraseando. ções detalhadas, cenas ou personagens secundárias. Somente as
É também um excelente exercício de redação, porque amplia nosso personagens, os ambientes e as ações mais importantes devem ser
domínio das estruturas da linguagem, ao mesmo tempo que propi- registrados.
cia a ampliação do nosso vocabulário. Resumo é uma apresentação sintética e seletiva das ideias de
Um texto parafraseado não deve configurar uma integral subs- um texto, ressaltando a progressão e a articulação delas. Nele de-
tituição de palavras, mas uma acomodação das ideias a uma lingua- vem aparecer as principais ideias do autor.
gem diferente, mais explícita, sem nada acrescentar ou subtrair ao
texto original.
Portanto, parafrasear não é apenas substituir palavras, é en- CONSTRUÇÃO DE SENTIDO E EFEITOS DE SENTIDO
contrar a expressão que recupere a ideia original, por meio de uma (SEMÂNTICA); DENOTAÇÃO (SENTIDO LITERAL) E CO-
nova organização de frases. NOTAÇÃO (SENTIDO FIGURADO)
Como ler um texto
Recomendam-se duas leituras. A primeira, chamaremos de lei- Significação de palavras
tura vertical e a segunda, de leitura horizontal. As palavras podem ter diversos sentidos em uma comunicação.
E isso também é estudado pela Gramática Normativa: quem cuida
Leitura horizontal é a leitura rápida que tem como finalidade o dessa parte é a Semântica, que se preocupa, justamente, com os
contato inicial com o assunto do texto. De posse desta visão geral, significados das palavras. Veremos, então, cada um dos conteúdos
podemos passar para o próximo passo. que compõem este estudo.

15
LÍNGUA PORTUGUESA
Antônimo e Sinônimo
Começaremos por esses dois, que já são famosos.

O Antônimo são palavras que têm sentidos opostos a outras. Por exemplo, felicidade é o antônimo de tristeza, porque o significado
de uma é o oposto da outra. Da mesma forma ocorre com homem que é antônimo de mulher.

Já o sinônimo são palavras que têm sentidos aproximados e que podem, inclusive, substituir a outra. O uso de sinônimos é muito im-
portante para produções textuais, porque evita que você fique repetindo a mesma palavra várias vezes. Utilizando os mesmos exemplos,
para ficar claro: felicidade é sinônimo de alegria/contentamento e homem é sinônimo de macho/varão.

Hipônimos e Hiperônimos
Estes conceitos são simples de entender: o hipônimo designa uma palavra de sentido mais específico, enquanto que o hiperônimo
designa uma palavra de sentido mais genérico. Por exemplo, cachorro e gato são hipônimos, pois têm sentido específico. E animais domés-
ticos é uma expressão hiperônima, pois indica um sentido mais genérico de animais. Atenção: não confunda hiperônimo com substantivo
coletivo. Hiperônimos estão no ramo dos sentidos das palavras, beleza?!?!

Outros conceitos que agem diretamente no sentido das palavras são os seguintes:

Conotação e Denotação
Observe as frases:
Amo pepino na salada.
Tenho um pepino para resolver.

As duas frases têm uma palavra em comum: pepino. Mas essa palavra tem o mesmo sentido nos dois enunciados? Isso mesmo, não!
Na primeira frase, pepino está no sentido denotativo, ou seja, a palavra está sendo usada no sentido próprio, comum, dicionarizado.
Já na segunda frase, a mesma palavra está no sentindo conotativo, pois ela está sendo usada no sentido figurado e depende do con-
texto para ser entendida.
Para facilitar: denotativo começa com D de dicionário e conotativo começa com C de contexto.

Por fim, vamos tratar de um recurso muito usado em propagandas:

Ambiguidade
Observe a propaganda abaixo:

https://redacaonocafe.wordpress.com/2012/05/22/ambiguidade-na-propaganda/

Perceba que há uma duplicidade de sentido nesta construção. Podemos interpretar que os móveis não durarão no estoque da loja, por
estarem com preço baixo; ou que por estarem muito barato, não têm qualidade e, por isso, terão vida útil curta.
Essa duplicidade acontece por causa da ambiguidade, que é justamente a duplicidade de sentidos que podem haver em uma palavra,
frase ou textos inteiros.

16
LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplo: Nós te amamos!
RELAÇÕES LEXICAIS; INTERTEXTUALIDADE; GÊNEROS
TEXTUAIS; TIPOLOGIA TEXTUAL; LINGUAGEM VERBAL Função Conativa
E NÃO VERBAL A função conativa ou apelativa é caracterizada por uma lingua-
gem persuasiva com a finalidade de convencer o leitor. Por isso, o
Prezado Candidato, o tópico acima supracitado foi abordado grande foco é no receptor da mensagem.
anteriormente. Trata-se de uma função muito utilizada nas propagandas, pu-
blicidades e discursos políticos, a fim de influenciar o receptor por
meio da mensagem transmitida.
Esse tipo de texto costuma se apresentar na segunda ou na ter-
FUNÇÕES DA LINGUAGEM
ceira pessoa com a presença de verbos no imperativo e o uso do
vocativo.
Funções da Linguagem Não se interfere no comportamento das pessoas apenas com
Funções da linguagem são recursos da comunicação que, de a ordem, o pedido, a súplica. Há textos que nos influenciam de ma-
acordo com o objetivo do emissor, dão ênfase à mensagem trans- neira bastante sutil, com tentações e seduções, como os anúncios
mitida, em função do contexto em que o ato comunicativo ocorre. publicitários que nos dizem como seremos bem-sucedidos, atraen-
São seis as funções da linguagem, que se encontram direta- tes e charmosos se usarmos determinadas marcas, se consumirmos
mente relacionadas com os elementos da comunicação. certos produtos.

Com essa função, a linguagem modela tanto bons cidadãos,


Funções da Linguagem Elementos da que colocam o respeito ao outro acima de tudo, quanto esperta-
Comunicação lhões, que só pensam em levar vantagem, e indivíduos atemoriza-
Função referencial ou contexto dos, que se deixam conduzir sem questionar.
denotativa
Exemplos: Só amanhã, não perca!
Função emotiva ou expressiva emissor Vote em mim!
Função apelativa ou conativa receptor
Função Poética
Função poética mensagem Esta função é característica das obras literárias que possui
Função fática canal como marca a utilização do sentido conotativo das palavras.
Nela, o emissor preocupa-se de que maneira a mensagem será
Função metalingu´´istica código
transmitida por meio da escolha das palavras, das expressões, das
figuras de linguagem. Por isso, aqui o principal elemento comunica-
Função Referencial tivo é a mensagem.
A função referencial tem como objetivo principal informar, re- A função poética não pertence somente aos textos literários.
ferenciar algo. Esse tipo de texto, que é voltado para o contexto da Podemos encontrar a função poética também na publicidade ou
comunicação, é escrito na terceira pessoa do singular ou do plural, nas expressões cotidianas em que há o uso frequente de metáforas
o que enfatiza sua impessoalidade. Para exemplificar a linguagem (provérbios, anedotas, trocadilhos, músicas).
referencial, podemos citar os materiais didáticos, textos jornalísti-
cos e científicos. Todos eles, por meio de uma linguagem denotati- Exemplo:
va, informam a respeito de algo, sem envolver aspectos subjetivos “Basta-me um pequeno gesto,
ou emotivos à linguagem. feito de longe e de leve,
Exemplo de uma notícia: para que venhas comigo
O resultado do terceiro levantamento feito pela Aliança Global e eu para sempre te leve...”
para Atividade Física de Crianças — entidade internacional dedicada (Cecília Meireles)
ao estímulo da adoção de hábitos saudáveis pelos jovens — foi decep-
cionante. Realizado em 49 países de seis continentes com o objetivo Função Fática
de aferir o quanto crianças e adolescentes estão fazendo exercícios A função fática tem como principal objetivo estabelecer um ca-
físicos, o estudo mostrou que elas estão muito sedentárias. Em 75% nal de comunicação entre o emissor e o receptor, quer para iniciar a
das nações participantes, o nível de atividade física praticado por essa transmissão da mensagem, quer para assegurar a sua continuação.
faixa etária está muito abaixo do recomendado para garantir um cres- A ênfase dada ao canal comunicativo.
cimento saudável e um envelhecimento de qualidade — com bom con- Esse tipo de função é muito utilizado nos diálogos, por exem-
dicionamento físico, músculos e esqueletos fortes e funções cognitivas
plo, nas expressões de cumprimento, saudações, discursos ao tele-
preservadas. De “A” a “F”, a maioria dos países tirou nota “D”.
fone, etc.
Função Emotiva
Exemplo:
Caracterizada pela subjetividade com o objetivo de emocionar.
-- Calor, não é!?
É centrada no emissor, ou seja, quem envia a mensagem. A mensa-
-- Sim! Li na previsão que iria chover.
gem não precisa ser clara ou de fácil entendimento.
Por meio do tipo de linguagem que usamos, do tom de voz que -- Pois é...
empregamos, etc., transmitimos uma imagem nossa, não raro in-
conscientemente. Função Metalinguística
Emprega-se a expressão função emotiva para designar a utili- É caracterizada pelo uso da metalinguagem, ou seja, a lingua-
zação da linguagem para a manifestação do enunciador, isto é, da- gem que se refere a ela mesma. Dessa forma, o emissor explica um
quele que fala. código utilizando o próprio código.

17
LÍNGUA PORTUGUESA
Nessa categoria, os textos metalinguísticos que merecem des- – deslocamento do “r” no interior da sílaba: largato, preguntar,
taque são as gramáticas e os dicionários. estrupo, cardeneta, típicos de pessoas de baixa condição social.
Um texto que descreva sobre a linguagem textual ou um do- – a queda do “r” final dos verbos, muito comum na linguagem
cumentário cinematográfico que fala sobre a linguagem do cinema oral no português: falá, vendê, curti (em vez de curtir), compô.
são alguns exemplos. – o acréscimo de vogal no início de certas palavras: eu me
alembro, o pássaro avoa, formas comuns na linguagem clássica,
Exemplo: hoje frequentes na fala caipira.
Amizade s.f.: 1. sentimento de grande afeição, simpatia, apreço – a queda de sons no início de palavras: ocê, cê, ta, tava, ma-
entre pessoas ou entidades. “sentia-se feliz com a amizade do seu relo (amarelo), margoso (amargoso), características na linguagem
mestre” oral coloquial.
2. POR METONÍMIA: quem é amigo, companheiro, camarada.
“é uma de suas amizades fiéis” Variações Sintáticas
Correlação entre as palavras da frase. No domínio da sintaxe,
como no da morfologia, não são tantas as diferenças entre uma va-
VARIEDADES LINGUÍSTICAS riante e outra. Como exemplo, podemos citar:
– a substituição do pronome relativo “cujo” pelo pronome
“que” no início da frase mais a combinação da preposição “de” com
Como na linguagem regional. Elas reúnem as variantes da lín- o pronome “ele” (=dele): É um amigo que eu já conhecia a família
gua que foram criadas pelos homens e são reinventadas a cada dia. dele (em vez de cuja família eu já conhecia).
Delas surgem as variações que envolvem vários aspectos histó- – a mistura de tratamento entre tu e você, sobretudo quando
ricos, sociais, culturais, geográficos, entre outros. se trata de verbos no imperativo: Entra, que eu quero falar com
Nenhuma língua é usada de maneira uniforme por todos os você (em vez de contigo); Fala baixo que a sua (em vez de tua) voz
seus falantes em todos os lugares e em qualquer situação. Sabe-se me irrita.
que, numa mesma língua, há formas distintas para traduzir o mes- – ausência de concordância do verbo com o sujeito: Eles che-
mo significado dentro de um mesmo contexto. gou tarde (em grupos de baixa extração social); Faltou naquela se-
As variações que distinguem uma variante de outra se mani- mana muitos alunos; Comentou-se os episódios.
festam em quatro planos distintos, a saber: fônico, morfológico, – o uso de pronomes do caso reto com outra função que não
sintático e lexical. a de sujeito: encontrei ele (em vez de encontrei-o) na rua; não irão
sem você e eu (em vez de mim); nada houve entre tu (em vez de ti)
Variações Morfológicas e ele.
Ocorrem nas formas constituintes da palavra. As diferenças en- – o uso do pronome lhe como objeto direto: não lhe (em vez de
tre as variantes não são tantas quanto as de natureza fônica, mas “o”) convidei; eu lhe (em vez de “o”) vi ontem.
não são desprezíveis. Como exemplos, podemos citar: – a ausência da preposição adequada antes do pronome relati-
– uso de substantivos masculinos como femininos ou vice- vo em função de complemento verbal: são pessoas que (em vez de:
-versa: duzentas gramas de presunto (duzentos), a champanha (o de que) eu gosto muito; este é o melhor filme que (em vez de a que)
champanha), tive muita dó dela (muito dó), mistura do cal (da cal). eu assisti; você é a pessoa que (em vez de em que) eu mais confio.
– a omissão do “s” como marca de plural de substantivos e ad-
jetivos (típicos do falar paulistano): os amigo e as amiga, os livro Variações Léxicas
indicado, as noite fria, os caso mais comum. Conjunto de palavras de uma língua. As variantes do plano do
– o enfraquecimento do uso do modo subjuntivo: Espero que o léxico, como as do plano fônico, são muito numerosas e caracteri-
Brasil reflete (reflita) sobre o que aconteceu nas últimas eleições; Se zam com nitidez uma variante em confronto com outra. São exem-
eu estava (estivesse) lá, não deixava acontecer; Não é possível que plos possíveis de citar:
ele esforçou (tenha se esforçado) mais que eu. – as diferenças lexicais entre Brasil e Portugal são tantas e, às
– o uso do prefixo hiper- em vez do sufixo -íssimo para criar o vezes, tão surpreendentes, que têm sido objeto de piada de lado a
superlativo de adjetivos, recurso muito característico da linguagem lado do Oceano. Em Portugal chamam de cueca aquilo que no Brasil
jovem urbana: um cara hiper-humano (em vez de humaníssimo), chamamos de calcinha; o que chamamos de fila no Brasil, em Por-
uma prova hiperdifícil (em vez de dificílima), um carro hiperpossan- tugal chamam de bicha; café da manhã em Portugal se diz pequeno
te (em vez de possantíssimo). almoço; camisola em Portugal traduz o mesmo que chamamos de
– a conjugação de verbos irregulares pelo modelo dos regula- suéter, malha, camiseta.
res: ele interviu (interveio), se ele manter (mantiver), se ele ver (vir) – a escolha do adjetivo maior em vez do advérbio muito para
o recado, quando ele repor (repuser). formar o grau superlativo dos adjetivos, características da lingua-
– a conjugação de verbos regulares pelo modelo de irregulares: gem jovem de alguns centros urbanos: maior legal; maior difícil;
vareia (varia), negoceia (negocia). Esse amigo é um carinha maior esforçado.

Variações Fônicas Designações das Variantes Lexicais:


Ocorrem no modo de pronunciar os sons constituintes da pala- – Arcaísmo: palavras que já caíram de uso. Por exemplo, um
vra. Entre esses casos, podemos citar: bobalhão era chamado de coió ou bocó; em vez de refrigerante usa-
– a redução de proparoxítonas a paroxítonas: Petrópis (Petró- va-se gasosa; algo muito bom, de qualidade excelente, era supim-
polis), fórfi (fósforo), porva (pólvora), todas elas formas típicas de pa.
pessoas de baixa condição social. – Neologismo: contrário do arcaísmo. São palavras recém-cria-
– A pronúncia do “l” final de sílaba como “u” (na maioria das das, muitas das quais mal ou nem entraram para os dicionários. A
regiões do Brasil) ou como “l” (em certas regiões do Rio Grande na computação tem vários exemplos, como escanear, deletar, prin-
do Sul e Santa Catarina) ou ainda como “r” (na linguagem caipira): tar.
quintau, quintar, quintal; pastéu, paster, pastel; faróu, farór, farol.

18
LÍNGUA PORTUGUESA
– Estrangeirismo: emprego de palavras emprestadas de outra Os verbos declarativos ou de elocução mais comuns são:
língua, que ainda não foram aportuguesadas, preservando a forma acrescentar
de origem. Nesse caso, há muitas expressões latinas, sobretudo da afirmar
linguagem jurídica, tais como: habeas-corpus (literalmente, “tenhas concordar
o corpo” ou, mais livremente, “estejas em liberdade”), ipso facto consentir
(“pelo próprio fato de”, “por isso mesmo. contestar
continuar
As palavras de origem inglesas são várias: feeling (“sensibilida- declamar
de”, capacidade de percepção), briefing (conjunto de informações determinar
básicas). dizer
– Jargão: vocabulário típico de um campo profissional como esclarecer
a medicina, a engenharia, a publicidade, o jornalismo. Furo é no- exclamar
tícia dada em primeira mão. Quando o furo se revela falso, foi uma explicar
barriga. gritar
– Gíria: vocabulário especial de um grupo que não deseja ser indagar
entendido por outros grupos ou que pretende marcar sua identida- insistir
de por meio da linguagem. Por exemplo, levar um lero (conversar). interrogar
– Preciosismo: é um léxico excessivamente erudito, muito raro: interromper
procrastinar (em vez de adiar); cinesíforo (em vez de motorista). intervir
– Vulgarismo: o contrário do preciosismo, por exemplo, de mandar
saco cheio (em vez de aborrecido), se ferrou (em vez de se deu mal, ordenar, pedir
arruinou-se). perguntar
prosseguir
Tipos de Variação protestar
As variações mais importantes, são as seguintes: reclamar
– Sociocultural: Esse tipo de variação pode ser percebido com repetir
certa facilidade. replicar
– Geográfica: é, no Brasil, bastante grande. Ao conjunto das responder
características da pronúncia de uma determinada região dá-se o retrucar
nome de sotaque: sotaque mineiro, sotaque nordestino, sotaque solicitar
gaúcho etc.
– De Situação: são provocadas pelas alterações das circuns- Os verbos declarativos podem, além de introduzir a fala, indicar
tâncias em que se desenrola o ato de comunicação. Um modo de atitudes, estados interiores ou situações emocionais das persona-
falar compatível com determinada situação é incompatível com gens como, por exemplo, os verbos protestar, gritar, ordenar e ou-
outra tros. Esse efeito pode ser também obtido com o uso de adjetivos ou
– Histórica: as línguas se alteram com o passar do tempo e com advérbios aliados aos verbos de elocução: falou calmamente, gritou
o uso. Muda a forma de falar, mudam as palavras, a grafia e o senti- histérica, respondeu irritada, explicou docemente.
do delas. Essas alterações recebem o nome de variações históricas.
Exemplo:
— O amor, prosseguiu sonhadora, é a grande realização de nos-
TIPOS DE DISCURSO sas vidas.
Ao utilizar o discurso direto – diálogos (com ou sem travessão)
entre as personagens –, você deve optar por um dos três estilos a
Discurso direto seguir:
É a fala da personagem reproduzida fielmente pelo narrador,
ou seja, reproduzida nos termos em que foi expressa. Estilo 1:
— Bonito papel! Quase três da madrugada e os senhores com- João perguntou:
pletamente bêbados, não é? — Que tal o carro?
Foi aí que um dos bêbados pediu:
— Sem bronca, minha senhora. Veja logo qual de nós quatro é Estilo 2:
o seu marido que os outros querem ir para casa. João perguntou: “Que tal o carro?” (As aspas são optativas)
(Stanislaw Ponte Preta) Antônio respondeu: “horroroso” (As aspas são optativas)

Observe que, no exemplo dado, a fala da personagem é intro- Estilo 3:


duzida por um travessão, que deve estar alinhado dentro do pará- Verbos de elocução no meio da fala:
grafo. — Estou vendo, disse efusivamente João, que você adorou o
O narrador, ao reproduzir diretamente a fala das personagens, carro.
conserva características do linguajar de cada uma, como termos de — Você, retrucou Antônio, está completamente enganado.
gíria, vícios de linguagem, palavrões, expressões regionais ou ca-
coetes pessoais. Verbos de elocução no fim da fala:
O discurso direto geralmente apresenta verbos de elocução (ou — Estou vendo que você adorou o carro — disse efusivamente
declarativos ou dicendi) que indicam quem está emitindo a mensa- João.
gem. — Você está completamente enganado — retrucou Antônio.

19
LÍNGUA PORTUGUESA
Os trechos que apresentam verbos de elocução podem vir com Observe que se o trecho “Era bruto, sim” estivesse um discur-
travessões ou com vírgulas. Observe os seguintes exemplos: so direto, apresentaria a seguinte formulação: Sou bruto, sim; em
discurso indireto: Ele admitiu que era bruto; em discurso indireto
— Não posso, disse ela daí a alguns instantes, não deixo meu livre: Era bruto, sim.
filho. (Machado de Assis)
Para produzir discurso indireto livre que exprima o mundo in-
— Não vá sem eu lhe ensinar a minha filosofia da miséria, disse terior da personagem (seus pensamentos, desejos, sonhos, fantasias
ele, escarrachando-se diante de mim. (Machado de Assis) etc.), o narrador precisa ser onisciente. Observe que os pensamentos
da personagem aparecem, no trecho transcrito, principalmente nas
— Vale cinquenta, ponderei; Sabina sabe que custou cinquenta orações interrogativas, entremeadas com o discurso do narrador.
e oito. (Machado de Assis)
Transposição de discurso
— Ainda não, respondi secamente. (Machado de Assis) Na narração, para reconstituir a fala da personagem, utiliza-se
a estrutura de um discurso direto ou de um discurso indireto. O
Verbos de elocução depois de orações interrogativas e excla- domínio dessas estruturas é importante tanto para se empregar
mativas: corretamente os tipos de discurso na redação.
— Nunca me viu? perguntou Virgília vendo que a encarava com Os sinais de pontuação (aspas, travessão, dois-pontos) e outros
insistência. (Machado de Assis) recursos como grifo ou itálico, presentes no discurso direto, não apare-
— Para quê? interrompeu Sabina. (Machado de Assis) cem no discurso indireto, a não ser que se queira insistir na atribuição
— Isso nunca; não faço esmolas! disse ele. (Machado de Assis) do enunciado à personagem, não ao narrador. Tal insistência, porém, é
desnecessária e excessiva, pois, se o texto for bem construído, a identi-
Observe que os verbos de elocução aparecem em letras minús- ficação do discurso indireto livre não oferece dificuldade.
culas depois dos pontos de exclamação e interrogação.

Discurso indireto Discurso Direto


No discurso indireto, o narrador exprime indiretamente a fala • Presente
da personagem. O narrador funciona como testemunha auditiva e A enfermeira afirmou:
passa para o leitor o que ouviu da personagem. Na transcrição, o – É uma menina.
verbo aparece na terceira pessoa, sendo imprescindível a presen-
ça de verbos dicendi (dizer, responder, retrucar, replicar, perguntar, • Pretérito perfeito
pedir, exclamar, contestar, concordar, ordenar, gritar, indagar, de- – Já esperei demais, retrucou com indignação.
clamar, afirmar, mandar etc.), seguidos dos conectivos que (dicendi
afirmativo) ou se (dicendi interrogativo) para introduzir a fala da • Futuro do presente
personagem na voz do narrador. Pedrinho gritou:
– Não sairei do carro.
A certo ponto da conversação, Glória me disse que desejava
muito conhecer Carlota e perguntou por que não a levei comigo. • Imperativo
(Ciro dos Anjos) Olhou-a e disse secamente:
– Deixe-me em paz.
Fui ter com ela, e perguntei se a mãe havia dito alguma coisa;
respondeu-me que não. Outras alterações
(Machado de Assis) • Primeira ou segunda pessoa
Discurso indireto livre Maria disse:
Resultante da mistura dos discursos direto e indireto, existe
– Não quero sair com Roberto hoje.
uma terceira modalidade de técnica narrativa, o chamado discurso
indireto livre, processo de grande efeito estilístico. Por meio dele,
• Vocativo
o narrador pode, não apenas reproduzir indiretamente falas das
– Você quer café, João?, perguntou a prima.
personagens, mas também o que elas não falam, mas pensam, so-
nham, desejam etc. Neste caso, discurso indireto livre corresponde
• Objeto indireto na oração principal
ao monólogo interior das personagens, mas expresso pelo narrador.
As orações do discurso indireto livre são, em regra, indepen- A prima perguntou a João se ele queria café.
dentes, sem verbos dicendi, sem pontuação que marque a passa-
gem da fala do narrador para a da personagem, mas com transpo- • Forma interrogativa ou imperativa
sições do tempo do verbo (pretérito imperfeito) e dos pronomes Abriu o estojo, contou os lápis e depois perguntou ansiosa:
(terceira pessoa). O foco narrativo deve ser de terceira pessoa. Esse – E o amarelo?
discurso é muito empregado na narrativa moderna, pela fluência e
ritmo que confere ao texto. • Advérbios de lugar e de tempo
aqui, daqui, agora, hoje, ontem, amanhã
Fabiano ouviu o relatório desconexo do bêbado, caiu numa in- • Pronomes demonstrativos e possessivos
decisão dolorosa. Ele também dizia palavras sem sentido, conversa essa(s), esta(s)
à toa. Mas irou-se com a comparação, deu marradas na parede. Era esse(s), este(s)
bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. isso, isto
Estava preso por isso? Como era? Então mete- se um homem na meu, minha
cadeia por que ele não sabe falar direito? teu, tua
(Graciliano Ramos) nosso, nossa

20
LÍNGUA PORTUGUESA

Discurso Indireto ORTOGRAFIA


• Pretérito imperfeito
A enfermeira afirmou que era uma menina. ORTOGRAFIA OFICIAL
• Futuro do pretérito • Mudanças no alfabeto: O alfabeto tem 26 letras. Foram rein-
Pedrinho gritou que não sairia do carro. troduzidas as letras k, w e y.
• Pretérito mais-que-perfeito O alfabeto completo é o seguinte: A B C D E F G H I J K L M N O
Retrucou com indignação que já esperara (ou tinha espera- PQRSTUVWXYZ
do) demais. • Trema: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a
• Pretérito imperfeito do subjuntivo letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue,
Olhou-a e disse secamente que o deixasse em paz. gui, que, qui.
Outras alterações
• Terceira pessoa Regras de acentuação
Maria disse que não queria sair com Roberto naquele dia. – Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das
• Objeto indireto na oração principal palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima
A prima perguntou a João se ele queria café. sílaba)
• Forma declarativa
Abriu o estojo, contou os lápis e depois perguntou ansiosa
pelo amarelo. Como era Como fica
lá, dali, de lá, naquele momento, naquele dia, no dia an- alcatéia alcateia
terior, na véspera, no dia seguinte, aquela(s), aquele(s), aquilo,
apóia apoia
seu, sua (dele, dela), seu, sua (deles, delas)
apóio apoio

ACENTUAÇÃO GRÁFICA Atenção: essa regra só vale para as paroxítonas. As oxítonas


continuam com acento: Ex.: papéis, herói, heróis, troféu, troféus.

Acentuação é o modo de proferir um som ou grupo de sons – Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no
com mais relevo do que outros. Os sinais diacríticos servem para u tônicos quando vierem depois de um ditongo.
indicar, dentre outros aspectos, a pronúncia correta das palavras.
Vejamos um por um: Como era Como fica
Acento agudo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre baiúca baiuca
aberto. bocaiúva bocaiuva
Já cursei a Faculdade de História.
Acento circunflexo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em
fechado. posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos:
Meu avô e meus três tios ainda são vivos. tuiuiú, tuiuiús, Piauí.
Acento grave: marca o fenômeno da crase (estudaremos este
caso afundo mais à frente). – Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem
Sou leal à mulher da minha vida. e ôo(s).

As palavras podem ser:


– Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu- Como era Como fica
-já, ra-paz, u-ru-bu...) abençôo abençoo
– Paroxítonas: quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa,
crêem creem
sa-bo-ne-te, ré-gua...)
– Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima
(sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…) – Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/
para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera.
As regras de acentuação das palavras são simples. Vejamos:
• São acentuadas todas as palavras proparoxítonas (médico, Atenção:
íamos, Ângela, sânscrito, fôssemos...) • Permanece o acento diferencial em pôde/pode.
• São acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em L, N, • Permanece o acento diferencial em pôr/por.
R, X, I(S), US, UM, UNS, OS, ÃO(S), Ã(S), EI(S) (amável, elétron, éter, • Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural
fênix, júri, oásis, ônus, fórum, órfão...) dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter,
• São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em A(S), reter, conter, convir, intervir, advir etc.).
E(S), O(S), EM, ENS, ÉU(S), ÉI(S), ÓI(S) (xarás, convéns, robô, Jô, céu, • É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as
dói, coronéis...) palavras forma/fôrma.
• São acentuados os hiatos I e U, quando precedidos de vogais
(aí, faísca, baú, juízo, Luísa...) Uso de hífen
Regra básica:
Viu que não é nenhum bicho de sete cabeças? Agora é só trei- Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-ho-
nar e fixar as regras. mem.

21
LÍNGUA PORTUGUESA
Outros casos SUBSTANTIVOS PRIMITIVOS: Casa/
1. Prefixo terminado em vogal: são os que dão origem a mundo/
– Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo. outras palavras, ou seja, ela é população
– Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto, a primeira. /formiga
semicírculo.
– Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracis- SUBSTANTIVOS DERIVADOS: Caseiro/mundano/
mo, antissocial, ultrassom. são formados por outros populacional/formigueiro
– Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-on- radicais da língua.
das. SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS: Rodrigo
designa determinado ser /Brasil
2. Prefixo terminado em consoante: entre outros da mesma /Belo Horizonte/Estátua da
– Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub- espécie. São sempre iniciados Liberdade
-bibliotecário. por letra maiúscula.
– Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, su-
persônico. SUBSTANTIVOS COMUNS: biscoitos/ruídos/estrelas/
– Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante. referem-se qualquer ser de cachorro/prima
uma mesma espécie.
Observações: SUBSTANTIVOS CONCRETOS: Leão/corrente
• Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra nomeiam seres com existência /estrelas/fadas
iniciada por r: sub-região, sub-raça. Palavras iniciadas por h perdem própria. Esses seres podem /lobisomem
essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade. ser animadoso ou inanimados, /saci-pererê
• Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de pala- reais ou imaginários.
vra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano.
SUBSTANTIVOS ABSTRATOS: Mistério/
• O prefixo co aglutina-se, em geral, com o segundo elemento,
nomeiam ações, estados, bondade/
mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, coope-
qualidades e sentimentos que confiança/
rar, cooperação, cooptar, coocupante.
não tem existência própria, ou lembrança/
• Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-al-
seja, só existem em função de amor/
mirante.
um ser. alegria
• Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam
a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva, SUBSTANTIVOS COLETIVOS: Elenco (de atores)/
pontapé, paraquedas, paraquedista. referem-se a um conjunto acervo (de obras artísticas)/
• Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, de seres da mesma espécie, buquê (de flores)
usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar, mesmo quando empregado
recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu. no singular e constituem um
substantivo comum.
Viu? Tudo muito tranquilo. Certeza que você já está dominando NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
muita coisa. Mas não podemos parar, não é mesmo?!?! Por isso QUE NÃO ESTÃO AQUI!
vamos passar para mais um ponto importante.
Flexão dos Substantivos
• Gênero: Os gêneros em português podem ser dois: masculi-
CLASSE DE PALAVRAS (SUBSTANTIVO, ARTIGO, ADJE- no e feminino. E no caso dos substantivos podem ser biformes ou
TIVO, NUMERAL, PRONOME, VERBO, ADVÉRBIO, PRE- uniformes
POSIÇÃO, CONJUNÇÃO, INTERJEIÇÃO) – Biformes: as palavras tem duas formas, ou seja, apresenta
uma forma para o masculino e uma para o feminino: tigre/tigresa, o
presidente/a presidenta, o maestro/a maestrina
CLASSES DE PALAVRAS – Uniformes: as palavras tem uma só forma, ou seja, uma única
forma para o masculino e o feminino. Os uniformes dividem-se em
Substantivo epicenos, sobrecomuns e comuns de dois gêneros.
São as palavras que atribuem nomes aos seres reais ou imagi- a) Epicenos: designam alguns animais e plantas e são invariá-
nários (pessoas, animais, objetos), lugares, qualidades, ações e sen- veis: onça macho/onça fêmea, pulga macho/pulga fêmea, palmeira
timentos, ou seja, que tem existência concreta ou abstrata.  macho/palmeira fêmea.
b) Sobrecomuns: referem-se a seres humanos; é pelo contexto
Classificação dos substantivos que aparecem que se determina o gênero: a criança (o criança), a
testemunha (o testemunha), o individuo (a individua).
SUBSTANTIVO SIMPLES: Olhos/água/ c) Comuns de dois gêneros: a palavra tem a mesma forma tanto
apresentam um só radical em muro/quintal/caderno/ para o masculino quanto para o feminino: o/a turista, o/a agente,
sua estrutura. macaco/João/sabão o/a estudante, o/a colega.
• Número: Podem flexionar em singular (1) e plural (mais de 1).
SUBSTANTIVOS COMPOSTOS: Macacos-prego/
– Singular: anzol, tórax, próton, casa.
são formados por mais de um porta-voz/
– Plural: anzóis, os tórax, prótons, casas.
radical em sua estrutura. pé-de-moleque
• Grau: Podem apresentar-se no grau aumentativo e no grau
diminutivo.
– Grau aumentativo sintético: casarão, bocarra.

22
LÍNGUA PORTUGUESA
– Grau aumentativo analítico: casa grande, boca enorme.
– Grau diminutivo sintético: casinha, boquinha
– Grau diminutivo analítico: casa pequena, boca minúscula. 

Adjetivo
É a palavra invariável que especifica e caracteriza o substantivo: imprensa livre, favela ocupada. Locução adjetiva é expressão compos-
ta por substantivo (ou advérbio) ligado a outro substantivo por preposição com o mesmo valor e a mesma função que um adjetivo: golpe
de mestre (golpe magistral), jornal da tarde (jornal vespertino).

Flexão do Adjetivos
• Gênero:
– Uniformes: apresentam uma só para o masculino e o feminino: homem feliz, mulher feliz.
– Biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra para o feminino: juiz sábio/ juíza sábia, bairro japonês/ indústria japo-
nesa, aluno chorão/ aluna chorona. 

• Número:
– Os adjetivos simples seguem as mesmas regras de flexão de número que os substantivos: sábio/ sábios, namorador/ namoradores,
japonês/ japoneses.
– Os adjetivos compostos têm algumas peculiaridades: luvas branco-gelo, garrafas amarelo-claras, cintos da cor de chumbo.

• Grau:
– Grau Comparativo de Superioridade: Meu time é mais vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Inferioridade: Meu time é menos vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Igualdade: Meu time é tão vitorioso quanto o seu.
– Grau Superlativo Absoluto Sintético: Meu time é famosíssimo.
– Grau Superlativo Absoluto Analítico: Meu time é muito famoso.
– Grau Superlativo Relativo de Superioridade: Meu time é o mais famoso de todos.
– Grau Superlativo Relativo de Inferioridade; Meu time é menos famoso de todos.

Artigo
É uma palavra variável em gênero e número que antecede o substantivo, determinando de modo particular ou genérico.
• Classificação e Flexão do Artigos
– Artigos Definidos: o, a, os, as.
O menino carregava o brinquedo em suas costas.
As meninas brincavam com as bonecas.
– Artigos Indefinidos: um, uma, uns, umas.
Um menino carregava um brinquedo.
Umas meninas brincavam com umas bonecas.

Numeral
É a palavra que indica uma quantidade definida de pessoas ou coisas, ou o lugar (posição) que elas ocupam numa série.
• Classificação dos Numerais
– Cardinais: indicam número ou quantidade:
Trezentos e vinte moradores.
– Ordinais: indicam ordem ou posição numa sequência:
Quinto ano. Primeiro lugar.
– Multiplicativos: indicam o número de vezes pelo qual uma quantidade é multiplicada:
O quíntuplo do preço.
– Fracionários: indicam a parte de um todo:
Dois terços dos alunos foram embora.

Pronome
É a palavra que substitui os substantivos ou os determinam, indicando a pessoa do discurso.
• Pronomes pessoais vão designar diretamente as pessoas em uma conversa. Eles indicam as três pessoas do discurso.

Pronomes Retos Pronomes Oblíquos


Pessoas do Discurso
Função Subjetiva Função Objetiva
1º pessoa do singular Eu Me, mim, comigo
2º pessoa do singular Tu Te, ti, contigo
3º pessoa do singular Ele, ela,  Se, si, consigo, lhe, o, a
1º pessoa do plural Nós Nos, conosco

23
LÍNGUA PORTUGUESA

2º pessoa do plural Vós Vos, convosco


3º pessoa do plural Eles, elas Se, si, consigo, lhes, os, as

• Pronomes de Tratamento são usados no trato com as pessoas, normalmente, em situações formais de comunicação.

Pronomes de Tratamento Emprego


Você Utilizado em situações informais.
Senhor (es) e Senhora (s) Tratamento para pessoas mais velhas.
Vossa Excelência Usados para pessoas com alta autoridade
Vossa Magnificência Usados para os reitores das Universidades.
Vossa Senhoria Empregado nas correspondências e textos escritos.
Vossa Majestade Utilizado para Reis e Rainhas
Vossa Alteza Utilizado para príncipes, princesas, duques.
Vossa Santidade Utilizado para o Papa
Vossa Eminência Usado para Cardeais.
Vossa Reverendíssima Utilizado para sacerdotes e religiosos em geral.

• Pronomes Possessivos referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa.

Pessoa do Discurso Pronome Possessivo


1º pessoa do singular Meu, minha, meus, minhas
2º pessoa do singular teu, tua, teus, tuas
3º pessoa do singular seu, sua, seus, suas
1º pessoa do plural Nosso, nossa, nossos, nossas
2º pessoa do plural Vosso, vossa, vossos, vossas
3º pessoa do plural Seu, sua, seus, suas

• Pronomes Demonstrativos são utilizados para indicar a posição de algum elemento em relação à pessoa seja no discurso, no tempo
ou no espaço.

Pronomes Demonstrativos Singular Plural


Feminino esta, essa, aquela estas, essas, aquelas
Masculino este, esse, aquele estes, esses, aqueles

• Pronomes Indefinidos referem-se à 3º pessoa do discurso, designando-a de modo vago, impreciso, indeterminado. Os pronomes
indefinidos podem ser variáveis (varia em gênero e número) e invariáveis (não variam em gênero e número).

Classificação Pronomes Indefinidos


algum, alguma, alguns, algumas, nenhum, nenhuma, nenhuns, nenhumas, muito, muita, muitos, muitas, pouco,
pouca, poucos, poucas, todo, toda, todos, todas, outro, outra, outros, outras, certo, certa, certos, certas, vário,
Variáveis
vária, vários, várias, tanto, tanta, tantos, tantas, quanto, quanta, quantos, quantas, qualquer, quaisquer, qual, quais,
um, uma, uns, umas.
Invariáveis quem, alguém, ninguém, tudo, nada, outrem, algo, cada.

• Pronomes Interrogativos são palavras variáveis e invariáveis utilizadas para formular perguntas diretas e indiretas.

Classificação Pronomes Interrogativos


Variáveis qual, quais, quanto, quantos, quanta, quantas.
Invariáveis quem, que.

• Pronomes Relativos referem-se a um termo já dito anteriormente na oração, evitando sua repetição.  Eles também podem ser
variáveis e invariáveis.

24
LÍNGUA PORTUGUESA

Classificação Pronomes Relativos


Variáveis o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quantas.
Invariáveis quem, que, onde.

Verbos
São as palavras que exprimem ação, estado, fenômenos meteorológicos, sempre em relação ao um determinado tempo.

• Flexão verbal
Os verbos podem ser flexionados de algumas formas.
– Modo: É a maneira, a forma como o verbo se apresenta na frase para indicar uma atitude da pessoa que o usou. O modo é dividido
em três: indicativo (certeza, fato), subjuntivo (incerteza, subjetividade) e imperativo (ordem, pedido).
– Tempo: O tempo indica o momento em que se dá o fato expresso pelo verbo. Existem três tempos no modo indicativo: presente,
passado (pretérito perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito) e futuro (do presente e do pretérito). No subjuntivo, são três: presente, pre-
térito imperfeito e futuro.
– Número: Este é fácil: singular e plural.
– Pessoa: Fácil também: 1ª pessoa (eu amei, nós amamos); 2º pessoa (tu amaste, vós amastes); 3ª pessoa (ele amou, eles amaram).

• Formas nominais do verbo


Os verbos têm três formas nominais, ou seja, formas que exercem a função de nomes (normalmente, substantivos). São elas infinitivo
(terminado em -R), gerúndio (terminado em –NDO) e particípio (terminado em –DA/DO).

• Voz verbal
É a forma como o verbo se encontra para indicar sua relação com o sujeito. Ela pode ser ativa, passiva ou reflexiva.
– Voz ativa: Segundo a gramática tradicional, ocorre voz ativa quando o verbo (ou locução verbal) indica uma ação praticada pelo
sujeito. Veja:
João pulou da cama atrasado
– Voz passiva: O sujeito é paciente e, assim, não pratica, mas recebe a ação. A voz passiva pode ser analítica ou sintética. A voz passiva
analítica é formada por:
Sujeito paciente + verbo auxiliar (ser, estar, ficar, entre outros) + verbo principal da ação conjugado no particípio + preposição por/
pelo/de + agente da passiva.
A casa foi aspirada pelos rapazes

A voz passiva sintética, também chamada de voz passiva pronominal (devido ao uso do pronome se) é formada por:
Verbo conjugado na 3.ª pessoa (no singular ou no plural) + pronome apassivador «se» + sujeito paciente.
Aluga-se apartamento.

Advérbio
É a palavra invariável que modifica o verbo, adjetivo, outro advérbio ou a oração inteira, expressando uma determinada circunstância.
As circunstâncias dos advérbios podem ser:
– Tempo: ainda, cedo, hoje, agora, antes, depois, logo, já, amanhã, tarde, sempre, nunca, quando, jamais, ontem, anteontem, breve-
mente, atualmente, à noite, no meio da noite, antes do meio-dia, à tarde, de manhã, às vezes, de repente, hoje em dia, de vez em quando,
em nenhum momento, etc.
– Lugar: Aí, aqui, acima, abaixo, ali, cá, lá, acolá, além, aquém, perto, longe, dentro, fora, adiante, defronte, detrás, de cima, em cima,
à direita, à esquerda, de fora, de dentro, por fora, etc.
– Modo: assim, melhor, pior, bem, mal, devagar, depressa, rapidamente, lentamente, apressadamente, felizmente, às pressas, às ocul-
tas, frente a frente, com calma, em silêncio, etc.
– Afirmação: sim, deveras, decerto, certamente, seguramente, efetivamente, realmente, sem dúvida, com certeza, por certo, etc. 
– Negação: não, absolutamente, tampouco, nem, de modo algum, de jeito nenhum, de forma alguma, etc.
– Intensidade: muito, pouco, mais, menos, meio, bastante, assaz, demais, bem, mal, tanto, tão, quase, apenas, quanto, de pouco, de
todo, etc.
– Dúvida: talvez, acaso, possivelmente, eventualmente, porventura, etc.

25
LÍNGUA PORTUGUESA
Preposição
É a palavra que liga dois termos, de modo que o segundo complete o sentido do primeiro. As preposições são as seguintes:

Conjunção
É palavra que liga dois elementos da mesma natureza ou uma oração a outra. As conjunções podem ser coordenativas (que ligam
orações sintaticamente independentes) ou subordinativas (que ligam orações com uma relação hierárquica, na qual um elemento é de-
terminante e o outro é determinado).

• Conjunções Coordenativas

Tipos Conjunções Coordenativas


Aditivas e, mas ainda, mas também, nem...
Adversativas contudo, entretanto, mas, não obstante, no entanto, porém, todavia...
Alternativas já…, já…, ou, ou…, ou…, ora…, ora…, quer…, quer…
Conclusivas assim, então, logo, pois (depois do verbo), por conseguinte, por isso, portanto...
Explicativas pois (antes do verbo), porquanto, porque, que...

• Conjunções Subordinativas

Tipos Conjunções Subordinativas


Causais Porque, pois, porquanto, como, etc.
Concessivas Embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, etc.
Condicionais Se, caso, quando, conquanto que, salvo se, sem que, etc.
Conformativas Conforme, como (no sentido de conforme), segundo, consoante, etc.
Finais Para que, a fim de que, porque (no sentido de que), que, etc.
Proporcionais À medida que, ao passo que, à proporção que, etc.
Temporais Quando, antes que, depois que, até que, logo que, etc.
Comparativas Que, do que (usado depois de mais, menos, maior, menor, melhor, etc.
Consecutivas Que (precedido de tão, tal, tanto), de modo que, De maneira que, etc.
Integrantes Que, se.

Interjeição
É a palavra invariável que exprime ações, sensações, emoções, apelos, sentimentos e estados de espírito, traduzindo as reações das
pessoas.
• Principais Interjeições
Oh! Caramba! Viva! Oba! Alô! Psiu! Droga! Tomara! Hum!

Dez classes de palavras foram estudadas agora. O estudo delas é muito importante, pois se você tem bem construído o que é e a fun-
ção de cada classe de palavras, não terá dificuldades para entender o estudo da Sintaxe.

26
LÍNGUA PORTUGUESA
Outros processos de formação de palavras:
ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS • Onomatopeia: bangue-bangue, zum-zum-zum, blá-blá-blá.
• Abreviação: televisão > tevê, motocicleta > moto, fotografia
Antes de estudarmos os processos de formação de palavras, > foto
precisamos relembrar alguns conceitos de estrutura das palavras • Siglonimização: UFMG (Universidade Federal de Minas Ge-
que irão nos ajudar bastante. A parte de Estrutura das Palavras trata rais), PT (Partido dos Trabalhadores), Petrobras (Petróleo do Brasil
dos conceitos de radical, prefixo, sufixo e desinência. Vejamos, rapi- S/A)
damente, cada uma delas. • Hibridismo: socio/logia (latim e grego), auto/móvel (grego e
Radical é a base da palavra, é a parte responsável pela significa- latim), tele/visão (grego e latim)
ção principal dela, assim como pela formação de novas. Sem radical • Palavra-valise: sofrer + professor > sofressor, aborrecer + ado-
não há palavra(s). lescente > aborrecente
amargo, amargor, amargura, amargurar, amargurado

Os afixos são morfemas derivacionais ligados ao radical e capa- SINTAXE (FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO; TERMOS ESSEN-
zes de modificar o seu significado, formando palavras novas. Exis- CIAIS, INTEGRANTES E ACESSÓRIOS DA ORAÇÃO)
tem dois tipos: os prefixos e os sufixos.
O Prefixo vem antes do radical para ampliar sua significação e
formar nova palavra. Agora chegamos no assunto que causa mais temor em muitos
ateu, analfabeto, anestesia estudantes. Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: o estudo
da sintaxe é mais fácil do que parece e você vai ver que sabe muita
O Sufixo vem depois do radical para ampliar seu sentido e for- coisa que nem imagina. Para começar, precisamos de classificar al-
mar nova palavra. gumas questões importantes:
pançudo, maçudo
• Frase: Enunciado que estabelece uma comunicação de sen-
Desinências são morfemas flexionais colocados após os radi- tido completo. 
cais. Apenas indicam, no caso dos nomes, o gênero e o número Os jornais publicaram a notícia.
das palavras; no caso dos verbos, indicam o modo, o tempo, o nú- Silêncio! 
mero e a pessoa. Tais morfemas não formam novas palavras, mas
flexionam, variam, mudam levemente a forma da mesma palavra, • Oração: Enunciado que se forma com um verbo ou com uma
indicando certos aspectos. Portanto, não confunda desinência com locução verbal.
sufixo! Este filme causou grande impacto entre o público.
Elas podem ser nominais (gênero e número) ou verbais (modo- A inflação deve continuar sob controle.
-temporais e número-pessoais).
aluna, aluno, alunas, alunos, estávamos (pretérito imperfeito • Período Simples: formado por uma única oração.
do modo indicativo/ 1º pessoa do plural) O clima se alterou muito nos últimos dias.

Agora sim! Já sabemos um pouco da base que nos ajudará a • Período Composto: formado por mais de uma oração.
entender melhor os processos de formação de palavras. O governo prometeu/ que serão criados novos empregos.
Existem algumas maneiras para a formação de novos vocábu-
los na língua, logo esta parte trata justamente dos diversos modos Bom, já está a clara a diferença entre frase, oração e período.
como as palavras se formam. Os principais processos são estes: Vamos, então, classificar os elementos que compõem uma oração:
derivação, composição, onomatopeia (reduplicação), abreviação
(redução), siglonimização, hibridismo, palavra-valise (combinação). • Sujeito: Termo da oração do qual se declara alguma coisa.
O problema da violência preocupa os cidadãos.
A Derivação é um processo de multiplicação e reaproveitamen- • Predicado: Tudo que se declara sobre o sujeito.
to de um vocábulo pelo acréscimo de sufixos e prefixos. Ela pode A tecnologia permitiu o resgate dos operários.
ser prefixal, sufixal, parassintética, regressiva e imprópria.
• Derivação sufixal: livraria, livrinho, livresco. • Objeto Direto: Complemento que se liga ao verbo transitivo
• Derivação prefixal: reter, deter, conter. direto ou ao verbo transitivo direto e indireto sem o auxílio da pre-
• Parassintética: envelhecer (en + velho + ecer), aterrar (a + posição.
terra + ar), abençoar (a + bênção + ar). A tecnologia tem possibilitado avanços notáveis.
• Regressiva: atrasar > atraso, demorar > demora, tossir > tos- Os pais oferecem ajuda financeira ao filho.
se, engasgar > engasgo, telefonar > telefone
• Imprópria (conversão): Você tem aracnofobia? (radical) / Eu • Objeto Indireto: Complemento que se liga ao verbo transi-
tenho muitas fobias. (substantivo) tivo indireto ou ao verbo transitivo direto e indireto por meio de
• Ocorre Composição quando uma palavra é constituída por preposição. 
dois ou mais radicais. Há dois tipos de composição: por justaposição Os Estados Unidos resistem ao grave momento.
e por aglutinação. Vejamos! João gosta de beterraba.
• Composição por justaposição: pontapé (ponta + pé), vaivém
(vai + vem), passatempo (passa + tempo) • Adjunto Adverbial: Termo modificador do verbo que exprime
• Composição por aglutinação: boquiaberto (boca + aberta), determinada circunstância (tempo, lugar, modo etc.) ou intensifica
mundividência (mundo + vidência),fidalgo (filho de algo) um verbo, adjetivo ou advérbio.
O ônibus saiu à noite quase cheio, com destino a Salvador.
Vamos sair do mar.

27
LÍNGUA PORTUGUESA
• Agente da Passiva: Termo da oração que exprime quem pratica a ação verbal quando o verbo está na voz passiva.
Raquel foi pedida em casamento por seu melhor amigo.
• Adjunto Adnominal: Termo da oração que modifica um substantivo, caracterizando-o ou determinando-o sem a intermediação de
um verbo.
Um casal de médicos eram os novos moradores do meu prédio.

• Complemento Nominal: Termo da oração que completa nomes, isto é, substantivos, adjetivos e advérbios, e vem preposicionado.
A realização do torneio teve a aprovação de todos.

• Predicativo do Sujeito: Termo que atribui característica ao sujeito da oração.


A especulação imobiliária me parece um problema.
• Predicativo do Objeto: Termo que atribui características ao objeto direto ou indireto da oração.
O médico considerou o paciente hipertenso.

• Aposto: Termo da oração que explica, esclarece, resume ou identifica o nome ao qual se refere (substantivo, pronome ou equivalen-
tes). O aposto sempre está entre virgulas ou após dois-pontos.
A praia do Forte, lugar paradisíaco, atrai muitos turistas.

• Vocativo: Termo da oração que se refere a um interlocutor a quem se dirige a palavra.


Senhora, peço aguardar mais um pouco.

Tipos de orações
As partes de uma oração já está fresquinha aí na sua cabeça, não é?!?! Estudar os tipos de orações que existem será moleza, moleza.
Vamos comigo!!!
Temos dois tipos de orações: as coordenadas, cuja as orações de um período são independentes (não dependem uma da outra para
construir sentido completo); e as subordinadas, cuja as orações de um período são dependentes (dependem uma da outra para construir
sentido completo).
As orações coordenadas podem ser sindéticas (conectadas uma a outra por uma conjunção) e assindéticas (que não precisam da
conjunção para estar conectadas. O serviço é feito pela vírgula).

Tipos de orações coordenadas

Orações Coordenadas Sindéticas Orações Coordenadas Assindéticas

Aditivas Fomos para a escola e fizemos o exame final. • Lena estava triste, cansada, decepcionada.
Adversativas Pedro Henrique estuda muito, porém não passa •
no vestibular. • Ao chegar à escola conversamos, estudamos, lan-
chamos.
Alternativas Manuela  ora  quer comer hambúrguer,  ora quer
comer pizza. Alfredo está chateado, pensando em se mudar.
Conclusivas Não gostamos do restaurante,  portanto não
iremos mais lá. Precisamos estar com cabelos arrumados, unhas feitas.

Explicativas Marina não queria falar,  ou seja, ela estava de João Carlos e Maria estão radiantes, alegria que dá inveja.
mau humor.

Tipos de orações subordinadas


As orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas e adverbiais. Cada uma delas tem suas subclassificações, que veremos
agora por meio do quadro seguinte.

28
LÍNGUA PORTUGUESA

Orações Subordinadas
Subjetivas É certo que ele trará os a sobremesa do
Exercem a função de sujeito jantar.
Completivas Nominal Estou convencida de que ele é solteiro.
Exercem a função de complemento
nominal
Predicativas O problema é que ele não entregou a
Orações Subordinadas Substantivas Exercem a função de predicativo refeição no lugar.
Apositivas Eu lhe disse apenas isso: que não se
Exercem a função de aposto aborrecesse com ela.
Objetivas Direta Lembrou-se da dívida que tem com ele.
Exercem a função de objeto direto
Objetivas Indireta Espero que você seja feliz.
Exercem a função de objeto indireto

Explicativas Os alunos, que foram mal na prova de


Explicam um termo dito anteriormente. quinta, terão aula de reforço.
SEMPRE serão acompanhadas por
vírgula.
Orações Subordinadas Adjetivas
Restritivas Os alunos que foram mal na prova de quinta
Restringem o sentido de um termo terão aula de reforço.
dito anteriormente. NUNCA serão
acompanhadas por vírgula.

Causais Estou vestida assim porque vou sair.


Assumem a função de advérbio de causa
Consecutivas Falou tanto que ficou rouca o resto do dia.
Assumem a função de advérbio de
consequência
Comparativas A menina comia como um adulto come.
Assumem a função de advérbio de
comparação
Condicionais Desde que ele participe, poderá entrar na
Assumem a função de advérbio de reunião.
condição
Conformativas O shopping fechou, conforme havíamos
Assumem a função de advérbio de previsto.
Orações Subordinadas Adverbiais
conformidade
Concessivas Embora eu esteja triste, irei à festa mais
Assumem a função de advérbio de tarde.
concessão
Finais Vamos direcionar os esforços para que todos
Assumem a função de advérbio de tenham acesso aos benefícios.
finalidade
Proporcionais Quanto mais eu dormia, mais sono tinha.
Assumem a função de advérbio de
proporção
Temporais Quando a noite chega, os morcegos saem de
Assumem a função de advérbio de suas casas.
tempo

Olha como esse quadro facilita a vida, não é?! Por meio dele, conseguimos ter uma visão geral das classificações e subclassificações
das orações, o que nos deixa mais tranquilos para estudá-las.

29
LÍNGUA PORTUGUESA

CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL (CRASE)

Concordância Nominal • Regência Nominal 


Os adjetivos, os pronomes adjetivos, os numerais e os artigos A regência nominal estuda os casos em que nomes (substan-
concordam em gênero e número com os substantivos aos quais se tivos, adjetivos e advérbios) exigem outra palavra para completar-
referem. -lhes o sentido. Em geral a relação entre um nome e o seu comple-
Os nossos primeiros contatos começaram de maneira amisto- mento é estabelecida por uma preposição.
sa.
• Regência Verbal
Casos Especiais de Concordância Nominal A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre o
• Menos e alerta são invariáveis na função de advérbio: verbo (termo regente) e seu complemento (termo regido). 
Colocou menos roupas na mala./ Os seguranças continuam Isto pertence a todos.
alerta.
Regência de algumas palavras
• Pseudo e todo são invariáveis quando empregados na forma-
ção de palavras compostas: Esta palavra combina com Esta preposição
Cuidado com os pseudoamigos./ Ele é o chefe todo-poderoso. Acessível a
• Mesmo, próprio, anexo, incluso, quite e obrigado variam de Apto a, para
acordo com o substantivo a que se referem: Atencioso com, para com
Elas mesmas cozinhavam./ Guardou as cópias anexas.
Coerente com
• Muito, pouco, bastante, meio, caro e barato variam quando Conforme a, com
pronomes indefinidos adjetivos e numerais e são invariáveis quan-
Dúvida acerca de, de, em, sobre
do advérbios:
Muitas vezes comemos muito./ Chegou meio atrasada./ Empenho de, em, por
Usou meia dúzia de ovos. Fácil a, de, para,
• Só varia quando adjetivo e não varia quando advérbio: Junto a, de
Os dois andavam sós./ A respostas só eles sabem. Pendente de

• É bom, é necessário, é preciso, é proibido variam quando o Preferível a


substantivo estiver determinado por artigo: Próximo a, de
É permitida a coleta de dados./ É permitido coleta de dados.
Respeito a, com, de, para com, por
Concordância Verbal Situado a, em, entre
O verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa: Ajudar (a fazer algo) a
O público aplaudiu o ator de pé./ A sala e quarto eram enor-
mes. Aludir (referir-se) a
Aspirar (desejar, pretender) a
Concordância ideológica ou silepse
Assistir (dar assistência) Não usa preposição
• Silepse de gênero trata-se da concordância feita com o gêne- Deparar (encontrar) com
ro gramatical (masculino ou feminino) que está subentendido no Implicar (consequência) Não usa preposição
contexto.
Vossa Excelência parece satisfeito com as pesquisas. Lembrar Não usa preposição
Blumenau estava repleta de turistas. Pagar (pagar a alguém) a
• Silepse de número trata-se da concordância feita com o nú-
mero gramatical (singular ou plural) que está subentendido no con- Precisar (necessitar) de
texto. Proceder (realizar) a
O elenco voltou ao palco e [os atores] agradeceram os aplau-
Responder a
sos.
• Silepse de pessoa trata-se da concordância feita com a pes- Visar ( ter como objetivo a
soa gramatical que está subentendida no contexto. pretender)
O povo temos memória curta em relação às promessas dos po- NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
líticos. QUE NÃO ESTÃO AQUI!

CRASE
A crase é a fusão de duas vogais idênticas. A primeira vogal a
é uma preposição, a segunda vogal a é um artigo ou um pronome
demonstrativo.
a (preposição) + a(s) (artigo) = à(s)

30
LÍNGUA PORTUGUESA
• Devemos usar crase: Próclise
– Antes palavras femininas: Na próclise, o pronome é colocado antes do verbo.
Iremos à festa amanhã
Mediante à situação. Palavra de sentido negativo: Não me falou a verdade.
O Governo visa à resolução do problema. Advérbios sem pausa em relação ao verbo: Aqui te espero pa-
cientemente.
– Locução prepositiva implícita “à moda de, à maneira de” Havendo pausa indicada por vírgula, recomenda-se a ênclise:
Devido à regra, o acento grave é obrigatoriamente usado nas Ontem, encontrei-o no ponto do ônibus.
locuções prepositivas com núcleo feminino iniciadas por a: Pronomes indefinidos: Ninguém o chamou aqui.
Os frangos eram feitos à moda da casa imperial. Pronomes demonstrativos: Aquilo lhe desagrada.
Às vezes, porém, a locução vem implícita antes de substanti- Orações interrogativas: Quem lhe disse tal coisa?
vos masculinos, o que pode fazer você pensar que não rola a crase. Orações optativas (que exprimem desejo), com sujeito ante-
Mas... há crase, sim! posto ao verbo: Deus lhe pague, Senhor!
Depois da indigestão, farei uma poesia à Drummond, vestir- Orações exclamativas: Quanta honra nos dá sua visita!
-me-ei à Versace e entregá-la-ei à tímida aniversariante. Orações substantivas, adjetivas e adverbiais, desde que não se-
jam reduzidas: Percebia que o observavam.
– Expressões fixas Verbo no gerúndio, regido de preposição em: Em se plantando,
Existem algumas expressões em que sempre haverá o uso de tudo dá.
crase: Verbo no infinitivo pessoal precedido de preposição: Seus in-
à vela, à lenha, à toa, à vista, à la carte, à queima-roupa, à von- tentos são para nos prejudicarem.
tade, à venda, à mão armada, à beça, à noite, à tarde, às vezes, às
pressas, à primeira vista, à hora certa, àquela hora, à esquerda, à Ênclise
direita, à vontade, às avessas, às claras, às escuras, à mão, às escon- Na ênclise, o pronome é colocado depois do verbo.
didas, à medida que, à proporção que.
Verbo no início da oração, desde que não esteja no futuro do
• NUNCA devemos usar crase: indicativo: Trago-te flores.
– Antes de substantivos masculinos: Verbo no imperativo afirmativo: Amigos, digam-me a verdade!
Andou a cavalo pela cidadezinha, mas preferiria ter andado a pé. Verbo no gerúndio, desde que não esteja precedido pela pre-
posição em: Saí, deixando-a aflita.
– Antes de substantivo (masculino ou feminino, singular ou Verbo no infinitivo impessoal regido da preposição a. Com
plural) usado em sentido generalizador: outras preposições é facultativo o emprego de ênclise ou próclise:
Depois do trauma, nunca mais foi a festas. Apressei-me a convidá-los.
Não foi feita menção a mulher, nem a criança, tampouco a ho-
mem. Mesóclise
Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo.
– Antes de artigo indefinido “uma”
Iremos a uma reunião muito importante no domingo. É obrigatória somente com verbos no futuro do presente ou no
futuro do pretérito que iniciam a oração.
– Antes de pronomes Dir-lhe-ei toda a verdade.
Obs.: A crase antes de pronomes possessivos é facultativa. Far-me-ias um favor?

Fizemos referência a Vossa Excelência, não a ela. Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de
A quem vocês se reportaram no Plenário? qualquer outro fator de atração, ocorrerá a próclise.
Assisto a toda peça de teatro no RJ, afinal, sou um crítico. Eu lhe direi toda a verdade.
Tu me farias um favor?
– Antes de verbos no infinitivo
A partir de hoje serei um pai melhor, pois voltei a trabalhar.
Colocação do pronome átono nas locuções verbais
Verbo principal no infinitivo ou gerúndio: Se a locução verbal
COLOCAÇÃO PRONOMINAL não vier precedida de um fator de próclise, o pronome átono deve-
rá ficar depois do auxiliar ou depois do verbo principal.
Exemplos:
A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia da Devo-lhe dizer a verdade.
frase. A tendência do português falado no Brasil é o uso do prono-
Devo dizer-lhe a verdade.
me antes do verbo – próclise. No entanto, há casos em que a norma
culta prescreve o emprego do pronome no meio – mesóclise – ou
Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar antes
após o verbo – ênclise.
do auxiliar ou depois do principal.
De acordo com a norma culta, no português escrito não se ini-
Exemplos:
cia um período com pronome oblíquo átono. Assim, se na lingua-
Não lhe devo dizer a verdade.
gem falada diz-se “Me encontrei com ele”, já na linguagem escrita,
Não devo dizer-lhe a verdade.
formal, usa-se “Encontrei-me’’ com ele.
Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem
as poucas regras de mesóclise e ênclise. Assim, sempre que estas Verbo principal no particípio: Se não houver fator de próclise,
não forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que preju- o pronome átono ficará depois do auxiliar.
dique a eufonia da frase. Exemplo: Havia-lhe dito a verdade.

31
LÍNGUA PORTUGUESA
Se houver fator de próclise, o pronome átono ficará antes do Ex: Essa festa... não sei não, viu.
auxiliar.
Exemplo: Não lhe havia dito a verdade. Dois-pontos ( : )
Marcam uma supressão de voz em frase ainda não concluída.
Haver de e ter de + infinitivo: Pronome átono deve ficar depois Em termos práticos, este sinal é usado para: Introduzir uma citação
do infinitivo. (discurso direto) e introduzir um aposto explicativo, enumerativo,
Exemplos: distributivo ou uma oração subordinada substantiva apositiva.
Hei de dizer-lhe a verdade. Ex: Uma bela festa: cheia de alegria e comida boa.
Tenho de dizer-lhe a verdade.
Ponto e vírgula ( ; )
Observação Representa uma pausa mais forte que a vírgula e menos que o
Não se deve omitir o hífen nas seguintes construções: ponto, e é empregado num trecho longo, onde já existam vírgulas,
Devo-lhe dizer tudo. para enunciar pausa mais forte, separar vários itens de uma enume-
Estava-lhe dizendo tudo. ração (frequente em leis), etc.
Havia-lhe dito tudo. Ex: Vi na festa os deputados, senadores e governador; vi tam-
bém uma linda decoração e bebidas caras.

COESÃO; COERÊNCIA Travessão ( — )


Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e com
o traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so-lu-ta-
Prezado Candidato, o tópico acima supracitado foi abordado -men-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode substituir
anteriormente. vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma expressão inter-
calada e pode indicar a mudança de interlocutor, na transcrição de
um diálogo, com ou sem aspas.
PONTUAÇÃO Ex: Estamos — eu e meu esposo — repletos de gratidão.

Parênteses e colchetes ( ) – [ ]
Pontuação Os parênteses assinalam um isolamento sintático e semântico
Com Nina Catach, entendemos por pontuação um “sistema mais completo dentro do enunciado, além de estabelecer maior in-
de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos, destinados a timidade entre o autor e o seu leitor. Em geral, a inserção do parên-
organizar as relações e a proporção das partes do discurso e das tese é assinalada por uma entonação especial. Intimamente ligados
pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as aos parênteses pela sua função discursiva, os colchetes são utiliza-
funções da sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas”. (BE- dos quando já se acham empregados os parênteses, para introduzi-
CHARA, 2009, p. 514) rem uma nova inserção.
A partir da definição citada por Bechara podemos perceber a Ex: Vamos estar presentes na festa (aquela organizada pelo go-
importância dos sinais de pontuação, que é constituída por alguns vernador)
sinais gráficos assim distribuídos: os separadores (vírgula [ , ], pon-
to e vírgula [ ; ], ponto final [ . ], ponto de exclamação [ ! ], reti- Aspas ( “ ” )
cências [ ... ]), e os de comunicação ou “mensagem” (dois pontos As aspas são empregadas para dar a certa expressão sentido
[ : ], aspas simples [‘ ’], aspas duplas [ “ ” ], travessão simples [ – ], particular (na linguagem falada é em geral proferida com entoação
travessão duplo [ — ], parênteses [ ( ) ], colchetes ou parênteses especial) para ressaltar uma expressão dentro do contexto ou para
retos [ [ ] ], chave aberta [ { ], e chave fechada [ } ]).
apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria. É utilizada, ain-
da, para marcar o discurso direto e a citação breve.
Ponto ( . )
Ex: O “coffe break” da festa estava ótimo.
O ponto simples final, que é dos sinais o que denota maior pau-
sa, serve para encerrar períodos que terminem por qualquer tipo
Vírgula
de oração que não seja a interrogativa direta, a exclamativa e as
São várias as regras que norteiam o uso das vírgulas. Eviden-
reticências.
ciaremos, aqui, os principais usos desse sinal de pontuação. Antes
Estaremos presentes na festa.
disso, vamos desmistificar três coisas que ouvimos em relação à
Ponto de interrogação ( ? ) vírgula:
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação interrogati- 1º – A vírgula não é usada por inferência. Ou seja: não “senti-
va ou de incerteza, real ou fingida, também chamada retórica. mos” o momento certo de fazer uso dela.
Você vai à festa? 2º – A vírgula não é usada quando paramos para respirar. Em
alguns contextos, quando, na leitura de um texto, há uma vírgula, o
Ponto de exclamação ( ! ) leitor pode, sim, fazer uma pausa, mas isso não é uma regra. Afinal,
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação exclama- cada um tem seu tempo de respiração, não é mesmo?!?!
tiva. 3º – A vírgula tem sim grande importância na produção de tex-
Ex: Que bela festa! tos escritos. Não caia na conversa de algumas pessoas de que ela é
menos importante e que pode ser colocada depois.
Reticências ( ... ) Agora, precisamos saber que a língua portuguesa tem uma or-
Denotam interrupção ou incompletude do pensamento (ou dem comum de construção de suas frases, que é Sujeito > Verbo >
porque se quer deixar em suspenso, ou porque os fatos se dão com Objeto > Adjunto, ou seja, (SVOAdj).
breve espaço de tempo intervalar, ou porque o nosso interlocutor Maria foi à padaria ontem.
nos toma a palavra), ou hesitação em enunciá-lo. Sujeito Verbo Objeto Adjunto

32
LÍNGUA PORTUGUESA
Perceba que, na frase acima, não há o uso de vírgula. Isso ocor- 2. (FGV – SPTRANS – ESPECIALISTA EM TRANSPORTES – 2001)
re por alguns motivos: Assinale a alternativa em que o x representa fonema igual ao de
1) NÃO se separa com vírgula o sujeito de seu predicado. “exame”.
2) NÃO se separa com vírgula o verbo e seus complementos. (A) exceto.
3) Não é aconselhável usar vírgula entre o complemento do (B) enxame.
verbo e o adjunto. (C) óxido.
(D) exequível.
Podemos estabelecer, então, que se a frase estiver na ordem
comum (SVOAdj), não usaremos vírgula. Caso contrário, a vírgula 3. (FUNDEC – TJ/MG – OFICIAL DE JUSTIÇA – 2002) Todas as
é necessária: palavras a seguir apresentam o mesmo número de sílabas e são pa-
Ontem, Maria foi à padaria. roxítonas, EXCETO:
Maria, ontem, foi à padaria. (A) gratuito;
À padaria, Maria foi ontem. (B) silencio;
(C) insensível;
Além disso, há outros casos em que o uso de vírgulas é neces- (D) melodia.
sário:
• Separa termos de mesma função sintática, numa enumera- 4. (FDC – PROFESSOR DE PORTUGUÊS II – 2005) Marque a série
ção. em que o hífen está corretamente empregado nas cinco palavras:
Simplicidade, clareza, objetividade, concisão são qualidades a (A) pré-nupcial, ante-diluviano, anti-Cristo, ultra-violeta, infra-
serem observadas na redação oficial. -vermelho.
• Separa aposto. (B) vice-almirante, ex-diretor, super-intendente, extrafino, in-
Aristóteles, o grande filósofo, foi o criador da Lógica. fra-assinado.
• Separa vocativo. (C) anti-alérgico, anti-rábico, ab-rupto, sub-rogar, antihigiênico.
Brasileiros, é chegada a hora de votar. (D) extraoficial, antessala, contrassenso, ultrarrealismo, con-
• Separa termos repetidos. trarregra.
Aquele aluno era esforçado, esforçado. (E) co-seno, contra-cenar, sobre-comum, sub-humano, infra-
-mencionado.
• Separa certas expressões explicativas, retificativas, exempli-
ficativas, como: isto é, ou seja, ademais, a saber, melhor dizendo, 5. (FUNIVERSA – CEB – ADVOGADO – 2010) Assinale a alter-
ou melhor, quer dizer, por exemplo, além disso, aliás, antes, com nativa em que todas as palavras são acentuadas pela mesma razão.
efeito, digo. (A) “Brasília”, “prêmios”, “vitória”.
O político, a meu ver, deve sempre usar uma linguagem clara, (B) “elétrica”, “hidráulica”, “responsáveis”.
ou seja, de fácil compreensão. (C) “sérios”, “potência”, “após”.
(D) “Goiás”, “já”, “vários”.
• Marca a elipse de um verbo (às vezes, de seus complemen- (E) “solidária”, “área”, “após”.
tos).
O decreto regulamenta os casos gerais; a portaria, os particula- 6. (CESGRANRIO – CMB – ASSISTENTE TÉCNICO ADMINISTRA-
res. (= ... a portaria regulamenta os casos particulares) TIVO – 2012) Algumas palavras são acentuadas com o objetivo ex-
clusivo de distingui-las de outras. Uma palavra acentuada com esse
• Separa orações coordenadas assindéticas. objetivo é a seguinte:
Levantava-me de manhã, entrava no chuveiro, organizava as (A) pôr.
ideias na cabeça... (B) ilhéu.
(C) sábio.
• Isola o nome do lugar nas datas. (D) também.
Rio de Janeiro, 21 de julho de 2006. (E) lâmpada.

• Isolar conectivos, tais como: portanto, contudo, assim, dessa 7. (ESAF – SRF – AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL – 2003)
forma, entretanto, entre outras. E para isolar, também, expressões Indique o item em que todas as palavras estão corretamente em-
conectivas, como: em primeiro lugar, como supracitado, essas infor- pregadas e grafadas.
mações comprovam, etc. (A) A pirâmide carcerária assegura um contexto em que o po-
Fica claro, portanto, que ações devem ser tomadas para ame- der de infringir punições legais a cidadãos aparece livre de
nizar o problema. qualquer excesso e violência.
(B) Nos presídios, os chefes e subchefes não devem ser exata-
mente nem juízes, nem professores, nem contramestres, nem
EXERCÍCIOS suboficiais, nem “pais”, porém avocam a si um pouco de tudo
isso, num modo de intervenção específico.
(C) O carcerário, ao homogeinizar o poder legal de punir e o
1. (NCE/UFRJ – TRE/RJ – AUXILIAR JUDICIÁRIO – 2001) O item poder técnico de disciplinar, ilide o que possa haver de violento
abaixo que apresenta erradamente uma separação de sílabas é: em um e de arbitrário no outro, atenuando os efeitos de revol-
(A) trans-o-ce-â-ni-co; ta que ambos possam suscitar.
(B) cor-rup-te-la; (D) No singular poder de punir, nada mais lembra o antigo p
(C) sub-li-nhar; der do soberano iminente que vingava sua autoridade sobre o
(D) pneu-má-ti-co; corpo dos supliciados.

33
LÍNGUA PORTUGUESA
(E) A existência de uma proibição legal cria em torno dela um 12. (CONSULPLAN – ANALISTA DE INFORMÁTICA (SDS-SC) –
campo de práticas ilegais, sob o qual se chega a exercer con- 2008) A alternativa em que todas as palavras são formadas pelo
trole e aferir lucro ilícito, mas que se torna manejável por sua mesmo processo de formação é:
organização em delinqüência. (A) responsabilidade, musicalidade, defeituoso;
(B) cativeiro, incorruptíveis, desfazer;
8. (FCC – METRÔ/SP – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO JÚNIOR (C) deslealdade, colunista, incrível;
– 2012) A frase que apresenta INCORREÇÕES quanto à ortografia é: (D) anoitecer, festeiro, infeliz;
(A) Quando jovem, o compositor demonstrava uma capacidade (E) reeducação, dignidade, enriquecer.
extraordinária de imitar vários estilos musicais.
(B) Dizem que o músico era avesso à ideia de expressar senti- 13. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL
mentos pessoais por meio de sua música. – 2010) No verso “Para desentristecer, leãozinho”, Caetano Veloso
(C) Poucos estudiosos se despõem a discutir o empacto das cria um neologismo. A opção que contém o processo de formação
composições do músico na cultura ocidental. utilizado para formar a palavra nova e o tipo de derivação que a
(D) Salvo algumas exceções, a maioria das óperas do compositor palavra primitiva foi formada respectivamente é:
termina em uma cena de reconciliação entre os personagens. (A) derivação prefixal (des + entristecer); derivação parassinté-
(E) Alguns acreditam que o valor da obra do compositor se tica (en + trist + ecer);
deve mais à árdua dedicação do que a arroubos de inspiração. (B) derivação sufixal (desentriste + cer); derivação imprópria
(en + triste + cer);
9. (CESGRANRIO – FINEP – TÉCNICO – 2011) A vírgula pode (C) derivação regressiva (des + entristecer); derivação parassin-
ser retirada sem prejuízo para o significado e mantendo a norma tética (en + trist + ecer);
padrão na seguinte sentença: (D) derivação parassintética (en + trist + ecer); derivação prefi-
(A) Mário, vem falar comigo depois do expediente. xal (des + entristecer);
(B) Amanhã, apresentaremos a proposta de trabalho. (E) derivação prefixal (en + trist + ecer); derivação parassintéti-
(C) Telefonei para o Tavares, meu antigo chefe. ca (des + entristecer).
(D) Encomendei canetas, blocos e crachás para a reunião.
(E) Entrou na sala, cumprimentou a todos e iniciou o discurso. 14. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL –
2010) A palavra “Olhar” em (meu olhar) é um exemplo de palavra
10. (CESGRANRIO – PETROBRAS – TÉCNICO DE ENFERMAGEM formada por derivação:
DO TRABALHO – 2011) Há ERRO quanto ao emprego dos sinais de (A) parassintética;
pontuação em: (B) prefixal;
(A) Ao dizer tais palavras, levantou-se, despediu-se dos convi- (C) sufixal;
dados e retirou-se da sala: era o final da reunião. (D) imprópria;
(B) Quem disse que, hoje, enquanto eu dormia, ela saiu sorra- (E) regressiva.
teiramente pela porta?
(C) Na infância, era levada e teimosa; na juventude, tornou-se 15. (CESGRANRIO – BNDES – ADVOGADO – 2004) No título do
tímida e arredia; na velhice, estava sempre alheia a tudo. artigo “A tal da demanda social”, a classe de palavra de “tal” é:
(D) Perdida no tempo, vinham-lhe à lembrança a imagem mui- (A) pronome;
to branca da mãe, as brincadeiras no quintal, à tarde, com os (B) adjetivo;
irmãos e o mundo mágico dos brinquedos. (C) advérbio;
(E) Estava sempre dizendo coisas de que mais tarde se arre- (D) substantivo;
penderia. Prometia a si própria que da próxima vez, tomaria (E) preposição.
cuidado com as palavras, o que entretanto, não acontecia.
16. Assinale a alternativa que apresenta a correta classificação
11. (FCC – INFRAERO – ADMINISTRADOR – 2011) Está inteira-
morfológica do pronome “alguém” (l. 44).
mente correta a pontuação do seguinte período:
(A) Pronome demonstrativo.
(A) Os personagens principais de uma história, responsáveis
(B) Pronome relativo.
pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes, de peque-
(C) Pronome possessivo.
nas providências que, tomadas por figurantes aparentemente
(D) Pronome pessoal.
sem importância, ditam o rumo de toda a história.
(E) Pronome indefinido.
(B) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes, de pequenas
providências que tomadas por figurantes, aparentemente sem 17. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto, na
importância, ditam o rumo de toda a história. oração “A abordagem social constitui-se em um processo de traba-
(C) Os personagens principais de uma história, responsáveis lho planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos subli-
pelo sentido maior dela dependem muitas vezes de pequenas nhados classificam-se, respectivamente, em
providências, que, tomadas por figurantes aparentemente, (A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo.
sem importância, ditam o rumo de toda a história. (B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo.
(D) Os personagens principais, de uma história, responsáveis (C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome.
pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes de pequenas (D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo.
providências, que tomadas por figurantes aparentemente sem (E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio.
importância, ditam o rumo de toda a história.
(E) Os personagens principais de uma história, responsáveis, 18. (VUNESP – TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2011)
pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes de peque- Assinale a alternativa em que a concordância verbal está correta.
nas providências, que tomadas por figurantes, aparentemente, (A) Haviam cooperativas de catadores na cidade de São Paulo.
sem importância, ditam o rumo de toda a história. (B) O lixo de casas e condomínios vão para aterros.

34
LÍNGUA PORTUGUESA
(C) O tratamento e a destinação corretos do lixo evitaria que 22. (FGV – SENADO FEDERAL – POLICIAL LEGISLATIVO FEDE-
35% deles fosse despejado em aterros. RAL – 2008) Assinale a alternativa em que se tenha optado correta-
(D) Fazem dois anos que a prefeitura adia a questão do lixo. mente por utilizar ou não o acento grave indicativo de crase.
(E) Somos nós quem paga a conta pelo descaso com a coleta (A) Vou à Brasília dos meus sonhos.
de lixo. (B) Nosso expediente é de segunda à sexta.
(C) Pretendo viajar a Paraíba.
19. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – (D) Ele gosta de bife à cavalo.
2012) Assinale a opção que fornece a correta justificativa para as
relações de concordância no texto abaixo. 23. (FDC – MAPA – ANALISTA DE SISTEMAS – 2010) Na oração
O bom desempenho do lado real da economia proporcionou “Eles nos deixaram À VONTADE” e no trecho “inviabilizando o ata-
um período de vigoroso crescimento da arrecadação. A maior lucra- que, que, naturalmente, deveria ser feito À DISTÂNCIA”, observa-se
tividade das empresas foi decisiva para os resultados fiscais favo- a ocorrência da crase nas locuções adverbiais em caixa-alta. Nas
ráveis. Elevaram-se, de forma significativa e em valores reais, de- locuções das frases abaixo também ocorre a crase, que deve ser
flacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as marcada com o acento, EXCETO em:
receitas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição (A) Todos estavam à espera de uma solução para o problema.
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e a Contribuição para o Finan- (B) À proporção que o tempo passava, maior era a angústia do
ciamento da Seguridade Social (Cofins). O crescimento da massa de eleitorado pelo resultado final.
salários fez aumentar a arrecadação do Imposto de Renda Pessoa (C) Um problema à toa emperrou o funcionamento do sistema.
Física (IRPF) e a receita de tributação sobre a folha da previdência (D) Os técnicos estavam face à face com um problema insolú-
social. Não menos relevantes foram os elevados ganhos de capital, vel.
responsáveis pelo aumento da arrecadação do IRPF. (E) O Tribunal ficou à mercê dos hackers que invadiram o sis-
(A) O uso do plural em “valores” é responsável pela flexão de tema.
plural em “deflacionados”.
(B) O plural em “resultados” é responsável pela flexão de plural 24. Levando-se em consideração os conceitos de frase, oração
em “Elevaram-se”. e período, é correto afirmar que o trecho abaixo é considerado um
(C) Emprega-se o singular em “proporcionou” para respeitar as (a):
regras de concordância com “economia”. “A expectativa é que o México, pressionado pelas mudanças
(D) O singular em “a arrecadação” é responsável pela flexão de americanas, entre na fila.”
singular em “fez aumentar”. (A) Frase, uma vez que é composta por orações coordenadas e
(E) A flexão de plural em “foram” justifica-se pela concordância subordinadas.
com “relevantes”. (B) Período, composto por três orações.
(C) Oração, pois possui sentido completo.
20. (FCC – TRE/MG – TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2005) As liberda- (D) Período, pois é composto por frases e orações.
des ...... se refere o autor dizem respeito a direitos ...... se ocupa a
nossa Constituição. Preenchem de modo correto as lacunas da frase 25. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – MECÂNICO DE VEÍCULOS –
acima, na ordem dada, as expressões: 2007) Leia a seguinte sentença: Joana tomou um sonífero e não dor-
(A) a que – de que; miu. Assinale a alternativa que classifica corretamente a segunda
(B) de que – com que; oração.
(C) a cujas – de cujos; (A) Oração coordenada assindética aditiva.
(D) à que – em que; (B) Oração coordenada sindética aditiva.
(E) em que – aos quais. (C) Oração coordenada sindética adversativa.
(D) Oração coordenada sindética explicativa.
21. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – (E) Oração coordenada sindética alternativa.
2008) Assinale o trecho que apresenta erro de regência.
(A) Depois de um longo período em que apresentou taxas de 26. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – BIBLIOTECÁRIO – 2007) Leia
crescimento econômico que não iam além dos 3%, o Brasil fe- a seguinte sentença: Não precisaremos voltar ao médico nem fazer
cha o ano de 2007 com uma expansão de 5,3%, certamente a exames. Assinale a alternativa que classifica corretamente as duas
maior taxa registrada na última década. orações.
(B) Os dados ainda não são definitivos, mas tudo sugere que (A) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
serão confirmados. A entidade responsável pelo estudo foi a sativa.
conhecida Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL). (B) Oração principal e oração coordenada sindética aditiva.
(C) Não há dúvida de que os números são bons, num momento (C) Oração coordenada assindética e oração coordenada adi-
em que atingimos um bom superávit em conta-corrente, em
tiva.
que se revela queda no desemprego e até se anuncia a am-
(D) Oração principal e oração subordinada adverbial consecu-
pliação de nossas reservas monetárias, além da descoberta de
tiva.
novas fontes de petróleo.
(E) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
(D) Mesmo assim, olhando-se para os vizinhos de continente,
bial consecutiva.
percebe-se que nossa performance é inferior a que foi atribuí-
da a Argentina (8,6%) e a alguns outros países com participação
27. (EMPASIAL – TJ/SP – ESCREVENTE JUDICIÁRIO – 1999)
menor no conjunto dos bens produzidos pela América Latina.
(E) Nem é preciso olhar os exemplos da China, Índia e Rússia, Analise sintaticamente a oração em destaque:
com crescimento acima desses patamares. Ao conjunto inteiro “Bem-aventurados os que ficam, porque eles serão recompen-
da América Latina, o organismo internacional está atribuindo sados” (Machado de Assis).
um crescimento médio, em 2007, de 5,6%, um pouco maior do (A) oração subordinada substantiva completiva nominal.
que o do Brasil. (B) oração subordinada adverbial causal.

35
LÍNGUA PORTUGUESA
(C) oração subordinada adverbial temporal desenvolvida. 33. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualidade
(D) oração coordenada sindética conclusiva. é a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que NÃO
(E) oração coordenada sindética explicativa. se fundamenta em intertextualidade é:
(A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morrido
28. (FGV – SENADO FEDERAL – TÉCNICO LEGISLATIVO – ADMI- há muito tempo.”
NISTRAÇÃO – 2008) “Mas o fato é que transparência deixou de ser (B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se
um processo de observação cristalina para assumir um discurso de mete onde não é chamada.”
políticas de averiguação de custos engessadas que pouco ou quase (C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a gente
nada retratam as necessidades de populações distintas.”. mesmo!”
A oração grifada no trecho acima classifica-se como: (D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo,
(A) subordinada substantiva predicativa; tudo bem.”
(B) subordinada adjetiva restritiva; (E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.”
(C) subordinada substantiva subjetiva;
(D) subordinada substantiva objetiva direta; Atenção: Leia o texto abaixo para responder as questões.
(E) subordinada adjetiva explicativa. UM APÓLOGO
Machado de Assis.
29. (FUNCAB – PREF. PORTO VELHO/RO – MÉDICO – 2009) No Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
trecho abaixo, as orações introduzidas pelos termos grifados são — Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrola-
classificadas, em relação às imediatamente anteriores, como: da, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
“Não há dúvida de que precisaremos curtir mais o dia a dia, — Deixe-me, senhora.
mas nunca à custa de nossos filhos...” — Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está
(A) subordinada substantiva objetiva indireta e coordenada sin- com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me
dética adversativa; der na cabeça.
(B) subordinada adjetiva restritiva e coordenada sindética ex- — Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
plicativa; Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem
(C) subordinada adverbial conformativa e subordinada adver- o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos
bial concessiva; outros.
(D) subordinada substantiva completiva nominal e coordenada — Mas você é orgulhosa.
sindética adversativa; — Decerto que sou.
(E) subordinada adjetiva restritiva e subordinada adverbial con- — Mas por quê?
cessiva. — É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
ama, quem é que os cose, senão eu?
30. (ACEP – PREF. QUIXADÁ/CE – PSICÓLOGO – 2010) No pe- — Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora
ríodo “O essencial é o seguinte: //nunca antes neste país houve um que quem os cose sou eu, e muito eu?
governo tão imbuído da ideia // de que veio // para recomeçar a — Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pe-
história.”, a oração sublinhada é classificada como: daço ao outro, dou feição aos babados…
(A) coordenada assindética; — Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
(B) subordinada substantiva completiva nominal; puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e
(C) subordinada substantiva objetiva indireta; mando…
(D) subordinada substantiva apositiva. — Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
31. (CESGRANRIO – SEPLAG/BA – PROFESSOR PORTUGUÊS – — Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel su-
2010) Estabelece relação de hiperonímia/hiponímia, nessa ordem, balterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o
o seguinte par de palavras: trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto…
(A) estrondo – ruído; Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa.
(B) pescador – trabalhador; Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que
(C) pista – aeroporto; tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a
(D) piloto – comissário; costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, en-
(E) aeronave – jatinho. fiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando
orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre
32. (VUNESP – SEAP/SP – AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a
PENITENCIÁRIA – 2012) No trecho – Para especialistas, fica uma isto uma cor poética. E dizia a agulha:
questão: até que ponto essa exuberância econômica no Brasil é — Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?
sustentável ou é apenas mais uma bolha? – o termo em destaque Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é
tem como antônimo: que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo
(A) fortuna; e acima…
(B) opulência; A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela
(C) riqueza; agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe
(D) escassez; o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que
(E) abundância. ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era
tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-pli-
c-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a
costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até
que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.

36
LÍNGUA PORTUGUESA
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que (C) afetividade e dimensão;
a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para (D) intensidade e dimensão;
dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da (E) pejoratividade e afetividade.
bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali,
alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, 36. Em um texto narrativo como “Um Apólogo”, é muito co-
perguntou-lhe: mum uso de linguagem denotativa e conotativa. Assinale a alterna-
— Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da tiva cujo trecho retirado do texto é uma demonstração da expressi-
baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vidade dos termos “linha” e “agulha” em sentido figurado.
vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para (A) “- É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? ama, quem é que os cose, senão eu?” (L.11)
Vamos, diga lá. (B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de ca- Agulha não tem cabeça.” (L.06)
beça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: (C) “- Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é pedaço ao outro, dou feição aos babados...” (L.13)
que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze (D) “- Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordi-
como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, nária!” (L.43)
fico. (E) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?”
Contei esta história a um professor de melancolia, que me dis- (L.25)
se, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a
muita linha ordinária! 37. De acordo com a temática geral tratada no texto e, de
modo metafórico, considerando as relações existentes em um am-
34. De acordo com o texto “Um Apólogo” de Machado de Assis biente de trabalho, aponte a opção que NÃO corresponde a uma
e com a ilustração abaixo, e levando em consideração as persona- ideia presente no texto:
gens presentes nas narrativas tanto verbal quanto visual, indique (A) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
a opção em que a fala não é compatível com a associação entre os equânime em ambientes coletivos de trabalho;
elementos dos textos: (B) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
equânime em ambientes coletivos de trabalho;
(C) O texto indica que, em um ambiente coletivo de trabalho,
cada sujeito possui atribuições próprias.
(D) O texto sugere que o reconhecimento no ambiente cole-
tivo de trabalho parte efetivamente das próprias atitudes do
sujeito.
(E) O texto revela que, em um ambiente coletivo de trabalho,
frequentemente é difícil lidar com as vaidades individuais.

Leia o texto abaixo para responder a questão.


A lama que ainda suja o Brasil
Fabíola Perez(fabiola.perez@istoe.com.br)

A maior tragédia ambiental da história do País escancarou um


dos principais gargalos da conjuntura política e econômica brasilei-
ra: a negligência do setor privado e dos órgãos públicos diante de
(A) “- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda en-
um desastre de repercussão mundial. Confirmada a morte do Rio
rolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?” (L.02)
Doce, o governo federal ainda não apresentou um plano de recu-
(B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar?” (L.06) peração efetivo para a área (apenas uma carta de intenções). Tam-
(C) “- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, pouco a mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela
puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço anglo-australiana BHP Billiton. A única medida concreta foi a aplica-
e mando...” (L.14-15) ção da multa de R$ 250 milhões – sendo que não há garantias de
(D) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? que ela será usada no local. “O leito do rio se perdeu e a calha pro-
Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; funda e larga se transformou num córrego raso”, diz Malu Ribeiro,
eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando coordenadora da rede de águas da Fundação SOS Mata Atlântica,
abaixo e acima.” (L.25-26) sobre o desastre em Mariana, Minas Gerais. “O volume de rejeitos
(E) “- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela se tornou uma bomba relógio na região.”
e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem riscos
costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Segun-
Onde me espetam, fico.” (L.40-41) do o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos 16
barragens de mineração em todo o País apresentam condições de
35. O diminutivo, em Língua Portuguesa, pode expressar ou- insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar ór-
tros valores semânticos além da noção de dimensão, como afetivi- gãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta
dade, pejoratividade e intensidade. Nesse sentido, pode-se afirmar Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015, do
que os valores semânticos utilizados nas formas diminutivas “unidi- senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um
nha”(L.26) e “corpinho”(L.32), são, respectivamente, de: tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo mar-
(A) dimensão e pejoratividade; co regulatório da mineração, por sua vez, também concede priori-
(B) afetividade e intensidade; dade à ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos

37
LÍNGUA PORTUGUESA
judiciais, o que não será interessante para o setor empresarial”, diz (D) 3.
Maurício Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA). Com (E) 1.
o avanço dessa legislação outros danos irreversíveis podem ocorrer.
FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA MA+- 42. (EMPREL – ANALISTA DE SISTEMAS- INSTITUTO AOCP –
QUE+AINDA+SUJA+O+BRASIL 2019)

38. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido: Tecnologia a caminho da energia infinita
I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um Rui Salsas
fato.
II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence ao Vivemos uma fase de sensibilização e redução de emissão de
gênero textual editorial. gases com efeito de estufa, em prol do Planeta Azul. A energia é um
III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, já recurso estratégico e um elemento-chave para o desenvolvimento
que se trata de uma reportagem. sociodemográfico, assumindo um papel vital nas sociedades mo-
IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já dernas. Em pleno século XXI, assistimos a uma verdadeira transfor-
se trata de um editorial. mação e reengenharia de processos, promovendo a tecnologia e as
suas funcionalidades na procura de melhor rendimento, de maior
Analise as assertivas e responda: produtividade e eficiência, de maior sustentabilidade, fazendo mais
(A) Somente a I é correta. com menos intervenção humana e minimizando as alterações aos
(B) Somente a II é incorreta. ecossistemas ambientais.
(C) Somente a III é correta
(D) A III e IV são corretas. Nesse sentido, o setor das Utilities tem procurado introduzir
a Inteligência Artificial (IA) e a Computação de Aprendizagem Au-
39. (PREFEITURA DE TERESINA - PI - GUARDA CIVIL MUNICIPAL tomática (machine learning e/ou deep learning) como sendo os
– NUCEPE – 2019) aliados de peso para o futuro próximo onde a eficiência energética
será, e já mostra ser, uma das áreas com maior potencial e investi-
No excerto: Estamos vivendo em uma época que pode ser com- mento e, consequentemente, geração de emprego.
parada a uma mistura das cenas de Big Brother..., a expressão em Do ponto de vista teórico, a utilização da IA traduz-se por “en-
destaque constitui uma perífrase verbal da mesma natureza estru- sinar” máquinas ou software a representar o ser humano na exe-
tural, do ponto de vista da voz verbal, daquela que se encontra des- cução de tarefas. Mais, esta tecnologia está acrescentando tarefas
tacado em: complexas e mais elaboradas capazes de modificar o seu comporta-
(A) ... a maioria de nós pode ser comparada a uma criança na mento, ou seja, as máquinas ou software poderão deter capacidade
primeira infância. de aprender sem que sejam explicitamente programadas para isso.
(B) O homem-bomba será substituído por um novo tipo de Então, como é que a Inteligência Artificial afeta as Utilities? A
terrorismo, ... IA cumpre quatro funções principais, transversais a outros setores:
(C) ... não está descartado o constrangimento de acesso alea- • Compreender as necessidades do consumidor – utilizar soft-
tório à internet doméstica... ware capaz de recolher dados dos clientes e ser capaz de ofere-
(D) ...estaremos transferindo dinheiro com um simples movi- cer produtos mais adequados ao seu consumo, além de potenciar
mento do pulso. novos consumidores (por exemplo, combinar consumo energético
(E) A maioria de nós será chipada. com compras em hipermercados e usufruir de descontos associa-
dos);
40. (MPE-PE - ANALISTA MINISTERIAL - BIBLIOTECONOMIA – • Melhorar os produtos e serviços oferecidos – recolher e ana-
FCC – 2018) lisar dados com programas inteligentes melhorará a oferta e divul-
Na elaboração de resumos, a paráfrase: gação de produtos e serviços atuais e novos; 
• Identificar e gerir o risco – usar dados analíticos da organiza-
(A) é perigosa, pois pode conduzir o leitor a ideias diferentes ção para inferir novos padrões de comportamento e de risco dos
das do autor. consumidores;
(B) é vedada, devendo o resumidor empregar o vocabulário • Identificar e evitar fraudes – usar sistemas de análise de
usado pelo autor. aprendizagem automática, para padronizar com um grande grau de
(C) utiliza as mesmas palavras do original para manter o estilo certeza cada consumidor, irá certamente ajudar na identificação de
do autor. fraudes.
(D) busca resumos originais e breves, sendo redigidos pelo […] Concluindo, os últimos anos introduziram desafios signifi-
próprio autor. cativos no setor da Energia, relacionados com a revolução energé-
(E) consiste no uso de jargão, visando a simplificar as palavras tica em curso e na eficácia, quer da sua recolha quer do seu consu-
do autor. mo. É, portanto, necessário superar expectativas por um país mais
inovador e digital e por um planeta mais sustentável e ecológico, e
41. ( PREFEITURA DE FORQUILHA - CE- GUARDA MUNICIPAL – nesse contexto a IA tem-se revelado uma aposta séria no presente
CETREDE – 2018) e para o futuro, para beneficiar todas as indústrias.
“Tenha cuidado ao parafrasear o que ouvir, nossa capacidade Adaptado de: <http://exameinformatica.sapo.pt/opiniao/
de retenção é variável e, muitas vezes, inconscientemente deturpa- 2019-10-09-Tecnologia-a-caminho-da-energia-infinita> . Acesso em:
mos o que ouvimos.” Ao pontuarmos esse período, corretamente, 10 out. 2019.
usaremos quantas vírgulas?
(A) 5. No trecho “Vivemos uma fase de sensibilização e redução de
(B) 4. emissão de gases com efeito de estufa, em prol do Planeta Azul.”
(C) 2. ocorre uma figura de linguagem denominada

38
LÍNGUA PORTUGUESA
(A) metáfora. 44. (IF-PA – PROFESSOR- LETRAS -HABILITAÇÃO EM PORTU-
(B) perífrase. GUÊS E INGLÊS – FADESP – 2018)
(C) paradoxo. A paráfrase é um dos mecanismos de:
(D) sinestesia. (A) sequenciação.
(E) eufemismo. (B) coerência textual.
(C) substituição.
43. (MDS- ATIVIDADES TÉCNICAS DE COMPLEXIDADE INTELEC- (D) coesão recorrencial.
TUAL-NÍVEL IV- CETRO – 2015) (E) reiteração.
Dois temas pendentes da história brasileira continuam forte-
mente presentes em nossas inquietações sociais e políticas. O tema 45. ( PREFEITURA DE CARANAÍBA - MG – AGENTE COMUNITÁ-
da escravidão e o seu tema residual, o da posse da terra. São temas RIO DE SAÚDE – FCM – 2019)
inter-relacionados, relativos às duas grandes questões nacionais, si- Texto
tuados em polos cronológicos opostos: a questão do trabalho livre “Linguagem é a expressão individual e social do ser humano e,
e a questão agrária. Mesmo que enquanto temas não tenham visi- ao mesmo tempo, o elemento comum que possibilita o processo
bilidades equivalentes nem presença com dimensão apropriada no comunicativo entre os sujeitos que vivem em sociedade.”(CEREJA &
conjunto dos interesses da sociedade, estão ligados entre si porque MAGALHÃES, 2013, p.13).
referem-se a momentos polares de um processo inacabado, que
subjaz silencioso em nossa história do presente. É inócuo discutir
a questão agrária sem situá-la como incontornável questão residual
da solução que, no passado, a sociedade brasileira deu à questão
do escravismo.
São justamente os temas que balizam o ritmo de nossa história
social e limitam nossos horizontes históricos. Limitam a possibili-
dade de sairmos dos impasses que nos tolhem e aprisionam nessa
estranha modernidade em que o atraso e os problemas do passado
se tornam o seu tempero folclórico. Nossa melhor literatura está
profundamente marcada por essas persistências. Elas funcionam
como um referencial de compreensão da invisibilidade do que so-
mos, de nossa alma perdida no fundo do tempo de uma história
sempre inconclusa, sempre por fazer. Mais uma história da espera
do que da esperança. São os temas que definem o ritmo inseguro
de nossa história lenta.
MARTINS, J.S. Reforma Agrária: O Impossível Diálogo. Texto com adap-
tações. 1ª ed. São Paulo: Edusp, 2004.

Em seguida, propõem-se paráfrases do segundo período do


último parágrafo. Considerando as orientações da prescrição gra-
matical no que se refere a textos escritos na modalidade padrão da
Língua Portuguesa, assinale a alternativa que apresenta a paráfrase
correta.
A) Limitam a possibilidade de o Brasil sair dos impasses que
lhe tolhem e lhe aprisionam nessa estranha modernidade Tendo por base o conceito veiculado no Texto, qual tipo de lin-
onde o atraso e os problemas do passado se tornam o seu guagem apresenta-se na tirinha?
tempero folclórico. (A) Oral.
B) Limitam a possibilidade de o Brasil sair dos impasses que o (B) Verbal.
tolhem e o aprisionam nessa estranha modernidade onde o (C) Escrita.
atraso e os problemas do passado se tornam o seu tempero (D) Não verbal.
folclórico.
C) Limitam a possibilidade de o Brasil sair dos impasses que
lhe tolhem e lhe aprisionam nessa estranha modernidade cujo GABARITO
tempero folclórico se forma do atraso e dos problemas do
passado.
D) Limitam a possibilidade de o Brasil sair dos impasses que 1 A
o tolhem e o aprisionam nessa estranha modernidade cujo
tempero folclórico se forma do atraso e dos problemas do 2 D
passado. 3 A
E) Limitam a possibilidade de o Brasil sair dos impasses que
lhe tolhem e o aprisionam nessa estranha modernidade cujo 4 D
atraso e os problemas do passado tornam-se seu tempero 5 A
folclórico.
6 A
7 B
8 C

39
LÍNGUA PORTUGUESA

9 B ANOTAÇÕES
10 E
11 A ______________________________________________________
12 A ______________________________________________________
13 A
______________________________________________________
14 D
15 A ______________________________________________________
16 E ______________________________________________________
17 B
______________________________________________________
18 E
______________________________________________________
19 A
20 A ______________________________________________________
21 D ______________________________________________________
22 A
______________________________________________________
23 D
24 B ______________________________________________________

25 C ______________________________________________________
26 C
______________________________________________________
27 E
______________________________________________________
28 A
29 D ______________________________________________________
30 B ______________________________________________________
31 E
______________________________________________________
32 D
33 E ______________________________________________________

34 E ______________________________________________________
35 D ______________________________________________________
36 D
______________________________________________________
37 D
38 D ______________________________________________________
39 D ______________________________________________________
40 A
_____________________________________________________
41 D
_____________________________________________________
42 B
43 D ______________________________________________________
44 D ______________________________________________________
45 D
______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

40
GEOGRAFIA
1. Características Gerais do Estado do Rio de Janeiro - reconhecer as relações entre sociedade e o ambiente natural no Estado do Rio de
Janeiro, destacando os impactos ambientais produzidos e as influências dos elementos naturais na sociedade fluminense . . . . . 01
2. Identificar as principais regiões do Estado e suas características gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
3. Apresentar noções básicas sobre a geografia do Município do Rio de Janeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
4. Reconhecer aspectos gerais do processo de favelização e suas características atuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
5. Identificar em textos e gráficos situações problema típicas da sociedade fluminense e reconhecer formas de reduzir os problemas
gerados em tais situações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
6. Apresentar noções de localização espacial dentro do Estado do Rio de Janeiro a partir da utilização de mapas . . . . . . . . . . . . . . . . 14
GEOGRAFIA
servar o espaço natural, sobretudo no sentido de garantir a exis-
CARACTERÍSTICAS GERAIS DO ESTADO DO RIO DE tência dos recursos e dos meios inerentes a eles para as sociedades
JANEIRO - RECONHECER AS RELAÇÕES ENTRE SOCIE- futuras. A evolução das técnicas, nesse ínterim, precisa acontecer
DADE E O AMBIENTE NATURAL NO ESTADO DO RIO DE no sentido de garantir essa dinâmica.
JANEIRO, DESTACANDO OS IMPACTOS AMBIENTAIS
PRODUZIDOS E AS INFLUÊNCIAS DOS ELEMENTOS Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/sociedade-
NATURAIS NA SOCIEDADE FLUMINENSE -natureza.htm

Sociedade e Natureza
Desde a constituição das primeiras sociedades e o surgimento Impactos Ambientais no Estado do Rio de Janeiro
das primeiras civilizações, observa-se a existência de uma intensa e O presente artigo pretende identificar, discutir e entender al-
nem sempre equilibrada relação entre sociedade e natureza. Essa guns dos principais impactos ambientais urbanos que ocorrem na
relação diz respeito às formas pelas quais as ações humanas trans- Região Metropolitana do Rio de Janeiro, tais como: movimentos de
formam o meio natural e utilizam-se deste para o seu desenvolvi- massa, inundações, enchentes e alagamentos.
mento. Além do mais, diz respeito também à forma pela qual as Resultado de reflexões que se acumularam aos poucos, a par-
composições naturais – seres vivos, relevo, clima e recursos natu- tir de observações e pesquisas, esse artigo foi sendo organizado
rais – interferem nas dinâmicas sociais. considerando algumas idéias básicas para compreensão do tema
Por esse motivo, é importante entender a complexidade com proposto, como por exemplo os de região metropolitana, impactos
que se estabelece a interação entre natureza e ação humana, pois, ambientais e impactos ambientais urbanos. Acrescente-se a essas
mesmo com a evolução dos diferentes instrumentos tecnológicos reflexões as experiências no dia-a-dia do autor, que sendo morador
e das formas de construção da sociedade, a utilização e transfor- dessa região do estado, a qual é tema, buscou formular interpre-
mação dos elementos naturais continuam sendo de fundamental tações de sua realidade, o que gerou diversas análises que foram
relevância. devidamente expostas em nossa pesquisa.
Originalmente, os primeiros agrupamentos humanos, que Nossa intenção é os relatos dos principais impactos ambientais
eram nômades, utilizavam-se da natureza como habitat e também urbanos que ocorrem na Região Metropolitana do Rio de Janeiro
para a extração de alimentos. Com o passar do tempo, a constitui- fiquem claros, de modo que possam servir de contribuição para ou-
ção da agricultura no período neolítico possibilitou a instalação fixa tras pesquisas.
das primeiras sociedades e, por extensão, o desenvolvimento de
diferentes civilizações. Isso foi possível graças à evolução ocorrida
IMPACTOS AMBIENTAIS URBANOS NA REGIÃO METROPOLI-
nas técnicas e nos instrumentos técnicos, que permitiram o cultivo
TANA DO RIO DE JANEIRO
e a administração dos elementos naturais.
Segundo resolução do CONAMA (conselho nacional de meio
Com o tempo, as sociedades tornaram-se cada vez mais de-
senvolvidas e, consequentemente, produziram transformações ambiente), Nº 1 de 23 de janeiro de 1986 em art. 1, considera-se
cada vez mais avançadas em seus sistemas de técnicas, gerando um impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas,
maior poder de construção e transformação do espaço geográfico e químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer for-
os consequentes impactos sobre a natureza. Portanto, a influência ma de matéria ou energia das atividades humanas que direta ou
da ação humana sobre a dinâmica natural tornou-se gradativamen- indiretamente afetam: I- a saúde, a segurança e o bem estar da po-
te mais complexa. pulação; II- as atividades sociais e econômicas; III- a biota; IV- as
Essa influência acontece de muitas formas e perspectivas, condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V- a qualidade
como é o caso das consequências geradas pelo desmatamento, re- dos recursos ambientais.
tirada dos recursos do solo, alteração das formas de relevo para o Em consonância com o CONAMA, COELHO (2006) define im-
cultivo (como as técnicas de terraceamento desenvolvidas pelos as- pacto ambiental como o processo de mudanças sociais e ecológicas
tecas), etc. Após o século XVIII, com o desenvolvimento da Revolu- causado por perturbações (uma nova ocupação e/ou construções
ção Industrial, podemos dizer que os impactos da sociedade sobre o de um objeto novo: uma usina, uma estrada ou uma indústria) no
meio natural intensificaram-se de maneira jamais vista, propiciando ambiente. Impacto ambiental diz respeito ainda, à evolução con-
uma união de fatores que levou ao aceleramento da geração de im- junta das condições sociais e ecológicas estimuladas pelos impulsos
pactos ambientais. das relações entre forças externas e internas à unidade espacial e
Mas é preciso considerar que a natureza também gera impactos ecológica, histórica ou socialmente determinada.
sobre a sociedade. Essa perspectiva é de necessária compreensão Existem impactos ambientais espalhados por diferentes espa-
para que não se considere o espaço natural como um meio estático, ços, mas existe um local onde sua proliferação ocorre de forma mais
passivo, sem ação. Um exemplo mais evidente disso envolve os de- acentuada e mais perceptível, que é nos sistemas urbanos. Dentro
sastres naturais, como a passagem de um forte ciclone sobre uma desses sistemas, os espaços ocupados pelas atividades produtivas
cidade ou a ocorrência de um intenso terremoto. Essas são apenas e pelos indivíduos vão ser distintos, variando conforme alguns fa-
algumas das muitas formas com que a natureza pode gerar mudan- tores. O principal fator que determinará a espacialidade e o lugar
ças no espaço geográfico e na constituição das ações humanas. onde o indivíduo irá ocupar é a sociedade de classes. A partir daí,
Em muitas abordagens, considera-se que há uma interação
concluímos que os impactos ambientais não vão ser uniformes, vão
muitas vezes caótica e até reativa entre a natureza e a sociedade.
variar conforme a classe social concentrada no espaço físico im-
Nesse ponto de vista, entende-se que os impactos gerados sobre a
pactado. Assim, concluímos que nos espaços de população menos
natureza reverberam, cedo ou tarde, em impactos gerados da na-
favorecida a intensidade dos impactos ambientais vão ser maior.
tureza sobre a sociedade. Um exemplo seria o Aquecimento Glo-
bal, fruto da poluição e da degradação ambiental (embora, no meio Sobre o tema COELHO (2006:27) sintetiza:
científico, essa teoria não seja um consenso). “Os problemas ambientais (ecológicos) não atingem igualmen-
Portanto, é preciso considerar que, independente da forma te todo o espaço urbano . Atingem muito mais os espaços físicos
com que se estabelece essa complexa relação entre natureza e so- de ocupação das classes sociais menos favorecidas do que as das
ciedade, é preciso entender que os seres humanos precisam con- classes mais elevadas . A distribuição espacial das primeiras está

1
GEOGRAFIA
associada a desvalorização do espaço, quer pela proximidade dos estradas, túneis e habitações mal planejadas. Nessa perspectiva
leitos de inundação dos rios, das indústrias, de usinas termonuclea- de relação entre eventos naturais e ação antrópica, o fenômeno é
res, quer pela insalubridade...” enquadrado como sendo de risco, ou seja, fenômenos de origem
natural ou induzidos antropicamente e que acarretam prejuízos aos
Os impactos ambientais urbanos são em sua maioria resultan- componentes do meio biofísico e social, como veremos no transcor-
tes de processos como reduções da cobertura vegetal, impermeabi- rer de nosso trabalho.
lização do solo e assoreamento das bacias fluviais. Esses fatos acar- Nos países subdesenvolvidos e de clima tropical os movimen-
retam na redução do potencial de infiltração de água das chuvas tos de massa vem se tornando um problema que vem se acentuan-
no solo urbano, que sobrecarregam as redes de drenagem e que do cada vez mais no meio urbano. Isso vem o ocorrendo em função
acabam não dando vazão, por já estarem obstruídas por ocupações do aumento da população urbana, que tem levado à ocupação de
humanas. Além disso, o caminho final dessas águas são os rios, que áreas de encostas para moradia, principalmente por parte da popu-
no espaço urbano encontram-se extremamente entulhados e as- lação de baixa renda. Essa situação tem levado ao aumento da fre-
soreados por sedimentos e detritos industriais e domésticos. Tais qüência desses fenômenos nos grandes centros urbanos, gerando
fatos, intensificam nas cidades diversos problemas ambientais ur- em alguns casos, grandes catástrofes.
banos, como os processos de erosão em encostas, com destaque Antes de colocarmos em prática nossas análises sobre impac-
para os movimentos de massa, além das inundações, alagamentos tos ambientais em nosso objeto de estudo, a Região Metropolitana
e enchentes. do Rio de Janeiro, convém defini-la, localizá-la e caracterizá-la so-
Os fenômenos urbanos das inundações, alagamentos e en- cialmente e geograficamente.
chentes, apesar de serem tratados nos veículos de telecomunica- Segundo o CIDE (2010) a Região metropolitana do Rio de Janei-
ções de forma genérica, são acontecimentos distintos. De acordo ro é composta por 16 municípios, a saber: Rio de Janeiro, Belford
com o Manual de Desastres ambientais (1998) as inundações po- Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Japeri, Magé, Maricá,
dem ser definidas como o transbordamento de água provenien- Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Queimados, São Gonçalo, São João
te de rios, lagos ou açudes. Já alagamento, segundo esse mesmo de Meriti, Seropédica e Tanguá. Segundo dados do IBGE (2008), a
manual, ocorre quando as águas ficam acumuladas nos leitos das Região Metropolitana do Rio de Janeiro apresenta uma população
ruas e no perímetro urbano em função de um sistema de drenagem de 11,9 milhões de pessoas, tendo a maior taxa de urbanização do
deficiente. Por fim, as enchentes se caracterizam pela elevação das país, alcançando no ano de 2000, segundo dados do Censo demo-
águas de forma paulatina e previsível, mantendo-se em situação de gráfico, o porcentual de 99,3% de pessoas habitando áreas urba-
cheia durante algum tempo e a seguir escoam-se gradativamente. nas. Essa região apresenta em seu sítio características peculiares,
Para Ward apud Rosa (2010), o fenômeno da enchente está rela- já que apresenta fisicamente formas muito complexas e distintas.
cionado ao relevo, ao solo e a falta de cobertura vegetal, que são Para começar esta região, de maneira geral, situa-se entre o litoral,
elementos colaboradores para a ocorrência, duração e intensidade que incluí a Baía de Guanabara, e a Serra do Mar. Entre esses dois
desse evento. Para esse autor, a pluviosidade é uma variável secun- pontos localizá-se uma área de baixada, formada por uma área de
dária, já que as características do sítio e a conseqüente ação antró- planície. Espalhados ao longo dessa planície aparecem marrotes ar-
pica na mudança da dinâmica natural do solo, relevo e vegetação é redondados com altitudes compreendidas entre 30 e 100 metros
que intensifica o problema das enchentes urbanas. de altitude, além de alguns maciços costeiros, como os do Menda-
Os problemas ambientais em encostas estão relacionadas à nha, Gerecinó e Pedra Branca. Também não podemos deixar de ci-
topografia de uma superfície, mantendo uma relação indissociável tar que nessa área de Baixada situa-se uma vasta rede hidrográfica,
a qualquer evento que diminua ou elimine a cobertura protetora formada por um grande número de rios e canais, que são alimen-
da vegetação natural ou danifique a estrutura do solo, contribuin- tados através do lençol freático e/ou pelo escoamento de água das
do para o início ou aceleração de processos erosivos em encostas, escarpas da Serra do Mar ou Maciços costeiros.
como os movimentos de massa. Outro aspecto importante a ser citado quando se fala em im-
A dinâmica de um relevo de encosta tem relação tanto com a pactos ambientais urbanos na RMRJ (Região Metropolitana do Rio
interação de variáveis endógenas, como o tipo e estrutura das ro- de Janeiro) é o clima. Nessa região predomina o clima tropical se-
chas e as atividades tectônicas, quanto exógenas, como as variáveis mi-úmido, com chuvas abundantes no verão, que é muito quente e
climáticas, atuação de fauna e flora, etc (CHRISTOFOLLETTI, 1974). invernos secos, com temperaturas amenas. A temperatura média
Como parte dessa dinâmica ocorre os movimentos de massa, que anual é de 22 °C a 24 °C e o índice pluviométrico fica entre 1.000 a
envolvem o desprendimento e transporte de solo ou material ro- 1.500 milímetros anuais.
choso vertente abaixo. A mobilização desse material está ligada à Todos os aspectos citados anteriormente, como a urbanização,
sua condição de instabilidade, devido à atuação da gravidade, po- número de habitantes, localização, características do sítio e clima
dendo ser acelerada pela ação de outros agentes, como a água. da RMRJ, são agentes ativos que agem de forma integrada na pro-
Os movimentos de massa ocorrem em diferentes escalas e pagação dos impactos ambientais urbanos nessa região fluminense.
velocidades, variando de rastejamentos a movimentos muito rápi- A seguir faremos uma análise dos principais impactos ambientais
dos. Os movimentos rápidos são denominados genericamente de urbanos que ocorrem na região metropolitana do Rio de Janeiro.
deslizamentos e tombamentos, e são muito comuns de ocorrerem Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro as áreas de encos-
dentro da dinâmica urbana de uma região metropolitana, já que tas, em via de regra, são locais desprezados e desvalorizados dentro
sofrem grande influência das atividades antrópicas. Os deslizamen- do espaço urbano, sendo ocupados normalmente por grupos so-
tos e tombamentos são deflagrados pelo aumento de solicitação de ciais de baixa renda, constituindo nos maciços e marrotes da RMRJ,
mobilização de material e pela redução da resistência do material moradias irregulares e favelas.
(ação desagregadora de raízes, rastejamentos, textura e estrutura SOUZA (2000) explica que esses sítios comportam riscos e, diz
favoráveis à instabilização). Estes processos são partes da dinâmica ainda, que sob as condições de um clima tropical úmido, o intenso
natural, mas tornam-se um problema quando encontram-se rela- intemperismo químico, que afeta as rochas cristalinas dos maciços
cionados à ocupação humana, ou seja, quando em áreas natural- costeiros do Rio de Janeiro, mais a falta de cobertura vegetal e im-
mente potenciais à sua ocorrência são induzidas pela ação antró- permeabilidade do solo, pode gerar mobilização de material e de-
pica, que ocorrem através de construções de fixos urbanos como sagregação dos blocos rochosos, gerando movimentos de massa.

2
GEOGRAFIA
Num período de temporais, notadamente no verão, tantos os SOUZA (2000) diz que as margens de rios e canais são sujeitas a
marrotes como os maciços costeiros da RMRJ ficam sujeitos a riscos riscos, sobretudo devido ao acúmulo de lixo nos canais, dificultando
de tombamentos e deslizamentos, já que se tornaram áreas ins- o escoamento das águas pluviais. Além desse fato, na região metro-
táveis em função de construções desordenadas de moradias sem politana do Rio de Janeiro, as habitações que margeiam os rios se
planejamento, causando destruição e até mesmo grandes catástro- tornam obstáculos para o escoamento da água em períodos de ele-
fes, com inúmeros desabrigados e até mesmo mortos. Foi o que vada pluviosidade. Além disso, por se localizar numa área litorânea,
ocorreu recentemente com o Morro do Bumba, no dia 07 de março a drenagem da RMRJ sofre influência das marés, que em dias de
de 2010 em Niterói. A reportagem a seguir do portal de notícias R7 frente fria fazem as ondas ficarem altas dificultando o escoamen-
(2010) retrata com fidelidade essa situação: to. Todos esses fatos somados a impermeabilidade do solo urbano,
“Até a noite de quinta-feira (8), as chuvas no Rio de Janeiro em função de sua compactação devido à falta de cobertura vegetal,
já haviam matado mais do que o dobro do que em quatro meses acarretam em seguidos problemas de drenagem na região metro-
de temporais no Estado de São Paulo. Geógrafos ouvidos pelo R7 politana do Rio de Janeiro, o que em períodos de grandes chuvas
apontam dois fatores para a tragédia provocada pela chuva no Rio vão gerar inundações, alagamentos e enchentes. Também não po-
ter sido maior que em São Paulo: o relevo do Estado e a natureza demos deixar de citar, no que se refere a esses problemas, que a
do fenômeno dos deslizamentos de terra, que diminui a chance de maior parte dessas áreas que sofrem com constantes problemas de
sobrevivência. alagamentos e inundações dentro da RMRJ são áreas de ecossis-
Para o professor de geologia da UFF (Universidade Federal Flu- temas originalmente inundáveis, como brejos, pântanos e várzeas.
minense) Adalberto Silva, a natureza geográfica do Rio de Janeiro, A reportagem a seguir do jornal O Globo (2009) do dia 12 de
aliada à ocupação irregular nas encostas, acelerou o processo de novembro relata com perfeição nossas análises acerca do assunto
deslizamentos. Ele explica que, em São Paulo, houve muitas en- abordado anteriormente:
chentes, enquanto no Rio predominaram os deslizamentos de ca- “A enchente que inundou a Baixada Fluminense, na noite de
sas. As chances de sobreviver a esse tipo de acidente são pequenas. quarta-feira e ontem, não era difícil de ser prevista. O geógrafo Elmo
Isso porque as vítimas não têm tempo de reagir e a lama que desce Amador, especialista na Bacia da Baía de Guanabara, explicou que
das encostas acaba sufocando-as. a maior parte das áreas atingidas pela água foi construída em cima
Silva entregou um estudo à Prefeitura de Niterói, em 2004, de ecossistemas originalmente inundáveis, como brejos, pântanos
que apontava as áreas da cidade mais suscetíveis a desabamentos. e várzeas. A inundação na região foi facilitada ainda pela geogra-
Para o geólogo, a tragédia é anunciada. Por isso, você entrega as fia - uma grande área plana cercada por serras -, pela urbanização
informações ao poder público para ele tomar as providências ne- excessiva das margens dos canais e rios e pelo assoreamento pratica-
cessárias. Ele tem ferramentas para analisar isso e minimizar essas mente completo de alguns dos principais deltas de rios da região, como
tragédias”. o Iguaçu e o Meriti, com enormes ilhas de lixo e areia. Amador criticou
“O geógrafo e professor da USP (Universidade de São Paulo) a omissão do poder público, já que muitas zonas ocupadas eram regu-
Jurandyr Ross concorda que a tragédia que ocorreu o Rio não é para larizadas pelos próprios administradores municipais: As áreas inunda-
ser uma surpresa, pois as chuvas intensas são normais na região. das são exatamente as que correspondiam aos ecossistemas úmidos,
Ele destacou que a capital fluminense é construída, predominante- geralmente localizados ao nível do mar. É natural que isso ocorra ali. Há
mente, em uma planície costeira, que é facilmente inundável. E, ao uma nítida negligência do poder público, já que muitos loteamentos
redor dessa planície, estão as montanhas da Serra do Mar, muito nessas áreas são regularizados. Um exemplo claro desse problema é
inclinadas e ocupadas irregularmente. Campos Elíseos, em Duque de Caxias”.
São construções frágeis, em relevo frágil. Porque é muito in- Os impactos ambientais urbanos ocorridos na rede de dre-
clinado. nagem da Região Metropolitana do Rio de Janeiro não afetarão
Para os dois professores, a solução ideal seria que o poder pú- apenas os rios ou em seu entorno, mas vai gerar impactos em seu
blico retirasse todas as pessoas que vivem nesses locais de risco e destino final, o mar. No caso da RMRJ esses impactos vão chegar
não abandonasse a área, garantindo que ela se mantivesse em boas até a Baía de Guanabara, que é o depósito final de muitos rios que
condições e que fosse usada de maneira correta. Mas, segundo cortam essa região, que por sua vez levam consigo muitos sedimen-
Ross, essa ação é complicada pois envolve muitas pessoas”. tos e detritos.
Então, analisando todos os relatos anteriores, percebemos que
a região Metropolitana do Rio de Janeiro em função de sua topolo- CONCLUSÃO
gia, de suas condições climáticas e de seus aspectos sociais, relacio- O objetivo deste artigo foi relatar os principais impactos am-
nados principalmente aos aspectos da segregação espacial, é uma bientais urbanos que ocorrem na Região Metropolitana do Rio de
região susceptível a ocorrência de movimentos de massa. Janeiro, relacionados a duas variáveis de análise: áreas de encosta
Os impactos ambientais urbanos, relacionados às inundações, e margens de rios.
enchentes ou alagamentos, que ocorrem dentro dos limites da As referências que adotamos serviram de fio condutor para
Região Metropolitana do Rio de Janeiro, estão intimamente rela- que nosso tema fosse contextualizado harmonicamente com nos-
cionados à ocupação de margens de rios, que ocorrem muito em so objeto de estudo. Desta forma, foi de vital importância para o
função da falta de estrutura de algumas cidades em realizar um pla- entendimento de nossa pesquisa a conceituação de impactos am-
nejamento urbano, onde se evite a ocupação dessas áreas. Essas bientais e a localização e configuração da Região metropolitana do
ocupações em primeiro lugar dizimam as matas ciliares, o que con- Rio de Janeiro.
tribui para o assoreamento dos rios, já que acabam com a camada Por fim queremos deixar claro que o presente trabalho tem
protetora que retém os sedimentos trazidos pelas águas através da como finalidade servir de contribuição para futuras pesquisas e,
drenagem. Além disso, a ocupação das margens dos rios dificulta o principalmente, aguçar a discussão em torno da questão ambiental
trabalho de limpeza e dragagem desses, o que lhes mantém sempre na Região Metropolitana do Rio de Janeiro e estimular a introdução
assoreados e entulhados. Por conseqüência a população que mar- em nossa sociedade de um modelo de desenvolvimento que reduza
geia os rios e canais que cortam a RMRJ são importantes fatores os impactos ambientais.
de degradação ambiental, já que esses moradores, normalmente,
tem ligações clandestinas de esgoto e a maioria joga detritos e lixo Fonte: https://www.webartigos.com/artigos/impactos-ambientais-ur-
domésticos em seus leitos, entulhando esses. banos-na-regiao-metropolitana-do-rio-de-janeiro/71113

3
GEOGRAFIA
• Pecuária leiteira e agricultura em Valença, Barra Mansa,
IDENTIFICAR AS PRINCIPAIS REGIÕES DO ESTADO E Quatis e Resende.
SUAS CARACTERÍSTICAS GERAIS
3. Região Centro-Sul Fluminense
O Estado do Rio de Janeiro está subdividido em 8 regiões de Municípios: Três Rios, Areal Comendador Levy Gasparian, Pa-
governo: raíba do Sul, Sapucaia, Vassouras, Paty dos Alferes, Mendes, Miguel
1. Região Metropolitana Pereira e Engenheiro Paulo de Frontin.
2. Região do Médio Vale do Paraíba • A produção cafeeira foi dinamizadora da região no pas-
3. Região Centro-Sul Fluminense sado.
4. Região Serrana • Três Rios como principal centro da região. Privilegiado
5. Região das Baixadas Litorâneas pelo entroncamento rodo-ferroviário e localização estratégica en-
6. Região Norte Fluminense tre MG e RJ.
7. Região Noroeste Fluminense • Principais atividades econômicas: Metalurgia (Três Rios),
8. Região da Costa Verde Alimentos, Mecânica, Cerâmica (Paraíba do Sul), Construção Civil
(Miguel Pereira), entre outras.

4. Região Serrana
Municípios: Cantagalo, Carmo, Cordeiro, Bom Jardim, Duas
Barras, Nova Friburgo, Sumidouro, Santa Maria Madalena, São Se-
bastião do Alto, Trajano de Morais, Petrópolis, São José do Vale do
Rio Preto, Teresópolis e Macuco.
• Apresenta bons indicadores socioeconômicos, sendo bem
dinamizada nos setores da indústria, comércio e prestação de ser-
viços. Sofreu, nas últimas décadas, com o crescimento urbano de-
sordenado.
• Região sofre com os desastres naturais, devido aos inten-
sos deslizamentos de terra, normalmente, promovidos pelas chuvas
em abundância, principalmente no verão, gerando perda de vida,
bens materiais e abalo econômico na região e no estado.
• As terras cultivadas na região abastecem os municípios da
região metropolitana.
• Contribuem para o desenvolvimento da agricultura: clima
Neste sentido, vamos apresentar cada uma destas regiões, e a rede hidrográfica, relevo, o solo e o índice pluviométrico.
ressaltando seus municípios, características e principais atividades • Atividade turística bastante desenvolvida, voltada para o
exercidas. turismo histórico (Petrópolis), turismo rural, ecoturismo, turismo
cultural (culturas alemãs e suíças) e o turismo de comércio (pólos
1. Região Metropolitana têxteis e moda íntima).
Municípios: Rio de Janeiro, Niterói, Belford Roxo, Duque de • A industria têxtil tem um papel muito importante na re-
Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, gião, chegando a exportar lingerie para diversos países.
Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São Gonçalo, São João de Me-
riti, Seropédica e Tanguá. 5. Região das Baixadas Litorâneas
• Concentra mais de 80% da população do Estado e mais de Municípios: Maricá, Saquarema, Araruama, Iguaba Grande,
60% do produto interno bruto. São Pedro da aldeia, Cabo Frio, Arraial do Cabo, Armação de Bú-
• 2º maior pólo industrial do país. zios, Casimiro de Abreu, Rio das Ostras, Silva Jardim, Rio Bonito e
• Grandes problemas sócio-ambientais (desemprego, vio- Cachoeira de Macacu.
lência, pressão e poluição sobre os recursos naturais, desigualdade • A importância do fator clima na região: o clima entre Ar-
sócio-espacial e exclusão social). raial do Cabo e Cabo Frio é diferente do restante do estado, sendo
um local que chove menos, venta mais e o número de dias ensola-
2. Região do Médio Vale do Paraíba rados durante o ano é maior, o que estimula o turismo de veraneio
Municípios: Resende, Volta Redonda, Porto Real, Barra Mansa, na região.
Itatiaia, Pinheiral, Piraí, Barra do Piraí, Rio Claro, Valença, Quatis e • Ressurgência - este fenômeno, característico da região,
Rio das Flores. impulsiona a indústria pesqueira em Cabo Frio.
• Região localizada no vale do rio Paraíba do Sul. • Turismo é a principal atividade, gerando diversas outras,
• Seu histórico de ocupação e degradação está associado à como comércio e construção civil.
atividade cafeeira. • Os ecossistemas de restingas e lagunas sofrem com a pres-
• É a região que mais cresce no interior do estado, devido à são desordenada e a falta de políticas públicas para a conservação.
posição logística no eixo RJ-SP-BH. • Outros dois setores da indústria muito importantes são: a
• A atividade industrial é bastante intensa, com a presença pesca e a produção de sal, este último em decadência pela pressão
de empresas como: CSN (Volta Redonda), Volkswagen (Resende), dos empreendedores imobiliários e pela concorrência com a produ-
Michelin (Itatiaia), entre outras.
ção do Rio Grande do Norte.
• Poluição atmosférica muito intensa, pela presença de mui-
• Falta de infra-estrutura e crescimento desorganizado im-
tas industrias.
pulsionado pela especulação imobiliária são os principais causado-
• A presença do Parque Nacional de Itatiaia alavanca o turis-
res de problemas sócio-ambientais na região.
mo na região e fortalece o setor de comércio e serviços em cidades
• Expansão das atividades não agrícolas.
como Resende e Itatiaia.

4
GEOGRAFIA
6. Região Norte Fluminense Nesses certames regionais, frequentemente aparecem ques-
Municípios: Campos dos Goytacazes, Carapebus, Cardoso Mo- tões específicas sobre o estado que sedia o órgão, e no Rio de Ja-
reira, Conceição de Macabu, Macaé, Quissamã, São Fidélis, São neiro não é diferente. Por isso, candidatos devem estar sempre em
Francisco de Itabapoana e São João da Barra. dias com a matéria de geografia do Rio de Janeiro para concursos.
• Produção de etanol de cana-de-açúcar. Confira, a seguir, o nosso resumo sobre o tema.
• Solos férteis, relevo de planície, disponibilidade hídrica,
tradição em agricultura, força de trabalho numerosa e baixo custo, Formação do território
proximidade dos grandes centros consumidores. Como mencionado anteriormente, o território onde hoje está o
• Bacia de Campos: exploração do petróleo off shore. Rio de Janeiro foi um dos primeiros a ser explorado pelos portugue-
• Indústrias ligadas ao setor petrolífero presentes cada vez ses. Uma dessas missões exploratórias chegou na Baía de Guanaba-
em maior número na região. ra em 1º de janeiro de 1502.
• Falta de infra-estrutura básica em cidades como Macaé e
Campos. Porém, assim como no restante do território, a colonização só teve
• Royalties do petróleo aumentando receitas dos municí- início, de fato, a partir de 1532. O local que anteriormente era usado
pios, sem outrora, melhorar as condições de vida da população. apenas para atividades extrativistas, passou a sofrer com ameaças das
• Estrutura fundiária marcada pela forte concentração de nações que se aventuraram tardiamente nas grandes navegações.
terras.
França, Inglaterra, Holanda e outros, constituíam uma real
7. Região Noroeste Fluminense ameaça, e por isso, o português Martim Afonso de Souza foi encar-
Municípios: Itaperuna, Aperibé, Bom Jesus do Itabapoana, regado de vir para o Brasil em uma missão colonizadora. Por conta da
Cambuci, Italva, Itaocara, Lajes do Muriaé, Natividade, Porciúncula, imensidão do território brasileiro, essa colonização não teve êxito em
Santo Antônio de Pádua, São José de Ubá e Varre-Sai. evitar os ataques, que continuaram a acontecer deliberadamente.
• É a região mais pobre do estado, participa apenas com 1%
do PIB do estado. A próxima tentativa de conter os ataques foi a divisão do país
• Itaperuna é o maior centro da região. em 15 capitanias hereditárias, destinando cada uma delas para um
• O meio físico da região é composto por muitas serras, rios, donatário, que por sua vez, ficaria responsável pela proteção e co-
morros e cachoeiras. lonização do território que havia sido designado a ele.
• A região está localizada na porção leste da Serra da Man-
tiqueira. O local onde hoje está o Rio de Janeiro pertencia à Capitania de
• A agropecuária é a principal atividade econômica (pecuá- São Vicente, que foi entregue ao próprio Martim de Souza em 1534.
ria leiteira). A estrutura fundiária é concentrada, os solos não são Uma porção do território também fazia parte da Capitania de São
utilizados adequadamente e a pecuária é extensiva. Tomé, que em 1536 foi doada a Pero Góis da Silveira.

8. Região da Costa Verde As capitanias hereditárias também não foram efetivas, e em


Municípios: Itaguaí, Mangaratiba, Angra dos Reis e Paraty. 1555 a Baía de Guanabara foi invadida pelos franceses. Com apoio
*Inserção recente de Itaguaí e Mangaratiba. do rei da França, Henrique II, eles fundaram a França Antártica e
• É a região de menor extensão territorial. trouxeram aproximadamente 300 colonos calvinistas.
• Possui ainda uma grande unidade de Mata Atlântica do
estado, além de diversos ecossistemas associados. Entretanto, esse Portugal demorou quase 10 anos para tomar medidas de com-
ecossistema vem sofrendo com a expansão de atividades urbanas. bate aos franceses. Uma delas ocorreu em 1º de março de 1565, e
• Na região existem diversas reservas ambientais. foi comandada por Estácio de Sá. Nesse dia, aconteceu a fundação
• Estão localizadas as Usinas Nucleares de Angra. da segunda cidade brasileira, São Sebastião do Rio de Janeiro.
• Turismo forte em Angra dos Reis e Paraty.
A partir daí, entre 1567 e 1568 os portugueses travaram inú-
Fonte: http://pibidgeouff.blogspot.com/2013/10/regioes-de-governo- meras batalhas contra os franceses e indígenas. Além da expulsão
-do-estado-do-rio-de.html dos primeiros, os segundos foram amplamente dizimados. Porém,
os índios que aliaram-se aos lusitanos foram poupados, e muitas
vezes, recompensados.
APRESENTAR NOÇÕES BÁSICAS SOBRE A GEOGRAFIA Em 1574, em mais uma tentativa de frear os ataques ao Brasil,
DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO a Coroa Portuguesa dividiu o país em dois governos, um com sede
em Salvador – BA e outro no Rio de Janeiro – RJ. Somente com essa
Um dos primeiros territórios explorados pelos colonizadores iniciativa é que ocorreu a ocupação definitiva do território.
portugueses, durante muito tempo a cidade do Rio de Janeiro, loca-
lizada no estado homônimo, foi a capital do Brasil, portanto, centro Pouco tempo depois, em 1578, aconteceu a reunificação. No en-
administrativo do país. Mesmo que desde a década de 60 a capital tanto a capital passou a ser unicamente Salvador. Essa configuração
seja Brasília, o estado ainda sedia muitos órgãos públicos. permaneceu até 1808, ano que em que a família real portuguesa che-
gou ao Rio de Janeiro, devolvendo à cidade status de capital brasileira.
Com o objetivo de realizar contratações para esses órgãos,
anualmente uma série de editais de concursos e processos seletivos Ela assim permaneceu, até que em 21 de abril de 1960 Brasília
são publicados. Embora o total domínio do conteúdo programático passou a ser a capital do Brasil. Essa transferência fez com que a
seja indispensável, a preparação antecipada e um bom material de atual cidade do Rio de Janeiro se tornasse uma cidade-estado inde-
apoio são fundamentais para o sucesso dos estudantes. pendente. Somente em 1975 ela se uniu ao Estado do Rio de Janei-
ro, tornando-se uma capital como a conhecemos hoje.

5
GEOGRAFIA
Detalhes do estado do Rio de Janeiro Bandeira do Rio de Janeiro
Um dos três estados da região sudeste, o Rio de Janeiro é re-
presentado pela sigla RJ. O gentílico do estado é o fluminense, en-
quanto quem nasce na capital é chamado de carioca.
Como uma área de 43.777,954 km², o estado é quarto menor
estado brasileiro. Ao todo, ele tem 92 municípios, divididos em cin-
co regiões geográficas intermediárias e 14 regiões geográficas ime-
diatas, conforme detalhamento a seguir.
• Rio de Janeiro: Rio de Janeiro, Angra dos Reis e Rio Bo-
nito.
• Volta Redonda-Barra Mansa: Volta Redonda-Barra Mansa,
Resende e Valença.
• Petrópolis: Petrópolis, Nova Friburgo e Três Rios-Paraíba do
Sul.
• Campos dos Goytacazes: Campos dos Goytacazes, Itaperuna
e Santo Antônio de Pádua.
• Macaé-Rio das Ostras-Cabo Frio: Cabo Frio e Macaé-Rio das
Ostras. Um dos símbolos oficiais do Rio de Janeiro, sua bandeira foi
adotada em 1965. Tanto o brasão, quanto a bandeira são de autoria
Além do limitar-se ao oceano Atlântico ao sul e ao leste, seus do Dr. Alberto Rosa Fioravanti, atendendo a um pedido do então
estados limítrofes são Minas Gerais ao norte e a oeste, São Paulo a governador, General Paulo Torres.
oeste e o Espírito Santo ao norte. As cores azul e branco representam, respectivamente, o mar e
a paz. No brasão, o café e a cana-de-açúcar representam a impor-
Rio de Janeiro e as principais cidades tância da atividade agrícola no estado, enquanto as serras, o pico
A capital do Rio de Janeiro recebe o mesmo nome que o estado Dedo de Deus, que é uma formação geológica da Serra dos Órgãos.
e é conhecida popularmente apenas por “Rio” ou “cidade maravi- Por fim, a águia representa o governo forte e honesto.
lhosa”, principalmente por conta de suas belezas naturais e pontos
turísticos. Ela obriga, inclusive, uma das sete maravilhas do mundo População
moderno, o Cristo Redentor. Durante o período colonial o povoamento do Rio de Janeiro foi
bastante lento. O processo só acelerou a partir do período impe-
A cidade é um dos centros econômicos mais importantes do rial, principalmente no auge da cafeicultura. Naquela época, assim
Brasil e o polo turístico que atrai o maior número de visitantes in- como hoje, a população já concentrava-se na capital.
ternacionais no país, na América Latina e em todo o hemisfério sul. Segundo dados do IBGE, a população no Rio de Janeiro em
É também a capital brasileira mais conhecida no exterior. 2017 era de 16,72 milhões de habitantes.

Fundada em 1º de março de 1965, de acordo com dados do Economia


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017 a po- Conforme citado anteriormente, o Rio de Janeiro é um dos
pulação estimada era de 6.520.266 habitantes, o que corresponde maiores centros econômicos do Brasil. Em 2015, segundo o IBGE, o
a quase 40% de todo o território. Produto Interno Bruno (PIB) do estado era de R$ 659,137 bilhões.
Já o PIB per capita era de R$ 39.826,90. Apesar da crise dos últimos
Além da capital, que é a maior e mais populosa cidade do esta- anos, ainda permanece entre os maiores do país.
do, conheça outras dez cidades que se destacam: A principal fonte de renda é a petroquímica, porém, há impor-
• São Gonçalo – 1.038.081 habitantes tantes representantes em outros setores, como a agricultura, pe-
• Duque de Caxias – 882.729 habitantes cuária, indústria e energia. A industrialização começou a se instalar
• Nova Iguaçu – 807.492 habitantes a partir do século XIX, um dos motivos pelos quais é tão bem esta-
• Niterói – 496.696 habitantes belecida atualmente.
• São João de Meriti – 483.128 habitantes Entre 1940 e 1960 houve investimentos pesados na região, que
• Belford Roxo – 481.127 habitantes foram os responsáveis por consolidar a industrialização na capital
• Campos dos Goytacazes – 460.624 habitantes e em toda a região metropolitana. Hoje, no Brasil, o Rio de Janeiro
• Petrópolis – 298.142 habitantes ocupa o segundo lugar em desenvolvimento industrial.
• Volta Redonda – 262.970 habitantes Sobressaem-se, além do petróleo e seus derivados, a constru-
• Magé – 236.319 habitantes ção naval, siderurgia, metalurgia, indústrias alimentícia e de be-
bidas, têxtil, de materiais de construção, fábricas de automóveis,
entre outras.
Na agricultura, durante muito tempo o café foi o principal pro-
duto fluminense, entretanto, por conta da característica erosiva do
solo e a abolição da escravidão fizeram com que ele entrasse em
decadência.
O Rio de Janeiro é um dos poucos estados brasileiros onde a
agricultura é secundária na economia. A cana-de-açúcar, notória na
região dos Campos, mantém-se como um dos produtos de maior
destaque desde o final do século XX. Laranja, tomate, caqui, bana-
na, arroz, mandioca, milho e feijão também são fortes na agricultu-
ra fluminense.

6
GEOGRAFIA
Em relação a pecuária, a criação de bovinos tem destaque na • Mico-leão-dourado
região do vale do Paraíba do Sul. Ao final do século XIX ela entrou • Tucano-de-peito-amarelo
como atividade substitutiva ao café, cuja produção já estava de- • Jacu
caindo naquele momento. Em menor quantidade, há criatórios de • Onça-pintada
porcos e galinhas. • Atobá-pardo
A pesca, principalmente de sardinha, também é uma importan- • Muriqui
te atividade econômica do Rio de Janeiro.
Hidrografia
Relevo O principal rio é o Paraíba do Sul, mas no estado há inúmeros
O relevo do Rio de Janeiro pode ser dividido em três unidades: rios que correm para o oceano Atlântico. O Paraíba do Sul vem do
baixadas, terras altas e maciços costeiros. estado de São Paulo, corta o estado no sentido oeste para leste, até
As baixadas situam-se entre o oceano e o planalto. Elas são desembocar no oceano, nas proximidades da divisa com o Espírito
muito lembradas pelo seu nome genérico, Baixada Fluminense. Santo.
Essa porção ficou restrita ao território que engloba os municípios de Seus principais afluentes são os rios Piraí, Pomba, Paraibuna,
Duque de Caxias, Belford Roxo, São João de Meriti, Japeri, Nilópolis, Dios Rios e Piabanha. Todo o sistema fluvial que nasce no alto da
Nova Iguaçu, Queimados e Mesquita. Serra do Mar converge para o rio Paraíba do Sul.
Localmente, elas são chamadas de Baixada dos Rios Macaé e Além desses e em proporções menores, destacam-se os rios
São João, Baixada dos Goytacazes ou Baixada Campista, Baixada de independentes Macaé, Macacu e São João. Em todo o litoral flumi-
Sepetiba e Baixada da Guanabara. nense, há, ainda, uma série de lagoas, resultantes do fechamento
Nas terras altas, como o próprio nome diz, abrigam as maio- de baías por cordões litorâneos.
res altitudes do estado, que estão localizadas nas áreas de planalto.
Destaque para a Serra do Mar, Vale do Paraíba do Sul, o Planalto do Comidas típicas do Rio de Janeiro
Itatiaia e o ponto mais alto do Rio de Janeiro, o Pico das Agulhas É comum as pessoas pensarem que o estado do Rio de Janeiro
Negras. não tem uma culinária própria, ou se a tem, que ela fica restrita
Os maciços costeiros, também chamados de maciços litorâ- apenas a feijoada. Essa ideia é completamente errada, e pelo con-
neos, são as elevações que surgem nas áreas de baixada, esten- trário, a comida tem características muito singulares.
dendo-se desde o município de Cabo Frio até a cidade do Rio de Apesar de ter outras influências, na comida típica fluminense,
Janeiro. predominam as características da culinária portuguesa. Um reflexo
dos anos em que, durante o Brasil Império, o estado abrigou a ca-
Clima pital do país.
O Rio de Janeiro possui climas diversos, dependendo da região • Feijoada
referenciada. Portanto, há áreas úmidas, semi-úmidas e secas. • Filé à Oswaldo Aranha
Na porção ocidental da baixada prevalece o tropical semi-ú- • Chuvisco
mido, com chuvas de verão e invernos secos. O clima de monção • Pão doce
aparece nos maciços e encostas baixas da capital em função das • Biscoito Globo e chá mate
chuvas de relevo. • Caldo verde
O tropical úmido com chuvas bem distribuídas durante todo • Frango assado de padaria
o ano prevalece na porção mais rebaixada da escarpa do planalto. • Podrão (gíria que dá nome ao cachorro quente feito em bar-
Já o tropical de altitude, onde os verões são quentes e as chuvas raquinhas de rua)
bem distribuídas a ocorrência é nas porções elevadas da escarpa.
O temperado úmido e suas variáveis está presente no restante do Realidade e principais problemas enfrentados
território. A partir de 2017 o Rio de Janeiro começou enfrentar problemas
muito sérios. Uma crise econômica que afetou praticamente todas
Vegetação as áreas do estado, seguida de um colapso na Segurança Pública.
Mais de 90% do território do Rio de Janeiro era coberto por Por conta do rombo nos cofres públicos, hospitais ficaram com-
florestas. Porém, por conta das atividades agropecuárias boa parte prometidos por falta de insumos, até mesmo para atendimentos
da vegetação original foi devastada. Delas, restam pequenas man- básicos e delegacias também tiveram falta de material de traba-
chas, geralmente em locais de difícil acesso, por serem em terrenos lho. Houve racionamento de combustíveis e muitos servidores es-
extremamente acidentados. taduais ficaram durante meses sem saber ao certo quando iriam
Em menor quantidade, há manguezais e restingas no litoral, receber seus salários.
além de campos de altitude nas áreas mais elevadas. O problema que se arrastou durante vários governos aconte-
ceu principalmente pela confiança depositada dos royalties do pe-
Fauna tróleo, que acabou entrando em queda, frustrando todas as expec-
Os pássaros constituem uma parcela importante entre os ani- tativas.
mais característicos do Rio de Janeiro. Mas além deles há vários ma- Dessa forma, o Rio de Janeiro passou a arrecadar menos im-
míferos de pequeno e grande porte. Conheça os principais animais postos, e menos royalties. Somente entre 2013 e 2016, a receita
do estado: com tributos despencou de R$ 47,5 bi para R$ 43 bi, enquanto os
• Biguá royalties caíram de R$ 10 bi para apenas R$ 3,5 bi. Na contramão,
• Jacutinga as despesas com previdência foram de R$ 11,8 bi para R$ 15,5 bi.
• Bicho-preguiça Ou seja, a conta não fechava. Ainda mais levando em conside-
• Gambá ração que a situação no estado se agravou por conta da quantidade
• Cutia de aposentadorias. Ao ponto de que, para cada servidor na ativa, há
• Quati um aposentado, a maioria com salário integral.
• Tatu

7
GEOGRAFIA
Após uma série de medidas, o estado começou a ir no rumo Outro ponto importante, inclusive explorado por Davis (2006),
de uma recuperação da crise, que deve acontecer pelos próximos referir-se-ia ao papel do Estado, que tem se preocupado apenas
anos, de forma lenta e gradual. com obras de embelezamento urbano e medidas remediadoras –
que não resolvem os problemas – ao invés de desenvolver políticas
Principais indicadores socioeconômicos de inclusão social, seja no que se refere a políticas de geração de
Uma das principais formas de conhecer uma população é en- empregos, seja em forma de políticas habitacionais ou no desenvol-
tender seus indicadores socioeconômicos. Conheça quais são os vimento de sistema de transportes coletivos eficientes. Maricato,
principais índices do Rio de Janeiro: no posfácio do livro de Davis (2006, p. 217), afirma que “o Brasil,
• Alfabetização – o Rio de Janeiro tem a segunda melhor taxa por exemplo, cresceu 7 por cento ao ano de 1940 a 1970. Na década
de alfabetização do país, como 97,3%. O estado fica atrás somente de 1980, cresceu 1,3 por cento, e na década de 1990, 2,1 por cen-
do Distrito Federal. to, segundo o IBGE. Ou seja, o crescimento econômico do país, nas
• Pessoas com nível superior completo – 10,91% dos fluminen- duas últimas décadas do século XX, não conseguiu incorporar nem
ses possuem graduação superior. O índice coloca o Rio de Janeiro mesmo os ingressantes da População Economicamente Ativa (PEA)
como o terceiro melhor colocado no ranking. no mercado de trabalho, o que acarretou conseqüências dramáti-
• Mortalidade infantil – o estado registra a oitava menor taxa cas para a precarização do trabalho e, conseqüentemente, também
de mortalidade do país, são 11,5 óbitos a cada mil nascimentos. para a crise urbana”.
• Taxa de natalidade – entre todas as unidades federativas do Foi com a introdução das políticas neoliberais, a partir de 1980,
Brasil, o Rio de Janeiro tem a segunda menor taxa de natalidade, que esse processo ganhou força, já que houve uma política de pri-
com 11,9%, fica à frente apenas do Rio Grande do Sul. vatização, uma acumulação de bens e serviços em poucas mãos,
• Expectativa de vida – neste quesito, o estado o ocupa a oitava o que acabou desestabilizando socialmente os países periféricos e
melhor posição, com expectativa de vida média de 76,2 anos. lançando milhões de pessoas na informalidade. Para o sistema, se-
• Incidência da pobreza – no estado, a incidência da pobreza gundo Davis (2006), eles são “óleo queimado”, “zeros econômicos”,
está entre as dez menores do Brasil. Com 3,9% da população de “massa supérflua” que sequer merece entrar no exército de reserva
extrema pobreza, o Rio de Janeiro fica em sétimo lugar entre todas do capital. Essa exclusão pode ser percebida pela crescente faveli-
as unidades federativas. zação que ocorre no planeta. Segundo Davis (2006, p. 34), 78,2 por
• Acesso à rede de esgoto – mais de 92% dos municípios flumi- cento das populações dos países pobres é de favelados e dados da
nenses possuem rede de esgoto, o que o coloca o estado como o CIA, de 2002, apresentavam o espantoso número de 1 bilhão de
quarto melhor no ranking do país. pessoas desempregadas ou subempregadas favelizadas.
No Rio de Janeiro a realidade não é diferente. Há um grande
Fonte: https://editalconcursosbrasil.com.br/blog/geografia-do-rio-de- crescimento de favelas na cidade e dados oficiais (Instituto Pereira
-janeiro-para-concursos/ Passos - IPP) trazem a informação de que cerca de 20 por cento
dos habitantes da cidade moram em favelas. Esse crescimento mais
vertiginoso faz-se ainda mais visível a partir da década de 1980 – co-
RECONHECER ASPECTOS GERAIS DO PROCESSO DE nhecida no Brasil como a década perdida, já que o crescimento foi
FAVELIZAÇÃO E SUAS CARACTERÍSTICAS ATUAIS irrisório frente aos anteriores – e está associado a todos os fatores
enunciados anteriormente. Alto índice de desemprego, crescimen-
to da informalidade, especulação imobiliária, falta de política ha-
Se a imagem da metrópole no século XX era a dos arranha-céus bitacional para população de baixa renda e sistema de transportes
e das oportunidades de emprego, ao redor do mundo é possível, coletivos precário são apenas alguns exemplos dos motivos para o
atualmente, observarmos cenários de pobreza onde vive grande crescimento das favelas no Brasil e especificamente no município
parte dos habitantes das grandes cidades do século XXI. Temos pre-
do Rio de Janeiro.
senciado o crescimento cada vez maior do número de favelas em di-
Com toda certeza, para falarmos sobre as origens, expansão,
versas partes do mundo; em todos os continentes. Os números im-
remoção e, atualmente, exclusão concretamente proposta através
pressionam e quando expostos, como feito por Mike Davis (2006),
da construção de muros de contenção contra o crescimento das fa-
deixam atônitos até os menos envolvidos com a temática: tratam-se
velas, teríamos de iniciar nossa argumentação com o próprio pro-
de aproximadamente 200 mil favelas existentes no planeta.
cesso de formação e expansão da cidade do Rio de Janeiro, contudo
Esse crescimento está ligado a vários fatores, mas menciona-
nossa proposta – até por ter um caráter de sucinto comentário –
remos apenas alguns que, obviamente, estão interligados. A impie-
dosa especulação imobiliária é um dos fatores responsáveis pela objetivará fazer uma breve, e por isso insuficiente, contextualização
expulsão de milhões de moradores pobres das cidade para as pe- para posteriormente abordarmos a proposta do governo do esta-
riferias e para as favelas, sujeitando-os a inundações, deslizamen- do com o apoio da prefeitura da cidade, de construir muros para
tos e a todo tipo de risco que acabam sujeitos, levando a graves conter a expansão das favelas. Para tanto, subdividimos este artigo
doenças, inclusive ligadas a falta de saneamento básico. Além em três partes: inicialmente retornaremos ao final do século XIX
disso, doenças praticamente banidas dos países centrais crescem e início do século XX para apontarmos o que seria considerado o
vertiginosamente nessas áreas. Dados comprovam o crescimento surgimento das favelas na cidade do Rio de Janeiro, além de, tam-
exponencial de tuberculose dentre os habitantes das favelas. Em bém, abordarmos as transformações realizadas durante a Reforma
2008, matéria publicada no Jornal do Brasil afirmava que a favela da Passos, que promoveu grande mudança na organização espacial da
Rocinha, localizada na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, regis- cidade; na segunda parte trataremos da expansão das favelas – que
trava a impressionante média de 55 casos mensais de tuberculose, certamente seguem a expansão da própria cidade e dos empregos
ou seja, são 600 casos para cada 100 mil habitantes. A ausência de gerados por ela – , além de apontarmos também as políticas de
debates públicos quando se trata de crescimento tão elevado – a remoção; e, finalmente, chegaremos ao fim do artigo apresentando
Organização Mundial da Saúde (OMS) considera aceitável apenas as atuais absurdas propostas de contenção do crescimento das fa-
cinco casos de incidência do Bacilo de Koch, causador da doença, velas a partir da construção de muros em seu entorno.
para cada 100 mil habitantes – somente se explica por tratar de
assolar a população mais pobre da cidade.

8
GEOGRAFIA
Sobre as origens das favelas lagoa Rodrigo de Freitas) para construir estações; a Cia. De São Cris-
A presença de casebres em morros da cidade data de 1865, o tóvão prolonga e abre várias ruas, como condição para extensão de
que leva a argumentação de que já se tratariam de formas embrio- suas linhas; a Cia. De Vila Isabel faz o aterro do mangue de Praia For-
nárias de favelas. Isso porque a definição oficial inclui a conotação mosa e abre ruas no Cachambi e outros locais, e assim por diante”.
de adensamento, ilegalidade, pobreza, insalubridade e desordem. Maurício Abreu (1987, p. 44) também percebe tal aliança e
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse enaltece o que denominou “associação bonde-loteamento”. Exem-
tipo de habitação encontra-se assim definido: “aglomerado sub- plificando essa forma de associação, afirma que o bairro de Vila
normal (favelas e similares) é um conjunto constituído de, no mí- Isabel foi criado em 1873 pela Companhia Arquitetônica, cujo pro-
nimo, 51 unidades habitacionais, ocupando ou tendo ocupado até prietário era o mesmo da Companhia Ferro-Carril de Vila Isabel, o
período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou não), Barão de Drummond. Visto isso, acreditamos que a apropriação e a
dispostas de forma desordenada e densa, carentes, em sua maio- produção do espaço se dá segundo os interesses do Estado, do capi-
ria, de serviços públicos essenciais”. Sem entrarmos no mérito da tal comercial (nesse caso, mais especificamente os concessionários
definição, por si só problemática, já na última década do século XIX, do setor de transportes), o capital imobiliário e o capital fundiário.
em 1897, surgiram as favelas nos morros da Providência e de Santo Evidentemente, todas essas obras de extensão das linhas de
Antônio, na área central da cidade. bondes, que contribuíram para a expansão da cidade, demandavam
A cidade do Rio de Janeiro tinha problemas seríssimos de falta grande quantidade de mão de obra. Esses trabalhadores acomoda-
de moradia e ainda assim não parava de crescer. Entre 1903 e 1906, vam-se nos canteiros de obra durante a construção, porém quando
o Prefeito Pereira Passos promoveu uma intensa reforma urbana, esta chegava ao fim, se não encontravam emprego em novas obras,
na qual foram demolidos vários imóveis (grande parte deles de tinham de construir suas casas junto aos locais em que pudessem
habitação popular) para ampliação de vias e construção de “pré- conseguir trabalho.
dios modernos”, muitos deles de inspiração parisiense. Além disso, Em se tratando das companhias de bondes, poderíamos afir-
como voltaremos a falar posteriormente, o prefeito impôs novas e mar que enquanto a Companhia Jardim Botânico contribuiu para
rigorosas normas urbanísticas que acabaram por inviabilizar inclusi- a ocupação da freguesia da Lagoa pelas classes abastadas, as de-
ve os subúrbios para as classes mais pobres que foram desalojadas mais companhias exerciam a função de integração da área central
da área central da cidade. Nesse sentido, o novo já traz em si a sua da cidade aos bairros proletários de Santo Cristo, Gamboa, Saúde
própria negação. Para complicar ainda mais, os meios de transporte e Catumbi.
eram precários, obrigando a força de trabalho a residir próximo ao Roberto Lobato Corrêa (1995, p. 32) dá-nos exemplo da as-
local de trabalho. sociação desses agentes quando da abertura do Túnel Velho (que
Desde o início do século XX – com a denominada Reforma Pas- liga Botafogo a Copacabana) pela própria Companhia de Bondes do
sos – foram promovidas reformas urbanas vigorosas (Abreu, 1987, Jardim Botânico. Para esse empreendimento foi criada a Empresa
p. 60; Neves, 1996, p. 49; Vaz, Silveira, 1999, p. 59; Reis, 1977, p. de Construções Civis, que acabou sendo a maior responsável pela
22), ademais, embora tenham sido formados bairros ditos operá- valorização do arrabalde de Copacabana.
rios (Albernaz, 1985, p. 25), o aspecto geomórfico peculiar da ci- Nesse sentido, elucida-nos Elizabeth Cardoso (1986, p. 66) a
dade fez com que a divisão de classes por entre os diversos bairros propósito do que vinha a ser a Empresa de Construções Civis. Cons-
da cidade fosse ligeiramente borrada. Assim é que observamos um tituiu-se de uma aliança de interesses comuns centrados nas valori-
grande número de favelas localizadas em bairros nobres da cidade. zações fundiária e imobiliária.
Contudo, importa reconhecer que a própria concepção “de mora- “Eram seus acionistas vários proprietários de terras em Copa-
dor do morro” e “morador do asfalto” por si só já denota a divisão. cabana, vários bancos – Banco Luso-Brasileiro, Banco Brasil e Nor-
Houve, durante a constituição da organização espacial carioca te América, Banco Construtor do Brasil e Banco de Crédito Rural
no decorrer do século XX, um comportamento já conhecido desde e Internacional –, pelo menos uma empresa do setor industrial, a
o século XIX, em que o Estado associou-se ao capital privado em Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros, empresas comerciais,
benefício das classes mais abastadas da sociedade – sobre tal tema entre elas uma de exportação de café, outras empresas imobiliá-
Jacobi (1989, p. 06-09) debruça-se com bastante clareza. É nesse rias, como a Empresa de Obras Públicas no Brasil, que foi a maior
sentido que podemos afirmar, juntamente com Lojkine (1981), que acionista e a própria Botanical Garden”.
as formas de urbanização são, antes de tudo, formas da divisão so- Mas isso não é tudo, participaram também da Empresa de
cial e territorial do trabalho. Jean Lojkine (1981, p. 122) acredita Construções Civis um ex-Ministro da Agricultura, Comércio e Obras
que “não considerar a urbanização como elemento-chave das re- Públicas e dois prefeitos da cidade, dentre eles Carlos Sampaio
lações de produção (...) é retomar um dos temas dominantes da (também proprietário fundiário em Copacabana). Corrêa (1995,
ideologia burguesa segundo a qual só é ‘produtiva’ a atividade de p. 33) acrescenta à lista de acionistas membros da antiga nobreza:
produção da mais-valia”. “pelo menos seis barões e um visconde eram sócios dela”. Perce-
No último quartel do século XIX, as companhias de bondes da bemos, então, a aliança entre proprietários fundiários, promotores
imobiliários, bancos, empresas comerciais e industriais e, inclusive,
cidade também tiveram importante papel na produção do espaço
o Estado.
carioca. Longe de representarem apenas companhias de transpor-
te, estas participaram da conformação da espacialidade da cidade
A expansão das favelas por toda a cidade e as políticas de re-
do Rio de Janeiro, pois a partir das alianças entre o capital externo,
moção
o capital imobiliário, o capital fundiário e o Estado, o espaço urba-
A partir da década de 1910, as favelas crescem mais intensa-
no começa a ser (con)formado. Maria Lais Pereira da Silva (1992,
mente e penetram a zona sul e o seu crescimento é acompanhado,
p. 43) elucida tal colocação ao afirmar que, quando da concessão
nessa mesma década, pela sua repressão. Foi assim que presen-
para abertura das linhas para Copacabana e Vila Isabel, ocorreram
ciamos uma longa história de remoções, desconsiderando um fato
barganhas com o poder público que implicaram em obras que mo-
fundamental: durante toda a história o trabalhador buscou estar
dificaram o espaço urbano:
próximo ao local de trabalho. E nesse sentido não é de espantar que
“a Cia. Do Jardim Botânico, por exemplo, executa o desmonte
a maior parte das remoções não obteve sucesso, pois os moradores
de parte da ladeira de Santo Antônio para alargamento da rua da
eram alocados em locais muito distantes e sem infra-estrutura de
Guarda Velha, sem falar nos túneis e em aterro (como vários na
transportes.

9
GEOGRAFIA
Desde meados do século XX, a ocupação da cidade continuou dido como as áreas servidas por ferrovia que foram abertas ao pro-
seguindo o caminho traçado já no início desse mesmo século: o de- letariado como um dos símbolos das alterações das relações sociais
clínio da população residente na área central era cada vez maior e que conformam e caracterizam as reformas urbanas verificadas no
enquanto os subúrbios absorviam as classes mais baixas da popu- Rio de Janeiro. A alternativa da moradia suburbana para os pobres
lação, a zona sul manteve-se como área preferida da classe mais do Rio de Janeiro aparecerá com grande nitidez em 1905, no âmbito
abastada da cidade. Durante a primeira metade do século XX a cida- de uma comissão designada pelo Ministério da Justiça e do Interior
de se expandiu e em seu interior as favelas foram sendo criadas. Era para “propor soluções ‘ao urgente problema das habitações popu-
possível observar um crescimento vertical no centro e na zona sul, lares’ na capital da República” (Benchimol, 1992, p. 39).
enquanto que nos bairros da zona norte e dos subúrbios a expansão O subúrbio ferroviário, contudo, não foi um lugar destinado aos
deu-se através da construção horizontal, principalmente de casas pobres, o que significa que, do ponto de vista de um direito social
unifamiliares. Lílian Vaz (1998) enaltece o fato de que “nas décadas como a habitação, a República, além de expulsar os pobres da ci-
de 1940-1950 e seguintes assistiu-se à expansão metropolitana e à dade, não garantiu sequer aquela área ao proletariado da cidade.
formação das periferias”. Nesse período já havia forte pressão para O Prefeito Pereira Passos, através do Decreto 39, de 10/02/1903,
a remoção das favelas e a população de baixa renda que optava criou uma série de normas para construção que dificultava ainda
por não sofrer esse tipo de risco, tinha como alternativa as perife- mais a construção de habitações populares nos subúrbios. Assim, a
rias cada vez mais distantes, onde se multiplicaram os loteamentos tentativa de organização espacial acabou por contribuir para a for-
populares. Assim, segundo Vaz (1996), “nos lotes pequenos, sem mação de favelas por toda cidade – inclusive naquelas áreas mais
infra-estruturas urbanísticas, de difícil acesso, e por isso mesmo, periféricas, que teoricamente seriam destinados aos pobres – e,
baratos, praticava-se a auto-construção. Assim, na produção dos ainda, incentivou a promoção de loteamentos irregulares na Baixa-
novos espaços, destacava-se o binômio loteamentos populares e da Fluminense, ou seja, para além do território do, à época, Distrito
auto-construção, e em menor grau, a produção de conjuntos resi- Federal. É nessa conjuntura de transformação socioespacial do Rio
denciais pelo Estado”. de Janeiro que se define os subúrbios ferroviários como o lugar do
Nos anos 1960 e 1970, a produção de conjuntos habitacionais proletariado.
esteve associada à política de remoção de favelas. Nesse período, Ainda hoje, no Rio de Janeiro, é comum o uso de expressões
grande quantidade de moradores de favelas foi transferida para como: subúrbio da Leopoldina (referindo-se aos bairros servidos
assentamentos distantes do núcleo, que na maioria das vezes não pela Estrada de Ferro da Leopoldina) e subúrbio da Central (tra-
contava com comércio e nem com sistema de transportes coleti- tando-se dos bairros servidos pela Estrada de Ferro da Central do
vos que desse boas condições de deslocamento para essas pessoas. Brasil).
Boa parte das áreas de onde foram removidas as favelas foi ocupa- O conceito carioca de subúrbio é uma representação que sin-
da por grandes empreendimentos imobiliários que se destinavam à tetiza um discurso ideológico sobre o lugar dos pobres na cidade do
construção de conjuntos de edifícios de apartamentos de alto luxo. Rio de Janeiro. Para Fernandes (1995, p. 31), tal conceito significa o
Neste momento seria importante tecer alguns esclarecimentos tipo de cidadania reservada para a maioria de sua população, já que
quanto à noção de subúrbio. Para tal, importa reconhecer, junto “predomina, entre nós, a idéia de um espaço (suburbano) subordi-
com José de Souza Martins (1992, p. 09), que “a perspectiva elitista nado e sem história, sem criação, sem cultura, carente de valores
do centro domina a concepção que se tem do que foi [e é] o subúr- estéticos em seus homens e sua natureza (subúrbio é quase sempre
bio”. Tentaremos não nos alongar em demasia, contudo a maneira feio e sem atrativos), ausente de participação política e cultural. No
como essa noção foi e, efetivamente, é utilizada no Rio de Janeiro máximo, concede-se ao subúrbio o lugar da reprodução”.
tem sua especificidade. Nelson da Nóbrega Fernandes (1995, p. 29) A partir dessa leitura, constatamos que o padrão de segregação
ao investigar a história da categoria subúrbio no Rio de Janeiro en- que se reproduz através do conceito carioca de subúrbio, reifica o
tre 1858 e 1945, reconhece que essa palavra sofreu uma transfor- subúrbio enquanto ideologia, o que acaba por legitimar não só os
mação em seu significado tradicional, fazendo com que deixasse de discursos que fazem apologia ao status quo como aqueles que se
representar todas áreas circunvizinhas à cidade para designar, de opõem a ele e o denunciam; isto porque não vão além da forma, ou
forma particular e exclusiva, os bairros populares situados ao longo seja, classificam as aparências mas não as explicam e ao não fazê-lo
das ferrovias nos setores norte e oeste da cidade do Rio de Janeiro. reificam as práticas sociais a partir da ideologia dominante. Portan-
O autor interpreta a produção do conceito carioca de subúr- to, repete-se um dos fundamentos das ideologias que é a negação
bio, como o resultado de um rapto ideológico – mudança brusca e/ou omissão do processo histórico. É a naturalização do real e sua
e drástica do significado de uma categoria, em que seus atributos redução ao presente, onde o passado existe para ratificá-lo.
mais originais e essenciais são expurgados de seu conteúdo, sendo Após essa explanação, podemos perceber de maneira mais
submetidos por significados novos e complemente estranhos à sua apropriada a forma pela qual a cidade do Rio de Janeiro se expan-
extração mais genuína. Esse tipo de reforma implicou na destruição diu. As primeiras três décadas do século XX demonstraram notável
dos bairros proletários centrais e o deslocamento de seus morado- expansão da tessitura urbana da cidade. Nesse período, caracteri-
res para o subúrbio, que para a ideologia dominante, deveria ser o zou-se o crescimento da cidade a partir de dois vieses: as classes
locus do proletariado. alta e média ocuparam as zonas sul e norte, tendo no Estado e nas
Em se tratando do Rio de Janeiro, a ausência de uma efetiva po- companhias concessionárias de serviços públicos seus maiores alia-
lítica de habitação popular, tornou a casa própria no subúrbio uma dos; e por outro lado, os subúrbios cariocas caracterizaram-se como
miragem para a maioria do proletariado. A partir de então, Fernan- locais de residência do proletariado, que, a partir do deslocamento
des (1995, p. 30) supõe que “o sentido do ‘conceito carioca de su- das indústrias, se dirigiu, também, para lá. Se as zonas sul e norte
búrbio’ experimentou o sentimento e a necessidade ideológica das tiveram apoio do Estado, em se tratando dos bairros suburbanos a
elites no intuito de afastar as classes subalternas do Rio de Janeiro”. ocupação se deu sem qualquer apoio estatal ou das concessioná-
Considerando a advertência de Henri Lefebvre (1976, p. 46) de rias. Dessa maneira, logo se percebia a desigualdade sócio-econô-
que o espaço é sempre uma representação carregada de ideologia, mica que se refletia na espacialidade da cidade.
o trinômio trem–subúrbio–pobreza só veio de fato a se concretizar Pelo que vimos, o Rio de janeiro apresentou uma história de
depois do início do século XX, com o desenvolvimento da ideologia crescimento urbano marcado por extensas periferias, em que resi-
da casa própria no subúrbio. “Subúrbio”, então, passou a ser enten- dia a população de classe mais baixa, e por forte desigualdade da

10
GEOGRAFIA
oferta de infra-estrutura e de serviços, em benefício das áreas ha- o resultado do levantamento, afirma estar diante de uma grande
bitadas pelas classes mais abastadas. Vetter e Massena (1982, p. distorção no sistema, já que em condições normais os imóveis ava-
50), analisando a cidade, identificaram em sua dinâmica uma matriz liados acima de R$ 251 mil não deveriam representar mais de 10
perversa de distribuição dos recursos urbanos, que direcionava os por cento da oferta.
investimentos públicos direta ou indiretamente para as camadas já Outro ponto marcante encontra-se no fato de, aproximada-
mais bem servidas e de mais alta renda. Denominaram esse modelo mente, 60 por cento dos imóveis serem financiados diretamente
de “causação circular”, que, segundo Cardoso e Ribeiro (1996, p. pelo incorporador. Nesse sentido, o financiamento caracteriza-se
22), “passou a ser considerado pela literatura como característico pelo curto prazo – em geral, cinco anos – o que exclui a possibilida-
do nosso padrão de urbanização”. Harvey (1980, p. 135; 1982, p. de de aquisição pela parcela menos abastada da população.
11), já percebendo tal distribuição desigual, enunciava a alocação E se a cidade vêm crescendo em direção da Barra da Tijuca
espacial diferenciada dos equipamentos urbanos de consumo co- (zona oeste litorânea), não é à toa que das 513 favelas registradas
letivo. Tal característica levava à ampliação da renda real daqueles pelo IBGE na Região Metropolitana, mais de 100 estão concentra-
que já possuíam elevada renda monetária. Apesar disso, convém das na zona oeste. Não nos surpreende que os números oficiais
lembrar que, devido à especificidade geomorfológica da cidade do cheguem a afirmar que aproximadamente 20% da população da
Rio de Janeiro, mesmo nos bairros habitados pelas classes mais cidade vive em favelas.
abastadas da sociedade carioca encontramos favelas sem a infra- Paulo Bastos Cezar (Jornal do Brasil, 20 de dezembro de 2002),
-estrutura mínima necessária. pesquisador do Instituto Pereira Passos (IPP), concluiu seu trabalho
A intensificação do processo de concentração de renda em sobre o crescimento das favelas afirmando que se a ocupação do
curso culminou com a expansão da parte rica da cidade em dire- Rio de Janeiro continuar no ritmo em que está, em 2024 os con-
ção a São Conrado e Barra da Tijuca. Para tanto, o Estado que se domínios e prédios de Jacarepaguá estarão todos cercados por
associou ao capital imobiliário teve importante papel, pois incor- favelas. Segundo o pesquisador, atualmente o bairro tem 113.227
reu em um enorme investimento para a construção da Auto-Estra- favelados, ou seja, 22 por cento de um total de 506.760 moradores.
da Lagoa-Barra. Essa obra foi extremamente custosa, pois incluiu, Enquanto “a população favelada cresceu 12,53 por cento ao ano,
para sua realização, a perfuração de vários túneis e a construção a população normal [sic] cresceu em média 2 por cento nos últi-
de pistas sobrepostas encravadas na rocha. Nesse período, essas
mos quatro anos”. Importante frisar que grande parte da população
novas áreas da cidade, apesar de esparsamente habitadas, tiveram
favelada presta serviços no bairro vizinho: Barra da Tijuca. Fato é
no Estado importante agente para a produção do espaço. A partir
que o crescimento populacional da Barra da Tijuca continua alto e,
da associação com o capital privado, seja na abertura de estradas e
como no passado, tal crescimento gera uma demanda por serviços
ruas, seja na pavimentação e instalação de infra-estrutura, o Estado
pouco qualificados, que atrai cada vez mais população de baixa ren-
investiu grandes somas de dinheiro na preparação desse novo eixo
da em busca de postos de trabalho.
de expansão da cidade. Em um período de aproximadamente 40
anos – 1955 a 1999 – a Barra da Tijuca apresentou um crescimento
Sinais concretos da exclusão: muros para conter o crescimen-
surpreendente, principalmente nos últimos 15 anos (Figuras 01, 02,
03, 04 e 05). to das favelas
A rede viária do Rio de Janeiro, juntamente com a construção Voltando os olhos para o período pós-1984, percebemos o que
imobiliária, tem se constituído como marco concreto do processo Lago (2001, p. 1534) denominou “elitização do mercado imobiliá-
de produção e transformação do espaço urbano. A construção da rio carioca”, pois com a crise do Sistema Financeiro de Habitação
rede viária contribuiu, segundo Mauro Kleiman (2001, p. 1597), (SFH) e praticamente o fim do financiamento para construção de
para a configuração de seu padrão de segregação socioespacial. Tal habitações populares, a produção das grandes empresas passou a
afirmação baseia-se na forma com que se deu se concentrar mais especificamente na Barra da Tijuca. Contudo,
Os investimentos em direção à Barra da Tijuca continuaram não devemos esquecer que, na década de 1990, bairros como Bo-
com a abertura de novas vias de acesso: Avenida das Américas (que tafogo, Lagoa, Jardim Botânico e Leblon começaram a vivenciar um
se prolonga em direção ao Recreio dos Bandeirantes) e a Avenida processo de renovação do seu estoque imobiliário pelas grandes
Alvorada (atual Avenida Ayrton Senna). Tais avenidas favoreceram, incorporadoras, seja para a construção de apartamentos de luxo,
respectivamente, a expansão imobiliária em direção ao Recreio e seja para edifícios de escritórios.
a acessibilidade maior a partir do bairro de Jacarepaguá. Contudo, Esse período compreende justamente a fase em que o cresci-
juntamente com os condomínios fechados construídos, houve tam- mento econômico no Brasil foi praticamente nulo, não conseguin-
bém o surgimento e o crescimento das favelas. Algumas, como no do incorporar a população economicamente ativa que chegava ao
caso da Favela do Terreirão, bem próximas à praia e nesse caso tra- mercado de trabalho, além de apresentar um forte crescimento do
tando-se de favelas planas. desemprego. A estratégia de sobrevivência dessa parte da popula-
No caso do Rio de Janeiro, como vimos anteriormente, a ar- ção voltou-se à informalidade e as favelas próximas aos locais de
ticulação entre os agentes ocorreu desde há muito tempo atrás e trabalho tornaram-se sua opção de habitação.
continua a ocorrer. Apesar de o governo federal ter anunciado sua Luciana Corrêa do Lago (2001, p. 1535) percebe uma tendência
intenção de concentrar seus investimentos em moradia para a po- que se refere à “elitização da população residente em áreas com
pulação de baixa renda, as principais construtoras que atuam na significativa intervenção do capital imobiliário, responsável pelas
cidade têm-se dedicado à construção para a classe mais abastada. mudanças de uso do espaço”. Tratam-se, basicamente, de áreas
Segundo levantamento da própria Associação de Dirigentes de Em- consolidadas e já valorizadas como Botafogo, Leblon e Lagoa. Além
presas do Mercado Imobiliário (Ademi/RJ), publicado pelo jornal dessas, a Barra da Tijuca se junta a elas como nova área de expan-
O Globo (2003), 50,5 por cento dos novos projetos – imóveis na são. Em uma dessas áreas, na Favela Santa Marta em Botafogo
planta, em construção ou que acabaram de ficar prontos – custam (Foto 06), o Governador Sérgio Cabral em parceria com o Prefeito
hoje mais de R$ 251 mil. Além disso, 23,7 por cento referem-se a Eduardo Paes estão pondo em ação um plano de ocupação de fa-
unidades com preços acima de R$ 400 mil. Curiosamente, o próprio velas. Na segunda quinzena de dezembro de 2008, foi inaugurado
presidente da Ademi/RJ (Associação dos Empresários do Mercado o novo Posto de Policiamento Comunitário (PPC) na favela ocupada
Imobiliário do Rio de Janeiro) na época, Márcio Fortes, ao analisar pela polícia desde 19 de novembro do mesmo ano. Essa primeira

11
GEOGRAFIA
experiência, segundo o Secretário de Segurança, funcionará como conter o crescimento da Favela da Rocinha, contudo a grande mobi-
projeto piloto e deve ser expandido para outras favelas, segundo lização da academia e da opinião pública fez com que não a pusesse
matéria publicada no jornal O Globo (19/12/2008). em prática. O Vice-Governador havia sido Secretário de Urbanismo
A ação policial, que teria “expulsado” os traficantes, seria e, em seguida, Prefeito da cidade em meados da década de 1990.
acompanhada de uma “invasão social”, que traria atividades edu- Em 1991, havia cerca de 245.000 imóveis desocupados no Rio
cativas e culturais, acesso aos serviços públicos e etc. Contudo, se- de Janeiro. Atualmente, estima-se que haja mais de 300.000 nessa
gundo o presidente da Associação de Moradores, a invasão social mesma condição. Se olharmos atentamente, veremos ao longo das
ainda não chegou. vias que cruzam as zonas industriais e portuária galpões, armazéns
Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Pereira Passos (IPP), na e prédios em sua maioria abandonados. Na área central da cidade a
primeira quinzena de janeiro de 2009, afirma que o Rio de Janeiro cena se repete em edifícios antigos e novos com grande quantidade
já contabiliza 968 favelas, ou seja, 218 a mais do que em 2004. A de escritórios vazios. Isso acontece inclusive no núcleo central da
pesquisa mostra ainda que a população favelada passou a ocupar cidade.
mais três milhões de metros quadrados do que ocupava em 1999. Afirma Vaz (1996) que “nas zonas residenciais, principalmen-
Segundo o IPP, as favelas passaram a ocupar 3,7 por cento do terri- te nos bairros mais modernos, onde predominam os edifícios de
tório do município. apartamentos, vemos apartamentos e por vezes edifícios inteiros
O Prefeito da cidade, na primeira quinzena de janeiro de 2009, vazios e fechados”. A autora acrescenta ainda, no que se refere ao
publicou quatro decretos com o objetivo de controlar o cresci- enorme número de domicílios vazios, que esse número é tão alto
mento das favelas. Um deles autoriza a Secretaria de Urbanismo a que daria para ocupá-los com os habitantes das favelas. Segue Vaz
firmar convênios com universidades e institutos de pesquisa para (1996) afirmando que “há moradias para todos, e o Rio de Janei-
elaborar regras urbanísticas para as 968 favelas até 2012. Tais re- ro não precisaria ter nenhuma moradia em favela, nem tampouco,
gras definirão o gabarito – limite máximo de altura para prédios em nenhuma favela! E no entanto, os dados sobre favelas continuam
certas zonas – permitido, assim como as áreas públicas dentro das a ser utilizados como demonstrativos do déficit de habitações e da
comunidades. O prefeito determinou ainda que os órgãos munici- necessidade de construção de novas moradias”.
pais passem a demolir habitações em áreas de risco. Outro decre- Evidentemente, os números apresentados pela autora – que
to autoriza a Secretaria de Urbanismo a contratar arquitetos para acreditamos ter tido o objetivo apenas de provocação – são dados
ajudar a orientar os moradores quanto às regras de construção. E, gerais, que incorporam imóveis particulares, de veraneio, além de
finalmente, o quarto decreto define a favela Vila Canoas, em São imóveis públicos e de empresas que faliram ou que simplesmente
Conrado, como Área de Especial Interesse, onde será desenvolvido abandoram os antigos prédios. Acreditamos que há realmente um
um projeto piloto que servirá como base para posterior expansão número considerável de imóveis que poderiam ser convertidos em
para outras favelas. Ali, além de definir os gabaritos e as áreas pú- habitações populares, mas não seriam suficientes para dar conta de
blicas da comunidade, o prefeito determinou a obrigatoriedade de toda a população favelada do Rio de Janeiro.
habite-se para qualquer obra. Assusta-nos que, nos dias atuais, os governos acreditem que
Contudo, a medida mais polêmica do Governo do Estado jun- isolar em guetos parte específica da população – a classe pobre –
tamente com a Prefeitura foi a divulgação do início da construção, por achá-la inconveniente ou perigosa vá resolver algo. O problema
ainda este mês, de um muro de quase 650 metros de comprimento do crescimento do tráfico de drogas, do crescimento das favelas e
por três metros de altura na Favela situada no Morro Dona Marta, da desordem urbana estão como estão porque houve descaso com
em Botafogo (zona sul carioca). Se tivermos em conta que do outro a população mais pobre e porque a escolha política de caminhar
lado da favela há um plano inclinado, com teleférico para transpor- junto às propostas neoliberais contribuíram para o crescimento da
te da comunidade, que já serve como muro de contenção, ao final informalidade. A instalação de equipamentos, como infraestrutu-
da construção do muro os moradores estarão concretamente se- ra de água e esgoto, luz e energia, gás, coleta de lixo, serviço de
gregados No discurso, o motivo para a construção do muro é ape- correio, saúde e educação facilmente encontradas no asfalto não
nas para impedir a devastação da floresta do entorno, tanto que chegaram às favelas. Então, ainda é preciso pensar em políticas de
três dias após a divulgação da construção do muro, as instâncias construção e financiamento de habitações populares, mas tendo
de governo passaram a referir-se a ele como “ecolimite”. Em nota em conta que é preciso pensar que a maioria da população neces-
oficial o governador afirma: “estamos investindo na ordem pública, sitada não tem sequer capacidade de endividamento, pois não tem
enfrentando o tráfico de drogas e impondo limites ao crescimento como confirmar sua renda, são trabalhadores informais. É preciso
desordenado”. levar serviços públicos de qualidade até essas localidades. E final-
A Favela Santa Marta parece ser apenas a primeira dentre ou- mente, é preciso respeitar essas pessoas que lá vivem e que são tão
tras tantas, já que os secretários de Ordem Pública, de Urbanismo e moradores da cidade do Rio de Janeiro como qualquer outro.
de Meio Ambiente sobrevoaram as Favelas da Rocinha (São Conra-
do), Pavão-Pavãozinho (Copacabana) e Chapéu-Mangueira (Leme),
todas na zona sul da cidade, e também demonstraram preocupação
com o crescimento desenfreado das construções e com o desmata- IDENTIFICAR EM TEXTOS E GRÁFICOS SITUAÇÕES
mento das áreas de floresta. Mas as medidas não param por aí, já PROBLEMA TÍPICAS DA SOCIEDADE FLUMINENSE E
foi iniciado o monitoramento online da expansão das comunidades RECONHECER FORMAS DE REDUZIR OS PROBLEMAS
usando satélites e a remoção de construções fora das áreas deli- GERADOS EM TAIS SITUAÇÕES
mitadas estão entre as ações definidas pela prefeitura para acabar
com as invasões em áreas de florestas. Segundo os secretários mu- A recessão, a grave crise financeira do Estado do Rio, a escassez
nicipais, estão sendo definidos os limites e qualquer construção que de recursos para a polícia e o desemprego estão entre os fatores que
estiver além dessa definição será derrubada. contribuem para a atual crise de segurança.
Essa idéia de murar as favelas e que está sendo posta em prá- Para o antropólogo e especialista em segurança pública Luiz
tica agora pela parceria entre governo e prefeitura do Estado do Eduardo Soares, o quadro atual resulta da intensificação de práticas
Rio de Janeiro não é nova. Em 2004, o Vice-Governador do Estado, e circunstâncias que estão em curso há muito tempo.
Luís Paulo Conde (que é arquiteto), fez essa mesma proposta para

12
GEOGRAFIA
“O padrão tem sido o mesmo: confronto com ‘o tráfico’, ado- “O aumento dos indicadores de violência significa que os poli-
tando incursões bélicas às favelas, que matam inocentes, suspeitos ciais na ponta estão sendo colocados sob muito mais pressão - isso
e até mesmo policiais. A velha ‘política’ da conhecida - e derrotada enquanto o Estado passa por uma crise financeira violentíssima que
- guerra às drogas”, lamenta. gera ansiedade sobre se vão receber salários, e boatos de que o Estado
Entenda quais são os principais fatores estão por trás da atual não tem dinheiro para comprar gasolina, de que as viaturas estão su-
crise de segurança no Rio. cateadas, de que coletes a prova de bala estão vencidos e armas estão
sem manutenção. Tudo isso gera um cenário de muito estresse para
Deterioração das UPPs um funcionário cuja função é ir para a rua e proteger a população.”
Nos últimos cinco anos, o número de tiroteios em comunida- Neste ano, mais de 60 policiais já foram mortos no Rio. “A so-
des com UPPs aumentou 13.746%, de acordo com um estudo feito ciedade precisa responsabilizar o policial quando ele precisar ser
pela própria Polícia Militar. O número de confrontos nas favelas com responsabilizado, mas também precisa entender que policiais estão
UPPs passou de 13, em 2011, para 1.555, em 2016. As trocas de tiros sob extrema pressão e profundo estresse, e que eles também são
se intensificaram nas últimas semanas, notadamente no Complexo vítimas desse processo.”
do Alemão, onde a PM atua para instalar uma cabine blindada numa
das principais vias da comunidade Nova Brasília. Expansão da mancha de criminalidade
O entusiasmo em torno da política das UPPs foi inicialmente A década entre 2006 e 2016 foi marcada por um período de
justificado por uma queda vertiginosa nos índices de criminalidade otimismo que teve seu ápice em 2011, ano que apresentou os me-
nas comunidades. Com o tempo e a expansão do programa para co- lhores indicadores de segurança. Em seguida, a situação começou a
munidades maiores e mais complexas - como a Rocinha e o próprio se deteriorar. Ao fim do período, a violência não voltou ao que era;
Complexo da Maré -, a situação começou a se deteriorar. mas se reconfigurou e se espalhou geograficamente pelo Estado.
Um dos problemas, segundo a socióloga Julita Lemgruber, coor- Uma pesquisa realizada pela FGV/DAPP com base nos dados
denadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Cândi- compilados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) mostrou que,
do Mendes (Cesec), foi apostar primordialmente nas UPPs, que ti- quando a violência voltou a aumentar, ela se distribuiu pelo Estado.
nham foco claro na capital e nunca foram uma política de segurança “Antes, a capital sempre acumulava os maiores números de
pública para todo o Estado - das 38 UPPs implantadas, apenas uma, violência”, diz Maria Isabel Couto, uma das autoras da pesquisa.
no Complexo da Mangueirinha, fica fora dos limites do município, na Isso foi mudando ao longo dos últimos anos, com o aumento do
Baixada Fluminense. crime no interior do Estado e na Baixada Fluminense (região metro-
“Quando a política das UPPs entrou em falência, o Estado não politana do Rio, já fora das fronteiras do município).
conseguiu se movimentar rapidamente para se reestruturar”, diz “A concentração na capital significava que, do ponto de vista da se-
Lemgruber. gurança pública, os esforços e o contingente também podiam ser con-
Para ela, os episódios violentos que a cidade tem presenciado centrados. Hoje, a violência está muito mais dispersa, e é preciso distri-
são “reações pontuais para apagar incêndios”, levando o Rio de volta buir esforços, recursos e adotar estratégias mais complexas”, diz Couto.
à situação de “anos atrás”. A distribuição criminal pode ser atribuída, em parte, à fuga de
“Isso não é uma política de segurança pública. Isso são ações traficantes de áreas ocupadas por UPPs para consolidar o domínio
violentas que não levam a lugar nenhum. Temos visto uma média de e outros territórios. Mas Couto considera também que o descrédito
quatro mortes provocadas pela polícia por dia, e mais de 60 policiais das UPPs teve um importante papel. “As UPPs trouxeram a sensa-
já morreram no Rio só neste ano. Isso seria um escândalo em qual- ção de que o Rio ia finalmente dar conta do problema do tráfico. Os
quer parte do mundo. Aqui, faz parte da paisagem.” primeiros episódios de violência fizeram essa ideia desmantelar e
Para Ignacio Cano, pesquisador da Uerj, o Estado se ancorou mostraram que as UPPs não eram infalíveis.”
nos bons resultados iniciais das UPPs sem que as políticas fossem
“ampliadas, corrigidas, modificadas ou complementadas por novas Fortalecimento de facções criminosas
políticas”. Se na fase inicial as UPPs pareciam estar sufocando a atuação
“Os gestores se limitaram a uma expansão quase automática de criminosos em algumas favelas, as disputas de territórios vistas
das UPPs e do pagamento de bonificações a policias”, considera recentemente mostram que os danos causados não foram perma-
Cano. Ele diz que as UPPs viraram o “fetiche” da segurança pública nentes. A disputa de territórios tem sido constante no Rio, e facções
no Rio; convencionou-se atribuir a elas tudo de bom que acontecia, criminosas aproveitam a crise para agir de forma mais agressiva.
ou tomar todos os problemas como indicativos de seu fracasso. A “A criminalidade percebe que há um descontrole na segurança
situação, porém, envolve muitos outros fatores. pública, que não há rumo, orientação”, diz Julita Lemgruber.
“Você acha que a criminalidade não percebe que o Rio está à de-
Crise financeira no estado e na polícia riva, com um ex-governador preso, o mandato do atual correndo risco
O cenário de recessão e grave crise financeira no Estado do Rio (referência a acusações de corrupção contra o governador Luiz Fernando
tem castigado servidores públicos estaduais de vários setores - e Pezão), um Tribunal de Contas que está na cadeia? É uma situação de
não é diferente com a Polícia Militar. Turistas desavisados que che- falta de legitimidade do Estado, um Estado que está um pouco à deriva,
gavam ao aeroporto do Galeão para a Olimpíada no ano passado e a criminalidade percebe isso claramente”, argumenta Lemgruber.
foram recebidos por um grupo de policiais em protesto empunhan- Mais do que isso, a desigualdade social e a falta de oportuni-
do bandeiras dando as boas vindas ao “inferno” - “welcome to hell”, dade para jovens nas comunidades continua a contribuir para atrair
dizia em inglês, avisando que policiais e bombeiros não estavam re- meninos e adolescentes para o tráfico e munir as facções de recur-
cebendo seus salários, e quem chegasse ao Rio não estaria seguro. sos humanos.
De lá para cá, a situação se tornou mais crítica. Devido à crise, Sem outra porta de saída que ofereça outras oportunidades,
policiais ainda não receberam 13º salário nem as bonificações a que jovens pobres de comunidades idem são atraídos pelos benefícios
têm direito. Maria Isabel Couto, da Diretoria de Análise de Políticas “sedutores” do tráfico - que não se reduzem a bens materiais, diz o
Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV/DAPP), diz que a escas- antropólogo e especialista em segurança pública Luiz Eduardo Soa-
sez de recursos vem prejudicando a infraestrutura e as condições res. “Mais do que isso, estão em jogo acolhimento, reconhecimen-
de trabalho da polícia, aumentando a situação de vulnerabilidade. to, valorização e pertencimento”, afirma.

13
GEOGRAFIA
“É possível disputar menino a menino com a fonte de recrutamento criminosa. Disputar significa oferecer pelo menos os mesmos
benefícios, com sinal invertido, evidentemente”, considera Soares, dando o exemplo do campo de políticas culturais, que tem muitas ex-
periências bem sucedidas no Brasil e no mundo.
Maria Isabel Couto, da FGV/DAPP, diz que a falta de uma política nacional de segurança também ajuda a fortalecer as facções - que
substituíram a disputa de uma ou outra favela por disputas mais amplas e ambiciosas.
“A gestão do crime não respeita fronteiras”, diz Maria Isabel Couto. “As facções estão se comunicando, criando parcerias, buscando
expandir sua influência e suas rotas. Há uma clara disputa nacional e internacional por territórios.”
Em contraposição, ela diz ser urgente elaborar uma política nacional de segurança pública. “O governo federal precisa entender que
se trata de uma questão nacional e que é seu dever lidar com isso. Nenhum Estado tem condições de dar conta desse controle sozinho.”

‘Pacificação’ versus confronto


Com a “falência” da política de pacificação e o aumento da criminalidade, especialistas dizem que a doutrina policial que preconiza
o confronto armado está voltando a ganhar força. A política das UPPs foi baseada em estratégias de policiamento comunitária - embora,
considera Julita Lemgruber, elas não tenham sido bem sucedidas em consolidar esse vínculo com as comunidades.
Porém, o velho modelo das operações policiais em favelas para confrontar o tráfico não foi abandonado, e, com o acirramento da crise
e da violência, volta a se intensificar.
O aumento do número de pessoas mortas pela polícia reflete o aumento de confrontos. Nos últimos cinco anos (2012-2016), o nú-
mero de homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial aumentou 120%, chegando a 920. Em 2012, o patamar mais baixo na
última década, foram 419 mortes. Já em 2007, antes das UPPs, o número de mortos por policiais chegou a 1.330.
“As perdas de vida decorrentes desse conjunto de ações são definidas, cinicamente, como casualties, efeitos colaterais de medidas
‘necessárias’. Como dizia (o ex-secretário de Segurança Pública José Mariano) Beltrame, e outros antes dele: ‘Não se fazem omeletes sem
quebrar ovos’”, diz Luiz Eduardo Soares.
“Eu acrescento: desde que não sejam seus filhos. Os efeitos dessa orientação irresponsável, mesmo criminosa, são trágicos.

APRESENTAR NOÇÕES DE LOCALIZAÇÃO ESPACIAL DENTRO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO A PARTIR DA UTILIZAÇÃO
DE MAPAS

O estado do Rio de Janeiro é uma das 27 unidades federativas do Brasil, e a sua capital possui a mesma nomenclatura, a famosa “ci-
dade maravilhosa“.

Os nascidos no estado do Rio de Janeiro são denominados fluminenses, enquanto aqueles que advém da capital são os cariocas.

Situado na região sudeste, três estados fazem fronteira com a terra carioca: Espírito Santo, a norte; Minas Gerais, a noroeste; São
Paulo, a sudoeste; e toda a sua costa leste é banhada pelo Oceano Atlântico.

Conhecido pelo grande número de praias e pontos turísticos, está entre os primeiros estados colonizados pelos portugueses. Ela foi,
também, a capital do Brasil entre os anos de 1763 e 1960.

O estado recebeu o nome de Rio de Janeiro por conta da expedição exploratória feita pelos portugueses, em que aportaram na baía
de Guanabara no dia 1 de janeiro de 1502.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a estimativa é que se tenha 17.264.943 pessoas no estado, em uma
área de 43.780 km². Só na capital, são estimadas 6.718.903 pessoas.

A sua população é fruto da mestiçagem entre os indígenas, africanos e europeus.

Considerada a segunda maior economia do país, o seu território é um dos locais com a maior industrialização.

O Rio de Janeiro é categorizado como uma das duas cidades globais brasileiras, enquadrando a região da única megalópole da América
do Sul, em um espaço que abrange até São Paulo e a Baixada Santista.

14
GEOGRAFIA
Mapa político do estado do Rio de Janeiro
O estado do Rio de Janeiro possui 92 municípios e oito regiões do governo.

Mapa das regiões do Rio de Janeiro


As oito regiões de governo e municípios do Rio de Janeiro são:
1-Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ);
2-Região Noroeste;
3-Região Norte;
4-Região das Baixadas Litorâneas;
5-Região Serrana;
6-Região Centro-Sul;
7-Região do Médio Paraíba;
8-Região da Costa Verde.

15
GEOGRAFIA
Mapa rodoviário do Rio de Janeiro
O estado conta com cerca de 6 mil quilômetros de rodovia pavimentada e asfaltada. O mapa criado pelo Ministério dos Transportes
apresenta as principais rodovias e estradas do Rio de Janeiro. Veja:

Mapa antigo do Rio de Janeiro


O mapa antigo mostra como era o estado no ano de 1923. Segue:

Mapa do município do Rio de Janeiro – regiões e bairros


O município do Rio de Janeiro está subdividido em nove subprefeituras, agrupadas em quatro regiões ou “zonas” (zona oeste, zona
norte, centro e zona sul).

Essas possuem 33 regiões administrativas, cujas quais totalizam 160 bairros.

16
GEOGRAFIA

17
GEOGRAFIA
Mapa da cidade do Rio de Janeiro

EXERCÍCIOS

1-A cidade do Rio de Janeiro tem uma temperatura média anual em torno de 23ºC, apresentando uma relativa uniformidade térmica
ao longo do ano, enquanto a estação meteorológica localizada no município de Itatiaia registra médias anuais em torno de 8ºC. Assinale a
alternativa que apresenta a explicação correta para este fato.
A.A posição em latitude determina o volume de insolação que um determinado lugar recebe e as diferenças térmicas entre os lugares.
B.A proximidade dos corpos hídricos influencia a temperatura do ar devido às características térmicas das superfícies continentais.
C.A influência da altitude explica a diferença de temperatura entre lugares situados à pequena distância um do outro e na mesma
faixa de latitude.
D.A ação das correntes oceânicas influencia a temperatura do ar porque transportam “calor” ou “frio” de um lugar para outro.
E.A proximidade das massas florestais determina as variações sazonais da temperatura entre os lugares devido ao volume de insolação
recebido.

2-Com relação ao litoral fluminense, analise as afirmativas a seguir.


I. Na Costa Verde, o litoral é bruscamente interrompido pelos pontões graníticos os chamados “costões” e, entre eles, praias em forma
de arco.
II. Nas Baixadas Litorâneas, a intensa sedimentação deu origem a costas baixas, com extensas planícies dentro das quais encontram-se
lagoas.
III. Na Região Metropolitana, os aterros decorrentes do crescimento urbano e o lançamento de esgotos e lixo urbano nos rios destruí-
ram os manguezais que atuavam como “berçários” na renovação da vida marinha.

Assinale:
A.se apenas a afirmativa II estiver correta.
B.se apenas as afirmativas I e II estiverem corretas.
C.se apenas as afirmativas I e III estiverem corretas.
D.se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas.
E.se todas as afirmativas estiverem corretas.

18
GEOGRAFIA
3-O arco rodoviário metropolitano ligará o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ) ao porto de Itaguaí, como mostra o
mapa a seguir.

Sobre a construção do arco rodoviário, analise as afirmativas a seguir.


I. A construção do arco deve reorientar a localização espacial das atividades industriais da Região Metropolitana.
II. A construção do arco deve facilitar o escoamento da produção da orla oriental da baía de Guanabara.
III. A construção do arco deve agilizar a conexão dos principais eixos viários que acessam a Região Metropolitana.

Assinale:
A.se apenas a afirmativa II estiver correta.
B.se apenas as afirmativas I e II estiverem corretas.
C.se apenas as afirmativas I e III estiverem corretas.
D.se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas.
E.se todas as afirmativas estiverem corretas.

4-O mapa a seguir, indica a localização correta de algumas fontes geradoras de energia elétrica no Estado do Rio de Janeiro, à exceção
de uma. Assinale-a.

A.1 As usinas termonucleares localizadas no município de Angra dos Reis.


B.2 A usina hidrelétrica do Funil localizada no município de Resende.
C.3 A usina termelétrica Mario Lago localizada no município de Macaé.
D.4 O complexo hidrelétrico de Lajes localizado no município de Piraí.
E.5 A usina hidrelétrica de Simplício, no município de Três Rios.

5-Com relação à Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ), assinale a afirmativa incorreta.
A.A taxa de crescimento demográfico dos municípios que compõem a RMRJ é superior à do município do Rio de Janeiro.
B.A deficiência do sistema de transporte de massas e o crescimento urbano desordenado amplificaram os problemas de inter-articu-
lação da RMRJ.
C.A diferença entre os padrões urbanos do Rio de Janeiro e Niterói e dos demais municípios da RMRJ é muito acentuada.
D.A RMRJ tem uma taxa de crescimento demográfico de 3.0% ao ano e contém em torno de 50% da população fluminense.
E.A RMRJ é polinucleada com complexas relações entre seus núcleos e respectivas periferias.

19
GEOGRAFIA
6-A cidade do Rio de Janeiro :
A. é um modelo de desenvolvimento social a ser imitado
ANOTAÇÕES
B. é um foco de problemas insuperáveis, como a violência ur-
bana ______________________________________________________
C. manteve o mesmo ritmo de crescimento desde o período
colonial ______________________________________________________
D. constitui um exemplo de ocupação racional de uma área dis-
ponível ______________________________________________________
E. é um laboratório onde experiências inestimáveis têm sido
registradas ______________________________________________________

______________________________________________________
7-A regionalização do Estado do Rio de Janeiro vem sendo for-
talecida pela política de pólos econômicos centrados em atividades ______________________________________________________
diferenciadas. Considere a afirmativa acima e assinale a alternativa
que melhor representa os pólos da Região dos Lagos e da Região do ______________________________________________________
Vale Médio do Paraíba, respectivamente:
A.Pólo gás-químico e frutícola. ______________________________________________________
B.Pólo turístico e gás-químico.
C.Pólo metal-automobilístico e turístico. ______________________________________________________
D.Pólo frutícola e metal-automobilístico.
______________________________________________________
E.Pólo turístico e metal-automobilístico.
______________________________________________________

______________________________________________________
GABARITO
______________________________________________________
1 C ______________________________________________________
2 E
______________________________________________________
3 E
4 C ______________________________________________________
5 D ______________________________________________________
6 E
______________________________________________________
7 E
______________________________________________________

______________________________________________________
ANOTAÇÕES ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ _____________________________________________________

______________________________________________________ _____________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________

20
HISTÓRIA
1. A expansão Ultramarina Portuguesa dos séculos XV e XVI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. O sistema colonial português na América - Estrutura político-administrativa, estrutura sócio-econômica, a escravidão (as formas de
dominação econômico-sociais); as formas de atuação do Estado Português na Colônia; a ação da Igreja, as invasões estrangeiras,
expansão territorial, interiorização e formação das fronteiras, as reformas pombalinas, rebeliões coloniais. Movimentos e tentativas
emancipacionistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
3. O período joanino e o processo de independência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
4. A presença britânica no Brasil, a transferência da Corte, os tratados, as principais medidas de D. João VI no Brasil, política joanina, os
partidos políticos, revoltas, conspirações e revoluções, emancipação e conflitos sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
5. O processo de independência do Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
6. Brasil Imperial - O Primeiro Reinado, o Período Regencial e o Segundo Reinado: aspectos, políticos, administrativos, militares, cultu-
rais, econômicos, sociais, territoriais, a política externa, a questão abolicionista, o processo de modernização, a crise da monarquia e
a proclamação da república . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
HISTÓRIA

A EXPANSÃO ULTRAMARINA PORTUGUESA DOS SÉCULOS XV E XVI

A expansão marítima europeia foi o período compreendido entre os séculos XV e XVIII quando alguns povos europeus partiram para
explorar o oceano que os rodeava.
Estas viagens deram início ao processo da Revolução Comercial, ao encontro de culturas diferentes e da exploração do novo mundo,
possibilitando a interligação dos continentes.

Expansão Ultramarina
As primeiras grandes navegações permitiram a superação das barreiras comerciais da Idade Média, o desenvolvimento da economia
mercantil e o fortalecimento da burguesia.
A necessidade do europeu lançar-se ao mar resultou de uma série de fatores sociais, políticos, econômicos e tecnológicos.
A Europa saía da crise do século XIV e as monarquias nacionais eram levadas a novos desafios que resultariam na expansão para ou-
tros territórios.
Veja no mapa abaixo as rotas empreendias em direção ao Ocidente pelos navegadores e o ano das viagens:

Rota das viagens

A Europa atravessava um momento de crise, pois comprava mais que vendia. No continente europeu, a oferta era de madeira, pedras,
cobre, ferro, estanho, chumbo, lã, linho, frutas, trigo, peixe, carne.
Os países do Oriente, por sua vez, dispunham de açúcar, ouro, cânfora, sândalo, porcelanas, pedras preciosas, cravo, canela, pimenta,
noz-moscada, gengibre, unguentos, óleos aromáticos, drogas medicinais e perfumes.
Cabia aos árabes o transporte dos produtos até a Europa em caravanas realizadas por rotas terrestres. O destino eram as cidades ita-
lianas de Gênova e Veneza que serviam como intermediárias para a venda das mercadorias ao restante do continente.
Outra rota disponível era pelo Mar Mediterrâneo monopolizada por Veneza. Por isso, era necessário encontrar um caminho alternati-
vo, mais rápido, seguro e, principalmente, econômico.
Paralela à necessidade de uma nova passagem, era preciso solucionar a crise dos metais na Europa, onde as minas já davam sinais de
esgotamento.
Uma reorganização social e política também impulsionava à busca de mais rotas. Eram as alianças entre reis e burguesia que formaram
as monarquias nacionais.
O capital burguês financiaria a infraestrutura cara e necessária para o feito ao mar. Afinal, era preciso navios, armas, navegadores e
mantimentos.
Os burgueses pagavam e recebiam em troca a participação nos lucros das viagens. Este foi um modo de fortalecer os Estados nacionais
e submeter à sociedade a um governo centralizado.
No campo da tecnologia foi necessário o aperfeiçoamento da cartografia, da astronomia e da engenharia náutica.

1
HISTÓRIA
Os portugueses tomaram a dianteira deste processo através da Na tentativa de chegar à Índia, os navegadores portugueses
chamada da Escola de Sagres. Ainda que não fosse uma instituição foram contornando a África e se estabelecendo na costa deste con-
do modo que conhecemos hoje, serviu para reunir navegadores e tinente. Criaram feitorias, fortes, portos e pontos para negociação
estudiosos so patrocínio do Infante Dom Henrique (1394-1460). com os nativos.
A essas incursões deu-se o nome de périplo africano e tinham o
Portugal objetivo de obter lucro através do comércio. Não havia o interesse
A expansão marítima portuguesa começou através das con- em colonizar ou organizar a produção de algum produto nos locais
quistas na costa da África e se expandiram para os arquipélagos pró- explorados.
ximos. Experientes pescadores, eles utilizaram pequenos barcos, o Em 1431, os navegadores portugueses chegavam às ilhas dos
barinel, para explorar o entorno. Açores, e mais tarde, ocupariam a Madeira e Cabo Verde. O Cabo do
Mais tarde, desenvolveriam e construiriam as caravelas e naus Bojador foi atingido em 1434, numa expedição comandada por Gil
a fim de poderem ir mais longe com mais segurança. Eanes. O comércio de escravos africanos já era uma realidade em
A precisão náutica foi favorecida pela bússola e o astrolábio, 1460, com retirada de pessoas do Senegal até Serra Leoa.
vindos da China. A bússola já era utilizada pelos muçulmanos no Foi em 1488 que os portugueses chegaram ao Cabo da Boa Es-
século XII e tem como finalidade apontar para o norte (ou para o perança sob o comando de Bartolomeu Dias (1450-1500). Esse feito
sul). Por sua vez, o astrolábio é utilizado para calcular as distâncias constitui entre as importantes marcas das conquistas marítimas de
tomando como medida a posição dos corpos celestes. Portugal, pois desta maneira se encontrou uma rota para o Oceano
No mapa a seguir é possível ver as rotas empreendidas pelos Índico em alternativa ao Mar Mediterrâneo.
portugueses: Entre 1498, o navegador Vasco da Gama (1469-1524) conse-
guiu chegar a Calicute, nas Índias, e aí estabelecer negociações com
os chefes locais.
Dentro deste contexto, a esquadra de Pedro Álvares Cabral
(1467-1520), se afasta da costa da África a fim de confirmar se havia
terras por ali. Desta maneira, chega nas terras onde seria o Brasil,
em 1500.

Espanha
A Espanha unificou grande parte do seu território com a queda
de Granada, em 1492, com a derrota do último reino árabe. A pri-
meira incursão espanhola ao mar resultou na descoberta da Améri-
ca, pelo navegador italiano Cristóvão Colombo (1452-1516).
Apoiado pelos reis Fernando de Aragão e Isabel de Castela,
Colombo partiu em agosto de 1492 com as caravelas Nina e Pinta
e com a nau Santa Maria rumo a oeste, chegando à América em
outubro do mesmo ano.
Dois anos depois, o Papa Alexandre VI aprovou o Tratado de
Tordesilhas, que dividia as terras descobertas e por descobrir entre
espanhóis e portugueses.

França
Através de uma crítica ao Tratado de Tordesilhas feita pelo rei
Francisco I, os franceses se lançaram em busca de territórios ultra-
marinos. A França saía da Guerra dos Cem Anos (1337-1453), das
lutas do rei Luís XI (1461-1483) contra os senhores feudais.
As navegações portuguesas na África foram denominadas A partir de 1520, os franceses passaram a fazer expedições,
Périplo Africano chegando ao Rio de Janeiro e Maranhão, de onde foram expulsos.
Na América do Norte, chegaram à região hoje ocupada pelo Canadá
Com tecnologia desenvolvida e a necessidade econômica de e o estado da Louisiana, nos Estados Unidos.
explorar o Oceano, os portugueses ainda somaram a vontade de No Caribe, se estabeleceram no Haiti e na América do Sul, na
levar a fé católica para outros povos. Guiana.
As condições políticas eram bastante favoráveis. Portugal foi a
primeira nação a criar um Estado-nacional associado aos interesses Inglaterra
mercantis através da Revolução de Avis. Os ingleses, que também estavam envolvidos na Guerra dos
Em paz, enquanto outras nações guerreavam, houve uma coor- Cem Anos, Guerra das Duas Rosas (1455-1485) e conflitos com se-
denação central para as estimular e organizar as incursões maríti- nhores feudais, também queriam buscar uma nova rota para as Ín-
mas. Estas seriam essenciais para suprir a falta de mão de obra, de dias passando pela América do Norte.
produtos agrícolas e metais preciosos. Assim, ocuparam o que hoje seria os Estados Unidos e o Cana-
O primeiro sucesso português nos mares foi a Conquista de Ceuta, em 1415. dá. Igualmente, ocuparam ilhas no Caribe como a Jamaica e Baha-
Sob o pretexto de conquista religiosa contra os muçulmanos, os portugueses do- mas. Na América do Sul, se estabeleceram na atual Guiana.
minaram o porto que era o destino de várias expedições comerciais árabes. Os métodos empregados pelo país eram bastante agressivos
Assim, Portugal estabeleceu-se na África, mas não foi possível e incluía o estímulo à pirataria contra a Espanha, com a anuência
interceptar as caravanas carregadas de escravos, ouro, pimenta, rainha Elizabeth I (1558-1603).
marfim, que paravam em Ceuta. Os árabes procuraram outras rotas Os ingleses dominaram o tráfico de escravos para a América
e os portugueses foram obrigados a procurar novos caminhos para Espanhola e também ocuparam várias ilhas no Pacífico, colonizando
obter as mercadorias que tanto aspiravam. as atuais Austrália e Nova Zelândia.

2
HISTÓRIA
Holanda As estruturas de poder no início da colonização
A Holanda se lançou na conquista por novos territórios a fim de Com o planejamento das estruturas político-administrativas
melhorar o próspero comércio que dominavam. Conseguiram ocu- da colônia, a Coroa portuguesa buscava viabilizar o processo de
par vários territórios na América estabelecendo-se no atual Surina- ocupação do território e criar condições para o desenvolvimento
me e em ilhas no Caribe, como Curaçao. de atividades econômicas rentáveis, de acordo com o modelo de
Na América do Norte, chegaram a fundar a cidade de Nova mercantilismo europeu. Para tanto, resolveu adotar na colônia os
Amsterdã, mas foram expulsos pelos ingleses que a rebatizaram de padrões administrativos da metrópole, aliados à experiência portu-
Nova Iorque. guesa nas ilhas do Atlântico.
Igualmente, tentaram arrebatar o nordeste do Brasil durante a Em 1532, o rei dom João III decidiu aplicar na colônia da Amé-
União Ibérica, mas foram repelidos pelos espanhóis e portugueses. rica uma divisão administrativa que havia dado bons resultados nos
No Pacífico, ocuparam o arquipélago da Indonésia e ali permanece- Açores e na ilha da Madeira: o sistema de capitanias hereditárias.
riam por três séculos e meio. Quase duas décadas depois, criou-se um poder central, o go-
verno-geral, e, no âmbito local, foram instituídas as câmaras muni-
cipais, semelhantes às já existentes em Portugal.
O SISTEMA COLONIAL PORTUGUÊS NA AMÉRICA - ES-
TRUTURA POLÍTICO-ADMINISTRATIVA, ESTRUTURA As capitanias hereditárias
SÓCIOECONÔMICA, A ESCRAVIDÃO (AS FORMAS DE
DOMINAÇÃO ECONÔMICO-SOCIAIS); AS FORMAS
DE ATUAÇÃO DO ESTADO PORTUGUÊS NA COLÔNIA;
A AÇÃO DA IGREJA, AS INVASÕES ESTRANGEIRAS,
EXPANSÃO TERRITORIAL, INTERIORIZAÇÃO E FORMA-
ÇÃO DAS FRONTEIRAS, AS REFORMAS POMBALINAS,
REBELIÕES COLONIAIS. MOVIMENTOS E TENTATIVAS
EMANCIPACIONISTAS

Em dezembro de 1530, partiu de Lisboa uma esquadra que mu-


daria a história das terras conquistadas pelos portugueses na Amé-
rica. Seu comandante era Martim Afonso de Sousa, que, à frente de
quatrocentos homens, deu início à ocupação efetiva do território
brasileiro.

A ocupação: primeiras providências


Uma das razões pelas quais o governo de Portugal decidiu co-
lonizar as novas terras, a partir de 1530, foi o fato de que na Eu-
ropa e no Oriente a situação não era mais tão favorável para os
portugueses. Os holandeses também haviam entrado no comércio
de especiarias das Índias, concorrência que provocava a queda nos
preços dos produtos.
Assim, para os portugueses, já não compensava investir em
viagens longas e custosas para buscá-los nas Índias e vendê-los a
preços pouco atraentes na Europa. Além disso, os franceses faziam
constantes incursões ao litoral das novas terras para extrair pau-
-brasil. Entretanto, uma razão mais forte atraía as atenções da Co-
roa portuguesa para o Novo Mundo: a notícia de que na América
Espanhola havia grandes jazidas de ouro e prata.

Martim Afonso de Sousa na colônia


Martim Afonso de Sousa recebeu do governo português ordens
para combater os navios franceses, explorar o rio da Prata (segundo
alguns, via de acesso a um reino cheio de riquezas) e criar núcleos
de povoamento nas novas terras. Para isso, dispunha de poderes
tais como o de distribuir sesmarias (grandes propriedades rurais), As capitanias hereditárias eram enormes faixas de terra que se
de nomear tabeliães e de estabelecer um sistema administrativo no limitavam a leste com o oceano Atlântico e a oeste com a linha de
novo território. Tordesilhas. Essas terras foram doadas pelo rei a militares, burocra-
Martim Afonso percorreu o litoral de São Paulo, onde fundou a tas e comerciantes portugueses, que receberam o título de “capi-
vila de São Vicente, em janeiro de 1532, e nessa região implantou tães donatários”.
a primeira unidade produtora até chegar à região do rio da Prata, Para formalizar seus direitos e deveres, o governo português
navegando rumo ao norte. Aportou no litoral do atual estado de lançou mão de dois documentos: a Carta de Doação e o Foral.
ora de açúcar da colônia, o Engenho do Senhor Governador ou São De acordo com a Carta de Doação, o capitão donatário detinha
Jorge dos Erasmos (1534). Não muito longe de São Vicente foram a posse da capitania, mas não a sua propriedade.
fundadas, naquele mesmo período, duas outras vilas: Santo André Dessa forma, não podia nem vendê-la nem dividi-la. Já o Fo-
da Borda do Campo, por João Ramalho, e Santos, por Brás Cubas. ral dava-lhe amplos poderes: ele podia, entre outras coisas, fun-
dar vilas, conceder terras (as sesmarias) e arrecadar impostos. Ele

3
HISTÓRIA
também podia receber tributos sobre a produção das salinas, as Tomé de Sousa (1549-1553): durante seu governo foi fundada a
moendas de água e os engenhos, além de monopolizar a navegação cidade de São Salvador, que se tomou sede do governo-geral e capi-
fluvial. tal da colônia. A Bahia passou a ser a Capitania Real do Brasil. Foram
Cabia-lhe, ainda, a aplicação das leis em suas possessões, bem estabelecidos o primeiro bispado e o primeiro colégio da colônia.
como a defesa militar da capitania. Na imagem ao lado, a representação de Tomé de Sousa desembar-
cando na Terra de Santa Cruz, de autor anônimo.
Com as capitanias hereditárias foi criado um sistema políti- • Duarte da Costa (1553-1558): enfrentou grande instabilida-
co-administrativo descentralizado, ou seja, não havia um governo de política, causada, entre outros fatores, pela invasão francesa do
central. Todos os donatários reportavam-se diretamente ao rei. Os Rio de Janeiro (1555); entrou em atrito com o bispo do Brasil, Pero
donatários eram os responsáveis pelos custos do processo de im- Fernandes Sardinha, que criticava o comportamento e a violência
plantação e do funcionamento das capitanias. Dessa forma, a Coroa de seu filho, dom Álvaro da Costa. Um dos marcos de seu governo
portuguesa transferia para particulares o ônus da colonização. Para foi a fundação do Colégio de São Paulo, em 25 de janeiro de 1554.
si, o rei reservou o monopólio das drogas-do-sertão, que eram as O colégio, fundado pelos jesuítas Manuel da Nóbrega e José de An-
especiarias da floresta Amazônica (castanha-do-pará, cravo, guara- chieta, deu origem à cidade de São Paulo.
ná, canela etc.), e uma parte dos impostos arrecadados. • Mem de Sá (1558-1572): fundou a cidade de São Sebastião
O governo-geral do Rio de Janeiro em 1565; juntamente com seu sobrinho, Estácio
As capitanias não desapareceram imediatamente. Pouco a de Sá, expulsou os franceses do Rio de Janeiro. É considerado o me-
pouco, foram retomando ao domínio da Coroa portuguesa, por con- lhor governador-geral do século XVI.
fisco ou por meio do pagamento de indenizações aos donatários.
Com isso, perderam seu caráter privado, passando à esfera pública. O poder local: as câmaras municipais
Entretanto, mantiveram a função de unidade administrativa até o A partir de cerca de 1550, a administração das cidades e vilas
início do século XIX, quando transformaram-se em províncias. ficou nas mãos das câmaras municipais. Esses órgãos administrati-
A transferência das capitanias para o domínio da Coroa só foi vos eram formados por três ou quatro vereadores, dois juízes ordi-
concluída no período entre 1752 e 1754, sob as ordens do marquês nários, um procurador, um escrivão e um tesoureiro, eleitos pelos
de Pombal, espécie de primeiro-ministro de dom José I. Contudo, chamados “homens bons”. Além disso, contavam com alguns fun-
em 1548 o fracasso desse sistema já havia levado o governo de Por- cionários nomeados, conhecidos como “oficiais da Câmara”. Cabia
tugal a criar um órgão central para administrar a colônia: o gover- aos membros da Câmara elaborar as leis e fiscalizar o seu cumpri-
no-geral. mento, assim como nomear juízes, arrecadar impostos e cuidar do
No ano seguinte, chegou à Bahia Tomé de Sousa, o primeiro patrimônio público (estradas, ruas, pontes etc.), do abastecimento
governador-geral. Ele veio acompanhado de aproximadamente mil e da regulamentação das profissões e do comércio.
pessoas, entre elas um grupo de padres jesuítas chefiado por Ma- As câmaras municipais representavam os interesses dos pro-
nuel da Nóbrega, além de funcionários da administração, militares, prietários locais. Esse poder, delegado pelos senhores de engenho
artesãos e degredados. aos vereadores (membros eleitos da Câmara), às vezes entrava em
O governo-geral tornou-se o centro político da administração conflito com o poder central, representado pelo governador-geral.
Exemplo disso foi a Câmara de Olinda, na capitania de Pernambuco,
portuguesa na América. Sua legitimidade foi estabelecida pelo Re-
que em 1710 chegou a comandar uma luta armada contra as tropas
gimento de Tomé de Sousa, de 1548, que determinava as funções
do governo porque se opunha à elevação do Recife à condição de
administrativas, judiciais, militares e tributárias do governador-ge-
vila.
ral. Para assessorá-lo, havia três altos funcionários: o ouvidor-mor,
A partir de 1642, com a criação do Conselho Ultramarino, que
responsável pela justiça; o provedor-mor, encarregado da tributa-
detinha forte controle político-administrativo sobre a colônia, as câ-
ção; e o capitão-mor, responsável pela defesa.
maras municipais foram pouco a pouco perdendo seu poder.
O cargo de governador-geral subsistiu até o século XVIII, quan-
do foi substituído pelo de vice-rei. Os três primeiros governadores- Mudanças na organização administrativa colonial
-gerais foram: A organização administrativa da colônia passou por várias mu-
danças entre os séculos XVI e XVIII. Em 1548 foi dado o nome de
Estado do Brasil pelo governo português. Os limites territoriais do
Brasil atual não eram, nem de perto, os do período colonial. Duran-
te anos, a Coroa ficou apenas na exploração das faixas litorâneas e
aos poucos foi ampliando as terra para o oeste. Em 1572 foram es-
tabelecidos dois governos-gerais: um ao norte, com capital em Sal-
vador, e outro ao sul, com sede no Rio de Janeiro. Seis anos depois,
os governos foram reunificados, com a capital tendo permanecido
em Salvador.
Em 1621, uma nova divisão administrativa criou o Estado do
Brasil, com sede em Salvador (e a partir de 1763 no Rio de Janei-
ro), e o Estado do Maranhão, com capital em São Luís (mais tarde,
Estado do Maranhão e Grão-Pará, com sede em Belém). Em 1641,
houve uma reorganização administrativa e a capital foi transferida
para Salvador. Em 1774, a colônia voltou a ser reunificada adminis-
trativamente.

O papel da Igreja na administração colonial


A Igreja católica foi a grande parceira da Coroa portuguesa na
tarefa de administrar a colônia. Para a instituição, os principais ob-
jetivos da conquista e da colonização das novas terras eram difun-

4
HISTÓRIA
dir a fé cristã em sua versão católica apostólica romana, bem como O sistema instalado foi o de plantation, cujas características
promover a catequese dos índios e administrar a vida espiritual dos eram:
colonos segundo os preceitos estabelecidos pela Santa Sé. Além de Grandes propriedades (latifúndios) monoculturas (dedicadas a
cristianizar os indígenas, buscava evitar o desregramento dos cos- apenas um produto) - os engenhos.
tumes entre os colonos, combater sua tendência à poligamia com Mão-de-obra escrava (primeiramente indígena; depois africa-
as índias e educar os filhos desses colonos dentro dos preceitos re- na)
ligiosos da Igreja católica. Produção voltada para o mercado externo.
Para isso, os primeiros religiosos a chegar trataram de construir Regiões: litoral do Nordeste, Bahia e Pernambuco.
igrejas, capelas e escolas, criar paróquias e dioceses. Aos poucos
ia surgindo uma estrutura material e administrativa de enorme in- Os latifúndios monocultores e a escravidão permitiam uma
teresse para o governo português e para a Santa Sé, que estavam produção vasta a baixos custos - o que levava a altos lucros. O desti-
preocupados em manter um rígido controle sobre as atividades e a no era unicamente a exportação, uma vez que Portugal não tinha o
vida religiosa da colônia. menor interesse em desenvolver a economia interna brasileira. Os
lucros que permaneciam no Brasil eram poucos e ficavam nas mãos
Estrutura Socioeconômica no Brasil Colonial dos senhores de engenho - os donos dos latifúndio-, resultando em
A economia do Brasil colônia foi sempre voltada para o bene- grande concentração de renda.
fício de Portugal. Inserida no contexto do mercantilismo europeu, Segundo Jorge Caldeira no livro A nação mercantilista, o ne-
foi caracterizada pelo pacto colonial, segundo o qual os brasileiros gócio do açúcar se transformou em um mercado global: o finan-
só podiam comercializar produtos com os portugueses, de modo ciamento vinha da Holanda; a produção se fazia no nordeste da
que esses últimos compravam barato, vendiam caro e ainda tinham colônia; o refino, também na Holanda; os consumidores eram da
exclusividade na exportação das mercadorias do Brasil a outras Europa; a mão-de-obra vinha da África; parte dos insumos, na Euro-
nações. A grande maioria dos lucros ia para a metrópole, espe- pa: outra parte, em vários pontos da América do Sul.
cialmente para os cofres da Coroa portuguesa, que cobrava altos Até meados do século XVII, a colônia portuguesa liderou a
impostos sobre a exploração dos produtos coloniais. As principais produção açucareira mundial. A partir de então, problemas inter-
atividades econômicas realizadas no período em nosso território nos - como secas e a destruição de engenhos nordestinos durante
foram a extração do pau-brasil, a produção de açúcar, a mineração aInsurreição Pernambucana -e, mais tarde, externos - como a forte
e a pecuária. concorrência dos produtores holandeses da região das Antilhas -
A primeira riqueza percebida por Portugal foi o pau-brasil( ibi- provocaram a lenta decadência da economia do açúcar na colônia
rapitanga, em tupi), madeira então abundante em nosso litoral, portuguesa da América.
usada como matéria-prima para a fabricação de tinturas. A produção de açúcar foi a principal atividade econômica do
O pau-brasil, árvore que crescia por quase todo o litoral, media Brasil colonial durante os séculos XVI e XVII, sendo ultrapassada no
cerca de 20 a 30 metros, de seu tronco vermelho os índios extraiam século XVIII pela mineração.
tinta para colorir as penas branca com que se enfeitavam.
Existente também na Ásia, o pau-brasil já era conhecido na Ida- As formas de atuação do Estado Português na Colônia
de Média pelos europeus, que utilizavam seu corante para tingir Com a criação do Governo-Geral em 1548, pelo chamado Re-
tecidos. Entretanto, com a conquista de Constantinopla pelos oto- gimento -documento que reafirmava a autoridade e soberania da
manos, em 1453, e o bloqueio do comércio pelo Mediterrâno, o Coroa sobre a colônia, e definia os encargos e direitos dos governa-
preço da madeira subiu muito. Por isso a descoberta de pau-brasil dores-gerais -o Estado português assumia a tarefa de colonização,
na América foi uma boa para Portugal. Sua exploração se tornaria a sem extinguir o sistema de capitanias hereditárias.
principal atividade econômica dos portugueses na região de 1500 a O Governador-Geral era nomeado pelo rei por um período de
1530,conhecido como perído Pré-colonial. quatro anos e contava com três auxiliares: o provedor-mor, encar-
regado das finanças e responsável pela arrecadação de tributos; o
A Economia Açucareira: trabalho escravo 1550-1650 capitão-mor, responsável pela defesa e vigilância do litoral e o ouvi-
Os primerios povoadores vieram ao Brasil atraídos peloa possi- dor-mor, encarregado de aplicar a justiça.
bilidade de encontrar metais e pedras preciosas e, assim, enrique- A seguir, os governadores-gerais e suas principais realizações:
cer rapidamente. Não tiveram sorte. Mas havia uma alternativa: a Tomé de Souza (1549/1553)
cana-de-açúcar. -fundação de Salvador, em 1549, primeira cidade e capital do
Desconhecido na Europa até o começo do século XII, o açúcar Brasil;
chegou ao continente ainda durante a Idade Média por intermédio -criação do primeiro bispado do Brasil (1551);
de mercadores árabes e cruzados. Além de ser utilizado como ado- -vinda dos primeiros jesuítas, chefiados por Manuel da Nóbre-
çante, era empregado para conservar alimentos - no caso das frutas ga, e início da catequese dos índios; -ampliação da distribuição de
cristalizadas- e no fabrico de remédios. sesmarias;
Produzido em pequena escala, era considerado especiaria de -política de incentivos aos engenhos de açúcar;
luxo: apenas nobres e reis tinham condições de comprá-lo. Seu va- -introdução das primeiras cabeças de gado;
lor era tão alto, que pessoas indicavam em testamento quem deve- -proibição da escravidão indígena e início da adoção da mão-
ria herdar, após sua morte, o açúcar que lhes pertencera em vida. -de-obra escrava africana.
Portanto, a Europa era um promissor mercado consumidor, o que Duarte da Costa (1553/1558)
significava aos portugueses, grandes lucros. Além disso, Portugal já -conflitos entre colonos e jesuítas envolvendo a escravidão in-
possuía experiência na produção de cana nos Açores e na Ilha da dígena;
Madeira. Entretanto, faltava aos portugueses capital inicial e uma -invasão francesa no Rio de Janeiro, em 1555 pelo huguenotes
eficiente infra-estrutura de distribuição. Essa questão foi resolvida (protestantes), e fundação da França Antártica;
com uma parceria com os holandeses, que já fretavam o açúcar pro- -fundação do Colégio de São Paulo, no planalto de Piratininga
duzido por Portugal nas ilhas do Atlântico. pelos jesuítas José de Anchieta e Manuel de Paiva;

5
HISTÓRIA
-conflito do governador com o bispo Pero Fernandes Sardinha, através de corsários (piratas), algumas cidades do litoral brasileiro,
em virtude da vida desregrada de D. Álvaro da Costa, filho do go- no século XVIII. A principal delas foi a cidade do Rio de Janeiro, de
vernador; onde escoava todo ouro extraído da colônia rumo a Portugal. Uma
Mem de Sá (1558/1572) primeira tentativa de saque, em 1710, foi barrada pelos portugue-
-aceleração da política de catequese, como forma de efetivar o ses; entretanto, no ano de 1711, piratas franceses tomaram a cida-
domínio sobre os indígenas; de do Rio de Janeiro e receberam dos portugueses um alto resgate
-início dos aldeamentos indígenas de jesuítas, as chamadas para libertá-la: 600 mil cruzados, 100 caixas de açúcar e 200 bois.
missões; Terminavam, então, as tentativas de invasões francesas no Brasil.
-restabelecimento das boas relações com o bispado;
-expulsão dos franceses e fundação da Segunda cidade do Bra- Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/invasoes-francesas-
sil, São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1565. -no-brasil-colonial.htm

Com a morte de Mem de Sá, a Metrópole dividiu a administra- Expansão Territorial Brasileira
ção da colônia entre dois governos: D. Luís de Brito, que se instalou A expansão territorial brasileira está associada à diversidade
em Salvador, a capital do Norte,e; ao sul, D. Antônio Salema, insta- de atividades que foram se desenvolvendo no Brasil Colônia à me-
lado no Rio de Janeiro. dida em que foi ocorrendo a expansão demográfica e também em
decorrência da crise do ciclo da cana-de-açúcar no Nordeste.
Fonte: https://www.mundovestibular.com.br/articles/4433/1/BRASIL- Após a União Ibérica (1580-1640), houve a anulação do Tratado
-COLONIA/Paacutegina1.html de Tordesilhas, que possibilitou que as terras mais afastadas do li-
toral brasileiro pudessem ser ocupadas pelos colonos, e ainda mais
A ação da Igreja, as invasões estrangeiras porque eram áreas que não interessavam na colonização espanho-
A França foi o primeiro reino europeu que contestou o Tratado la. Então, ocupado de maneira desigual e por diferentes motivos,
de Tordesilhas (1494), que dividiu as terras descobertas na América podemos resumir a expansão territorial brasileira assim:
entre Portugal e Espanha. O litoral brasileiro era constantemente • Região Nordeste: o litoral foi o primeiro local da ocupa-
frequentado pelos franceses desde o período da extração do pau- ção portuguesa, devido ao interesse econômico da cana-de-açú-
-brasil. Os franceses, nessa época, mantinham permanentes conta- car e também por motivo da defesa militar do território. Podemos
tos com os povos indígenas e dessa relação articulavam acordos e observar que a maioria das capitais nordestinas, com exceção de
alianças com esses povos. Teresina-PI, são cidades litorâneas. Já o interior do Nordeste foi
No século XVI, mais especificamente no ano de 1555, os fran- povoado pela expansão da pecuária, tendo como principal eixo o
ceses fundaram a chamada França Antártica, na baía de Guana- Rio São Francisco, e outros povoamentos que eram cortados pelos
bara (atual Rio de Janeiro). Lá construíram uma sociedade com rios, como o Rio Jaguaribe, no Ceará. A pecuária torna-se o principal
influências protestantes, uma vez que, no século XVI, milhares de meio econômico do Nordeste, que traz até hoje a figura do vaqueiro
protestantes europeus vieram em fuga da Europa para a América como representante de sua cultura.
em consequência da perseguição católica durante a Contrarreforma • Região Sudeste e Centro-Oeste: essas regiões foram po-
religiosa (conjunto de medidas tomadas pela Igreja Católica com o voadas pela atuação dos bandeirantes, em busca de ouro e no apre-
surgimento das religiões protestantes).
samento dos índios. Na verdade, a figura do bandeirante é decisiva
Sob a influência francesa, algumas partes do litoral brasileiro
para a expansão territorial brasileira, já que foi através das bandei-
ganharam diversas feitorias e fortes (militares). O principal povo
ras que o interior do Brasil foi sendo penetrado, na corrida do ouro,
indígena que perpetuou a aliança com os franceses foi o Tamoio.
no início do século XVIII. As cidades mineiras onde se concentraram
Deste acordo surgiu a Confederação dos Tamoios (aliança entre di-
a extração mineradora, também foi onde mais se concentrou a po-
versos povos indígenas do litoral: tupinambás, tupiniquins, goita-
pulação, contribuíndo para o desenvolvimento das cidades, cons-
cás, entre outros), que possuíam um objetivo em comum: derrotar
trução de estradas, surgimento de vilas e a urbanização do Sudeste
os colonizadores portugueses.
Durante cinco anos, aproximadamente, ocorreram diversos brasileiro.
conflitos entre os portugueses e a Confederação. No ano de 1567, • Região Norte: teve como processo de povoamento tam-
os portugueses derrotaram a Confederação, extinguindo-a e expul- bém a atuação dos bandeirantes que foram em busca das drogas
sando os franceses do território colonial do sertão (as epeciarias da floresta Amazônica brasileira) para co-
Ao contrário do que muitos pensaram, os franceses não desis- mercialização.
tiram tão facilmente do Brasil. Eles foram expulsos do litoral bra- • Região Sul: foi colonizada por incentivo da Metrópole
sileiro, da região sudeste (Rio de Janeiro), porém estabeleceram para assegurar o controle das fronteiras com a América espanhola,
uma nova fixação no território durante o século XVII, mas na região além de ter desenvolvido um grande centro de ação jesuítica com
nordeste, mais precisamente na cidade de São Luís (atual capital os Sete Povos das Missões. A Região Sul também se desenvolveu
do Maranhão), onde fundaram, em 1612, a chamada França Equi- economicamente através da pecuária e charqueadas;
nocial.
Outra vez, a França estava tentando desenvolver uma civi- Fonte: https://www.infoescola.com/historia/expansao-territorial-bra-
lização no Brasil colonial. A metrópole Portugal, rapidamente, no sileira/
intuito de não perder partes do território da colônia, enviou uma
expedição militar à região do Maranhão. Essa expedição portugue- A interiorização e formação das fronteiras no Brasil colônia
sa atacou os franceses tanto por terra quanto por mar. No ano de Os principais fatores que levaram à interiorização do país fo-
1615, os franceses foram derrotados e se retiraram do Maranhão, ram:
deslocando-se para a região das Guianas, onde fundaram uma colô-
nia, a chamada Guiana Francesa. – A pecuária (século XVI)
Após duas tentativas mal sucedidas de estabelecimento de uma Para manter o gado distante das plantações de cana-de-açúcar,
civilização francesa, nos séculos XVI e XVII, no Brasil colonial (Fran- evitando prejuízos para os produtores, os colonos adentraram na
ça Antártida e França Equinocial), os franceses passaram a saquear, mata nordestina.

6
HISTÓRIA
– As missões jesuítas Reformas Pombalinas
Para levarem a cultura católica aos índios, os jesuítas tiveram Durante o reinado de Dom José I, um novo ministro inspirado
que se locomover até as aldeias no interior do país. por doutrinas de tendência iluminista empreendeu diversas mu-
danças na administração portuguesa. Entre 1750 e 1777, Sebastião
– As Bandeiras ou Entradas (século XVI a XVIII) José de Carvalho, o Marquês de Pombal, estabeleceu uma série de
Os bandeirantes tiveram uma extrema importância na interio- reformas modernizantes com o objetivo de melhorar a administra-
rização do Brasil. A diferença entre os dois tipos de expedições está ção do Império português e aumentar as rendas obtidas através da
no apoio da Coroa portuguesa (Entradas). As Entradas eram expe- exploração colonial. Esse tipo de experiência condizia com uma ten-
dições de caráter oficial e no início tinham o objetivo de expandir dência vivida em várias monarquias européias.
o território, mas logo depois, assim como as Bandeiras, os explora-
dores eram enviados com a missão de procurar por ouro e pedras O chamado despotismo esclarecido era uma tendência política
preciosas (obtendo sucesso na região de Minas Gerais e Goiás). Os que buscava conciliar a face política conservadora absolutista com
bandeirantes também eram conhecidos por capturarem indígenas princípios econômicos racionalistas. A intervenção política “escla-
(atacando as aldeias) e escravos fugitivos recida” de Pombal surgiu no momento em que Portugal enfrentava
É importante destacar que apesar do Tratado de Tordesilhas sérios problemas econômicos. A Coroa lusitana tinha perdido di-
(assinado por Espanha e Portugal) estabelecer um limite no territó- versas de suas possessões no continente asiático e sofria com as
rio, os colonos portugueses adentraram no continente bem além de imposições do Tratado de Methuen, assinado junto à Inglaterra, em
onde ficava a linha imaginária do tratado. 1703.

De acordo com o tratado, Portugal se comprometia a adquirir


tecidos de lã ingleses. Em contrapartida, a Inglaterra obteria toda a
produção de vinhos oferecida pelo governo português. Esse tratado
acabou gerando uma relação de extrema dependência econômica
na medida em que a demanda por tecidos era infinitamente maior.
O déficit econômico causado por essa situação, segundo Pombal,
seria amenizado com mudanças no gasto público e na administra-
ção colonial.

Para evitar as fraudes causadas com a cobrança do quinto, pas-


sou a exigir que os mineradores da colônia pagassem um valor fixo
de 1500 quilos de ouro por ano. Além disso, restringiu os pode-
res do Conselho Ultramarino e deu fim às capitanias hereditárias,
passando-as para o controle direto do governo português. Visan-
do ampliar os negócios na colônia, instituiu a criação de diversas
companhias de comércio incumbidas do papel de fortalecer o setor
comercial da metrópole. Em Portugal, preocupou-se em diminuir
os gastos excessivos da Coroa Portuguesa com a criação do Erário
Régio. Tal medida, apesar de visivelmente necessária, afrontava for-
temente as regalias e privilégios de muitos integrantes do gover-
no imperial. No plano interno, mesmo sem sucesso, Marquês de
Pombal tentou diminuir a dependência econômica lusitana com o
incentivo ao setor industrial.

Visando controlar de perto as questões jurídicas da colônia bra-


sileira, criou, em 1751, o Tribunal da Relação. Uma das mais polê-
micas medidas impostas por esse novo tribunal foi a de impor a ex-
pulsão dos jesuítas do Brasil. A decisão de caráter anticlerical visava
dar fim aos conflitos envolvendo os colonos e os padres jesuítas. En-
quanto os primeiros defendiam a utilização da mão-de-obra escrava
Assim, o formato atual das fronteiras brasileiras veio através dos indígenas, os religiosos se negavam a ceder seus catequizados
de uma série de acordos com a Espanha, usando acidentes naturais para o empreendimento colonial.
e formas geográficas do relevo como limites entre as colônias das
duas nações, além de considerar a ocupação territorial. Em 1750, As terras anteriormente administradas pela Companhia de Je-
foi assinado o Tratado de Madri, onde o território brasileiro assu- sus foram tomadas por militares e colonos; ou doadas e leiloadas
miu seu formato atual, exceto por algumas regiões no Centro-Oes- pela Coroa Portuguesa. Em 1757, Marquês de Pombal proibiu a per-
te, Norte e Sul (como o Acre, parte do Mato Grosso do Sul e uma seguição religiosa aos cristãos-novos e – tempos depois – deu fim à
grande parte do Rio Grande do Sul), e pequenos territórios ao longo escravidão indígena. Essa última medida visava inserir os índios no
de toda a fronteira. processo de ocupação do território e transformá-los em mão-de-o-
bra por vias consensuais.
Fonte: https://passeinafuvest.wordpress.com/2015/08/26/a-interiori-
zacao-e-formacao-das-fronteiras/ No ano de 1777, a morte do rei D. José I fez com que os opo-
sitores à política pombalina afastassem o ministro do governo por-
tuguês. Acusado de arbitrariedade e de cometer crimes contra o
Estado, Marquês de Pombal saiu de cena interrompendo o prete-

7
HISTÓRIA
rido processo de modernização política e econômica de Portugal. contra as guarnições portuguesas sediadas principalmente na Bah-
Entretanto, os mecanismos de controle sobre a mineração foram ia. Em 1824, em Pernambuco, a confederação do Equador, movi-
mantidos durante o governo de Dona Maria I. mento revoltoso de caráter republicano e separatista, questionava
a excessiva centralização do poder político nas mãos do imperador,
Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiadobrasil/refor- mas foi prontamente debelado. Em 1828, depois da guerra contra
mas-pombalinas.htm as Províncias Unidas do Rio da Prata, o Brasil reconheceu a indepen-
dência do Uruguai.
Rebeliões Coloniais Depois de intensa luta diplomática, em que foi muito importan-
Desde a segunda metade do século 17, explodiram na colônia te a intervenção da Inglaterra, Portugal reconheceu a independên-
várias revoltas, geralmente provocadas por interesses econômicos cia do Brasil. Frequentes conflitos com a Assembleia e interesses
contrariados. Em 1684, a revolta dos Beckman, no Maranhão, vol- dinásticos em Portugal levaram D. Pedro I, em 1831, a abdicar do
tou-se contra o monopólio exercido pela Companhia de Comércio trono do Brasil em favor do filho D. Pedro, então com cinco anos
do Estado do Maranhão. de idade.
Já no século 18, a guerra dos emboabas envolveu paulistas e Período regencial. O reinado de D. Pedro II teve início com um
“forasteiros” na zona das minas; a guerra dos mascates opôs os período regencial, que durou até 1840, quando foi proclamada a
comerciantes de Recife aos aristocráticos senhores de engenho de maioridade do imperador, que contava cerca de quinze anos. Du-
Olinda; e a revolta de Vila Rica, liderada por Filipe dos Santos, em rante as regências, ocorreram intensas lutas políticas em várias
1720, combateu a instituição das casas de fundição e a cobrança de partes do país, quase sempre provocadas pelos choques entre os
novos impostos sobre a mineração do ouro. interesses regionais e a concentração do poder no Sudeste (Rio de
Os mais importantes movimentos revoltosos desse século fo- Janeiro). A mais importante foi a guerra dos farrapos ou revolução
ram a conjuração mineira e a conjuração baiana, as quais possuíam, farroupilha, movimento republicano e separatista ocorrido no Rio
além do caráter econômico, uma clara conotação política. A conju- Grande do Sul, em 1835, e que só terminou em 1845. Além dessa,
ração mineira, ocorrida em 1789, também em Vila Rica, foi liderada ocorreram revoltas na Bahia (Sabinada), no Maranhão (Balaiada) e
por Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que terminou preso no Pará (Cabanagem).
e enforcado, em 1792. Pretendia, entre outras coisas, a indepen- Segundo reinado. O governo pessoal de D. Pedro II começou
dência e a proclamação de uma república. A conjuração baiana -- com intensas campanhas militares, a cargo do general Luís Alves de
também chamada revolução dos alfaiates, devido à participação Lima e Silva, que viria a ter o título de duque de Caxias, com a fina-
de grande número de elementos das camadas populares (artesãos, lidade de pôr termo às revoltas provinciais. A partir daí, a política
soldados, negros libertos) --, ocorrida em 1798, tinha ideias bastan- interna do império brasileiro viveu uma fase de relativa estabilida-
te avançadas para a época, inclusive a extinção da escravidão. Seus de, até 1870.
principais líderes foram executados. Mais tarde, estourou outro im- A base da economia era a agricultura cafeeira, desenvolvida a
partir de 1830, no Sudeste, inicialmente nos morros como o da Tiju-
portante movimento de caráter republicano e separatista, conheci-
ca e a seguir no vale do Paraíba fluminense (província do Rio de Ja-
do como revolução pernambucana de 1817.
neiro), avançando para São Paulo (vale do Paraíba e oeste paulista).
Independência. Em 1808, ocorreu a chamada “inversão brasi-
Até 1930, o ciclo do café constituiu o principal gerador da riqueza
leira”, isto é, o Brasil tornou-se a sede da monarquia portuguesa,
brasileira. A partir da década de 1850, graças aos empreendimentos
com a transferência da família real e da corte para o Rio de Janei-
de Irineu Evangelista de Sousa, o barão e depois visconde de Mauá,
ro, fugindo da invasão napoleônica na península ibérica. Ainda na
entre os quais se destaca a construção da primeira estrada de ferro
Bahia, o príncipe regente D. João assinou o tratado de abertura dos
brasileira, ocorreu um primeiro surto de industrialização no país.
portos brasileiros ao comércio das nações amigas, beneficiando A base social do império era a escravidão. Desde o período co-
principalmente a Inglaterra. Terminava assim o monopólio portu- lonial, os negros escravos constituíam a principal, e quase exclusiva,
guês sobre o comércio com o Brasil e tinha início o livre-cambismo, mão-de-obra no Brasil. As restrições ao tráfico negreiro começaram
que perduraria até 1846, quando foi estabelecido o protecionismo. por volta de 1830, por pressões da Inglaterra, então em plena re-
Além da introdução de diversos melhoramentos (Imprensa Ré- volução industrial. Finalmente, em 1888, após intensa campanha
gia, Biblioteca Pública, Academia Militar, Jardim Botânico, faculda- abolicionista, a chamada Lei Áurea declarava extinta a escravidão
des de medicina do Rio de Janeiro e da Bahia e outros), no governo no país. Nesse período, houve uma grande imigração para o Brasil,
do príncipe regente D. João (que passaria a ter o título de D. João sobretudo de alemães e italianos.
VI a partir de 1816, com o falecimento da rainha D. Maria I) o Brasil Na política externa, sobressaíram as guerras do Prata, em que
foi elevado à categoria de reino e teve anexadas a seu território a o Brasil enfrentou o Uruguai e a Argentina, e a da Tríplice Aliança
Guiana Francesa e a Banda Oriental do Uruguai, que tomou o nome ou do Paraguai, que reuniu o Brasil, a Argentina e o Uruguai numa
de província Cisplatina. coligação contra o ditador paraguaio Solano López. A guerra do Pa-
A partir de 1821, com a volta do rei e da corte para Portugal, o raguai (1864--1870), um dos episódios mais sangrentos da história
Brasil passou a ser governado pelo príncipe regente D. Pedro. Aten- americana, terminou com a vitória dos aliados.
dendo principalmente aos interesses dos grandes proprietários ru- A partir de 1870, a monarquia brasileira enfrentou sucessivas
rais, contrários à política das Cortes portuguesas, que desejavam crises (questão religiosa, questão militar, questão da abolição), que
recolonizar o Brasil, bem como pretendendo libertar-se da tutela culminaram com o movimento militar, liderado pelo marechal Deo-
da metrópole, que visava diminuir-lhe a autoridade, D. Pedro pro- doro da Fonseca, que depôs o imperador e proclamou a república,
clamou a independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, às em 15 de novembro de 1889.
margens do riacho do Ipiranga, na província de São Paulo. É im- República Velha. A Primeira República, ou República Velha, es-
portante destacar o papel de José Bonifácio de Andrada e Silva, à tendeu-se de 1889 até 1930. Sob a chefia do marechal Deodoro,
frente do chamado Ministério da Independência, na articulação do foi instalado um governo provisório, que convocou uma assembleia
movimento separatista. constituinte para elaborar a primeira constituição republicana, pro-
Primeiro reinado. Aclamado imperador do Brasil, D. Pedro I mulgada em 1891. Os governos do marechal Deodoro, e, depois, do
tratou de dar ao país uma constituição, outorgada em 1824. No iní- marechal Floriano Peixoto foram plenos de conflitos com o Legisla-
cio do seu reinado, ocorreu a chamada “guerra da independência”, tivo e rebeliões, como as duas revoltas da Armada.

8
HISTÓRIA
Com a eleição de Prudente de Morais, tem início a chamada Segundo os planos, a revolução iria estourar no dia da derrama,
“política do café com leite”, segundo a qual os presidentes da Repú- cobrança de impostos atrasados que, na época, acumulavam quase
blica seriam escolhidos dentre os representantes dos estados mais 600 arrobas de ouro. Às vésperas, o movimento foi traído por um
ricos e populosos -- São Paulo e Minas Gerais -- prática que foi se- dos inconfidentes, Joaquim Silvério dos Reis, que denunciou os pla-
guida, quase sem interrupções, até 1930. nos ao governador das Minas Gerais, o visconde de Barbacena, em
A economia agrário-exportadora continuou dominante. O café troca da suspensão do pagamento de suas dívidas. Assim, efetuou-
representava a principal riqueza brasileira, e os fazendeiros paulis- -se a prisão dos envolvidos, em março de 1789.
tas constituíam a oligarquia mais poderosa. As classes médias eram Em abril de 1792, a sentença condenou onze inconfidentes à
pouco expressivas e começava a existir um embrião de proletaria- morte. Em seguida, a decisão foi comutada (trocada) por degredo
do. Por ocasião da primeira guerra mundial (1914--1918), ocorreu perpétuo na África, exceto para Joaquim José da Silva Xavier, o Ti-
um surto de industrialização, em função da substituição de impor- radentes, que foi executado na forca, tendo sido seu corpo esquar-
tações europeias por produtos fabricados no Brasil. tejado e espalhado na estrada Vila Rica – Rio de Janeiro para servir
A partir da década de 1920, o descontentamento dos milita- de exemplo. Sua casa foi destruída, a terra, salgada e seus descen-
res explodiu em uma série de revoltas, destacando-se a marcha da dentes, amaldiçoados.
coluna Prestes, entre 1924 e 1927, que percorreu grande parte do O Tiradentes era o mais humilde de todos os envolvidos.
Brasil. As oligarquias alijadas do poder central também se mostra-
vam insatisfeitas. Quando ocorreu a crise de 1929 -- iniciada com o Conjura Carioca (1794)
crash da bolsa de Nova York --, com seus reflexos negativos sobre os Eventos emancipacionistas ocorridos na cidade do Rio de Ja-
preços do café, a desorganização da economia, as divergências po- neiro, entre 1794-1795, ficaram conhecidos como Conjura Carioca.
lítico-eleitorais das oligarquias dominantes e as aspirações de mu- Nas últimas duas décadas do século XVIII, existiu na então ca-
dança de amplos setores da sociedade provocaram a deflagração da pital do Brasil Colônia uma entidade formada por intelectuais (poe-
revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder. tas, escritores, advogados, médicos), chamada Sociedade Literária.
Constituída, a princípio, para debater as novidades políticas
Fonte: https://www.sohistoria.com.br/ef2/histbrasil/p1.php que chegavam da Europa e da América do Norte (Iluminismo, In-
dependência dos Estados Unidos, Revolução Francesa), assim como
Movimentos Emancipacionistas assuntos de caráter científico, a Sociedade Literária ganhou a ade-
A partir da segunda metade do século XVIII, os movimentos de são de muitas pessoas, como padres, professores, ourives, marce-
contestação ganharam novo impulso, favorecidos pelas transforma- neiros e sapateiros, entre outros, além dos grupos já citados.
ções que o mundo sofria por conta das ideias iluministas, da Revo- Após os acontecimentos de Minas Gerais, as autoridades do
lução Francesa e da Revolução Industrial. Rio de Janeiro passaram a ver o livre funcionamento da Socieda-
Aqui, essas ideias encontraram um campo fértil para sua ex- de Literária com certa preocupação, principalmente por conta das
pansão. No Brasil, a crise aurífera e a decadência econômica do discussões mais acaloradas das ideias filosóficas e políticas de Rou-
Nordeste deram origem aos primeiros movimentos emancipacio- sseau e Voltaire.
nistas. Em 1794, o vice-rei, conde de Resende, ordenou o seu fecha-
mento, além de instalar uma devassa (um inquérito) contra seus
Conjuração Mineira (1789) associados, que foram presos e investigados como conspiradores.
O movimento emancipacionista conhecido como Inconfidência O processo se estendeu até 1795, sem que fossem encontradas
Mineira (ou Conjuração Mineira), por ter sido o primeiro a pregar a provas conclusivas de que uma conspiração se encontrava em cur-
independência política, é o mais conhecido. Um de seus integran- so. Desse modo, os implicados foram libertados.
tes, Joaquim José da Silva Xavier – Tiradentes –, mitificado pelo
movimento que implantou a República no país, acabou se transfor- Conjuração Baiana (1798)
mando em mártir da Independência. Ao contrário dos acontecimentos de Minas Gerais e do Rio de
Na realidade, esse movimento não saiu da discussão teórica Janeiro, a Conjuração Baiana (também conhecida como Revolta dos
e, por isso, para alguns historiadores, foi o movimento mais fraco. Alfaiates) envolveu as camadas populares e sofreu nítida influência
Seus participantes representavam os interesses das camadas da fase jacobinista da Revolução Francesa.
médias urbanas – militares, padres, estudantes, comerciantes – e os Durante o mês de agosto de 1798, a cidade de Salvador teve as
interesses da elite mineira, como o proprietário de minas Alvarenga paredes de suas construções cobertas por um panfleto que afirma-
Peixoto. Participaram, ainda, funcionários reais, como Cláudio Manuel va: “Animai-vos, povo bahiense, que está por chegar o tempo feliz
da Costa, desembargador, e Tomás Antonio Gonzaga, ouvidor. de nossa liberdade: o tempo em que seremos todos irmãos, tempo
Cláudio Manuel da Costa, Alvarenga Peixoto e Tomás Antonio em que seremos todos iguais”.
Gonzaga também são os maiores representantes do Arcadismo no O panfleto estimulava a revolução e a libertação dos escravos
Brasil, cuja poesia prega o retorno à Antiguidade Clássica e um es- para exterminar a opressão metropolitana e o domínio de um ho-
tilo de vida simples. mem sobre o outro.
Nessa época, o ouro já mostrava claros sinais de esgotamento, A autoria do panfleto recaiu sobre o soldado Luiz Gonzaga das
mas a metrópole exigia o pagamento de impostos cada vez mais Virgens. Os conspiradores foram presos, entre eles escravos e mu-
abusivos. lheres.
Das discussões influenciadas pelo Iluminismo, que combatia o Os advogados de defesa argumentaram que a linguagem do
Antigo Regime e propunha uma nova ordem político-econômica-so- panfleto era muito superior à formação intelectual dos presos, que
cial os inconfidentes estabeleceram como objetivos a proclamação não teriam como ler e entender textos em francês e inglês que che-
da república (embora alguns defendessem uma monarquia consti- gavam até aqui através de jornais.
tucional), a transferência da capital do Rio de Janeiro para São João Mesmo assim, quatro foram condenados à morte: Luiz Gonza-
Del Rey, a liberação das manufaturas, a instalação de uma fábrica ga das Virgens, Lucas Dantas, Manuel Faustino dos Santos e João
de pólvora, a criação da Universidade de Vila Rica e a anistia das de Deus do Nascimento. Todos os quatro eram pobres e mulatos.
dívidas.

9
HISTÓRIA
Revolução Pernambucana (1801) Além da economia, o país, e sobretudo a capital, que até então
Em 1796, Manuel Arruda Câmara – médico e ex-clérigo que era o Rio de Janeiro, sofreram diversas mudanças.
havia integrado a Sociedade Literária do Rio de Janeiro –, os ir- Muitas obras de caráter público foram erigidas nesse período,
mãos Luís Francisco de Paula Cavalcanti, José Francisco de Paula por exemplo, a casa da moeda, o banco do Brasil, o jardim botânico,
Cavalcanti e Albuquerque e Francisco de Paula Cavalcanti (sendo dentre outras.
este proprietário do Engenho Suassuna), além de outras pessoas
influentes de Pernambuco, fundaram, em Itambé, – o “Areópago de A Educação no Período Joanino
Itambé” – a primeira loja maçônica do Brasil. Dela não participavam Na educação e na cultura, esse período marcou diversos avan-
europeus, embora a inspiração para sua criação tenham sido o ideal ços nessas áreas. Isso porque muitos investimentos foram feitos, o
iluminista e a Revolução Francesa. que podemos confirmar com a construção da Biblioteca Real, da
A partir de 1800, imbuídos dos princípios de liberdade e igual- Academia Real de Belas Artes, da Imprensa Real, além das escolas
dade, os membros do Areópago passaram a conspirar contra o do- de medicina.
mínio português, visando à emancipação de Pernambuco por meio
da implantação de uma república, cuja proteção seria dada por Na- Período Joanino e a Independência do Brasil
poleão Bonaparte. Esse período da história do Brasil influenciou diretamente no
As autoridades da capitania de Pernambuco foram informadas processo de independência do país.
dos planos dos conjurados, em maio de 1801, por um delator, o Isso porque em 1815 a administração do governo joanino ex-
que levou à detenção de diversos implicados. Em razão da elevada tingui a condição de colônia ao Brasil. Foi assim que o páis rece-
posição social dos acusados, o processo de devassa correu em sigilo beu o título de “Reino Unido de Portugal e Algarves”, tornando-se a
e todos foram absolvidos por falta de provas. sede administrativa de Portugal.
Os ideais da Conspiração dos Suassunas (ou Conjuração dos Esse fato deixou muito descontentes os portugueses que esta-
Cavalcanti), como ficou conhecido o evento, reapareceram, poste- vam em Portugal. Com isso, eles exigiam o retorno de Dom João IV,
riormente, na Revolução Pernambucana de 1817. que por fim, retorna à Portugal para a Revolução Liberal do Porto,
em abril de 1821. Esse evento marcou o fim do período joanino.
Fonte: https://www.coladaweb.com/historia-do-brasil/movimentos-e- Em seu lugar permanece seu filho, Dom Pedro I. O príncipe re-
mancipacionistas gente governou o país de 1822 a 1831, estabelecendo em 1824, a
primeira Constituição do país.
Quando Portugal exigiu seu retorno, ele se recusou a voltar
O PERÍODO JOANINO E O PROCESSO DE INDEPENDÊN- para a metrópole. Sendo assim, no dia 07 de setembro de 1822, ele
CIA declara a Independência do Brasil.

Fonte: https://www.todamateria.com.br/periodo-joanino/
O período joanino corresponde a uma fase da história do Brasil
que ocorreu entre os anos de 1808 e 1821. Recebe esse nome em
referência ao rei D. João VI que transferiu seu governo para o Brasil.
Vale notar que essa foi a primeira vez na história que um rei eu- A PRESENÇA BRITÂNICA NO BRASIL, A TRANSFERÊN-
ropeu transferiu seu reino para um país do continente americano. CIA DA CORTE, OS TRATADOS, AS PRINCIPAIS MEDI-
Em janeiro de 1808 e com o apoio da Inglaterra, a família real DAS DE D. JOÃO VI NO BRASIL, POLÍTICA JOANINA, OS
portuguesa chegou ao Brasil. Cerca de 15 mil pessoas vieram com PARTIDOS POLÍTICOS, REVOLTAS, CONSPIRAÇÕES E
eles, o que totalizou cerca de 2% da população portuguesa da épo- REVOLUÇÕES, EMANCIPAÇÃO E CONFLITOS SOCIAIS
ca. Eles se instalaram na capital do Rio de Janeiro e permaneceram
durante 12 anos ali.
Ameaçados pela invasão do francês Napoleão Bonaparte, a As invasões inglesas no Brasil devem ser consideradas sob
família Real deixou Portugal para garantir que o país continuasse duas dimensões. A primeira delas está relacionada aos empreendi-
independente. mentos econômicos estabelecidos entre ingleses e indígenas no pri-
Isso porque Napoleão decretou o Bloqueio Continental em meiro século da colonização. Daí a razão pela qual os portugueses
1806, determinando o fechamento dos portos aos navios ingleses. chamaram os ingleses de invasores. A segunda e mais conhecida, se
Portugal, que apoiava a Inglaterra e tinha grande relação co- caracteriza pelo crescimento das práticas de pirataria decorrentes
mercial com esse país, não se submeteu ao bloqueio. Isso levou a do colapso daquelas relações comerciais. Assim, as atividades de
invasão de Napoleão às terras lusitanas. corsários e piratas devem ser analisadas em perspectiva.
Sendo assim, em outubro de 1807, D. João e o rei da Inglaterra Outra questão primordial nesse processo é a relação que os
Jorge III, assinaram um decreto que transferia a sede monárquica navios ingleses estabeleceram entre a costa brasileira e a costa afri-
de Portugal para o Brasil. cana a partir de suas atividades mercantilistas. A primeira viagem
Além disso, Portugal se comprometia a assinar um tratado de dessa natureza foi registrada em 1530. O inglês William Hawkins,
comércio com a Inglaterra, quando chegasse ao Brasil. negociante de Plymouth, teria empreendido três viagens, entre os
Foi dessa maneira que em 1808 o Pacto Colonial, um acordo anos de 1530 e 1532. Tais excursões marcaram a entrada de co-
comercial entre a colônia e a metrópole, chega ao fim. Nesse ano, merciantes e navegadores ingleses no Atlântico Sul. Numa delas,
Dom João instituiu a “Carta Régia”, a qual permitia a abertura dos o próprio William teria chegado à costa africana. Desde então se
portos a outras nações amigas, inclusive a Inglaterra. tornou comum embarcações inglesas criarem rotas intercontinen-
Diante disso, a economia do país alavancou, no entanto, im- tais, chegando à Inglaterra abarrotados de pau-brasil e marfim.
pediu o desenvolvimento das manufaturas no Brasil. Isso porque Um comércio regular foi estabelecido entre a Inglaterra, regiões da
grande parte dos produtos eram importados da Inglaterra. África Ocidental e do Nordeste Brasileiro. Nesse sentido, a chegada
Os produtos ingleses tinham uma menor taxa alfandegária em de ingleses à costa brasileira fez parte de um projeto de expansão
relação aos outros países. Eles pagavam 15%, enquanto as outras marítima iniciado na primeira metade do século XVI e caracterizado
nações cerca de 24%. por fortes relações econômicas.

10
HISTÓRIA
Um comerciante inglês chamado Pudsey, da cidade de Sou- No ano de 1806, o governo napoleônico impôs o Bloqueio Con-
thampton teria, inclusive, mandado construir um forte militar na tinental à Europa. Segundo esse decreto, a França exigiu que ne-
Bahia, em 1542. Tal atitude evidenciava a presença regular de ingle- nhuma nação europeia tivesse relações comerciais com a Inglater-
ses no litoral brasileiro no início da colonização. Para evitar choques ra. Dessa maneira, o governo napoleônico ampliou seus mercados
com os portugueses, os ingleses preferiam estabelecer trocas co- consumidores e, ao mesmo tempo, desestabilizou sua maior rival
merciais com os indígenas através do escambo. Na segunda viagem política, militar e econômica.
empreendida por Willian, um chefe indígena o teria acompanhado
até a Inglaterra e lá se apresentado à Corte, onde permaneceu. Até O príncipe regente de Portugal, Dom João VI, não acatou a or-
fins do século XVI, a presença inglesa na costa brasileira foi carac- dem francesa. Isso porque, ao longo do século XVIII, a economia
terizada pela forte relação comercial com os indígenas. Apesar da portuguesa assinou uma série de tratados econômicos que apro-
diminuição da atuação inglesa no litoral brasileiro, a partir de fins fundou demasiadamente a dependência de Portugal para com
do século XVI, o comércio com indígenas do Atlântico-Norte parece a Inglaterra. Em reposta à intransigência portuguesa, Napoleão
ter crescido substancialmente. ameaçou invadir o território português. Pressionado por Napoleão,
Na região do delta amazônico, no Estado Colonial do Mara- o governo português acabou aceitando um plano da Inglaterra para
nhão, desde fins do século XVI e início do XVII, os ingleses estabe- contornar essa situação.
leceram contato com grupos indígenas e passaram a comercializar,
além de muita madeira, outras especiarias de alto valor no mercado Os ingleses ofereceram escolta para que a família real portu-
europeu (algodão, urucum, tabaco e gêneros do reino animal, como guesa se deslocasse até o Brasil e garantiu que utilizaria de suas
papagaios, tartarugas, peixes-boi, etc.). Um mapa do delta amazô- forças militares para expulsar as tropas napoleônicas do solo por-
nico desenvolvido em 1629, pelo cartógrafo português João Teixei- tuguês. Em troca desses favores, Dom João deveria transferir a ca-
ra Albernaz indica a localização de uma fortaleza inglesa naquela pital portuguesa para o Rio de Janeiro e estabelecer um conjunto
região, da qual os portugueses haviam se apossado. Outro mapa, de tratados que abrissem os portos brasileiros às nações do mundo
desenvolvido em 1640, ainda indica a localização daquela fortaleza e oferecessem taxas alfandegárias menores aos produtos ingleses.
inglesa.
Isso nos permite observar que, para além do que afirma a his- Não tendo melhores alternativas frente à proposta inglesa, em
toriografia que trata da atuação inglesa nas colônias portuguesas, novembro de 1807, cerca de 15.000 súditos da Coroa Portuguesa
tal presença não se caracterizou apenas pelas práticas de pirataria saíram às pressas rumo ao Brasil. Dessa maneira, entre os anos de
e tentativas de invasões, empreendidas por comandantes como 1808 e 1821, o Brasil se tornou o centro administrativo do governo
Francis Drake (1577), Robert Withrington e Christopher Lister (Sal- português. Além de ter sido um peculiar acontecimento na história
vador/1587), James Lancaster (Recife/1595) e o mais famoso dos política portuguesa, a chegada de Dom João VI e seus cortesãos
piratas ingleses: Thomas Cavendish (Santos/1591). Portanto, se ao Brasil iniciou um conjunto de ações que enfraqueceram o pacto
deve observar que as colônias portuguesas na América (Brasil e colonial.
Maranhão) tiveram lugar de destaque nos interesses marítimos in-
gleses. Práticas comerciais também constituíram, juntamente com Dessa maneira, podemos contemplar na administração joanina
práticas de pirataria, importantes elementos na expansão ultrama- um conjunto de ações que impulsionaram a nossa independência.
rina inglesa. Assim, as colônias portuguesas se caracterizaram como Ao mesmo tempo, vemos que os gritos às margens do Ipiranga, de
alvo potencial, mas, também, ponto de apoio para os ingleses, nos Dom Pedro I, não efetivaram as liberdades anteriormente concedi-
séculos XVI e XVII. das durante a passagem de Dom João VI em terras brasileiras.

Fonte: https://www.infoescola.com/historia/invasoes-inglesas-no-bra- Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/corte-portuguesa.htm


sil/
Os Tratados
A transferência da Corte As Grandes Navegações geraram disputas pelos territórios des-
Todo sete de setembro celebramos o dia em que o Brasil foi cobertos entre os países colonizadores – Portugal e Espanha – após
proclamado independente de Portugal. Assim, o marco de nossa a jornada rumo ao oriente. Para dar fim ao conflito de interesses,
soberania política fixou-se no momento em que o então príncipe- foram estabelecidos limites de exploração para cada país através de
-regente, Dom Pedro I, oficializou o fim da colonização às margens tratados. Neste artigo vamos conhecer os principais deles.
do rio Ipiranga. No entanto, como podemos imaginar que um brado É importante ressaltar que a palavra descobrimento expressa
à beira de um rio seja capaz de fazer uma nação soberana? uma forma eurocêntrica de relatar o episódio, pois os territórios
já eram ocupados pelos povos indígenas, ou seja, não eram desco-
Para entendermos melhor o nosso processo de independência, nhecidos.
é de fundamental importância que nos desloquemos para outro O primeiro acordo ocorreu em 1493, com a Bula inter Coetera,
contexto histórico: o estabelecimento da Era Napoleônica (1799 – criada pelo papa Alexandre VI. Foi definida uma linha imaginária a
1815) no início do século XIX. Durante esse período, que encerra as 100 léguas de Cabo Verde, na costa africana, que dividia o mundo
turbulências vividas durante a Revolução Francesa, Napoleão trans- entre os dois países ibéricos. Determinava que a parte leste (africa-
formou-se em chefe supremo da nação francesa. na) teria domínio português enquanto a oeste (americana) seria de
posse espanhola.
Em sua gestão, Napoleão tinha como grande meta industriali- Entretanto, essa linha passava pelo Oceano Atlântico, o que fez
zar a economia francesa através de um agressivo plano que com- com que Portugal se sentisse prejudicado e com receio de perder os
binava pesados investimentos estatais e uma política internacional territórios conquistados, mesmo sem ter chegado ainda ao Brasil.
agressiva. Naquela época, a maior potência industrial era a Inglater- Para resolver tal situação, a linha foi deslocada, ficando agora a 370
ra. Com isso, Bonaparte procurou retaliar o monopólio mercadoló- léguas de Cabo Verde, o que foi acordado com o Tratado de Torde-
gico britânico nem que para isso tivesse que ameaçar a soberania silhas, em 1494.
das demais nações europeias.

11
HISTÓRIA
A linha definiria, posteriormente, como seria a divisão do Brasil A Questão de Caiena
entre as duas nações. No entanto, não foi respeitada, de modo que Em 1º de maio de 1808, já instalada no Brasil a sede do Reino,
Portugal dominou a parte leste do novo continente, enquanto a Es- que pretendia ser “um império poderoso, cheio de prestígio e que
panha se preocupou com a colonização do norte e oeste. garantisse a segurança de seus súditos,” D. João declarou guerra a
Em 1681, foi assinado o Tratado de Lisboa, pelo qual a Espanha Napoleão e aos franceses e considerou nulos os tratados assinados
devolveu a Portugal a Colônia de Sacramento, que havia invadido. anteriormente com aquele país.
Em 1703, outro acordo foi firmado, o Tratado de Methuen ou Com o objetivo de ampliar seu Império na América, eliminar a
Tratado de Panos e Vinhos, porém este não discutia territórios, ameaça francesa e, ao mesmo tempo, vingar-se da invasão napo-
mas estabelecia alianças comerciais entre Inglaterra – com a indús- leônica em Portugal, D. João resolveu ocupar a Guiana Francesa,
tria têxtil – e Portugal, com os vinhos. incorporando-a aos seus domínios.
Já entre 1713 e 1715, ocorreram os tratados de Utrecht, entre Para tanto, enviou uma força militar com o objetivo de restabe-
Portugal e Espanha. O primeiro estabelecia o rio Oiapoque como lecer os limites entre o Brasil e a Guiana.
divisão entre Brasil e Guiana Francesa e o segundo tratava de uma Recebendo reforço naval da Inglaterra, as forças portuguesas
nova devolução da colônia de Sacramento a Portugal. partiram para o ataque e, em janeiro de 1809, tomaram posse da
Em 1750, um novo tratado substituía o de Tordesilhas, o cha- Colônia em nome de D. João.
mado Tratado de Madri. Uma de suas principais características foi Em 1815, com a derrota de Napoleão, a posse da Colônia vol-
o uti posidetis, que trazia o conceito do usucapião, ou seja, a terra tou a ser reivindicada pelo Governo francês, agora sob o domínio
pertence a quem a ocupa, de modo que a Colônia de Sacramento de Luís XVIII.
voltou a pertencer à Espanha, assim como regiões a oeste de Tor- Como os termos da proposta francesa não foram aceitos por D.
desilhas, como os Sete Povos das Missões, que eram ocupados por João, a questão passou a ser discutida pelo Congresso de Viena, no
portugueses, pertenceriam agora a Portugal. Consequentemente, ano seguinte.
Portugal comandaria a região do Brasil e a Espanha, a região do Nessas conversações a França concordou em recuar os limites
Prata. de sua Colônia até a divisa proposta pelo Governo português.
Em 1761, o Tratado de El Pardo revogou o Tratado de Madri, Entretanto, somente em 1817 os portugueses deixaram Caie-
mas foi retomado em 1777, com o Tratado de Santo Ildefonso, po- na, com a assinatura de um convênio entre a França e o novo Reino
rém este dava a posse de Sete Povos das Missões à Espanha, o que Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
foi novamente alterado em 1801, quando a região voltou ao domí-
nio português através do Tratado de Badajós. A Questão do Prata
Fonte: https://www.infoenem.com.br/veja-os-tratados-da-co- Desde os primeiros tempos da colonização da América a região
lonizacao-entre-portugueses-e-espanhois/ platina foi objeto de disputa entre Espanha e Portugal, especial-
mente a Colônia do Sacramento, atual Uruguai, também conhecida
As Principais Medidas de D. João VI no Brasil como Banda Oriental.
No ano de 1818, a mãe de D. João, D. Maria I, faleceu e D. João Com a assinatura do Tratado de Badajoz, em 1801, que deu a
tornou-se rei. Passou a ser chamado de D. João VI, rei do Reino Uni- Portugal a posse dos Sete Povos das Missões e à Espanha a colônia
do a Portugal e Algarves. Uma das principais medidas tomadas por de Sacramento, a paz na região parecia ter sido selada.
D. João foi abrir o comércio brasileiro aos países amigos de Portu-
Entretanto, a vinda da família real para o Brasil e o domínio da
gal. A principal beneficiada foi à Inglaterra, que passou a ter vanta-
Península Ibérica por Napoleão mudaram a situação.
gens comerciais e dominar o comércio com o Brasil. Os produtos
Desde o estabelecimento da Corte no Rio de Janeiro, o Gover-
ingleses chegavam ao Brasil com impostos de 15%, enquanto de
no português demonstrou interesse em conquistar a margem es-
outros países deveriam pagar 24%. Isso fez com que nosso país fos-
querda do rio da Prata.
se inundado por produtos ingleses. Esta medida acabou prejudican-
A situação da Espanha, agora aliada da França e, portanto,
do o desenvolvimento da indústria brasileira. D. João adotou várias
inimiga de Portugal e da Inglaterra, propiciava a D. João excelente
medidas econômicas que favoreceram o desenvolvimento brasilei-
oportunidade de se instalar na cobiçada região do Prata, para o que
ro. Entre as principais, decidimos citar: estímulo ao estabelecimen-
to de indústrias no Brasil, construção de estradas, cancelamento procurou o apoio da Inglaterra.
da lei que não permitia a criação de fábricas no Brasil, reformas Os representantes ingleses no Rio de Janeiro não se posiciona-
em portos, criação do Banco do Brasil e instalação da Junta de Co- ram logo sobre a questão, escaldados que estavam por conta das
mércio. Do ponto de vista cultural, o Brasil também saiu ganhando duas tentativas infrutíferas realizadas em 1806 para se apossarem
com algumas medidas tomadas por D. João. O rei trouxe a Missão de Buenos Aires e de Montevidéu. Resolveram aguardar instruções
Francesa para o Brasil, estimulando o desenvolvimento das artes no de seu Governo para agir.
nosso país. Criou o Museu Nacional, a Biblioteca Real, a Escola Real Logo depois, em setembro de 1808, informados da revolta
de Artes e o Observatório Astronômico. E também foram criados espanhola contra o domínio francês, os ingleses desaprovaram a
vários cursos (agricultura, cirurgia, química, desenho técnico, etc) posição portuguesa, pois agora a Espanha voltara a ser sua aliada.
nos estados da Bahia e Rio de Janeiro. D. Carlota Joaquina também tinha interesses pessoais na do-
minação das antigas colônias espanholas, visto ser filha do rei da
Fonte: https://nobrasil.wordpress.com/2010/10/14/medidas-toma- Espanha, Carlos IV, deposto por Napoleão, e irmã do herdeiro apri-
das-por-d-joao-vi/ sionado pelos franceses, Fernando VII.
Assim, julgava-se com direitos às colônias espanholas, por ser
Política Joanina no Brasil a única representante legítima dos Bourbon espanhóis na América.
A Política Externa Joanina Lord Strangford, encarregado pela Inglaterra de cuidar de am-
A transferência da sede da monarquia portuguesa para a sua bas as situações, teve melhor acolhida junto a D. João, pois D. Car-
colônia americana fez com que a política externa de Portugal pas- lota já havia estabelecido contatos com antigos colonos espanhóis,
sasse a ser aqui decidida, instalando-se no Rio de Janeiro o Ministé- que lhe davam esperanças de conseguir o seu intento.
rio da Guerra e Assuntos Estrangeiros.

12
HISTÓRIA
Tolhida em sua ação por D. João, a quem a Inglaterra pedira permitidas: ARENA, partido de apoio da situação, e MDB (atual
auxílio, D. Carlota viu, aos poucos, suas aspirações irem por água PMDB), de oposição, que congregava todas as filosofias de oposi-
abaixo, inclusive pela desconfiança dos espanhóis em relação à sua ção ao regime.
lealdade à causa da Espanha, por ser casada com o príncipe portu- Com a redemocratização, em 1985, um “enxurrada” de novos
guês. partidos vão sendo criados e extintos, fruto natural da reconquis-
Mas a dominação da Espanha pela França detonara um pro- tada liberade política. O PMDB, herdeiro do oposicionista MDB da
cesso de independência entre as colônias espanholas, do qual re- época anterior emerge como principal partido. Logo após, surgem
sultaram países como a Argentina e o Paraguai, que se tornaram outras forças importantes como o PSDB e o PT, que na atualidade
independentes em 1810 e 1811, respectivamente. estão quase que em todos os casos disputando os mais importantes
Sob o pretexto de defender o Rio Grande dos conflitos que postos nos estados e a nível federal.
eclodiam em suas fronteiras, D. João organizou tropas luso-brasilei- Atualmente, o cenário democrático brasileiro conta com 27
ras que se dirigiram para o sul, em direção à região platina, com a partidos ativos (não necessariamente possuindo representação no
intenção de anexá-la ao Império português. Congresso Nacional, mas tendo registro definitivo ante o TSE (Tribu-
Resolvidos os problemas fronteiriços, foi assinado um armistí- nal Superior Eleitoral), aptos portanto a apresentarem candidatos
cio entre o governo de D. João e a Junta que governava Buenos Ai- em quaisquer eleições ou se coligarem de acordo com a orientação
res. Mas a proclamação da independência das Províncias Unidas do de seu diretório), não sendo considerado o recentemente funda-
Rio da Prata ocasionou a retomada de violentos conflitos na região do PSD, que deve brevemente conquistar seu registro definitivo,
conhecida como a Banda Oriental do Uruguai, que não aceitava as aumentando para 28 o número de partidos políticos plenamente
imposições de Buenos Aires. Por este motivo os uruguaios retoma- ativos.
ram a luta. As matérias que lidam com praticamente todos os aspectos dos
Pretendendo resguardar suas fronteiras e, também, expandir o partidos e das eleições, estabelecendo os parâmetros aos quais es-
seu Império, D. João ordenou a invasão e ocupação da região, que tes devem seguir, encontram-se atualmente na Constituição e no
se tornou a Província Cisplatina, incorporada ao Brasil até 1827. Código Eleitoral. Na Constituição, tratam especialmente do tema os
capítulos IV, que engloba os artigos 14 e 15 e V, abrangendo o artigo
Partidos políticos e eleições no Brasil 17. No capítulo IV, são abordados os direitos políticos, e o V é dedi-
O Brasil possui uma tradição de livre criação de partidos políti- cado aos partidos políticos propriamente.
cos que remonta à independência, mesmo considerando que, no-
toriamente, tais entidades não tenham demonstrado um conteúdo Fonte: https://www.infoescola.com/politica/partidos-politicos-e-elei-
ideológico sólido que lhes permita serem distintos uns aos outros coes-no-brasil/
através de toda história do Brasil como Império e República. Ao
mesmo tempo, nossa história democrática, apesar dos percalços e Revoltas conspirações e revoluções e a emancipação e os con-
de ocasionais interrupções, segue rumo à maturidade, tendo suas flitos sociais.
raízes mais antigas no período colonial, onde os cidadãos da Améri- As Revoltas do Período Colonial Brasileiro se dividiram entre
ca portuguesa já votavam para escolher os seus representantes em interesses nativistas e interesses separatistas.
O Brasil foi colonizado por Portugal a partir de 1500, mas a
níveis regionais.
efetiva exploração do território não começou no mesmo ano. Ini-
A evolução das forças e dos partidos políticos ao longo do Im-
cialmente, os portugueses apenas extraíam das terras brasileiras
pério (1822-1889) refletia os interesses dos países estrangeiros so-
o pau-brasil que era trocado com os indígenas. Na falta de metais
bre o Brasil, principalmente pelo fato do país ter sido colônia por-
preciosos, que demoraram ser encontrados, esse tipo de relação
tuguesa e também pelo fato da independência ser resultado direto
de troca, chamada escambo, permaneceu por algumas décadas. A
das negociações entre ingleses, portugueses e brasileiros. Como
postura dos portugueses em relação ao Brasil só se alterou quando
partidos permanentes, que resistiram até o fim do Império, existi-
a ameaça de perder a nova terra e seus benefícios para outras na-
ram somente dois, o Partido Conservador e o Partido Liberal, sob os
cionalidades aumentou.
quais orbitaram durante todo o período monárquico partidos me- Com o desenvolvimento da exploração do Brasil em sentido co-
nores e efêmeros. lonial, ou seja, tudo que era produzido em território brasileiro iria
Já na Primeira República, os partidos anteriores todos desapa- para Portugal, a metrópole e detentora dos lucros finais. Esse tipo
recem, surgindo conflitos entre novas ideologias emergentes, como de relação estava inserido na lógica do Mercantilismo que marcava
por exemplo militaristas, civilistas, comunistas e liberais, girando as ligações de produção e lucro entre colônias e suas respectivas
em torno da questão principal de divisão do poder entre militares e metrópoles. O modelo que possui essas características é chamado
grandes latifundiários, além da discussão da participação do capital de Pacto Colonial, mas as recentes pesquisas de historiadores estão
estrangeiro no país. demonstrando novas abrangências sobre a rigidez desse tipo de re-
O período de 1930 a 1945 será dominado pela carismática fi- lação comercial. Ao que parece, o Pacto Colonial não era tão rígido
gura de Getúlio Vargas, que estabelece um regime personalista, es- como se disse por muitos anos, a colônia tinha certa autonomia
pecialmente após a fundação do Estado Novo (1937), e consquente para negociar seus produtos e apresentar seus interesses.
proibição da atividade política. De toda forma, é certo que o tipo de relação entre metrópole
O período seguinte, conhecido como República Liberal, irá du- e colônia envolveu a prática da exploração. O objetivo das metró-
rar de 1945 a 1964, onde três importantes partidos disputam o po- poles era auferir o máximo de lucros possíveis com a produção das
der: PSD, PTB e UDN, e sob os quais orbitam menores agremiações colônias. No Brasil, antes do ouro ser encontrado e causar grande
como por exemplo o PSP e PST. alvoroço, a cana-de-açúcar era o principal produto produzido, na
A ditadura militar de 1964 faz nova “limpeza” na cena política região Nordeste.
brasileira, extinguindo todos os partidos legalmente instituídos, e A exploração excessiva que era feita pela metrópole portugue-
reforçando a perseguição aos postos na ilegalidade, especialmen- sa teve seus reflexos de descontentamento a partir do final do sé-
te o PCB (Partido Comunista Brasileiro, fundado em 1923, e ilegal culo XVII. Neste, ocorreu apenas um movimento de revolta, mas
durante maior parte de sua existência). Só duas agremiações eram foi ao longo do século XVIII que os casos se multiplicaram. Entre

13
HISTÓRIA
todos esses movimentos, podem-se distinguir duas orientações nas Desde as últimas décadas do século XVIII assinala-se na Amé-
revoltas: a de tipo nativista e a de tipo separatista. As revoltas que rica Latina a crise do Antigo Sistema Colonial. No Brasil, essa crise
se encaixam no primeiro modelo são caracterizadas por conflitos foi marcada pelas rebeliões de emancipação, destacando-se a In-
ocorridos entre os colonos ou defesa de interesses de membros da confidência Mineira e a Conjuração Baiana. Foram os primeiros mo-
elite colonial. Somente as revoltas de tipo separatista que pregavam vimentos sociais da história do Brasil a questionar o pacto colonial
uma independência em relação a Portugal. A Revolta dos Beckman e assumir um caráter republicano. Era apenas o início do processo
ocorreu no ano de 1684 sob liderança dos irmãos Manuel e Tomas de independência política do Brasil, que se estende até 1822 com
Beckman. O evento que se passou no Maranhão reivindicava me- o “sete de setembro”. Esta situação de crise do antigo sistema co-
lhorias na administração colonial, o que foi visto com maus olhos lonial, era na verdade, parte integrante da decadência do Antigo
pelos portugueses que reprimiram os revoltosos violentamente. Foi Regime europeu, debilitado pela Revolução Industrial na Inglaterra
a única revolta do século XVII. e principalmente pela difusão do econômico e dos princípios ilumi-
A Guerra dos Emboabas foi um conflito que ocorreu entre nistas, que juntos formarão a base ideológica para a Independên-
1708 e 1709. O confronto em Minas Gerais aconteceu porque os cia dos Estados Unidos (1776) e para a Revolução Francesa (1789).
bandeirantes paulistas queriam ter exclusividade na exploração do Trata-se de um dos mais importantes movimentos de transição na
ouro recém descoberto no Brasil, mas levas e mais levas de portu- História, assinalado pela passagem da idade moderna para a con-
gueses chegavam à colônia para investir na exploração. A tensão temporânea, representada pela transição do capitalismo comercial
culminou em conflito entre as partes. para o industrial.
A Guerra dos Mascates aconteceu logo em seguida, entre 1710
e 1711. O confronto em Pernambuco envolveu senhores de enge- Os Movimentos de Emancipação
nho de Olinda e comerciantes portugueses de Recife. A elevação de A Inconfidência Mineira destacou-se por ter sido o primeiro
Recife à categoria de vila desagradou a aristocracia rural de Olinda, movimento social republicano-emancipacionista de nossa história.
gerando um conflito. O embate chegou ao fim com a intervenção de Eis aí sua importância maior, já que em outros aspectos ficou mui-
Portugal e equiparação entre Recife e Olinda. to a desejar. Sua composição social por exemplo, marginalizava as
A Revolta de Filipe dos Santos aconteceu em 1720. O líder Fili- camadas mais populares, configurando-se num movimento elitista
pe dos Santos Freire representou a insatisfação dos donos de minas estendendo-se no máximo às camadas médias da sociedade, como
de ouro em Vila Rica com a cobrança do quinto e a instalação das intelectuais, militares, e religiosos. Outros pontos que contribuíram
Casas de Fundição. A Coroa Portuguesa condenou Filipe dos Santos para debilitar o movimento foram a precária articulação militar e a
à morte e encerrou o movimento violentamente. postura regionalista, ou seja, reivindicavam a emancipação e a re-
A Inconfidência Mineira, já com caráter de revolta separatis- pública para o Brasil e na prática preocupavam-se com problemas
ta, aconteceu em 1789. A revolta dos mineiros contra a exploração locais de Minas Gerais. O mais grave contudo foi a ausência de uma
dos portugueses pretendia tornar Minas Gerais independente de postura clara que defendesse a abolição da escravatura. O desfe-
Portugal, mas o movimento foi descoberto antes de ser deflagrado cho do movimento foi assinalado quando o governador Visconde de
e acabou sendo punido com rigidez pela metrópole. Tiradentes foi Barbacena suspendeu a derrama -- seria o pretexto para deflagrar a
morto e esquartejado em praça pública para servir de exemplo aos revolta - e esvaziou a conspiração, iniciando prisões acompanhadas
demais do que aconteceria aos descontentes com Portugal. de uma verdadeira devassa.
A Conjuração Baiana, também separatista, ocorreu em 1798. O
movimento ocorrido na Bahia pretendia separar o Brasil de Portu- Os líderes do movimento foram presos e enviados para o Rio
gal e acabar com o trabalho escravo. Foi severamente punida pela de Janeiro responderam pelo crime de inconfidência (falta de fi-
Coroa Portuguesa. delidade ao rei), pelo qual foram condenados. Todos negaram sua
participação no movimento, menos Joaquim José da Silva Xavier, o
Fonte: https://www.infoescola.com/historia/revoltas-do-periodo-colo- alferes conhecido como Tiradentes, que assumiu a responsabilida-
nial-brasileiro/ de de liderar o movimento. Após decreto de D. Maria I é revogada
a pena de morte dos inconfidentes, exceto a de Tiradentes. Alguns
tem a pena transformada em prisão temporária, outros em prisão
perpétua. Cláudio Manuel da Costa morreu na prisão, onde prova-
O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
velmente foi assassinado.
Tiradentes, o de mais baixa condição social, foi o único conde-
Para compreender o verdadeiro significado histórico da inde- nado à morte por enforcamento. Sua cabeça foi cortada e levada
pendência do Brasil, levaremos em consideração duas importantes para Vila Rica. O corpo foi esquartejado e espalhado pelos cami-
questões: nhos de Minas Gerais (21 de abril de 1789). Era o cruel exemplo
que ficava para qualquer outra tentativa de questionar o poder da
Em primeiro lugar, entender que o 07 de setembro de 1822 não metrópole.
foi um ato isolado do príncipe D. Pedro, e sim um acontecimento
que integra o processo de crise do Antigo Sistema Colonial, iniciada O exemplo parece que não assustou a todos, já que nove
com as revoltas de emancipação no final do século XVIII. Ainda é anos mais tarde iniciava-se na Bahia a Revolta dos Alfaiates, tam-
muito comum a memória do estudante associar a independência bém chamada de Conjuração Baiana. A influência da loja maçônica
do Brasil ao quadro de Pedro Américo, “O Grito do Ipiranga”, que Cavaleiros da Luz deu um sentido mais intelectual ao movimento
personifica o acontecimento na figura de D. Pedro. que contou também com uma ativa participação de camadas po-
pulares como os alfaiates João de Deus e Manuel dos Santos Lira.
Em segundo lugar, perceber que a independência do Brasil, Eram pretos, mestiços, índios, pobres em geral, além de soldados
restringiu-se à esfera política, não alterando em nada a realidade e religiosos. Justamente por possuir uma composição social mais
sócio-econômica, que se manteve com as mesmas características abrangente com participação popular, a revolta pretendia uma re-
do período colonial. pública acompanhada da abolição da escravatura. Controlado pelo
Valorizando essas duas questões, faremos uma breve avaliação governo, as lideranças populares do movimento foram executadas
histórica do processo de independência do Brasil. por enforcamento, enquanto que os intelectuais foram absolvidos.

14
HISTÓRIA
Outros movimentos de emancipação também foram controla- aristocracia rural brasileira. Um abaixo assinado de oito mil assina-
dos, como a Conjuração do Rio de Janeiro em 1794, a Conspiração turas foi levado por José Clemente Pereira (presidente do Senado)
dos Suaçunas em Pernambuco (1801) e a Revolução Pernambucana a D. Pedro em 9 de janeiro de 1822, solicitando sua permanência
de 1817. Esta última, já na época que D. João VI havia se estabeleci- no Brasil. Cedendo às pressões, D. Pedro decidiu-se: “Como é para
do no Brasil. Apesar de contidas todas essas rebeliões foram deter- o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto. Diga ao
minantes para o agravamento da crise do colonialismo no Brasil, já povo que fico”.
que trouxeram pela primeira vez os ideais iluministas e os objetivos É claro que D. Pedro decidiu ficar bem menos pelo povo e bem
republicanos. mais pela aristocracia, que o apoiaria como imperador em troca da
futura independência não alterar a realidade socioeconômica colo-
A Família Real no Brasil e a Preponderância Inglesa nial. Contudo, o Dia do fico era mais um passo para o rompimen-
Se o que define a condição de colônia é o monopólio imposto to definitivo com Portugal. Graças a homens como José Bonifácio
pela metrópole, em 1808 com a abertura dos portos, o Brasil deixa- de Andrada e Silva (patriarca da independência), Gonçalves Ledo,
va de ser colônia. O monopólio não mais existia. Rompia-se o pacto José Clemente Pereira e outros, o movimento de independência
colonial e atendia-se assim, os interesses da elite agrária brasileira, adquiriu um ritmo surpreendente com o cumpra-se, onde as leis
acentuando as relações com a Inglaterra, em detrimento das tradi- portuguesas seriam obedecidas somente com o aval de D. Pedro,
cionais relações com Portugal. que acabou aceitando o título de Defensor Perpétuo do Brasil (13
de maio de 1822), oferecido pela maçonaria e pelo Senado. Em 3
Esse episódio, que inaugura a política de D. João VI no Brasil, de junho foi convocada uma Assembleia Geral Constituinte e Le-
é considerado a primeira medida formal em direção ao “sete de gislativa e em primeiro de agosto considerou-se inimigas as tropas
setembro”. portuguesas que tentassem desembarcar no Brasil.

Há muito Portugal dependia economicamente da Inglaterra. São Paulo vivia um clima de instabilidade para os irmãos Andra-
Essa dependência acentua-se com a vinda de D. João VI ao Brasil, das, pois Martim Francisco (vice-presidente da Junta Governativa
que gradualmente deixava de ser colônia de Portugal, para entrar de São Paulo) foi forçado a demitir-se, sendo expulso da província.
na esfera do domínio britânico. Para Inglaterra industrializada, a in- Em Portugal, a reação tornava-se radical, com ameaça de envio de
dependência da América Latina era uma promissora oportunidade tropas, caso o príncipe não retornasse imediatamente.
de mercados, tanto fornecedores, como consumidores.
José Bonifácio, transmitiu a decisão portuguesa ao príncipe,
Com a assinatura dos Tratados de 1810 (Comércio e Navegação juntamente com carta sua e de D. Maria Leopoldina, que ficara no
e Aliança e Amizade), Portugal perdeu definitivamente o monopólio Rio de Janeiro como regente. No dia sete de setembro de 1822 D.
do comércio brasileiro e o Brasil caiu diretamente na dependência Pedro que se encontrava às margens do riacho Ipiranga, em São
do capitalismo inglês. Paulo, após a leitura das cartas que chegaram em suas mãos, bra-
dou: “É tempo... Independência ou morte... Estamos separados de
Em 1820, a burguesia mercantil portuguesa colocou fim ao Portugal”. Chegando no Rio de Janeiro (14 de setembro de 1822), D.
absolutismo em Portugal com a Revolução do Porto. Implantou-se Pedro foi aclamado Imperador Constitucional do Brasil. Era o início
uma monarquia constitucional, o que deu um caráter liberal ao mo- do Império, embora a coroação apenas se realizasse em primeiro de
vimento. Mas, ao mesmo tempo, por tratar-se de uma burguesia dezembro de 1822.
mercantil que tomava o poder, essa revolução assume uma postu-
ra recolonizadora sobre o Brasil. D. João VI retorna para Portugal e A independência não marcou nenhuma ruptura com o proces-
seu filho aproxima-se ainda mais da aristocracia rural brasileira, que so de nossa história colonial. As bases socioeconômicas (trabalho
sentia-se duplamente ameaçada em seus interesses: a intenção re- escravo, monocultura e latifúndio), que representavam a manu-
colonizadora de Portugal e as guerras de independência na América tenção dos privilégios aristocráticos, permaneceram inalteradas.
Espanhola, responsáveis pela divisão da região em repúblicas. O “sete de setembro” foi apenas a consolidação de uma ruptura
política, que já começara 14 anos atrás, com a abertura dos portos.
O Significado Histórico da Independência
A aristocracia rural brasileira encaminhou a independência do Fonte: http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codi-
Brasil com o cuidado de não afetar seus privilégios, representados go=3
pelo latifúndio e escravismo. Dessa forma, a independência foi im-
posta verticalmente, com a preocupação em manter a unidade na-
cional e conciliar as divergências existentes dentro da própria elite
rural, afastando os setores mais baixos da sociedade representados BRASIL IMPERIAL - O PRIMEIRO REINADO, O PERÍODO
por escravos e trabalhadores pobres em geral. REGENCIAL E O SEGUNDO REINADO: ASPECTOS, PO-
Com a volta de D. João VI para Portugal e as exigências para LÍTICOS, ADMINISTRATIVOS, MILITARES, CULTURAIS,
que também o príncipe regente voltasse, a aristocracia rural passa ECONÔMICOS, SOCIAIS, TERRITORIAIS, A POLÍTICA
a viver sob um difícil dilema: conter a recolonizarão e ao mesmo EXTERNA, A QUESTÃO ABOLICIONISTA, O PROCESSO
tempo evitar que a ruptura com Portugal assumisse o caráter re- DE MODERNIZAÇÃO, A CRISE DA MONARQUIA E A
volucionário-republicano que marcava a independência da América PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
Espanhola, o que evidentemente ameaçaria seus privilégios.
Brasil Imperial é um período da história brasileira entre 7 de
A maçonaria (reaberta no Rio de Janeiro com a loja maçônica
setembro de 1822 (Independência do Brasil) e 15 de novembro de
Comércio e Artes) e a imprensa uniram suas forças contra a postura
recolonizadora das Cortes. 1889 (Proclamação da República). Neste período, o Brasil foi gover-
D. Pedro é sondado para ficar no Brasil, pois sua partida pode- nado por dois monarcas: D. Pedro I e D. Pedro II.
ria representar o esfacelamento do país. Era preciso ganhar o apoio
de D. Pedro, em torno do qual se concretizariam os interesses da

15
HISTÓRIA
Entre 25 e 27 de novembro de 1807, cerca de 10 a 15 mil pes-
soas embarcaram em navios portugueses rumo ao Brasil, sob a pro-
teção da frota inglesa. Todo um aparelho burocrático vinha para a
Colônia: ministros, conselheiros, juízes da Corte Suprema, funcio-
nários do Tesouro, patentes do Exército e da Marinha, membros do
alto clero. Seguiam também o tesouro real, os arquivos do governo,
uma máquina impressora e várias bibliotecas que seriam a base da
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
A expedição portuguesa era composta de 46 embarcações,
que foram escoltadas até a costa brasileira pela Marinha inglesa.
A viagem foi cheia de percalços, como uma tempestade que sepa-
rou parte dos navios, a falta de comida por causa da quantidade de
pessoas e, de acordo com os historiadores, um surto de piolhos que
A Independência do Brasil forçou as mulheres a rasparem os cabelos.
Em 1799, Napoleão Bonaparte assumiu o poder na França. D. João VI e toda a Corte portuguesa chegaram ao Brasil, na
Seus projetos industrialistas e expansionistas levaram ao confronto região de Salvador, em janeiro de 1808. No mês seguinte, o rei por-
direto com a Inglaterra. Por isso, em 1806, determinou o Bloqueio tuguês embarcou para a cidade do Rio de Janeiro, chegando a essa
Continental: o continente foi proibido de manter relações com os cidade em março. Do Rio de Janeiro, D. João VI governaria Portugal
britânicos. Isto afetou diretamente Portugal. e o Brasil até 1821, quando, então, retornou à Europa.
Ameaçada de invasão, a Corte do Regente D. João retirou-se
para o Brasil. Pressões inglesas e brasileiras o levaram a assinar a Quais grandes mudanças ocorreram com a chegada de D. João
abertura dos portos, em 1808, pondo um fim no Pacto Colonial. Era VI ao Brasil?
o domínio inglês. Assim que chegou ao Brasil, D. João VI tomou a primeira medi-
Os Tratados de 1810 selaram de vez tal domínio. E o Brasil foi da de relevância: a abertura dos portos brasileiros às nações ami-
elevado a Reino Unido de Portugal, em 1815. Esta submissão de D. gas. Isso aconteceu no dia 28 de janeiro de 1808 e iniciou todas as
João a Londres irritou profundamente a burguesia lusitana, pois a mudanças que estavam por vir. A abertura dos portos brasileiros
Independência parecia inevitável. Mesmo a repressão joanina aos às nações amigas significava, na prática, que a única nação a bene-
republicanos da Revolução Pernambucana de 1817 não bastou para ficiar-se disso seria a Inglaterra, dona de um gigantesco comércio
aplacar a ira de Lisboa. marítimo.
Assim, em 1820, a Revolução do Porto implantou a monarquia Essa medida significou o fim do monopólio comercial exercido
constitucional e D. João VI voltou a Portugal. Aqui deixou o Príncipe por Portugal sobre as atividades econômicas do Brasil e permitia
D. Pedro como Regente. Formaram-se duas agremiações rivais: o aos comerciantes e grandes proprietários brasileiros negociar dire-
Partido Português, desejando a recolonização do Brasil, e o Partido tamente com seus compradores estrangeiros. Para Portugal, essa
Brasileiro, da aristocracia. Em 1822, por duas vezes, D. Pedro foi in- medida era resultado de uma necessidade óbvia, uma vez que, com
timado a retornar: em 9 de Janeiro deu a decisão do “Fico” e a 7 de a ocupação francesa, seria impossível comercializar com os portos
Setembro, o “Grito do Ipiranga”. Nascia o Império. portugueses.
Outras decisões importantes tomadas por D. João VI foram a
Período Joanino permissão para instalar manufaturas no Brasil e a criação de incen-
O Período Joanino refere-se ao momento da história da colo- tivos para que essas manufaturas surgissem. Apesar dessa medi-
nização brasileira marcado pela presença da família real portugue- da ser extremamente importante, as mercadorias manufaturadas
sa no Brasil. Essa época específica foi iniciada em 1808, quando a produzidas no Brasil sofriam com a concorrência das mercadorias
Corte portuguesa e D. João VI chegaram ao Brasil, e estendeu-se inglesas, que possuíam mais qualidade e um preço atrativo (Por-
até 1821, quando esse rei, pressionado pelas cortes portuguesas, tugal taxou as mercadorias inglesas em apenas 15% de imposto al-
optou por retornar para Portugal. Durante esse período, a família fandegário).
real portuguesa habitou a cidade do Rio de Janeiro. Por ordem de D. João VI, foram desenvolvidas faculdades de
Por que a família real portuguesa mudou-se para o Brasil? medicina em Salvador e no Rio de Janeiro. Além disso, construíram-
A mudança da família real portuguesa para o Brasil estava rela- -se museus, teatros e bibliotecas, e foi permitida a instalação de
cionada com os acontecimentos na Europa durante o Período Na- uma tipografia na cidade do Rio de Janeiro. Tudo isso contribuiu
poleônico. Como forma de enfraquecer economicamente a Ingla- para o crescimento do intelectualismo no Brasil e possibilitou a cir-
terra, Napoleão Bonaparte decretou o Bloqueio Continental, que culação de ideias, sobretudo na capital.
consistia na proibição às nações europeias de comercializar com a Esse crescimento do intelectualismo no Brasil acabou incenti-
Inglaterra. vando a vinda de intelectuais e artistas estrangeiros notáveis da-
Segundo essa política estabelecida por Napoleão, as nações quele período, como a viagem do botânico e naturalista francês
que não aderissem ao bloqueio seriam militarmente invadidas pe- Auguste de Saint-Hilaire e a Missão Artística Francesa, que trouxe
las tropas francesas. Portugal não aceitou aderir a esse bloqueio, importantes artistas franceses, com destaque para Debret e suas
justamente porque a Inglaterra era sua maior aliada política e eco- pinturas sobre o Rio de Janeiro.
nômica. Para fechar essa brecha existente, Napoleão ordenou a in- No entanto, a medida mais importante tomada por D. João
vasão da Península Ibérica em 1807. ocorreu em 1815, quando o Brasil foi elevado à condição de Reino
Com a invasão francesa, Napoleão destituiu o rei espanhol e e, assim, surgiu o Reino de Portugal, Brasil e Algarves. Isso aconte-
colocou seu irmão, José Bonaparte, no trono espanhol. Durante a ceu porque as nações integrantes do Congresso de Viena considera-
invasão napoleônica em Portugal, D. João VI optou por fugir da pre- vam inaceitável que um rei europeu estivesse em uma colônia e não
sença das tropas francesas e, assim, realizou o embarque às pressas em seu reino de fato. Como resposta, D. João VI tomou essa medida
com tudo o que pudesse carregar para o Brasil. A respeito disso, e transformou o Brasil em parte integrante do reino português.
segue o relato de Boris Fausto:

16
HISTÓRIA
Além de permitirem o desenvolvimento econômico e intelec-
tual do Rio de Janeiro, todas essas mudanças resultaram no aumen-
to populacional da cidade do Rio de Janeiro, que passou de 50 mil
habitantes, em 1808, para 100 mil habitantes em 1822.

Como foi a política externa de D. João durante o Período Jo-


anino?
Enquanto esteve presente no Brasil, D. João VI envolveu-se di-
retamente em questões territoriais com nações vizinhas e territó-
rios vizinhos dominados por nações estrangeiras. Primeiramente,
houve a invasão da Guiana Francesa, realizada em 1809. D. João
VI ordenou essa ocupação, junto com tropas inglesas, como repre-
sália à ocupação de Portugal pelos franceses. A presença lusitana
na Guiana Francesa estendeu-se até 1817, quando essa região foi
devolvida para a França após a derrota de Napoleão.
Outra questão muito importante, e que gerou impactos no Bra- Quinta da Boa Vista
sil após a independência, foi o conflito pela Cisplatina. Por ordem
de D. João VI, a Banda Oriental do Rio da Prata (atual Uruguai) foi A reação veio na revolta da Confederação do Equador, em
invadida e anexada ao território brasileiro em 1811. Pouco tempo 1824. A repressão custou a vida de expoentes liberais, como Frei
depois, em 1816, foram travadas guerras contra José Artigas, que Caneca. Neste mesmo ano os E.U.A. reconheceram o Brasil livre.
lutava pela independência do Uruguai. Mas os reconhecimentos português e inglês só vieram após intrin-
cadas negociações que geraram a dívida externa. Em seguida, Pedro
Como foi o retorno de D. João VI para Portugal? I envolveu-se na questão sucessória portuguesa e na Guerra Cispla-
O retorno da Corte portuguesa a Portugal decorreu das pres- tina, perdendo o Uruguai.
sões que D. João VI passou a sofrer da burguesia portuguesa a partir Em 1830, as agitações resultaram no assassinato do jornalista
de 1820. Nesse momento, era iniciada a Revolução Liberal do Porto, de oposição Líbero Badaró e na “noite das garrafadas”, entre lusos
na qual a burguesia formou as cortes portuguesas (espécie de as- e brasileiros. Foi a crise final: no dia 7 de Abril de 1831, a abdicação
sembleia) e passou a exigir mudanças em Portugal de acordo com de D. Pedro encerrou o 1 Reinado.
os princípios liberais e ilustrados em voga.
Os liberais portugueses queriam que algumas mudanças fos- As Regências do Império
sem implantadas com a finalidade de recuperar a economia portu- O Período Regencial (1831-40) foi o mais conturbado do Impé-
guesa. As principais exigências das cortes portuguesas eram o re- rio. Durante as Regências Trinas, Provisória e Permanente, a disputa
baixamento do Brasil novamente à condição de colônia e o retorno pelo poder caracterizou um “Avanço Liberal”. O Partido Português
imediato de D. João VI para Portugal. Essas pressões exercidas pelas tornou-se o grupo restaurador “Caramuru” defendendo a volta de
cortes portuguesas forçaram o rei a retornar por causa do temor de Pedro I; o Partido Brasileiro dividiu-se nos grupos Exaltado (“Farrou-
perder o trono português. pilha”) e Moderado (“Chimango”), respectivamente a favor e contra
D. João VI retornou para Portugal com aproximadamente qua- uma maior descentralização política.
tro mil pessoas em 1821, no entanto, deixou seu filho D. Pedro, A Regência Trina Permanente criou, em 1831, a Guarda Nacio-
futuro D. Pedro I, como regente do Brasil. As tensões provocadas nal, através do Ministro da Justiça Padre Diogo Feijó. A nova arma
pelas cortes portuguesas com o Brasil e D. Pedro criaram a ruptura servia à repressão interna e deu origem aos “coronéis” das elites
que deu início ao processo de independência do Brasil. agrárias. A Constituição foi reformada através do Ato Adicional de
1834. Foram criadas as Assembleias Legislativas Provinciais, abolido
O Primeiro Reinado o Conselho de Estado e substituída a Regência Trina pela Una.
A monarquia brasileira consolidou-se de forma crítica. A marca Estas parcas vitórias liberais produziram, então, o Regresso
do 1 Reinado foi a disputa pelo poder entre o Imperador Pedro I e a Conservador. Os regentes Feijó, do Partido Progressista, e Araújo
elite aristocrática nacional. O primeiro confronto deu-se na outorga Lima, do Regressista, enfrentaram a radicalização das Rebeliões Re-
da Constituição de 1824. genciais: Cabanagem (PA), Sabinada (BA), Balaiada (MA) e a Guerra
Durante o ano anterior as relações entre o governo e a Assem- dos Farrapos (RS/SC) foram as principais. Todas de caráter federa-
bleia Constituinte foram tensas. Enquanto a maioria “brasileira” tivo, embora tão distintas. E a principal foi o Golpe da Maioridade,
pretendia reduzir o poder do Trono, os “portugueses” defendiam a em 1840.
monarquia centralista. O desfecho foi o golpe da “noite da agonia”:
a Constituinte foi dissolvida. D. Pedro, então, outorgou a Constitui-
ção que seus conselheiros elaboraram e fortaleceu-se com o Poder
Moderador.

17
HISTÓRIA
O segundo reinado - de 1840 a 1889 A estabilidade política revelou a contradição entre as aparên-
cias democráticas e a essência autoritária do regime. As eleições
eram censitárias e fraudulentas, apelidadas de “Eleições do Cace-
te”. Os Partidos Liberal e Conservador eram elitistas, sem diferenças
ideológicas significativas. E o parlamentarismo às avessas permitia
ao Poder Moderador do rei manipular tanto o 1 Ministro como o
Parlamento.
Entre 1851 e 1870, o Império enfrentou as Guerras Externas
no Prata. Foram conflitos sangrentos causados pelo caudilhismo ex-
pansionista, pelo controle da navegação nos rios da Bacia Platina e
influenciados pelos interesses ingleses na região.
Principalmente a Guerra contra Solano Lopes (Paraguai) trouxe
drásticos aumentos na dívida externa e influências políticas sobre
os militares, atuantes de ora em diante no movimento republicano.

O Império do Café O Movimento Republicano e o 13 de Maio


O café foi introduzido no Brasil em princípios do século XVIII. Os partidos e grupos agrários revezavam-se no poder numa
Sua rápida ascensão o pôs na ponta da economia entre as déca- gangorra viciada e alheia aos reclamos da sociedade em mutação.
das de trinta dos séculos XIX e XX. A independência e a revolta dos O trabalho assalariado imigrante e a semi-servidão sufocavam a es-
escravos no Haiti, principal produtor, abriu espaço para o Brasil no cravidão. E Pedro II observava estrelas.
mercado mundial. Em 1870, através do jornal A República, o Manifesto Republica-
O café pôde aproveitar a infraestrutura econômica já instalada no de Quintino Bocaiúva lançou a proposta do Partido Republicano
no Sudeste, os solos adequados da região (sobretudo a terra roxa) à sociedade. Mas só três anos depois, com a fundação do Partido
e não precisou de mão-de-obra qualificada na instalação das pri- Republicano Paulista na Convenção de Itu, surgiu o grupo dos “Re-
meiras lavouras. Assim, o investimento inicial de capital foi relati- publicanos Históricos”.
vamente baixo. Os “Republicanos Idealistas” organizaram-se em torno do Exér-
As consequências imediatas mostraram-se na modernização cito, que fundou o Clube Militar. Dessa forma, os cafeicultores e as
das relações de produção. O café foi gradativamente substituindo emergentes classes médias urbanas encontravam seus interlocuto-
os escravos pelos assalariados, sobretudo imigrantes europeus. res. A Campanha Abolicionista tomou espaço com a Lei do Ventre-
Para tanto, contribuíram as pressões inglesas pelo fim do tráfico -Livre de 1871, mesmo ano da Questão Religiosa, entre o governo
negreiro. e a cúpula católica.
Em 1844, foi aprovada a Lei Alves Branco, que extinguiu taxas A Lei Saraiva-Cotegipe libertou os sexagenários em meio à
alfandegárias favoráveis aos ingleses, vigentes desde 1810. Invo- Questão Militar. A 13 de Maio de 1888 a Princesa Isabel assinou a
cando os mesmos tratados daquele ano, foi promulgado o Bill Aber- Lei Áurea, extinguindo a escravidão no Brasil. Foi a gota d’água. A
deen, em 1845. Esta lei, juntamente com a Lei Eusébio de Queirós monarquia desabou no dia 15 de novembro de 1889. O Marechal
de 1850, extinguiram o tráfico e levantaram a questão abolicionista. Deodoro da Fonseca expulsou a família Bragança do Brasil e instau-
Eram os primeiros passos capitalistas de um país, ainda incapaz rou a República.
de aceitar a industrialização sonhada pelo Barão de Mauá.
Resumo Cronológico dos principais fatos da História do Brasil
A Glória de Pedro II Imperial

Principais fatos históricos do Primeiro Reinado (1822 a 1831)


- 7 de setembro de 1822: Proclamação da Independência do
Brasil por D. Pedro I (então príncipe regente).
- 12 de outubro de 1822 - D. Pedro I é aclamado imperador no
Rio de Janeiro.
- 1823 - Reunião da Assembleia Geral Constituinte e Legislati-
va com o objetivo de criar a primeira constituição brasileira. Com
pouco tempo de trabalha, a Assembleia é dissolvida pelo imperador
que cria o Conselho de Estado.
- 1824 - A Constituição Brasileira é outorgada por D. Pedro I.
- 1824 - Confederação do Equador: movimento revolucionário
e emancipacionista ocorrido na região nordeste do Brasil.
- 1825 a 1828 - Guerra da Cisplatina: movimento que tornou a
região do Uruguai independente do Brasil.
- 1831 - Após muitos protestos populares e oposição de vários
D. Pedro II setores da sociedade, D. Pedro I abdica ao trono em favor de seu
filho.
Em 1847, o jovem imperador prematuramente entronado em
1840, completou vinte anos. Foi instaurado o sistema parlamenta- Principais fatos históricos do Período Regencial (1831 a 1840)
rista de governo e o café ganhou os mercados do mundo. A última - Neste período o Brasil foi governado por regentes. Regência
guerra civil do Império sangrou Pernambuco na Revolução Praieira Trina Provisória, Regência Trina Permanente, Regência Una de Feijó,
de 1848. A monarquia mostrava-se mais uma vez surda às reivindi- Regência Una de Araújo Lima
cações “radicais” dos liberais.

18
HISTÓRIA
- O período foi marcado por várias revoltas sociais. A maior par- 2. (IFB/2017 – IFB) “A principal característica política da in-
te delas eram em protesto contra as péssimas condições de vida, dependência brasileira foi a negociação entre a elite nacional, a
alta de impostos, autoritarismo e abandono social das camadas coroa portuguesa e a Inglaterra, tendo como figura mediadora o
mais populares da população. Neste contexto podemos citar: Ba- príncipe D. Pedro”
laiada, Cabanagem, Sabinada, Guerra dos Malês, Cabanada e Revo- (CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 1.
lução Farroupilha. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p. 26).
- 1840 (23 de julho) - Golpe da Maioridade com apoio do Parti-
do Liberal. Maioridade de Dom Pedro II foi declarada. Leia as afirmativas com relação ao processo de emancipação
política do Brasil.
Principais fatos históricos do Segundo Reinado (1840 a 1889) I) As tentativas das Cortes lusitanas em recolonizar o Brasil uni-
- 1841 - Dom Pedro II é coroado imperador do Brasil. ram os luso-americanos em torno da ideia de perpetuar os laços
- 1844 - Decretação da Tarifa Alves Branco que protege as ma- políticos que uniam, entre si, os lados europeu e americano do Im-
nufaturas brasileiras. pério Português.
- 1850 - Lei Eusébio de Queiróz: fim do tráfico de escravos. II) A escolha da monarquia em vez da república, como alternati-
- 1862 e 1865 - Questão Christie - rompimento das relações va política para o Brasil independente, derivou da convicção da elite
diplomáticas entre Brasil e Grã-Bretanha. brasileira de que só um monarca poderia manter a ordem social e
- 1864 a 1870 - Guerra do Paraguai - conflito militar na América a união territorial.
do Sul entre o Paraguai e a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uru- III) Desde o retorno do Rei D. João VI para Portugal, em 1821, a
guai) com o apoio do Reino Unido. Em 1870 é declarada a derrota elite brasileira percebeu a necessidade de uma solução política que
do Paraguai. implicasse a separação entre Brasil e Portugal.
- 1870 - Fundação do Partido Republicano Brasileiro. IV) O papel dos escravos e livres pobres foi decisivo para a tran-
- 1871 - Lei do Ventre Livre: liberdade aos filhos de escravas, sição do Brasil de colônia para emancipado politicamente.
nascidos a partir daquela data. V) A independência do Brasil trouxe grandes limitações dos di-
- 1872 a 1875 - Questão Religiosa: conflito pelo poder entre a reit
Igreja Católica e a monarquia brasileira. os civis, uma vez que manteve a escravidão.
- 1875 - Começa o período de imigração para o Brasil. Italianos, Assinale a alternativa que apresenta somente as afirmativas
espanhóis, alemães e japoneses chegam ao Brasil para trabalharem CORRETAS.
na lavoura de café e nas indústrias. a) I, V
- 1882 - Início do Ciclo da Borracha: o Brasil torna-se um dos b) II, IV
principais produtores e exportadores de borracha do mundo. c) II, V
- 1884 a 1887 - Questão Militar: crise política e conflitos entre a d) I, IV
Monarquia Brasileira e o Exército. e) III, IV
- 1885 - Lei dos Sexagenários: liberdade aos escravos com mais
de 65 anos de idade. 3. (CESPE - Instituto Rio Branco) Durante o Primeiro Reinado
- 1888 - Lei Áurea decretada pela Princesa Isabel: abolição da consolidou-se a independência nacional, construiu-se o arcabou-
escravidão no Brasil. ço institucional do Império do Brasil e estabeleceram-se relações
- 1889 - Proclamação da República no Brasil em 15 de novem- diplomáticas com diversos países. Acerca desse período da histó-
bro. Fim da Monarquia e início da República. ria do Brasil, julgue (C ou E) o item subsequente.
Originalmente uma questão concernente apenas ao eixo das
relações simétricas entre os Estados envolvidos, a Guerra da Cis-
EXERCÍCIOS platina encerrou-se com a interferência de uma potência externa
ao conflito.
( ) CERTO
1. (UFMT- IF/MT) Durante o período imperial brasileiro, o libe- ( ) ERRADO
ralismo foi uma das correntes políticas influentes na composição
do nascente Estado independente, tendo, em diferentes momen- 4. (MPE/GO– MPE/GO) Acerca da história do Brasil, é incor-
tos, pautado seus rumos. Há que se observar, no entanto, que, reto afirmar:
diferentemente do modelo europeu, o liberalismo encontrado no a) Em 15 de novembro de 1889, ocorreu a Proclamação da Re-
Brasil tinha suas idiossincrasias. A partir do exposto, marque V pública pelo Marechal Deodoro da Fonseca e teve início a Repúbli-
para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas. ca Velha, que só veio terminar em 1930 com a chegada de Getúlio
( ) Os limites do liberalismo brasileiro estiveram marcados pela Vargas ao poder. A partir daí, têm destaque na história brasileira a
manutenção da escravidão e da estrutura arcaica de produção. industrialização do país; sua participação na Segunda Guerra Mun-
( ) Os adeptos do liberalismo pertenciam às classes médias ur- dial ao lado dos Estados Unidos; e o Golpe Militar de 1964, quando
banas, agentes públicos e manumitidos ou libertos. o general Castelo Branco assumiu a Presidência.
( ) O liberalismo brasileiro mostrou seus limites durante a ela- b) A ditadura militar, a pretexto de combater a subversão e a
boração da Constituição de 1824. corrupção, suprimiu direitos constitucionais, perseguiu e censurou
( ) A aproximação de D. Pedro I com os portugueses no Brasil os meios de comunicação, extinguiu os partidos políticos e criou o
ajudou a estruturar o pensamento liberal no primeiro reinado. bipartidarismo. Após o fim do regime militar, os deputados federais
e senadores se reuniram no ano de 1988 em Assembléia Nacional
Assinale a sequência correta. Constituinte e promulgaram a nova Constituição, que amplia os di-
a) F, V, F, V reitos individuais. O país se redemocratiza, avança economicamen-
b) V, V, F, F te e cada vez mais se insere no cenário internacional.
c) V, F, V, F
d) F, F, V, V

19
HISTÓRIA
c) O período que vai de 1930 a 1945, a partir da derrubada do 8. (CESPE - 2008 - Instituto Rio Branco - Diplomata - 1ª Etapa
presidente Washington Luís em 1930, até a volta do país à demo- ÁGUA) No período joanino (1808-1821), foi encaminhado o proces-
cracia em 1945, é chamado de Era Vargas, em razão do forte con- so de Independência, visto que a situação política, econômica e jurí-
trole na pessoa do caudilho Getúlio Domeles Vargas, que assumiu dica do Brasil orientava-se nesse sentido. Assinale a opção incorreta
o controle do país, no período. Neste período está compreendido o acerca desse período.
chamado Estado Novo (1937-1945). a) Importantes pensadores ou dirigentes portugueses haviam
d) Em 1967, o nome do país foi alterado para República Fede- concebido, de tempos em tempos, a transferência da Corte portu-
rativa do Brasil. guesa para o Brasil, a qual não ocorreu em 1807 apenas por pressão
e) Fernando Collor foi eleito em 1989, na primeira eleição dire- inglesa.
ta para Presidente da República desde 1964. Seu governo perdurou b) A promoção das manufaturas era considerada como com-
até 1992, quando foi afastado pelo Senado Federal devido a proces- ponente nocivo aos interesses de Portugal e, por tal razão, esteve
so de “impugnação” movido contra ele. ausente na política de D. João no Brasil.
c) A Corte do Rio de Janeiro fez-se representar no Congresso
5. (MPE/GO– MPE/GO) A volta democrática de Getúlio Vargas ao po- de Viena, que traçou a ordem internacional após a era napoleônica.
der, após ser eleito no ano de 1950, ficou caracterizada pelo presidente: d) No Rio de Janeiro, D. João concebia a expansão ao norte e
a) ter se aproximado dos antigos líderes militares do Estado ao sul do Brasil, por meio de invasões de territórios sob dominação
Novo e ter dado um golpe de Estado em 1952. francesa ou espanhola, com o fim de robustecer o império luso na
b) ter exercido um governo de tendência populista e ter se sui- América.
cidado em 1954. e)O retorno de D. João a Portugal, em 1821, ocorreu por exi-
c) ter exercido um governo de tendência autoritária, com o gência de Lisboa, onde se instalara um governo dito revolucionário.
apoio de Carlos Lacerda.
d) ter exercido um governo de tendência populista que foi a 9. (IBFC - 2015 - SEE-MG - Professor de Educação Básica - Nível
base para sua reeleição em 1955. I - Grau A - História) O processo de transição do Brasil colonial para
e) não ter levado o governo adiante por motivos de saúde, sen- Império, sem dúvida alguma, foi importantíssimo na história do
do substituído por seu vice, Café Filho, em 1951. nosso país. Sobre o ensino desse tema, dentro das orientações do
Centro de Referência Virtual da Secretaria de Estado de Educação
6. (NC-UFPR – UFPR) Sobre a redemocratização no Brasil pós - de Minas Gerais, analise as afirmativas a seguir e assinale a alter-
ditadura, assinale a alternativa correta. nativa correta.
a) Uma das ações que marcou o processo de redemocratização I. A Independência, ou seja, a separação política de Portugal é
foi a campanha pelas eleições diretas para a presidência da Repúbli- estudada, em muitos casos, como fruto da formação de uma cons-
ca, que ficou conhecida como “Diretas já”.
ciência nacional, o que de fato aconteceu nesse período.
b) O bipartidarismo foi uma das marcas do período pós-dita-
II. Para se entender a independência do Brasil sem os vícios de
dura, motivo pelo qual a ARENA e o MDB foram os únicos partidos
interpretação tão comuns a esse assunto, torna-se imprescindível o
políticos autorizados a funcionar no período
estudo da vinda da corte para o Brasil e do período Joanino.
c) O presidente Tancredo Neves foi o primeiro presidente eleito
III. Em Portugal, a devastação e a miséria provocadas pela guer-
pelo voto popular após a ditadura militar.
ra ganhavam tonalidades mais fortes com os novos tratados que es-
d) Devido às graves denúncias que ocorreram, o presidente
tavam sendo firmados, como os de 1810. Estes retiravam qualquer
José Sarney foi afastado da presidência da República. Esse processo
ficou conhecido como impeachment esperança de se fazer valer novamente o antigo comércio interme-
e) Fernando Collor de Mello foi um dos presidentes eleitos diário de produtos coloniais que era exercido pelos comerciantes
após a ditadura militar e ficou famoso pela criação do Programa portugueses.
Bolsa-Família.
Estão corretas as afirmativas:
7. (CESPE/ – DEPEN) Na década de 90 do século passado, pela a) I e III, apenas.
primeira vez em dois séculos, faltava inteiramente ao mundo, qual- b) II e III, apenas.
quer sistema ou estrutura internacional. O único Estado restante c) I e II, apenas.
que teria sido reconhecido como grande potência, eram os Estados d) I, II e III.
Unidos da América. O que isso significava na prática era bastante
obscuro. A Rússia fora reduzida ao tamanho que tinha no século
XII. A Grã-Bretanha e a França gozavam apenas de um status pura- GABARITO
mente regional. A Alemanha e o Japão eram sem dúvida “grandes
potências” econômicas, mas nenhum dos dois sentira a necessida- 1 C
de de apoiar seus enormes recursos econômicos com força militar.
Eric Hobsbawm. Era dos extremos. O breve século XX, 1914-1991. São 2 C
Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 538 (com adaptações). 3 CERTO

A partir das ideias apresentadas no texto, julgue o próximo 4 E


item, referentes à política internacional no século XX e à ordem 5 B
mundial instaurada após o fim da Guerra Fria.
6 A
A despeito da derrocada da antiga União Soviética em 1991, o
contexto imediatamente posterior à Guerra Fria não foi marcado 7 CERTO
pelo estabelecimento de um sistema internacional organizado para 8 B
reduzir conflitos e garantir o equilíbrio entre os estados.
( ) CERTO 9 B
( ) ERRADO

20
SOCIOLOGIA
1. Relações entre indivíduo e sociedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Distinção do espaço público e privado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
3. Estado e os direitos humanos, cidadania e diversidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02
SOCIOLOGIA
tempo objeto e sujeito do conhecimento. Aquele que desempenha
RELAÇÕES ENTRE INDIVÍDUO E SOCIEDADE as ações sociais e as interpreta. Por isso se busca tanto a objetivida-
de nos casos estudados.
A visão dicotômica entre indivíduo e sociedade é fundamental
nas Ciências Sociais, e faz parte dos primórdios do desenvolvimen- WEBER X DURKHEIM
to da Sociologia, que surgiu em meio a um crescente processo de Dois dos principais mestres da sociología clássica compreen-
industrialização iniciado ainda no século XVIII e que levou ao surgi- deram de maneira diversa a relação entre indivíduos e sociedade.
mento de inúmeros problemas sociais no inicio do século seguinte, Enquanto Emile Durkheim priorizou a sociedade na análise dos
quando surgiu a disciplina. Podemos dizer que as transformações fenômenos sociais, considerando-a externa aos indivíduos e deter-
ocorreram pela transição de uma realidade rural para um ambiente minadora de suas ações, Max Weber entendia ser preponderante o
urbano e industrial. O advento de estruturas sociais mais comple- papel dos atores sociais e as suas ações. Weber entendia a socieda-
xas fez com que os homens se vissem na necessidade de compreen- de como o conjunto das interações sociais. A “ação social”, objeto
dê-las. Brota uma nova ciência que, partindo do instrumental das de estudo weberiano, toma este significado quando seu sentido é
ciências naturais e exatas, tenta explicar a realidade, estudando sis- orientado pelo conjunto de pessoas que constituem a sociedade.
tematicamente o comportamento social dos grupos e as interações Para Durkheim, os fatos sociais são anteriores e exteriores
humanas. aos indivíduos, exercendo sobre eles um poder coercitivo que se
Basicamente buscou-se compreender que todas as relações impõe sobre as vontades individuais. Num sentido oposto, Weber
sociais estão conectadas, formando um todo social, que chamamos priorizou as ações individuais para compreender a sociedade, con-
de sociedade. A passagem de uma sociedade rural para uma so- siderando-as como um componente universal e particular da vida
ciedade urbana, com a formação de grandes cidades, abriu novos social, fundamental para se conhecer o funcionamento das socie-
espaços de sociabilidade, em que conviveram pessoas diferentes e dades humanas, em que vigoram as interações entre indivíduos e
grupos sociais.
estranhas umas às outras, com objetivos e motivações distintas. Es-
Fonte:
ses novos espaços substituíram os espaços tradicionais de relações.
http://educacao.globo.com/sociologia/assunto/conflitos-e-vi-
Essa transição é essencial para compreender a sociologia. O rápido
da-em-sociedade/individuo-e-sociedade.html
processo de urbanização provocou a degradação do espaço urbano
anterior, do meio ambiente, e a destruição dos valores tradicionais.
As indústrias atraíram as populações rurais para as cidades. DISTINÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO E PRIVADO

CONCEITOS DE SOCIEDADE
Quando caminhos pelas ruas públicas percebemos diversas
A sociedade, tal como passou a ser compreendida no inicio
formas de manifestações sociais; vemos tudo aquilo que não pe-
do século XIX, pressupunha um grupo relativamente autônomo
dimos e que não escolhemos. Casas e prédios são construídos de
de pessoas que ocupavam um território comum, sendo, de certa
forma escolhidas por construtoras e podem prejudicar nossa con-
forma, constituintes de uma cultura comum. Além disso, predomi-
templação da paisagem. Temos aí a mistura do público com o priva-
nava a ideia de que as pessoas compartilhavam uma identidade.
do. Para entender o que é público temos que ter sempre em mente
As relações sociais, não só referentes às pessoas, mas, inclusive,
que o público é aonde todos os cidadãos pode usufruir do espaço
às instituições (família, escola, religião, política, economia, mídia),
moldavam as diversas sociedades. Assim, havendo uma enorme co- com os mesmos direitos legais, sem distinção de etnias ou classes
nexão entre essas relações, a mudança em uma acarretaria numa sociais; o espaço privado é todo aquele que pagamos para mandar
transformação em outra. num determinado espaço, pagamos aos estados impostos prediais,
A sociedade é entendida, portanto, como algo dinâmico, em que é uma forma de licença geográfica, e neste espaço dominamos
permanente processo de mudança, já que as relações e instituições no metro quadrado pago. Porém não é desta forma que é entendi-
sociais acabam por dar continuidade à própria vida social. Torna-se da pela população, constantemente o espaço público se transforma
claro, ademais, que existe uma profunda e inevitável relação entre no espaço privado: aumentando o espaço de garagens, trancafian-
os indivíduos e a sociedade. As Ciências Sociais lidaram com essa do “ruas sem saída”, proibindo os demais de usufruir deste espaço.
relação de diferentes modos, ora enfatizando a prevalência da so-
ciedade sobre os individuos, ora considerando certa autonomia nas Temos também nos espaços públicos os “não lugares”, que
ações individuais. Para o antropólogo Ralph Linton, por exemplo, a são os espaços de fluxos de pessoas, como trens e ônibus coletivos.
sociedade, em vez do indivíduo, é a unidade principal, aquela onde Nestes espaços o público se transforma no privado, mediante ao
os seres humanos vivem como membros de grupos mais ou menos pagamento da tarifa. Ao pagar a tarifa estamos privatizando um
organizados. veículo que circula num espaço público e dentro do coletivo, man-
damos nos assentos que escolhemos ou não. Neste momento so-
OBJETO DE ESTUDO mos os donos do lugar.
A sociologia é o estudo científico da sociedade. Parte de méto-
dos científicos (observação, análise, comparação) e possui objetos No espaço público exercemos nossas crenças e culturas. Sen-
de estudo específicos. Traz para o campo das ciências a figura do do a humanidade local por meio da invenção local a criação de tal
cientista social. Assim, diferentes de outras ciências, a sociologia cultura, o ser humano absorve a cultura e expõe para o público o
tem como parte integrante de seu objeto de estudo o próprio ob- que deveria ser privado. Ao construir uma igreja ou um templo re-
servador. Este, ao mesmo tempo em que observa o fenômeno, so- ligioso, estamos expondo nossas crenças e hábitos privados para
fre influência e influencia seu objeto de estudo. o espaço público, e apenas separando por uma parede e portão. É
Essa realidade leva a uma discussão sobre a objetividade do neste contexto que os “pichadores” alegam seus direitos de expres-
trabalho científico e sobre a (im)possível neutralidade do cientista são, sendo uma construção de alvenaria a transgressão da liberda-
social. Fato que não ocorre nas ciências físicas, por exemplo, o ho- de, sendo assim a danificação da estética física do espaço.
mem desempenha um duplo papel nas ciências sociais: é ao mesmo

1
SOCIOLOGIA
No espaço privado temos a nossa liberdade de expressão e Tratados e outras modalidades do Direito costumam servir
sexual? Digo que não temos. Nem mesmo nos espaço privado so- para proteger formalmente os direitos de indivíduos ou grupos
mos livres. Estamos constantemente sendo influenciados pelo pen- contra ações ou abandono dos governos, que interferem no des-
samento privado de blocos dominantes, que infligem à liberdade frute de seus direitos humanos.
sexual e de expressão no ambiente privado. Sexo e sexualidade Algumas das características mais importantes dos direitos hu-
são controlados, vigiados e caluniados por pessoas públicas que manos são:
não respeitam a liberdade privada; tal controle e crítica é a favor - Os direitos humanos são fundados sobre o respeito pela
de uma tal socialização moral de que todos “devem” apreender e dignidade e o valor de cada pessoa;
viver. - Os direitos humanos são universais, o que quer dizer que são
Podemos concluir que constantemente infligimos o espaço pú- aplicados de forma igual e sem discriminação a todas as pessoas;
blico e o privado simultaneamente, numa ordem vigente realizada - Os direitos humanos são inalienáveis, e ninguém pode ser
por todos, quer queira, quer não. privado de seus direitos humanos; eles podem ser limitados em sit-
Fonte: uações específicas. Por exemplo, o direito à liberdade pode ser re-
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direi- stringido se uma pessoa é considerada culpada de um crime diante
to/o-espaco-publico-e-o-privado-infligindo-os-espacos/56971 de um tribunal e com o devido processo legal;
- Os direitos humanos são indivisíveis, inter-relacionados e in-
O ESTADO E OS DIREITOS HUMANOS, terdependentes, já que é insuficiente respeitar alguns direitos hu-
CIDADANIA E DIVERSIDADE manos e outros não. Na prática, a violação de um direito vai afetar
o respeito por muitos outros;
Todos os direitos humanos devem, portanto, ser vistos como
Os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres de igual importância, sendo igualmente essencial respeitar a digni-
humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, dade e o valor de cada pessoa.
idioma, religião ou qualquer outra condição.
Os direitos humanos incluem o direito à vida e à liberdade, à Normas internacionais de direitos humanos
liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à edu-
cação, entre e muitos outros. Todos merecem estes direitos, sem A expressão formal dos direitos humanos inerentes se dá
discriminação. através das normas internacionais de direitos humanos. Uma série
O Direito Internacional dos Direitos Humanos estabelece as de tratados internacionais dos direitos humanos e outros instru-
obrigações dos governos de agirem de determinadas maneiras ou mentos surgiram a partir de 1945, conferindo uma forma legal aos
de se absterem de certos atos, a fim de promover e proteger os direitos humanos inerentes.
direitos humanos e as liberdades de grupos ou indivíduos. A criação das Nações Unidas viabilizou um fórum ideal para o
Desde o estabelecimento das Nações Unidas, em 1945 – em desenvolvimento e a adoção dos instrumentos internacionais de
meio ao forte lembrete sobre os horrores da Segunda Guerra Mun- direitos humanos. Outros instrumentos foram adotados a nível re-
dial –, um de seus objetivos fundamentais tem sido promover e gional, refletindo as preocupações sobre os direitos humanos par-
encorajar o respeito aos direitos humanos para todos, conforme ticulares a cada região.
estipulado na Carta das Nações Unidas: A maioria dos países também adotou constituições e outras
“Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, leis que protegem formalmente os direitos humanos básicos. Mui-
na Carta da ONU, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na tas vezes, a linguagem utilizada pelos Estados vem dos instrumen-
dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos en- tos internacionais de direitos humanos.
tre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso so- As normas internacionais de direitos humanos consistem, prin-
cial e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla, … cipalmente, de tratados e costumes, bem como declarações, dire-
a Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos trizes e princípios, entre outros.
Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os
povos e todas as nações…” Tratados

Contexto e definição dos direitos humanos Um tratado é um acordo entre os Estados, que se comprome-
tem com regras específicas. Tratados internacionais têm diferentes
Os direitos humanos são comumente compreendidos como designações, como pactos, cartas, protocolos, convenções e acor-
aqueles direitos inerentes ao ser humano. O conceito de Direitos dos. Um tratado é legalmente vinculativo para os Estados que ten-
Humanos reconhece que cada ser humano pode desfrutar de seus ham consentido em se comprometer com as disposições do tratado
direitos humanos sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, – em outras palavras, que são parte do tratado.
opinião política ou de outro tipo, origem social ou nacional ou Um Estado pode fazer parte de um tratado através de uma rat-
condição de nascimento ou riqueza. ificação, adesão ou sucessão.
Os direitos humanos são garantidos legalmente pela lei de di- A ratificação é a expressão formal do consentimento de um
reitos humanos, protegendo indivíduos e grupos contra ações que Estado em se comprometer com um tratado. Somente um Estado
interferem nas liberdades fundamentais e na dignidade humana. que tenha assinado o tratado anteriormente – durante o período
Estão expressos em tratados, no direito internacional consue- no qual o tratado esteve aberto a assinaturas – pode ratificá-lo.
tudinário, conjuntos de princípios e outras modalidades do Dire- A ratificação consiste de dois atos processuais: a nível interno,
ito. A legislação de direitos humanos obriga os Estados a agir de requer a aprovação pelo órgão constitucional apropriado – como o
uma determinada maneira e proíbe os Estados de se envolverem Parlamento, por exemplo. A nível internacional, de acordo com as
em atividades específicas. No entanto, a legislação não estabelece disposições do tratado em questão, o instrumento de ratificação
os direitos humanos. Os direitos humanos são direitos inerentes a deve ser formalmente transmitido ao depositário, que pode ser um
cada pessoa simplesmente por ela ser um humano. Estado ou uma organização internacional como a ONU.

2
SOCIOLOGIA
A adesão implica o consentimento de um Estado que não tenha Evolução histórica e classificação dos direitos fundamentais
assinado anteriormente o instrumento. Estados ratificam tratados Origem histórica dos direitos humanos: Cristianismo
antes e depois de este ter entrado em vigor. O mesmo se aplica à
adesão. Podemos afirmar que os direitos humanos tem sua origem no
Um Estado também pode fazer parte de um tratado por Cristianismo. Sendo que o cristianismo nasceu na antiga Palestina,
sucessão, que acontece em virtude de uma disposição específica onde era situado o Estado de Israel.
do tratado ou de uma declaração. A maior parte dos tratados não A mensagem de Jesus Cristo, conforme vemos em Mateus 22:
são auto-executáveis. Em alguns Estados tratados são superiores à 36-40, pode ser resumida em dois mandamentos: a) Amar a Deus
legislação interna, enquanto em outros Estados tratados recebem sobre todas as coisas e b) Amar o próximo com a si mesmo. Ora,
status constitucional e em outros apenas certas disposições de um o primeiro mandamento já havia sido dado por Deus a Moisés no
tratado são incorporadas à legislação interna. Monte Sinai e este mandamento não seria difícil de ser atendido. O
Um Estado pode, ao ratificar um tratado, formular reservas a segundo mandamento, agora dado por Jesus, o Filho de Deus, foi
ele, indicando que, embora consinta em se comprometer com a que causou polêmica em sua época. Amar a Deus é fácil. Difícil é
maior parte das disposições, não concorda com se comprometer amar o próximo, ainda mais quando o próximo nos faz algum mal.
com certas disposições. No entanto, uma reserva não pode derro- Jesus ensinou ainda que deveríamos “orar e amar nossos inimigos”
tar o objeto e o propósito do tratado. (Mateus 5: 44). O contexto histórico em que Jesus começou a pre-
Além disso, mesmo que um Estado não faça parte de um trata- gar era de completa dominação de Israel pelos romanos. Sendo que
do ou não tenha formulado reservas, o Estado pode ainda estar Pilatos, era o governador romano de toda aquela região. Assim, um
comprometido com as disposições do tratado que se tornaram di- judeu ter que amar o próximo, orar e amar seus inimigos era um
reito internacional consuetudinário ou constituem normas imper- judeu ter que amar um romano, seu inimigo máximo, ocupante de
ativas do direito internacional, como a proibição da tortura. Todos suas terras e opressor do povo. Por isso, esse ensinamento de Jesus
os tratados das Nações Unidas estão reunidos em treaties.un.org. causou polêmica em sua época.
Desse modo, o respeito pelo próximo é o respeito pelos di-
Costume reitos humanos. Não podemos fazer o mal ao próximo, pois os
homens foram feitos a imagem e semelhança de Deus. Assim, o
O direito internacional consuetudinário – ou simplesmente ensinamento cristão de amor ao próximo é o fundamento histórico
“costume” – é o termo usado para descrever uma prática geral e dos direitos humanos.
consistente seguida por Estados, decorrente de um sentimento de
obrigação legal. As gerações ou dimensões dos direitos humanos
Assim, por exemplo, enquanto a Declaração Universal dos Di-
reitos Humanos não é, em si, um tratado vinculativo, algumas de A doutrina costuma dividir a evolução histórica dos direitos
suas disposições têm o caráter de direito internacional consuetu- fundamentais em gerações de direito. Mas, parte da doutrina
dinário. abandou o termo geração, para adotar a expressão dimensão. O
argumento é de que geração pressupõe a superação da geração
Declarações, resoluções etc. adotadas pelos órgãos das anterior. O que não ocorre com os direitos fundamentais, pois to-
Nações Unidas das as gerações seguintes não superam a anterior, mas as comple-
mentam, por isso é preferido o uso de “dimensão”. Independente
Normas gerais do direito internacional – princípios e práticas da nomenclatura utilizada, Pedro Lenza (2010: 740) apresenta a
com os quais a maior parte dos Estados concordaria – constam, seguinte classificação:
muitas vezes, em declarações, proclamações, regras, diretrizes, a) Direitos humanos de 1ª geração: referem-se às liberdades
recomendações e princípios. públicas e aos direitos políticos, ou seja, direitos civis e políticos
Apesar de não ter nenhum feito legal sobre os Estados, elas a traduzirem o valor de liberdade. Documentos históricos (séculos
representam um consenso amplo por parte da comunidade inter- XVII, XVIII e XIX): 1) Magna Carta de 1215, assinada pelo rei Joao
nacional e, portanto, têm uma força moral forte e inegável em ter- sem terra;2) Paz de Westfália (1648);3) Habeas Corpus Act (1679);4)
mos na prática dos Estados, em relação a sua conduta das relações Bill of Rights (1688); 5) Declarações, seja a americana (1776) , seja
internacionais. a francesa (1789).
O valor de tais instrumentos está no reconhecimento e na b) Direitos humanos de 2ª geração: referem-se aos chamados
aceitação por um grande número de Estados e, mesmo sem o direitos sociais, como saúde, educação, emprego entre outros. Doc-
efeito vinculativo legal, podem ser vistos como uma declaração de umentos históricos: Constituição de Weimar (1919), na Alemanha e
princípios amplamente aceitos pela comunidade internacional. o Tratado de Versalhes, 1919. Que instituiu a OIT.
A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos c) Direitos humanos de 3ª geração: são os direitos relacionados
Indígenas, por exemplo, recebeu o apoio dos Estados Unidos em a sociedade atual, marcada por amplos conflitos de massa, envol-
2010, o último dos quatro Estados-membros da ONU que se opus- vendo o direito ambiental e também o direito do consumidor, onde
eram a ela. esses direitos difusos muita das vezes sofrem violações.
Ao adotar a Declaração, os Estados se comprometeram a d) Direitos humanos de 4º geração: Norberto Bobbio, defende
reconhecer os direitos dos povos indígenas sob a lei internacional, que esses direitos estão relacionados com os avanços no campo
com o direito de serem respeitados como povos distintos e o direi- da engenharia genética, ao colocarem em risco a própria existência
to de determinar seu próprio desenvolvimento de acordo com sua humana, através da manipulação do patrimônio genético.
cultura, prioridades e leis consuetudinárias (costumes) e) Direitos humanos de 5ª geração: Paulo Bonavides defende
essa ideia. Para ele, essa geração refere-se ao direito à paz mundial.
A paz seria o objetivo da geração a qual vivemos, que constante-
mente é ameaçada pelo terrorismo e pelas guerras (Portela: 2013:
817).

3
SOCIOLOGIA
Reconhecimento e Positivação dos de observância obrigatória de tal sorte que a vigência constitui ver-
direitos fundamentais no direito nacional dadeiro pressuposto de eficácia, na medida em que apenas a nor-
ma vigente pode ser eficaz.
No plano internacional podemos afirmar que o principal docu- Desse modo, somente uma norma jurídica que possua vigência
mento que positivou os direitos humanos foi a Declaração Univer- poderá produzir efeitos jurídicos, ou seja, será eficaz, sendo que no
sal dos Direitos Humanos (1948) da ONU. presente texto, nos interessa conhecer a eficácia das normas jurídi-
No plano interno, a Constituição de 1988 positivou em seu tex- cas constitucionais que tratam dos direitos fundamentais.
to diversos direitos fundamentais. Vale ressaltar, que o rol do art.
5º é exemplificativo, podendo haver ampliação desses direitos, mas Eficácia plena e imediata dos direitos fundamentais:
nunca sua redução ou supressão. Até porque a CF/88 considera os análise do art. 5º, § 1º, da CF/88
direitos e garantias individuais e coletivos como claúsula pétrea
(art. 60, §4º,IV). De acordo, com o art. 5º, §1º, de nossa Carta Constitucional, as
Todas as gerações de direitos humanos foram positivados no normas relativas às garantias e aos direitos fundamentais, possuem
texto constitucional. As liberdades individuais constam no art. 5º. eficácia plena e imediata. Isso significa, que essas normas jurídicas
Os direitos sociais no art. 6º. Os direitos políticos nos arts. 14 a 16. não precisarão da atuação do legislador infra-constitucional, para
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado no art. poderem ser efetivadas. Essas normas, portanto, não precisarão re-
225. A saúde no art. 6º e no art. 196 e assim por diante. ceber regulamentação legal para serem eficazes. Assim, as mesmas
A Emenda 45/2004, acrescentou ao art. 5º, o §3º, o qual dispõe poderão ser aplicadas pelo intérprete imediatamente aos casos
que os tratados internacionais sobre direitos humanos, que forem concretos.
aprovados em cada casa do Congresso Nacional, por 3/5 de seus Paulo Gustavo Gonet Branco (2011: 174) explica que esse dis-
membros, em dois turnos, equivalem às emendas constitucionais, positivo tem como significado essencial ressaltar que as normas
ou seja, esses tratados ganham status de norma constitucional. que definem direitos fundamentais são normas de caráter precep-
Desse modo, com a Emenda 45/2004, os tratados sobre dire- tivo, e não meramente programático. Ainda segundo o autor, os
itos humanos aprovados nos termos do § 3º, do art. 5º da CF/88, juízes podem e devem aplicar diretamente as normas constitucion-
ais para resolver os casos sob sua apreciação. Não é necessário que
ampliaram o bloco de constitucionalidade, juntando-se às normas
o legislador venha, antes, repetir ou esclarecer os termos da norma
jurídicas do texto constitucional.
constitucional para que ela seja aplicada.
O disposto no art. 5º, § 1º, da CF, é um dispositivo de suma
Eficácia dos Direitos Fundamentais
importância, pois o mesmo servirá de fundamento de validade para
Conceito de eficácia
a eficácia vertical e horizontal dos direitos fundamentais.
Antes de entrarmos na análise da eficácia dos direitos funda-
Eficácia vertical e horizontal dos direitos fundamentais
mentais, é preciso sabermos o que significa a expressão “eficácia.”
Pois bem, eficácia pode ser definida como algo que produz efeitos. A eficácia vertical significa que o Estado, em suas relações com
Segundo a doutrina, há dois tipos de eficácia das normas: a ju- os particulares, deverá respeitar as normas de direitos fundamen-
rídica e social. Michel Temer (2005: 23) ensina que a eficácia social tais. O Estado, portanto, deverá respeitar as liberdades individuais,
se verifica na hipótese da norma vigente, isto é, com potencialidade tais como a liberdade de crença, de expressão, sexual, enfim, as-
para regular determinadas relações, ser efetivamente aplicada a ca- suntos da esfera privada dos indivíduos. Mas a função do Estado
sos concretos. Já a eficácia jurídica, ainda segundo Temer, significa não é apenas garantir essa proteção. No caso dos direitos funda-
que a norma está apta a produzir efeitos na ocorrência de relações mentais sociais, como a saúde, educação e outros, o Estado deve
concretas; mas já produz efeitos jurídicos na medida em que a sua ter uma postura positiva no sentido de efetivar aqueles direitos.
simples edição resulta na revogação de todas as normas anteriores Assim, a eficácia vertical dá ao Estado esse duplo papel: garan-
que com ela conflitam. Embora não aplicada a casos concretos, é tista e efetivados dos direitos fundamentais.
aplicável juridicamente no sentido negativo antes apontado. Isto é: No que tange a eficácia horizontal dos direitos fundamentais,
retira a eficácia da normatividade anterior. É eficaz juridicamente, podemos afirmar que esses direitos também podem ser aplicados
embora não tenha sido aplicada concretamente. as relações privadas. Os particulares nas relações que travam entre
Entendemos que as normas constitucionais que regulam o si devem também obedecer os direitos fundamentais.
direito a saúde e a defesa do consumidor são normas que pos- Segundo Daniel Sarmento (2004: 223), a premissa da eficá-
suem também eficácia social, na lição de Michel Temer. A eficácia cia horizontal dos direitos fundamentais é o fato de que vivemos
jurídica é inerente à espécie, mas a eficácia social existe também em uma sociedade desigual em que a opressão pode provir não
pela própria abrangência de que esses direitos fundamentais apre- apenas do Estado, mas de uma multiplicidade de atores privados,
sentam. presentes em esferas como o mercado, a família, a sociedade civil
Vale ressaltar, que uma norma jurídica poderá ter vigência, e a empresa.
mas poderá não ser eficaz, ou seja, devido a alguma circunstancia Várias teorias surgiram para explicar a vinculação dos particu-
uma norma pode não apresentar efeitos jurídicos. No entanto, so- lares aos direitos fundamentais, mas duas se destacaram e tiveram
mente uma norma vigente poderá ser eficaz. origem no direito germânico: a) Teoria da Eficácia Indireta e Media-
Sobre o tema vigência e eficácia, assim leciona Ingo Sarlet ta dos Direitos Fundamentais na Esfera Privada e b) Teoria da Eficá-
(2012: 236): cia Direta e Imediata dos Direitos Fundamentais na Esfera Privada.
Importa salientar, ainda, que a doutrina pátria tradicional- Segundo Sarmento (2004:238), a teoria da eficácia horizontal
mente tem distinguido – e neste particular verifica-se substancial mediata ou indireta dos direitos fundamentais (Mittelbare Drit-
consenso – as noções de vigência e eficácia, situando-as em planos twirkung) foi desenvolvida originariamente na doutrina alemã por
diferenciados. Tomando-se a paradigmática lição de José Afonso da Günter Dürig, em obra publicada em 1956, e tornou-se a concepção
Silva, a vigência consiste na qualidade da norma que a faz existir ju- dominante no direito germânico, sendo hoje adotada pela maioria
ridicamente (após regular promulgação e publicação), tornando-a dos juristas daquele país e pela sua Corte Constitucional. Trata-se

4
SOCIOLOGIA
de construção intermediária entre a que simplesmente nega a vin- pios. Assim, não apenas o Estado, mas os demais atores privados
culação dos particulares aos direitos fundamentais, e aquela que devem obediência a esses princípios e têm o dever de distribuir os
sustenta a incidência direta destes direitos na esfera privada. bens primários (direitos fundamentais) de forma justa.
Ainda segundo Sarmento (2004: 238), para a teoria da eficácia E qual a posição adotada pelo Supremo Tribunal Federal?
mediata, os direitos fundamentais não ingressam no cenário priva- Nossa Corte suprema adotou, sabiamente, a teoria de Nipperd-
do como direitos subjetivos, que possam ser invocados a partir da ey, conforme podemos ver pela transcrição parcial da ementa do
Constituição. Para Dürig, a proteção constitucional da autonomia RE 201819, que teve como relator para o acordão o Min. Gilmar
privada pressupõe a possibilidade de os indivíduos renunciarem a Mendes e foi o leading case da questão, nos seguintes termos:
direitos fundamentais no âmbito das relações privadas que man-
tem, o que seria inadmissível nas relações travadas com o Poder Princípios
Público. Por isso, certos atos contrários aos direitos fundamentais
, que seriam inválidos quando praticados pelo Estado, podem ser Antes de apresentarmos uma conceituação do que seja direitos
lícitos no âmbito do Direito Privado. humanos, necessário é estabelecermos a nomenclatura mais ade-
Não concordamos com essa teoria, pois entendemos que os quada. Isto porque alguns usam a expressão “direitos humanos”,
particulares devem sim respeito aos direitos fundamentais, espe- outros de “direitos fundamentais” e outros ainda de “direitos do
cialmente nas relações contratuais e naquelas que envolvem o di- homem”. Qual seria a nomenclatura correta? Entendemos que to-
reito do consumidor, tendo em vista que nessas áreas as violações das são corretas, mas preferimos utilizar neste texto a expressão “
aos direitos fundamentais são mais intensas. direitos fundamentais”, pois a mesma está relacionada com a ideia
Já a teoria da eficácia direta dos direitos fundamentais nas de positivação dos direitos humanos. Assim, quando a busca pela
relações privadas, conforme leciona Sarmento (2004: 245), foi de- efetivação desses direitos são apenas aspirações dentro de uma co-
fendida inicialmente na Alemanha por Hans Carl Nipperdey, a par- munidade podemos chamá-los de direitos humanos, mas quando
tir do início da década de 50. Segundo ele, embora alguns direitos os mesmos são positivados num texto de uma Constituição os mes-
fundamentais previstos na Constituição alemã vinculem apenas mos passam a serem considerados como direitos fundamentais.
o Estado, outros, pela sua natureza, podem ser invocados direta- Parte da doutrina entende que os direitos fundamentais seriam os
mente nas relações privadas, independentemente de qualquer me- direitos humanos que receberam positivação.
Para exemplificarmos a afirmação feita, podemos mencionar
diação por parte do legislador , revestindo-se de oponibilidade erga
a lição de Paulo Gonet Branco (2011: 166), para quem a expressão
omnes. Nipperdey justifica sua afirmação com base na constatação
direitos humanos ou direitos do homem, é reservada para aquelas
de que os perigos que espreitam os direitos fundamentais no mun-
reinvindicações de perene respeito a certas posições essenciais ao
do contemporâneo não provem apenas do Estado, mas também
homem. São direitos postulados em bases jusnaturalistas, contam
dos poderes sociais e de terceiros em geral. A opção constitucional
com índole filosófica e não possuem como característica básica a
pelo Estado Social importaria no reconhecimento desta realidade,
positivação numa ordem jurídica particular. Já a locução direitos
tendo como consequência a extensão dos direitos fundamentais às
fundamentais é reservada aos direitos relacionados com posições
relações entre particulares.
básicas das pessoas, inscritos em diplomas normativos de cada Es-
Somos partidários da teoria da eficácia direta e imediata dos tado. São direitos que vigem numa ordem jurídica concreta, sendo,
direitos fundamentais as relações privadas, tendo em vista que por isso, garantidos e limitados no espaço e no tempo, pois são
como defendeu Nipperdey os abusos nas relações jurídicas ocor- assegurados na medida em que cada Estado os consagra.
rem não apenas tendo o Estado como protagonista, mas muitos Assim, podemos conceituar direitos humanos como aqueles di-
atores privados, como as grandes empresas que violam constante- reitos básicos inerentes a todas as pessoas sem distinção, adquiri-
mente os direitos fundamentais dos consumidores. dos com seu nascimento, tais como o direito à vida, à liberdade
Outro argumento pelo qual defendemos a teoria em tela é de locomoção, à liberdade expressão, liberdade de culto, etc, que
justamente o disposto no art. 5º,§ 1º da CF, que dispõe sobre a ainda não receberam positivação constitucional e até então são ap-
aplicação imediata das normas de garantia dos direitos fundamen- enas aspirações. As pessoas já nascem sendo titulares desses dire-
tais. Para nós o dispositivo abarca as relações entre os particulares itos básicos.
e o Estado. Com a positivação no texto constitucional, esses direitos hu-
Do ponto de vista filosófico, e usando a visão do liberalismo de manos tornam-se direitos fundamentais, tornando-se objetivos a
princípios de John Rawls, podemos também argumentar em favor serem alcançados pelo Estado e também pelos demais atores priva-
da teoria que os direitos fundamentais previstos na Constituição dos, como iremos demonstrar adiante.
Federal, tais como o direito à saúde e o direito a um meio ambiente Vale ressaltar também que, a noção de direitos fundamentais
ecologicamente equilibrado, são exemplos de bens primários que está intimamente relacionada com o princípio da dignidade da pes-
devem ser distribuídos pelo Estado às pessoas de forma equitativa. soa humana, o qual pressupõe que todo ser humano deve possuir
Na concepção de justiça de Rawls, os homens escolhem num um mínimo existencial para ter uma vida digna. A ideia de digni-
estado hipotético chamado de “posição original” os princípios de dade da pessoa humana foi trabalhada inicialmente por Kant, para
justiça que irão governar a sociedade. Estes princípios são a liber- quem “ o homem é um fim em si mesmo”, conforme ensina Ricardo
dade e a igualdade. As instituições sociais (Estado) e as demais pes- Castilho ( 2012: 134). Podemos afirmar que a dignidade humana é
soas devem obediência a esses princípios. a “fundamentalidade” dos direitos fundamentais, ou seja, é o fun-
A escolha desses princípios na posição original é feita pelos damento de validade.
homens sob um “véu de ignorância”, ou seja, eles não sabem que No Brasil, a Constituição de 1988, positivou a dignidade da pes-
papéis terão nessa futura sociedade e se serão beneficiados por soa humana no art. 1º, inciso III, como fundamento da República
esses princípios. A escolha, portanto, foi justa porque obedeceu ao Federativa do Brasil.
procedimento.
Por essa ótica, mais do que nunca prevalece o entendimento
que esses princípios de justiça vinculam os particulares, tendo em
vista que os mesmos na posição original escolheram esses princí-

5
SOCIOLOGIA
Caracterização Concordamos com a afirmação de que os direitos fundamen-
tais são um ideal cristão e ocidental, mas não podemos concordar
Podemos apresentar didaticamente as seguintes característi- com o relativismo cultural. Entendemos que todas as pessoas no
cas dos direitos fundamentais: mundo inteiro devem ser tratadas com dignidade.
a) Historicidade: A historicidade significa que os direitos funda- Em todo o caso, o universalismo dos direitos humanos é ex-
mentais variam de acordo com a época e com o lugar; pressamente consagrado no bojo da própria Declaração de Viena
b) Concorrência: os direitos fundamentais podem ser exercidos de 1993, a qual diz que “todos os direitos humanos são universais,
de forma concorrente. Ou seja, é possível exercer dois ou mais dire- indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados...”
itos fundamentais ao mesmo tempo; n) Limitabilidade: os direitos fundamentais não são absolutos.
c) Indisponiblidade: o titular não pode dispor dos direitos fun- Os mesmos podem sofrer limitações, inclusive, pelo próprio texto
damentais; constitucional. Segundo Paulo Branco (2011: 162) afirma que tor-
d) Inalienabilidade: os direitos fundamentais não podem ser nou-se voz corrente na nossa família do Direito admitir que os dire-
itos fundamentais podem ser objeto de limitações, não sendo, pois
transferidos a terceiros;
absolutos. Tornou-se pacifico que os direitos fundamentais podem
e) Irrenunciabilidade: o titular não pode renunciar um direito
sofrer limitações quando enfrentam outros valores de ordem con-
fundamental. A pessoa pode até não exercer o direito, mas não
stitucional, inclusive outros direitos fundamentais. Igualmente no
pode renunciar;
âmbito internacional, as declarações de direitos humanos admitem
f) Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não estão su- expressamente limitações “ que sejam necessárias para proteger
jeitos a nenhum tipo de prescrição, pois os mesmos são sempre a segurança, a ordem, a saúde ou a moral pública ou os direitos e
exercitáveis sem limite temporal. Exemplo: o direito à vida; liberdades fundamentais de outros (Art. 18 da Convenção de Direi-
g) Indivisibilidade: os direitos fundamentais não podem ser fra- tos Civis e Políticos de 1966 da ONU)”.
cionados. A pessoa deve exercê-lo em sua totalidade; Exemplificando na Constituição pátria, Paulo Branco (2011:
h) Interdependência: significa que os direitos fundamentais 163) demonstra que até o elementar direito á vida tem limitação
são interdependentes, isto é, um direito fundamental depende da explícita no inciso XLVII, a, do art. 5º, em que se contempla a pena
existência do outro. Ex: a liberdade de expressão necessita do res- de morte em caso de guerra formalmente declarada.
peito à integridade física; Para o Supremo Tribunal Federal, os direitos fundamentais
I) Complementariedade: os direitos fundamentais possuem o também não são absolutos e podem sofrer limitação, conforme a
atributo da complementariedade, ou seja, um complementa o out- ementa abaixo transcrita:
ro. Ex: o direito à saúde complementa à vida, e assim sucessiva- OS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS NÃO TÊM CARÁTER
mente ABSOLUTO. Não há, no sistema constitucional brasileiro, direitos
m) Universalidade: os direitos humanos são apresentados ou garantias que se revistam de caráter absoluto, mesmo porque
como universais, ou seja, são destinados a todos os seres humanos razões de relevante interesse público ou exigências derivadas do
em todos os lugares do mundo, independente emente de religião, princípio de convivência das liberdades legitimam, ainda que ex-
cepcionalmente, a adoção, por parte dos órgãos estatais, de me-
de raça, credo, etc. No entanto, alguns autores mostram que em
didas restritivas das prerrogativas individuais ou coletivas, desde
certos países os direitos humanos não são aplicados em razão das
que respeitados os termos estabelecidos pela própria Constituição.
tradições culturais. Seria a chamada teoria do “relativismo cultural” O estatuto constitucional das liberdades públicas, ao delinear o re-
dos direitos humanos. Sobre o assunto, assim leciona Paulo Henri- gime jurídico a que estas estão sujeitas - e considerado o substrato
que Portela (2013: 833): ético que as informa - permite que sobre elas incidam limitações de
“ (...) o universalismo é contestado por parte da doutrina, que ordem jurídica, destinadas, de um lado, a proteger a integridade do
fundamentalmente defende que os diferentes povos do mundo interesse social e, de outro, a assegurar a coexistência harmoniosa
possuem valores distintos e que, por isso, não seria possível es- das liberdades, pois nenhum direito ou garantia pode ser exercido
tabelecer uma moral universal única, válida indistintamente para em detrimento da ordem pública ou com desrespeito aos direitos
todas as pessoas humanas e sociedades. É a noção de relativismo e garantias de terceiros (Grifamos. Jurisprudência: STF, Pleno, RMS
cultural, ou simplesmente relativismo, que defende , ademais, que 23.452/RJ, Relator Ministro Celso de Mello, DJ de 12.05.2000, p.
o universalismo implicaria imposição de ideias e concepções que na 20.).
realidade, pertenceriam ao universo da cultura ocidental.” Assim, a limitação dos direitos fundamentais podem ocorrer
Um exemplo prático desse relativismo cultural é que em países quando esses direitos entram em colisão entre ou até mesmo
islâmicos os direitos das minorias não são respeitados. A imprensa quando a limitação é prevista no texto constitucional.
já divulgou, por exemplo, que a teocracia islâmica que governa o
Irã enforca em praça pública as pessoas que são homossexuais. São Princípios universais de direitos humanos
mortos em nome da religião muçulmana, que considera pecado a
Temos defendido que a Constituição efetivamente democráti-
sua opção sexual. Isso ocorre em pleno século XXI.
ca (Constituição enquanto processo legitimador das mudanças
Um outro exemplo de violação sistemática dos direitos hu-
democraticamente apontadas pela população) deve ter como val-
manos com base em crenças religiosas, que também já foi divulga- or básico apenas os princípios universais de direitos humanos. É
do pela imprensa mundial, é a mutilação de mulheres muçulmanas necessário, pois, explicar o significado desta expressão, que para
em alguns nações africanas. Milhares de mulheres têm seus clitóris nós deverá representar todo o conteúdo principiológico constante
arrancados para que não sintam prazer sexual, pois na religião is- do texto federal.
lâmica, extremamente machista, somente o homem pode ter praz- Já estudamos a expressão “princípios constitucionais”, sendo
er. Novamente, a religião islâmica viola os direitos humanos em que propusemos ainda classificação que contemple os princípios
nome de preceitos religiosos. (regras em sentido amplo, ou com grau de abrangência maior) fun-
Quem defende o relativismo cultural afirma que a ideia de di- damentais, setoriais e os deduzidos da Constituição. As Constitu-
reitos fundamentais é uma ideia cristã-ocidental e não tem como ições tem diferentes princípios e oferece tratamentos variados aos
ser aplicada em algumas regiões do mundo. grupos e direitos fundamentais da pessoa humana.

6
SOCIOLOGIA
Estes direitos fundamentais e os seus princípios basilares serão dos princípios e regras de culturas e comunidades específicas. Isto
variáveis de acordo com o texto constitucional. Desta forma, uma ocorrerá com freqüência, e significará a superação destes princí-
Constituição Liberal limitar-se-á a declarar os direitos individuais pios e regras locais pelo que existe de essencial em uma cultura
e os direitos políticos, sendo que dentro do referencial teórico da planetária. Em outras palavras, a superação de regras e princípios
época, os direitos humanos se reduziam, numa perspectiva con- locais ocorrerá através daquele dado que existe de humano ou de
stitucional, a este conteúdo, dentro de uma perspectiva teórica que universal em cada cultura do Planeta, ou mesmo em cada comuni-
consagrava o abstencionismo estatal e considerava como garantia dade, pois não é possível a permanência de qualquer comunidade,
constitucional a simples inserção de princípios do Direito, no texto mesmo por um espaço de tempo curto, se esta não tiver valores de
constitucional. autopreservação, o que implica em vida, núcleo fundamental de
De outra forma as Constituições Sociais e as Socialistas am- humanidade que poderá ser ampliado pelos princípios universais.
pliam este leque de direitos fundamentais, oferecendo variados Dado fundamental deve ser ressaltado quando falamos em di-
modelos adotados por diferentes países. Não se pode dizer, lendo reitos e princípios universais: felizmente a diversidade ainda existe
as Constituições Socialistas e as Constituições Sociais-Liberais (ou e desta forma os direitos humanos não devem ser, por tudo que já
sociais assistencialistas, ou neoliberais), que estas obedecem a um dissemos até agora, a supremacia de valores de uma cultura sobre
modelo rígido, imutável de Estado para Estado. as outras, ou de um modelo de sociedade sobre os outros. A diver-
Tanto os textos socialistas como os Sociais, estes com maior sidade é sua essência e o núcleo comum compartilhado por todas
intensidade, tem variações que correspondem as situações históri- as culturas será o seu real conteúdo mutável.
cas específicas de cada país, sendo que estas variações ocorrem na Desta maneira os direitos universais serão aqueles que podem
forma de organização política do Estado, mas principalmente no ser aceitos por todos os povos da Terra em todos os Estados So-
tratamento dos direitos fundamentais e a relação entre os seus gru- beranos do Planeta. É importante lembrar que utilizamos a palavra
pos de direitos, refletindo nos princípios constitucionais. “pode” enquanto possibilidade real de qualquer cultura humana,
Fica claro que os princípios constitucionais não são exatamente e não utilizamos as expressões “devem” ou “serão” aceitos, o que
iguais, mesmo quando o tipo de Constituição adotada é o mesmo. seria inadequado ou falso, no atual momento histórico.
Ocorrerá quase sempre influencias nacionais específicas que serão É necessário, neste momento, identificarmos quais os princípi-
marcantes na construção dos princípios de direitos humanos numa os deverão estar contidos na Constituição democrática: a) os princí-
perspectiva constitucional, influencias estas que terão origens em pios universais conforme foram enunciados neste artigo; b) os
sistemas econômicos, culturas, histórias diferentes assim como princípios e direitos universais declarados pela Declaração Univer-
outros elementos, que nos indicarão com certeza a impossibilidade sal de Direitos Humanos de 1948 e os princípios decorrentes desta
de se procurar um sistema constitucional único de Direitos Hu- Declaração; c) ou os princípios de Direitos Humanos consagrados
manos. Aliás, mais do que a impossibilidade é a constatação de que nas declarações internacionais em uma perspectiva regional?
esta diversidade deverá ser mantida, como elemento de riqueza Neste momento, e dentro do que já foi discutido até aqui,
que permite a evolução do ser humano dentro de uma diversidade poderíamos dizer que nenhum destes. Primeiramente, é necessário
que incentiva e promove esta evolução desejada, afastando a mas- esclarecer, que até aqui, vimos afirmando que o texto constitucion-
sificação medíocre de grandes mercados transformadores dos hu- al deve se limitar a conter princípios que sejam Universais, dentro
manos em “em seres consumidores de matérias inúteis”, onde a da perspectiva que se insere no item “a” acima e explicada neste
perspectiva de ser se transforma num ter sem limites. tópico. Com isto queríamos dizer que os também considerados di-
Este sistema constitucional de direitos humanos, deve conviver reitos humanos que são os direitos sócio-econômicos não deveri-
com um sistema global. É o que podemos chamar da perspectiva am estar contidos no texto constitucional federal mas deveriam ser
internacionalista dos direitos humanos.(2) É importante salientar deixados para as leis infra constitucionais e as Constituições Munic-
que esta perspectiva internacionalista poderá subdividir-se em dois ipais. Podemos extrair desta afirmativa o seguinte:
novos enfoques: o enfoque regional multinacional, onde as coin- I - a tese se constrói pensando a realidade do Estado brasileiro,
cidências entre valores serão mais extensas e logo o numero de sua dimensão e organização territorial.
princípios será maior, e um enfoque universalista, onde se encon- II - os direitos sócio-econômicos não seriam suprimidos do or-
tra o desafio maior dos direitos humanos hoje, que é o de estabe- denamento jurídico brasileiro mas regulamentados por normas in-
lecer princípios e valores comuns, assim como direitos decorrentes fra-constitucionais nos seus aspectos gerais de convivência de mod-
destes princípios, que sejam aceitos pôr todos os povos e culturas elos alternativos locais, de planejamento e investimentos privados
do Planeta Terra. e públicos no território da União, e pelas Constituições Municipais
Aliás, poderíamos dizer que esta perspectiva universalista é a no que se refere a regulamentação da forma de propriedade e do
dimensão correta oposta dos direitos humanos construídos sobre modelo local de repartição econômica.
valores locais. O universal é construído sobre as parcelas da menor III - pela complexidade de se estabelecer nacionalmente princí-
dimensão espacial sobre a qual irá se estabelecer princípios hu- pios que devem ser construídos no espaço internacional, ressal-
manos. Assim, conclui-se que o primeiro princípio humano universal vados que os aspectos acima enunciados, nada impedem, muito
está na liberdade de ser humano integralmente, o que implica em ser pelo contrário, que a Constituição consagre princípios nacionais ou
efetivamente livre para construir o seu futuro em comunidade. Ob- regionais de direitos culturais específicos, desde que mantida a to-
viamente que não iremos construir está idéia de liberdade na insufi- tal autonomia da população para a construção do seu modelo de
ciente noção liberal, neoliberal ou mesmo socialista em um primeiro organização social e econômica.
momento, pois liberdade de ser humano, implica em ser humano de IV - a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 e os
acordo com valores da comunidade em que se vive, seja local, seja princípios dela decorrentes, é um texto de enorme importância
universal. As duas dimensões deverão estar sempre juntas. histórica, principalmente para o ocidente, mas deve ser vista dentro
Os direitos humanos universais e os princípios universais de di- do seu contexto histórico de vitória de um modelo que despontava
reitos humanos são aqueles que podem ser aceitos por todas as cul- sua supremacia universal após a segunda guerra mundial. Ao dispor
turas, não se chocando com o que tem de essencial a cada princípio sobre questões sociais e econômicas específicas a Declaração se
encontrado em cada comunidade do Planeta. Isto não quer dizer restringe a um contexto social, político e econômico específico do
que os princípios universais não serão contraditórios a determina- pós-guerra, que deve ser superado, e como tal deve ser entendida.

7
SOCIOLOGIA
Assim, concluímos, que a Constituição democrática, que pen- a) limites materiais que consistem na proibição de deliberação
samos, deve se aproximar de um texto que reduza seus princípios de emendas tendentes a abolir a forma de Estado Federal, a de-
àqueles considerados universais, somados a princípios regionais, mocracia, a separação de poderes e os direitos individuais e suas
desde que não inibidores da evolução de modelos locais, prin- garantias. Estes limites se aplicam ao poder de reforma seja através
cipalmente no que diz respeito ao estabelecimento de modelos de emendas, seja através de revisão.
sócio-econômicos pré-fabricados pelos conglomerados econômi- b) limites circunstanciais que consistem na proibição do fun-
cos mundiais.(3) cionamento do poder de revisão ou de emenda na vigência de Esta-
Um dos aspectos mais importantes na construção de uma Con- do de Sitio, Estado de Defesa e Intervenção Federal.
stituição efetivamente democrática e aberta é o da necessidade c) limite temporal que no nosso texto constitucional se aplicou
de desconstitucionalizar a propriedade privada. Abordamos assim somente ao poder de revisão e consistiu na proibição de realização
questão que vem sendo discutida em vários trabalhos que surgi- da revisão antes de completados cinco anos da promulgação da
ram a partir de tese de doutorado, sobre a necessidade de des-
Constituição.
constitucionalização da ordem econômica e social do texto da Con-
O poder de emenda da Constituição está previsto no artigo
stituição Federal e por conseqüência a desconstitucionalização da
60 do texto permanente da Constituição e pode ser acionado a
propriedade privada. Em vários momentos e em diversos trabalhos,
já nos questionamos se seria possível fazer as mudanças desejadas qualquer momento desde que cumpridos os requisitos alí estabe-
através dos processos formais de mudança da Constituição como a lecidos para se iniciar o processo de reforma por meio de emen-
emenda, juntamente com os processos de mutação. das. A caracteristica de rigidez do texto constitucional é marcada
Entendemos que, embora a ideologia constitucionalmente ad- por processo legislativo especial onde apenas algumas pessoas
otada possa ser modificada pelos processo informais de mudança podem iniciar a reforma, exigindo ainda um quorum específico
da Constituição, o que poderia abrir espaço para a mudança de dis- para aprovação. Podem iniciar o processo de reforma por meio de
positivos através do processo formal de emenda, entendemos que emendas o Presidente da República, um terço da Câmara Federal
o ideal é um novo texto que marque a ruptura formal e histórica ou do Senado, ou ainda mais da metade das Assembléias Legislati-
de tipos de Estado diferentes, construindo efetivamente uma Con- vas dos Estados membros, desde que aprovado o encaminhamento
stituição sintética, democrática, essencialmente de princípios e de da emenda por maioria relativa de seus membros.
processos democráticos, escrita , mas que permita a sua constante Para ser aprovada a emenda é exigida a aprovação de tres
evolução interpretativa, codificada e extremamente rígida no que quintos dos membros da Câmara e do Senado, em dois turnos de
diz respeito aos processos formais de reforma. votação em cada casa legislativa.
Ao defendermos a desconstitucionalização da propriedade A diferença entre emenda e revisão consiste que a primeira é uma
privada, o primeiro obstáculo encontrado seria a existência de lim- alteração pontual do texto, podendo ocorrer a qualquer momento,
ites materiais ao poder de reforma da Constituição. desde que cumpridos os requisitos acima expostos. A revisão de forma
O poder constituinte originário é o poder que cria a Constitu- diferente, pode ocorrer uma ou mais vezes, segundo dispor o texto,
ição. Este poder tem caracteristicas de um poder inicial, soberano, consistindo em uma revisão de todo o texto constitucional, onde se
que não encontra limites de ordem jurídica no ordenamento ante- buscará uma melhor sistematização sendo possível a alteração de dis-
rior, mas apenas limitações de ordem sociológica no jogo de forças positivos constitucionais desde que não se desrespeite os limites ma-
sociais que atuam no momento de seu funcionamento. Como tal teriais estabelecidos para o poder constituinte derivado.
o poder constituinte é um poder de fato, que pode ser um poder A Constituição de 1988 previu a revisão constitucional no Ato
de Direito na medida em que se legitimar na vontade popular con- das Disposições Constitucionais Transitórias, com um limite tempo-
sciente e nos valores de justiça e de Direito vigentes em uma deter- ral de cinco anos para que este poder derivado funcionasse, estabe-
minada sociedade no momento histórico em que atua.
lecendo para o seu funcionamento um procedimento e um quorum
Logo a natureza deste poder inicial e soberano será sempre de
mais simples, sendo que o seu funcionamento se daria em sessão
fato, podendo ser um poder direito na medida em que se legitima
unicameral do Congresso Nacional, aprovando-se o texto revisado
na votade popular e nos valores aceitos por toda a sociedade em
um determinado momento. por maioria absoluta dos membros.
Este poder constituinte originário cria os poderes de reforma Estando previsto no ato da disposições constitucionais
da Constituição que tem como finalidade alterar as regras em senti- provisórias, o poder de reforma por meio de revisão teve unica
do restrito do seu texto, que pelo menor grau de abrangência dev- previsão de funcionamento, pois os dispositivos transitórios se ex-
ido a sua especificidade, tem que ser modificada para acompanhar tinguem após a realização de suas disposições.
as mudanças exigidas pela sociedade. Logo este poder se dirige às Outro fato que merece registro é o procedimento de realização
regras em sentido restrito do texto, não podendo entretanto atingir da revisão que foi excolhido pelo poder constituinte derivado.
aos princípios constitucionais e a ideologia constitucionalmente ad- No lugar de realizar uma revisão de todo o texto e coloca-la em
otada, pois estas regras em sentido amplo como a própria ideologia votação, buscando com isto o objetivo da revisão que é a reestru-
constitucinal são os elementos que identificam a Constituição, e a turação sistemática do texto alterando alguns dispositivos espe-
sua alteração não pode se dar por mecanismos de reforma, que não cíficos sem alterar princípios e a própria ideologia constitucional,
se igualam ao poder criador que é o poder constituinte originário. alguns constituintes derivados, vendo a possibilidade de alterar dis-
A Constituição brasileira, produto de um poder constituinte positivos com a maioria absoluta prevista para o seu funcionamen-
originário que rompeu com o ordenamento jurídico anterior, esta- to, que seriam dificilmente alterados com a maioria de tres quintos,
beleceu dois mecanismos constitucionais de reforma de seu texto: transformaram a revisão em uma série de emendas. Decorre deste
a emenda e a revisão. fato a existencia de emendas constitucionais e de emendas de re-
No texto são estabelecidos limites para atuação do poder con- visão, cada uma com numeração específica.
stituinte derivado, que é um poder de segundo grau, limitado e Isto posto podemos enfrentar o questionamento a que nos
subordinado. Portanto, além da subordinação existênte entre um referimos anteriormente: será possível promover as profundas al-
poder que é inicial e um poder de segundo grau derivado de um terações no texto constitucional de 1988 aqui sugeridas, inclusíve
poder soberano, o que implica na impossibilidade de descarac- alterar a ideologia constitucional rompendo com os modelos vin-
terizar a obra do primeiro, a Constituição traz limites expressos que culados a sistemas sócio-economicos promovendo a desconstituci-
podem ser classificados da seguinte forma: nalização da propriedade privada?

8
SOCIOLOGIA
Poderíamos começar respondendo esta questão com outra mover as mudanças sociais e econômicas que desejar, construindo
pergunta: Para que? livremente o seu modelo na esfera territorial menor de poder que
As alterações aqui sugeridas são amplas e representam um é o Munícipio, dificilmente ocorrerá com base neste texto vigente.
rompimento com um tipo de Constituição o que implica com o A complexidade das discussões, a variedade das decisões judiciais
rompimento com alguns principios constitucionais e a alteração da com interpretações diversas, a insegurança jurídica daí decorrente, é
Ideologia constitucinalmente adotada. Neste momento é necessário um desgaste desnecessário e um preço que não deve ser pago, sen-
resumirmos o que já foi dito sobre mudança da Constituição. Nos do necessário efetivamente um rompimento com o ordenamento
referimos a dois mecanismos de alteração do texto constitucional, jurídico vigente e a convocação de uma Assembléia Constituinte de-
um formal, previsto no texto constitucional, que é o poder constitu- mocrática onde este modelo e estas questões sejam amplamente dis-
inte derivado de emenda e revisão, e um informal que se constitui no cutidas, e onde as forças sociais se confrontem democráticamente na
processo de mutação interpretativa da Constituição: construção de um novo modelo que ofereça segurança e estabilidade
a) a mutação da Constituição ocorre através da leitura sistemáti- nas constantes mudanças sociais que ele permitirá.
ca das regras e princípios constitucionais e de sua inserção em uma Acrescente-se ainda que a nossa Constituição, assim como
realidade social, política e econômica específica. Deste permanente todas as Constituições modernas, tem uma vinculação com um
processo de interpretação e aplicação do texto constitucional a uma modelo socio-econômico específico, seja liberal, social ou social-
realidade concreta, ocorrem processos de evolução da leitura do tex- ista como visto anteriormente. O texto de 1988, traz uma ordem
to, a reformulação de conceitos e adequação de princípios com a alter- econômica que tem como princípios a livre iniciativa, a livre con-
ação de valores. Vimos que o processo de mutação pode mesmo gerar corrência, a propriedade privada, principios de origem liberal que
um rompimento com um modelo, ou tipo de Estado específico, para ao lado de princípios de origem socialista, como a função social da
a sua transformação num outro tipo, o que pode ocorrer justamente propriedade, o pleno emprego, a dignidade do trabalho humano,
a partir do momento em que as transformações sociais se refletem somam-se a direitos humanos de terceira geração como o direito
na alteração de conceitos e releitura de princípios, que permanecendo do consumidor e o meio ambiente, para apontar para uma ordem
no texto tem sua atualização promovida pela evolução interpretativa. econômica que embora avançada, pois incorpora o que há de mais
Exemplo pode ser a Constituição norte americana, cujo o texto escrito, atual em termos de direitos fundamentais, pode no máximo ser
embora seja o mesmo, acrescido de 27 emendas, desde 1787, recebeu interpretada como uma ordem econômica neoliberal em sentido
leituras ou interpretações bastante diferentes em sua longa existência, amplo, com um modelo de Estado Social não clientelista, dentro de
o que sugere a existência de Constituições diferentes construídas so- um modelo intervencionista estatal com a finalidade de promover a
bre o mesmo texto escrito. diminuição das desigualdades sociais e regionais dentro de um cap-
Importante, entretanto, ressaltar, que existem limites para italismo social. Note-se que embora esta interpretação que suscin-
este processo de mutação interpretativa sendo que um texto tamente fizemos pareça óbvia no texto, muitos Autores de Direito
analítico como o nosso, repleto de regras em sentrido restrito, que Constitucional defendem leitura diferente, alguns defendendo uma
se aplicam a situações específicas, apresenta obstáculos por vezes ordem liberal neste texto o que nos parece absurdo.
insuperáveis, onde, nem o processo de mutação informal, nem os Coerentemente com o que sempre defendemos em termos
processos formais de alteração poderão vencer. Neste momento o de limites formais ao poder constituinte derivado, os princípios
único caminho legitimo será o de elaboração de uma nova Consti- constitucionais não podem ser modificados por meio de emendas
tuição por uma nova Assembléia Constituinte soberana e popular. ou revisão, sendo que estamos portanto dentro de um texto con-
A distorção do texto ou a construção de leituras que ignoram stitucional vinculado a um modelo econômico e um modelo espe-
princípios constitucionais, forçando uma transformação impossível, cifico de repartição econômica, o que não pode ser modificado, a
mesmo que seja um movimento legítimo porque amparado pela não ser por outra Assembléia Constituinte.
vontade consciente da população, não pode ser aceito em uma or- A interpretação constitucional não pode ignorar esta vincu-
dem constitucional democrática, pois ameaça o seu princípio maior lação, e o papel do interprete será o de acabar com os antago-
de respeito ao processos democráticos de transformação. nismos do texto, representado neste momento por princípios de
b) a outra maneira de se alterar o texto constitucional é a que origem liberal ao lado de princípios de origem socialista, extraindo
estudamos neste artigo. A alteração da Constituição através de deste texto uma nova resultante, que não poderá ser entretanto a
emenda e revisão de seu texto em processo legislativo previsto no que desejamos, pois esta representa o rompimento com os mod-
texto, com limites também expressos. elos constitucionais vinculados com modelos socio-econômicos,
Os limites a estes processos formais são maiores, sendo que não que são todos os modelos conhecidos até hoje no constitucionalis-
será possível se alterar ou suprimir princípios constitucionais, o que mo que se afirmou após a Revolução francesa.
Conclui-se que o novo modelo, diante das restrições existentes
inviabiliza a modificação da ideologia constitucional e o rompimento
em um texto analítico como o nosso, pede uma Assembléia Constitu-
com um tipo de Constituição específica por meio destes mecanismos.
inte Soberana e Popular, onde se discuta as bases de um Estado que
Poderá o leitor perguntar porque os mecanismos expressa-
garanta voz aos seus cidadãos através de mecanismos de participação
mente previstos no texto constitucional são muito mais limita-
democrática permanente; que garanta fala aos cidadãos através da ed-
dos do que os processo informais de mutação. A resposta é sim-
ucação livre, da liberdade de informar e informar-se; e onde a comuni-
ples, pois a lei é a interpretação que se faz dela em um momento
cação entre Sociedade Civil e Estado seja o elemento que faça com que
histórico, logo a Constituição não é apenas o texto escrito mas sim a
estes dois conceitos de confundam em um Estado que seja sensível
interpretação que se faz deste texto. Conclui-se que o processo de
às indicações que partem de seu povo através dos mecanismos de-
mutação interpretativa não implica na alteração do texto escrito,
mocráticos constitucionalmente instituídos e garantidos.
na supressão de princípios, mas na constante reconstrução destes
ou seja na reconstrução da Constituição.
Noções de Cidadania
A modificação formal é um processo inferior, subordinado, lim-
itado, enquanto a mutação interpretativa é a própria constituição Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade
limitada apenas pelo seu texto escrito. para melhorar suas vidas e ade outras pessoas. Ser cidadãoé nunca
Com base nestes dados, podemos concluir que as alterações se esquecer das pessoas que mais necessitam. A cidadania deve ser
sugeridas que representam um rompimento com um modelo vin- divulgada através de instituições de ensino e meios de comunica-
culado para a criação de uma Constituição democrática, onde o ção para o bem estar e desenvolvimento da nação.
cidadão tenha liberdade e amparo na estrutura do Estado para pro-

9
SOCIOLOGIA
A cidadania consiste desde o gesto de não jogar papel na rua, Sinaliza-se, assim, algumas referências preliminares que indi-
não pichar os muros, respeitar os sinais e placas, respeitar os mais cam o significado aqui atribuído à expressão consciência ecológica.
velhos (assim como todas às outras pessoas), não destruir telefo- A participação e o exercício da cidadania, com empenho e res-
nes públicos, saber dizer obrigado, desculpe, por favor e bom dia ponsabilidade, são fundamentais na construção de uma nova socie-
quando necessário... até saber lidar com o abandono e a exclusão dade, mais justa e em harmonia com o ambiente. Para isto,é urgen-
das pessoas necessitadas, o direito das crianças carentes e outros te descobrir novas formas de organizar as relações entre sociedade
grandes problemas que enfrentamos em nosso país. e natureza, e também um novo estilo de vida que respeite todas
“A revolta é o último dos direitos a que deve um povo livre as criaturas que, segundo São Francisco de Assis, são nossas irmãs.
para garantir os interesses coletivos: mas é também o mais impe- Queremos contribuir para melhorar a qualidade de vida atra-
rioso dos deveres impostos aos cidadãos.” (Juarez Távora Militar e vés da construção de um ambiente saudável, que possa ser des-
político brasileiro). frutado por nossa geração e também pelas futuras. Vivemos hoje
Consciência ecológica é uma expressão, exaustivamente utiliza- sob a hegemonia de um modelo de desenvolvimento baseado em
da na bibliografia especializada, de anos recentes, sem uma preocu-
relações econômicas que privilegiam o mercado, que usa a natu-
pação da maioria dos autores de precisarem a que, exatamente, es-
reza e os seres humanos como recursos e fonte de renda. Contra
tão se referindo. A noção focalizada se contextualiza, historicamente,
este modelo injusto e excludente afirmamos que todos os seres,
no período pós Segunda Guerra Mundial, quando setores da socieda-
de ocidental industrializada passam a expressar reação aos impactos animados ou inanimados, possuem um valor existencial intrínseco
destrutivos produzidos pelo desenvolvimento tecnocientífica e urba- que transcende valores utilitários.
no industrial sobre o ambiente natural e construído. Representa o Por isso, a todos deve ser garantida a vida, a preservação e a
despertar de uma compreensão e sensibilidade novas da degradação continuidade. O ser humano tem a missão de administrar respon-
do meio ambiente e das consequências desse processo para a quali- savelmente o ambiente natural, não dominá-lo e destruí-lo com
dade da vida humana e para o futuro da espécie como um todo. sua sede insaciável de possuir e de consumir. Apesar de o quadro
Expressa a compreensão de que a presente crise ecológica ar- ecológico ser extremamente inquietante, existem cada vez mais
ticula fenômenos naturais e sociais e, mais que isso, privilegia as ra- pessoas e entidades que têm a consciência de que uma mudança é
zões político-sociais da crise relativamente aos motivos biológicos e/ necessária, e possível.
ou técnicos. Isto porque entende que a degradação ambiental é, na
verdade, consequência de um modelo, de organização político-social e EXERCÍCIOS
de desenvolvimento econômico, que estabelece prioridades e define o
que a sociedade deve produzir, como deve produzir e como será distri-
buído o produto social. Isto implica no estabelecimento de um deter- 1. (CESPE - 2008 - MPE-RR - Oficial de Promotoria) Embora
minado padrão tecnológico e de uso dos recursos naturais, associados a cidadania expresse um conjunto de direitos, a possibilidade de
a uma forma específica de organização do trabalho e de apropriação participação ativa na sociedade reduz-se aos economicamente pri-
das riquezas socialmente produzidas. Comporta, portanto, interesses vilegiados.
divergentes entre os vários grupos sociais, dentre os quais aqueles em ( ) Certo
posição hegemônica decidem os rumos sociais e os impõe ao restante ( ) Errado
da sociedade. Assim, os impactos ecológicos e os desequilíbrios sobre
os ciclos biogeoquímicos são decorrentes de decisões políticas e eco- 2. (INSTITUTO AOCP - 2014 - UFGD - Assistente Administrati-
nômicas previamente tomadas. A solução para tais problemas, por vo)Assinale a alternativa que apresenta um conceito de cidadania.
conseguinte, exige mudanças nas estruturas de poder e de produção A) Cidadania é a pertença passiva e ativa de indivíduos em um
e não medidas superficiais e paliativas sobre seus efeitos. Essa consci- estado-nação com certos direitos e obrigações universais em um
ência ecológica, que se manifesta, principalmente, como compreen-
específco nível de igualdade.
são intelectual de uma realidade, desencadeia e materializa ações e
B) Cidadania é a pertença passiva e ativa de famílias com a ob-
sentimentos que atingem, em última instância, as relações sociais e as
servação do respeito e da participação de seus membros nas deci-
relações dos homens com a natureza abrangente. Isso quer dizer que
a consciência ecológica não se esgota enquanto ideia ou teoria, dada sões em conformidade com a autoridade paterna.
sua capacidade de elaborar comportamentos e inspirar valores e senti- C) Cidadania é a pertença passiva e ativa de grupos sociais em
mentos relacionados com o tema. Significa, também, uma nova forma defesa de seus interesses coletivos obtidos através do embate ide-
de ver e compreender as relações entre os homens e destes com seu ológico entre grupos dominados e dominantes.
ambiente, de constatar a indivisibilidade entre sociedade e natureza e D) Cidadania é a pertença passiva e ativa de indivíduos em suas
de perceber a indispensabilidade desta para a vida humana. Aponta, classes profssionais para fazer prevalecer a qualifcação e o saber de
ainda, para a busca de um novo relacionamento com os ecossistemas cada um no efetivo exercício profssional.
naturais que ultrapasse a perspectiva individualista, antropocêntrica e E) Cidadania é a pertença passiva e ativa de indivíduos em um
utilitária que, historicamente, tem caracterizado a cultura e civilização estado-nação com todos os direitos determinados pelas leis confor-
modernas ocidentais.(Leis, 1992; Unger, 1992; Mansholt, 1973; me a classe social.

Boff, 1995; Morin, 1975). 3. (PGT - 2006 - PGT - Procurador) Em relação aos Tratados
Para Morin, um dos autores que mais avança no esforço de Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos, é INCORRETO
definir o fenômeno: afirmar que:
“(...) a consciência ecológica é historicamente uma maneira rad- A) os tratados, como acordos internacionais juridicamente
icalmente nova de apresentar os problemas de insalubridade, nocivi- obrigatórios e vinculantes, constituem a principal fonte de obriga-
dade e de poluição, até então julgados excêntricos, com relação aos ção do Direito Internacional, e só se aplicam aos Estados que ex-
‘verdadeiros’ temas políticos; esta tendência se torna um projeto pressamente consentirem com a sua adoção;
político global , já que ela critica e rejeita, tanto os fundamentos do hu- B) segundo a Constituição de 1988, os tratados internacionais
manismo ocidental, quanto os princípios do crescimento e do desen- demandam, para o seu aperfeiçoamento, um ato complexo onde
volvimento que propulsam a civilização tecnocrática.” (Morin, 1975) se integram a vontade do Presidente da República e do Congresso
Nacional;

10
SOCIOLOGIA
C) a Carta Constitucional de 1967 incluía, expressamente, den- ______________________________________________________
tre os direitos constitucionalmente protegidos, os direitos enuncia-
dos nos tratados internacionais de que o Brasil fosse signatário; ______________________________________________________
D) a doutrina da incorporação imediata dos tratados inter-
nacionais ao direito nacional, tão logo sejam ratificados, reflete a ______________________________________________________
concepção monista do direito, pela qual o direito internacional e o
______________________________________________________
direito interno compõem uma mesma ordem jurídica;
E) não respondida. ______________________________________________________

______________________________________________________
GABARITO
______________________________________________________

______________________________________________________
1 ERRADO
2 A ______________________________________________________
3 C ______________________________________________________

______________________________________________________
ANOTAÇÕES
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________

11
SOCIOLOGIA
______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

____________________________________________________ _____________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

_____________________________________________________ ______________________________________________________

_____________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ _____________________________________________________

______________________________________________________ _____________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

12
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
1. Direitos e Deveres Individuais e coletivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Considerações sobre a polícia e os Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
1) Brasileiros e estrangeiros
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS O caput do artigo 5º aparenta restringir a proteção conferida
pelo dispositivo a algumas pessoas, notadamente, “aos brasileiros
TÍTULO II e aos estrangeiros residentes no País”. No entanto, tal restrição é
DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS apenas aparente e tem sido interpretada no sentido de que os di-
reitos estarão protegidos com relação a todas as pessoas nos limites
O título II da Constituição Federal é intitulado “Direitos e Ga- da soberania do país.
rantias fundamentais”, gênero que abrange as seguintes espécies Em razão disso, por exemplo, um estrangeiro pode ingressar
de direitos fundamentais: direitos individuais e coletivos (art. 5º, com habeas corpus ou mandado de segurança, ou então intentar
CF), direitos sociais (genericamente previstos no art. 6º, CF), direi- ação reivindicatória com relação a imóvel seu localizado no Brasil
tos da nacionalidade (artigos 12 e 13, CF) e direitos políticos (artigos (ainda que não resida no país).
14 a 17, CF).
Em termos comparativos à clássica divisão tridimensional dos Somente alguns direitos não são estendidos a todas as pessoas.
direitos humanos, os direitos individuais (maior parte do artigo 5º, A exemplo, o direito de intentar ação popular exige a condição de
CF), os direitos da nacionalidade e os direitos políticos se encaixam cidadão, que só é possuída por nacionais titulares de direitos polí-
na primeira dimensão (direitos civis e políticos); os direitos sociais ticos.
se enquadram na segunda dimensão (direitos econômicos, sociais
e culturais) e os direitos coletivos na terceira dimensão. Contudo, 2) Relação direitos-deveres
a enumeração de direitos humanos na Constituição vai além dos O capítulo em estudo é denominado “direitos e garantias de-
direitos que expressamente constam no título II do texto constitu- veres e coletivos”, remetendo à necessária relação direitos-deve-
cional. res entre os titulares dos direitos fundamentais. Acima de tudo,
Os direitos fundamentais possuem as seguintes características o que se deve ter em vista é a premissa reconhecida nos direitos
principais: fundamentais de que não há direito que seja absoluto, correspon-
a) Historicidade: os direitos fundamentais possuem antece- dendo-se para cada direito um dever. Logo, o exercício de direitos
dentes históricos relevantes e, através dos tempos, adquirem novas fundamentais é limitado pelo igual direito de mesmo exercício por
perspectivas. Nesta característica se enquadra a noção de dimen- parte de outrem, não sendo nunca absolutos, mas sempre relativos.
sões de direitos. Explica Canotilho1 quanto aos direitos fundamentais: “a ideia
b) Universalidade: os direitos fundamentais pertencem a to- de deveres fundamentais é suscetível de ser entendida como o
dos, tanto que apesar da expressão restritiva do caput do artigo 5º ‘outro lado’ dos direitos fundamentais. Como ao titular de um di-
aos brasileiros e estrangeiros residentes no país tem se entendido reito fundamental corresponde um dever por parte de um outro
pela extensão destes direitos, na perspectiva de prevalência dos di- titular, poder-se-ia dizer que o particular está vinculado aos direitos
reitos humanos. fundamentais como destinatário de um dever fundamental. Neste
c) Inalienabilidade: os direitos fundamentais não possuem sentido, um direito fundamental, enquanto protegido, pressuporia
conteúdo econômico-patrimonial, logo, são intransferíveis, inego- um dever correspondente”. Com efeito, a um direito fundamental
ciáveis e indisponíveis, estando fora do comércio, o que evidencia conferido à pessoa corresponde o dever de respeito ao arcabouço
uma limitação do princípio da autonomia privada. de direitos conferidos às outras pessoas.
d) Irrenunciabilidade: direitos fundamentais não podem ser
renunciados pelo seu titular devido à fundamentalidade material 3) Direitos e garantias
destes direitos para a dignidade da pessoa humana. A Constituição vai além da proteção dos direitos e estabelece
e) Inviolabilidade: direitos fundamentais não podem deixar de garantias em prol da preservação destes, bem como remédios cons-
ser observados por disposições infraconstitucionais ou por atos das titucionais a serem utilizados caso estes direitos e garantias não se-
autoridades públicas, sob pena de nulidades. jam preservados. Neste sentido, dividem-se em direitos e garantias
f) Indivisibilidade: os direitos fundamentais compõem um úni- as previsões do artigo 5º: os direitos são as disposições declarató-
co conjunto de direitos porque não podem ser analisados de manei- rias e as garantias são as disposições assecuratórias.
ra isolada, separada. O legislador muitas vezes reúne no mesmo dispositivo o direito
g) Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não se perdem e a garantia, como no caso do artigo 5º, IX: “é livre a expressão da
com o tempo, não prescrevem, uma vez que são sempre exercíveis atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, inde-
e exercidos, não deixando de existir pela falta de uso (prescrição). pendentemente de censura ou licença” – o direito é o de liberdade
h) Relatividade: os direitos fundamentais não podem ser uti- de expressão e a garantia é a vedação de censura ou exigência de
lizados como um escudo para práticas ilícitas ou como argumento licença. Em outros casos, o legislador traz o direito num dispositivo
para afastamento ou diminuição da responsabilidade por atos ilíci- e a garantia em outro: a liberdade de locomoção, direito, é colocada
tos, assim estes direitos não são ilimitados e encontram seus limites no artigo 5º, XV, ao passo que o dever de relaxamento da prisão
nos demais direitos igualmente consagrados como humanos. ilegal de ofício pelo juiz, garantia, se encontra no artigo 5º, LXV2.
Em caso de ineficácia da garantia, implicando em violação de
Direitos e deveres individuais e coletivos direito, cabe a utilização dos remédios constitucionais.
O capítulo I do título II é intitulado “direitos e deveres indivi- Atenção para o fato de o constituinte chamar os remédios
duais e coletivos”. Da própria nomenclatura do capítulo já se extrai constitucionais de garantias, e todas as suas fórmulas de direitos e
que a proteção vai além dos direitos do indivíduo e também abran- garantias propriamente ditas apenas de direitos.
ge direitos da coletividade. A maior parte dos direitos enumerados
no artigo 5º do texto constitucional é de direitos individuais, mas 4) Direitos e garantias em espécie
são incluídos alguns direitos coletivos e mesmo remédios constitu- Preconiza o artigo 5º da Constituição Federal em seu caput:
cionais próprios para a tutela destes direitos coletivos (ex.: manda- 1 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constitui-
do de segurança coletivo). ção. 2. ed. Coimbra: Almedina, 1998, p. 479.
2 FARIA, Cássio Juvenal. Notas pessoais tomadas em teleconferência.

1
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção des decorrentes de discriminações ou de uma hipossuficiência eco-
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangei- nômica ou física, por meio da concessão de algum tipo de vantagem
ros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, compensatória de tais condições.
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes [...]. Quem é contra as ações afirmativas argumenta que, em uma
sociedade pluralista, a condição de membro de um grupo especí-
O caput do artigo 5º, que pode ser considerado um dos prin- fico não pode ser usada como critério de inclusão ou exclusão de
cipais (senão o principal) artigos da Constituição Federal, consagra benefícios.
o princípio da igualdade e delimita as cinco esferas de direitos in- Ademais, afirma-se que elas desprivilegiam o critério republi-
dividuais e coletivos que merecem proteção, isto é, vida, liberdade, cano do mérito (segundo o qual o indivíduo deve alcançar determi-
igualdade, segurança e propriedade. Os incisos deste artigos delimi- nado cargo público pela sua capacidade e esforço, e não por perten-
tam vários direitos e garantias que se enquadram em alguma destas cer a determinada categoria); fomentariam o racismo e o ódio; bem
esferas de proteção, podendo se falar em duas esferas específicas como ferem o princípio da isonomia por causar uma discriminação
que ganham também destaque no texto constitucional, quais se- reversa.
jam, direitos de acesso à justiça e direitos constitucionais-penais. Por outro lado, quem é favorável às ações afirmativas defende
que elas representam o ideal de justiça compensatória (o objetivo é
- Direito à igualdade compensar injustiças passadas, dívidas históricas, como uma com-
pensação aos negros por tê-los feito escravos, p. ex.); representam
Abrangência o ideal de justiça distributiva (a preocupação, aqui, é com o presen-
Observa-se, pelo teor do caput do artigo 5º, CF, que o consti- te. Busca-se uma concretização do princípio da igualdade material);
tuinte afirmou por duas vezes o princípio da igualdade: bem como promovem a diversidade.
Neste sentido, as discriminações legais asseguram a verdadeira
Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem dis- igualdade, por exemplo, com as ações afirmativas, a proteção espe-
tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos cial ao trabalho da mulher e do menor, as garantias aos portadores
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, de deficiência, entre outras medidas que atribuam a pessoas com
à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos diferentes condições, iguais possibilidades, proegendo e respeitan-
seguintes [...]. do suas diferenças3.
Tem predominado em doutrina e jurisprudência, inclusive no
Não obstante, reforça este princípio em seu primeiro inciso: Supremo Tribunal Federal, que as ações afirmativas são válidas.
Artigo 5º, I, CF. Homens e mulheres são iguais em direitos e
obrigações, nos termos desta Constituição. - Direito à vida
Este inciso é especificamente voltado à necessidade de igual-
dade de gênero, afirmando que não deve haver nenhuma distinção Abrangência
sexo feminino e o masculino, de modo que o homem e a mulher O caput do artigo 5º da Constituição assegura a proteção do
possuem os mesmos direitos e obrigações. direito à vida. A vida humana é o centro gravitacional em torno do
Entretanto, o princípio da isonomia abrange muito mais do que qual orbitam todos os direitos da pessoa humana, possuindo refle-
a igualdade de gêneros, envolve uma perspectiva mais ampla. xos jurídicos, políticos, econômicos, morais e religiosos. Daí existir
O direito à igualdade é um dos direitos norteadores de inter- uma dificuldade em conceituar o vocábulo vida. Logo, tudo aquilo
pretação de qualquer sistema jurídico. O primeiro enfoque que foi
que uma pessoa possui deixa de ter valor ou sentido se ela perde a
dado a este direito foi o de direito civil, enquadrando-o na primei-
vida. Sendo assim, a vida é o bem principal de qualquer pessoa, é o
ra dimensão, no sentido de que a todas as pessoas deveriam ser
primeiro valor moral inerente a todos os seres humanos4.
garantidos os mesmos direitos e deveres. Trata-se de um aspecto
No tópico do direito à vida tem-se tanto o direito de nascer/per-
relacionado à igualdade enquanto liberdade, tirando o homem do
manecer vivo, o que envolve questões como pena de morte, eutaná-
arbítrio dos demais por meio da equiparação. Basicamente, estaria
sia, pesquisas com células-tronco e aborto; quanto o direito de viver
se falando na igualdade perante a lei.
com dignidade, o que engloba o respeito à integridade física, psíqui-
No entanto, com o passar dos tempos, se percebeu que não
bastava igualar todos os homens em direitos e deveres para torná- ca e moral, incluindo neste aspecto a vedação da tortura, bem como
-los iguais, pois nem todos possuem as mesmas condições de exer- a garantia de recursos que permitam viver a vida com dignidade.
cer estes direitos e deveres. Logo, não é suficiente garantir um di- Embora o direito à vida seja em si pouco delimitado nos incisos
reito à igualdade formal, mas é preciso buscar progressivamente a que seguem o caput do artigo 5º, trata-se de um dos direitos mais
igualdade material. No sentido de igualdade material que aparece discutidos em termos jurisprudenciais e sociológicos. É no direito à
o direito à igualdade num segundo momento, pretendendo-se do vida que se encaixam polêmicas discussões como: aborto de anen-
Estado, tanto no momento de legislar quanto no de aplicar e exe- céfalo, pesquisa com células tronco, pena de morte, eutanásia, etc.
cutar a lei, uma postura de promoção de políticas governamentais
voltadas a grupos vulneráveis. Vedação à tortura
Assim, o direito à igualdade possui dois sentidos notáveis: o De forma expressa no texto constitucional destaca-se a veda-
de igualdade perante a lei, referindo-se à aplicação uniforme da lei ção da tortura, corolário do direito à vida, conforme previsão no
a todas as pessoas que vivem em sociedade; e o de igualdade ma- inciso III do artigo 5º:
terial, correspondendo à necessidade de discriminações positivas Artigo 5º, III, CF. Ninguém será submetido a tortura nem a tra-
com relação a grupos vulneráveis da sociedade, em contraponto à tamento desumano ou degradante.
igualdade formal. 3 SANFELICE, Patrícia de Mello. Comentários aos artigos I e II. In: BALERA, Wag-
ner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Bra-
Ações afirmativas
sília: Fortium, 2008, p. 08.
Neste sentido, desponta a temática das ações afirmativas,que
4 BARRETO, Ana Carolina Rossi; IBRAHIM, Fábio Zambitte. Comentários aos Ar-
são políticas públicas ou programas privados criados temporaria-
tigos III e IV. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal
mente e desenvolvidos com a finalidade de reduzir as desigualda-
dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008, p. 15.

2
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
A tortura é um dos piores meios de tratamento desumano, ex- Consolida-se a afirmação simultânea da liberdade de pensa-
pressamente vedada em âmbito internacional, como visto no tó- mento e da liberdade de expressão.
pico anterior. No Brasil, além da disciplina constitucional, a Lei nº Em primeiro plano tem-se a liberdade de pensamento. Afinal,
9.455, de 7 de abril de 1997 define os crimes de tortura e dá outras “o ser humano, através dos processos internos de reflexão, formula
providências, destacando-se o artigo 1º: juízos de valor. Estes exteriorizam nada mais do que a opinião de
Art. 1º Constitui crime de tortura: seu emitente. Assim, a regra constitucional, ao consagrar a livre ma-
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave nifestação do pensamento, imprime a existência jurídica ao chama-
ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: do direito de opinião”5. Em outras palavras, primeiro existe o direito
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da de ter uma opinião, depois o de expressá-la.
vítima ou de terceira pessoa; No mais, surge como corolário do direito à liberdade de pen-
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; samento e de expressão o direito à escusa por convicção filosófica
c) em razão de discriminação racial ou religiosa; ou política:
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por motivo
com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se
físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recu-
de caráter preventivo. sar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou Trata-se de instrumento para a consecução do direito assegu-
sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por rado na Constituição Federal – não basta permitir que se pense di-
intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante ferente, é preciso respeitar tal posicionamento.
de medida legal. Com efeito, este direito de liberdade de expressão é limitado.
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando Um destes limites é o anonimato, que consiste na garantia de atri-
tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção buir a cada manifestação uma autoria certa e determinada, permi-
de um a quatro anos. tindo eventuais responsabilizações por manifestações que contra-
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, riem a lei.
a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclu- Tem-se, ainda, a seguinte previsão no artigo 5º, IX, CF:
são é de oito a dezesseis anos. Artigo 5º, IX, CF. É livre a expressão da atividade intelectual,
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: artística, científica e de comunicação, independentemente de cen-
I - se o crime é cometido por agente público; sura ou licença.
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de
deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; Consolida-se outra perspectiva da liberdade de expressão, refe-
III - se o crime é cometido mediante sequestro. rente de forma específica a atividades intelectuais, artísticas, cien-
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou em- tíficas e de comunicação. Dispensa-se, com relação a estas, a exi-
prego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo gência de licença para a manifestação do pensamento, bem como
da pena aplicada. veda-se a censura prévia.
§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça A respeito da censura prévia, tem-se não cabe impedir a divul-
ou anistia. gação e o acesso a informações como modo de controle do poder. A
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese censura somente é cabível quando necessária ao interesse público
do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. numa ordem democrática, por exemplo, censurar a publicação de
um conteúdo de exploração sexual infanto-juvenil é adequado.
- Direito à liberdade O direito à resposta (artigo 5º, V, CF) e o direito à indenização
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a proteção do (artigo 5º, X, CF) funcionam como a contrapartida para aquele que
direito à liberdade, delimitada em alguns incisos que o seguem. teve algum direito seu violado (notadamente inerentes à privacida-
de ou à personalidade) em decorrência dos excessos no exercício da
Liberdade e legalidade liberdade de expressão.
Prevê o artigo 5º, II, CF:
Artigo 5º, II, CF. Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de Liberdade de crença/religiosa
fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Dispõe o artigo 5º, VI, CF:
Artigo 5º, VI, CF. É inviolável a liberdade de consciência e de
O princípio da legalidade se encontra delimitado neste inciso, crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
prevendo que nenhuma pessoa será obrigada a fazer ou deixar de garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas
fazer alguma coisa a não ser que a lei assim determine. Assim, salvo liturgias.
situações previstas em lei, a pessoa tem liberdade para agir como Cada pessoa tem liberdade para professar a sua fé como bem
considerar conveniente. entender dentro dos limites da lei. Não há uma crença ou religião
Portanto, o princípio da legalidade possui estrita relação com que seja proibida, garantindo-se que a profissão desta fé possa se
o princípio da liberdade, posto que, a priori, tudo à pessoa é líci- realizar em locais próprios.
to. Somente é vedado o que a lei expressamente estabelecer como Nota-se que a liberdade de religião engloba 3 tipos distintos,
proibido. A pessoa pode fazer tudo o que quiser, como regra, ou porém intrinsecamente relacionados de liberdades: a liberdade de
seja, agir de qualquer maneira que a lei não proíba. crença; a liberdade de culto; e a liberdade de organização religiosa.

Liberdade de pensamento e de expressão Consoante o magistério de José Afonso da Silva6, entra na liber-
O artigo 5º, IV, CF prevê:
5 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito
Artigo 5º, IV, CF. É livre a manifestação do pensamento, sendo
constitucional. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
vedado o anonimato.
6 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. São Pau-

3
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
dade de crença a liberdade de escolha da religião, a liberdade de A respeito, a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 regula
aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade (ou o direito) de mudar o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, CF, tam-
de religião, além da liberdade de não aderir a religião alguma, assim bém conhecida como Lei do Acesso à Informação.
como a liberdade de descrença, a liberdade de ser ateu e de ex-
primir o agnosticismo, apenas excluída a liberdade de embaraçar o Não obstante, estabelece o artigo 5º, XXXIV, CF:
livre exercício de qualquer religião, de qualquer crença. A liberdade Artigo 5º, XXXIV, CF. São a todos assegurados, independente-
de culto consiste na liberdade de orar e de praticar os atos próprios mente do pagamento de taxas:
das manifestações exteriores em casa ou em público, bem como a a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direi-
de recebimento de contribuições para tanto. Por fim, a liberdade de tos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
organização religiosa refere-se à possibilidade de estabelecimento b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para de-
e organização de igrejas e suas relações com o Estado. fesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal.
Como decorrência do direito à liberdade religiosa, assegurando
o seu exercício, destaca-se o artigo 5º, VII, CF: Quanto ao direito de petição, de maneira prática, cumpre ob-
Artigo 5º, VII, CF. É assegurada, nos termos da lei, a prestação servar que o direito de petição deve resultar em uma manifesta-
de assistência religiosa nas entidades civis e militares de interna- ção do Estado, normalmente dirimindo (resolvendo) uma questão
ção coletiva. proposta, em um verdadeiro exercício contínuo de delimitação dos
direitos e obrigações que regulam a vida social e, desta maneira,
O dispositivo refere-se não só aos estabelecimentos prisionais quando “dificulta a apreciação de um pedido que um cidadão quer
civis e militares, mas também a hospitais. apresentar” (muitas vezes, embaraçando-lhe o acesso à Justiça);
Ainda, surge como corolário do direito à liberdade religiosa o “demora para responder aos pedidos formulados” (administrativa e,
direito à escusa por convicção religiosa: principalmente, judicialmente) ou “impõe restrições e/ou condições
Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por motivo para a formulação de petição”, traz a chamada insegurança jurídica,
de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as que traz desesperança e faz proliferar as desigualdades e as injustiças.
invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recu- Dentro do espectro do direito de petição se insere, por exem-
sar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei. plo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar cópias repro-
Sempre que a lei impõe uma obrigação a todos, por exemplo, gráficas e certidões, bem como de ofertar denúncias de irregulari-
a todos os homens maiores de 18 anos o alistamento militar, não dades. Contudo, o constituinte, talvez na intenção de deixar clara
cabe se escusar, a não ser que tenha fundado motivo em crença re- a obrigação dos Poderes Públicos em fornecer certidões, trouxe a
ligiosa ou convicção filosófica/política, caso em que será obrigado a letra b) do inciso, o que gera confusões conceituais no sentido do
cumprir uma prestação alternativa, isto é, uma outra atividade que direito de obter certidões ser dissociado do direito de petição.
não contrarie tais preceitos. Por fim, relevante destacar a previsão do artigo 5º, LX, CF:
Artigo 5º, LX, CF. A lei só poderá restringir a publicidade dos
Liberdade de informação atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse so-
O direito de acesso à informação também se liga a uma dimen- cial o exigirem.
são do direito à liberdade. Neste sentido, prevê o artigo 5º, XIV, CF:
Logo,o processo, em regra, não será sigiloso. Apenas o será
Artigo 5º, XIV, CF. É assegurado a todos o acesso à informação e res- quando a intimidade merecer preservação (ex: processo criminal
guardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional. de estupro ou causas de família em geral) ou quando o interesse
Trata-se da liberdade de informação, consistente na liberdade social exigir (ex: investigações que possam ser comprometidas pela
de procurar e receber informações e ideias por quaisquer meios, publicidade). A publicidade é instrumento para a efetivação da li-
independente de fronteiras, sem interferência. berdade de informação.
A liberdade de informação tem um caráter passivo, ao passo
que a liberdade de expressão tem uma característica ativa, de for- Liberdade de locomoção
ma que juntas formam os aspectos ativo e passivo da exterioriza- Outra faceta do direito à liberdade encontra-se no artigo 5º,
ção da liberdade de pensamento: não basta poder manifestar o seu XV, CF:
próprio pensamento, é preciso que ele seja ouvido e, para tanto, há
necessidade de se garantir o acesso ao pensamento manifestado Artigo 5º, XV, CF. É livre a locomoção no território nacional em
para a sociedade. tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele
Por sua vez, o acesso à informação envolve o direito de todos entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.
obterem informações claras, precisas e verdadeiras a respeito de
A liberdade de locomoção é um aspecto básico do direito à li-
fatos que sejam de seu interesse, notadamente pelos meios de co-
berdade, permitindo à pessoa ir e vir em todo o território do país
municação imparciais e não monopolizados (artigo 220, CF).
em tempos de paz (em tempos de guerra é possível limitar tal liber-
No entanto, nem sempre é possível que a imprensa divulgue
dade em prol da segurança). A liberdade de sair do país não signifi-
com quem obteve a informação divulgada, sem o que a segurança
ca que existe um direito de ingressar em qualquer outro país, pois
desta poderia ficar prejudicada e a informação inevitavelmente não
caberá à ele, no exercício de sua soberania, controlar tal entrada.
chegaria ao público.
Classicamente, a prisão é a forma de restrição da liberdade.
Especificadamente quanto à liberdade de informação no âmbi-
to do Poder Público, merecem destaque algumas previsões. Neste sentido, uma pessoa somente poderá ser presa nos casos
Primeiramente, prevê o artigo 5º, XXXIII, CF: autorizados pela própria Constituição Federal. A despeito da nor-
Artigo 5º, XXXIII, CF. Todos têm direito a receber dos órgãos mativa específica de natureza penal, reforça-se a impossibilidade de
públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse se restringir a liberdade de locomoção pela prisão civil por dívida.
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de Prevê o artigo 5º, LXVII, CF:
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindí- Artigo 5º, LXVII, CF. Não haverá prisão civil por dívida, salvo
vel à segurança da sociedade e do Estado. a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de
obrigação alimentícia e a do depositário infiel.
lo: Malheiros, 2006.

4
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
Nos termos da Súmula Vinculante nº 25 do Supremo Tribunal Ainda, tem-se o artigo 5º, XIX, CF:
Federal, “é ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que Artigo 5º, XIX, CF. As associações só poderão ser compulsoria-
seja a modalidade do depósito”. Por isso, a única exceção à regra mente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judi-
da prisão por dívida do ordenamento é a que se refere à obrigação cial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado.
alimentícia.
O primeiro caso é o de dissolução compulsória, ou seja, a as-
Liberdade de trabalho sociação deixará de existir para sempre. Obviamente, é preciso o
O direito à liberdade também é mencionado no artigo 5º, XIII, CF: trânsito em julgado da decisão judicial que assim determine, pois
Artigo 5º, XIII, CF. É livre o exercício de qualquer trabalho, ofí- antes disso sempre há possibilidade de reverter a decisão e permitir
cio ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei que a associação continue em funcionamento. Contudo, a decisão
estabelecer. judicial pode suspender atividades até que o trânsito em julgado
ocorra, ou seja, no curso de um processo judicial.
O livre exercício profissional é garantido, respeitados os limi- Em destaque, a legitimidade representativa da associação
tes legais. Por exemplo, não pode exercer a profissão de advogado quanto aos seus filiados, conforme artigo 5º, XXI, CF:
aquele que não se formou em Direito e não foi aprovado no Exame Artigo 5º, XXI, CF. As entidades associativas, quando expressa-
da Ordem dos Advogados do Brasil; não pode exercer a medicina mente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados
aquele que não fez faculdade de medicina reconhecida pelo MEC e judicial ou extrajudicialmente.
obteve o cadastro no Conselho Regional de Medicina.
Trata-se de caso de legitimidade processual extraordinária,
Liberdade de reunião pela qual um ente vai a juízo defender interesse de outra(s) pes-
Sobre a liberdade de reunião, prevê o artigo 5º, XVI, CF: soa(s) porque a lei assim autoriza.
Artigo 5º, XVI, CF. Todos podem reunir-se pacificamente, sem A liberdade de associação envolve não somente o direito de
armas, em locais abertos ao público, independentemente de auto- criar associações e de fazer parte delas, mas também o de não asso-
rização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente con- ciar-se e o de deixar a associação, conforme artigo 5º, XX, CF:
vocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à
autoridade competente. Artigo 5º, XX, CF. Ninguém poderá ser compelido a associar-se
Pessoas podem ir às ruas para reunirem-se com demais na de- ou a permanecer associado.
fesa de uma causa, apenas possuindo o dever de informar tal reu-
nião. - Direitos à privacidade e à personalidade
Tal dver remonta-se a questões de segurança coletiva. Imagine
uma grande reunião de pessoas por uma causa, a exemplo da Pa- Abrangência
rada Gay, que chega a aglomerar milhões de pessoas em algumas Prevê o artigo 5º, X, CF:
capitais: seria absurdo tolerar tal tipo de reunião sem o prévio aviso Artigo 5º, X, CF. São invioláveis a intimidade, a vida privada, a
do poder público para que ele organize o policiamento e a assistên- honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização
cia médica, evitando algazarras e socorrendo pessoas que tenham pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
algum mal-estar no local. Outro limite é o uso de armas, totalmente
vedado, assim como de substâncias ilícitas (Ex: embora a Marcha O legislador opta por trazer correlacionados no mesmo disposi-
da Maconha tenha sido autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, tivo legal os direitos à privacidade e à personalidade.
vedou-se que nela tal substância ilícita fosse utilizada). Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimidade, ao
abordar a proteção da vida privada – que, em resumo, é a privaci-
Liberdade de associação dade da vida pessoal no âmbito do domicílio e de círculos de ami-
No que tange à liberdade de reunião, traz o artigo 5º, XVII, CF: gos –, Silva7 entende que “o segredo da vida privada é condição
Artigo 5º, XVII, CF. É plena a liberdade de associação para fins de expansão da personalidade”, mas não caracteriza os direitos de
lícitos, vedada a de caráter paramilitar. personalidade em si.
A união da intimidade e da vida privada forma a privacidade,
A liberdade de associação difere-se da de reunião por sua pere- sendo que a primeira se localiza em esfera mais estrita. É possível
nidade, isto é, enquanto a liberdade de reunião é exercida de forma ilustrar a vida social como se fosse um grande círculo no qual há um
sazonal, eventual, a liberdade de associação implica na formação menor, o da vida privada, e dentro deste um ainda mais restrito e
de um grupo organizado que se mantém por um período de tempo impenetrável, o da intimidade. Com efeito, pela “Teoria das Esfe-
considerável, dotado de estrutura e organização próprias. ras” (ou “Teoria dos Círculos Concêntricos”), importada do direito
Por exemplo, o PCC e o Comando vermelho são associações alemão, quanto mais próxima do indivíduo, maior a proteção a ser
ilícitas e de caráter paramilitar, pois possuem armas e o ideal de conferida à esfera (as esferas são representadas pela intimidade,
realizar sua própria justiça paralelamente à estatal. pela vida privada, e pela publicidade).
O texto constitucional se estende na regulamentação da liber- “O direito à honra distancia-se levemente dos dois anteriores,
dade de associação. podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa tem de si (honra
O artigo 5º, XVIII, CF, preconiza: subjetiva) e ao juízo positivo que dela fazem os outros (honra ob-
Artigo 5º, XVIII, CF. A criação de associações e, na forma da jetiva), conferindo-lhe respeitabilidade no meio social. O direito à
lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a imagem também possui duas conotações, podendo ser entendido
interferência estatal em seu funcionamento. em sentido objetivo, com relação à reprodução gráfica da pessoa,
por meio de fotografias, filmagens, desenhos, ou em sentido subje-
Neste sentido, associações são organizações resultantes da re- tivo, significando o conjunto de qualidades cultivadas pela pessoa e
união legal entre duas ou mais pessoas, com ou sem personalidade reconhecidas como suas pelo grupo social”8.
jurídica, para a realização de um objetivo comum; já cooperativas
7 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. São Pau-
são uma forma específica de associação, pois visam a obtenção de
lo: Malheiros, 2006.
vantagens comuns em suas atividades econômicas.
8 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito constitucional. Rio de Ja-

5
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
Inviolabilidade de domicílio e sigilo de correspondência indevido da manifestação do pensamento são passíveis de exame
Correlatos ao direito à privacidade, aparecem a inviolabilidade e apreciação pelo Poder Judiciário com a consequente responsabili-
do domicílio e o sigilo das correspondências e comunicações. dade civil e penal de seus autores, decorrentes inclusive de publica-
Neste sentido, o artigo 5º, XI, CF prevê: ções injuriosas na imprensa, que deve exercer vigilância e controle
Artigo 5º, XI, CF. A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém da matéria que divulga”9.
nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em O direito de resposta é o direito que uma pessoa tem de se
caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, defender de críticas públicas no mesmo meio em que foram pu-
durante o dia, por determinação judicial. blicadas garantida exatamente a mesma repercussão. Mesmo
quando for garantido o direito de resposta não é possível reverter
O domicílio é inviolável, razão pela qual ninguém pode nele en- plenamente os danos causados pela manifestação ilícita de pensa-
trar sem o consentimento do morador, a não ser EM QUALQUER mento, razão pela qual a pessoa inda fará jus à indenização.
HORÁRIO no caso de flagrante delito (o morador foi flagrado na prá- A manifestação ilícita do pensamento geralmente causa um
tica de crime e fugiu para seu domicílio) ou desastre (incêndio, en- dano, ou seja, um prejuízo sofrido pelo agente, que pode ser indi-
chente, terremoto...) ou para prestar socorro (morador teve ataque vidual ou coletivo, moral ou material, econômico e não econômico.
do coração, está sufocado, desmaiado...), e SOMENTE DURANTE O Dano material é aquele que atinge o patrimônio (material ou
DIA por determinação judicial. imaterial) da vítima, podendo ser mensurado financeiramente e in-
Quanto ao sigilo de correspondência e das comunicações, pre- denizado.
vê o artigo 5º, XII, CF: “Dano moral direto consiste na lesão a um interesse que visa a
Artigo 5º, XII, CF. É inviolável o sigilo da correspondência e das satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapatrimonial contido nos
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefôni- direitos da personalidade (como a vida, a integridade corporal, a
cas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na liberdade, a honra, o decoro, a intimidade, os sentimentos afetivos,
forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou a própria imagem) ou nos atributos da pessoa (como o nome, a
instrução processual penal. capacidade, o estado de família)”10.
Já o dano à imagem é delimitado no artigo 20 do Código Civil:
O sigilo de correspondência e das comunicações está melhor Artigo 20, CC. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à adminis-
regulamentado na Lei nº 9.296, de 1996. tração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação
de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição
Personalidade jurídica e gratuidade de registro ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas,
Quando se fala em reconhecimento como pessoa perante a lei a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se
desdobra-se uma esfera bastante específica dos direitos de perso- lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se
nalidade, consistente na personalidade jurídica. Basicamente, con- destinarem a fins comerciais.
siste no direito de ser reconhecido como pessoa perante a lei. Para
ser visto como pessoa perante a lei mostra-se necessário o registro. - Direito à segurança
Por ser instrumento que serve como pressuposto ao exercício de O caput do artigo 5º da Constituição assegura a proteção do
direitos fundamentais, assegura-se a sua gratuidade aos que não direito à segurança. Na qualidade de direito individual liga-se à se-
tiverem condição de com ele arcar. gurança do indivíduo como um todo, desde sua integridade física e
mental, até a própria segurança jurídica.
Aborda o artigo 5º, LXXVI, CF: No sentido aqui estudado, o direito à segurança pessoal é o
Artigo 5º, LXXVI, CF. São gratuitos para os reconhecidamente direito de viver sem medo, protegido pela solidariedade e liberto de
pobres, na forma da lei: agressões, logo, é uma maneira de garantir o direito à vida.
a) o registro civil de nascimento; Nesta linha, para Silva11, “efetivamente, esse conjunto de di-
b) a certidão de óbito. reitos aparelha situações, proibições, limitações e procedimentos
destinados a assegurar o exercício e o gozo de algum direito indivi-
O reconhecimento do marco inicial e do marco final da perso- dual fundamental (intimidade, liberdade pessoal ou a incolumidade
nalidade jurídica pelo registro é direito individual, não dependendo física ou moral)”.
de condições financeiras. Evidente, seria absurdo cobrar de uma Especificamente no que tange à segurança jurídica, tem-se o
pessoa sem condições a elaboração de documentos para que ela disposto no artigo 5º, XXXVI, CF:
seja reconhecida como viva ou morta, o que apenas incentivaria a Artigo 5º, XXXVI, CF. A lei não prejudicará o direito adquirido, o
indigência dos menos favorecidos. ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

Direito à indenização e direito de resposta Pelo inciso restam estabelecidos limites à retroatividade da lei.
Com vistas à proteção do direito à privacidade, do direito à per- Define o artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do Direito
sonalidade e do direito à imagem, asseguram-se dois instrumentos, Brasileiro:
o direito à indenização e o direito de resposta, conforme as neces- Artigo 6º, LINDB. A Lei em vigor terá efeito imediato e geral,
sidades do caso concreto. respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa jul-
gada.
Com efeito, prevê o artigo 5º, V, CF: § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a
Artigo 5º, V, CF. É assegurado o direito de resposta, proporcio- lei vigente ao tempo em que se efetuou.
nal ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à
9 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 26. ed. São Paulo: Malhei-
imagem.
ros, 2011.
“A manifestação do pensamento é livre e garantida em nível
10 ZANNONI, Eduardo. El daño en la responsabilidad civil. Buenos Aires: Astrea,
constitucional, não aludindo a censura prévia em diversões e es-
1982.
petáculos públicos. Os abusos porventura ocorridos no exercício
11 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo... Op. Cit., p.
neiro: Elsevier, 2007. 437.

6
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titu- O direito à herança envolve o direito de receber – seja devido a
lar, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do uma previsão legal, seja por testamento – bens de uma pessoa que
exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalte- faleceu. Assim, o patrimônio passa para outra pessoa, conforme a
rável, a arbítrio de outrem. vontade do falecido e/ou a lei determine. A Constituição estabele-
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial ce uma disciplina específica para bens de estrangeiros situados no
de que já não caiba recurso. Brasil, assegurando que eles sejam repassados ao cônjuge e filhos
brasileiros nos termos da lei mais benéfica (do Brasil ou do país es-
- Direito à propriedade trangeiro).
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a proteção do
direito à propriedade, tanto material quanto intelectual, delimitada Direito do consumidor
em alguns incisos que o seguem. Nos termos do artigo 5º, XXXII, CF:
Artigo 5º, XXXII, CF. O Estado promoverá, na forma da lei, a de-
Função social da propriedade material fesa do consumidor.
O artigo 5º, XXII, CF estabelece:
Artigo 5º, XXII, CF. É garantido o direito de propriedade. O direito do consumidor liga-se ao direito à propriedade a par-
tir do momento em que garante à pessoa que irá adquirir bens e
A seguir, no inciso XXIII do artigo 5º, CF estabelece o principal serviços que estes sejam entregues e prestados da forma adequa-
fator limitador deste direito: da, impedindo que o fornecedor se enriqueça ilicitamente, se apro-
Artigo 5º, XXIII, CF. A propriedade atenderá a sua função social. veite de maneira indevida da posição menos favorável e de vulnera-
bilidade técnica do consumidor.
A propriedade, segundo Silva12, “[...] não pode mais ser consi- O Direito do Consumidor pode ser considerado um ramo re-
derada como um direito individual nem como instituição do direito cente do Direito. No Brasil, a legislação que o regulamentou foi pro-
privado. [...] embora prevista entre os direitos individuais, ela não mulgada nos anos 90, qual seja a Lei nº 8.078, de 11 de setembro
mais poderá ser considerada puro direito individual, relativizando- de 1990, conforme determinado pela Constituição Federal de 1988,
-se seu conceito e significado, especialmente porque os princípios que também estabeleceu no artigo 48 do Ato das Disposições Cons-
da ordem econômica são preordenados à vista da realização de seu titucionais Transitórias:
fim: assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da jus- Artigo 48, ADCT. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte
tiça social. Se é assim, então a propriedade privada, que, ademais, dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa
tem que atender a sua função social, fica vinculada à consecução do consumidor.
daquele princípio”. A elaboração do Código de Defesa do Consumidor foi um gran-
Com efeito, a proteção da propriedade privada está limitada de passo para a proteção da pessoa nas relações de consumo que
ao atendimento de sua função social, sendo este o requisito que estabeleça, respeitando-se a condição de hipossuficiente técnico
a correlaciona com a proteção da dignidade da pessoa humana. A daquele que adquire um bem ou faz uso de determinado serviço,
propriedade de bens e valores em geral é um direito assegurado na enquanto consumidor.
Constituição Federal e, como todos os outros, se encontra limitado
pelos demais princípios conforme melhor se atenda à dignidade do Propriedade intelectual
ser humano. Além da propriedade material, o constituinte protege também
a propriedade intelectual, notadamente no artigo 5º, XXVII, XXVIII
Uso temporário e XXIX, CF:
No mais, estabelece-se uma terceira limitação ao direito de
propriedade que não possui o caráter definitivo da desapropriação, Artigo 5º, XXVII, CF. Aos autores pertence o direito exclusivo de
mas é temporária, conforme artigo 5º, XXV, CF: utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível
Artigo 5º, XXV, CF. No caso de iminente perigo público, a autori- aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
dade competente poderá usar de propriedade particular, assegura- Artigo 5º, XXVIII, CF. São assegurados, nos termos da lei:
da ao proprietário indenização ulterior, se houver dano. a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e
à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
Se uma pessoa tem uma propriedade, numa situação de peri- desportivas;
go, o poder público pode se utilizar dela (ex: montar uma base para b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das
capturar um fugitivo), pois o interesse da coletividade é maior que obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intér-
o do indivíduo proprietário. pretes e às respectivas representações sindicais e associativas;

Direito sucessório Artigo 5º, XXIX, CF. A lei assegurará aos autores de inventos in-
O direito sucessório aparece como uma faceta do direito à pro- dustriais privilégio temporário para sua utilização, bem como prote-
priedade, encontrando disciplina constitucional no artigo 5º, XXX e ção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de
XXXI, CF: empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse
social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País.
Artigo 5º, XXX, CF. É garantido o direito de herança; Assim, a propriedade possui uma vertente intelectual que deve
Artigo 5º, XXXI, CF.A sucessão de bens de estrangeiros situados ser respeitada, tanto sob o aspecto moral quanto sob o patrimo-
no País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou nial. No âmbito infraconstitucional brasileiro, a Lei nº 9.610, de 19
dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei de fevereiro de 1998, regulamenta os direitos autorais, isto é, “os
pessoal do de cujus. direitos de autor e os que lhes são conexos”.
O artigo 7° do referido diploma considera como obras inte-
lectuais que merecem a proteção do direito do autor os textos de
12 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. São
obras de natureza literária, artística ou científica; as conferências,
Paulo: Malheiros, 2006.

7
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
sermões e obras semelhantes; as obras cinematográficas e televi- forem insuficientes, já que para que exista o verdadeiro acesso à
sivas; as composições musicais; fotografias; ilustrações; programas justiça é necessário que se aplique o direito material de maneira
de computador; coletâneas e enciclopédias; entre outras. justa e célere.
Os direitos morais do autor, que são imprescritíveis, inaliená- Relacionando-se à primeira onda de acesso à justiça, prevê a
veis e irrenunciáveis, envolvem, basicamente, o direito de reivindi- Constituição em seu artigo 5º, XXXV:
car a autoria da obra, ter seu nome divulgado na utilização desta, Artigo 5º, XXXV, CF. A lei não excluirá da apreciação do Poder
assegurar a integridade desta ou modificá-la e retirá-la de circula- Judiciário lesão ou ameaça a direito.
ção se esta passar a afrontar sua honra ou imagem.
Já os direitos patrimoniais do autor, nos termos dos artigos 41 O princípio da inafastabilidade da jurisdição é o princípio de
a 44 da Lei nº 9.610/98, prescrevem em 70 anos contados do pri- Direito Processual Público subjetivo, também cunhado como Prin-
meiro ano seguinte à sua morte ou do falecimento do último coau- cípio da Ação, em que a Constituição garante a necessária tutela
tor, ou contados do primeiro ano seguinte à divulgação da obra se estatal aos conflitos ocorrentes na vida em sociedade. Sempre que
esta for de natureza audiovisual ou fotográfica. Estes, por sua vez, uma controvérsia for levada ao Poder Judiciário, preenchidos os re-
abrangem, basicamente, o direito de dispor sobre a reprodução, quisitos de admissibilidade, ela será resolvida, independentemente
edição, adaptação, tradução, utilização, inclusão em bases de dados de haver ou não previsão específica a respeito na legislação.
ou qualquer outra modalidade de utilização; sendo que estas mo- Também se liga à primeira onda de acesso à justiça, no que
dalidades de utilização podem se dar a título oneroso ou gratuito. tange à abertura do Judiciário mesmo aos menos favorecidos eco-
“Os direitos autorais, também conhecidos como copyright (di- nomicamente, o artigo 5º, LXXIV, CF:
reito de cópia), são considerados bens móveis, podendo ser alie- Artigo 5º, LXXIV, CF. O Estado prestará assistência jurídica inte-
nados, doados, cedidos ou locados. Ressalte-se que a permissão a gral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos.
terceiros de utilização de criações artísticas é direito do autor. [...] A
proteção constitucional abrange o plágio e a contrafação. Enquanto O constituinte, ciente de que não basta garantir o acesso ao Po-
que o primeiro caracteriza-se pela difusão de obra criada ou produ- der Judiciário, sendo também necessária a efetividade processual,
zida por terceiros, como se fosse própria, a segunda configura a re- incluiu pela Emenda Constitucional nº 45/2004 o inciso LXXVIII ao
produção de obra alheia sem a necessária permissão do autor”[13]. artigo 5º da Constituição:
Artigo 5º, LXXVIII, CF. A todos, no âmbito judicial e administrati-
- Direitos de acesso à justiça vo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que
A formação de um conceito sistemático de acesso à justiça se garantam a celeridade de sua tramitação.
dá com a teoria de Cappelletti e Garth, que apontaram três ondas
Com o tempo se percebeu que não bastava garantir o acesso à
de acesso, isto é, três posicionamentos básicos para a realização
justiça se este não fosse célere e eficaz. Não significa que se deve
efetiva de tal acesso. Tais ondas foram percebidas paulatinamen-
acelerar o processo em detrimento de direitos e garantias assegu-
te com a evolução do Direito moderno conforme implementadas
rados em lei, mas sim que é preciso proporcionar um trâmite que
as bases da onda anterior, quer dizer, ficou evidente aos autores a
dure nem mais e nem menos que o necessário para a efetiva reali-
emergência de uma nova onda quando superada a afirmação das
zação da justiça no caso concreto.
premissas da onda anterior, restando parcialmente implementada
(visto que até hoje enfrentam-se obstáculos ao pleno atendimento - Direitos constitucionais-penais
em todas as ondas).
Primeiro, Cappelletti e Garth entendem que surgiu uma onda Juiz natural e vedação ao juízo ou tribunal de exceção
de concessão de assistência judiciária aos pobres, partindo-se da Quando o artigo 5º, LIII, CF menciona:
prestação sem interesse de remuneração por parte dos advogados Artigo 5º, LIII, CF. Ninguém será processado nem sentenciado
e, ao final, levando à criação de um aparato estrutural para a pres- senão pela autoridade competente”, consolida o princípio do juiz
tação da assistência pelo Estado. natural que assegura a toda pessoa o direito de conhecer previa-
Em segundo lugar, no entender de Cappelletti e Garth, veio a mente daquele que a julgará no processo em que seja parte, reves-
onda de superação do problema na representação dos interesses tindo tal juízo em jurisdição competente para a matéria específica
difusos, saindo da concepção tradicional de processo como algo do caso antes mesmo do fato ocorrer.
restrito a apenas duas partes individualizadas e ocasionando o sur-
gimento de novas instituições, como o Ministério Público. Por sua vez, um desdobramento deste princípio encontra-se no
Finalmente, Cappelletti e Garth apontam uma terceira onda artigo 5º, XXXVII, CF:
consistente no surgimento de uma concepção mais ampla de aces- Artigo 5º, XXXVII, CF. Não haverá juízo ou tribunal de exceção.
so à justiça, considerando o conjunto de instituições, mecanismos,
pessoas e procedimentos utilizados: “[...] esse enfoque encoraja a Juízo ou Tribunal de Exceção é aquele especialmente criado
exploração de uma ampla variedade de reformas, incluindo alte- para uma situação pretérita, bem como não reconhecido como le-
rações nas formas de procedimento, mudanças na estrutura dos gítimo pela Constituição do país.
tribunais ou a criação de novos tribunais, o uso de pessoas leigas
ou paraprofissionais, tanto como juízes quanto como defensores, Tribunal do júri
modificações no direito substantivo destinadas a evitar litígios ou A respeito da competência do Tribunal do júri, prevê o artigo
facilitar sua solução e a utilização de mecanismos privados ou in- 5º, XXXVIII, CF:
formais de solução dos litígios. Esse enfoque, em suma, não receia Artigo 5º, XXXVIII. É reconhecida a instituição do júri, com a
inovações radicais e compreensivas, que vão muito além da esfera organização que lhe der a lei, assegurados:
de representação judicial”. a) a plenitude de defesa;
Assim, dentro da noção de acesso à justiça, diversos aspectos b) o sigilo das votações;
podem ser destacados: de um lado, deve criar-se o Poder Judiciário c) a soberania dos veredictos;
e se disponibilizar meios para que todas as pessoas possam bus- d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra
cá-lo; de outro lado, não basta garantir meios de acesso se estes a vida.

8
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
O Tribunal do Júri é formado por pessoas do povo, que julgam A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 define os crimes resul-
os seus pares. Entende-se ser direito fundamental o de ser julgado tantes de preconceito de raça ou de cor. Contra eles não cabe fiança
por seus iguais, membros da sociedade e não magistrados, no caso (pagamento de valor para deixar a prisão provisória) e não se aplica
de determinados crimes que por sua natureza possuem fortes fato- o instituto da prescrição (perda de pretensão de se processar/punir
res de influência emocional. uma pessoa pelo decurso do tempo).
Plenitude da defesa envolve tanto a autodefesa quanto a defe- Não obstante, preconiza ao artigo 5º, XLIII, CF:
sa técnica e deve ser mais ampla que a denominada ampla defesa Artigo 5º, XLIII, CF. A lei considerará crimes inafiançáveis e in-
assegurada em todos os procedimentos judiciais e administrativos. suscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito
Sigilo das votações envolve a realização de votações secretas, de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como
preservando a liberdade de voto dos que compõem o conselho que crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os execu-
irá julgar o ato praticado. tores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.
A decisão tomada pelo conselho é soberana. Contudo, a sobe-
rania dos veredictos veda a alteração das decisões dos jurados, não Anistia, graça e indulto diferenciam-se nos seguintes termos: a
a recorribilidade dos julgamentos do Tribunal do Júri para que seja anistia exclui o crime, rescinde a condenação e extingue totalmente
procedido novo julgamento uma vez cassada a decisão recorrida, a punibilidade, a graça e o indulto apenas extinguem a punibilidade,
haja vista preservar o ordenamento jurídico pelo princípio do duplo podendo ser parciais; a anistia, em regra, atinge crimes políticos, a
grau de jurisdição. graça e o indulto, crimes comuns; a anistia pode ser concedida pelo
Por fim, a competência para julgamento é dos crimes dolosos Poder Legislativo, a graça e o indulto são de competência exclusiva
(em que há intenção ou ao menos se assume o risco de produção do Presidente da República; a anistia pode ser concedida antes da
do resultado) contra a vida, que são: homicídio, aborto, induzimen- sentença final ou depois da condenação irrecorrível, a graça e o in-
to, instigação ou auxílio a suicídio e infanticídio. Sua competência dulto pressupõem o trânsito em julgado da sentença condenatória;
não é absoluta e é mitigada, por vezes, pela própria Constituição graça e o indulto apenas extinguem a punibilidade, persistindo os
(artigos 29, X /102, I, b) e c) / 105, I, a) / 108, I). efeitos do crime, apagados na anistia; graça é em regra individual e
solicitada, enquanto o indulto é coletivo e espontâneo.
Anterioridade e irretroatividade da lei Não cabe graça, anistia ou indulto (pode-se considerar que o
O artigo 5º, XXXIX, CF preconiza: artigo o abrange, pela doutrina majoritária) contra crimes de tortu-
Artigo5º, XXXIX, CF. Não há crime sem lei anterior que o defina, ra, tráfico, terrorismo (TTT) e hediondos (previstos na Lei nº 8.072
nem pena sem prévia cominação legal. de 25 de julho de 1990). Além disso, são crimes que não aceitam
fiança.
É a consagração da regra do nullum crimen nulla poena sine Por fim, prevê o artigo 5º, XLIV, CF:
praevia lege. Simultaneamente, se assegura o princípio da legalida- Artigo 5º, XLIV, CF. Constitui crime inafiançável e imprescritível
de (ou reserva legal), na medida em que não há crime sem lei que o a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem cons-
defina, nem pena sem prévia cominação legal, e o princípio da an- titucional e o Estado Democrático.
terioridade, posto que não há crime sem lei anterior que o defina.
Ainda no que tange ao princípio da anterioridade, tem-se o ar- Personalidade da pena
tigo 5º, XL, CF: A personalidade da pena encontra respaldo no artigo 5º, XLV,
Artigo 5º, XL, CF. A lei penal não retroagirá, salvo para benefi- CF:
ciar o réu. Artigo 5º, XLV, CF. Nenhuma pena passará da pessoa do con-
denado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do
O dispositivo consolida outra faceta do princípio da anteriori- perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos suces-
dade: se, por um lado, é necessário que a lei tenha definido um fato sores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio
como crime e dado certo tratamento penal a este fato (ex.: pena de transferido.
detenção ou reclusão, tempo de pena, etc.) antes que ele ocorra;
O princípio da personalidade encerra o comando de o crime
por outro lado, se vier uma lei posterior ao fato que o exclua do rol
ser imputado somente ao seu autor, que é, por seu turno, a úni-
de crimes ou que confira tratamento mais benéfico (diminuindo a
ca pessoa passível de sofrer a sanção. Seria flagrante a injustiça se
pena ou alterando o regime de cumprimento, notadamente), ela
fosse possível alguém responder pelos atos ilícitos de outrem: caso
será aplicada. Restam consagrados tanto o princípio da irretroati-
contrário, a reação, ao invés de restringir-se ao malfeitor, alcançaria
vidade da lei penal in pejus quanto o da retroatividade da lei penal
inocentes. Contudo, se uma pessoa deixou patrimônio e faleceu,
mais benéfica.
este patrimônio responderá pelas repercussões financeiras do ilí-
cito.
Menções específicas a crimes
O artigo 5º, XLI, CF estabelece: Individualização da pena
Artigo 5º, XLI, CF. A lei punirá qualquer discriminação atentató- A individualização da pena tem por finalidade concretizar o
ria dos direitos e liberdades fundamentais. princípio de que a responsabilização penal é sempre pessoal, de-
Sendo assim confere fórmula genérica que remete ao princí- vendo assim ser aplicada conforme as peculiaridades do agente.
pio da igualdade numa concepção ampla, razão pela qual práticas A primeira menção à individualização da pena se encontra no
discriminatórias não podem ser aceitas. No entanto, o constituinte artigo 5º, XLVI, CF:
entendeu por bem prever tratamento específico a certas práticas Artigo 5º, XLVI, CF. A lei regulará a individualização da pena e
criminosas. adotará, entre outras, as seguintes:
Neste sentido, prevê o artigo 5º, XLII, CF: a) privação ou restrição da liberdade;
Artigo 5º, XLII, CF. A prática do racismo constitui crime inafian- b) perda de bens;
çável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos.

9
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
Pelo princípio da individualização da pena, a pena deve ser in- Por sua vez, estão absolutamente vedadas em quaisquer cir-
dividualizada nos planos legislativo, judiciário e executório, evitan- cunstâncias as penas de caráter perpétuo, de trabalhos forçados,
do-se a padronização a sanção penal. A individualização da pena de banimento e cruéis.
significa adaptar a pena ao condenado, consideradas as caracterís- No que tange aos trabalhos forçados, vale destacar que o tra-
ticas do agente e do delito. balho obrigatório não é considerado um tratamento contrário à
A pena privativa de liberdade é aquela que restringe, com dignidade do recluso, embora o trabalho forçado o seja. O trabalho
maior ou menor intensidade, a liberdade do condenado, consis- é obrigatório, dentro das condições do apenado, não podendo ser
tente em permanecer em algum estabelecimento prisional, por um cruel ou menosprezar a capacidade física e intelectual do condena-
determinado tempo. do; como o trabalho não existe independente da educação, cabe in-
A pena de multa ou patrimonial opera uma diminuição do pa- centivar o aperfeiçoamento pessoal; até mesmo porque o trabalho
trimônio do indivíduo delituoso. deve se aproximar da realidade do mundo externo, será remunera-
A prestação social alternativa corresponde às penas restritivas do; além disso, condições de dignidade e segurança do trabalhador,
de direitos, autônomas e substitutivas das penas privativas de liber- como descanso semanal e equipamentos de proteção, deverão ser
dade, estabelecidas no artigo 44 do Código Penal. respeitados.
Por seu turno, a individualização da pena deve também se fazer
presente na fase de sua execução, conforme se depreende do artigo Respeito à integridade do preso
5º, XLVIII, CF: Prevê o artigo 5º, XLIX, CF:
Artigo 5º, XLVIII, CF. A pena será cumprida em estabelecimen- Artigo 5º, XLIX, CF. É assegurado aos presos o respeito à integri-
tos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo dade física e moral.
do apenado. Obviamente, o desrespeito à integridade física e moral do pre-
so é uma violação do princípio da dignidade da pessoa humana.
A distinção do estabelecimento conforme a natureza do delito Dois tipos de tratamentos que violam esta integridade estão
visa impedir que a prisão se torne uma faculdade do crime. Infeliz- mencionados no próprio artigo 5º da Constituição Federal. Em pri-
mente, o Estado não possui aparato suficiente para cumprir tal di- meiro lugar, tem-se a vedação da tortura e de tratamentos desu-
retiva, diferenciando, no máximo, o nível de segurança das prisões. manos e degradantes (artigo 5º, III, CF), o que vale na execução da
pena.
Quanto à idade, destacam-se as Fundações Casas, para cumpri- No mais, prevê o artigo 5º, LVIII, CF:
mento de medida por menores infratores. Quanto ao sexo, prisões Artigo 5º, LVIII, CF.O civilmente identificado não será subme-
costumam ser exclusivamente para homens ou para mulheres. tido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei.
Também se denota o respeito à individualização da pena nesta
faceta pelo artigo 5º, L, CF: Se uma pessoa possui identificação civil, não há porque fazer
Artigo 5º, L, CF. Às presidiárias serão asseguradas condições identificação criminal, colhendo digitais, fotos, etc. Pensa-se que se-
para que possam permanecer com seus filhos durante o período ria uma situação constrangedora desnecessária ao suspeito, sendo
de amamentação. assim, violaria a integridade moral.

Preserva-se a individualização da pena porque é tomada a con- Devido processo legal, contraditório e ampla defesa
dição peculiar da presa que possui filho no período de amamenta- Estabelece o artigo 5º, LIV, CF:
ção, mas também se preserva a dignidade da criança, não a afastan- Artigo 5º, LIV, CF. Ninguém será privado da liberdade ou de
do do seio materno de maneira precária e impedindo a formação de seus bens sem o devido processo legal.
vínculo pela amamentação.
Pelo princípio do devido processo legal a legislação deve ser
Vedação de determinadas penas respeitada quando o Estado pretender punir alguém judicialmente.
O constituinte viu por bem proibir algumas espécies de penas, Logo, o procedimento deve ser livre de vícios e seguir estritamente
consoante ao artigo 5º, XLVII, CF: a legislação vigente, sob pena de nulidade processual.
Artigo 5º, XLVII, CF. não haverá penas: Surgem como corolário do devido processo legal o contraditó-
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do rio e a ampla defesa, pois somente um procedimento que os garan-
art. 84, XIX; ta estará livre dos vícios. Neste sentido, o artigo 5º, LV, CF:
b) de caráter perpétuo; Artigo 5º, LV, CF. Aos litigantes, em processo judicial ou admi-
c) de trabalhos forçados; nistrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório
d) de banimento; e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
e) cruéis.
O devido processo legal possui a faceta formal, pela qual se
Em resumo, o inciso consolida o princípio da humanidade, pelo deve seguir o adequado procedimento na aplicação da lei e, sendo
qual o “poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que atinjam assim, respeitar o contraditório e a ampla defesa. Não obstante, o
a dignidade da pessoa humana ou que lesionem a constituição físi- devido processo legal tem sua faceta material que consiste na to-
co-psíquica dos condenados” . mada de decisões justas, que respeitem os parâmetros da razoabili-
Quanto à questão da pena de morte, percebe-se que o consti- dade e da proporcionalidade.
tuinte não estabeleceu uma total vedação, autorizando-a nos casos
de guerra declarada. Obviamente, deve-se respeitar o princípio da Vedação de provas ilícitas
anterioridade da lei, ou seja, a legislação deve prever a pena de Conforme o artigo 5º, LVI, CF:
morte ao fato antes dele ser praticado. No ordenamento brasilei- Artigo 5º, LVI, CF. São inadmissíveis, no processo, as provas ob-
ro, este papel é cumprido pelo Código Penal Militar (Decreto-Lei nº tidas por meios ilícitos.
1.001/1969), que prevê a pena de morte a ser executada por fuzi-
lamento nos casos tipificados em seu Livro II, que aborda os crimes
militares em tempo de guerra.

10
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
Provas ilícitas, por força da nova redação dada ao artigo 157 do Ainda, a legislação estabelece inúmeros requisitos para que a
CPP, são as obtidas em violação a normas constitucionais ou legai, prisão seja validada, sem os quais cabe relaxamento, tanto que as-
ou seja, prova ilícita é a que viola regra de direito material, constitu- sim prevê o artigo 5º, LXV, CF:
cional ou legal, no momento da sua obtenção. São vedadas porque Artigo 5º, LXV, CF. A prisão ilegal será imediatamente relaxada
não se pode aceitar o descumprimento do ordenamento para fazê- pela autoridade judiciária.
-lo cumprir: seria paradoxal.
Desta forma, como decorrência lógica, tem-se a previsão do
Presunção de inocência artigo 5º, LXVI, CF:
Prevê a Constituição no artigo 5º, LVII: Artigo 5º, LXVI, CF. Ninguém será levado à prisão ou nela man-
Artigo 5º, LVII, CF. Ninguém será considerado culpado até o tido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança.
trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Consolida-se o princípio da presunção de inocência, pelo qual Mesmo que a pessoa seja presa em flagrante, devido ao prin-
uma pessoa não é culpada até que, em definitivo, o Judiciário assim cípio da presunção de inocência, entende-se que ela não deve ser
decida, respeitados todos os princípios e garantias constitucionais. mantida presa quando não preencher os requisitos legais para pri-
são preventiva ou temporária.
Ação penal privada subsidiária da pública
Nos termos do artigo 5º, LIX, CF: Indenização por erro judiciário
Artigo 5º, LIX, CF. Será admitida ação privada nos crimes de A disciplina sobre direitos decorrentes do erro judiciário encon-
ação pública, se esta não for intentada no prazo legal. tra-se no artigo 5º, LXXV, CF:
Artigo 5º, LXXV, CF. O Estado indenizará o condenado por erro
A chamada ação penal privada subsidiária da pública encontra judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na
respaldo constitucional, assegurando que a omissão do poder pú- sentença.
blico na atividade de persecução criminal não será ignorada, forne-
cendo-se instrumento para que o interessado a proponha. Trata-se do erro em que incorre um juiz na apreciação e jul-
gamento de um processo criminal, resultando em condenação de
Prisão e liberdade alguém inocente. Neste caso, o Estado indenizará. Ele também in-
O constituinte confere espaço bastante extenso no artigo 5º denizará uma pessoa que ficar presa além do tempo que foi conde-
em relação ao tratamento da prisão, notadamente por se tratar de nada a cumprir.
ato que vai contra o direito à liberdade. Obviamente, a prisão não
é vedada em todos os casos, porque práticas atentatórias a direitos 5) Direitos fundamentais implícitos
fundamentais implicam na tipificação penal, autorizando a restrição Nos termos do § 2º do artigo 5º da Constituição Federal:
da liberdade daquele que assim agiu. Artigo 5º, §2º, CF. Os direitos e garantias expressos nesta Cons-
tituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios
No inciso LXI do artigo 5º, CF, prevê-se: por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a Repúbli-
Artigo 5º, LXI, CF. Ninguém será preso senão em flagrante de- ca Federativa do Brasil seja parte.
lito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime pro- Daí se depreende que os direitos ou garantias podem estar
priamente militar, definidos em lei. expressos ou implícitos no texto constitucional. Sendo assim, o rol
enumerado nos incisos do artigo 5º é apenas exemplificativo, não
Logo, a prisão somente se dará em caso de flagrante delito (ne- taxativo.
cessariamente antes do trânsito em julgado), ou em caráter tempo-
rário, provisório ou definitivo (as duas primeiras independente do 6) Tratados internacionais incorporados ao ordenamento in-
trânsito em julgado, preenchidos requisitos legais e a última pela terno
irreversibilidade da condenação). Estabelece o artigo 5º, § 2º, CF que os direitos e garantias po-
Aborda-se no artigo 5º, LXII o dever de comunicação ao juiz e à dem decorrer, dentre outras fontes, dos “tratados internacionais
família ou pessoa indicada pelo preso: em que a República Federativa do Brasil seja parte”.
Artigo 5º, LXII, CF. A prisão de qualquer pessoa e o local onde
se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente Para o tratado internacional ingressar no ordenamento jurídi-
e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.
co brasileiro deve ser observado um procedimento complexo, que
exige o cumprimento de quatro fases: a negociação (bilateral ou
Não obstante, o preso deverá ser informado de todos os seus
multilateral, com posterior assinatura do Presidente da República),
direitos, inclusive o direito ao silêncio, podendo entrar em contato
submissão do tratado assinado ao Congresso Nacional (que dará
com sua família e com um advogado, conforme artigo 5º, LXIII, CF:
referendo por meio do decreto legislativo), ratificação do tratado
(confirmação da obrigação perante a comunidade internacional) e
Artigo 5º, LXIII, CF. O preso será informado de seus direitos,
a promulgação e publicação do tratado pelo Poder Executivo[18].
entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a as-
sistência da família e de advogado. Notadamente, quando o constituinte menciona os tratados interna-
cionais no §2º do artigo 5º refere-se àqueles que tenham por fulcro
Estabelece-se no artigo 5º, LXIV, CF: ampliar o rol de direitos do artigo 5º, ou seja, tratado internacional
Artigo 5º, LXIV, CF. O preso tem direito à identificação dos res- de direitos humanos.
ponsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial. O §1° e o §2° do artigo 5° existiam de maneira originária na
Constituição Federal, conferindo o caráter de primazia dos direitos
Por isso mesmo, o auto de prisão em flagrante e a ata do de- humanos, desde logo consagrando o princípio da primazia dos di-
poimento do interrogatório são assinados pelas autoridades envol- reitos humanos, como reconhecido pela doutrina e jurisprudência
vidas nas práticas destes atos procedimentais. majoritários na época. “O princípio da primazia dos direitos huma-

11
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
nos nas relações internacionais implica em que o Brasil deve incor- A corte tem personalidade internacional. Ela julga: a) crime de
porar os tratados quanto ao tema ao ordenamento interno brasi- genocídio; b) crime contra a humanidade; c) crime de guerra; d)
leiro e respeitá-los. Implica, também em que as normas voltadas à crime de agressão. Para o crime de genocídio usa a definição da
proteção da dignidade em caráter universal devem ser aplicadas no convenção de 1948. Como crimes contra a humanidade são citados:
Brasil em caráter prioritário em relação a outras normas”. assassinato, escravidão, prisão violando as normas internacionais,
Regra geral, os tratados internacionais comuns ingressam com violação tortura, apartheid, escravidão sexual, prostituição forçada,
força de lei ordinária no ordenamento jurídico brasileiro porque esterilização, etc. São crimes de guerra: homicídio internacional,
somente existe previsão constitucional quanto à possibilidade da destruição de bens não justificada pela guerra, deportação, forçar
equiparação às emendas constitucionais se o tratado abranger ma- um prisioneiro a servir nas forças inimigas, etc.”.
téria de direitos humanos.
Antes da emenda alterou o quadro quanto aos tratados de di- Habeas corpus, mandado de segurança, mandado de injunção
reitos humanos, era o que acontecia, mas isso não significa que tais e habeas data
direitos eram menos importantes devido ao princípio da primazia e Remédios constitucionais são as espécies de ações judiciárias
ao reconhecimento dos direitos implícitos. que visam proteger os direitos fundamentais reconhecidos no texto
Por seu turno, com o advento da Emenda Constitucional nº constitucional quando a declaração e a garantia destes não se mos-
45/04 se introduziu o §3º ao artigo 5º da Constituição Federal, de trar suficiente. Assim, o Poder Judiciário será acionado para sanar
modo que os tratados internacionais de direitos humanos foram o desrespeito a estes direitos fundamentais, servindo cada espécie
equiparados às emendas constitucionais, desde que houvesse a de ação para uma forma de violação.
aprovação do tratado em cada Casa do Congresso Nacional e ob-
tivesse a votação em dois turnos e com três quintos dos votos dos Habeas Corpus
respectivos membros: No que tange à disciplina do habeas corpus, prevê a Constitui-
ção em seu artigo 5º, LXVIII:
Art. 5º, § 3º, CF. Os tratados e convenções internacionais sobre Artigo 5º, LXVIII, CF. Conceder-se-á habeas corpus sempre que
direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congres- alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação
so Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respec- em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
tivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
Trata-se de ação gratuita, nos termos do artigo 5º, LXXVII, CF.
Logo, a partir da alteração constitucional, os tratados de direi- a) Antecedentes históricos: A Magna Carta inglesa, de 1215, foi
tos humanos que ingressarem no ordenamento jurídico brasileiro,
o primeiro documento a mencionar este remédio eo Habeas Corpus
versando sobre matéria de direitos humanos, irão passar por um
Act, de 1679, o regulamentou.
processo de aprovação semelhante ao da emenda constitucional.
b) Escopo: ação que serve para proteger a liberdade de lo-
Contudo, há posicionamentos conflituosos quanto à possi-
comoção. Antes de haver proteção no Brasil por outros remédios
bilidade de considerar como hierarquicamente constitucional os
constitucionais de direitos que não este, o habeas-corpus foi utiliza-
tratados internacionais de direitos humanos que ingressaram no
do para protegê-los. Hoje, apenas serve à lesão ou ameaça de lesão
ordenamento jurídico brasileiro anteriormente ao advento da re-
ao direito de ir e vir.
ferida emenda. Tal discussão se deu com relação à prisão civil do
depositário infiel, prevista como legal na Constituição e ilegal no c) Natureza jurídica: ação constitucional de cunho predominan-
Pacto de São José da Costa Rica (tratado de direitos humanos apro- temente penal, pois protege o direito de ir e vir e vai contra a restri-
vado antes da EC nº 45/04), sendo que o Supremo Tribunal Federal ção arbitrária da liberdade.
firmou o entendimento pela supralegalidade do tratado de direitos d) Espécies: preventivo, para os casos de ameaça de violação
humanos anterior à Emenda (estaria numa posição que paralisaria a ao direito de ir e vir, conferindo-se um “salvo conduto”, ou repressi-
eficácia da lei infraconstitucional, mas não revogaria a Constituição vo, para quando ameaça já tiver se materializado.
no ponto controverso). e) Legitimidade ativa: qualquer pessoa pode manejá-lo, em
próprio nome ou de terceiro, bem como o Ministério Público (ar-
7) Tribunal Penal Internacional tigo 654, CPP). Impetrante é o que ingressa com a ação e paciente
Preconiza o artigo 5º, CF em seu § 4º: é aquele que está sendo vítima da restrição à liberdade de loco-
Artigo 5º, §4º, CF. O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal moção. As duas figuras podem se concentrar numa mesma pessoa.
Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. f) Legitimidade passiva: pessoa física, agente público ou priva-
do.
O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional foi promul- g) Competência: é determinada pela autoridade coatora, sen-
gado no Brasil pelo Decreto nº 4.388 de 25 de setembro de 2002. do a autoridade imediatamente superior a ela. Ex.: Delegado de
Ele contém 128 artigos e foi elaborado em Roma, no dia 17 de julho Polícia é autoridade coatora, propõe na Vara Criminal Estadual; Juiz
de 1998, regendo a competência e o funcionamento deste Tribu- de Direito de uma Vara Criminal é a autoridade coatora, impetra no
nal voltado às pessoas responsáveis por crimes de maior gravidade Tribunal de Justiça.
com repercussão internacional (artigo 1º, ETPI). h) Conceito de coação ilegal: encontra-se no artigo 648, CPP:
“Ao contrário da Corte Internacional de Justiça, cuja jurisdição
é restrita a Estados, ao Tribunal Penal Internacional compete o pro- Artigo 648, CPP. A coação considerar-se-á ilegal:
cesso e julgamento de violações contra indivíduos; e, distintamente I - quando não houver justa causa;
dos Tribunais de crimes de guerra da Iugoslávia e de Ruanda, cria- II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que deter-
dos para analisarem crimes cometidos durante esses conflitos, sua mina a lei;
jurisdição não está restrita a uma situação específica”. III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para
Resume Mello: “a Conferência das Nações Unidas sobre a cria- fazê-lo;
ção de uma Corte Criminal Internacional, reunida em Roma, em IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;
1998, aprovou a referida Corte. Ela é permanente. Tem sede em V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos
Haia. em que a lei a autoriza;

12
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
VI - quando o processo for manifestamente nulo; d) Espécies: preventivo, quando se estiver na iminência de vio-
VII - quando extinta a punibilidade. lação a direito líquido e certo, ou reparatório, quando já consumado
o abuso/ilegalidade.
i) Procedimento: regulamentado nos artigos 647 a 667 do Có- e) Direito líquido e certo: é aquele que pode ser demonstra-
digo de Processo Penal. do de plano mediante prova pré-constituída, sem a necessidade
de dilação probatória, isto devido à natureza célere e sumária do
Habeas Data procedimento.
O artigo 5º, LXXII, CF prevê: f) Legitimidade ativa: a mais ampla possível, abrangendo não
Artigo 5º, LXXII, CF. Conceder-se-á habeas data: a) para asse- só a pessoa física como a jurídica, nacional ou estrangeira, residente
gurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impe- ou não no Brasil, bem como órgãos públicos despersonalizados e
trante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades universalidades/pessoas formais reconhecidas por lei.
governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de da- g) Legitimidade passiva: A autoridade coatora deve ser autori-
dos, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou dade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições
administrativo. do Poder Público. Neste viés, o art. 6º, §3º, Lei nº 12.016/09, preceitua
que “considera-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o
Tal como o habeas corpus, trata-se de ação gratuita (artigo 5º, ato impugnado ou da qual emane a ordem para a sua prática”.
LXXVII, CF). h) Competência: Fixada de acordo com a autoridade coatora.
a) Antecedente histórico: Freedom of Information Act, de 1974. i) Regulamentação específica: Lei nº 12.016, de 07 de agosto
b) Escopo: proteção do acesso a informações pessoais constan- de 2009.
tes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais j) Procedimento: artigos 6º a 19 da Lei nº 12.016/09.
ou de caráter público, para o conhecimento ou retificação (corre-
ção). Mandado de segurança coletivo
c) Natureza jurídica: ação constitucional que tutela o acesso a A Constituição Federal prevê a possibilidade de ingresso com
informações pessoais. mandado de segurança coletivo, consoante ao artigo 5º, LXX:
d) Legitimidade ativa: pessoa física, brasileira ou estrangeira, Artigo 5º, LXX, CF. O mandado de segurança coletivo pode ser
ou por pessoa jurídica, de direito público ou privado, tratando-se impetrado por:
de ação personalíssima – os dados devem ser a respeito da pessoa a) partido político com representação no Congresso Nacional;
que a propõe. b) organização sindical, entidade de classe ou associação legal-
e) Legitimidade passiva: entidades governamentais da Admi- mente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em
nistração Pública Direta e Indireta nas três esferas, bem como insti- defesa dos interesses de seus membros ou associados.
tuições, órgãos, entidades e pessoas jurídicas privadas prestadores
de serviços de interesse público que possuam dados relativos à pes- a) Origem: Constituição Federal de 1988.
soa do impetrante. b) Escopo: preservação ou reparação de direito líquido e certo
f) Competência: Conforme o caso, nos termos da Constituição, relacionado a interesses transindividuais (individuais homogêneos
do Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, “d”), do Superior Tribunal ou coletivos), e devido à questão da legitimidade ativa, pertencente
a partidos políticos e determinadas associações.
de Justiça (art. 105, I, “b”), dos Tribunais Regionais Federais (art.
c) Natureza jurídica: ação constitucional de natureza civil, inde-
108, I, “c”), bem como dos juízes federais (art. 109, VIII).
pendente da natureza do ato, de caráter coletivo.
g) Regulamentação específica: Lei nº 9.507, de 12 de novembro
d) Objeto: o objeto do mandado de segurança coletivo são os
de 1997.
direitos coletivos e os direitos individuais homogêneos. Tal instituto
h) Procedimento: artigos 8º a 19 da Lei nº 9.507/1997.
não se presta à proteção dos direitos difusos, conforme posiciona-
mento amplamente majoritário, já que, dada sua difícil individuali-
Mandado de segurança individual
zação, fica improvável a verificação da ilegalidade ou do abuso do
Dispõe a Constituição no artigo 5º, LXIX: poder sobre tal direito (art. 21, parágrafo único, Lei nº 12.016/09).
Artigo 5º, LXIX, CF. Conceder-se-á mandado de segurança para e) Legitimidade ativa: como se extrai da própria disciplina cons-
proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas-corpus titucional, aliada ao artigo 21 da Lei nº 12.016/09, é de partido
ou habeas-data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso político com representação no Congresso Nacional, bem como de
de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
exercício de atribuições do Poder Público. constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em
defesa de direitos líquidos e certos que atinjam diretamente seus
a) Origem: Veio com a finalidade de preencher a lacuna decor- interesses ou de seus membros.
rente da sistemática do habeas corpus e das liminares possessórias. f) Disciplina específica na Lei nº 12.016/09:
b) Escopo: Trata-se de remédio constitucional com natureza
subsidiária pelo qual se busca a invalidação de atos de autoridade Art. 22, Lei nº 12.016/09. No mandado de segurança coletivo,
ou a suspensão dos efeitos da omissão administrativa, geradores a sentença fará coisa julgada limitadamente aos membros do grupo
de lesão a direito líquido e certo, por ilegalidade ou abuso de po- ou categoria substituídos pelo impetrante.
der. São protegidos todos os direitos líquidos e certos à exceção da § 1ºO mandado de segurança coletivo não induz litispendência
proteção de direitos humanos à liberdade de locomoção e ao aces- para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada não be-
so ou retificação de informações relativas à pessoa do impetrante, neficiarão o impetrante a título individual se não requerer a desis-
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governa- tência de seu mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a
mentais ou de caráter público, ambos sujeitos a instrumentos es- contar da ciência comprovada da impetração da segurança coletiva.
pecíficos. § 2ºNo mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá
c) Natureza jurídica: ação constitucional de natureza civil, inde- ser concedida após a audiência do representante judicial da pessoa
pendente da natureza do ato impugnado (administrativo, jurisdicio- jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de 72
nal, eleitoral, criminal, trabalhista). (setenta e duas) horas.

13
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
Mandado de Injunção f) Competência: Será fixada de acordo com a origem do ato ou
Regulamenta o artigo 5º, LXXI, CF: omissão a serem impugnados (artigo 5º, Lei nº 4.717/65).
Artigo 5º, LXXI, CF. Conceder-se-á mandado de injunção sem- g) Regulamentação específica: Lei nº 4.717, de 29 de junho de
pre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício 1965.
dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas ineren- h) Procedimento: artigos 7º a 19, Lei nº 4.717/65.
tes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
1) Direitos sociais
a) Escopo: os dois requisitos constitucionais para que seja pro- A Constituição Federal, dentro do Título II, aborda no capítulo II
posto o mandado de injunção são a existência de norma constitu- a categoria dos direitos sociais, em sua maioria normas programá-
cional de eficácia limitada que prescreva direitos, liberdades cons- ticas e que necessitam de uma postura interventiva estatal em prol
titucionais e prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e da implementação.
à cidadania; além da falta de norma regulamentadores, impossibili- Os direitos assegurados nesta categoria encontram menção ge-
tando o exercício dos direitos, liberdades e prerrogativas em ques- nérica no artigo 6º, CF:
tão. Assim, visa curar o hábito que se incutiu no legislador brasileiro Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação,
de não regulamentar as normas de eficácia limitada para que elas o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previ-
não sejam aplicáveis. dência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
b) Natureza jurídica: ação constitucional que objetiva a regula- aos desamparados, na forma desta Constituição.
mentação de normas constitucionais de eficácia limitada. rata-se de desdobramento da perspectiva do Estado Social de
c) Legitimidade ativa: qualquer pessoa, nacional ou estrangei- Direito. Em suma, são elencados os direitos humanos de 2ª dimen-
ra, física ou jurídica, capaz ou incapaz, que titularize direito funda- são, notadamente conhecidos como direitos econômicos, sociais
mental não materializável por omissão legislativa do Poder público, e culturais. Em resumo, os direitos sociais envolvem prestações
bem como o Ministério Público na defesa de seus interesses insti- positivas do Estado (diferente dos de liberdade, que referem-se à
tucionais. Não se aceita a legitimidade ativa de pessoas jurídicas de postura de abstenção estatal), ou seja, políticas estatais que visem
direito público. consolidar o princípio da igualdade não apenas formalmente, mas
d) Competência: Supremo Tribunal Federal, quando a elabo- materialmente (tratando os desiguais de maneira desigual).
ração de norma regulamentadora for atribuição do Presidente da Por seu turno, embora no capítulo específico do Título II que
República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do aborda os direitos sociais não se perceba uma intensa regulamen-
Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do tação destes, à exceção dos direitos trabalhistas, o Título VIII da
Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do Constituição Federal, que aborda a ordem social, se concentra em
próprio Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, “q”, CF); ao Superior trazer normativas mais detalhadas a respeitos de direitos indicados
Tribunal de Justiça, quando a elaboração da norma regulamenta- como sociais.
dora for atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da
administração direta ou indireta, excetuados os casos da compe- 1.1) Direito individual do trabalho
tência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, O artigo 7º da Constituição enumera os direitos individuais dos
da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal (art.
trabalhadores urbanos e rurais. São os direitos individuais tipica-
105, I, “h”, CF); ao Tribunal Superior Eleitoral, quando as decisões
mente trabalhistas, mas que não excluem os demais direitos funda-
dos Tribunais Regionais Eleitorais denegarem habeas corpus, man-
mentais (ex.: honra é um direito no espaço de trabalho, sob pena de
dado de segurança, habeas data ou mandado de injunção (art. 121,
se incidir em prática de assédio moral).
§4º, V, CF); e aos Tribunais de Justiça Estaduais, frente aos entes a
Artigo 7º, I, CF. Relação de emprego protegida contra despedi-
ele vinculados.
da arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar,
e) Procedimento: Regulamentado pela Lei nº 13.300/2016.
que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos.
Significa que a demissão, se não for motivada por justa causa,
Ação Popular
Prevê o artigo 5º, LXXIII, CF: assegura ao trabalhador direitos como indenização compensatória,
Artigo 5º, LXXIII, CF. Qualquer cidadão é parte legítima para entre outros, a serem arcados pelo empregador.
propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio pú- Artigo 7º, II, CF. Seguro-desemprego, em caso de desemprego
blico ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade admi- involuntário.
nistrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, Sem prejuízo de eventual indenização a ser recebida do empre-
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais gador, o trabalhador que fique involuntariamente desempregado –
e do ônus da sucumbência. entendendo-se por desemprego involuntário o que tenha origem
a) Origem: Constituição Federal de 1934. num acordo de cessação do contrato de trabalho – tem direito ao
b) Escopo: é instrumento de exercício direto da democracia, seguro-desemprego, a ser arcado pela previdência social, que tem
permitindo ao cidadão que busque a proteção da coisa pública, ou o caráter de assistência financeira temporária.
seja, que vise assegurar a preservação dos interesses transindivi-
duais. Artigo 7º, III, CF. Fundo de garantia do tempo de serviço.
c) Natureza jurídica: trata-se de ação constitucional, que visa Foi criado em 1967 pelo Governo Federal para proteger o tra-
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o balhador demitido sem justa causa. O FGTS é constituído de contas
Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e vinculadas, abertas em nome de cada trabalhador, quando o em-
ao patrimônio histórico e cultural pregador efetua o primeiro depósito. O saldo da conta vinculada
d) Legitimidade ativa: deve ser cidadão, ou seja, aquele nacio- é formado pelos depósitos mensais efetivados pelo empregador,
nal que esteja no pleno gozo dos direitos políticos. equivalentes a 8,0% do salário pago ao empregado, acrescido de
e) Legitimidade passiva: ente da Administração Pública, direta atualização monetária e juros. Com o FGTS, o trabalhador tem a
ou indireta, ou então pessoa jurídica que de algum modo lide com oportunidade de formar um patrimônio, que pode ser sacado em
a coisa pública. momentos especiais, como o da aquisição da casa própria ou da

14
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
aposentadoria e em situações de dificuldades, que podem ocorrer a retenção dolosa de salário, o dispositivo é norma de eficácia limi-
com a demissão sem justa causa ou em caso de algumas doenças tada, pois depende de lei ordinária, ainda mais porque qualquer
graves. norma penal incriminadora é regida pela legalidade estrita (artigo
Artigo 7º, IV, CF. Salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente 5º, XXXIX, CF).
unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às Artigo 7º, XI, CF. Participação nos lucros, ou resultados, des-
de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na
vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes gestão da empresa, conforme definido em lei.
periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua A Participação nos Lucros e Resultado (PLR), que é conhecida
vinculação para qualquer fim. também por Programa de Participação nos Resultados (PPR), está
Trata-se de uma visível norma programática da Constituição prevista na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) desde a Lei nº
que tem por pretensão um salário mínimo que atenda a todas as 10.101, de 19 de dezembro de 2000. Ela funciona como um bônus,
necessidades básicas de uma pessoa e de sua família. Em pesquisa que é ofertado pelo empregador e negociado com uma comissão de
trabalhadores da empresa. A CLT não obriga o empregador a forne-
que tomou por parâmetro o preceito constitucional, detectou-se
cer o benefício, mas propõe que ele seja utilizado.
que “o salário mínimo do trabalhador brasileiro deveria ter sido de
R$ 2.892,47 em abril para que ele suprisse suas necessidades bá-
Artigo 7º, XII, CF. Salário-família pago em razão do dependente
sicas e da família, segundo estudo divulgado nesta terça-feira, 07,
do trabalhador de baixa renda nos termos da lei.
pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeco-
Salário-família é o benefício pago na proporção do respectivo
nômicos (Dieese)” .
número de filhos ou equiparados de qualquer condição até a idade
de quatorze anos ou inválido de qualquer idade, independente de
Artigo 7º, V, CF. Piso salarial proporcional à extensão e à com-
carência e desde que o salário-de-contribuição seja inferior ou igual
plexidade do trabalho.
ao limite máximo permitido. De acordo com a Portaria Interminis-
Cada trabalhador, dentro de sua categoria de emprego, seja
terial MPS/MF nº 19, de 10/01/2014, valor do salário-família será
ele professor, comerciário, metalúrgico, bancário, construtor civil,
de R$ 35,00, por filho de até 14 anos incompletos ou inválido, para
enfermeiro, recebe um salário base, chamado de Piso Salarial, que
quem ganhar até R$ 682,50. Já para o trabalhador que receber de
é sua garantia de recebimento dentro de seu grau profissional. O
R$ 682,51 até R$ 1.025,81, o valor do salário-família por filho de até
Valor do Piso Salarial é estabelecido em conformidade com a data
14 anos de idade ou inválido de qualquer idade será de R$ 24,66.
base da categoria, por isso ele é definido em conformidade com um
Artigo 7º, XIII, CF. duração do trabalho normal não superior a
acordo, ou ainda com um entendimento entre patrão e trabalhador.
oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a com-
pensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou
Artigo 7º, VI, CF. Irredutibilidade do salário, salvo o disposto em
convenção coletiva de trabalho.
convenção ou acordo coletivo.
Artigo 7º, XVI, CF. Remuneração do serviço extraordinário su-
perior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal.
O salário não pode ser reduzido, a não ser que anão redução
A legislação trabalhista vigente estabelece que a duração nor-
implique num prejuízo maior, por exemplo, demissão em massa du-
mal do trabalho, salvo os casos especiais, é de 8 (oito) horas diárias
rante uma crise, situações que devem ser negociadas em conven-
e 44 (quarenta e quatro) semanais, no máximo. Todavia, poderá a
ção ou acordo coletivo.
jornada diária de trabalho dos empregados maiores ser acrescida
Artigo 7º, VII, CF. Garantia de salário, nunca inferior ao mínimo,
de horas suplementares, em número não excedentes a duas, no
para os que percebem remuneração variável.
máximo, para efeito de serviço extraordinário, mediante acordo
O salário mínimo é direito de todos os trabalhadores, mesmo
individual, acordo coletivo, convenção coletiva ou sentença norma-
daqueles que recebem remuneração variável (ex.: baseada em co-
tiva. Excepcionalmente, ocorrendo necessidade imperiosa, poderá
missões por venda e metas);
ser prorrogada além do limite legalmente permitido. A remunera-
Artigo 7º, VIII, CF. Décimo terceiro salário com base na remune-
ção do serviço extraordinário, desde a promulgação da Constituição
ração integral ou no valor da aposentadoria.
Federal, deverá constar, obrigatoriamente, do acordo, convenção
Também conhecido como gratificação natalina, foi instituída no
ou sentença normativa, e será, no mínimo, 50% (cinquenta por cen-
Brasil pela Lei nº 4.090/1962 e garante que o trabalhador receba o
to) superior à da hora normal.
correspondente a 1/12 (um doze avos) da remuneração por mês
trabalhado, ou seja, consiste no pagamento de um salário extra ao
Artigo 7º, XIV, CF. Jornada de seis horas para o trabalho rea-
trabalhador e ao aposentado no final de cada ano.
lizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação
coletiva.
Artigo 7º, IX, CF. Remuneração do trabalho noturno superior à
O constituinte ao estabelecer jornada máxima de 6 horas para
do diurno.
os turnos ininterruptos de revezamento, expressamente ressalvan-
O adicional noturno é devido para o trabalho exercido durante
do a hipótese de negociação coletiva, objetivou prestigiar a atuação
a noite, de modo que cada hora noturna sofre a redução de 7 mi-
da entidade sindical. Entretanto, a jurisprudência evoluiu para uma
nutos e 30 segundos, ou ainda, é feito acréscimo de 12,5% sobre o
interpretação restritiva de seu teor, tendo como parâmetro o fato
valor da hora diurna. Considera-se noturno, nas atividades urbanas,
de que o trabalho em turnos ininterruptos é por demais desgastan-
o trabalho realizado entre as 22:00 horas de um dia às 5:00 horas do
te, penoso, além de trazer malefícios de ordem fisiológica para o
dia seguinte; nas atividades rurais, é considerado noturno o traba-
trabalhador, inclusive distúrbios no âmbito psicossocial já que difi-
lho executado na lavoura entre 21:00 horas de um dia às 5:00 horas
culta o convívio em sociedade e com a própria família.
do dia seguinte; e na pecuária, entre 20:00 horas às 4:00 horas do
dia seguinte.
Artigo 7º, XV, CF. Repouso semanal remunerado, preferencial-
Artigo 7º, X, CF. Proteção do salário na forma da lei, constituin-
mente aos domingos.
do crime sua retenção dolosa.
O Descanso Semanal Remunerado é de 24 (vinte e quatro) ho-
Quanto ao possível crime de retenção de salário, não há no Có-
ras consecutivas, devendo ser concedido preferencialmente aos
digo Penal brasileiro uma norma que determina a ação de retenção
domingos, sendo garantido a todo trabalhador urbano, rural ou
de salário como crime. Apesar do artigo 7º, X, CF dizer que é crime

15
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
doméstico. Havendo necessidade de trabalho aos domingos, desde Artigo 7º, XXIII, CF. Adicional de remuneração para as ativida-
que previamente autorizados pelo Ministério do Trabalho, aos tra- des penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei.
balhadores é assegurado pelo menos um dia de repouso semanal
remunerado coincidente com um domingo a cada período, depen- Penoso é o trabalho acerbo, árduo, amargo, difícil, molesto,
dendo da atividade (artigo 67, CLT). trabalhoso, incômodo, laborioso, doloroso, rude, que não é peri-
goso ou insalubre, mas penosa, exigindo atenção e vigilância acima
Artigo 7º, XVII, CF. Gozo de férias anuais remuneradas com, do comum. Ainda não há na legislação específica previsão sobre o
pelo menos, um terço a mais do que o salário normal. adicional de penosidade.
O salário das férias deve ser superior em pelo menos um terço São consideradas atividades ou operações insalubres as que se
ao valor da remuneração normal, com todos os adicionais e benefí- desenvolvem excesso de limites de tolerância para: ruído contínuo
cios aos quais o trabalhador tem direito. A cada doze meses de tra- ou intermitente, ruídos de impacto, exposição ao calor e ao frio,
balho – denominado período aquisitivo – o empregado terá direito radiações, certos agentes químicos e biológicos, vibrações, umi-
a trinta dias corridos de férias, se não tiver faltado injustificadamen- dade, etc. O exercício de trabalho em condições de insalubridade
te mais de cinco vezes ao serviço (caso isso ocorra, os dias das férias assegura ao trabalhador a percepção de adicional, incidente sobre
serão diminuídos de acordo com o número de faltas). o salário base do empregado (súmula 228 do TST), ou previsão
Artigo 7º, XVIII, CF. Licença à gestante, sem prejuízo do empre- mais benéfica em Convenção Coletiva de Trabalho, equivalente a
go e do salário, com a duração de cento e vinte dias. 40% (quarenta por cento), para insalubridade de grau máximo; 20%
O salário da trabalhadora em licença é chamado de salário-ma- (vinte por cento), para insalubridade de grau médio; 10% (dez por
ternidade, é pago pelo empregador e por ele descontado dos re- cento), para insalubridade de grau mínimo.
colhimentos habituais devidos à Previdência Social. A trabalhadora O adicional de periculosidade é um valor devido ao emprega-
pode sair de licença a partir do último mês de gestação, sendo que do exposto a atividades perigosas. São consideradas atividades ou
o período de licença é de 120 dias. A Constituição também garante operações perigosas, aquelas que, por sua natureza ou métodos
que, do momento em que se confirma a gravidez até cinco meses de trabalho, impliquem risco acentuado em virtude de exposição
após o parto, a mulher não pode ser demitida. permanente do trabalhador a inflamáveis, explosivos ou energia
elétrica; e a roubos ou outras espécies de violência física nas ativi-
Artigo 7º, XIX, CF. Licença-paternidade, nos termos fixados em dades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial. O valor do
lei. adicional de periculosidade será o salário do empregado acrescido
de 30%, sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou
O homem tem direito a 5 dias de licença-paternidade para es- participações nos lucros da empresa.
tar mais próximo do bebê recém-nascido e ajudar a mãe nos pro- O Tribunal Superior do Trabalho ainda não tem entendimento
cessos pós-operatórios. unânime sobre a possibilidade de cumulação destes adicionais.
Artigo 7º, XX, CF. Proteção do mercado de trabalho da mulher,
mediante incentivos específicos, nos termos da lei. Artigo 7º, XXIV, CF. Aposentadoria.
A aposentadoria é um benefício garantido a todo trabalhador
Embora as mulheres sejam maioria na população de 10 anos brasileiro que pode ser usufruído por aquele que tenha contribuído
ou mais de idade, elas são minoria na população ocupada, mas ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) pelos prazos esti-
estão em maioria entre os desocupados. Acrescenta-se ainda, que pulados nas regras da Previdência Social e tenha atingido as idades
elas são maioria também na população não economicamente ativa. mínimas previstas. Aliás, o direito à previdência social é considera-
Além disso, ainda há relevante diferença salarial entre homens e do um direito social no próprio artigo 6º, CF.
mulheres, sendo que os homens recebem mais porque os empre-
gadores entendem que eles necessitam de um salário maior para Artigo 7º, XXV, CF. Assistência gratuita aos filhos e dependen-
manter a família. Tais disparidades colocam em evidência que o
tes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e
mercado de trabalho da mulher deve ser protegido de forma es-
pré-escolas.
pecial.
Todo estabelecimento com mais de 30 funcionárias com mais
de 16 anos tem a obrigação de oferecer um espaço físico para que
Artigo 7º, XXI, CF. Aviso prévio proporcional ao tempo de servi-
as mães deixem o filho de 0 a 6 meses, enquanto elas trabalham.
ço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei.
Caso não ofereçam esse espaço aos bebês, a empresa é obrigada a
dar auxílio-creche a mulher para que ela pague uma creche para o
Nas relações de emprego, quando uma das partes deseja res-
cindir, sem justa causa, o contrato de trabalho por prazo indetermi- bebê de até 6 meses. O valor desse auxílio será determinado con-
nado, deverá, antecipadamente, notificar à outra parte, através do forme negociação coletiva na empresa (acordo da categoria ou con-
aviso prévio. O aviso prévio tem por finalidade evitar a surpresa na venção). A empresa que tiver menos de 30 funcionárias registradas
ruptura do contrato de trabalho, possibilitando ao empregador o não tem obrigação de conceder o benefício. É facultativo (ela pode
preenchimento do cargo vago e ao empregado uma nova colocação oferecer ou não). Existe a possibilidade de o benefício ser estendido
no mercado de trabalho, sendo que o aviso prévio pode ser traba- até os 6 anos de idade e incluir o trabalhador homem. A duração
lhado ou indenizado. do auxílio-creche e o valor envolvido variarão conforme negociação
coletiva na empresa.
Artigo 7º, XXII, CF. Redução dos riscos inerentes ao trabalho, Artigo 7º, XXVI, CF. Reconhecimento das convenções e acordos
por meio de normas de saúde, higiene e segurança. coletivos de trabalho.
Neste dispositivo se funda o direito coletivo do trabalho, que
Trata-se ao direito do trabalhador a um meio ambiente do tra- encontra regulamentação constitucional nos artigo 8º a 11 da Cons-
balho salubre. Fiorillo destaca que o equilíbrio do meio ambiente tituição. Pelas convenções e acordos coletivos, entidades represen-
do trabalho está sedimentado na salubridade e na ausência de tativas da categoria dos trabalhadores entram em negociação com
agentes que possam comprometer a incolumidade físico-psíquica as empresas na defesa dos interesses da classe, assegurando o res-
dos trabalhadores. peito aos direitos sociais;

16
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
Artigo 7º, XXVII, CF. Proteção em face da automação, na forma Artigo 7º, XXXII, CF. Proibição de distinção entre trabalho ma-
da lei. nual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos.
Trata-se da proteção da substituição da máquina pelo homem, Os trabalhos manuais, técnicos e intelectuais são igualmente
que pode ser feita, notadamente, qualificando o profissional para relevantes e contribuem todos para a sociedade, não cabendo a
exercer trabalhos que não possam ser desempenhados por uma desvalorização de um trabalho apenas por se enquadrar numa ou
máquina (ex.: se criada uma máquina que substitui o trabalhador, outra categoria.
deve ser ele qualificado para que possa operá-la). Artigo 7º, XXXIII, CF. proibição de trabalho noturno, perigoso ou in-
Artigo 7º, XXVIII, CF. Seguro contra acidentes de trabalho, a car- salubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de de-
go do empregador, sem excluir a indenização a que este está obri- zesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos.
gado, quando incorrer em dolo ou culpa. Trata-se de norma protetiva do adolescente, estabelecendo-se
Atualmente, é a Lei nº 8.213/91 a responsável por tratar do uma idade mínima para trabalho e proibindo-se o trabalho em con-
assunto e em seus artigos 19, 20 e 21 apresenta a definição de dições desfavoráveis.
doenças e acidentes do trabalho. Não se trata de legislação espe- Artigo 7º, XXXIV, CF. Igualdade de direitos entre o trabalhador
cífica sobre o tema, mas sim de uma norma que dispõe sobre as com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso.
modalidades de benefícios da previdência social. Referida Lei, em Avulso é o trabalhador que presta serviço a várias empresas,
seu artigo 19 da preceitua que acidente do trabalho é o que ocorre mas é contratado por sindicatos e órgãos gestores de mão-de-obra,
pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do possuindo os mesmos direitos que um trabalhador com vínculo em-
trabalho, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que pregatício permanente.
cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, A Emenda Constitucional nº 72/2013, conhecida como PEC das
da capacidade para o trabalho. domésticas, deu nova redação ao parágrafo único do artigo 7º:
Seguro de Acidente de Trabalho (SAT) é uma contribuição com Artigo 7º, parágrafo único, CF. São assegurados à categoria dos
natureza de tributo que as empresas pagam para custear benefícios trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII,
do INSS oriundos de acidente de trabalho ou doença ocupacional, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e
cobrindo a aposentadoria especial. A alíquota normal é de um, dois XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a
ou três por cento sobre a remuneração do empregado, mas as em- simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais
presas que expõem os trabalhadores a agentes nocivos químicos, e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiarida-
físicos e biológicos precisam pagar adicionais diferenciados. Assim, des, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como
quanto maior o risco, maior é a alíquota, mas atualmente o Minis- a sua integração à previdência social.
tério da Previdência Social pode alterar a alíquota se a empresa in-
vestir na segurança do trabalho. 1.2) Direito coletivo do trabalho
Neste sentido, nada impede que a empresa seja responsabi- Os artigos 8º a 11 trazem os direitos sociais coletivos dos traba-
lizada pelos acidentes de trabalho, indenizando o trabalhador. Na lhadores, que são os exercidos pelos trabalhadores, coletivamente
atualidade entende-se que a possibilidade de cumulação do benefí- ou no interesse de uma coletividade, quais sejam: associação pro-
cio previdenciário, assim compreendido como prestação garantida fissional ou sindical, greve, substituição processual, participação e
pelo Estado ao trabalhador acidentado (responsabilidade objetiva) representação classista .
com a indenização devida pelo empregador em caso de culpa (res- A liberdade de associação profissional ou sindical tem escopo
ponsabilidade subjetiva), é pacífica, estando amplamente difundida no artigo 8º, CF:
na jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho; Art. 8º, CF. É livre a associação profissional ou sindical, obser-
Artigo 7º, XXIX, CF. Ação, quanto aos créditos resultantes das vado o seguinte:
relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação
os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao
extinção do contrato de trabalho. Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical;
Prescrição é a perda da pretensão de buscar a tutela jurisdicio- II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em
nal para assegurar direitos violados. Sendo assim, há um período de qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econô-
tempo que o empregado tem para requerer seu direito na Justiça mica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalha-
do Trabalho. A prescrição trabalhista é sempre de 2 (dois) anos a dores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à
partir do término do contrato de trabalho, atingindo as parcelas re- área de um Município;
lativas aos 5 (cinco) anos anteriores, ou de 05 (cinco) anos durante III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coleti-
a vigência do contrato de trabalho. vos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
Artigo 7º, XXX, CF. Proibição de diferença de salários, de exercí- administrativas;
cio de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratan-
cor ou estado civil. do de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio
Há uma tendência de se remunerar melhor homens brancos do sistema confederativo da representação sindical respectiva, in-
na faixa dos 30 anos que sejam casados, sendo patente a diferença dependentemente da contribuição prevista em lei;
remuneratória para com pessoas de diferente etnia, faixa etária ou V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a
sexo. Esta distinção atenta contra o princípio da igualdade e não é sindicato;
aceita pelo constituinte, sendo possível inclusive invocar a equipa- VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações
ração salarial judicialmente. coletivas de trabalho;
Artigo 7º, XXXI, CF. Proibição de qualquer discriminação no to- VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas
cante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de organizações sindicais;
deficiência. VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a par-
A pessoa portadora de deficiência, dentro de suas limitações, tir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação
possui condições de ingressar no mercado de trabalho e não pode sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do
ser preterida meramente por conta de sua deficiência. mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.

17
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à orga- do que ao menos a pessoa terá a nacionalidade do território onde
nização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas nasceu, quando não tiver direito a outra nacionalidade por previ-
as condições que a lei estabelecer. sões legais diversas.
O direito de greve, por seu turno, está previsto no artigo 9º, CF: “Nacionalidade é um direito fundamental da pessoa humana.
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos tra- Todos a ela têm direito. A nacionalidade de um indivíduo não pode
balhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os ficar ao mero capricho de um governo, de um governante, de um po-
interesses que devam por meio dele defender. der despótico, de decisões unilaterais, concebidas sem regras prévias,
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sem o contraditório, a defesa, que são princípios fundamentais de todo
sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. sistema jurídico que se pretenda democrático. A questão não pode ser
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas tratada com relativismos, uma vez que é muito séria” .
da lei. Não obstante, tem-se no âmbito constitucional e internacional
A respeito, conferir a Lei nº 7.783/89, que dispõe sobre o exer- a previsão do direito de asilo, consistente no direito de buscar abri-
cício do direito de greve, define as atividades essenciais, regula o go em outro país quando naquele do qual for nacional estiver so-
atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, e dá ou- frendo alguma perseguição. Tal perseguição não pode ter motivos
tras providências. Enquanto não for disciplinado o direito de greve legítimos, como a prática de crimes comuns ou de atos atentatórios
dos servidores públicos, esta é a legislação que se aplica, segundo aos princípios das Nações Unidas, o que subverteria a própria fina-
o STF. lidade desta proteção. Em suma, o que se pretende com o direito
de asilo é evitar a consolidação de ameaças a direitos humanos de
O direito de participação é previsto no artigo 10, CF: uma pessoa por parte daqueles que deveriam protegê-los – isto é,
Artigo 10, CF. É assegurada a participação dos trabalhadores e os governantes e os entes sociais como um todo –, e não proteger
empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus in- pessoas que justamente cometeram tais violações.
teresses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão
e deliberação. 2.2) Naturalidade e naturalização
Por fim, aborda-se o direito de representação classista no ar- O artigo 12 da Constituição Federal estabelece quem são os na-
tigo 11, CF: cionais brasileiros, dividindo-os em duas categorias: natos e natura-
Artigo 11, CF. Nas empresas de mais de duzentos empregados, lizados. Percebe-se que naturalidade é diferente de nacionalidade
é assegurada a eleição de um representante destes com a finalida- – naturalidade é apenas o local de nascimento, nacionalidade é um
de exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os em- efetivo vínculo com o Estado.
pregadores. Uma pessoa pode ser considerada nacional brasileira tanto por
ter nascido no território brasileiro quanto por voluntariamente se
2) Nacionalidade naturalizar como brasileiro, como se percebe no teor do artigo 12,
O capítulo III do Título II aborda a nacionalidade, que vem a ser CF. O estrangeiro, num conceito tomado à base de exclusão, é todo
corolário dos direitos políticos, já que somente um nacional pode aquele que não é nacional brasileiro.
adquirir direitos políticos. a) Brasileiros natos
Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga um indiví- Art. 12, CF. São brasileiros:
duo a determinado Estado, fazendo com que ele passe a integrar o I - natos:
povo daquele Estado, desfrutando assim de direitos e obrigações. a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de
Povo é o conjunto de nacionais. Por seu turno, povo não é a pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu
mesma coisa que população. População é o conjunto de pessoas país;
residentes no país – inclui o povo, os estrangeiros residentes no país b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasilei-
e os apátridas. ra, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federa-
tiva do Brasil;
2.1) Nacionalidade como direito humano fundamental c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe bra-
Os direitos humanos internacionais são completamente con- sileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira com-
trários à ideia do apátrida – ou heimatlos –, que é o indivíduo que petente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e
não possui o vínculo da nacionalidade com nenhum Estado. Logo, a optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade é um direito da pessoa humana, o qual não pode ser nacionalidade brasileira.
privado de forma arbitrária. Não há privação arbitrária quando res- Tradicionalmente, são possíveis dois critérios para a atribuição
peitados os critérios legais previstos no texto constitucional no que da nacionalidade primária – nacional nato –, notadamente: ius soli,
tange à perda da nacionalidade. Em outras palavras, o constituinte direito de solo, o nacional nascido em território do país indepen-
brasileiro não admite a figura do apátrida. dentemente da nacionalidade dos pais; e ius sanguinis, direito de
Contudo, é exatamente por ser um direito que a nacionalidade sangue, que não depende do local de nascimento mas sim da des-
não pode ser uma obrigação, garantindo-se à pessoa o direito de cendência de um nacional do país (critério comum em países que
deixar de ser nacional de um país e passar a sê-lo de outro, mu- tiveram êxodo de imigrantes).
dando de nacionalidade, por um processo conhecido como natu- O brasileiro nato, primeiramente, é aquele que nasce no terri-
ralização. tório brasileiro – critério do ius soli, ainda que filho de pais estran-
Prevê a Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu ar- geiros, desde que não sejam estrangeiros que estejam a serviço de
tigo 15: “I) Todo homem tem direito a uma nacionalidade. II) Nin- seu país ou de organismo internacional (o que geraria um conflito
guém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do de normas). Contudo, também é possível ser brasileiro nato ainda
direito de mudar de nacionalidade”. que não se tenha nascido no território brasileiro.
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos aprofunda-se No entanto, a Constituição reconhece o brasileiro nato também
em meios para garantir que toda pessoa tenha uma nacionalidade pelo critério do ius sanguinis. Se qualquer dos pais estiver a serviço
desde o seu nascimento ao adotar o critério do jus solis, explicitan- do Brasil, é considerado brasileiro nato, mesmo que nasça em outro
país. Se qualquer dos pais não estiverem a serviço do Brasil e a pes-

18
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
soa nascer no exterior é exigido que o nascido do exterior venha ao Percebe-se que a Constituição simultaneamente estabelece a
território brasileiro e aqui resida ou que tenha sido registrado em não distinção e se reserva ao direito de estabelecer as hipóteses
repartição competente, caso em que poderá, aos 18 anos, mani- de distinção.
festar-se sobre desejar permanecer com a nacionalidade brasileira Algumas destas hipóteses de distinção já se encontram enume-
ou não. radas no parágrafo seguinte.
Artigo 12, § 3º, CF. São privativos de brasileiro nato os cargos:
b) Brasileiros naturalizados I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
Art. 12, CF. São brasileiros: [...] II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
II - naturalizados: III - de Presidente do Senado Federal;
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas resi- V - da carreira diplomática;
dência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; VI - de oficial das Forças Armadas;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na VII - de Ministro de Estado da Defesa.
República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterrup-
tos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade A lógica do dispositivo é a de que qualquer pessoa no exer-
brasileira. cício da presidência da República ou de cargo que possa levar a
esta posição provisoriamente deve ser natural do país (ausente o
A naturalização deve ser voluntária e expressa. Presidente da República, seu vice-presidente desempenha o cargo;
O Estatuto do Estrangeiro, Lei nº 6.815/1980, rege a questão da ausente este assume o Presidente da Câmara; também este ausen-
naturalização em mais detalhes, prevendo no artigo 112: te, em seguida, exerce o cargo o Presidente do Senado; e, por fim,
o Presidente do Supremo pode assumir a presidência na ausência
Art. 112, Lei nº 6.815/1980. São condições para a concessão da dos anteriores – e como o Presidente do Supremo é escolhido num
naturalização: critério de revezamento nenhum membro pode ser naturalizado);
I - capacidade civil, segundo a lei brasileira; ou a de que o cargo ocupado possui forte impacto em termos de
II - ser registrado como permanente no Brasil; representação do país ou de segurança nacional.
III - residência contínua no território nacional, pelo prazo míni- Outras exceções são: não aceitação, em regra, de brasileiro na-
mo de quatro anos, imediatamente anteriores ao pedido de natu- turalizado como membro do Conselho da República (artigos 89 e
ralização; 90, CF); impossibilidade de ser proprietário de empresa jornalística,
IV - ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as condi- de radiodifusão sonora e imagens, salvo se já naturalizado há 10
ções do naturalizando; anos (artigo 222, CF); possibilidade de extradição do brasileiro natu-
V - exercício de profissão ou posse de bens suficientes à manu- ralizado que tenha praticado crime comum antes da naturalização
tenção própria e da família; ou, depois dela, crime de tráfico de drogas (artigo 5º, LI, CF).
VI - bom procedimento;
VII - inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação no 2.3) Quase-nacionalidade: caso dos portugueses
Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja cominada pena Nos termos do artigo 12, § 1º, CF:
mínima de prisão, abstratamente considerada, superior a 1 (um) Artigo 12, §1º, CF. Aos portugueses com residência permanen-
ano; e te no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão
VIII - boa saúde. atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previs-
tos nesta Constituição.
Destaque vai para o requisito da residência contínua. Em regra,
o estrangeiro precisa residir no país por 4 anos contínuos, conforme É uma regra que só vale se os brasileiros receberem o mes-
o inciso III do referido artigo 112. No entanto, por previsão constitu- mo tratamento, questão regulamentada pelo Tratado de Amizade,
cional do artigo 12, II, “a”, se o estrangeiro foi originário de país com Cooperação e Consulta entre a República Federativa do Brasil e a
língua portuguesa o prazo de residência contínua é reduzido para 1 República Portuguesa, assinado em 22 de abril de 2000 (Decreto nº
ano. Daí se afirmar que o constituinte estabeleceu a naturalização 3.927/2001).
ordinária no artigo 12, II, “b” e a naturalização extraordinária no As vantagens conferidas são: igualdade de direitos civis, não
artigo 12, II, “a”. sendo considerado um estrangeiro; gozo de direitos políticos se re-
Outra diferença sensível é que à naturalização ordinária se sidir há 3 anos no país, autorizando-se o alistamento eleitoral. No
aplica o artigo 121 do Estatuto do Estrangeiro, segundo o qual “a caso de exercício dos direitos políticos nestes moldes, os direitos
satisfação das condições previstas nesta Lei não assegura ao estran- desta natureza ficam suspensos no outro país, ou seja, não exerce
geiro direito à naturalização”. Logo, na naturalização ordinária não simultaneamente direitos políticos nos dois países.
há direito subjetivo à naturalização, mesmo que preenchidos todos
os requisitos. Trata-se de ato discricionário do Ministério da Justiça. 2.4) Perda da nacionalidade
O mesmo não vale para a naturalização extraordinária, quando há Artigo 12, § 4º, CF. Será declarada a perda da nacionalidade do
direito subjetivo, cabendo inclusive a busca do Poder Judiciário para brasileiro que:
fazê-lo valer . I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em
virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
c) Tratamento diferenciado II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
A regra é que todo nacional brasileiro, seja ele nato ou natura- a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei es-
lizado, deverá receber o mesmo tratamento. Neste sentido, o artigo trangeira;
12, § 2º, CF: b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao
brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para
Artigo 12, §2º, CF. A lei não poderá estabelecer distinção en- permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.
tre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta
Constituição.

19
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
A respeito do inciso I do §4º do artigo 12, a Lei nº 818, de 18 b) Princípio da Dupla Punibilidade: O fato praticado deve ser
de setembro de 1949 regula a aquisição, a perda e a reaquisição da punível no Estado requerente e no Brasil. Logo, além do fato ser
nacionalidade, e a perda dos direitos políticos. No processo deve típico em ambos os países, deve ser punível em ambos (se houve
ser respeitado o contraditório e a iniciativa de propositura é do Pro- prescrição em algum dos países, p. ex., não pode ocorrer a extra-
curador da República. dição).
No que tange ao inciso II do parágrafo em estudo, percebe-se c) Princípio da Retroatividade dos Tratados: O fato de um trata-
a aceitação da figura do polipátrida. Na alínea “a” aceita-se que a do de extradição entre dois países ter sido celebrado após a ocor-
pessoa tenha nacionalidade brasileira e outra se ao seu nascimento rência do crime não impede a extradição.
tiver adquirido simultaneamente a nacionalidade do Brasil e outro d) Princípio da Comutação da Pena (Direitos Humanos): Se o
país; na alínea “b” é reconhecida a mesma situação se a aquisição crime for apenado por qualquer das penas vedadas pelo artigo 5º,
da nacionalidade do outro país for uma exigência para continuar lá XLVII da CF, a extradição não será autorizada, salvo se houver a co-
permanecendo ou exercendo seus direitos civis, pois se assim não mutação da pena, transformação para uma pena aceita no Brasil.
o fosse o brasileiro seria forçado a optar por uma nacionalidade e,
provavelmente, se ver privado da nacionalidade brasileira. Por ser tema incidente, vale observar a disciplina da Lei nº
6.815/1980 a respeito da extradição e de seu procedimento:
2.5) Deportação, expulsão e entrega
A deportação representa a devolução compulsória de um es- Art. 76. A extradição poderá ser concedida quando o governo
trangeiro que tenha entrado ou esteja de forma irregular no territó- requerente se fundamentar em tratado, ou quando prometer ao
rio nacional, estando prevista na Lei nº 6.815/1980, em seus artigos Brasil a reciprocidade.
57 e 58. Neste caso, não houve prática de qualquer ato nocivo ao
Brasil, havendo, pois, mera irregularidade de visto. Art. 77. Não se concederá a extradição quando:
A expulsão é a retirada “à força” do território brasileiro de um I - se tratar de brasileiro, salvo se a aquisição dessa nacionalida-
estrangeiro que tenha praticado atos tipificados no artigo 65 e seu de verificar-se após o fato que motivar o pedido;
parágrafo único, ambos da Lei nº 6.815/1980: II - o fato que motivar o pedido não for considerado crime no
Brasil ou no Estado requerente;
Art. 65, Lei nº 6.815/1980. É passível de expulsão o estrangei- III - o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o
ro que, de qualquer forma, atentar contra a segurança nacional, a crime imputado ao extraditando;
ordem política ou social, a tranquilidade ou moralidade pública e a IV - a lei brasileira impuser ao crime a pena de prisão igual ou
economia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo à conve- inferior a 1 (um) ano;
niência e aos interesses nacionais. V - o extraditando estiver a responder a processo ou já houver
Parágrafo único. É passível, também, de expulsão o estrangeiro sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se
que: fundar o pedido;
a) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou permanência VI - estiver extinta a punibilidade pela prescrição segundo a lei
no Brasil; brasileira ou a do Estado requerente;
b) havendo entrado no território nacional com infração à lei, VII - o fato constituir crime político; e
dele não se retirar no prazo que lhe for determinado para fazê-lo, VIII - o extraditando houver de responder, no Estado requeren-
não sendo aconselhável a deportação; te, perante Tribunal ou Juízo de exceção.
c) entregar-se à vadiagem ou à mendicância; ou § 1° A exceção do item VII não impedirá a extradição quando
d) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei para o fato constituir, principalmente, infração da lei penal comum, ou
estrangeiro. quando o crime comum, conexo ao delito político, constituir o fato
principal.
A entrega (ou surrender) consiste na submissão de um nacional § 2º Caberá, exclusivamente, ao Supremo Tribunal Federal, a
a um tribunal internacional do qual o próprio país faz parte. É o que apreciação do caráter da infração.
ocorreria, por exemplo, se o Brasil entregasse um brasileiro para § 3° O Supremo Tribunal Federal poderá deixar de considerar
julgamento pelo Tribunal Penal Internacional (competência reco- crimes políticos os atentados contra Chefes de Estado ou quaisquer
nhecida na própria Constituição no artigo 5º, §4º). autoridades, bem assim os atos de anarquismo, terrorismo, sabota-
gem, sequestro de pessoa, ou que importem propaganda de guerra
2.6) Extradição ou de processos violentos para subverter a ordem política ou social.
A extradição é ato diverso da deportação, da expulsão e da en-
trega. Extradição é um ato de cooperação internacional que con- Art. 78. São condições para concessão da extradição:
siste na entrega de uma pessoa, acusada ou condenada por um ou I - ter sido o crime cometido no território do Estado requerente
mais crimes, ao país que a reclama. O Brasil, sob hipótese alguma, ou serem aplicáveis ao extraditando as leis penais desse Estado; e
extraditará brasileiros natos mas quanto aos naturalizados assim II - existir sentença final de privação de liberdade, ou estar a
permite caso tenham praticado crimes comuns (exceto crimes po- prisão do extraditando autorizada por Juiz, Tribunal ou autoridade
líticos e/ou de opinião) antes da naturalização, ou, mesmo depois competente do Estado requerente, salvo o disposto no artigo 82.
da naturalização, em caso de envolvimento com o tráfico ilícito de
entorpecentes (artigo 5º, LI e LII, CF). Art. 79. Quando mais de um Estado requerer a extradição da
mesma pessoa, pelo mesmo fato, terá preferência o pedido daque-
Aplicam-se os seguintes princípios à extradição: le em cujo território a infração foi cometida.
a) Princípio da Especialidade: Significa que o estrangeiro só § 1º Tratando-se de crimes diversos, terão preferência, suces-
pode ser julgado pelo Estado requerente pelo crime objeto do pe- sivamente:
dido de extradição. O importante é que o extraditado só seja sub- I - o Estado requerente em cujo território haja sido cometido o
metido às penas relativas aos crimes que foram objeto do pedido crime mais grave, segundo a lei brasileira;
de extradição.

20
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
II - o que em primeiro lugar houver pedido a entrega do extra- Parágrafo único. A prisão perdurará até o julgamento final do
ditando, se a gravidade dos crimes for idêntica; e Supremo Tribunal Federal, não sendo admitidas a liberdade vigiada,
III - o Estado de origem, ou, na sua falta, o domiciliar do extra- a prisão domiciliar, nem a prisão albergue.
ditando, se os pedidos forem simultâneos. Art. 85. Ao receber o pedido, o Relator designará dia e hora
§ 2º Nos casos não previstos decidirá sobre a preferência o Go- para o interrogatório do extraditando e, conforme o caso, dar-lhe-á
verno brasileiro. curador ou advogado, se não o tiver, correndo do interrogatório o
§ 3º Havendo tratado ou convenção com algum dos Estados prazo de dez dias para a defesa.
requerentes, prevalecerão suas normas no que disserem respeito à § 1º A defesa versará sobre a identidade da pessoa reclamada, defeito
preferência de que trata este artigo. de forma dos documentos apresentados ou ilegalidade da extradição.
Art. 80.A extradição será requerida por via diplomática ou, § 2º Não estando o processo devidamente instruído, o Tri-
quando previsto em tratado, diretamente ao Ministério da Justiça, bunal, a requerimento do Procurador-Geral da República, poderá
devendo o pedido ser instruído com a cópia autêntica ou a certidão converter o julgamento em diligência para suprir a falta no prazo
da sentença condenatória ou decisão penal proferida por juiz ou improrrogável de 60 (sessenta) dias, decorridos os quais o pedido
autoridade competente. será julgado independentemente da diligência.
§ 1oO pedido deverá ser instruído com indicações precisas so- § 3º O prazo referido no parágrafo anterior correrá da data da
bre o local, a data, a natureza e as circunstâncias do fato criminoso, notificação que o Ministério das Relações Exteriores fizer à Missão
a identidade do extraditando e, ainda, cópia dos textos legais sobre Diplomática do Estado requerente.
o crime, a competência, a pena e sua prescrição. Art. 86. Concedida a extradição, será o fato comunicado atra-
§ 2oO encaminhamento do pedido pelo Ministério da Justiça vés do Ministério das Relações Exteriores à Missão Diplomática do
ou por via diplomática confere autenticidade aos documentos. Estado requerente que, no prazo de sessenta dias da comunicação,
§ 3oOs documentos indicados neste artigo serão acompanha- deverá retirar o extraditando do território nacional.
dos de versão feita oficialmente para o idioma português. Art. 87. Se o Estado requerente não retirar o extraditando do
território nacional no prazo do artigo anterior, será ele posto em
Art. 81.O pedido, após exame da presença dos pressupostos liberdade, sem prejuízo de responder a processo de expulsão, se o
formais de admissibilidade exigidos nesta Lei ou em tratado, será motivo da extradição o recomendar.
encaminhado pelo Ministério da Justiça ao Supremo Tribunal Fe- Art. 88. Negada a extradição, não se admitirá novo pedido ba-
deral. seado no mesmo fato.
Parágrafo único.Não preenchidos os pressupostos de que trata Art. 89. Quando o extraditando estiver sendo processado, ou
o caput, o pedido será arquivado mediante decisão fundamentada tiver sido condenado, no Brasil, por crime punível com pena pri-
do Ministro de Estado da Justiça, sem prejuízo de renovação do pe- vativa de liberdade, a extradição será executada somente depois
dido, devidamente instruído, uma vez superado o óbice apontado. da conclusão do processo ou do cumprimento da pena, ressalvado,
entretanto, o disposto no artigo 67.
Art. 82.O Estado interessado na extradição poderá, em caso de Parágrafo único. A entrega do extraditando ficará igualmente
urgência e antes da formalização do pedido de extradição, ou con- adiada se a efetivação da medida puser em risco a sua vida por cau-
juntamente com este, requerer a prisão cautelar do extraditando sa de enfermidade grave comprovada por laudo médico oficial.
por via diplomática ou, quando previsto em tratado, ao Ministério Art. 90. O Governo poderá entregar o extraditando ainda que
da Justiça, que, após exame da presença dos pressupostos formais responda a processo ou esteja condenado por contravenção.
de admissibilidade exigidos nesta Lei ou em tratado, representará Art. 91. Não será efetivada a entrega sem que o Estado reque-
ao Supremo Tribunal Federal.(Redação dada pela Lei nº 12.878, de rente assuma o compromisso:
2013) I - de não ser o extraditando preso nem processado por fatos
§ 1oO pedido de prisão cautelar noticiará o crime cometido e anteriores ao pedido;
deverá ser fundamentado, podendo ser apresentado por correio, II - de computar o tempo de prisão que, no Brasil, foi imposta
fax, mensagem eletrônica ou qualquer outro meio que assegure por força da extradição;
a comunicação por escrito.(Redação dada pela Lei nº 12.878, de III - de comutar em pena privativa de liberdade a pena corporal
2013) ou de morte, ressalvados, quanto à última, os casos em que a lei
§ 2oO pedido de prisão cautelar poderá ser apresentado ao Mi- brasileira permitir a sua aplicação;
nistério da Justiça por meio da Organização Internacional de Polícia IV - de não ser o extraditando entregue, sem consentimento do
Criminal (Interpol), devidamente instruído com a documentação Brasil, a outro Estado que o reclame; e
comprobatória da existência de ordem de prisão proferida por Esta- V - de não considerar qualquer motivo político, para agravar a pena.
do estrangeiro.(Redação dada pela Lei nº 12.878, de 2013) Art. 92. A entrega do extraditando, de acordo com as leis brasi-
§ 3oO Estado estrangeiro deverá, no prazo de 90 (noventa) dias leiras e respeitado o direito de terceiro, será feita com os objetos e
contado da data em que tiver sido cientificado da prisão do extra- instrumentos do crime encontrados em seu poder.
ditando, formalizar o pedido de extradição. (Redação dada pela Lei Parágrafo único. Os objetos e instrumentos referidos neste ar-
nº 12.878, de 2013) tigo poderão ser entregues independentemente da entrega do ex-
§ 4oCaso o pedido não seja formalizado no prazo previsto no § traditando.
3o, o extraditando deverá ser posto em liberdade, não se admitindo Art. 93. O extraditando que, depois de entregue ao Estado re-
novo pedido de prisão cautelar pelo mesmo fato sem que a extra- querente, escapar à ação da Justiça e homiziar-se no Brasil, ou por
dição haja sido devidamente requerida. (Redação dada pela Lei nº ele transitar, será detido mediante pedido feito diretamente por via
12.878, de 2013) diplomática, e de novo entregue sem outras formalidades.
Art. 83. Nenhuma extradição será concedida sem prévio pro- Art. 94. Salvo motivo de ordem pública, poderá ser permitido,
nunciamento do Plenário do Supremo Tribunal Federal sobre sua pelo Ministro da Justiça, o trânsito, no território nacional, de pes-
legalidade e procedência, não cabendo recurso da decisão. soas extraditadas por Estados estrangeiros, bem assim o da respec-
Art. 84. Efetivada a prisão do extraditando (artigo 81), o pedido tiva guarda, mediante apresentação de documentos comprobató-
será encaminhado ao Supremo Tribunal Federal. rios de concessão da medida.

21
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
2.7) Idioma e símbolos Na iniciativa popular confere-se à população o poder de apre-
Art. 13, CF. A língua portuguesa é o idioma oficial da República sentar projeto de lei à Câmara dos Deputados, mediante assinatura
Federativa do Brasil. de 1% do eleitorado nacional, distribuído por 5 Estados no mínimo,
§ 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, com não menos de 0,3% dos eleitores de cada um deles. Em com-
o hino, as armas e o selo nacionais. plemento, prevê o artigo 61, §2°, CF:
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter Art. 61, § 2º, CF. A iniciativa popular pode ser exercida pela
símbolos próprios. apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito
Idioma é a língua falada pela população, que confere caráter por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído
diferenciado em relação à população do resto do mundo. Sendo pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por
assim, é manifestação social e cultural de uma nação. cento dos eleitores de cada um deles.
Os símbolos, por sua vez, representam a imagem da nação e
permitem o seu reconhecimento nacional e internacionalmente. 3.3) Obrigatoriedade do alistamento eleitoral e do voto
Por esta intrínseca relação com a nacionalidade, a previsão é O alistamento eleitoral e o voto para os maiores de dezoito
feito dentro do capítulo do texto constitucional que aborda o tema. anos são, em regra, obrigatórios. Há facultatividade para os anal-
fabetos, os maiores de setenta anos e os maiores de dezesseis e
3) Direitos políticos menores de dezoito anos.
Como mencionado, a nacionalidade é corolário dos direitos Artigo 14, § 1º, CF. O alistamento eleitoral e o voto são:
políticos, já que somente um nacional pode adquirir direitos políti- I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
cos. No entanto, nem todo nacional é titular de direitos políticos. Os II - facultativos para:
nacionais que são titulares de direitos políticos são denominados a) os analfabetos;
cidadãos. Significa afirmar que nem todo nacional brasileiro é um b) os maiores de setenta anos;
cidadão brasileiro, mas somente aquele que for titular do direito de c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
sufrágio universal.
No mais, esta obrigatoriedade se aplica aos nacionais brasilei-
3.1) Sufrágio universal ros, já que, nos termos do artigo 14, §2º, CF:
A primeira parte do artigo 14, CF, prevê que “a soberania popu- Artigo 14, §2º, CF. Não podem alistar-se como eleitores os es-
lar será exercida pelo sufrágio universal [...]”. trangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os
Sufrágio universal é a soma de duas capacidades eleitorais, a conscritos.
capacidade ativa – votar e exercer a democracia direta – e a capa- Quanto aos conscritos, são aqueles que estão prestando servi-
cidade passiva – ser eleito como representante no modelo da de- ço militar obrigatório, pois são necessárias tropas disponíveis para
mocracia indireta. Ou ainda, sufrágio universal é o direito de todos os dias da eleição.
cidadãos de votar e ser votado. O voto, que é o ato pelo qual se
exercita o sufrágio, deverá ser direto e secreto. 3.4) Elegibilidade
Para ter capacidade passiva é necessário ter a ativa, mas não O artigo 14, §§ 3º e 4º, CF, descrevem as condições de elegibi-
apenas isso, há requisitos adicionais. Sendo assim, nem toda pessoa lidade, ou seja, os requisitos que devem ser preenchidos para que
que tem capacidade ativa tem também capacidade passiva, embora uma pessoa seja eleita, no exercício de sua capacidade passiva do
toda pessoa que tenha capacidade passiva tenha necessariamente sufrágio universal.
a ativa. Artigo 14, § 3º, CF. São condições de elegibilidade, na forma
da lei:
3.2) Democracia direta e indireta I - a nacionalidade brasileira;
Art. 14, CF. A soberania popular será exercida pelo sufrágio uni- II - o pleno exercício dos direitos políticos;
versal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, III - o alistamento eleitoral;
nos termos da lei, mediante: IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
I - plebiscito; V - a filiação partidária;
II - referendo; VI - a idade mínima de:
III - iniciativa popular a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da Re-
A democracia brasileira adota a modalidade semidireta, porque pública e Senador;
possibilita a participação popular direta no poder por intermédio b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e
de processos como o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular. do Distrito Federal;
Como são hipóteses restritas, pode-se afirmar que a democracia in- c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual
direta é predominantemente adotada no Brasil, por meio do sufrá- ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
gio universal e do voto direto e secreto com igual valor para todos. d) dezoito anos para Vereador.
Quanto ao voto direto e secreto, trata-se do instrumento para o
exercício da capacidade ativa do sufrágio universal. Artigo 14, § 4º, CF. São inelegíveis os inalistáveis e os analfa-
Por seu turno, o que diferencia o plebiscito do referendo é o betos.
momento da consulta à população: no plebiscito, primeiro se con- Dos incisos I a III denotam-se requisitos correlatos à naciona-
sulta a população e depois se toma a decisão política; no referendo, lidade e à titularidade de direitos políticos. Logo, para ser eleito é
primeiro se toma a decisão política e depois se consulta a popula- preciso ser cidadão.
ção. Embora os dois partam do Congresso Nacional, o plebiscito é O domicílio eleitoral é o local onde a pessoa se alista como
convocado, ao passo que o referendo é autorizado (art. 49, XV, CF), eleitor e, em regra, é no município onde reside, mas pode não o
ambos por meio de decreto legislativo. O que os assemelha é que ser caso analisados aspectos como o vínculo de afeto com o local
os dois são “formas de consulta ao povo para que delibere sobre (ex.: Presidente Dilma vota em Porto Alegre – RS, embora resida
matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, legis- em Brasília – DF). Sendo assim, para se candidatar a cargo no mu-
lativa ou administrativa” . nicípio, deve ter domicílio eleitoral nele; para se candidatar a cargo

22
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
no estado, deve ter domicílio eleitoral em um de seus municípios; Artigo 14, §8º, CF. O militar alistável é elegível, atendidas as
para se candidatar a cargo nacional, deve ter domicílio eleitoral em seguintes condições:
uma das unidades federadas do país. Aceita-se a transferência do I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se
domicílio eleitoral ao menos 1 ano antes das eleições. da atividade;
A filiação partidária implica no lançamento da candidatura por II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela
um partido político, não se aceitando a filiação avulsa. autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato
Finalmente, o §3º do artigo 14, CF, coloca o requisito etário, da diplomação, para a inatividade.
com faixa etária mínima para o desempenho de cada uma das fun- São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos, os mili-
ções, a qual deve ser auferida na data da posse. tares que não podem se alistar ou os que podem, mas não preen-
chem as condições do §8º do artigo 14, CF, ou seja, se não se afastar
3.5) Inelegibilidade da atividade caso trabalhe há menos de 10 anos, se não for agre-
Atender às condições de elegibilidade é necessário para poder gado pela autoridade superior (suspenso do exercício das funções
ser eleito, mas não basta. Além disso, é preciso não se enquadrar por sua autoridade sem prejuízo de remuneração) caso trabalhe há
em nenhuma das hipóteses de inelegibilidade. mais de 10 anos (sendo que a eleição passa à condição de inativo).
A inelegibilidade pode ser absoluta ou relativa. Na absoluta, Artigo 14, §9º, CF. Lei complementar estabelecerá outros casos
são atingidos todos os cargos; nas relativas, são atingidos determi- de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a
nados cargos. probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato
Artigo 14, § 4º, CF. São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legiti-
O artigo 14, §4º, CF traz duas hipóteses de inelegibilidade, que midade das eleições contra a influência do poder econômico ou o
são absolutas, atingem todos os cargos. Para ser elegível é preciso abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração
ser alfabetizado (os analfabetos têm a faculdade de votar, mas não direta ou indireta.
podem ser votados) e é preciso possuir a capacidade eleitoral ativa O rol constitucional de inelegibilidades dos parágrafos do artigo
– poder votar (inalistáveis são aqueles que não podem tirar o título 14 não é taxativo, pois lei complementar pode estabelecer outros
de eleitor, portanto, não podem votar, notadamente: os estrangei- casos, tanto de inelegibilidades absolutas como de inelegibilidades
ros e os conscritos durante o serviço militar obrigatório). relativas. Neste sentido, a Lei Complementar nº 64, de 18 de maio
Artigo 14, §5º, CF. O Presidente da República, os Governadores de 1990, estabelece casos de inelegibilidade, prazos de cessação,
de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver suce- e determina outras providências. Esta lei foi alterada por aquela
dido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos que ficou conhecida como Lei da Ficha Limpa, Lei Complementar
para um único período subsequente. nº 135, de 04 de junho de 2010, principalmente em seu artigo 1º,
Descreve-se no dispositivo uma hipótese de inelegibilidade re- que segue.
lativa. Se um Chefe do Poder Executivo de qualquer das esferas for Art. 1º, Lei Complementar nº 64/1990. São inelegíveis:
substituído por seu vice no curso do mandato, este vice somente I - para qualquer cargo:
poderá ser eleito para um período subsequente. a) os inalistáveis e os analfabetos;
Ex.: Governador renuncia ao mandato no início do seu último b) os membros do Congresso Nacional, das Assembleias Legis-
ano de governo para concorrer ao Senado Federal e é substituído lativas, da Câmara Legislativa e das Câmaras Municipais, que ha-
pelo seu vice-governador. Se este se candidatar e for eleito, não jam perdido os respectivos mandatos por infringência do disposto
poderá ao final deste mandato se reeleger. Isto é, se o mandato o nos incisos I e II do art. 55 da Constituição Federal, dos dispositivos
candidato renuncia no início de 2010 o seu mandato de 2007-2010, equivalentes sobre perda de mandato das Constituições Estaduais e
assumindo o vice em 2010, poderá este se candidatar para o man- Leis Orgânicas dos Municípios e do Distrito Federal, para as eleições
dato 2011-2014, mas caso seja eleito não poderá se reeleger para que se realizarem durante o período remanescente do mandato
o mandato 2015-2018 no mesmo cargo. Foi o que aconteceu com o para o qual foram eleitos e nos oito anos subsequentes ao término
ex-governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia, que assumiu em da legislatura;
2010 no lugar de Aécio Neves o governo do Estado de Minas Gerais e d) os que tenham contra sua pessoa representação julgada pro-
foi eleito governador entre 2011 e 2014, mas não pode se candidatar cedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada em julgado ou
à reeleição, concorrendo por isso a uma vaga no Senado Federal. proferida por órgão colegiado, em processo de apuração de abuso
Artigo 14, §6º, CF. Para concorrerem a outros cargos, o Presi- do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem
dente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Fe- ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem
deral e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até nos 8 (oito) anos seguintes; (Redação dada pela Lei Complementar
seis meses antes do pleito. nº 135, de 2010)
São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos, os che- e) os que forem condenados, em decisão transitada em julga-
fes do Executivo que não renunciarem aos seus mandatos até seis do ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a condenação
meses antes do pleito eleitoral, antes das eleições. Ex.: Se a eleição até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da
aconteceu em 05/10/2014, necessário que tivesse renunciado até pena, pelos crimes: (Redação dada pela Lei Complementar nº 135,
04/04/2014. de 2010)
Artigo 14, §7º, CF. São inelegíveis, no território de jurisdição do 1. contra a economia popular, a fé pública, a administração pú-
titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segun- blica e o patrimônio público; (Incluído pela Lei Complementar nº
do grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador 135, de 2010)
de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem 2. contra o patrimônio privado, o sistema financeiro, o merca-
os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo do de capitais e os previstos na lei que regula a falência; (Incluído
se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos, cônjuge
3. contra o meio ambiente e a saúde pública; (Incluído pela Lei
e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por
Complementar nº 135, de 2010)
adoção, dos Chefes do Executivo ou de quem os tenha substituído
4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de liber-
ao final do mandato, a não ser que seja já titular de mandato eletivo
dade; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
e candidato à reeleição.

23
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
5. de abuso de autoridade, nos casos em que houver conde- m) os que forem excluídos do exercício da profissão, por deci-
nação à perda do cargo ou à inabilitação para o exercício de função são sancionatória do órgão profissional competente, em decorrên-
pública; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) cia de infração ético-profissional, pelo prazo de 8 (oito) anos, salvo
6. de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores; (Incluí- se o ato houver sido anulado ou suspenso pelo Poder Judiciário;
do pela Lei Complementar nº 135, de 2010) (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
7. de tráfico de entorpecentes e drogas afins, racismo, tortura, n) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado
terrorismo e hediondos; ou proferida por órgão judicial colegiado, em razão de terem desfei-
8. de redução à condição análoga à de escravo; (Incluído pela to ou simulado desfazer vínculo conjugal ou de união estável para
Lei Complementar nº 135, de 2010) evitar caracterização de inelegibilidade, pelo prazo de 8 (oito) anos
9. contra a vida e a dignidade sexual; e (Incluído pela Lei Com- após a decisão que reconhecer a fraude; (Incluído pela Lei Comple-
plementar nº 135, de 2010) mentar nº 135, de 2010)
10. praticados por organização criminosa, quadrilha ou bando; o) os que forem demitidos do serviço público em decorrência
(Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) de processo administrativo ou judicial, pelo prazo de 8 (oito) anos,
f) os que forem declarados indignos do oficialato, ou com ele contado da decisão, salvo se o ato houver sido suspenso ou anulado
incompatíveis, pelo prazo de 8 (oito) anos; (Redação dada pela Lei pelo Poder Judiciário; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de
Complementar nº 135, de 2010) 2010)
g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos p) a pessoa física e os dirigentes de pessoas jurídicas responsá-
ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que veis por doações eleitorais tidas por ilegais por decisão transitada
configure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão em julgado ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral,
irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspen- pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão, observando-se o pro-
sa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as eleições que se rea- cedimento previsto no art. 22; (Incluído pela Lei Complementar nº
lizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da 135, de 2010)
decisão, aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da Constitui- q) os magistrados e os membros do Ministério Público que
ção Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem exclusão de forem aposentados compulsoriamente por decisão sancionatória,
mandatários que houverem agido nessa condição; (Redação dada que tenham perdido o cargo por sentença ou que tenham pedido
pela Lei Complementar nº 135, de 2010) exoneração ou aposentadoria voluntária na pendência de processo
h) os detentores de cargo na administração pública direta, in- administrativo disciplinar, pelo prazo de 8 (oito) anos; (Incluído pela
direta ou fundacional, que beneficiarem a si ou a terceiros, pelo Lei Complementar nº 135, de 2010)
abuso do poder econômico ou político, que forem condenados em II - para Presidente e Vice-Presidente da República:
decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial cole- a) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente de
giado, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diploma- seus cargos e funções:
dos, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguin- 1. os Ministros de Estado:
tes; (Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
2. os chefes dos órgãos de assessoramento direto, civil e militar,
i) os que, em estabelecimentos de crédito, financiamento ou
da Presidência da República;
seguro, que tenham sido ou estejam sendo objeto de processo de
3. o chefe do órgão de assessoramento de informações da Pre-
liquidação judicial ou extrajudicial, hajam exercido, nos 12 (doze)
sidência da República;
meses anteriores à respectiva decretação, cargo ou função de dire-
4. o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas;
ção, administração ou representação, enquanto não forem exone-
5. o Advogado-Geral da União e o Consultor-Geral da Repúbli-
rados de qualquer responsabilidade;
ca;
j) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado
6. os chefes do Estado-Maior da Marinha, do Exército e da Ae-
ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral, por corrupção
eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por doação, captação ou ronáutica;
gastos ilícitos de recursos de campanha ou por conduta vedada aos 7. os Comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica;
agentes públicos em campanhas eleitorais que impliquem cassação 8. os Magistrados;
do registro ou do diploma, pelo prazo de 8 (oito) anos a contar da 9. os Presidentes, Diretores e Superintendentes de autarquias,
eleição; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações pú-
k) o Presidente da República, o Governador de Estado e do blicas e as mantidas pelo poder público;
Distrito Federal, o Prefeito, os membros do Congresso Nacional, 10. os Governadores de Estado, do Distrito Federal e de Terri-
das Assembleias Legislativas, da Câmara Legislativa, das Câmaras tórios;
Municipais, que renunciarem a seus mandatos desde o oferecimen- 11. os Interventores Federais;
to de representação ou petição capaz de autorizar a abertura de 12. os Secretários de Estado;
processo por infringência a dispositivo da Constituição Federal, da 13. os Prefeitos Municipais;
Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei 14. os membros do Tribunal de Contas da União, dos Estados e
Orgânica do Município, para as eleições que se realizarem durante o do Distrito Federal;
período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos 15. o Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal;
8 (oito) anos subsequentes ao término da legislatura; (Incluído pela 16. os Secretários-Gerais, os Secretários-Executivos, os Secretá-
Lei Complementar nº 135, de 2010) rios Nacionais, os Secretários Federais dos Ministérios e as pessoas
l) os que forem condenados à suspensão dos direitos políticos, que ocupem cargos equivalentes;
em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial b) os que tenham exercido, nos 6 (seis) meses anteriores à elei-
colegiado, por ato doloso de improbidade administrativa que im- ção, nos Estados, no Distrito Federal, Territórios e em qualquer dos
porte lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito, desde poderes da União, cargo ou função, de nomeação pelo Presidente
a condenação ou o trânsito em julgado até o transcurso do prazo da República, sujeito à aprovação prévia do Senado Federal;
de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena; (Incluído pela Lei c) (Vetado);
Complementar nº 135, de 2010)

24
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
d) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tiverem com- b) os membros do Ministério Público e Defensoria Pública em
petência ou interesse, direta, indireta ou eventual, no lançamento, exercício na Comarca, nos 4 (quatro) meses anteriores ao pleito,
arrecadação ou fiscalização de impostos, taxas e contribuições de sem prejuízo dos vencimentos integrais;
caráter obrigatório, inclusive parafiscais, ou para aplicar multas re- c) as autoridades policiais, civis ou militares, com exercício no
lacionadas com essas atividades; Município, nos 4 (quatro) meses anteriores ao pleito;
e) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tenham exercido V - para o Senado Federal:
cargo ou função de direção, administração ou representação nas a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente
empresas de que tratam os arts. 3° e 5° da Lei n° 4.137, de 10 de da República especificados na alínea a do inciso II deste artigo e, no
setembro de 1962, quando, pelo âmbito e natureza de suas ativida- tocante às demais alíneas, quando se tratar de repartição pública,
des, possam tais empresas influir na economia nacional; associação ou empresa que opere no território do Estado, observa-
f) os que, detendo o controle de empresas ou grupo de em- dos os mesmos prazos;
presas que atuem no Brasil, nas condições monopolísticas previstas b) em cada Estado e no Distrito Federal, os inelegíveis para os
no parágrafo único do art. 5° da lei citada na alínea anterior, não cargos de Governador e Vice-Governador, nas mesmas condições
apresentarem à Justiça Eleitoral, até 6 (seis) meses antes do pleito, estabelecidas, observados os mesmos prazos;
a prova de que fizeram cessar o abuso apurado, do poder econômi- VI - para a Câmara dos Deputados, Assembleia Legislativa e Câ-
co, ou de que transferiram, por força regular, o controle de referidas mara Legislativa, no que lhes for aplicável, por identidade de situa-
empresas ou grupo de empresas; ções, os inelegíveis para o Senado Federal, nas mesmas condições
estabelecidas, observados os mesmos prazos;
g) os que tenham, dentro dos 4 (quatro) meses anteriores ao
VII - para a Câmara Municipal:
pleito, ocupado cargo ou função de direção, administração ou re-
a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os
presentação em entidades representativas de classe, mantidas, to-
inelegíveis para o Senado Federal e para a Câmara dos Deputados,
tal ou parcialmente, por contribuições impostas pelo poder Público
observado o prazo de 6 (seis) meses para a desincompatibilização;
ou com recursos arrecadados e repassados pela Previdência Social;
b) em cada Município, os inelegíveis para os cargos de Prefeito
h) os que, até 6 (seis) meses depois de afastados das funções,
e Vice-Prefeito, observado o prazo de 6 (seis) meses para a desin-
tenham exercido cargo de Presidente, Diretor ou Superintendente
compatibilização .
de sociedades com objetivos exclusivos de operações financeiras e
§ 1° Para concorrência a outros cargos, o Presidente da Repú-
façam publicamente apelo à poupança e ao crédito, inclusive através
blica, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos
de cooperativas e da empresa ou estabelecimentos que gozem, sob
devem renunciar aos respectivos mandatos até 6 (seis) meses antes
qualquer forma, de vantagens asseguradas pelo poder público, salvo
do pleito.
se decorrentes de contratos que obedeçam a cláusulas uniformes;
§ 2° O Vice-Presidente, o Vice-Governador e o Vice-Prefeito po-
i) os que, dentro de 6 (seis) meses anteriores ao pleito, hajam
derão candidatar-se a outros cargos, preservando os seus manda-
exercido cargo ou função de direção, administração ou representa-
tos respectivos, desde que, nos últimos 6 (seis) meses anteriores ao
ção em pessoa jurídica ou em empresa que mantenha contrato de
pleito, não tenham sucedido ou substituído o titular.
execução de obras, de prestação de serviços ou de fornecimento de
§ 3° São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o côn-
bens com órgão do Poder Público ou sob seu controle, salvo no caso
juge e os parentes, consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou
de contrato que obedeça a cláusulas uniformes;
por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado
j) os que, membros do Ministério Público, não se tenham afas-
ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja
tado das suas funções até 6 (seis) meses anteriores ao pleito;
substituído dentro dos 6 (seis) meses anteriores ao pleito, salvo se
I) os que, servidores públicos, estatutários ou não, dos órgãos
já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
ou entidades da Administração direta ou indireta da União, dos Es-
§ 4º A inelegibilidade prevista na alínea e do inciso I deste ar-
tados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos Territórios, inclu-
tigo não se aplica aos crimes culposos e àqueles definidos em lei
sive das fundações mantidas pelo Poder Público, não se afastarem
como de menor potencial ofensivo, nem aos crimes de ação penal
até 3 (três) meses anteriores ao pleito, garantido o direito à percep-
privada. (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
ção dos seus vencimentos integrais;
§ 5º A renúncia para atender à desincompatibilização com vis-
III - para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito
tas a candidatura a cargo eletivo ou para assunção de mandato não
Federal;
gerará a inelegibilidade prevista na alínea k, a menos que a Justiça
a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente
Eleitoral reconheça fraude ao disposto nesta Lei Complementar. (In-
da República especificados na alínea a do inciso II deste artigo e, no
cluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010).
tocante às demais alíneas, quando se tratar de repartição pública,
associação ou empresas que operem no território do Estado ou do
3.6) Impugnação de mandato
Distrito Federal, observados os mesmos prazos;
Encerrando a disciplina, o artigo 14, CF, aborda a impugnação
b) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente de
de mandato.
seus cargos ou funções:
1. os chefes dos Gabinetes Civil e Militar do Governador do Es- Artigo 14, § 10, CF. O mandato eletivo poderá ser impugnado
tado ou do Distrito Federal; ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplo-
2. os comandantes do Distrito Naval, Região Militar e Zona Aé- mação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico,
rea; corrupção ou fraude.
3. os diretores de órgãos estaduais ou sociedades de assistên- Artigo 14, § 11, CF. A ação de impugnação de mandato tramita-
cia aos Municípios; rá em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se
4. os secretários da administração municipal ou membros de temerária ou de manifesta má-fé.
órgãos congêneres;
IV - para Prefeito e Vice-Prefeito: 3.7) Perda e suspensão de direitos políticos
a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os ine- Art. 15, CF. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda
legíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, ou suspensão só se dará nos casos de:
Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, ob- I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em
servado o prazo de 4 (quatro) meses para a desincompatibilização; julgado;

25
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
II - incapacidade civil absoluta; dar a mencionada vedação; e funcionamento parlamentar de acor-
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto du- do com a lei. Ainda, a lei veda a utilização de organização paramili-
rarem seus efeitos; tar por parte dos partidos políticos (artigo 17, §4º, CF).
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação O respeito a estes ditames permite o exercício do partidarismo
alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; de forma autônoma em termos estruturais e organizacionais, con-
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. forme o §1º do artigo 17, CF:
O inciso I refere-se ao cancelamento da naturalização, o que Art. 17, §1º, CF. § 1º É assegurada aos partidos políticos auto-
faz com que a pessoa deixe de ser nacional e, portanto, deixe de ser nomia para definir sua estrutura interna e estabelecer regras sobre
titular de direitos políticos. escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e pro-
O inciso II trata da incapacidade civil absoluta, ou seja, da inter- visórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar
dição da pessoa para a prática de atos da vida civil, entre os quais os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições
obviamente se enquadra o sufrágio universal. majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições proporcionais,
O inciso III refere-se a um dos possíveis efeitos da condenação sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbi-
criminal, que é a suspensão de direitos políticos. to nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos
O inciso IV trata da recusa em cumprir a obrigação militar ou estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.
a prestação substitutiva imposta em caso de escusa moral ou reli- Os estatutos que tecem esta regulamentação devem ser regis-
giosa. trados no Tribunal Superior Eleitoral (artigo 17, §2º, CF).
O inciso V se refere à ação de improbidade administrativa, que Quanto ao financiamento das campanhas e o acesso à mídia,
tramita para apurar a prática dos atos de improbidade administra- preveem os §§3º e 5º do artigo 17 da CF:
tiva, na qual uma das penas aplicáveis é a suspensão dos direitos Art. 17, §3º, CF. Somente terão direito a recursos do fundo par-
políticos. tidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os
Os direitos políticos somente são perdidos em dois casos, quais partidos políticos que alternativamente:
sejam cancelamento de naturalização por sentença transitada em I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no
julgado (o indivíduo naturalizado volta à condição de estrangeiro) e mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo
perda da nacionalidade brasileira em virtude da aquisição de outra menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo de 2%
(brasileiro se naturaliza em outro país e assim deixa de ser consi- (dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou
derado um cidadão brasileiro, perdendo direitos políticos). Nos de- II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais dis-
mais casos, há suspensão. Nota-se que não há perda de direitos tribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação.
políticos pela prática de atos atentatórios contra a Administração Art. 17, §5º, CF. Ao eleito por partido que não preencher os
Pública por parte do servidor, mas apenas suspensão. requisitos previstos no § 3º deste artigo é assegurado o mandato
A cassação de direitos políticos, consistente na retirada dos di- e facultada a filiação, sem perda do mandato, a outro partido que
reitos políticos por ato unilateral do poder público, sem observância os tenha atingido, não sendo essa filiação considerada para fins de
dos princípios elencados no artigo 5º, LV, CF (ampla defesa e contra- distribuição dos recursos do fundo partidário e de acesso gratuito
ditório), é um procedimento que só existe nos governos ditatoriais ao tempo de rádio e de televisão.
e que é absolutamente vedado pelo texto constitucional.

3.8) Anterioridade anual da lei eleitoral


Art. 16, CF. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vi- CONSIDERAÇÕES SOBRE A POLÍCIA E OS DIREITOS
gor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocor- HUMANOS
ra até um ano da data de sua vigência.
É necessário que a lei eleitoral entre em vigor pelo menos 1 A formulação de princípios ou padrões de conduta diante da
ano antes da próxima eleição, sob pena de não se aplicar a ela, mas condição social do homem são elementos norteadores da convi-
somente ao próximo pleito. vência social. No decurso da história da humanidade as civilizações
O pluripartidarismo é uma das facetas do pluralismo político construíram diferentes sistemas de normas sociais objetivando es-
e encontra respaldo enquanto direito fundamental, já que regula- tabelecer padrões de relações humanas e comportamentos sociais.
mentado no Título II, “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, ca- A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 10 de dezembro
pítulo V, “Dos Partidos Políticos”. de 1948 aborda em seus 30 artigos, os valores éticos básicos nor-
O caput do artigo 17 da Constituição prevê: teadores para proteção dos Direitos Humanos.
Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de
partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime de- De acordo com Soares (1997), os enfrentamentos atuais para a
mocrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa construção da democracia no Brasil passam, necessariamente, pela
humana [...]. ética e pela educação para a cidadania. Por duas décadas, o Brasil
Consolida-se, assim a liberdade partidária, não estabelecen- esteve envolvido em um sistema ditatorial (1965 a 1985). Nesse pe-
do a Constituição um limite de números de partidos políticos que ríodo, direitos básicos foram cerceados. Serviram à manutenção da
possam ser constituídos, permitindo também que sejam extintos, ditadura militar as forças policiais do país, as quais atuaram como
fundidos e incorporados. aparelho repressor do Estado.
Os incisos do artigo 17 da Constituição indicam os preceitos a
serem observados na liberdade partidária: caráter nacional, ou seja, O processo de estruturação dos direitos do homem ocorre des-
terem por objetivo o desempenho de atividade política no âmbito de o século XVIII, quando erigiu – se o Estado de Direitos, tendo
interno do país; proibição de recebimento de recursos financeiros início então os movimentos constitucionalistas. Com a promulgação
de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes, da Constituição Federal de 1988, denominada constituição cidadã,
buscou-se resgatar o processo de democratização interrompido
logo, o Poder Público não pode financiar campanhas eleitorais;
pelo período da ditadura militar e, consequentemente fazer valer
prestação de contas à Justiça Eleitoral, notadamente para resguar-
direitos dos cidadãos que haviam sido negligenciados até então.

26
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
Dentro desse contexto, pesquisas sobre a integração dos direi- Sensibilizadas com as atrocidades das guerras, as nações mun-
tos humanos na atividade policial são extremamente necessárias diais decidiram fundar a Organização das Nações Unidas (ONU), e
no sentido de mudar o histórico de violência em sua atuação. Bus- m junho de 1945, foi assinada a Carta das Nações Unidas, a qual
cando por essa adequação, atualmente os planos de ensino das declara como objetivo principal: “preservar as próximas gerações
academias de polícia e cursos de especialização inseriram em suas do sofrimento da guerra e reafirmar os direitos fundamentais do
propostas; matérias referentes à importância dos direitos humanos homem”.
na atividade policial. Tal procedimento tem como objetivo, a refle-
xão desses profissionais, os quais através da produção de monogra- Em 1948, com a aprovação da Declaração Universal dos Direi-
fias, artigos e teses sobre o tema, conscientizem-se da necessidade tos do Homem, a qual tem como princípio fundamental a dignidade
de adequação do seu trabalho à defesa e respeito aos direitos fun- da pessoa humana promoveu-se o efetivo respeito aos direitos hu-
damentais do cidadão. manos. Dando início a elaboração de outros Pactos Internacionais
sobre o referido tema.
Essa pesquisa tem sua justificativa embasada pela necessidade
de demonstrar que direitos humanos e atividade policial são total- Em 1966 em conformidade com os princípios proclamados
mente compatíveis desfazendo a crença de que o discurso dos direi- na Carta das Nações Unidas; foram criados o Pacto Internacional
tos humanos só traz benefícios aos infratores da lei. dos Direitos Civis e políticos e o Pacto Internacional dos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais, os quais asseguram o respeito à
O objetivo geral da pesquisa é demonstrar a polícia como peça integridade física e a dignidade da pessoa humana, proibindo sob
fundamental para garantir a democracia e a valorização dos direitos qualquer pretexto a prática de tortura e execuções não levadas à
humanos. Os objetivos específicos baseiam- se em conceituar e dis- justiça; garantindo todas as prerrogativas de defesa. Ambos estão
correr sobre Direitos Humanos; atividade policial; cidadania; poder inseridos na Carta Internacional de Direitos Humanos.
de polícia; polícia comunitária, abordando a atuação da polícia no
Distrito Federal. No Brasil, a ditadura militar, instalada no ano de 1964 vigoran-
do até 1984, foi um marco de desrespeito aos Direitos Humanos.
Considerando-se os objetivos estabelecidos no estudo, esta O período da ditadura foi marcado por torturas de todo tipo e res-
é tida como uma pesquisa exploratória. Que segundo Gil (1991), ponsável pelo desaparecimento de muitas pessoas. Todas as classes
assume, em geral, as formas de Pesquisa Bibliográfica e descritiva. sociais sofreram violação e restrição de Direitos.

DIREITOS HUMANOS E ATIVIDADE POLICIAL O Brasil se efetivou como um país democrático de direito após
a promulgação da Constituição Federal de 1988. Também chamada
Direitos humanos de Constituição Cidadã por contar com garantias e direitos funda-
De acordo com Bobbio (2004) Direitos humanos são derivados mentais que reforçam a idéia de um país livre e pautado na valori-
da dignidade e do valor inerente à pessoa humana, tais direitos são zação do ser humano. Com a ruptura do antigo sistema ditatorial o
universais, inalienáveis e igualitários. Em outras palavras eles são Estado tinha a necessidade de resgatar a importância dos direitos
inerentes a cada ser humano, não podem ser tirados ou alienados do homem que tinham sido negligenciados até então. Porquanto,
por qualquer pessoa; sendo destinados e aplicados a qualquer indi- desde 1948 havia-se erigido a Declaração Internacional dos Direitos
víduo em igual medida – independente do critério de raça, cor, sexo, Humanos, no mundo.
idioma, religião, política ou outro tipo de opinião, nacionalidade ou
origem social, propriedades, nascimento ou outro status qualquer. Já no artigo 1° da Carta Magna afirma-se a condição de Estado
Democrático de Direito fundamentado em cidadania e dignidade
Os direitos humanos podem ser melhor entendidos como aque- da pessoa humana. O Brasil por ser signatário de Tratados Interna-
les direitos constantes nos instrumentos internacionais: Declaração cionais de Direitos Humanos, tem como princípios em suas relações
Universal dos Direitos Humanos, O Pacto Internacional sobre os Di- internacionais a prevalência dos direitos humanos.
reitos Econômicos, Sociais e Culturais, O Pacto Internacional sobre
os Direitos Civis e Políticos, tratados regionais de direitos humanos, Os padrões internacionais de direitos humanos têm o objetivo
e instrumentos específicos lidando com aspectos da proteção dos de prevenir que as pessoas se tornem vítimas desse abuso, assegu-
direitos humanos como, por exemplo, a proibição da tortura. rá-las e protegê-las caso isto aconteça. Em alguns casos a violação
desses direitos, são atos criminosos por si só – tortura, por exem-
O direito de liberdade na concepção de Bobbio (1909)além de plo, e execuções ilegais por funcionários do Estado.
estar intimamente ligado ao principio da igualdade evolui paralela-
mente a ele. O que se confirma na afirmação contida na Declaração Os criminosos também têm direitos humanos, por exemplo,
universal dos Direitos do Homem em seu artigo 1°: “ (…) art.1° da têm direito a um julgamento justo e a um tratamento humano
Declaração Universal, “todos os homens nascem iguais em liberda- quando detidos. Uma vez sentenciados por uma corte de justiça
des e direitos”, afirmação cujo significado é que todos os homens pelo cometimento de uma ofensa criminal, perdem o direito à li-
nascem iguais na liberdade, no duplo sentido da expressão: “os ho- berdade durante o tempo de cumprimento da sentença.
mens têm igual direito à liberdade”, “os homens têm direito a uma
igual liberdade”. No que se referem aos policiais, estes devem entender que
enquanto estiverem investigando um crime, estão lidando com
Somente após a Segunda Guerra Mundial, a qual envolveu vá- suspeitos e não com pessoas que foram condenadas pelo cometi-
rias nações e causou prejuízos mundiais; os Direitos Humanos se mento de um ato criminoso (que está sendo investigado). Apesar de
firmaram e obtiveram reconhecimento pleno, pois o quadro de des- um policial acreditar que a pessoa realmente cometeu o crime, so-
truição deixado pela guerra despertou na humanidade a necessida- mente a justiça poderá considerar a pessoa culpada. Este é um ele-
de de se frear esse tipo de disputas. mento essencial para um julgamento justo, prevenindo que pessoas
inocentes sejam condenadas por crimes que não tenham cometido.

27
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
Atividade policial vêem uma polícia contra o povo e não para o povo. Com a democra-
A Constituição Federal destaca quais os órgãos estão aptos a tização da política brasileira, tornou-se necessário repensar o mo-
promover a segurança pública e detalha os tipos de atividades de- delo de segurança pública do país, tendo em mente que essa nova
legadas a cada um deles. Esses órgãos são as diferentes polícias no conjuntura da política nacional, propicia a relação polícia e direitos
contexto brasileiro. São elas: Polícia Federal; Polícia Rodoviária Fe- humanos como uma parceria em benefício da comunidade e não o
deral; Polícia Ferroviária federal; Polícia Civil; Polícia Militar e o Cor- contrário.
po de Bombeiros Militares. Muito embora cada um desses órgãos
possua seu próprio campo de ação; a atividade primordial baseia-se Inserir na instituição policial uma proposta baseada em ten-
na preservação da ordem pública e a incolumidade das pessoas e dências contemporâneas a respeito de sua atuação não se constitui
do patrimônio. Porquanto o caput do art. 144 os estabelece como tarefa fácil, por se tratar de instituição fechada em si, tradicionalista
órgãos de promoção de segurança pública. e baseada em hierarquia e disciplina, no caso das polícias militares.
A mudança no modo de agir da polícia, parte do princípio de que é
A atividade policial brasileira é detalhada em sua Carta Política, necessário que se mude a convicção que os profissionais de segu-
dada a importância do trabalho policial, uma vez que dependendo rança têm a respeito do valor dos direitos humanos.
da forma como for exercida a atividade confirma ou nega o Estado
Democrático de Direito. A atividade policial é um oficio de suma Mesmo dentro da polícia há o paradigma de que os militan-
importância, seriedade e dimensão única, pois deve atuar de for- tes de direitos humanos só atuam para reprimir a ação da força,
ma a impedir que as garantias e liberdades constitucionais sejam procurando excessos em sua atividade e protegendo os marginais.
violadas, Conforme a concepção de Goldstein (2003, p.28; 29), “A O desconhecimento por boa parte da polícia do que sejam tais di-
policia não está apenas obrigada a exercer sua limitada autoridade reitos, provoca a revolta dos profissionais de segurança pública e a
em conformidade com a Constituição e, por meios legais, aplicar noção de que os militantes de direitos humanos são subversivos e
suas restrições: também está obrigada a observar que outros não atentam contra a segurança nacional.
infrinjam as liberdades garantidas constitucionalmente. Essas exi-
gências introduzem na função policial a dimensão única que torna o Os militantes de direitos humanos são mal interpretados, pelos
policiamento neste país um oficio seríssimo.” policiais, em razão da história de enfrentamento das duas posições
em épocas de ditadura no país. O contexto histórico brasileiro re-
Apesar de detalhamento do trabalho policial no corpo da força o abismo que se criou entre direitos humanos e atividade po-
Constituição; tais como: patrulhamento ostensivo; função de inves- licial, dificultando as novas filosofias de policiamento.
tigação e apuração de infrações penais; e preservação da ordem
pública, o que se vê, hoje, é uma polícia que faz mais do que a de- Na verdade, as denúncias feitas pela comunidade de Direitos
terminação legal impõe. A instituição policial absorveu atividades Humanos é benéfica aos bons policiais, pois minam a ação de maus
que em principio não deveriam ser suas, como por exemplo, as profissionais e impedem que eles continuem agindo em desacordo
ocorrências que envolvem discussões familiares, tal fato pode estar com os direitos, maculando dessa forma, todo o corpo policial. Para
ligado a falhas no Sistema de Segurança Pública ou pela mudança que haja uma mudança no paradigma de antagonismo, é imprescin-
nos anseios da sociedade. dível que a polícia e as ONGS de direitos humanos se aproximem e
trabalhem juntas na efetivação do bem maior, não para satisfação
A atividade policial, atualmente, não pode ser compreendida de posições, mas em favor da sociedade.
apenas pela ótica legal. É preciso levar em conta que as leis são rígi-
das e invariáveis, mas a sociedade é mutável e espera uma mudan- POLÍCIA E CIDADANIA
ça na perspectiva do trabalho policial. O profissional de segurança A Declaração Universal dos Direitos Humanos não faz diferença
contemporâneo é um agente promotor de cidadania e direitos hu- de cidadãos, fica claro que todas as pessoas são iguais em direitos
manos. e deveres e veda qualquer forma de distinção. O profissional de se-
gurança assim como qualquer cidadão possui direitos e obrigações,
A atividade policial, de hoje, leva em consideração não só a in- no entanto, a ele se atribui o solene dever de figurar como agente
tolerância a criminalidade, mas também preocupa – se com o cará- promotor de Direitos Humanos. Os agentes de segurança possuem
ter social que desempenha junto à população. O trabalho da polícia o poder de representar o Estado e se tornam, por isso, talvez, a clas-
abrange toda a determinação legal imposta pela constituição e re- se de trabalhadores com mais notoriedade em sua atuação.
gimentos policiais, e, sobretudo a civilidade que o profissional deve
ter, no senso de responsabilidade frente à sociedade, a qual espera Dessa forma, é necessário que se invista, vigilantemente, nas
do agente de segurança pública; a proteção quando um conflito se ações policiais esperando dos agentes uma atuação pautada sem-
instala. pre no estrito cumprimento da lei, já que atuam para garanti-la. É
importante cobrar profissionalismo nas ações.
Antagonismo entre direitos humanos e polícia
Traçando perfil do contexto histórico brasileiro, percebe-se que Em sua atuação vigilante, a população deve reconhecer que o
Direitos Humanos e atividade policial sempre estiveram em posi- policial também é um cidadão com deveres, obrigações e direitos.
ções antagônicas. Diante de todas as manifestações contrárias aos Já o policial deve sentir-se inserido e participante dessa sociedade
Direitos Humanos no período da ditadura militar, a polícia ganhou na mesma medida do cidadão comum. A partir da Revolução Fran-
um estigma de ações pautadas em violência, que não condiz com cesa cidadania se tornou sinônimo de igualdade, o que significa que
modelo ideal de corporação em um Estado Democrático de Direito. independente da profissão exercida, a pessoa não perde seu status
de cidadão perante a sociedade.
A utilização dos aparatos policiais pelo regime autoritário da
época colocou um grande abismo entre a polícia e a sociedade. Ain- Não há diferenças entre sociedade civil e sociedade policial,
da hoje, a população vê nos agentes de segurança um instrumento essa nem mesmo existe. O agente de segurança detém uma respon-
de dominação do Estado sobre o povo e não de servidores, ou seja, sabilidade ímpar frente à população, já que a sociedade deposita

28
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
confiança naquele diante da insegurança que se vive atualmente. A Para que se efetive a policia comunitária é preciso firmar parce-
polícia é a representação mais intima do Estado que a nação possui; ria entre a comunidade e instituição policial. Unidas devem buscar
é a sua frente de atuação, nela se deposita todas as frustrações e soluções para os problemas que geram violência na comunidade.
esperanças no governo. Marcineiro e Pacheco (2005, p.84) alertam que “é preciso compro-
metimento de ambas as partes na solução dos problemas, na busca
Espera-se muito do agir policial, porquanto a missão é nobre. da melhoria da qualidade de vida da comunidade”. A polícia não
Entretanto, a sociedade muda o discurso a toda hora. A polícia se vê deve apenas ser ouvinte dos problemas da sociedade e essa não
perdida nos anseios da população, que em determinado momento deve apenas transmitir aquela seios anseios. Para que seja eficiente
deseja que o agente de segurança seja polido em suas ações, já em e eficaz o modelo comunitário é preciso que as duas sejam parcei-
outras situações pede que a polícia seja uma instituição de vingança ras atuantes na resolução dos problemas identificados na localida-
social, fazendo justiça com as próprias mãos como acontecia nos de que estão inseridas.
primórdios da humanidade. As pessoas estão aterrorizadas pela
violência que assola o país. Vive-se o clima de guerra urbana que O policiamento comunitário baseia seu objetivo principal em
gera insegurança. atribuir a sociedade parcela de responsabilização na prevenção ao
crime. Incluir a comunidade na solução de seus problemas locais e
O policial não se deve levar por anseios ilegítimos que possam pedir a ela que explane suas opiniões e, além disso, fazer com que
desprestigiar seu trabalho. A sociedade que deseja ações desme- ela trabalhe para prevenir o crime e diminuir suas mazelas sociais
didas por parte do agente será a mesma que proporcionará a ele o é função e objetivo maior da polícia que trabalha com o programa
repúdio quando atender aos seus próprios anseios primitivos. de policiamento comunitário. A partir daí, pode-se formular o pen-
samento de que policiamento comunitário é expressão máxima de
O uso da força é apenas uma das características da atividade valorização de direitos humanos, é interiorizar no intimo policial a
policial, ela não pode resumir o agir policial como um todo. Suas idéia de profissional pedagogo de cidadania e promotor de direitos
atribuições e responsabilidades vão além, nem sempre é escolha humanos.
do profissional o uso dessa prerrogativa para executar suas tarefas.
Aumentar a responsabilização da polícia implica em se abrir
Como defende Balestreri (1998), o policial é um pedagogo de as críticas da população, porquanto terá que ouvi-la e saber que
cidadania, ele deve ser incluído no rol dos profissionais pedagógi- nem sempre é agradável o que ela ira dizer. Quando o cidadão diz
cos, ao lado das profissões consideradas formadoras de opinião. a polícia sua impressão a respeito do trabalho de seus profissionais
Dessa forma, o agente de segurança é um educador, o qual educa e essa se preocupa, gera a cumplicidade de que a instituição neces-
por meio de suas atitudes ao de lidar com situações cotidianas. O sita para a efetividade do policiamento comunitário e seu objetivo
policial educador transmite cidadania, a partir de, exemplos de con- maior de prevenção do crime.
duta; de comportamentos baseados em moderação e bom senso.
Se o profissional de segurança não conhece a comunidade à
O agente de segurança pública não pode mais ser visto, nos qual está servindo, e se não conhece, principalmente, seus pro-
dias de hoje, como agente de repressão a mando do Estado. A blemas, não atenderá aos princípios do programa comunitário. Os
Constituição Federal de 88, em seu artigo 144, declara que a segu- Conselhos Comunitários de Segurança funcionam com esse intuito,
rança pública é exercida pelas polícias e que suas atribuições são a comunidade se reúne com representantes da polícia para expla-
a preservação da ordem pública, a incolumidade das pessoas e do nar suas opiniões a respeito do trabalho policial e ajudar a polícia
patrimônio. em soluções para os problemas do bairro. Observa-se valorização
da dignidade humana, efetivação de cidadania e expressão demo-
Visto desse modo, a atividade de polícia consiste em desem- crática.
penhar funções policiais, e ao mesmo tempo proteger os direitos
humanos. Violar os direitos humanos, desrespeitar as normas legais As comunidades compõem-se cada uma em sua complexidade,
como propósito de aplicar a lei não é considerado uma prática poli- o policiamento comunitário leva em consideração essas questões e
cial eficiente – apesar de algumas vezes se atingirem os resultados acredita que modelo de patrulhamento deve ser adaptado as ne-
desejados. Quando a polícia viola a lei com o intuito de aplicá-la, cessidades de cada localidade. A proposta de descentralização do
não está reduzindo a criminalidade, está se somando a ela. comando leva em consideração as diferenças que cada comunidade
possui. Assim o comandante subordinado que tem liberdade para
Espera-se dos agentes de segurança o vigor necessário no de- coordenar de acordo com as prioridades que lhes são apresentadas
senvolvimento de suas atividades, porém que haja preocupação em poderá adaptar de melhor forma o programa comunitário da área
agir no estrito cumprimento da lei. É necessária a admiração da so- na qual atua.
ciedade por essa classe de trabalhadores. O policial não é inimigo
da população, deve que ser visto como agente promotor de direitos A efetiva ação está no dia a dia, conhecendo as dificuldades e
humanos, sobretudo, de cidadania. problemas da comunidade, diferente do comando centralizado que
se mantém distante e, conseqüentemente, o atendimento se torna
POLÍCIA COMUNITÁRIA insuficiente. Assim Skolnick; Bayley declaram que “a descentraliza-
ção do comando é necessária para ser aproveitada a vantagem que
O que é polícia comunitária traz o conhecimento particular, obtido e alimentado pelo maior en-
O policiamento comunitário baseia-se em uma concepção de volvimento da polícia na comunidade”.
cooperação entre agentes de segurança e a população, delimitan-
do estratégias as quais aproximem esses dois atores no intuito de Resumidamente, polícia comunitária é a filosofia teórica de
juntos resolverem os problemas de insegurança. Nas palavras de estudar o problema e buscar soluções junto à comunidade; policia-
Skolnick e Bayley (2006, p.69) “Este conceito de uma cooperação mento comunitário é a filosofia em ação de buscar soluções para
maior entre a polícia e a comunidade é o que tem sido considerado, prevenir o problema antes que aconteça, também com apoio da
em todo o mundo, como sendo “policiamento comunitário”. comunidade.

29
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
Polícia comunitária é uma filosofia nova no Brasil. A implanta- A sociedade deve se sentir responsável em por fim a suas ma-
ção do programa busca resgatar a tão manchada história das forças zelas sociais, o cidadão tem o poder – dever de opinar nas políticas
de segurança no país, que por erros do passado e também recor- de segurança pública que lhe são impostas. Quem está apto a es-
rentes nos dias de hoje prejudicou o contato com o cidadão. Pelo clarecer os problemas de uma comunidade a não ser aquele que faz
fato de em outros países a iniciativa ter tido sucesso, o Brasil adotou parte dessa comunidade? Assim, afirma Cardoso (2009, p. 17) “A
a implantação em todas as polícias do país. No Distrito Federal os polícia é vulnerável e não consegue arcar sozinha com a responsabi-
Postos Comunitários são a expressão mais latente de policiamen- lidade, sendo assim, a comunidade deve ser vista como “co-produ-
to comunitário, entre outras iniciativas da polícia como, teatro nas tora” da segurança e da ordem, juntamente com a polícia”.
escolas e incentivo a esportes nas regiões mais pobres e violentas
da capital. Como forma de viabilizar uma efetiva participação da comu-
nidade na resoluções de seus problemas criou- se, por meio dos
Experiência da Polícia comunitária no Distrito Federal Decretos n° 24.101 de setembro de 2003 e 26.291 de outubro de
Polícia Comunitária é uma filosofia inovadora que está sendo 2005 os Conselhos Comunitários de Segurança no Distrito Federal,
implantada em todo o mundo. O Brasil trouxe para sua realidade inspirados no modelo japonês. O conselho é formado por pessoas
esse modelo novo de policiamento. Participam do projeto no país da comunidade local que reúnem- se com as autoridades das polí-
as instituições de segurança e defesa social. O Ministério da Justiça cias civil e militar, corpo de bombeiro militar e secretária de defesa
prepara os profissionais de segurança de todos os estados mem- social, conforme o caso para juntos discutirem programas que de-
bros para se tornarem multiplicadores de polícia comunitária, por sarticulem as causas da criminalidade naquela região.
meio de curso de capacitação.
Os conselhos são separados por Regiões Administrativas –
As diretrizes comunitárias de segurança do Distrito Federal op- RAS[6] do Distrito Federal e por Conselhos especiais que englobam
taram pela segurança comunitária, pelo fato de possuírem um con- as áreas rurais, os conselhos escolares, os conselhos de segurança
ceito mais abrangente que engloba não só a Polícia Militar, como da Universidade de Brasília, o conselho de segurança dos rodoviá-
estipulado no conceito de Polícia Comunitária implantada no país, rios, os conselhos dos taxistas, dos postos de combustível, do co-
mas também as polícias militar e civil, o Corpo de Bombeiro Militar mércio, da indústria gráfica e do transporte alternativo.
e o Departamento de Trânsito de Brasília. No entanto, o objetivo é o
mesmo da filosofia de Polícia Comunitária, qual seja o de aproximar Os Conselhos Comunitários efetivam a voz democrática da so-
o profissional de campo à população, prevenindo os problemas da ciedade. O cidadão seja ele quem for, a dona de casa, o comercian-
comunidade que geram violência. te da esquina, o aposentado, a empregada doméstica, enfim todos
que morem naquela comunidade ou que participem de um grupo
O Decreto n ° 24.316 de 23 de Dezembro de 2003 regulamen- como os taxistas ou rodoviários, por exemplo, tem o poder de opi-
ta o programa de policiamento comunitário no Distrito Federal. nar sobre a estratégias de segurança daquele ponto que é sensível e
A implantação do modelo é de responsabilidade da Secretária de gera instabilidade na ordem daquela localidade. Ao perceber que o
Segurança Pública e de Defesa Social. O objetivo do modelo de se- problema responsável pela criminalidade de um bairro é talvez, um
gurança comunitária na cidade; segundo a legislação é reduzir os beco escuro, a comunidade propõe em reunião do conselho que a
crimes, violência e demais fatores que desarticulem a ordem públi- polícia procure solucionar a questão, juntamente com a Administra-
ção da cidade a qual aquele bairro pertença.
ca, pautando-se na prevenção como forma de proporcionar melhor
qualidade de vida à população local, porquanto quando se previne
Se um dos princípios fundamentais do modelo de polícia co-
o fato e esse não se concretiza evita os prejuízos ao cidadão, a so-
munitária é atribuir responsabilidade a sociedade, os conselhos
ciedade e ao poder público.
são uma das formas de efetivar esse modelo e fazer com que os
programas traçados junto a comunidade sejam realmente eficazes,
Importante observar que para os programas de policiamento
porquanto trata o problema com os maiores interessados.
comunitário serem eficazes e eficientes nas regiões do Distrito Fe-
deral é necessário adequá-los à realidade da população. Como em Percebendo que há um número considerável de violência entre
todo país, Brasília também conta com sérios problemas de desigual- os jovens da cidade, constatados em muitos casos famosos de de-
dades sociais. Portanto, estratégias de redução de criminalidade no linquência juvenil, os profissionais de segurança em parceria com a
Plano Piloto devem ser diferentes das pautadas em cidades satéli- comunidade desenvolvem programas por meio de teatro e esporte.
tes, principalmente, naquelas mais novas e com graves problemas
sociais. A companhia de teatro Pátria Amada coordenada pela Secretá-
ria de Segurança desenvolve um trabalho, por meio de peças tea-
Segundo Cardoso (2009, p. 16) “o policiamento em Brasília trais, que visa diminuir a violência e as dúvidas dessa faixa etária,
tem que ser mais específico, adaptando-se a realidade de cada como gravidez precoce, doenças sexualmente transmissíveis, uso
cidade.” o que será um desafio para os responsáveis pelo mode- de drogas, entre outras. As peças são apresentadas em escolas pú-
lo comunitário, porquanto um dos princípios desse policiamento é blicas e os scripts são elaborados observando temas do dia a dia dos
que ele atenda as prioridades de cada comunidade; e se adeque as adolescentes, como uso de drogas, estupro, abuso sexual ; esses
dificuldades de cada uma. são problemas graves que aumentam o índice de violência entre
os jovens.
É fundamental que a população seja ouvida em seus anseios
dentro de sua comunidade. Para que o poder público, no caso as Outra forma encontrada para afastar os jovens da criminalidade
polícias e demais agentes sociais envolvidos na filosofia, reconhe- é o esporte, o programa “esporte a meia noite” foi implantado nas
çam as debilidades daquela localidade, afim de que se desenvolva cidades do Gama, Planaltina, Ceilândia e Samambaia. Inicialmente,
os programas comunitários necessários. foi implantado em Planaltina por contar com diferentes grupos de
“gangues” de garotos constantemente envolvidos em conflitos, os
quais eram responsáveis pela maioria dos homicídios na cidade.

30
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
Ficou constatado que no período que compreendido entre 23 cidade. A população não está satisfeita com os Postos comunitários
horas às 2 horas da madrugada ocorria a maior parte dos crimes e nem tão pouco os policiais que atuam neles. Conforme observa
na região, então foi estipulado esse horário para promover práticas Cardoso (2009, p. 34) “As reclamações estão ocorrendo em todos
esportivas com os garotos da localidade. Em horário determinado os postos. A falta de segurança e de condições para se trabalhar
passa o ônibus do programa e aquele jovem que quiser pode em- é evidente, mas também é clara a reorientação das atividades de
barcar rumo ao centro de esporte, único requisito para participar policiamento. A polícia saiu das viaturas e entrou definitivamente
do “esporte a meia noite” é submeter- se a abordagem policial que nos posto”.
tem por objetivo garantir a segurança de todos, porquanto traba-
lha- se com jovens em situação de risco. Para que os Postos Comunitários de Segurança se tornem efica-
zes, atendam realmente a população e cumpram com a finalidade
Esses são programas comunitários que aproximam a sociedade do policiamento comunitário, aproximar a polícia da sociedade, é
da polícia e mudam o paradigma que se tem de uma polícia distante necessário que sejam avaliados os erros e recuperem a proposta
e fria em relação aos problemas da comunidade. Ainda não é nor- inicial dos postos. O maior objetivo do Posto é dar sensação de se-
mal ver um profissional de segurança personagem de uma peça ou gurança a população o que não vem acontecendo.
participando de uma partida de futebol com crianças. Os jovens,
a partir dessas iniciativas internalizam conceitos novos de atuação CONCLUSÃO
policial diminuindo, dessa forma a distancia entre os dois polos: co- A relação entre polícia e direitos humanos está centrada nas
munidade e instituições policiais. noções de proteção e respeito, e pode ser uma relação muito positi-
va. De fato é função da polícia a proteção dos direitos humanos. Tal
A validade dos programas comunitários está na premissa de proteção se faz de maneira genérica, mantendo a ordem social, de
que os profissionais de segurança atuam promovendo o direito modo que todos os direitos humanos, de todas as categorias pos-
à dignidade do ser humano. Conforme, concepção de Balestreri sam ser gozados. Quando há uma quebra na ordem social, a capa-
(1998, p. 30) “o velho paradigma antagonista da Segurança Pública cidade e habilidade do Estado em promover e proteger os direitos
e dos Direitos Humanos precisa ser substituídos por um novo, que humanos são consideravelmente diminuídos ou destruídos. Ainda,
exige desacomodação de ambos os campo: “Segurança Pública com é parcialmente por meio da atividade policial que o Estado atinge
Direitos Humanos”.” suas obrigações legais de proteger alguns direitos humanos especí-
ficos – o direito à vida, por exemplo.
Outro programa comunitário instituído como forma de aproxi-
mar a comunidade da polícia foi a implantação dos Postos de Polí- Dentre as profissões públicas pode-se dizer que a polícia é uma
cia Comunitária – PCS em todo o Distrito Federal. O modelo segue das que possui maior responsabilidade em relação à imagem do Es-
aos Kobans japoneses, em países como Cingapura e Japão os postos tado. É necessário que os agentes públicos de segurança resgatem
funcionam como pequenas delegacias são bem equipados possuem os anos perdidos de autoritarismo e distanciamento da sociedade
televisão, sala de descanso e banheiro. brasileira. A história da origem policial no Brasil explica o porquê de
seus traços de violência.
O objetivo dos postos é a sensação de segurança à comunidade,
pois funcionam 24 horas o que faz com que a população sinta – se Tendo em vista esse histórico, cada policial ao entrar na corpo-
protegida. No entanto, muitas são as críticas a respeito do progra- ração devem estar conscientes de que a policia não é mais a mes-
ma, desde sua inauguração na capital. Os policiais reclamam a falta ma, agora mais que nunca; deve-se fortalecer o sentido de fazer
de viaturas, de efetivo, de equipamento de trabalho como rádios, de sua missão um ato nobre. Policiais devem respeitar os direitos
telefones, internet, computadores e até mesmo falta de água. A humanos no desenvolvimento de suas atividades profissionais. Em
maior reclamação dos profissionais é que recebem ordens de seus outras palavras, considerando que é função da polícia a proteção
superiores para não abandonar os PSC. Criando, dessa forma um dos direitos humanos, o requisito de respeito a esses direitos afe-
policial engessado sem poder atender as solicitações da comunida- ta diretamente o modo como a polícia desempenha todas as suas
de. Conforme Cardoso (2009, p. 45) “Os policiais acostumados com funções.
o serviço operacional em viaturas se sentem deslocados no postos,
pois não “prendem” mais ninguém. Alegam que se tornaram “sim- Diante dos anos que macularam a imagem policial as institui-
plesmente vigias de posto”, pois estão impossibilitados de realizar ções de segurança pública e as políticas governamentais acenam
qualquer tipo de atendimento em suas proximidades.” para mudança nas diretrizes de policiamento em todo Brasil, se-
guindo assim uma tendência mundial. Os cursos de integração das
Os postos são construídos com material frágil, não suporta tiros normas de direitos humanos na atividade policial são de extrema
e além disso, é facilmente inflamável. Um dos postos instalados na importância, pois conscientiza o profissional policial de que o poder
cidade satélite do Guará, em 2009, foi queimado por marginais no a ele atribuído deve ser utilizado sempre em benefício da socieda-
mesmo dia de sua inauguração, fatos como esse geram insegurança de.
até mesmo entre os policiais, os quais estão preocupados com a
segurança dos Postos Comunitários e não mais com a população. Quanto ao programa de policiamento comunitário, sua efetiva-
Assim afirma Cardoso (2009, p. 33) “alguns postos instalados em ção depende do entendimento de que a idéia é que haja a participa-
áreas consideradas “perigosas” foram alvos de ameaças. ção da comunidade nas formulações, implementações e avaliações
das políticas de segurança pública e estratégias de policiamento. A
O programa funciona bem em outros países, pois não apenas a instalação de cada Posto Comunitário de Segurança pode tornar-se
população foi privilegiada, mas também os policiais que dispõe de um instrumento avançado entre o relacionamento da Polícia Militar
infra-estrutura e efetivo suficiente. Diante de tantas reclamações a e comunidade na redução dos índices de criminalidade, no aumen-
respeito do modelo em Brasília, pode-se perceber que não houve a to da confiança dos serviços prestados, maior eficácia nas ações e
preocupação de um estudo mais detalhado sobre o funcionamento adoção de estilo de gerenciamento participativo.
dos Postos em outros países para assim adequá-los à realidade da

31
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
Diante do exposto conclui-se que a formação dos profissionais 3. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) Ainda em relação
da Segurança Pública é fundamental para a qualificação das polícias aos outros remédios constitucionais analise as questões a seguir e
brasileiras e o ensino dos Direitos Humanos no Curso de Formação assinale a alternativa correta.
de policiais é uma alternativa que se apresenta adequada, uma vez I - O habeas data assegura o conhecimento de informações re-
que propicia a percepção dos policiais como sujeitos e defensores lativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou banco de
dos Direitos Humanos garantindo a efetiva aplicabilidade do conhe- dados de entidades governamentais ou de caráter público.
cimento desenvolvido na prática policial. II - Será concedido habeas data para a retificação de dados,
quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou ad-
ministrativo.
III - Em se tratando de registro ou banco de dados de entida-
EXERCÍCIOS de governamental, o sujeito passivo na ação de habeas data será a
pessoa jurídica componente da administração direta e indireta do
1. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) O art. 5º da Cons- Estado.
tituição Federal trata dos direitos e deveres individuais e coletivos, IV - O mandado de injunção serve para requerer à autoridade
espécie do gênero direitos e garantias fundamentais (Título II). competente que faça uma lei para tornar viável o exercício dos di-
Assim, apesar de referir-se, de modo expresso, apenas a direitos reitos e liberdades constitucionais.
e deveres, também consagrou as garantias fundamentais. (LENZA, V - O pressuposto lógico do mandado de injunção é a demo-
Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, São Paulo: Saraiva, ra legislativa que impede um direito de ser efetivado pela falta de
2009,13ª. ed., p. 671). complementação de uma lei.
Com base na afirmação acima, analise as questões a seguir e
assinale a alternativa correta. (A) Todas as afirmações estão corretas.
I - Os direitos são bens e vantagens prescritos na norma cons- (B) Apenas I, II e III estão corretas.
titucional, enquanto as garantias são os instrumentos através dos (C) Apenas II, III e IV estão corretas.
quais se assegura o exercício dos aludidos direitos. (D) Apenas II, III e V estão corretas.
II - O rol dos direitos expressos nos 78 incisos e parágrafos do (E) Apenas IV e V estão corretas.
art. 5º da Constituição Federal é meramente exemplificativo.
III - Os direitos e garantias expressos na Constituição Federal 4 (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) O devido processo
não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela legal estabelecido como direito do cidadão na Constituição Federal
adotados, ou dos tratados internacionais em que o Brasil seja parte. configura dupla proteção ao indivíduo, pois atua no âmbito material
IV - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a de proteção ao direito de liberdade e no âmbito formal, ao assegu-
imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano rar-lhe paridade de condições com o Estado para defender-se.
material ou moral decorrente de sua violação. Com base na afirmação acima, analise as questões a seguir e
V - É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assinale a alternativa correta.
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na for- I - Ninguém será processado nem sentenciado senão pela au-
ma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias. toridade competente.
II - A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais
(A) Apenas I, II e III estão corretas. quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem.
(B) Apenas II, III e IV estão corretas. III - São admissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
(C) Apenas III e V estão corretas. ilícitos.
(D) Apenas IV e V estão corretas. IV - Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei
(E) Todas as questões estão corretas. admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança.
V - Não haverá prisão civil por dívida, nem mesmo a do depo-
2. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) Os remédios cons- sitário infiel.
titucionais são as formas estabelecidas pela Constituição Federal
para concretizar e proteger os direitos fundamentais a fim de que (A) Apenas I, II e IV estão corretas.
sejam assegurados os valores essenciais e indisponíveis do ser hu- (B) Apenas I, III e V estão corretas.
mano. (C) Apenas III e IV estão corretas.
(D) Apenas IV e V estão corretas.
Assim, é correto afirmar, exceto: (E) Todas as questões estão corretas.
(A) O habeas corpus pode ser formulado sem advogado, não
tendo de obedecer a qualquer formalidade processual, e o 5 (PC/MG - Investigador de Polícia - FUMARC/2014) Sobre a Lei
próprio cidadão prejudicado pode ser o autor. Penal, é CORRETO afirmar que
(B) O habeas corpus é utilizado sempre que alguém sofrer ou (A) não retroage, salvo para beneficiar o réu.
se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liber- (B) não retroage, salvo se o fato criminoso ainda não for
dade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. conhecido.
(C) O autor da ação constitucional de habeas corpus recebe o (C) retroage, salvo disposição expressa em contrário.
nome de impetrante; o indivíduo em favor do qual se impetra, (D) retroage, se ainda não houver processo penal instaurado.
paciente, podendo ser o mesmo impetrante, e a autoridade
que pratica a ilegalidade, autoridade coatora. 6. (PC/MG - Investigador de Polícia - FUMARC/2014) Sobre as
(D) Caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares garantias fundamentais estabelecidas na Constituição Federal, é
militares. CORRETO afirmar que
(E) O habeas corpus será preventivo quando alguém se achar (A) a Lei Penal é sempre irretroativa.
ameaçado de sofrer violência, ou repressivo, quando for (B) a prática do racismo constitui crime inafiançável e impres-
concreta a lesão. critível.

32
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
(C) não haverá pena de morte em nenhuma circunstância.
(D) os templos religiosos, entendidos como casas de Deus, GABARITO
possuem garantia de inviolabilidade domiciliar.

7. (PC/MG - Investigador de Polícia - FUMARC/2014) NÃO figura 1 E


entre as garantias expressas no artigo 5º da Constituição Federal: 2 D
(A) a obtenção de certidões em repartições públicas.
(B) a defesa do consumidor, prevista em estatuto próprio. 3 A
(C) o respeito à integridade física dos presos, garantido pela lei 4 A
de execução penal.
5 A
(D) a remuneração do trabalho noturno superior ao diurno,
posto que contido na legislação ordinária trabalhista. 6 B
7 D
8 (PC/MG - Investigador de Polícia - FUMARC/2014) A casa é
asilo inviolável do indivíduo, podendo-se nela entrar, sem permis- 8 D
são do morador, EXCETO 9 C
(A) em caso de desastre.
(B) em caso de flagrante delito. 10 C
(C) para prestar socorro.
(D) por determinação judicial, a qualquer hora.

9 (Prefeitura de Florianópolis/SC - Administrador - FGV/2014)


ANOTAÇÕES
Em tema de direitos e garantias fundamentais, o artigo 5º da Cons-
tituição da República estabelece que é: ______________________________________________________
(A) livre a manifestação do pensamento, sendo fomentado o
anonimato; ______________________________________________________
(B) assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
que substitui o direito à indenização por dano material, moral ______________________________________________________
ou à imagem;
(C) assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o ______________________________________________________
sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;
______________________________________________________
(D) livre a expressão da atividade intelectual, artística, cien-
tífica e de comunicação, ressalvados os casos de censura ou ______________________________________________________
licença;
(E) direito de todos receber dos órgãos públicos informações ______________________________________________________
de seu interesse particular, sendo vedada a alegação de sigilo
por imprescindibilidade à segurança da sociedade e do Estado. ______________________________________________________

10. (TJ-RJ - Técnico de Atividade Judiciária - FGV/2014) A partir ______________________________________________________


da Emenda Constitucional nº 45/2004, os tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos: ______________________________________________________
(A) sempre terão a natureza jurídica de lei, exigindo a sua
______________________________________________________
aprovação, pelo Congresso Nacional e a promulgação, na
ordem interna, pelo Chefe do Poder Executivo; ______________________________________________________
(B) sempre terão a natureza jurídica de emenda constitucio-
nal, exigindo, apenas, que a sua aprovação, pelo Congresso ______________________________________________________
Nacional, se dê em dois turnos de votação, com o voto favorá-
vel de dois terços dos respectivos membros; ______________________________________________________
(C) podem ter a natureza jurídica de emenda constitucional,
desde que a sua aprovação, pelo Congresso Nacional, se dê ______________________________________________________
em dois turnos de votação, com o voto favorável de três quin-
______________________________________________________
tos dos respectivos membros;
(D) podem ter a natureza jurídica de lei complementar, desde ______________________________________________________
que o Congresso Nacional venha a aprová-los com observân-
cia do processo legislativo ordinário; ______________________________________________________
(E) sempre terão a natureza jurídica de atos de direito inter-
nacional, não se integrando, em qualquer hipótese, à ordem ______________________________________________________
jurídica interna.
______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

33
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS

ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

_____________________________________________________ _____________________________________________________

_____________________________________________________ _____________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

34
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE TRÂNSITO
1. Penalidades aplicadas às infrações de trânsito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Medidas administrativas a serem adotadas pela autoridade de trânsito e seus agentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE TRÂNSITO

PENALIDADES APLICADAS ÀS INFRAÇÕES DE TRÂNSITO

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) detalha cada tipo de infração e suas consequências. A maioria dos condutores só presta atenção
em tudo o que está descrito no CTB sobre as infrações e outras informações enquanto estão cursando as aulas de legislação. Logo que
conseguem a aprovação no exame, pensam que não precisam mais saber tudo isso, mas esse é um grande – e perigoso – engano.
O CTB classifica as infrações no trânsito como leves, médias, graves e gravíssimas. Para essa classificação, é levado em conta o risco
que a infração apresenta para os demais (e para o próprio condutor).

Infrações leves
As infrações leves são aquelas que o CTB entende como as que causam situações de menor risco no trânsito
As penalidades para as infrações leves são multa de R$ 88,38 e três pontos na carteira. Além disso, há a aplicação de medidas admi-
nistrativas quando necessário (como a remoção do veículo, por exemplo).

EXEMPLOS DE INFRAÇÕES LEVES

1
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE TRÂNSITO

2
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE TRÂNSITO

Infrações médias
As infrações médias são aquelas que, de acordo com o CTB, apresentam um nível de perigo mediano.
As penalidades para as infrações médias são multa de R$ 130,16 e quatro pontos na carteira, além da aplicação de medidas adminis-
trativas quando necessário (como a remoção do veículo, por exemplo).

EXEMPLO DE INFRAÇÕES MÉDIAS

3
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE TRÂNSITO

Infrações graves
O Código de Trânsito Brasileiro classifica as Infrações Graves como aquelas cujo o risco é considerado alto.
As penalidades para as infrações graves são multa de R$ 195,23 e cinco pontos na carteira, além da aplicação de medidas administra-
tivas quando necessário (como a remoção do veículo, por exemplo).

4
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE TRÂNSITO

EXEMPLOS DE INFRAÇÕES GRAVES

Infrações Gravíssimas
As infrações gravíssimas são aquelas cujo risco ou perigo causado para si mesmo e para os demais é considerado altíssimo.
As penalidades para as infrações gravíssimas têm particularidades em relação às outras infrações. Todas elas resultam em sete pontos
na CNH, mas também pode haver suspensão da habilitação de forma imediata. Além disso, as multas são calculadas levando em conside-
ração os fatores multiplicadores.

5
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE TRÂNSITO
EXEMPLOS DE INFRAÇÕES GRAVÍSSIMAS

O que são os fatores multiplicadores e como funcionam?


O Código de Trânsito Brasileiro vem sendo atualizado ano após ano, desde que entrou em vigor. Em 2014, uma dessas atualizações
criou o chamado “fator multiplicador” para algumas infrações gravíssimas, na tentativa de diminuir acidentes ao aumentar as penalidades
para as condutas consideradas de alto risco.

6
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE TRÂNSITO
As multas para as infrações gravíssimas são de R$ 293,47. Quando a infração tem um fator multiplicador, o valor da multa é multipli-
cado por esse fator. Por exemplo: o fator multiplicador para a infração de participar de “rachas” é dez. Logo, a multa para quem cometer
essa infração será de R$ 2.934,70 (o valor da multa multiplicado por 10).
Como é possível perceber, os multiplicadores mudaram bastante a vida dos condutores, exigindo atenção redobrada em relação ao
respeito às normas de trânsito previstas pelo CTB.

Infrações auto-suspensivas

7
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE TRÂNSITO

O QUE SÃO CRIMES DE TRÂNSITO


Todas as condutas proibidas aos condutores de veículo automotores estão descritas na Lei nº 9.503/1997, que institui o Código de
Trânsito Brasileiro.
Na lei, há infrações civis e administrativas, punidas pelos órgãos de trânsito com multas e penalidades, por exemplo, a suspensão do
direito de dirigir.
Mas há, também, infrações penais, ou seja, os crimes de trânsito. Nesses casos, o infrator não é apenas autuado pelo órgão de trân-
sito, mas sofre um processo judicial criminal.
Esse processo está sujeito às regras descritas no Código Penal e no Código de Processo Penal.
O Decreto-Lei nº 3.914/1941, que se trata da Lei de Introdução do Código Penal, conceitua o que é crime em seu primeiro artigo:
“Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou
cumulativamente com a pena de multa; (…).”
Se cometer um crime de trânsito, o motorista pode ser condenado às penalidades de detenção ou multa. Também é possível que o
juiz aplique a penalidade de suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação.
Conforme previsto pelo Código Penal, também é possível que a pena de detenção seja substituída por uma pena restritiva de direito,
como a prestação de serviços à comunidade.

O Que Diz o CTB Sobre Crimes no Trânsito


O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é dividido em capítulos. O XV, por exemplo, versa sobre as infrações de trânsito.
Ou seja, você encontrará lá todas as condutas que são consideradas infrações de trânsito e suas respectivas punições.
No caso dos crimes de trânsito, também há um capítulo específico, o de número XIX, que conta com duas seções.
A primeira é dedicada às disposições gerais, na qual você encontra o art. 291, que confirma o que eu disse anteriormente sobre as
normas a serem aplicadas:
“Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código
Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de
1995, no que couber.”
Nessa seção, há também artigos que dispõem sobre as penalidades de suspensão ou proibição de obter a habilitação e de multa
reparatória.
No artigo 298, há uma lista com circunstâncias em que as penalidades do crime de trânsito são agravadas.
Elas são, por exemplo, o veículo utilizado para cometer o crime estar sem as placas ou com placas falsas (art. 298, II), o condutor en-
volvido não possuir Carteira Nacional de Habilitação (CNH) ou Permissão Para Dirigir (PPD) (art. 298, III), ou cometer o crime sobre faixa
de pedestres (art. 298, VII).

8
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE TRÂNSITO
Na segunda seção do capítulo XIX do CTB, são descritos os cri- O prazo de suspensão, conforme o artigo 293, é de dois meses
mes em espécie e as respectivas penalidades. a cinco anos. É importante saber que, se o réu estiver preso por
consequência da condenação, esse prazo não estará correndo.
Quais Infrações Preveem Penalidades de Crimes de Trânsito Já a penalidade de multa reparatória, prevista no artigo 297, é
São 11 os crimes de trânsito descritos no CTB. Eles constam nos aplicada para indenizar a vítima ou seus sucessores quando houver
artigos 302 a 312, que especificam qual o prazo mínimo e máximo prejuízo material resultante do crime.
de detenção para cada caso. A multa não pode ser superior ao valor do prejuízo demonstrado
Veja quais são: no processo, e o pagamento é realizado mediante depósito judicial.
Artigo 302: Praticar homicídio culposo na direção de veículo Voltando ao assunto da detenção, o juiz tem alguns critérios
automotor; para decidir qual será a pena, ou seja, o tempo exato de restrição
Artigo 303: Praticar lesão corporal culposa na direção de veícu- de liberdade, entre os prazos previstos no CTB.
lo automotor; Eles são citados no artigo 59 do Código Penal. Confira:
Artigo 304: Deixar de prestar imediato socorro à vítima em aci- “Art. 59 – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos anteceden-
dente, de forma direta ou solicitando auxílio de autoridade pública; tes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às
Artigo 305: Afastar-se o condutor do veículo do local do aci- circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comporta-
dente, para fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe possa mento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficien-
ser atribuída; te para reprovação e prevenção do crime:
Artigo 306: Conduzir veículo automotor com capacidade psico- I – as penas aplicáveis dentre as cominadas;
motora alterada em razão da influência de álcool ou de outra subs- II – a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previs-
tância psicoativa que determine dependência; tos.”
Artigo 307: Violar a suspensão ou a proibição de se obter a per- Portanto, o réu é avaliado a partir de:
missão ou a habilitação para dirigir veículo automotor imposta com -Culpabilidade;
fundamento neste Código; -Antecedentes;
Artigo 308: Participar de corrida, disputa ou competição auto- -Conduta social;
mobilística não autorizada na via pública, gerando risco de dano à
-Personalidade;
propriedade pública ou privada;
-Motivação.
Artigo 309: Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a de-
vida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o
Também são avaliadas as circunstâncias e consequências do
direito de dirigir, gerando perigo de dano;
crime e o comportamento da vítima.
Artigo 310: Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo
Essas premissas valem para qualquer crime. Nos crimes de
automotor a pessoa que não possa ou não esteja em condições
trânsito, o juiz avalia ainda outros possíveis agravantes, exatamen-
de dirigir – por exemplo, pessoa não habilitada, com CNH cassada,
te aqueles que constam no artigo 298 do CTB, transcritos no início
suspensa, com seu estado de saúde, física ou mental alterado, ou
deste texto.
embriagada;
Por outro lado, há crimes cujos agravantes vêm nos próprios
Artigo 311: Trafegar em velocidade incompatível com a segu-
dispositivos legais, ou seja, nos artigos específicos que os descre-
rança onde haja grande movimentação ou concentração de pessoas
vem.
– escolas, hospitais, paradas de ônibus etc. –, gerando perigo de dano;
A seguir, veja quando isso acontece no CTB.
Artigo 312: Alterar o estado de lugar, de coisa ou de pessoa en-
volvida em crime, a fim de induzir a erro o agente policial, o perito,
Agravantes
ou juiz.
Há, como lhe falei, descrições de agravantes atribuídos especi-
Agora que você conheceu o que diz o Código sobre os crimes
ficamente a alguns crimes.
de trânsito, é hora de conhecer as penalidades previstas para quem
Um exemplo é crime de homicídio culposo na direção de veícu-
cometê-los.
lo automotor (art. 302 do CTB).
Na próxima seção, você conhecerá as penas previstas e verá
Segundo o parágrafo primeiro desse artigo, a pena – que é de
quais multas de trânsito podem levar um motorista à prisão.
dois a quatro anos de detenção e suspensão – pode ser aumentada
de um terço à metade se o réu:
Quais Multas Podem Levar à Prisão?
-Não possuir Permissão para Dirigir (habilitação provisória) ou
Todos os crimes de trânsito descritos no CTB têm como pena a
Carteira de Habilitação;
detenção. Entre um e outro, no entanto, mudam os prazos e outras
-Praticar o crime em faixa de pedestres ou na calçada;
particularidades na aplicação da pena.
-Deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco
O tempo mínimo dessa pena é seis meses, com exceção do cri-
pessoal, à vítima do acidente;
me de homicídio culposo na direção de veículo automotor, descrito
No exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo
no art. 302, cuja pena mínima é de dois anos.
veículo de transporte de passageiros.
Quanto à pena máxima de detenção, há infrações cuja privação
Os mesmos agravantes são atribuídos ao crime do art. 303:
de liberdade pode chegar a um ano, dois, três ou quatro anos.
“Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor”.
O crime descrito no art. 303, praticar lesão corporal culposa na
Já no artigo 308, que penaliza o motorista que participou de
direção de veículo, por exemplo, pode gerar pena de seis meses a
competição automobilística não autorizada em via pública, gerando
dois anos.
situação de risco, os agravantes são outros.
Já, para o condutor que violar a suspensão da CNH, o art. 307
O tempo de detenção, que é de seis meses a três anos, aumen-
prevê detenção de seis meses a um ano.
ta nos seguintes casos:
Alguns crimes também são penalizados, como já mencionei an-
Se a conduta criminosa resultar em lesão corporal de natureza
tes, com a suspensão ou proibição de obter a habilitação.
grave, e caso as circunstâncias demonstrem que o agente não quis
Segundo o artigo 294 do CTB, o juiz pode decretar a suspensão
o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena será de reclu-
como medida cautelar, em qualquer fase da investigação, caso jul-
são de três a seis anos;
gue necessário para a garantia da ordem pública.

9
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE TRÂNSITO
Se da prática do crime resultar morte (também sem que haja Isso não acontece apenas quando se conclui que o motoris-
indícios de intenção de produzir o resultado), a pena será de reclu- ta deliberadamente direciona o veículo contra um pedestre, por
são de cinco a dez anos. exemplo.
O que significa detenção? Pode acontecer de ser imputada a prática dolosa quando acon-
Você observou que, até agora, falei sempre em detenção, com tece o chamado dolo eventual, isto é, quando o agente aceita o
exceção dos agravantes do artigo 308, que podem converter a pena risco de cometer o crime praticando determinada conduta.
em reclusão. Por exemplo, se um condutor ultrapassa um sinal vermelho e,
Para quem não conhece os meandros da lei, as duas penas po- sem intenção, atropela um pedestre e este acaba falecendo, esta-
dem soar parecidas. Porém, elas têm as suas diferenças. mos diante de uma possibilidade de aplicação do dolo eventual.
Tanto detenção quanto reclusão são consideradas, segundo o Embora o motorista não tivesse a intenção de atropelar aquela
Código Penal, penas privativas de liberdade. pessoa, ele assumiu o risco de adotar uma conduta infracional.
Elas são detalhadas no artigo 33 do Código: Para algumas situações em que um condutor comete crime de
“Art. 33 – A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fe- trânsito, as autoridades fixam um valor para que ele seja solto du-
chado, semiaberto ou aberto. A de detenção em regime semiaberto rante o processo judicial.
ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado.” Esse valor é chamado de fiança e você, provavelmente, já ouviu
Ou seja, o motorista condenado pelos crimes de trânsito pre- falar nela em algum momento.
vistos no CTB cumprirá pena no regime semiaberto ou aberto. O Mas você sabe como ela funciona? É o que lhe explicarei na
que isso quer dizer? próxima seção. Siga a leitura!
No regime semiaberto, o preso pode trabalhar, seja no próprio
local ou então externamente. Também é admitido que ele saia para Como Funciona a Fiança
ter aulas em curso profissionalizante, de segundo grau ou superior. O condutor que praticou um crime de trânsito poderá ser preso
Uma reportagem do Jornal Nacional de 2013 dá uma ideia me- em flagrante pela autoridade policial.
lhor de como é o cotidiano do condenado a detenção em regime O condutor que praticou um crime de trânsito poderá ser preso
semiaberto: em flagrante pela autoridade policial.
“A lei exige cercas ou muros altos, portão de ferro, controle Nesse caso, o delegado de polícia poderá conceder a liberdade
de saída – para estudar ou trabalhar às 7h e para retornar antes mediante o pagamento de uma fiança, conforme disposto no art.
das 19h. Celas sem luxo nem mordomia. O banheiro é coletivo, e o 322 do Código de Processo Penal:
chuveiro um simples cano de água fria. Geralmente as camas são “Art. 322 – A autoridade policial somente poderá conceder
triliches, com três andares.” [sic] fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxi-
Já o regime aberto, segundo o artigo 36 do Código Penal, ba- ma não seja superior a 4 (quatro) anos.”
seia-se na “autodisciplina e senso de responsabilidade do conde- A prisão em flagrante não deve ser confundida com a detenção
nado”. sobre a qual falamos anteriormente.
Desse modo, o condenado pode trabalhar fora durante o dia e A lógica da fiança é que o réu deposite o dinheiro nos cofres
passar a noite em casa de albergado ou em sua própria residência. públicos como garantia de que não irá fugir durante o processo ju-
Já na pena de reclusão, como você viu no artigo 33, a pena dicial.
poderá ser em regime fechado. Até o julgamento, ele tem direito à presunção de inocência, as-
Nesse caso, o preso ficará em um estabelecimento de seguran- sim, poderá responder o processo em liberdade.
ça máxima ou média, sendo proibido de deixá-lo. Caso seja absolvido, o dinheiro pago como fiança será devol-
Para entender os crimes de trânsito, é preciso buscar informa- vido.
ções no Código Penal, como você pôde perceber. No Código de Trânsito Brasileiro, o art. 301 diz que o condutor
Na próxima seção, você lerá um pouco mais sobre a legislação que se envolveu em um acidente de trânsito que resultou em vítima
penal que se aplica aos crimes de trânsito. não será preso em flagrante caso preste pronto e integral socorro.
Então, para não ser preso antes da condenação judicial e não
Crimes Dolosos ou Culposos: Como Eles Aparecem no CTB? precisar pagar fiança, basta estar disponível para o socorro.
Dolo é uma palavra que significa, no direito penal, a intenção Veja que isso não quer dizer que é necessário salvar uma vida,
de violar a lei, seja por ação ou omissão, agindo propositalmente ou afinal, a motorista pode não possuir o conhecimento e a habilidade
assumindo o risco de cometer o crime. técnica para isso.
Sendo assim, o crime doloso, segundo o artigo 18 do Código O que precisa ser feito é tomar as medidas que estejam ao seu
Penal, é aquele em que “o agente quis o resultado ou assumiu o alcance, como isolar a vítima e acionar o serviço de urgência.
risco de produzi-lo”. Assim como muitos outros tópicos relacionados ao direito de
A outra possibilidade é o crime ser culposo, ou seja, “quando trânsito, os crimes de trânsito também são cercados de polêmicas.
o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou Uma das principais está relacionada à diferença entre dolo
imperícia”, também na definição do Código Penal. eventual e culpa consciente. A seguir, veja o que os diferencia e o
Aos crimes classificados como dolosos, é claro, são conferidas que um advogado especialista na área tem a dizer sobre isso.
as penas mais severas.
Quanto aos crimes de trânsito descritos no Código de Trânsito Embriaguez Ao Volante é Crime de Trânsito?
Brasileiro, nenhum é classificado como doloso. O crime descrito no art. 306 do Código de Trânsito fala sobre dirigir
O que pode acontecer é o promotor de justiça concluir que com a capacidade psicomotora alterada. Veja o que diz o trecho:
a conduta do motorista foi dolosa e, desse modo, processá-lo de “Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psico-
acordo com o Código Penal, e não com o CTB. motora alterada em razão da influência de álcool ou de outra subs-
No caso de homicídio, por exemplo, em vez de ser enquadrado tância psicoativa que determine dependência:
no artigo 302 do CTB, será acusado por homicídio simples, confor- Penas – detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão
me o art. 121 do Código Penal. ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor.”

10
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE TRÂNSITO
Mas, afinal, o que eleva a infração do art. 165 ao crime do art. O que devemos entender sobre processo administrativo de
306? trânsito?
Segundo o § 1º do artigo 306, essa conduta pode ser constata- Após começar a atuar em processos envolvendo a matéria de
da pelas seguintes maneiras: trânsito percebi logo a ausência de material específico disponível
Concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por no cenário nacional. Assim, como tenho dedicado estudo a este
litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por tema e atuação prática, pretendo, de alguma forma, transmitir o
litro de ar alveolar; ou conhecimento e desmistificar o que é o processo administrativo de
Sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo CONTRAN, al- trânsito.
teração da capacidade psicomotora. Certo que aqui faremos uma abordagem mais genérica e em
Essa verificação pode acontecer mediante “teste de alcoolemia linguagem mais simplista para o entendimento do público em geral.
ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou Em outros artigos serão feitas análises mais profundas.
outros meios de prova em direito admitidos”. Assim, o que fazer quando recebo uma multa de trânsito?
A polêmica reside no fato de o CTB prever a prova testemunhal Quais são os meus direitos? Como funciona o procedimento (ou
do agente de trânsito como forma de comprovar a alteração da ca- processo) de trânsito?
pacidade motora. Primeiramente temos de entender o seguinte, toda multa é um
No anexo II da Resolução nº 432/2012 do Conselho Nacional de ato do poder público e todo ato do poder público deve fielmente
Trânsito (CONTRAN), consta uma lista de sinais nos quais o agente seguir a Lei sob pena de nulidade, neste caso nosso Código de Trân-
pode se basear para observar as alterações na capacidade psico- sito Brasileiro - CTB (Lei n. 9.503/97), Resoluções do Contran (Con-
motora. selho Nacional de Trânsito), princípios constitucionais entre outros.
Alguns deles são sonolência, olhos vermelhos e odor etílico no Segundo, que toda infração, por mais leve que seja, deve pas-
hálito, além de atitudes como agressividade e exaltação. sar por um processo ou procedimento administrativo para verifica-
O mais comum, no entanto, é somente enquadrar a conduta do ção de sua legalidade pela autoridade de trânsito. É o que dispõe o
motorista como crime caso ele tenha aceito o teste do bafômetro art. 281 do CTB.
e o resultado tenha sido superior a 0,3 mg de álcool por litro de ar Ou seja, toda autuação de infração de trânsito é por natureza
alveolar. uma ‘penalização’, um ato do Estado que adentra na esfera particu-
A prova testemunhal é contestada com frequência porque, lar do cidadão e gera correção, danos, portanto, o processo serve
apesar de o agente de trânsito ter fé pública, averiguar que um para verificar se todas as etapas, prazos e regras foram cumpridas
condutor está com os olhos vermelhos e com sono pode não ser pelo Estado, já que, antes de se exigir o cumprimento por parte do
suficiente para enquadrá-lo no crime do art. 306. cidadão, deve o Estado cumprir sua parte.
Sinais como esses podem ter proveniências muito diversas, que
não o consumo de bebidas alcoólicas. O processo administrativo serve de controle sobre os atos do
Portanto, de modo geral, o crime de trânsito é mais comum estado
quando o agente tem acesso ao resultado do teste do bafômetro É importante saber que, se for identificado qualquer erro na
pelo condutor. autuação (e atuação) por parte dos órgãos de trânsito todo o pro-
Quando o caso é uma infração, como a prevista no art. 165, é cesso deve ser declarado nulo e por consequência anular qualquer
possível recorrer administrativamente. Mas e quanto aos crimes de penalidade sobre o condutor, mesmo que este esteja comprovada-
trânsito? mente errado.
A legislação brasileira prevê o direito à defesa em todas as si-
tuações. Você sabe como ela funciona no caso de ser enquadrado O processo administrativo em si é dividido em três fases:
em um crime de trânsito? Feita a autuação nasce o processo, e aqui não se deve confun-
Seguindo a leitura para a próxima seção, você terá sua respos-
dir autuação com multa. Esta é a primeira fase, oportunidade em
ta. Afinal, é possível recorrer de crimes de trânsito?
que o condutor pode apresentar a defesa prévia, protocolada, en-
dereçada e julgada pelo próprio órgão de trânsito responsável na
É Possível Recorrer Contra Crimes de Trânsito?
esfera da competência estabelecida pelo CTB e dentro de sua cir-
Para uma resposta logo de cara: Sim! É possível!
cunscrição (art. 281, CTB), normalmente os Detrans, Ciretrans, DER.
No entanto, o processo será bastante diferente do recurso en-
Vale ressaltar que o condutor, em todos os atos de julgamen-
viado para anular uma multa de trânsito comum.
to, e da própria autuação, deve receber a notificação, sob pena de
O recurso de infração é endereçado à Junta Administrativa de
Recursos de Infrações (JARI) na primeira instância e ao Conselho nulidade.
Estadual de Trânsito (CETRAN) na segunda instância. Nesta primeira etapa também caso o condutor não apresente
Já, nos casos de crime, o processo é julgado judicialmente. defesa prévia ele não terá prejuízos para posteriormente apresen-
Da decisão do juiz, o réu poderá interpor um recurso, solicitan- tar recurso.
do novo julgamento em outra instância. Passando para a segunda etapa do processo administrativo.
Caso a defesa prévia não tenha êxito, o condutor é notificado e
Esse é um direito assegurado pela Constituição Federal, no in- abre prazo para, desta vez, elaborar recurso, que será dirigido à JARI
ciso LV do artigo 5º: (Junta Administrativa de Recursos de Infrações).
“Art. 5º. (…) Aqui cabe destacar que: neste ponto a autuação é convertida
LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos em multa, a suspensão é confirmada, mas seus efeitos ainda estão
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, suspensos por estar em curso o processo, e atenção, caso o con-
com os meios e recursos a ela inerentes; (…).” dutor não recorra, perca o prazo, o processo será encerrado e os
Para dar andamento adequado a esse processo, você precisará efeitos da infração serão aplicados.
buscar o auxílio de um(a) advogado(a). E a terceira etapa.
Ele(a) o representará e tomará as devidas providências para Caso o recurso à JARI também não tenha êxito, novamente o
que você utilize todas as suas chances de recorrer e buscar a absol- condutor será notificado e poderá recorrer ao CETRAN (Conselho
vição ao final do processo. Estadual de Trânsito).

11
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE TRÂNSITO
Esta é a última instância administrativa. 2. Da advertência Verbal/ Orientação.
No geral, informações importantes que destacamos são: A Lei Federal nº5108/66, o Código Nacional de Trânsito, o legislador
Enquanto estiver recurso sob julgamento não pode o órgão de previu a possibilidade do agente da autoridade de trânsito diante do ilí-
trânsito impor ao condutor qualquer penalidade. cito administrativo de trânsito (infração) aplicasse a advertência verbal,
Também, não estará obrigado o condutor pagar a multa para em seu artigo 188, I (Decreto-Lei 62127, de 16 de janeiro de 1967).
recorrer, e se pagar e conseguir vencer no processo terá o reembol- Art 188. A advertência será aplicada:
so dos valores. I – Verbalmente, pelo agente da autoridade de trânsito, quan-
Também, após esgotado o processo administrativo, poderá o do, em face das circunstâncias, entender involuntária e sem gravi-
condutor se socorrer ao judiciário, inclusive pleiteando medida an- dade infração punível com multa classificada nos grupos 3 e 4;
tecipatória para não perde o direito de dirigir. Era conferido ao agente público uma razoável liberdade de
atuação, observando algumas disposições do artigo 189 (grupos 3 e
4), valorando se conveniente ou não (dever-poder discricionário) a
aplicação da advertência verbal no lugar da autuação.
MEDIDAS ADMINISTRATIVAS A SEREM ADOTADAS PELA O legislador do Código de Trânsito Brasileiro vetou a possibili-
AUTORIDADE DE TRÂNSITO E SEUS AGENTES dade do agente da autoridade de trânsito aplicação da advertência
verbal, prevendo somente a possibilidade de aplicação da penalida-
Muito se ouve por aí: Os agentes de trânsito, os “marronzi- de de advertência por escrito, competência atribuída a autoridade
nhos”, os “amarelinhos” devem ter “bom senso”; O correto é ad- de trânsito e não ao agente da autoridade de trânsito (artigo 256, I,
vertir, daí se o sujeito cometer a infração novamente, aí sim multar. CTB), disposta no artigo 267, vejamos o que dispõe:
Mas será que o agente da autoridade de trânsito ou a autoridade Art. 256. A autoridade de trânsito, na esfera das competências
de trânsito tem autonomia para se sobrepor as sinalizações regular- estabelecidas neste Código e dentro de sua circunscrição, deverá
mente implantadas? Permitir um condutor agir de forma oposta as aplicar, às infrações nele previstas, as seguintes penalidades:
sinalizações de trânsito e as normas gerais de circulação? É lícito/ […]
legal? Pode o agente da autoridade de trânsito substituir a lavratura I – advertência por escrito;
do auto de infração para imposição de penalidade (Artigo 256, II, Art. 267. Poderá ser imposta a penalidade de advertência por
CTB) por uma advertência verbal/ orientação? escrito à infração de natureza leve ou média, passível de ser punida
Então, vamos lá: com multa, não sendo reincidente o infrator, na mesma infração,
1. Da natureza administrativa da lavratura do AIIP/ AIT (auto de nos últimos doze meses, quando a autoridade, considerando o pron-
infração para imposição de penalidade/ auto de infração de trân- tuário do infrator, entender esta providência como mais educativa.
sito). Trata-se de faculdade/ discricionariedade da autoridade de
Vejamos o que dispôs o legislador pátrio na Lei Federal nº trânsito, quando, entender tal providência como medida mais edu-
9503, de 23 de Setembro de 1997, o Código de Trânsito Brasileiro cativa. Vale ressaltar, que a advertência por escrito é penalidade
em seu artigo 280 caput e a resolução 371 do Conselho Nacional assim como a multa. Alguns condutores se iludem com a ideia de
de Trânsito: não sofrer pontos negativos na carteira nacional de habilitação e da
Art. 280. Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito, pecúnia/multa.
lavrar-se-á auto de infração, do qual constará: […] Ou seja, diante de um ilícito administrativo de trânsito/ infração
Resolução-CONTRAN nº 371: […] A lavratura do auto de infra- de trânsito não há o que se falar em advertir verbalmente/ orientar o
condutor em vez de lavrar o auto de infração para que a autoridade de
ção é um ato vinculado na forma da Lei, não havendo discriciona-
trânsito, na esfera das competências estabelecidas pelo CTB e dentro
riedade com relação a sua lavratura, conforme dispõe o artigo 280
de sua circunscrição, aplique a penalidade cabível ao condutor.
do CTB. […]
A administração pública possui poderes/ instrumentos (po-
3. A autoridade de Trânsito e o Agente de Trânsito podem se
deres estruturais) que, permitem à administração cumprir suas
sobrepor as sinalizações regularmente implantadas?
finalidades, sobrepor-se a vontade da lei à vontade individual, o
Tal prerrogativa é conferida ao agente da autoridade no Código
interesse público ao interesse privado. Trata-se de um poder-dever
de Trânsito Brasileiro em seu artigo 89, I:
para que exerça seus atos em prol do interesse público/ interesse Art. 89. A sinalização terá a seguinte ordem de prevalência:
da coletividade. I – as ordens do agente de trânsito sobre as normas de circula-
O reportado ato administrativo vinculado exposto na Resolu- ção e outros sinais;
ção nº 371, de 10 de dezembro de 2010 do Conselho Nacional de […]
Trânsito é mera exteriorização do poder-dever vinculado da admi- O aludido dispositivo parece conferir ao agente da autoridade
nistração pública. No dever-poder vinculado inexiste margem de ampla autonomia para se sobrepor as regras de trânsito quando
liberdade a administração pública para discernir o que seria mais assim achar pertinente, mas não é bem assim, vejamos:
oportuno, mais conveniente. O poder vinculado apenas possibilita Toda norma jurídica carece de uma leitura sistemática, e a ciên-
a administração o exercício do ato vinculado nas estritas hipóteses cia responsável pelos mecanismos teóricos que serão manejados
legais, ou seja, dever de observância ao conteúdo da lei. pelo interprete na busca da compreensão das disposições normati-
Dessarte, fica claro que o agente da autoridade de trânsito vas, que tem por objetivo fornecer conteúdo para a interpretação
(agente público) está subordinado ao império da lei, fruto da pre- (usando critérios objetivos) da lei é a ciência denominada como
servação do Estado de Direito, cabendo a ele somente a observân- hermenêutica jurídica. Ou seja, a mera interpretação gramatical da
cia/ obediência ao disposto pelo legislador de trânsito no Código de norma (de natureza subjetiva) leva o agente da autoridade de trân-
Trânsito Brasileiro, ou seja, ocorrendo infração prevista na legisla- sito ao erro.
ção de trânsito, lavrar-se-á auto de infração. De fato, o artigo 89, I, da Lei, é claro ao atribuir ao agente da
Portanto, cabe anotar, que caso o agente aja em desconforme autoridade de trânsito autonomia para se sobrepor as demais si-
com o estabelecido na lei deixando de observar o seu poder-dever nalizações, porém, tal análise deve ser feita de forma cautelosa/
de agir (abuso de poder) está sujeito a sanções administrativas e atenciosa sob risco de ferir princípios constitucionais e a finalidade
penais. da administração pública (interesse público/ coletivo).

12
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE TRÂNSITO
Nas lições de Julyver Modesto de Araújo:
“Apesar de parecer que tal condição confere a este profissio- EXERCÍCIOS
nal uma ampla autonomia, para, inclusive, se sobrepor aos sinais
de trânsito, regularmente implantados, e às normas de circulação 1-A autoridade de trânsito, na esfera de suas competências e
constantes do Código de Trânsito, tal análise deve ser feita com dentro de sua circunscrição, não pode aplicar a penalidade de
cuidado: Somente será lícita a atuação do agente de trânsito, de A advertência por escrito.
maneira contrária às regras de trânsito ou aos sinais físicos im- B reclusão ou detenção.
plantados, quando houver um interesse público a ser preservado, C suspensão do direito de dirigir.
atentando-se sempre aos princípios constitucionais da Administra- D cassação da Permissão para dirigir.
ção pública, constantes do artigo 37 da Constituição Federal – lega- E frequência obrigatória em curso de reciclagem.
lidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência; assim,
somente será exigível de um usuário da via a conduta determinada 2-Nilmar parou seu veículo afastado oitenta centímetros da
pelo agente de trânsito, de maneira oposta aos sinais e regras de guia da calçada (meio-fio), sendo notificado pelo agente fiscaliza-
trânsito, quando as circunstâncias exigirem para o perfeito orde- dor, seguindo o preconizado no CTB, das respectivas infração e pe-
namento dos fluxos de tráfego e preservação da segurança viária.” nalidade:
No mesmo diapasão é o escólio de Arnaldo Rizzardo (2013, A Gravíssima – multa (duas vezes).
pág. 210): B Grave – multa (duas vezes).
“A fim de não haver confronto ou confusão na obediência dos C Média – multa (duas vezes).
sinais, deve existir uma hierarquia na prevalência. É evidente que as D Média – multa.
ordens do agente têm preferência ante os sinais ostensivos de trân- E Leve – multa.
sito. Nesta previsão, mesmo que existente semáforo, se o policial se
interpõe em sua frente e determinada contrariamente à sinalização 3-Se um condutor deixar de prestar socorro à vítima de aciden-
luminosa, a orientação que estabelece é a que deve ser obedeci- te de trânsito quando solicitado pela autoridade e seus agentes, de
da. Tal acontece em locais críticos de congestionamentos ou de acordo com o CTB, ele incorrerá em infração e penalidade de quais
anormalidades em vias próximas, que ficam obstruídas por algum tipos, respectivamente?
acidentes. Às vezes, faz-se necessário até contrariar a sinalização, A Leve – multa.
mudando as regras de preferencialidade”. B Média – multa.
Percebe-se, portanto, que a doutrina é uniforme, e é indubitá- C Grave – multa.
vel que a aplicabilidade do dispositivo aludido trata-se de exceção, D Gravíssima – multa (2x).
carece que haja uma ameça ao bem jurídico tutelado pelo legisla- E Gravíssima – multa (2x) e retenção da CNH.
dor pátrio no CTB, expresso em seu artigo 1º,§2º e 5º:
Art. 1º O trânsito de qualquer natureza nas vias terrestres do 4-A CNH de Valéria possui uma observação relacionada à obri-
território nacional, abertas à circulação, rege-se por este Código. gatoriedade do uso de óculos ou lentes de contato e ela foi flagrada
§ 2º O trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e em uma blitz dirigindo sem usá-los, o que, de acordo com o CTB,
dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de resulta, respectivamente, em infração e penalidade:
Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das respectivas competências, A Gravíssima – Multa
adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito. B Grave – Multa (duas vezes).
§ 5º Os órgãos e entidades de trânsito pertencentes ao Sistema C Média – Multa.
Nacional de Trânsito darão prioridade em suas ações à defesa da D Média – Multa (duas vezes).
vida, nela incluída a preservação da saúde e do meio-ambiente. E Leve – Multa.
O Professor Leandro Macedo faz o seguinte comentário (2013,
pág. 270): 5-É correto afirmar que o Código de Trânsito Brasileiro determi-
“O trânsito é extremamente dinâmico, não sendo suportado na, entre outras, as seguintes penalidades:
pela sociedade interrupções desnecessárias, devendo, as vias, por- A advertência por escrito, multa e recolhimento do Certificado
tanto, estar sempre que possível com uma fluidez desejável, a fim de de Licenciamento Anual.
que possamos cumprir nossos compromissos. Foi com este espírito B suspensão do direito de dirigir, multa e frequência obrigató-
que o legislador estabeleceu a regra de prevalência de sinais, para ria em curso de reciclagem.
que agentes de trânsito, assim como as autoridades com circuns- C cassação da Carteira Nacional de Habilitação, suspensão do
crição sobre a via pudessem melhorar a fluidez do tráfego.” direito de dirigir e remoção do veículo.
Professor Gleydson Mendes: D cassação da Permissão para Dirigir, multa e recolhimento do
“Saiba que existe uma ordem de prevalência da sinalização Certificado de Licenciamento Anual.
para essas situações e em primeiro lugar deve-se observar as or- E apreensão do veículo, frequência obrigatória em curso de re-
dens dos agentes que irão prevalecer sobre as normas de circula- ciclagem e retenção do veículo.
ção e outros sinais. Entretanto, o agente somente irá sinalizar de
forma contrária às normas quando houver um interesse coletivo, 6-Um condutor foi flagrado trafegando a 95 km/h, sendo que
algo relevante diante das circunstâncias que ele presenciar. Por no local a velocidade máxima permitida era de 70 km/h. De acordo
exemplo: ocorreu um acidente próximo ao cruzamento e mesmo com o artigo 218 do CTB, esse condutor cometeu uma infração e
com o semáforo vermelho o agente determina que os condutores terá como penalidade multa de
avancem para garantir a fluidez e a segurança no local.” A R$ 293,56.
B R$ 195,23.
Fonte: http://portaldotransito.com.br/noticias/o-agente-da-autorida- C R$ 153,97.
de-de-transito-e-aplicabilidade-do-artigo-89-i-do-ctb/ D R$ 130,16.
E R$ 106,47.

13
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE TRÂNSITO
7-A imposição da penalidade, de acordo com o art. 256, § 3°
do CTB, será comunicada aos órgãos ou às entidades executivos de
ANOTAÇÕES
trânsito responsáveis pela habilitação do condutor e
A pela comunicação no diário municipal. ______________________________________________________
B pelo registro no CONTRAN.
C pelo registro no DPVAT. ______________________________________________________
D pela comunicação no DUT.
E pelo licenciamento do veículo. ______________________________________________________

8-A penalidade de suspensão do direito de dirigir será imposta ______________________________________________________


sempre que o infrator atingir a contagem de
______________________________________________________
A 18 pontos, no período de 8 meses.
B 19 pontos, no período de 10 meses. ______________________________________________________
C 20 pontos, no período de 12 meses.
D 21 pontos, no período de 12 meses. ______________________________________________________
E 22 pontos, no período de 15 meses.
______________________________________________________
9-Ao usar qualquer veículo para, deliberadamente, interrom-
per, restringir ou perturbar a circulação na via, sem autorização do ______________________________________________________
órgão ou entidade de trânsito com circunscrição sobre ela, o condu-
______________________________________________________
tor terá como penalidade:
A cassação da CNH por 24 (vinte e quatro) meses. ______________________________________________________
B suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses.
C apreensão do veículo por 24 (vinte e quatro) horas. ______________________________________________________
D uma infração grave e 5 (cinco) pontos no prontuário.
E suspensão do direito de dirigir por 24 (vinte e quatro) meses. ______________________________________________________

10-Estacionar o veículo em locais e horários de estacionamento ______________________________________________________


e parada proibidos pela sinalização (placa - Proibido Parar e Esta-
cionar) constitui uma infração grave, passível de qual(is) penalida- ______________________________________________________
de(s)?
______________________________________________________
A Multa, somente.
B Multa e cassação da CNH. ______________________________________________________
C Suspensão do direito de dirigir e apreensão do veículo.
D Multa e remoção do veículo. ______________________________________________________
E Recolhimento do documento de habilitação até a quitação
da multa. ______________________________________________________

______________________________________________________

GABARITO ______________________________________________________

______________________________________________________
1 B
______________________________________________________
2 E
3 C _____________________________________________________
4 A _____________________________________________________
5 B
______________________________________________________
6 B
______________________________________________________
7 R
8 C ______________________________________________________
9 B ______________________________________________________
10 D
______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

14
INFORMÁTICA
1. Aplicativos para processamento de texto, planilhas eletrônicas e apresentações: conceitos e modos de utilização . . . . . . . . . . . . . 01
2. Conceitos básicos e modos de emprego de tecnologias, ferramentas, aplicativos e procedimentos associados à rede de computadores,
internet e intranet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
INFORMÁTICA
documento durante a edição. Após salvar o documento on-line, cli-
APLICATIVOS PARA PROCESSAMENTO DE TEXTO, PLA- que em Compartilhar para gerar um link ou enviar um convite por
NILHAS ELETRÔNICAS E APRESENTAÇÕES: CONCEITOS e-mail. Quando seus colegas abrem o documento e concordam em
E MODOS DE UTILIZAÇÃO compartilhar automaticamente as alterações, você vê o trabalho
em tempo real.
Essa versão de edição de textos vem com novas ferramentas e
novos recursos para que o usuário crie, edite e compartilhe docu-
mentos de maneira fácil e prática1.
O Word 2016 está com um visual moderno, mas ao mesmo
tempo simples e prático, possui muitas melhorias, modelos de do-
cumentos e estilos de formatações predefinidos para agilizar e dar
um toque de requinte aos trabalhos desenvolvidos. Trouxe pou-
quíssimas novidades, seguiu as tendências atuais da computação,
permitindo o compartilhamento de documentos e possuindo inte-
gração direta com vários outros serviços da web, como Facebook,
Flickr, Youtube, Onedrive, Twitter, entre outros.

Novidades no Word 2016


– Diga-me o que você deseja fazer: facilita a localização e a
realização das tarefas de forma intuitiva, essa nova versão possui
a caixa Diga-me o que deseja fazer, onde é possível digitar um ter-
mo ou palavra correspondente a ferramenta ou configurações que
procurar.

– Pesquisa inteligente: integra o Bing, serviço de buscas da


Microsoft, ao Word 2016. Ao clicar com o botão do mouse sobre
qualquer palavra do texto e no menu exibido, clique sobre a função
Pesquisa Inteligente, um painel é exibido ao lado esquerdo da tela
do programa e lista todas as entradas na internet relacionadas com
a palavra digitada.
– Equações à tinta: se utilizar um dispositivo com tela sensível
ao toque é possível desenhar equações matemáticas, utilizando o
dedo ou uma caneta de toque, e o programa será capaz de reconhe-
cer e incluir a fórmula ou equação ao documento.

– Trabalhando em grupo, em tempo real: permite que vários


usuários trabalhem no mesmo documento de forma simultânea.

– Histórico de versões melhorado: vá até Arquivo > Histórico


para conferir uma lista completa de alterações feitas a um docu-
mento e para acessar versões anteriores.
– Compartilhamento mais simples: clique em Compartilhar
para compartilhar seu documento com outras pessoas no Share-
Point, no OneDrive ou no OneDrive for Business ou para enviar um
PDF ou uma cópia como um anexo de e-mail diretamente do Word.

Ao armazenar um documento on-line no OneDrive ou no Sha-


rePoint e compartilhá-lo com colegas que usam o Word 2016 ou
Word On-line, vocês podem ver as alterações uns dos outros no
1 http://www.popescolas.com.br/eb/info/word.pdf

1
INFORMÁTICA

– Formatação de formas mais rápida: quando você insere formas da Galeria de Formas, é possível escolher entre uma coleção de
preenchimentos predefinidos e cores de tema para aplicar rapidamente o visual desejado.
– Guia Layout: o nome da Guia Layout da Página na versão 2010/2013 do Microsoft Word mudou para apenas Layout2.

Interface Gráfica

Guia de Início Rápido.3

2 CARVALHO, D. e COSTA, Renato. Livro Eletrônico.


3 Fonte: https://www.udesc.br/arquivos/udesc/id_cpmenu/5297/Guia_de_Inicio_Rapido___Word_2016_14952206861576.pdf

2
INFORMÁTICA
Ao clicar em Documento em branco surgirá a tela principal do Word 20164.

Área de trabalho do Word 2016.

Barra de Ferramentas de Acesso Rápido


Permite adicionar atalhos, de funções comumente utilizadas no trabalho com documentos que podem ser personalizados de acordo
com a necessidade do usuário.

Faixa de Opções
Faixa de Opções é o local onde estão os principais comandos do Word, todas organizadas em grupos e distribuídas por meio de guias,
que permitem fácil localização e acesso. As faixas de Opções são separadas por nove guias: Arquivos; Página Inicial, Inserir, Design, Layout,
Referências, Correspondências, Revisão e Exibir.

– Arquivos: possui diversas funcionalidades, dentre algumas:


– Novo: abrir um Novo documento ou um modelo (.dotx) pré-formatado.
– Abrir: opções para abrir documentos já salvos tanto no computador como no sistema de armazenamento em nuvem da Microsoft,
One Drive. Além de exibir um histórico dos últimos arquivos abertos.
– Salvar/Salvar como: a primeira vez que irá salvar o documento as duas opções levam ao mesmo lugar. Apenas a partir da segunda
vez em diante que o Salvar apenas atualiza o documento e o Salvar como exibe a janela abaixo. Contém os locais onde serão armazenados
os arquivos. Opções locais como na nuvem (OneDrive).
– Imprimir: opções de impressão do documento em edição. Desde a opção da impressora até as páginas desejadas. O usuário tanto
pode imprimir páginas sequenciais como páginas alternadas.
4 Melo, F. INFORMÁTICA. MS-Word 2016.

3
INFORMÁTICA

– Página Inicial: possui ferramentas básicas para formatação de texto, como tamanho e cor da fonte, estilos de marcador, alinhamento
de texto, entre outras.

Grupo Área de Transferência


Para acessá-la basta clicar no pequeno ícone de uma setinha para baixo no canto inferior direito, logo à frente de Área de Transferên-
cia.
Colar (CTRL + V): cola um item (pode ser uma letra, palavra, imagem) copiado ou recortado.
Recortar (CTRL + X): recorta um item (pode ser uma letra, palavra, imagem) armazenando-o temporariamente na Área de Transferên-
cia para em seguida ser colado no local desejado.
Copiar (CTRL+C): copia o item selecionado (cria uma cópia na Área de Transferência).
Pincel de Formatação (CTRL+SHIFT+C / CTRL+SHIFT+V): esse recurso (principalmente o ícone) cai em vários concursos. Ele permite
copiar a formatação de um item e aplicar em outro.

Grupo Fonte

Fonte: permite que selecionar uma fonte, ou seja, um tipo de letra a ser exibido em seu texto. Em cada texto pode
haver mais de um tipo de fontes diferentes.

Tamanho da fonte: é o tamanho da letra do texto. Permite escolher entre diferentes tamanhos de fonte na lista ou
que digite um tamanho manualmente.

Negrito: aplica o formato negrito (escuro) ao texto selecionado. Se o cursor estiver sobre uma palavra, ela ficará toda
em negrito. Se a seleção ou a palavra já estiver em negrito, a formatação será removida.

4
INFORMÁTICA

Itálico: aplica o formato itálico (deitado) ao texto selecionado. Se o cursor estiver sobre uma palavra, ela ficará toda
em itálico. Se a seleção ou palavra já estiver em itálico, a formatação será removida.

Sublinhado: sublinha, ou seja, insere ou remove uma linha embaixo do texto selecionado. Se o cursor não está em
uma palavra, o novo texto inserido será sublinhado.

Tachado: risca uma linha, uma palavra ou apenas uma letra no texto selecionado ou, se o cursor somente estiver
sobre uma palavra, esta palavra ficará riscada.

Subscrito: coloca a palavra abaixo das demais.

Sobrescrito: coloca a palavra acima das demais.

Cor do realce do texto: aplica um destaque colorido sobre a palavra, assim como uma caneta marca texto.

Cor da fonte: permite alterar a cor da fonte (letra).

Grupo Parágrafo

Marcadores: permite criar uma lista com diferentes marcadores.

Numeração: permite criar uma lista numerada.

Lista de vários itens: permite criar uma lista numerada em níveis.

Diminuir Recuo: diminui o recuo do parágrafo em relação à margem esquerda.

Aumentar Recuo: aumenta o recuo do parágrafo em relação à margem esquerda.

Classificar: organiza a seleção atual em ordem alfabética ou numérica.

Mostrar tudo: mostra marcas de parágrafos e outros símbolos de formatação ocultos.

Alinhar a esquerda: alinha o conteúdo com a margem esquerda.

Centralizar: centraliza seu conteúdo na página.

5
INFORMÁTICA

Alinhar à direita: alinha o conteúdo à margem direita.

Justificar: distribui o texto uniformemente entre as margens esquerda e direita.

Espaçamento de linha e parágrafo: escolhe o espaçamento entre as linhas do texto ou entre parágrafos.

Sombreamento: aplica uma cor de fundo no parágrafo onde o cursor está posicionado.

Bordas: permite aplicar ou retirar bordas no trecho selecionado.

Grupo Estilo
Possui vários estilos pré-definidos que permite salvar configurações relativas ao tamanho e cor da fonte, espaçamento entre linhas
do parágrafo.

Grupo Edição

CTRL+L: ao clicar nesse ícone é aberta a janela lateral, denominada navegação, onde é possível localizar um
uma palavra ou trecho dentro do texto.
CTRL+U: pesquisa no documento a palavra ou parte do texto que você quer mudar e o substitui por outro
de seu desejo.

Seleciona o texto ou objetos no documento.

Inserir: a guia inserir permite a inclusão de elementos ao texto, como: imagens, gráficos, formas, configurações de quebra de página,
equações, entre outras.

Adiciona uma folha inicial em seu documento, parecido como uma capa.

Adiciona uma página em branco em qualquer lugar de seu documento.

Uma seção divide um documento em partes determinadas pelo usuário para que sejam aplicados diferentes
estilos de formatação na mesma ou facilitar a numeração das páginas dentro dela.

Permite inserir uma tabela, uma planilha do Excel, desenhar uma tabela, tabelas rápidas ou converter o texto em tabela e
vice-versa.

6
INFORMÁTICA
Design: esta guia agrupa todos os estilos e formatações disponíveis para aplicar ao layout do documento.

Layout: a guia layout define configurações características ao formato da página, como tamanho, orientação, recuo, entre outras.

Referências: é utilizada para configurações de itens como sumário, notas de rodapé, legendas entre outros itens relacionados a iden-
tificação de conteúdo.

Correspondências: possui configuração para edição de cartas, mala direta, envelopes e etiquetas.

Revisão: agrupa ferramentas úteis para realização de revisão de conteúdo do texto, como ortografia e gramática, dicionário de sinô-
nimos, entre outras.

Exibir: altera as configurações de exibição do documento.

Formatos de arquivos
Veja abaixo alguns formatos de arquivos suportados pelo Word 2016:
.docx: formato xml.
.doc: formato da versão 2003 e anteriores.
.docm: formato que contém macro (vba).
.dot: formato de modelo (carta, currículo...) de documento da versão 2003 e anteriores.
.dotx: formato de modelo (carta, currículo...) com o padrão xml.
.odt: formato de arquivo do Libre Office Writer.
.rtf: formato de arquivos do WordPad.
.xml: formato de arquivos para Web.

7
INFORMÁTICA
.html: formato de arquivos para Web.
.pdf: arquivos portáteis.

Excel 2016
O Microsoft Excel 2016 é um software para criação e manutenção de Planilhas Eletrônicas.
A grande mudança de interface do aplicativo ocorreu a partir do Excel 2007 (e de todos os aplicativos do Office 2007 em relação as
versões anteriores). A interface do Excel, a partir da versão 2007, é muito diferente em relação as versões anteriores (até o Excel 2003). O
Excel 2016 introduziu novas mudanças, para corrigir problemas e inconsistências relatadas pelos usuários do Excel 2010 e 2013.
Na versão 2016, temos uma maior quantidade de linhas e colunas, sendo um total de 1.048.576 linhas por 16.384 colunas.
O Excel 2016 manteve as funcionalidades e recursos que já estamos acostumados, além de implementar alguns novos, como5:
- 6 tipos novos de gráficos: Cascata, Gráfico Estatístico, Histograma, Pareto e Caixa e Caixa Estreita.
- Pesquise, encontra e reúna os dados necessários em um único local utilizando “Obter e Transformar Dados” (nas versões anteriores
era Power Query disponível como suplemento.
- Utilize Mapas 3D (em versões anteriores com Power Map disponível como suplemento) para mostrar histórias junto com seus dados.

Especificamente sobre o Excel 2016, seu diferencial é a criação e edição de planilhas a partir de dispositivos móveis de forma mais fácil
e intuitivo, vendo que atualmente, os usuários ainda não utilizam de forma intensa o Excel em dispositivos móveis.

Tela Inicial do Excel 2016.

Ao abrir uma planilha em branco ou uma planilha, é exibida a área de trabalho do Excel 2016 com todas as ferramentas necessárias
para criar e editar planilhas6.

5 https://ninjadoexcel.com.br/microsoft-excel-2016/
6 https://juliobattisti.com.br/downloads/livros/excel_2016_basint_degusta.pdf

8
INFORMÁTICA

As cinco principais funções do Excel são7:


– Planilhas: Você pode armazenar manipular, calcular e analisar dados tais como números, textos e fórmulas. Pode acrescentar grá-
fico diretamente em sua planilha, elementos gráficos, tais como retângulos, linhas, caixas de texto e botões. É possível utilizar formatos
pré-definidos em tabelas.
– Bancos de dados: você pode classificar pesquisar e administrar facilmente uma grande quantidade de informações utilizando ope-
rações de bancos de dados padronizadas.
– Gráficos: você pode rapidamente apresentar de forma visual seus dados. Além de escolher tipos pré-definidos de gráficos, você
pode personalizar qualquer gráfico da maneira desejada.
– Apresentações: Você pode usar estilos de células, ferramentas de desenho, galeria de gráficos e formatos de tabela para criar apre-
sentações de alta qualidade.
– Macros: as tarefas que são frequentemente utilizadas podem ser automatizadas pela criação e armazenamento de suas próprias
macros.

Planilha Eletrônica
A Planilha Eletrônica é uma folha de cálculo disposta em forma de tabela, na qual poderão ser efetuados rapidamente vários tipos de
cálculos matemáticos, simples ou complexos.
Além disso, a planilha eletrônica permite criar tabelas que calculam automaticamente os totais de valores numéricos inseridos, impri-
mir tabelas em layouts organizados e criar gráficos simples.

Barra de ferramentas de acesso rápido


Essa barra localizada na parte superior esquerdo, ajudar a deixar mais perto os comandos mais utilizados, sendo que ela pode ser
personalizada. Um bom exemplo é o comando de visualização de impressão que podemos inserir nesta barra de acesso rápido.

Barra de ferramentas de acesso rápido.

Barra de Fórmulas
Nesta barra é onde inserimos o conteúdo de uma célula podendo conter fórmulas, cálculos ou textos, mais adiante mostraremos
melhor a sua utilidade.

7 http://www.prolinfo.com.br

9
INFORMÁTICA

Barra de Fórmulas.

Guia de Planilhas
Quando abrirmos um arquivo do Excel, na verdade estamos abrindo uma pasta de trabalho onde pode conter planilhas, gráficos, tabe-
las dinâmicas, então essas abas são identificadoras de cada item contido na pasta de trabalho, onde consta o nome de cada um.
Nesta versão quando abrimos uma pasta de trabalho, por padrão encontramos apenas uma planilha.

Guia de Planilhas.

– Coluna: é o espaçamento entre dois traços na vertical. As colunas do Excel são representadas em letras de acordo com a ordem
alfabética crescente sendo que a ordem vai de “A” até “XFD”, e tem no total de 16.384 colunas em cada planilha.
– Linha: é o espaçamento entre dois traços na horizontal. As linhas de uma planilha são representadas em números, formam um total
de 1.048.576 linhas e estão localizadas na parte vertical esquerda da planilha.

Linhas e colunas.

Célula: é o cruzamento de uma linha com uma coluna. Na figura abaixo podemos notar que a célula selecionada possui um endereço que
é o resultado do cruzamento da linha 4 e a coluna B, então a célula será chamada B4, como mostra na caixa de nome logo acima da planilha.

Células.

Faixa de opções do Excel (Antigo Menu)


Como na versão anterior o MS Excel 2013 a faixa de opções está organizada em guias/grupos e comandos. Nas versões anteriores ao
MS Excel 2007 a faixa de opções era conhecida como menu.
1. Guias: existem sete guias na parte superior. Cada uma representa tarefas principais executadas no Excel.
2. Grupos: cada guia tem grupos que mostram itens relacionados reunidos.
3. Comandos: um comando é um botão, uma caixa para inserir informações ou um menu.

Faixa de opções do Excel.

10
INFORMÁTICA
Pasta de trabalho
É denominada pasta todo arquivo que for criado no MS Excel. Tudo que for criado será um arquivo com extensão: xls, xlsx, xlsm, xltx
ou xlsb.

Fórmulas
Fórmulas são equações que executam cálculos sobre valores na planilha. Uma fórmula sempre inicia com um sinal de igual (=).
Uma fórmula também pode conter os seguintes itens: funções, referências, operadores e constantes.

– Referências: uma referência identifica uma célula ou um intervalo de células em uma planilha e informa ao Microsoft Excel onde
procurar os valores ou dados a serem usados em uma fórmula.
– Operadores: um sinal ou símbolo que especifica o tipo de cálculo a ser executado dentro de uma expressão. Existem operadores
matemáticos, de comparação, lógicos e de referência.

– Constantes: é um valor que não é calculado, e que, portanto, não é alterado. Por exemplo: =C3+5.
O número 5 é uma constante. Uma expressão ou um valor resultante de uma expressão não é considerado uma constante.

Níveis de Prioridade de Cálculo


Quando o Excel cria fórmulas múltiplas, ou seja, misturar mais de uma operação matemática diferente dentro de uma mesma fórmula,
ele obedece a níveis de prioridade.
Os Níveis de Prioridade de Cálculo são os seguintes:
Prioridade 1: Exponenciação e Radiciação (vice-versa).
Prioridade 2: Multiplicação e Divisão (vice-versa).
Prioridade 3: Adição e Subtração (vice-versa).

Os cálculos são executados de acordo com a prioridade matemática, conforme esta sequência mostrada, podendo ser utilizados pa-
rênteses “ () ” para definir uma nova prioridade de cálculo.

Criando uma fórmula


Para criar uma fórmula simples como uma soma, tendo como referência os conteúdos que estão em duas células da planilha, digite
o seguinte:

11
INFORMÁTICA

Funções
Funções são fórmulas predefinidas que efetuam cálculos usando valores específicos, denominados argumentos, em uma determinada
ordem ou estrutura. As funções podem ser usadas para executar cálculos simples ou complexos.
Assim como as fórmulas, as funções também possuem uma estrutura (sintaxe), conforme ilustrado abaixo:

Estrutura da função.

NOME DA FUNÇÃO: todas as funções que o Excel permite usar em suas células tem um nome exclusivo.
Para obter uma lista das funções disponíveis, clique em uma célula e pressione SHIFT+F3.
ARGUMENTOS: os argumentos podem ser números, texto, valores lógicos, como VERDADEIRO ou FALSO, matrizes, valores de erro
como #N/D ou referências de célula. O argumento que você atribuir deve produzir um valor válido para esse argumento. Os argumentos
também podem ser constantes, fórmulas ou outras funções.

Função SOMA
Esta função soma todos os números que você especifica como argumentos. Cada argumento pode ser um intervalo, uma referência
de célula, uma matriz, uma constante, uma fórmula ou o resultado de outra função. Por exemplo, SOMA (A1:A5) soma todos os números
contidos nas células de A1 a A5. Outro exemplo: SOMA (A1;A3; A5) soma os números contidos nas células A1, A3 e A5.

12
INFORMÁTICA
Função MÉDIA
Esta função calcula a média aritmética de uma determinada faixa de células contendo números. Para tal, efetua o cálculo somando os
conteúdos dessas células e dividindo pela quantidade de células que foram somadas.

Função MÁXIMO e MÍNIMO


Essas funções dado um intervalo de células retorna o maior e menor número respectivamente.

Função SE
A função SE é uma função do grupo de lógica, onde temos que tomar uma decisão baseada na lógica do problema. A função SE verifica
uma condição que pode ser Verdadeira ou Falsa, diante de um teste lógico.

Sintaxe
SE (teste lógico; valor se verdadeiro; valor se falso)

Exemplo:
Na planilha abaixo, como saber se o número é negativo, temos que verificar se ele é menor que zero.
Na célula A2 digitaremos a seguinte formula:

13
INFORMÁTICA

Função SOMASE
A função SOMASE é uma junção de duas funções já estudadas aqui, a função SOMA e SE, onde buscaremos somar valores desde que
atenda a uma condição especificada:

Sintaxe
SOMASE (intervalo analisado; critério; intervalo a ser somado)
Onde:
Intervalo analisado (obrigatório): intervalo em que a função vai analisar o critério.
Critério (obrigatório): Valor ou Texto a ser procurado no intervalo a ser analisado.
Intervalo a ser somado (opcional): caso o critério seja atendido é efetuado a soma da referida célula analisada. Não pode conter texto
neste intervalo.

Exemplo:
Vamos calcular a somas das vendas dos vendedores por Gênero. Observando a planilha acima, na célula C9 digitaremos a função
=SOMASE (B2:B7;”M”; C2:C7) para obter a soma dos vendedores.

Função CONT.SE
Esta função conta quantas células se atender ao critério solicitado. Ela pede apenas dois argumentos, o intervalo a ser analisado e o
critério para ser verificado.

Sintaxe
CONT.SE (intervalo analisado; critério)
Onde:
Intervalo analisado (obrigatório): intervalo em que a função vai analisar o critério.
Critério (obrigatório): Valor ou Texto a ser procurado no intervalo a ser analisado.

Aproveitando o mesmo exemplo da função anterior, podemos contar a quantidade de homens e mulheres.
Na planilha acima, na célula C9 digitaremos a função =CONT.SE (B2:B7;”M”) para obter a quantidade de vendedores.

14
INFORMÁTICA
PowerPoint 2016
O aplicativo Power Point 2016 é um programa para apresentações eletrônicas de slides. Nele encontramos os mais diversos tipos de
formatações e configurações que podemos aplicar aos slides ou apresentação de vários deles. Através desse aplicativo, podemos ainda,
desenvolver slides para serem exibidos na web, imprimir em transparência para projeção e melhor: desenvolver apresentações para pa-
lestras, cursos, apresentações de projetos e produtos, utilizando recursos de áudio e vídeo.
O MS PowerPoint é um aplicativo de apresentação de slides, porém ele não apenas isso, mas também realiza as seguintes tarefas8:
– Edita imagens de forma bem simples;
– Insere e edita áudios mp3, mp4, midi, wav e wma no próprio slide;
– Insere vídeos on-line ou do próprio computador;
– Trabalha com gráficos do MS Excel;
– Grava Macros.

Tela inicial do PowerPoint 2016.

– Ideal para apresentar uma ideia, proposta, empresa, produto ou processo, com design profissional e slides de grande impacto;
– Os seus temas personalizados, estilos e opções de formatação dão ao utilizador uma grande variedade de combinações de cor, tipos
de letra e feitos;
– Permite enfatizar as marcas (bullet points), com imagens, formas e textos com estilos especiais;
– Inclui gráficos e tabelas com estilos semelhantes ao dos restantes programas do Microsoft Office (Word e Excel), tornando a apre-
sentação de informação numérica apelativa para o público.
– Com a funcionalidade SmartArt é possível criar diagramas sofisticados, ideais para representar projetos, hierarquias e esquemas
personalizados.
– Permite a criação de temas personalizados, ideal para utilizadores ou empresas que pretendam ter o seu próprio layout.
– Pode ser utilizado como ferramenta colaborativa, onde os vários intervenientes (editores da apresentação) podem trocar informa-
ções entre si através do documento, através de comentários.

Novos Recursos do MS PowerPoint


Na nova versão do PowerPoint, alguns recursos foram adicionados. Vejamos quais são eles.
• Diga-me: serve para encontrar instantaneamente os recursos do aplicativo.
• Gravação de Tela: novo recurso do MS PowerPoint, encontrado na guia Inserir. A Gravação de Tela grava um vídeo com áudio das
ações do usuário no computador, podendo acessar todas as janelas do micro e registrando os movimentos do mouse.

8 FRANCESCHINI, M. Ms PowerPoint 2016 – Apresentação de Slides.

15
INFORMÁTICA

• Compartilhar: permite compartilhar as apresentações com outros usuários on-line para edição simultânea por meio do OneDrive.
• Anotações à Tinta: o usuário pode fazer traços de caneta à mão livre e marca-texto no documento. Esse recurso é acessado por
meio da guia Revisão.

• Ideias de Design: essa nova funcionalidade da guia Design abre um painel lateral que oferece sugestões de remodelagem do slide
atual instantaneamente.

Guia Arquivo
Ao clicar na guia Arquivo, serão exibidos comandos básicos: Novo, Abrir, Salvar, Salvar Como, Imprimir, Preparar, Enviar, Publicar e
Fechar9.

9 popescolas.com.br/eb/info/power_point.pdf

16
INFORMÁTICA

Barra de Ferramentas de Acesso Rápido10


Localiza-se no canto superior esquerdo ao lado do Botão do Microsoft Office (local padrão), é personalizável e contém um conjunto de
comandos independentes da guia exibida no momento. É possível adicionar botões que representam comandos à barra e mover a barra
de um dos dois locais possíveis.

Barra de Título
Exibe o nome do programa (Microsoft PowerPoint) e, também exibe o nome do documento ativo.

Botões de Comando da Janela

Acionando esses botões, é possível minimizar, maximizar e restaurar a janela do programa PowerPoint.

10 http://www.professorcarlosmuniz.com.br

17
INFORMÁTICA
Faixa de Opções
A Faixa de Opções é usada para localizar rapidamente os comandos necessários para executar uma tarefa. Os comandos são organiza-
dos em grupos lógicos, reunidos em guias. Cada guia está relacionada a um tipo de atividade como gravação ou disposição de uma página.
Para diminuir a desorganização, algumas guias são exibidas somente quando necessário. Por exemplo, a guia Ferramentas de Imagem
somente é exibida quando uma imagem for selecionada.
Grande novidade do Office 2007/2010, a faixa de opções elimina grande parte da navegação por menus e busca aumentar a produti-
vidade por meio do agrupamento de comandos em uma faixa localizada abaixo da barra de títulos11.

Painel de Anotações
Nele é possível digitar as anotações que se deseja incluir em um slide.

Barra de Status
Exibe várias informações úteis na confecção dos slides, entre elas: o número de slides; tema e idioma.

Nível de Zoom
Clicar para ajustar o nível de zoom.

Modos de Exibição do PowerPoint


O menu das versões anteriores, conhecido como menu Exibir, agora é a guia Exibição no Microsoft PowerPoint 2010. O PowerPoint
2010 disponibiliza aos usuários os seguintes modos de exibição:
– Normal,
– Classificação de Slides,
– Anotações,
– Modo de exibição de leitura,
– Slide Mestre,
– Folheto Mestre,
– Anotações Mestras.

11 LÊNIN, A; JUNIOR, M. Microsoft Office 2010. Livro Eletrônico.

18
INFORMÁTICA
O modo de exibição Normal é o principal modo de edição, onde Então basta começar a digitar.
você escreve e projeta a sua apresentação.
Formatar texto
Criar apresentações Para alterar um texto, é necessário primeiro selecioná-lo. Para
Criar uma apresentação no Microsoft PowerPoint 2013 englo- selecionar um texto ou palavra, basta clicar com o botão esquerdo
ba: iniciar com um design básico; adicionar novos slides e conteúdo; sobre o ponto em que se deseja iniciar a seleção e manter o botão
escolher layouts; modificar o design do slide, se desejar, alterando pressionado, arrastar o mouse até o ponto desejado e soltar o bo-
o esquema de cores ou aplicando diferentes modelos de estrutura tão esquerdo.
e criar efeitos, como transições de slides animados. Para formatar nossa caixa de texto temos os grupos da guia
Ao iniciarmos o aplicativo Power Point 2016, automaticamente Página Inicial. O primeiro grupo é a Fonte, podemos através deste
é exibida uma apresentação em branco, na qual você pode começar grupo aplicar um tipo de letra, um tamanho, efeitos, cor, etc.
a montar a apresentação. Repare que essa apresentação é montada Fonte: altera o tipo de fonte.
sem slides adicionais ou formatações, contendo apenas uma caixa Tamanho da fonte: altera o tamanho da fonte.
de texto com título e subtítulo, sem plano de fundo ou efeito de Negrito: aplica negrito ao texto selecionado. Também pode ser
preenchimento. Para dar continuidade ao seu trabalho e criar uma acionado através do comando Ctrl+N.
outra apresentação em outro slide, basta clicar em Página Inicial e Itálico: aplica Itálico ao texto selecionado. Também pode ser
em seguida Novo Slide. acionado através do comando Ctrl+I.
Sublinhado: sublinha o texto selecionado. Também pode ser
acionado através do comando Ctrl+S.
Tachado: desenha uma linha no meio do texto selecionado.
Sombra de Texto: adiciona uma sombra atrás do texto selecio-
nado para destacá-lo no slide.
Espaçamento entre Caracteres: ajusta o espaçamento entre
caracteres.
Maiúsculas e Minúsculas: altera todo o texto selecionado para
MAIÚSCULAS, minúsculas, ou outros usos comuns de maiúsculas/
minúsculas.
Cor da Fonte: altera a cor da fonte.
Alinhar Texto à Esquerda: alinha o texto à esquerda. Também
pode ser acionado através do comando Ctrl+Q.
Centralizar: centraliza o texto. Também pode ser acionado
através do comando Ctrl+E.
Alinhar Texto à Direita: alinha o texto à direita. Também pode
ser acionado através do comando Ctrl+G.
Justificar: alinha o texto às margens esquerda e direita, adicio-
nando espaço extra entre as palavras conforme o necessário, pro-
Layout movendo uma aparência organizada nas laterais esquerda e direita
O layout é o formato que o slide terá na apresentação como da página.
títulos, imagens, tabelas, entre outros. Nesse caso, você pode esco- Colunas: divide o texto em duas ou mais colunas.
lher entre os vários tipos de layout.
Para escolher qual layout você prefere, faça o seguinte proce-
dimento:
1. Clique em Página Inicial;
2. Após clique em Layout;
3. Em seguida, escolha a opção.

Excluir slide
Selecione o slide com um clique e tecle Delete no teclado.

Salvar Arquivo
Para salvar o arquivo, acionar a guia Arquivo e sem sequência,
salvar como ou pela tecla de atalho Ctrl + B.

Inserir Figuras
Para inserir uma figura no slide clicar na guia Inserir, e clicar em
um desses botões:
– Imagem do Arquivo: insere uma imagem de um arquivo.
– Clip-Art: é possível escolher entre várias figuras que acompa-
nham o Microsoft Office.
– Formas: insere formas prontas, como retângulos e círculos,
setas, linhas, símbolos de fluxograma e textos explicativos.

19
INFORMÁTICA
– SmartArt: insere um elemento gráfico SmartArt para comunicar informações visualmente. Esses elementos gráficos variam desde
listas gráficas e diagramas de processos até gráficos mais complexos, como diagramas de Venn e organogramas.
– Gráfico: insere um gráfico para ilustrar e comparar dados.
– WordArt: insere um texto com efeitos especiais.

Transição de Slides
A Microsoft Office PowerPoint 2016 inclui vários tipos diferentes de transições de slides. Basta clicar no guia transição e escolher a
transição de slide desejada.

Exibir apresentação
Para exibir uma apresentação de slides no Power Point.
1. Clique na guia Apresentação de Slides, grupo Iniciar Apresentação de Slides.
2. Clique na opção Do começo ou pressione a tecla F5, para iniciar a apresentação a partir do primeiro slide.
3. Clique na opção Do Slide Atual, ou pressione simultaneamente as teclas SHIFT e F5, para iniciar a apresentação a partir do slide
atual.

Slide mestre
O slide mestre é um slide padrão que replica todas as suas características para toda a apresentação. Ele armazena informações como
plano de fundo, tipos de fonte usadas, cores, efeitos (de transição e animação), bem como o posicionamento desses itens. Por exemplo, na
imagem abaixo da nossa apresentação multiuso Power View, temos apenas um item padronizado em todos os slides que é a numeração
da página no topo direito superior.
Ao modificar um ou mais dos layouts abaixo de um slide mestre, você modifica essencialmente esse slide mestre. Embora cada layout
de slide seja configurado de maneira diferente, todos os layouts que estão associados a um determinado slide mestre contêm o mesmo
tema (esquema de cor, fontes e efeitos).
Para criar um slide mestre clique na Guia Exibição e em seguida em Slide Mestre.

LibreOffice
O LibreOffice é uma suíte de escritório livre compatível com os principais pacotes de escritório do mercado. O pacote oferece todas as
funções esperadas de uma suíte profissional: editor de textos, planilha, apresentação, editor de desenhos e banco de dados12. Ele é uma
das mais populares suítes de escritório multiplataforma e de código aberto.

12 https://www.edivaldobrito.com.br/libreoffice-6-0/

20
INFORMÁTICA

O LibreOffice é um pacote de escritório assim como o MS Office13. Embora seja um software livre, pode ser instalado em vários sis-
temas operacionais, como o MS Windows, Mac OS X, Linux e Unix. Ao longo dos anos, passou por várias modificações em seu projeto,
mudando até mesmo de nome, mas mantendo os mesmos aplicativos.

Aplicativos do LibreOffice
Writer: editor de textos.
Exatensão: .odt
Calc: planilhas eletrônicas.
Extensão: .ods
Impress: apresentação de slides.
Extensão: .odp
Draw: edição gráfica de imagens e figuras.
Extensão: .odg
Base: Banco de dados.
Extensão: .odb
Math: fórmulas matemáticas.
Extensão: .odf

ODF (Open Document Format)


Os arquivos do LibreOffice são arquivos de formato aberto e, por isso, pertencem à família de documentos abertos ODF, ou seja, ODF
não é uma extensão, mas sim, uma família de documentos estruturada internamente pela linguagem XML.

LibreOffice Writer
Writer é o editor de textos do LibreOffice. Além dos recursos usuais de um processador de textos (verificação ortográfica, dicionário
de sinônimos, hifenização, autocorreção, localizar e substituir, geração automática de sumários e índices, mala direta e outros), o Writer
fornece importantes características:
- Modelos e estilos;
- Métodos de layout de página, incluindo quadros, colunas e tabelas;
- Incorporação ou vinculação de gráficos, planilhas e outros objetos;
- Ferramentas de desenho incluídas;
- Documentos mestre para agrupar uma coleção de documentos em um único documento;
- Controle de alterações durante as revisões;
- Integração de banco de dados, incluindo bancos de dados bibliográficos;
- Exportação para PDF, incluindo marcadores.

13 FRANCESCHINI, M. LibreOffice – Parte I.

21
INFORMÁTICA
Principais Barras de Ferramentas

Fonte: https://bit.ly/3jRIUme

– Barra de Títulos: exibe o nome do documento. Se o usuário não fornecer nome algum, o Writer sugere o nome Sem título 1.
– Barra de Menu: dá acesso a todas as funcionalidades do Writer, categorizando por temas de funcionalidades.
– Barra de ferramentas padrão: está presente em todos os aplicativos do LibreOffice e é igual para todos eles, por isso tem esse nome
“padrão”.
– Barra de ferramentas de formatação: essa barra apresenta as principais funcionalidades de formatação de fonte e parágrafo.
– Barra de Status: oferece informações sobre o documento e atalhos convenientes para rapidamente alterar alguns recursos.

Principais Menus
Os menus organizam o acesso às funcionalidades do aplicativo. Eles são praticamente os mesmos em todos os aplicativos, mas suas
funcionalidades variam de um para outro.

Arquivo
Esse menu trabalha com as funcionalidades de arquivo, tais como:
– Novo: essa funcionalidade cria um novo arquivo do Writer ou de qualquer outro dos aplicativos do LibreOffice;
– Abrir: abre um arquivo do disco local ou removível ou da rede local existente do Writer;
– Abrir Arquivo Remoto: abre um arquivo existente da nuvem, sincronizando todas as alterações remotamente;
– Salvar: salva as alterações do arquivo local desde o último salvamento;
– Salvar Arquivo Remoto: sincroniza as últimas alterações não salvas no arquivo lá na nuvem;
– Salvar como: cria uma cópia do arquivo atual com as alterações realizadas desde o último salvamento;

Para salvar um documento como um arquivo Microsoft Word14:


1. Primeiro salve o documento no formato de arquivo usado pelo LibreOffice (.odt).
Sem isso, qualquer mudança que se tenha feito desde a última vez em que se salvou o documento, somente aparecerá na versão
Microsoft Word do documento.
2. Então escolha Arquivo → Salvar como. No menu Salvar como.
3. No menu da lista suspensa Tipo de arquivo (ou Salvar como tipo), selecione o tipo de formato Word que se precisa. Clique em Salvar.

A partir deste ponto, todas as alterações realizadas se aplicarão somente ao documento Microsoft Word. Desde feito, a alterado o
nome do documento. Se desejar voltar a trabalhar com a versão LibreOffice do documento, deverá voltar a abri-lo.

14 http://coral.ufsm.br/unitilince/images/Tutoriais/manual_libreoffice.pdf

22
INFORMÁTICA
– Navegador: permite navegar nos vários objetos existentes no
documento, como tabelas, links, notas de rodapé, imagens etc.

(F5);

– Galeria: exibe imagens e figuras que podem ser inseridas no


documento;
– Tela Inteira: suprime as barras de ferramenta e menus (CTR-
L+SHIFT+J).

Inserir
Nesse menu, é possível inserir inúmeros objetos ao texto, tais
como:
– Quebra de página: insere uma quebra de página e o cursor é
posicionado no início da próxima página a partir daquele ponto em
que a quebra foi inserida;
– Quebra manual: permite inserir uma quebra de linha, de co-
luna e de página;
Salvando um arquivo no formato Microsoft Word. – Figura: insere uma imagem de um arquivo;
– Multimídia: insere uma imagem da galeria LibreOffice, uma
– Exportar como PDF: exporta o arquivo atual no formato PDF. imagem digitalizada de um scanner ou vídeo;
Permite definir restrições de edição, inclusive com senha; – Gráfico: cria um gráfico do Calc, com planilha de dados em-
– Enviar: permite enviar o arquivo atual por e-mail no formato. butida no Writer;
odt,.docx,.pdf. Também permite compartilhar o arquivo por blue- – Objeto: insere vários tipos de arquivos, como do Impress e do
tooth; Calc dentre outros;
– Imprimir: permite imprimir o documento em uma impresso- – Forma: cria uma forma geométrica, tipo círculo, retângulo,
ra local ou da rede; losango etc.;
– Assinaturas digitais: assina digitalmente o documento, ga- – Caixa de Texto: insere uma caixa de texto ao documento;
rantindo sua integridade e autenticidade. Qualquer alteração no – Anotação: insere comentários em balões laterais;
documento assinado viola a assinatura, sendo necessário assinar – Hiperlink: insere hiperlink ou link para um endereço da in-
novamente. ternet ou um servidor FTP, para um endereço de e-mail, para um
documento existente ou para um novo documento (CTRL+K);
Editar – Indicador: insere um marcador ao documento para rápida
Esse menu possui funcionalidades de edição de conteúdo, tais localização posteriormente;
como: – Seção: insere uma quebra de seção, dividindo o documento
– Desfazer: desfaz a(s) última(s) ação(ões); em partes separadas com formatações independentes;
– Refazer: refaz a última ação desfeita; – Referências: insere referência a indicadores, capítulos, títu-
– Repetir: repete a última ação; los, parágrafos numerados do documento atual;
– Copiar: copia o item selecionado para a área de transferência; – Caractere Especial: insere aqueles caracteres que você não
– Recortar: recorta ou move o item selecionado para a área de encontra no teclado do computador, tais como ©, ≥, ∞;
transferência; – Número de Página: insere numeração nas páginas na posição
– Colar: cola o item da área de transferência; atual do cursor;
– Colar Especial: cola o item da área de transferência permitin- – Campo: insere campos de numeração de página, data, hora,
do escolher o formado de destino do conteúdo colado; título, autor, assunto;
– Selecionar Tudo: seleciona todo o documento; – Cabeçalho e Rodapé: insere cabeçalho e rodapé ao docu-
– Localizar: localiza um termo no documento; mento;
– Localizar e Substituir: localiza e substitui um termo do docu-
mento por outro fornecido; Formatar
– Ir para a página: permite navegar para uma página do docu- Esse menu trabalha com a formatação de fonte, parágrafo, pá-
mento. gina, formas e figuras;
– Texto: formata a fonte do texto;
Exibir Pode-se aplicar vários formatos de caracteres usando os botões
Esse outro menu define as várias formas que o documento é da barra de ferramentas Formatação.
exibido na tela do computador. Principais funcionalidades:
– Normal: modo de exibição padrão como o documento será
exibido em uma página;
– Web: exibe o documento como se fosse uma página web
num navegador;
– Marcas de Formatação: exibe os caracteres não imprimíveis,
como os de quebra de linha, de parágrafo, de seção, tabulação e es-
paço. Tais caracteres são exibidos apenas na tela, não são impressas
no papel (CTRL+F10);

23
INFORMÁTICA

Barra de Formatação, mostrando ícones para formatação de caracteres.

– Espaçamento: formata o espaçamento entre as linhas, entre os parágrafos e também o recuo do parágrafo. A
– Alinhar: alinha o parágrafo uniformemente em relação às margens.
Pode-se aplicar vários formatos para parágrafos usando os botões na barra de ferramentas Formatação.

Ícones para formatação de parágrafos.

– Listas: transforma os parágrafos em estrutura de tópicos com marcadores ou numeração.


– Clonar Formatação: essa ferramenta é chamada de “pincel de formatação” no MS Word e faz a mesma função, ou seja, clona a for-
matação de um item selecionado e a aplica a outro ;

– Limpar Formatação Direta: limpa a formatação do texto selecionado, deixando a formatação original do modelo do documento;
Nessa janela, é possível formatar o tipo de fonte, o estilo de formatação (negrito, itálico, regular), o efeito de formatação (tachado,
sublinhado, sombra etc.), a posição do texto (sobrescrito, subscrito, rotação, espaçamento entre as letras do texto), inserir hiperlink, apli-
car realce (cor de fundo do texto) e bordas;
– Caractere...: diferentemente do MS Word, o Write chama a fonte de caractere.

Nessa janela, é possível formatar o tipo de fonte, o estilo de formatação (negrito, itálico, regular), o efeito de formatação (tachado,
sublinhado, sombra etc.), a posição do texto (sobrescrito, subscrito, rotação, espaçamento entre as letras do texto), inserir hiperlink, apli-
car realce (cor de fundo do texto) e bordas;

24
INFORMÁTICA
– Parágrafo...: abre a caixa de diálogo de formatação de pará- – Mala Direta: cria uma mala direta, que é uma correspondên-
grafo. cia endereçada a vários destinatários. É formada por uma corres-
– Marcadores e Numeração: abre a caixa de diálogo de forma- pondência (carta, mensagem de e-mail, envelope ou etiqueta) e
tação de marcadores e de numeração numa mesma janela. Perceba por uma lista de destinatários (tabela, planilha, banco de dados ou
que a mesma função de formatação já foi vista por meio dos botões catálogo de endereços contendo os dados dos destinatários).
de formatação. Essa mesma formatação é encontrada aqui na caixa
de diálogo de marcadores e numeração; Principais teclas de atalho
– Página...: abre a caixa de diálogo de formatação de páginas. CTRL+A: selecionar todo o documento (all).
Aqui, encontramos a orientação do papel, que é se o papel é hori- CTR+B: negritar (bold).
zontal (paisagem) ou vertical (retrato); CTRL+C: copiar.
– Figura: formata figuras inseridas ao texto; CTRL+D: sublinhar.
– Caixa de Texto e Forma: formata caixas de texto e formas CTRL+E: centralizar alinhamento.
inseridas no documento; CTRL+F: localizar texto (find).
– Disposição do Texto: define a disposição que os objetos como CTRL+G: sem ação.
imagens, formas e figuras ficarão em relação ao texto. CTRL+H: localizar e substituir.
– Estilos: esse menu trabalha com estilos do texto. Estilos são CTRL+I: itálico.
o conjunto de formatação de fonte, parágrafo, bordas, alinhamen- CTRL+J: justificar.
to, numeração e marcadores aplicados em conjunto. Existem esti- CTRL+K: adicionar hiperlink.
los predefinidos, mas é possível também criar estilos e nomeá-los. CTRL+L: alinhar à esquerda (left).
Também é possível editar os estilos existentes. Os estilos são usados CTRL+M: limpar formatação.
na criação dos sumários automáticos. CTRL+N: novo documento (new).
CTRL+ O: abrir documento existente (open).
Tabelas CTRL+P: imprimir (print).
Esse menu trabalha com tabelas. As tabelas são inseridas por CTRL+Q: fechar o aplicativo Writer.
aqui, no menu Tabelas. As seguintes funcionalidades são encontra- CTRL+R: alinhar à direita (right).
das nesse menu: CTRL+S: salvar o documento (save).
– Inserir Tabela: insere uma tabela ao texto; CTRL+T: sem ação.
– Inserir: insere linha, coluna e célula à tabela existente; CTRL+U: sublinhar.
– Excluir: exclui linha, coluna e tabela; CTRL+V: colar.
– Selecionar: seleciona célula, linha, coluna e tabela; CTRL+X: recortar.
– Mesclar: mescla as células adjacentes de uma tabela, trans- CTRL+W: fechar o arquivo.
formando-as em uma única tabela. Atenção! O conteúdo de todas CTRL+Y: refazer última ação.
as células é preservado; CTRL+Z: desfazer última ação.
– Converter: converte texto em tabela ou tabela em texto;
– Fórmulas: insere fórmulas matemáticas na célula da tabela, LibreOffice Calc
tais como soma, multiplicação, média, contagem etc. O Calc é o aplicativo de planilhas eletrônicas do LibreOffice. As-
sim como o MS Excel, ele trabalha com células e fórmulas.
Ferramentas Outras funcionalidades oferecidas pelo Calc incluem15:
Esse menu trabalha com diversas ferramentas, tais como: – Funções, que podem ser utilizadas para criar fórmulas para
– Ortografia e Gramática: essa ferramenta aciona o corretor executar cálculos complexos;
ortográfico para fazer a verificação de ocorrências de erros em todo – Funções de banco de dados, para organizar, armazenas e fil-
o documento. Ela corrige por alguma sugestão do dicionário, permi- trar dados;
te inserir novos termos ao dicionário ou apenas ignora as ocorrên- – Gráficos dinâmicos; um grande número de opções de gráficos
cias daquele erro (F7); em 2D e 3D;
– Macros, para a gravação e execução de tarefas repetitivas; as
– Verificação Ortográfica Automática: marca automaticamen- linguagens de script suportadas incluem LibreOffice Basic, Python,
te com um sublinhado ondulado vermelho as palavras que possuem BeanShell, e JavaScript;
erros ortográficos ou que não pertencem ao dicionário (SHIF- – Capacidade de abrir, editar e salvar planilhas no formato Mi-
T+F7); crosoft Excel;
– Importação e exportação de planilhas em vários formatos,
– Dicionário de Sinônimos: apresenta sinônimos e antônimos incluindo HTML, CSV, PDF e PostScript.
da palavra selecionada;
– Idioma: define o idioma do corretor ortográfico; Planilhas e células
– Contagem de palavras: faz uma estatística do documento, O Calc trabalha como elementos chamados de planilhas. Um
contando a quantidade de caracteres, palavras, linhas, parágrafos arquivo de planilha consiste em várias planilhas individuais, cada
e páginas; uma delas contendo células em linhas e colunas. Uma célula parti-
– Autocorreção: substitui automaticamente uma palavra ou cular é identificada pela letra da sua coluna e pelo número da sua
termo do texto por outra. O usuário define quais termos serão subs- linha.
tituídos; As células guardam elementos individuais – texto, números,
– Autotexto: insere automaticamente um texto por meio de fórmulas, e assim por diante – que mascaram os dados que exibem
atalhos, por exemplo, um tipo de saudação ou finalização do do- e manipulam.
cumento;
15 WEBER, J. H., SCHOFIELD, P., MICHEL, D., RUSSMAN, H., JR, R. F., SAFFRON,
M., SMITH, J. A. Introdução ao Calc. Planilhas de Cálculo no LibreOffice

25
INFORMÁTICA
Cada arquivo de planilha pode ter muitas planilhas, e cada uma delas pode conter muitas células individuais. No Calc, cada planilha
pode conter um máximo de 1.048.576 linhas e 1024 colunas.

Janela principal
Quando o Calc é aberto, a janela principal abre. As partes dessa janela estão descritas a seguir.

Janela principal do Calc e suas partes, sem a Barra lateral.

Principais Botões de Comandos

Assistente de Função: auxilia o usuário na criação de uma função. Organiza as funções por categoria.

Autossoma: insere a função soma automaticamente na célula.

Formatação de porcentagem: multiplica o número por 100 e coloca o sinal de porcentagem ao final dele.

Formatação de número: separa os milhares e acrescenta casas decimais (CTRL+SHIFT+1).

Formatação de data: formata a célula em formato de data (CTRL+SHIFT+3).

Adiciona casas decimais.

Diminui casas decimais.

Filtro: exibe apenas as linhas que satisfazem o critério do filtro da coluna.

Insere gráfico para ilustrar o comportamento dos dados tabulados.

26
INFORMÁTICA

Ordena as linhas em ordem crescente ou decrescente. Pode ser aplicada em várias colunas.

Mesclar e centralizar células: transforma duas ou mais células adjacentes em uma única célula.

Alinhar em cima: alinha o conteúdo da célula na parte superior dela.

Centralizar verticalmente: alinha o conteúdo da célula ao centro verticalmente.

Alinhar embaixo: alinha o conteúdo da célula na parte inferior dela.

Congelar linhas e colunas: fixa a exibição da primeira linha ou da primeira coluna ou ainda permite congelar as linhas acima e
as colunas à esquerda da célula selecionada. Não é proteção de células, pois o conteúdo das mesmas ainda pode ser alterado.

Insere linha acima da linha atual.

Insere linha abaixo da linha atual.

Exclui linhas selecionadas.

Insere coluna à esquerda.

Insere coluna à direita.

Exclui colunas selecionadas.

Barra de título
A barra de título, localizada no alto da tela, mostra o nome da planilha atual. Quando a planilha for recém-criada, seu nome é Sem
título X, onde X é um número. Quando a planilha é salva pela primeira vez, você é solicitado a dar um nome de sua escolha.

Barra de Menu
A Barra de menu é onde você seleciona um dos menus e aparecem vários submenus com mais opções.
– Arquivo: contém os comandos que se aplicam a todo o documento, como Abrir, Salvar, Assistentes, Exportar como PDF, Imprimir,
Assinaturas Digitais e assim por diante.
– Editar: contém os comandos para a edição do documento, tais como Desfazer, Copiar, Registrar alterações, Preencher, Plug-in e
assim por diante.
– Exibir: contém comandos para modificar a aparência da interface do usuário no Calc, por exemplo Barra de ferramentas, Cabeçalhos
de linhas e colunas, Tela Inteira, Zoom e assim por diante.
– Inserir: contém comandos para inserção de elementos em uma planilha; por exemplo, Células, Linhas, Colunas, Planilha, Figuras e
assim por diante.

Inserir novas planilhas


Clique no ícone Adicionar planilha para inserir uma nova planilha após a última sem abrir a caixa de diálogo Inserir planilha. Os se-
guintes métodos abrem a caixa de diálogo Inserir planilha onde é possível posicionar a nova planilha, criar mais que uma planilha, definir
o nome da nova planilha, ou selecionar a planilha de um arquivo.
– Selecione a planilha onde deseja inserir uma nova e vá no menu Inserir > Planilha; ou
– Clique com o botão direito do mouse na aba da planilha onde você deseja inserir uma nova e selecione Inserir planilha no menu de
contexto; ou
– Clique no espaço vazio no final das abas das planilhas; ou
– Clique com o botão direito do mouse no espaço vazio no final das abas das planilhas e selecione Inserir planilha no menu de con-
texto.

27
INFORMÁTICA

Caixa de diálogo Inserir planilha.

– Formatar: contém comandos para modificar o leiaute de uma planilha; por exemplo,
Células, Página, Estilos e formatação, Alinhamento e assim por diante.
– Ferramentas: contém várias funções que auxiliam a verificar e personalizar a planilha, por exemplo, Ortografia, Compartilhar docu-
mento, Macros e assim por diante.
– Dados: contém comandos para manipulação de dados em sua planilha; por exemplo, Definir intervalo, Selecionar intervalo, Classi-
ficar, Consolidar e assim por diante.
– Janela: contém comandos para exibição da janela; por exemplo, Nova janela, Dividir e assim por diante.
– Ajuda: contém links para o sistema de ajuda incluído com o software e outras funções; por exemplo, Ajuda do LibreOffice, Informa-
ções da licença, Verificar por atualizações e assim por diante.

Barra de ferramentas
A configuração padrão, ao abrir o Calc, exibe as barras de ferramentas Padrão e Formatação encaixadas no topo do espaço de trabalho.
Barras de ferramentas do Calc também podem ser encaixadas e fixadas no lugar, ou flutuante, permitindo que você mova para a po-
sição mais conveniente em seu espaço de trabalho.

Barra de fórmulas
A Barra de fórmulas está localizada no topo da planilha no Calc. A Barra de fórmulas está encaixada permanentemente nesta posição
e não pode ser usada como uma barra flutuante. Se a Barra de fórmulas não estiver visível, vá para Exibir no Menu e selecione Barra de
fórmulas.

Barra de fórmulas.

Indo da esquerda para a direita, a Barra de Fórmulas consiste do seguinte:


– Caixa de Nome: mostra a célula ativa através de uma referência formada pela combinação de letras e números, por exemplo, A1. A
letra indica a coluna e o número indica a linha da célula selecionada.

– Assistente de funções : abre uma caixa de diálogo, na qual você pode realizar uma busca através da lista de funções disponí-
veis. Isto pode ser muito útil porque também mostra como as funções são formadas.

– Soma : clicando no ícone Soma, totaliza os números nas células acima da célula e então coloca o total na célula selecionada. Se
não houver números acima da célula selecionada, a soma será feita pelos valores das células à esquerda.

– Função : clicar no ícone Função insere um sinal de (=) na célula selecionada, de maneira que seja inserida uma fórmula na Linha
de entrada.

28
INFORMÁTICA
– Linha de entrada: exibe o conteúdo da célula selecionada (dados, fórmula, ou função) e permite que você edite o conteúdo da célu-
la. Você pode editar o conteúdo da célula diretamente, clicando duas vezes nela. Quando você digita novos dados numa célula, os ícones
de Soma e de Função mudam para os botões Cancelar e Aceitar .

Operadores aritméticos

Operadores aritméticos.

Operadores aritméticos.

Operadores comparativos

Operadores comparativos.

• Principais fórmulas
=HOJE(): insere a data atual do sistema operacional na célula. Essa data sempre será atualizada toda vez que o arquivo for aberto.
Existe uma tecla de atalho que também insere a data atual do sistema, mas não como função, apenas a data como se fosse digitada pelo
usuário. Essa tecla de atalho é CTRL+;.
=AGORA(): insere a data e a hora atuais do sistema operacional. Veja como é seu resultado após digitada na célula.

=SOMA(): apenas soma os argumentos que estão dentro dos parênteses.


=POTÊNCIA(): essa função é uma potência, que eleva o primeiro argumento, que é a base, ao segundo argumento, que é o expoente.
=MÁXIMO(): essa função escolhe o maior valor do argumento.
=MÍNIMO(): essa função faz exatamente o contrário da anterior, ou seja, escolhe o menor valor do argumento.
=MÉDIA(): essa função calcula a média aritmética ou média simples do argumento, que é a soma dos valores dividida pela sua quan-
tidade.
Atenção! Essa função será sempre a média aritmética. Essa função considera apenas valores numéricos e não vazios.
=CONT.SE(): essa função é formada por dois argumentos: o primeiro é o intervalo de células que serão consideradas na operação; o
segundo é o critério.
=SE(): essa função testa valores, permitindo escolher um dentre dois valores possíveis. A sua estrutura é a seguinte:

29
INFORMÁTICA
A condição é uma expressão lógica e dá como resultado VERDADEIRO ou FALSO. O resultado1 é escolhido se a condição for verdadeira;
o resultado2 é escolhido se a condição for falsa. Os resultados podem ser: “texto” (entre aspas sempre), número, célula (não pode inter-
valo, apenas uma única célula), fórmula.
A melhor forma de ler essa função é a seguinte: substitua o primeiro “;” por “Então” e o segundo “;” por “Senão”. Fica assim: se a
condição for VERDADEIRA, ENTÃO escolha resultado1; SENÃO escolha resultado2.
=PROCV(): a função PROCV serve para procurar valores em um intervalo vertical de uma matriz e devolve para o usuário um valor de
outra coluna dessa mesma matriz, mas da mesma linha do valor encontrado.

Essa é a estrutura do PROCV, na qual “valor” é o valor usado na pesquisa; “matriz” é todo o conjunto de células envolvidas; “coluna_re-
sultado” é o número da coluna dessa matriz onde o resultado se encontra; “valor_aproximado” diz se a comparação do valor da pesquisa
será apenas aproximada ou terá que ser exatamente igual ao procurado. O valor usado na pesquisa tem que estar na primeira coluna da
matriz, sempre! Ou seja, ela procurará o valor pesquisado na primeira coluna da matriz.

Entendendo funções
Calc inclui mais de 350 funções para analisar e referenciar dados16. Muitas destas funções são para usar com números, mas muitos
outros são usados com datas e hora, ou até mesmo texto.
Uma função pode ser tão simples quanto adicionar dois números, ou encontrar a média de uma lista de números. Alternativamente,
pode ser tão complexo como o cálculo do desvio-padrão de uma amostra, ou a tangente hiperbólica de um número.
Algumas funções básicas são semelhantes aos operadores. Exemplos:
+ Este operador adiciona dois números juntos para um resultado. SOMA(), por outro lado adiciona grupos de intervalos contíguos de
números juntos.
* Este operador multiplica dois números juntos para um resultado. MULT() faz o mesmo para multiplicar que SOMA() faz para adicionar

Estrutura de funções
Todas as funções têm uma estrutura similar.
A estrutura de uma função para encontrar células que correspondam a entrada de critérios é:
=BDCONTAR(Base_de_dados;Campo_de_Base_de_dados;CritériosdeProcura)
Uma vez que uma função não pode existir por conta própria, deve sempre fazer parte de uma fórmula. Consequentemente, mesmo
que a função represente a fórmula inteira, deve haver um sinal = no começo da fórmula. Independentemente de onde na fórmula está a
função, a função começará com seu nome, como BDCONTAR no exemplo acima. Após o nome da função vem os seus argumentos. Todos
os argumentos são necessários, a menos que especificados como opcional. Argumentos são adicionados dentro de parênteses e são sepa-
rados por ponto e vírgula, sem espaço entre os argumentos e o ponto e vírgula.

LibreOffice Impress
O Impress é o aplicativo de apresentação de slides do LibreOffice. Com ele é possível criar slides que contenham vários elementos
diferentes, incluindo texto, listas com marcadores e numeração, tabelas, gráficos e uma vasta gama de objetos gráficos tais como clipart,
desenhos e fotografias17.
O Impress também é compatível com o MS PowerPoint, permitindo criar, abrir, editar e salvar arquivos no formato.PPTX.

Janela principal do Impress


A janela principal do Impress tem três partes: o Painel de slides, Área de trabalho, e Painel lateral. Além disso, várias barras de ferra-
mentas podem ser exibidas ou ocultas durante a criação de uma apresentação.

Área de trabalho
A Área de trabalho (normalmente no centro da janela principal) tem cinco abas: Normal, Estrutura de tópicos, Notas, Folheto e Clas-
sificador de slides. Estas cinco abas são chamadas de botões de visualização A área de trabalho abaixo da visualização de botões muda
dependendo da visualização escolhida. Os pontos de vista de espaço de trabalho são descritos em “Visualização da Área de trabalho”’.

16 Duprey, B.; Silva, R. P.; Parker, H.; Vigliazzi, D. Douglas. Guia do Calc, Capítulo 7. Usando Formulas e Funções.
17 SCHOFIELD, P.; WEBER, J. H.; RUSSMAN, H.; O’BRIEN, K.; JR, R. F. Introdução ao Impress. Apresentação no LibreOffice

30
INFORMÁTICA

Janela principal do Impress; ovais indicam os marcadores Ocultar/Exibir.

Painel de slides
O Painel de slides contém imagens em miniaturas dos slides em sua apresentação, na ordem em que serão mostradas, a menos que
você altere a ordem de apresentação de slides. Clicando em um slide neste painel, este é selecionado e colocado na Área e trabalho. Quan-
do um slide está na Área de trabalho, você pode fazer alterações nele.
Várias operações adicionais podem ser realizadas em um ou mais slides simultaneamente no Painel de slides:
– Adicionar novos slides para a apresentação.
– Marcar um slide como oculto para que ele não seja exibido como parte da apresentação.
– Excluir um slide da apresentação se ele não for mais necessário.
– Renomear um slide.
– Duplicar um slide (copiar e colar)

Também é possível realizar as seguintes operações, embora existam métodos mais eficientes do que usar o Painel de slides:
– Alterar a transição de slides seguindo o slide selecionado ou após cada slide em um grupo de slides.
– Alterar o design de slide.

Barra lateral
O Barra lateral tem cinco seções. Para expandir uma seção que você deseja usar, clique no ícone ou clique no pequeno triângulo na
parte superior dos ícones e selecione uma seção da lista suspensa. Somente uma seção de cada vez pode ser aberta.

PROPRIEDADES
Mostra os layouts incluídos no Impress. Você pode escolher o que você quer e usá-lo como ele é, ou modificá-lo para atender às suas
necessidades. No entanto, não é possível salvar layouts personalizados.

PÁGINAS MESTRE

Aqui você define o estilo de página (slide) para sua apresentação. O Impress inclui vários modelos de páginas mestras (slide mestre). Um
deles – Padrão – é branco, e o restante tem um plano de fundo e estilo de texto.

ANIMAÇÃO PERSONALIZADA

Uma variedade de animações podem ser usadas para realçar ou melhorar diferentes elementos de cada slide. A seção Animação perso-
nalizada fornece uma maneira fácil para adicionar, alterar, ou remover animações.

TRANSIÇÃO DE SLIDES

Fornece acesso a um número de opções de transição de slides. O padrão é definido como Sem transição, em que o slide seguinte subs-
titui o existente. No entanto, muitas transições adicionais estão disponíveis. Você também pode especificar a velocidade de transição
(Lenta, Média, Rápida), escolher entre uma transição automática ou manual, e escolher quanto tempo o slide selecionado será mostra-
do (somente transição automática).

31
INFORMÁTICA

ESTILOS E FORMATAÇÃO

Aqui você pode editar e aplicar estilos gráficos e criar estilos novos, mas você só pode editar os estilos de apresentação existentes. Quan-
do você edita um estilo, as alterações são aplicadas automaticamente a todos os elementos formatados com este estilo em sua apre-
sentação. Se você quiser garantir que os estilos em um slide específico não sejam atualizados, crie uma nova página mestra para o slide.

GALERIA

Abre a galeria Impress, onde você pode inserir um objeto em sua apresentação, quer seja como uma cópia ou como um link. Uma cópia
de um objeto é independente do objeto original. Alterações para o objeto original não têm efeito sobre a cópia. Uma ligação permanece
dependente do objeto original. Alterações no objeto original também são refletidas no link.

NAVEGADOR

Abre o navegador Impress, no qual você pode mover rapidamente para outro slide ou selecionar um objeto em um slide. Recomenda-
-se dar nomes significativos aos slides e objetos em sua apresentação para que você possa identificá-los facilmente quando utilizar a
navegação.

• Principais Funcionalidades e Comandos

Inicia a apresentação do primeiro slide (F5).

Inicia a apresentação do slide atual (SHIFT+F5).

Insere áudio e vídeo ao slide.

Insere caixa de texto ao slide.

Insere novo slide, permitindo escolher o leiaute do slide que será inserido.

Exclui o slide selecionado.

Altera o leiaute do slide atual.

Cria um slide mestre.

Oculta o slide no modo de apresentação.


Cronometra o tempo das animações e transições dos slides no modo de apresentação para posterior exibição automática usando
o tempo cronometrado.

Configura as transições dos slides, ou seja, o efeito de passagem de um para o outro.

Configura a animação dos conteúdos dos slides, colocando efeitos de entrada, ênfase, saída e trajetória.

CONCEITOS BÁSICOS E MODOS DE EMPREGO DE TECNOLOGIAS, FERRAMENTAS, APLICATIVOS E PROCEDIMENTOS


ASSOCIADOS À REDE DE COMPUTADORES, INTERNET E INTRANET

Uma rede de computadores é formada por um conjunto de módulos processadores capazes de trocar informações e compartilhar
recursos, interligados por um sistema de comunicação (meios de transmissão e protocolos)18.

18 NASCIMENTO, E. J. Rede de Computadores. Universidade Federal do Vale do São Francisco.

32
INFORMÁTICA
– Modem (Modulador/Demodulador): é um dispositivo de
hardware físico que funciona para receber dados de um provedor
de serviços de internet através de um meio de conexão como cabos,
fios ou fibra óptica. .Cconverte/modula o sinal digital em sinal ana-
lógico e transmite por fios, do outro lado, deve ter outro modem
para receber o sinal analógico e demodular, ou seja, converter em
sinal digital, para que o computador possa trabalhar com os dados.
Em alguns tipos, a transmissão já é feita enviando os próprios si-
nais digitais, não precisando usar os modens, porém, quando se
transmite sinais através da linha telefônica é necessário o uso dos
modems.
– Placa de rede: possui a mesma tarefa dos modens, porém,
somente com sinais digitais, ou seja, é o hardware que permite os
As redes de computadores possuem diversas aplicações co- computadores se comunicarem através da rede. A função da placa
merciais e domésticas. é controlar todo o recebimento e envio dos dados através da rede.
– Hub: atuam como concentradores de sinais, retransmitindo
As aplicações comerciais proporcionam: os dados enviados às máquinas ligadas a ele, ou seja, o hub tem a
– Compartilhamento de recursos: impressoras, licenças de soft- função de interligar os computadores de uma rede local, recebendo
ware, etc. dados de um computador e transmitindo à todos os computadores
– Maior confiabilidade por meio de replicação de fontes de da- da rede local.
dos – Switch: semelhante ao hub – também chamado de hub in-
– Economia de dinheiro: telefonia IP (VoIP), vídeo conferência, teligente - verifica os cabeçalhos das mensagens e a retransmite
etc. somente para a máquina correspondente, criando um canal de co-
– Meio de comunicação eficiente entre os empregados da em- municação exclusiva entre origem e destino.
presa: e-mail, redes sociais, etc. – Roteador: ao invés de ser conectado às máquinas, está co-
– Comércio eletrônico. nectado às redes. Além de possuir as mesmas funções do switch,
possui a capacidade de escolher a melhor rota que um determinado
As aplicações domésticas proporcionam: pacote de dados deve seguir para chegar a seu destino. Podemos
– Acesso a informações remotas: jornais, bibliotecas digitais, citar como exemplo uma cidade grande e o roteador escolhe o ca-
etc. minho mais curto e menos congestionado.
– Comunicação entre as pessoas: Twitter, Facebook, Instagram, – Access Point (Ponto de acesso – AP): similar ao hub, oferece
etc. sinais de rede em formas de rádio, ou seja, o AP é conectado a uma
– Entretenimento interativo: distribuição de músicas, filmes, rede cabeada e serve de ponto de acesso a rede sem fio.
etc.
– Comércio eletrônico. Meios de transmissão
– Jogos. Existem várias formas de transmitir bits de uma máquina para
outra através de meios de transmissão, com diferenças em termos
Modelo Cliente-Servidor de largura de banda, atraso, custo e facilidade de instalação e ma-
Uma configuração muito comum em redes de computadores nutenção. Existem dois tipos de meios de transmissão: guiados e
emprega o modelo cliente-servidor O cliente solicita o recurso ao não guiados:
servidor: – Meios de transmissão guiados: os cabos de par trançado,
cabo coaxial e fibra ótica;
– Meios de transmissão não guiados: as redes terrestres sem
fios, satélites e raios laser transmitidos pelo ar.

No modelo cliente-servidor, um processo cliente em uma má-


quina se comunica com um processo servidor na outra máquina.
O termo processo se refere a um programa em execução.
Uma máquina pode rodar vários processos clientes e servido-
res simultaneamente.

Equipamentos de redes 20

Existem diversos equipamentos que podem ser utilizados nas


redes de computadores19. Alguns são:
20 Fonte: http://eletronicaapolo.com.br/novidades/o-que-e-o-cabo-de-rede-
19 http://www.inf.ufpr.br/albini/apostila/Apostila_Redes1_Beta.pdf -par-trancado

33
INFORMÁTICA
Cabos de pares trançado – Isolamento eletromagnético: as fibras óticas não sofrem in-
Os pares trançados são o meio de transmissão mais antigo terferências externas, à ruído de impulso ou à linha cruzada, e estas
e ainda mais comum em virtude do custo e desempenho obtido. fibras também não irradiam energia.
Consiste em dois fios de cobre encapados e entrelaçados. Este en- Esse sistema das fibras óticas funciona somente por um princí-
trelaçado cancela as ondas de diferentes partes dos fios diminuin- pio da física: quando um raio de luz passa de um meio para outro, o
do a interferência. Os pares trançados são comuns em sistemas raio é refratado no limite sílica/ar. A quantidade de refração depen-
telefônicos, que é usado tanto para chamadas telefônicas quanto de das propriedades das duas mídias (índices de refração). Para ân-
para o acesso à internet por ADSL, estes pares podem se estender gulos de incidência acima de um certo valor crítico ou acima é inter-
por diversos quilômetros, porém, quando a distância for muito lon- ceptado dentro da fibra e pode se propagar por muitos quilômetros
ga, existe a necessidade de repetidores. E quando há muitos pa- praticamente sem perdas. Podemos classificar as fibras óticas em:
res trançados em paralelo percorrendo uma distância grande, são – Monomodo: se o diâmetro da fibra for reduzido a alguns
envoltos por uma capa protetora. Existem dois tipos básico deste comprimentos de onda, a luz só poderá se propagar em linha reta,
cabo, que são: sem ricochetear, produzindo assim, uma fibra de modo único (fibra
– UTP (Unshielded Twisted Pair – Par trançado sem blinda- monomodo). Estas fibras são mais caras, porém amplamente utili-
gem): utilizado em redes de baixo custo, possui fácil manuseio e zadas em distâncias mais longas podendo transmitir dados a 100
instalação e podem atingir até 100 Mbps na taxa de transmissão Gbps por 100 quilômetros sem amplificação.
(utilizando as especificações 5 e 5e). – Multimodo: se o raio de luz incidente na fronteira acima do
– STP (Shielded Twisted Pair – Par trançado com blindagem): ângulo critico for refletido internamente, muitos raios distintos es-
possui uma utilização restrita devido ao seu custo alto, por isso, é tarão ricocheteando em diferentes ângulos. Dizemos que cada raio
utilizado somente em ambientes com alto nível de interferência ele- tem um modo específico, desta forma, na fibra multimodo, os raios
tromagnética. Existem dois tipos de STP: são ricocheteados em diferentes ângulos
1- Blindagem simples: todos os pares são protegidos por uma
camada de blindagem. Tipos de Redes
2- Blindagem par a par: cada par de fios é protegido por uma
camada de blindagem. Redes Locais
As redes locais (LAN - Local Area Networks) são normalmen-
Cabo coaxial te redes privativas que permitem a interconexão de equipamentos
O cabo coaxial consiste em um fio condutor interno envolto por presentes em uma pequena região (um prédio ou uma universidade
anéis isolantes regularmente espaçados e cercado por um condutor ou que tenha poucos quilômetros de extensão).
cilíndrico coberto por uma malha. O cabo coaxial é mais resistente à As LANs podem ser cabeadas, sem fio ou mistas.
interferência e linha cruzada do que os cabos de par trançado, além Atualmente as LANs cabeadas mais usadas usam o padrão IEEE
de poder ser usado em distâncias maiores e com mais estações. 802.3
Assim, o cabo coaxial oferece mais capacidade, porém, é mais caro Para melhorar a eficiência, cada computador é ligado por um
do que o cabo de par trançado blindado. cabo a uma porta de um comutador (switch).
Os cabos coaxiais eram usados no sistema telefônico para lon-
gas distância, porém, foram substituídos por fibras óticas. Estes ca-
bos estão sendo usados pelas redes de televisão a cabo e em redes
metropolitanas.

Fibras óticas
A fibra ótica é formada pelo núcleo, vestimenta e jaqueta, o
centro é chamado de núcleo e a próxima camada é a vestimenta,
tanto o núcleo quanto a vestimenta consistem em fibras de vidro
com diferentes índices de refração cobertas por uma jaqueta pro-
tetora que absorve a luz. A fibra de vidro possui forma cilíndrica,
flexível e capaz de conduzir um raio ótico. Estas fibras óticas são
agrupadas em um cabo ótico, e podem ser colocadas várias fibras
no mesmo cabo.
Nas fibras óticas, um pulso de luz indica um bit e a ausência de
luz indica zero bit. Para conseguir transmitir informações através da
fibra ótica, é necessário conectar uma fonte de luz em uma ponta
da fibra ótica e um detector na outra ponta, assim, a ponta que vai
Exemplo de rede LAN.21
transmitir converte o sinal elétrico e o transmite por pulsos de luz, a
ponta que vai receber deve converter a saída para um sinal elétrico.
Dependendo do cabeamento e tecnologia usados, essas redes
As fibras óticas possuem quatro características que a diferem
atingem velocidades de 100Mbps, 1Gbps ou até 10Gbps.
dos cabos de par traçado e coaxial, que são:
– Maior capacidade: possui largura de banda imensa com ve- Com a preferência do consumidor por notebooks, as LANs sem
locidade de dados de centenas de Gbps por distâncias de dezenas fio ficaram bastante populares. O padrão mais utilizado é o IEEE
de quilômetros; 802.11 conhecido como Wi-Fi. A versão mais recente, o 802.11n,
– Menor tamanho e menor peso: são muito finas e por isso, permite alcançar velocidades da ordem de 300Mbps.
pesam pouco, desta forma, reduz os requisitos de suporte estru- LANs sem fio são geralmente interligadas à rede cabeada atra-
tural; vés de um ponto de acesso.
– Menor atenuação: possui menor atenuação comparando
com os cabos de par trançado e coaxial, por isso, é constante em
21 Fonte: http://www.bosontreinamentos.com.br/redes-computadores/qual-a-
um intervalo de frequência maior;
-diferenca-entre-lan-man-e-wan-em-redes-de-dados

34
INFORMÁTICA
• Redes Metropolitanas Topologia de redes
Uma rede metropolitana (MAN - Metropolitan Area Network) A topologia de rede é o padrão no qual o meio de rede está
é basicamente uma grande versão de uma LAN onde a distância conectado aos computadores e outros componentes de rede24. Es-
entre os equipamentos ligados à rede começa a atingir distâncias sencialmente, é a estrutura topológica da rede, e pode ser descrito
metropolitanas (uma cidade). fisicamente ou logicamente.
Exemplos de MANs são as redes de TV a cabo e as redes IEEE Há várias formas nas quais se pode organizar a interligação en-
802.16 (WiMAX). tre cada um dos nós (computadores) da rede. A topologia física é
a verdadeira aparência ou layout da rede, enquanto que a lógica
descreve o fluxo dos dados através da rede.
Existem duas categorias básicas de topologias de rede:
– Topologia física: representa como as redes estão conectadas
(layout físico) e o meio de conexão dos dispositivos de redes (nós
ou nodos). A forma com que os cabos são conectados, e que gene-
ricamente chamamos de topologia da rede (física), influencia em
diversos pontos considerados críticos, como a flexibilidade, veloci-
dade e segurança.
– Topologia lógica: refere-se à maneira como os sinais agem so-
bre os meios de rede, ou a maneira como os dados são transmitidos
através da rede a partir de um dispositivo para o outro sem ter em
conta a interligação física dos dispositivos. Topologias lógicas são
capazes de serem reconfiguradas dinamicamente por tipos espe-
ciais de equipamentos como roteadores e switches.

Exemplo de rede WAN.22 Topologia Barramento


Todos os computadores são ligados em um mesmo barramento
• Redes a Longas Distâncias físico de dados. Apesar de os dados não passarem por dentro de
Uma rede a longas distâncias (WAN - Wide Area Network) é cada um dos nós, apenas uma máquina pode “escrever” no barra-
uma rede que cobre uma área geográfica grande, usualmente um mento num dado momento. Todas as outras “escutam” e recolhem
país ou continente. Os hospedeiros da rede são conectados por uma para si os dados destinados a elas. Quando um computador estiver
a transmitir um sinal, toda a rede fica ocupada e se outro computa-
sub-rede de comunicação. A sub-rede é composta de dois elemen-
dor tentar enviar outro sinal ao mesmo tempo, ocorre uma colisão
tos: linhas de transmissão e elementos de comutação (roteadores).
e é preciso reiniciar a transmissão.

Vantagens:
– Uso de cabo é econômico;
– Mídia é barata, fácil de trabalhar e instalar;
– Simples e relativamente confiável;
– Fácil expansão.
Exemplo de rede WAN.23
Desvantagens:
Nos enlaces de longa distância em redes WAN são usadas tec- – Rede pode ficar extremamente lenta em situações de tráfego
nologias que permitem o tráfego de grandes volumes de dados: pesado;
SONET, SDH, etc. – Problemas são difíceis de isolar;
Quando não há cabos, satélites podem ser utilizados em parte – Falha no cabo paralisa a rede inteira.
dos enlaces.
A sub-rede é em geral operada por uma grande empresa de Topologia Estrela
telecomunicações conhecida como provedor de serviço de Internet A mais comum atualmente, a topologia em estrela utiliza cabos
(ISP - Internet Service Provider). de par trançado e um concentrador como ponto central da rede.
O concentrador se encarrega de retransmitir todos os dados para
todas as estações, mas com a vantagem de tornar mais fácil a loca-
lização dos problemas, já que se um dos cabos, uma das portas do
concentrador ou uma das placas de rede estiver com problemas,
apenas o nó ligado ao componente defeituoso ficará fora da rede.
22 Fonte: https://informaticaeadministracao.wordpress.com/2014/04/22/lan-
-man-e-wan 24 https://www.oficinadanet.com.br/artigo/2254/topologia_de_redes_vanta-
23 Fonte: https://10infrcpaulo.wordpress.com/2012/12/11/wan gens_e_desvantagens

35
INFORMÁTICA
Vantagens:
– Maior redundância e confiabilidade;
– Facilidade de diagnóstico.

Desvantagem:
– Instalação dispendiosa.

Modelos de Referência
Dois modelos de referência para arquiteturas de redes mere-
cem destaque: OSI e TCP/IP.

Vantagens: Modelo de referência ISO OSI (Open Systems Interconnection)


– A codificação e adição de novos computadores é simples; Modelo destinado à interconexão de sistemas abertos. Possui
– Gerenciamento centralizado; 7 camadas: física, enlace de dados, rede, transporte, sessão, apre-
– Falha de um computador não afeta o restante da rede. sentação e aplicação.

Desvantagem:
– Uma falha no dispositivo central paralisa a rede inteira.

Topologia Anel
Na topologia em anel os dispositivos são conectados em sé-
rie, formando um circuito fechado (anel). Os dados são transmiti-
dos unidirecionalmente de nó em nó até atingir o seu destino. Uma
mensagem enviada por uma estação passa por outras estações,
através das retransmissões, até ser retirada pela estação destino ou
pela estação fonte.

Modelo OSI.

O modelo OSI não é uma arquitetura de rede, pois não especifi-


ca os serviços e protocolos que devem ser usados em cada camada.
O modelo OSI informa apenas o que cada camada deve fazer:
Vantagens:
– Todos os computadores acessam a rede igualmente; 1. Camada física
– Performance não é impactada com o aumento de usuários. A sua função é assegurar o transporte de bits através de um
meio de transmissão. Dessa forma, as questões de projeto dessa
Desvantagens: camada estão ligadas a níveis de tensão, tempo de bit, interfaces
– Falha de um computador pode afetar o restante da rede; elétricas e mecânicas, quantidade de pinos, sentidos da comunica-
– Problemas são difíceis de isolar. ção, etc.

Topologia Malha 2. Camada de enlace de dados


Esta topologia é muito utilizada em várias configurações, pois A sua principal função é transmitir quadros entre duas máqui-
facilita a instalação e configuração de dispositivos em redes mais nas ligadas diretamente, transformando o canal em um enlace de
simples. Todos os nós estão atados a todos os outros nós, como se dados confiável.
estivessem entrelaçados. Já que são vários os caminhos possíveis - Divide os dados em quadros e os envia sequencialmente.
por onde a informação pode fluir da origem até o destino. - Regula o tráfego
- Detecta a ocorrência de erros ocorridos na camada física
- Em redes de difusão, uma subcamada de controle de acesso
ao meio é inserida para controlar o acesso ao canal compartilhado

3. Camada de rede
A sua função é encaminhar pacotes entre a máquina de origem
e a máquina de destino.
- O roteamento pode ser estático ou dinâmico.
- Realiza o controle de congestionamento.
- Responsável pela qualidade de serviço.
- Tem que permitir que redes heterogêneas se comuniquem,
sendo assim, deve lidar com questões como endereçamento, tama-
nho dos pacotes e protocolos heterogêneos.

36
INFORMÁTICA
4. Camada de transporte
A sua função básica é efetuar a comunicação fim-a-fim entre processos, normalmente adicionando novas funcionalidades ao serviço
já oferecido pela camada de rede. Pode oferecer um canal ponto a ponto livre de erros com entrega de mensagens na ordem correta.

5. Camada de sessão
A sua função é controlar quem fala e quando, entre a origem e o destino (analogia com operações críticas em bancos de dados).

6. Camada de apresentação
A sua função básica é transformar a sintaxe dos dados (forma de representação) sem afetar a semântica. Gerencia estruturas de dados
abstratas.

7. Camada de aplicação
Contém uma série de protocolos necessários para os usuários. É nessa camada que o usuário interage.

Modelo TCP/IP
Arquitetura voltada para a interconexão de redes heterogêneas (ARPANET)
Posteriormente, essa arquitetura ficou conhecida como modelo TCP/IP graças aos seus principais protocolos.
O modelo TCP/IP é composto por quatro camadas: enlace, internet, transporte e aplicação.

Modelo TCP/IP.

1. Camada de enlace
Não é uma camada propriamente dita, mas uma interface entre os hospedeiros e os enlaces de transmissão

2. Camada internet (camada de rede)


Integra toda a arquitetura, mantendo-a unida. Faz a interligação de redes não orientadas a conexão.
Tem o objetivo de rotear as mensagens entre hospedeiros, ocultando os problemas inerentes aos protocolos utilizados e aos tama-
nhos dos pacotes. Tem a mesma função da camada de rede do modelo OSI.
O protocolo principal dessa camada é o IP.

3. Camada de transporte
Permite que entidades pares (processos) mantenham uma comunicação.
Foram definidos dois protocolos para essa camada: TCP (Transmission Control Protocol) e UDP (User Datagram Protocol).
O TCP é um protocolo orientado a conexões confiável que permite a entrega sem erros de um fluxo de bytes.
O UDP é um protocolo não orientado a conexões, não confiável e bem mais simples que o TCP.

4. Camada de aplicação
Contém todos os protocolos de nível mais alto.

Modelo TCP/IP e seus protocolos.

37
INFORMÁTICA
Existem diversos protocolos, atualmente a grande maioria das
redes utiliza o protocolo TCP/IP já que este é utilizado também na
Internet.
O protocolo TCP/IP acabou se tornando um padrão, inclusive
para redes locais, como a maioria das redes corporativas hoje tem
acesso Internet, usar TCP/IP resolve a rede local e também o acesso
externo.

TCP / IP
Sigla de Transmission Control Protocol/Internet Protocol (Pro-
tocolo de Controle de Transmissão/Protocolo Internet).
Embora sejam dois protocolos, o TCP e o IP, o TCP/IP aparece
nas literaturas como sendo:
- O protocolo principal da Internet;
- O protocolo padrão da Internet;
- O protocolo principal da família de protocolos que dá suporte
ao funcionamento da Internet e seus serviços.
Modelo OSI versus TCP/IP.
Considerando ainda o protocolo TCP/IP, pode-se dizer que:
Internet A parte TCP é responsável pelos serviços e a parte IP é respon-
A Internet é uma rede mundial de computadores interligados atra- sável pelo roteamento (estabelece a rota ou caminho para o trans-
vés de linhas de telefone, linhas de comunicação privadas, cabos subma- porte dos pacotes).
rinos, canais de satélite, etc25. Ela nasceu em 1969, nos Estados Unidos.
Interligava originalmente laboratórios de pesquisa e se chamava ARPAnet Domínio
(ARPA: Advanced Research Projects Agency). Com o passar do tempo, e Se não fosse o conceito de domínio quando fossemos acessar
com o sucesso que a rede foi tendo, o número de adesões foi crescendo um determinado endereço na web teríamos que digitar o seu en-
continuamente. Como nesta época, o computador era extremamente dereço IP. Por exemplo: para acessar o site do Google ao invés de
difícil de lidar, somente algumas instituições possuíam internet. você digitar www.google.com você teria que digitar um número IP
No entanto, com a elaboração de softwares e interfaces cada – 74.125.234.180.
É através do protocolo DNS (Domain Name System), que é pos-
vez mais fáceis de manipular, as pessoas foram se encorajando a
sível associar um endereço de um site a um número IP na rede.
participar da rede. O grande atrativo da internet era a possibilida-
O formato mais comum de um endereço na Internet é algo como
de de se trocar e compartilhar ideias, estudos e informações com
http://www.empresa.com.br, em que:
outras pessoas que, muitas vezes nem se conhecia pessoalmente.
www: (World Wide Web): convenção que indica que o ende-
reço pertence à web.
Conectando-se à Internet
empresa: nome da empresa ou instituição que mantém o ser-
Para se conectar à Internet, é necessário que se ligue a uma
viço.
rede que está conectada à Internet. Essa rede é de um provedor de com: indica que é comercial.
acesso à internet. Assim, para se conectar você liga o seu computa- br: indica que o endereço é no Brasil.
dor à rede do provedor de acesso à Internet; isto é feito por meio
de um conjunto como modem, roteadores e redes de acesso (linha URL
telefônica, cabo, fibra-ótica, wireless, etc.). Um URL (de Uniform Resource Locator), em português, Locali-
zador-Padrão de Recursos, é o endereço de um recurso (um arqui-
World Wide Web vo, uma impressora etc.), disponível em uma rede; seja a Internet,
A web nasceu em 1991, no laboratório CERN, na Suíça. Seu ou uma rede corporativa, uma intranet.
criador, Tim Berners-Lee, concebeu-a unicamente como uma lin- Uma URL tem a seguinte estrutura: protocolo://máquina/ca-
guagem que serviria para interligar computadores do laboratório e minho/recurso.
outras instituições de pesquisa, e exibir documentos científicos de
forma simples e fácil de acessar. HTTP
Hoje é o segmento que mais cresce. A chave do sucesso da World É o protocolo responsável pelo tratamento de pedidos e res-
Wide Web é o hipertexto. Os textos e imagens são interligados por postas entre clientes e servidor na World Wide Web. Os endereços
meio de palavras-chave, tornando a navegação simples e agradável. web sempre iniciam com http:// (http significa Hypertext Transfer
Protocol, Protocolo de transferência hipertexto).
Protocolo de comunicação
Transmissão e fundamentalmente por um conjunto de proto- Hipertexto
colos encabeçados pelo TCP/IP. Para que os computadores de uma São textos ou figuras que possuem endereços vinculados a
rede possam trocar informações entre si é necessário que todos os eles. Essa é a maneira mais comum de navegar pela web.
computadores adotem as mesmas regras para o envio e o recebi-
mento de informações. Este conjunto de regras é conhecido como Navegadores
Protocolo de Comunicação. No protocolo de comunicação estão de- Um navegador de internet é um programa que mostra informa-
finidas todas as regras necessárias para que o computador de desti- ções da internet na tela do computador do usuário.
no, “entenda” as informações no formato que foram enviadas pelo Além de também serem conhecidos como browser ou web bro-
computador de origem. wser, eles funcionam em computadores, notebooks, dispositivos
móveis, aparelhos portáteis, videogames e televisores conectados
25 https://cin.ufpe.br/~macm3/Folders/Apostila%20Internet%20-%20
à internet.
Avan%E7ado.pdf

38
INFORMÁTICA
Um navegador de internet condiciona a estrutura de um site Firefox, Internet Explorer, Google Chrome, Safari e Opera são
e exibe qualquer tipo de conteúdo na tela da máquina usada pelo alguns dos navegadores mais utilizados atualmente. Também co-
internauta. nhecidos como web browsers ou, simplesmente, browsers, os na-
Esse conteúdo pode ser um texto, uma imagem, um vídeo, um vegadores são uma espécie de ponte entre o usuário e o conteúdo
jogo eletrônico, uma animação, um aplicativo ou mesmo servidor. virtual da Internet.
Ou seja, o navegador é o meio que permite o acesso a qualquer
página ou site na rede. Internet Explorer
Para funcionar, um navegador de internet se comunica com Lançado em 1995, vem junto com o Windows, está sendo
servidores hospedados na internet usando diversos tipos de pro- substituído pelo Microsoft Edge, mas ainda está disponível como
tocolos de rede. Um dos mais conhecidos é o protocolo HTTP, que segundo navegador, pois ainda existem usuários que necessitam de
transfere dados binários na comunicação entre a máquina, o nave- algumas tecnologias que estão no Internet Explorer e não foram
gador e os servidores. atualizadas no Edge.
Já foi o mais navegador mais utilizado do mundo, mas hoje per-
Funcionalidades de um Navegador de Internet deu a posição para o Google Chrome e o Mozilla Firefox.
A principal funcionalidade dos navegadores é mostrar para o
usuário uma tela de exibição através de uma janela do navegador.
Ele decodifica informações solicitadas pelo usuário, através de
códigos-fonte, e as carrega no navegador usado pelo internauta.
Ou seja, entender a mensagem enviada pelo usuário, solicitada
através do endereço eletrônico, e traduzir essa informação na tela
do computador. É assim que o usuário consegue acessar qualquer
site na internet.
O recurso mais comum que o navegador traduz é o HTML, uma
linguagem de marcação para criar páginas na web e para ser inter- Principais recursos do Internet Explorer:
pretado pelos navegadores. – Transformar a página num aplicativo na área de trabalho,
Eles também podem reconhecer arquivos em formato PDF, permitindo que o usuário defina sites como se fossem aplicativos
imagens e outros tipos de dados. instalados no PC. Através dessa configuração, ao invés de apenas
Essas ferramentas traduzem esses tipos de solicitações por meio manter os sites nos favoritos, eles ficarão acessíveis mais facilmente
das URLs, ou seja, os endereços eletrônicos que digitamos na parte através de ícones.
superior dos navegadores para entrarmos numa determinada página. – Gerenciador de downloads integrado.
Abaixo estão outros recursos de um navegador de internet: – Mais estabilidade e segurança.
– Barra de Endereço: é o espaço em branco que fica localiza- – Suporte aprimorado para HTML5 e CSS3, o que permite uma
do no topo de qualquer navegador. É ali que o usuário deve digitar navegação plena para que o internauta possa usufruir dos recursos
a URL (ou domínio ou endereço eletrônico) para acessar qualquer implementados nos sites mais modernos.
página na web. – Com a possibilidade de adicionar complementos, o navega-
– Botões de Início, Voltar e Avançar: botões clicáveis básicos dor já não é apenas um programa para acessar sites. Dessa forma, é
que levam o usuário, respectivamente, ao começo de abertura do possível instalar pequenos aplicativos que melhoram a navegação e
navegador, à página visitada antes ou à página visitada seguinte. oferecem funcionalidades adicionais.
– Favoritos: é a aba que armazena as URLs de preferência do – One Box: recurso já conhecido entre os usuários do Google
usuário. Com um único simples, o usuário pode guardar esses en- Chrome, agora está na versão mais recente do Internet Explorer.
dereços nesse espaço, sendo que não existe uma quantidade limite Através dele, é possível realizar buscas apenas informando a pala-
de links. É muito útil para quando você quer acessar as páginas mais vra-chave digitando-a na barra de endereços.
recorrentes da sua rotina diária de tarefas.
– Atualizar: botão básico que recarrega a página aberta naque- Microsoft Edge
le momento, atualizando o conteúdo nela mostrado. Serve para Da Microsoft, o Edge é a evolução natural do antigo Explorer26.
mostrar possíveis edições, correções e até melhorias de estrutura O navegador vem integrado com o Windows 10. Ele pode receber
no visual de um site. Em alguns casos, é necessário limpar o cache aprimoramentos com novos recursos na própria loja do aplicativo.
para mostrar as atualizações. Além disso, a ferramenta otimiza a experiência do usuário con-
– Histórico: opção que mostra o histórico de navegação do vertendo sites complexos em páginas mais amigáveis para leitura.
usuário usando determinado navegador. É muito útil para recupe-
rar links, páginas perdidas ou revisitar domínios antigos. Pode ser
apagado, caso o usuário queira.
– Gerenciador de Downloads: permite administrar os down-
loads em determinado momento. É possível ativar, cancelar e pau-
sar por tempo indeterminado. É um maior controle na usabilidade
do navegador de internet.
– Extensões: já é padrão dos navegadores de internet terem um
mecanismo próprio de extensões com mais funcionalidades. Com al-
guns cliques, é possível instalar temas visuais, plug-ins com novos re- Outras características do Edge são:
cursos (relógio, notícias, galeria de imagens, ícones, entre outros. – Experiência de navegação com alto desempenho.
– Central de Ajuda: espaço para verificar a versão instalada do – Função HUB permite organizar e gerenciar projetos de qual-
navegador e artigos (geralmente em inglês, embora também exis- quer lugar conectado à internet.
tam em português) de como realizar tarefas ou ações específicas – Funciona com a assistente de navegação Cortana.
no navegador.
26 https://bit.ly/2WITu4N

39
INFORMÁTICA
– Disponível em desktops e mobile com Windows 10.
– Não é compatível com sistemas operacionais mais antigos.

Firefox
Um dos navegadores de internet mais populares, o Firefox é
conhecido por ser flexível e ter um desempenho acima da média.
Desenvolvido pela Fundação Mozilla, é distribuído gratuita-
mente para usuários dos principais sistemas operacionais. Ou seja,
mesmo que o usuário possua uma versão defasada do sistema ins-
talado no PC, ele poderá ser instalado. Outros pontos de destaques do Opera são:
– Alto desempenho com baixo consumo de recursos e de ener-
gia.
– Recurso Turbo Opera filtra o tráfego recebido, aumentando a
velocidade de conexões de baixo desempenho.
– Poupa a quantidade de dados usados em conexões móveis
(3G ou 4G).
– Impede armazenamento de dados sigilosos, sobretudo em
páginas bancárias e de vendas on-line.
– Quantidade moderada de plug-ins para implementar novas
funções, além de um bloqueador de publicidade integrado.
Algumas características de destaque do Firefox são: – Disponível em desktop e mobile.
– Velocidade e desempenho para uma navegação eficiente.
– Não exige um hardware poderoso para rodar. Safari
– Grande quantidade de extensões para adicionar novos recur- O Safari é o navegador oficial dos dispositivos da Apple. Pela
sos. sua otimização focada nos aparelhos da gigante de tecnologia, ele
– Interface simplificada facilita o entendimento do usuário. é um dos navegadores de internet mais leves, rápidos, seguros e
– Atualizações frequentes para melhorias de segurança e pri- confiáveis para usar.
vacidade.
– Disponível em desktop e mobile.

Google Chorme
É possível instalar o Google Chrome nas principais versões do
sistema operacional Windows e também no Linux e Mac.
O Chrome é o navegador de internet mais usado no mundo.
É, também, um dos que têm melhor suporte a extensões, maior
compatibilidade com uma diversidade de dispositivos e é bastante
convidativo à navegação simplificada.
O Safari também se destaca em:
– Sincronização de dados e informações em qualquer disposi-
tivo Apple (iOS).
– Tem uma tecnologia anti-rastreio capaz de impedir o direcio-
namento de anúncios com base no comportamento do usuário.
– Modo de navegação privada não guarda os dados das páginas
visitadas, inclusive histórico e preenchimento automático de cam-
pos de informação.
Principais recursos do Google Chrome: – Compatível também com sistemas operacionais que não seja
– Desempenho ultra veloz, desde que a máquina tenha recur- da Apple (Windows e Linux).
sos RAM suficientes. – Disponível em desktops e mobile.
– Gigantesca quantidade de extensões para adicionar novas
funcionalidades. Intranet
– Estável e ocupa o mínimo espaço da tela para mostrar con- A intranet é uma rede de computadores privada que assenta
teúdos otimizados. sobre a suíte de protocolos da Internet, porém, de uso exclusivo de
– Segurança avançada com encriptação por Certificado SSL (HT- um determinado local, como, por exemplo, a rede de uma empresa,
TPS). que só pode ser acessada pelos seus utilizadores ou colaboradores
– Disponível em desktop e mobile. internos27.
Pelo fato, a sua aplicação a todos os conceitos emprega-se à
Opera intranet, como, por exemplo, o paradigma de cliente-servidor. Para
Um dos primeiros navegadores existentes, o Opera segue evo- tal, a gama de endereços IP reservada para esse tipo de aplicação
luindo como um dos melhores navegadores de internet. situa-se entre 192.168.0.0 até 192.168.255.255.
Ele entrega uma interface limpa, intuitiva e agradável de usar.
Além disso, a ferramenta também é leve e não prejudica a qualida-
de da experiência do usuário.
27 https://centraldefavoritos.com.br/2018/01/11/conceitos-basicos-ferramen-
tas-aplicativos-e-procedimentos-de-internet-e-intranet-parte-2/

40
INFORMÁTICA
Dentro de uma empresa, todos os departamentos possuem 4. (CRN - 3ª REGIÃO (SP E MS) - OPERADOR DE CALL CENTER -
alguma informação que pode ser trocada com os demais setores, IADES/2019) A navegação na internet e intranet ocorre de diversas
podendo cada sessão ter uma forma direta de se comunicar com as formas, e uma delas é por meio de navegadores. Quanto às funções
demais, o que se assemelha muito com a conexão LAN (Local Area dos navegadores, assinale a alternativa correta.
Network), que, porém, não emprega restrições de acesso. (A) Na internet, a navegação privada ou anônima do navega-
A intranet é um dos principais veículos de comunicação em cor- dor Firefox se assemelha funcionalmente à do Chrome.
porações. Por ela, o fluxo de dados (centralização de documentos, (B) O acesso à internet com a rede off-line é uma das vanta-
formulários, notícias da empresa, etc.) é constante, pretendendo gens do navegador Firefox.
reduzir os custos e ganhar velocidade na divulgação e distribuição (C) A função Atualizar recupera as informações perdidas quan-
de informações. do uma página é fechada incorretamente.
Apesar do seu uso interno, acessando aos dados corporativos, (D) A navegação privada do navegador Chrome só funciona na
a intranet permite que computadores localizados numa filial, se co- intranet.
nectados à internet com uma senha, acessem conteúdos que este- (E) Os cookies, em regra, não são salvos pelos navegadores
jam na sua matriz. Ela cria um canal de comunicação direto entre quando estão em uma rede da internet.
a empresa e os seus funcionários/colaboradores, tendo um ganho
significativo em termos de segurança. 5. (PREFEITURA DE VINHEDO/SP - GUARDA MUNICIPAL -
IBFC/2020) Leia atentamente a frase abaixo referente às Redes de
Computadores:
“_____ significa _____ e é um conjunto de _____ que pertence
EXERCÍCIOS a uma mesma organização, conectados entre eles por uma rede,
numa _____ área geográfica”.
1. (PREFEITURA DE AREAL - RJ - TÉCNICO EM INFORMÁTICA - Assinale a alternativa que preencha correta e respectivamente
GUALIMP/2020) São características exclusivas da Intranet: as lacunas.
(A) Acesso restrito e Rede Local (LAN). (A) LAN / Local Area Network / computadores / pequena
(B) Rede Local (LAN) e Compartilhamento de impressoras. (B) MAN / Much Area Network / computadores / grande
(C) Comunicação externa e Compartilhamento de Dados. (C) MAN / Much Area Network / roteadores / pequena
(D) Compartilhamento de impressoras e Acesso restrito. (D) LAN / Local Area Network / roteadores / grande

6. (PREFEITURA DE ÁGUIA BRANCA/ES - TÉCNICO EM INFOR-


2. (PREFEITURA DE SÃO FRANCISCO/MG - ASSISTENTE ADMI-
MÁTICA - IDCAP/2018) Analise o trecho e assinale a alternativa que
NISTRATIVO - COTEC/2020) Os termos internet e World Wide Web
completa corretamente a lacuna:
(WWW) são frequentemente usados como sinônimos na linguagem
O _________ é um protocolo da camada de Transporte, não
corrente, e não são porque
orientado a conexões, não confiável e bem mais simples que o TCP.
(A) a internet é uma coleção de documentos interligados (pá-
(A) SSH.
ginas web) e outros recursos, enquanto a WWW é um serviço
(B) UDP.
de acesso a um computador.
(C) IP.
(B) a internet é um conjunto de serviços que permitem a co- (D) ISP.
nexão de vários computadores, enquanto WWW é um serviço (E) HTTP.
especial de acesso ao Google.
(C) a internet é uma rede mundial de computadores especial, 7. (GHC/RS - PSICÓLOGO - MS CONCURSOS/2018) Dentre os
enquanto a WWW é apenas um dos muitos serviços que fun- conceitos básicos de rede e internet, analise os itens seguintes e
cionam dentro da internet. assinale a alternativa correta:
(D) a internet possibilita uma comunicação entre vários I- Rede é quando se tem 02 ou mais computadores interligados
computadores, enquanto a WWW, o acesso a um endereço com a finalidade de compartilhar informações.
eletrônico. II- Internet é chamada de Rede mundial porque as diversas
(E) a internet é uma coleção de endereços eletrônicos, en- redes interconectadas de computadores estão “espalhadas” pelo
quanto a WWW é uma rede mundial de computadores com mundo todo.
acesso especial ao Google. III- Os requisitos básicos para se acessar a rede mundial são
utilizar o TCP/IP e ter um endereço IP válido.
3. (PREFEITURA DE PINTO BANDEIRA/RS - AUXILIAR DE SER- IV- No protocolo de comunicação, estão definidas todas as regras
VIÇOS GERAIS - OBJETIVA/2019) Sobre a navegação na internet, necessárias para que o computador de destino “entenda” as informa-
analisar a sentença abaixo: ções no formato que foram enviadas pelo computador de origem.
Os acessos a sites de pesquisa e de notícias são geralmente rea- (A) Somente os itens III e IV estão corretos.
lizados pelo protocolo HTTP, onde as informações trafegam com o (B) Somente o item III está correto.
uso de criptografia (1ª parte). O protocolo HTTP não garante que (C) Somente o item II está correto.
os dados não possam ser interceptados (2ª parte). A sentença está: (D) Todos os itens estão corretos.
(A) Totalmente correta. (E) Somente os itens I, II e IV estão corretos.
(B) Correta somente em sua 1ª parte.
(C) Correta somente em sua 2ª parte. 8. (GHC-RS CONTADOR - MS CONCURSOS/2018) Dentre as
(D) Totalmente incorreta. alternativas, encontram-se vários motivos pelos quais podemos
perder a conexão com a internet ao utilizarmos uma rede com fio
(Ethernet), exceto:
(A) Modem ou Switch queimado.
(B) Placa de rede sem o driver necessário, ou seja, desconfigu-
rada.

41
INFORMÁTICA
(C) Cabos de rede desconectados. (D) pintar uma área de figura.
(D) WEP, WPA ou WPA2 não ativados. (E) copiar a formatação.
(E) Configuração de rede inapropriada ou incorreta.
14. (CÂMARA MUNICIPAL DE ELDORADO DO SUL/RS - ANALIS-
9. (CÂMARA DE SÃO FELIPE D’OESTE/RO - ADVOGADO - IBA- TA LEGISLATIVO - FUNDATEC/2018) Os operadores matemáticos do
DE/2020) Ao contratar uma rede doméstica (Wireless) — dessas software Calc do pacote LibreOffice 5, responsáveis por executar a
comercializadas pelas diversas operadoras — é necessário instalar potência e divisão, são, respectivamente:
um equipamento, geralmente fornecido pelas operadoras, para (A) ^ /
viabilizar a conexão dos computadores da casa. Este equipamento (B) * ^
executa as funções: (C) * :
(A) Switch/Modem. (D) ^ :
(B) Modem/Hub. (E) * /
(C) Hub/Switch.
(D) Roteador/Hub. 15. (CS-UFG - TÉCNICO DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO -
(E) Modem/Roteador. CS-UFG/2018) Durante a elaboração de uma apresentação utilizan-
do o LibreOffice Impress no Linux Ubuntu, um usuário quer definir
10. (IF/GO - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO - CS-UFG/2018) alguns elementos de um slide, como, por exemplo, cores e fontes,
Dentre as principais suítes de aplicativos para escritório estão o Li- de uma forma que fiquem padronizados e sejam mostrados em to-
breOffice, o Microsoft Office, o iWork e o Google Docs. O LibreOf- dos os slides. Qual recurso pode ser usado neste caso?
fice 6.1 nomeia, respectivamente, o seu programa de planilhas e (A) Formatação.
a sua ferramenta para criação de apresentações multimídias como (B) Slide root.
(A) Spreadsheet, Presentation. (C) Classificador de slides.
(B) Excel e Power Point. (D) Slide mestre.
(C) Numbers e Keynote.
(D) Calc e Impress. 16. (PREFEITURA DE SÃO FRANCISCO/MG - ASSISTENTE SO-
CIAL - COTEC/2020) No processador de texto Microsoft Word, per-
11. (IF/TO - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO - IF/TO/2019) tencente à suíte de Escritório Microsoft Office 2016, um rodapé
Quais são as extensões-padrão dos arquivos gerados pelo LibreOffi- permite a inclusão de informações na parte inferior da página. Por
ce Writer e LibreOffice Calc, ambos na versão 5.2, respectivamente? padrão, rodapés são incluídos:
(A) .odt e .ods (A) Na primeira página.
(B) .odt e .odg (B) Na última página.
(C) .ods e .odp (C) Em todas as páginas.
(D) .odb e .otp (D) Em páginas ímpares.
(E) .ods e .otp (E) Em páginas pares.

12. (UFPEL - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO - UFPEL- 17. (PREFEITURA DE TAUBATÉ/SP - AUDITOR PLENO - INSTI-
-CES/2019) Analise as afirmações: TUTO EXCELÊNCIA/2019) Utilizando o Microsoft Word 2016 para
I) O Calc do LibreOffice funciona no Linux mas não no Windows. formatar o texto em um documento como colunas. Qual das alter-
II) O LibreOffice tem Editor de Texto e Planilha Eletrônica, mas nativas contém o caminho certo para realizar essa ação?
não tem Banco de Dados. (A) Selecione o texto - Guia Inserir - Opção Colunas.
III) A planilha eletrônica do LibreOffice é o Writer. (B) Selecionar o texto - Guia Layout - Opção Colunas.
IV) Arquivos gerados no Calc do LibreOffice no ambiente Linux (C) Selecione o texto - Guia Página Inicial - Opção Colunas.
podem ser abertos pelo Microsoft Excel no ambiente Windows. (D) Nenhuma das alternativas.

Está(ão) correta(s), 18. (PREFEITURA DE TIBAGI/PR - AGENTE DE DEFESA CIVIL -


(A) III e IV, apenas. FAFIPA/2019) O Microsoft Word Pt-Br versão 2016 possui guias que
(B) I e II, apenas. facilitam e organizam a utilização do Software. Por padrão, as guias
(C) II e IV, apenas. que vêm disponíveis no programa são exatamente essas apresenta-
(D) IV, apenas. das abaixo, com exceção da:
(E) I, apenas. (A) Exibir.
(B) Layout.
13. (BANCO DA AMAZÔNIA - TÉCNICO BANCÁRIO - CESGRAN- (C) Design.
RIO/2018) A imagem abaixo foi extraída da barra de ferramentas (D) Corrigir.
do LibreOffice:
19. (PREFEITURA DE SÃO JOAQUIM DO/PE - AUDITOR DE CON-
TROLE INTERNO - ADM&TEC/2018) Leia as afirmativas a seguir:
I. As funções “OU” e “SE”, no Microsoft Excel, são funções ló-
gicas.
II. A dinâmica de transmissão de informação na internet não
permite que as ações se sucedam concomitantemente.
Essa ferramenta é utilizada para
(A) apagar parte da figura. Marque a alternativa CORRETA:
(B) apagar parte do texto. (A) As duas afirmativas são verdadeiras.
(C) pintar uma área de texto. (B) A afirmativa I é verdadeira, e a II é falsa.

42
INFORMÁTICA
(C) A afirmativa II é verdadeira, e a I é falsa.
(D) As duas afirmativas são falsas.
ANOTAÇÕES
20. (TJ/DFT - ESTÁGIO - CIEE/2019) O PowerPoint permite, ao ______________________________________________________
preparar uma apresentação, inserir efeitos de transições entre os
slides. Analise os passos para adicionar a transição de slides. ______________________________________________________
( ) Selecionar Opções de Efeito para escolher a direção e a na-
tureza da transição ______________________________________________________
( ) Selecionar a guia Transições e escolher uma transição; sele-
cionar uma transição para ver uma visualização. ______________________________________________________
( ) Escolher o slide no qual se deseja adicionar uma transição.
______________________________________________________
( ) Selecionar a Visualização para ver como a transição é exibi-
da. ______________________________________________________
A sequência está correta em ______________________________________________________
(A) 3, 2, 1, 4.
(B) 1, 2, 3 ,4. ______________________________________________________
(C) 3, 4, 1, 2.
(D) 1, 4, 2, 3. ______________________________________________________

______________________________________________________
GABARITO ______________________________________________________

______________________________________________________
1 B
______________________________________________________
2 C
3 C ______________________________________________________

4 A ______________________________________________________
5 A ______________________________________________________
6 B
______________________________________________________
7 D
8 D ______________________________________________________
9 E ______________________________________________________
10 D
______________________________________________________
11 A
______________________________________________________
12 D
13 E ______________________________________________________
14 A ______________________________________________________
15 D
_____________________________________________________
16 C
17 B _____________________________________________________
18 D ______________________________________________________
19 B
______________________________________________________
20 A
______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

43
INFORMÁTICA

ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

_____________________________________________________ _____________________________________________________

_____________________________________________________ _____________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

44

You might also like