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Tratado de Audiologia, 2 Edição
Tratado de Audiologia, 2 Edição
O estudo do equilíbrio corporal é parte da avaliação otoneurológica, que inclui anamnese, exame
otorrinolaringológico, testes audiológicos e equilibriometria. Esta avaliação deve ser abrangente para auxiliar no
diagnóstico de pacientes com vertigem e outras tonturas, náuseas, vômitos, quedas, perdas auditivas, ruído no ouvido,
dificuldade de entender, falha na atenção auditiva, hipersensibilidade a sons, distorção das sensações sonoras etc. Atrasos
na aquisição e desenvolvimento de linguagem ou deficiências motoras em crianças também podem indicar um distúrbio
da função vestibular1.
Os testes audiológicos e a equilibriometria visam confirmar ou infirmar a lesão auditiva e/ou vestibular; localizar se a
alteração é periférica (labirinto e VIII nervo), central (núcleos, vias e interrelações com outras estruturas do sistema
nervoso central) ou mista; evidenciar o lado lesado e o tipo de lesão auditiva e/ou vestibular; mensurar a intensidade da
lesão; procurar estabelecer se a doença está ativa ou inativa, se está compensada ou não e o seu prognóstico; auxiliar na
identificação do agente etiológico; monitorar a evolução do paciente e da doença em tratamento; sugerir eventuais
modificações do tratamento e determinar a sua finalização1.
A equilibriometria avalia os sistemas motores oculares supranucleares, como os reflexos vestíbuloocular (RVO),
sacádico, de perseguição, optocinético e de fixação e o reflexo vestíbuloespinal (RVE). Investiga a função vestibular e
suas correlações com o sistema ocular e proprioceptivo, cerebelo, medula espinal e formação reticular2.
A integração funcional das informações de estruturas sensoriais dos sistemas vestibular, visual e proprioceptivo nos
núcleos vestibulares do tronco encefálico, sob a coordenação do cerebelo, desencadeia reflexos oculares e espinais. Os
principais são o RVO e o RVE. O RVO gera movimentos oculares que proporcionam uma visão clara enquanto a cabeça
se movimenta; o RVE origina movimentos corporais compensatórios que mantêm a estabilidade da cabeça e do corpo,
evitando quedas; o sistema nervoso central monitora estes reflexos e os reajusta para manter a orientação espacial estática
e dinâmica, a locomoção e o controle postural, quando necessário2,3.
O nistagmo, elemento fundamental de análise do RVO, é um movimento involuntário dos olhos, formado por uma
sucessão de no mínimo três batimentos oculares que têm uma componente lenta em uma determinada direção (originado
no labirinto ou nos núcleos vestibulares) e uma componente rápida, movimento corretivo, na direção oposta (originado na
formação reticular do tronco encefálico); pode ser fisiológico, presente em indivíduos normais em certas provas do exame
vestibular; ou pode apresentar alterações nas provas vestibulares em pacientes com vestibulopatia periférica ou central1,4.
Os diversos tipos de nistagmo e outros movimentos oculares direta ou indiretamente relacionados com a função
vestibular podem ser observados e registrados. A introdução da tecnologia computadorizada aumentou a sensibilidade da
avaliação. A gravação permite aferir o efeito da fixação visual; armazenar e quantificar parâmetros da função vestíbulo
oculomotora, como a velocidade da componente lenta do nistagmo; latência, precisão e velocidade das sacadas; ganho do
rastreio ocular e do nistagmo optocinético1.
► Eletronistagmogra�a
A eletronistagmografia (ENG) é um método de inscrição dos movimentos oculares. Eletrodos colocados sobre a pele
da região periorbitária captam a variação de potencial entre a córnea e a retina quando os olhos se movimentam e a envia
ao equipamento de registro, onde é amplificada4. A qualidade do traçado depende da intensidade deste potencial, que é
variável durante o teste e é sensível às condições de iluminação ambiental5.
Na ENG, a resolução é ao redor de 1°, o que impede a identificação de movimentos oculares menores do que 2° a 3°,
o ruído elétrico interfere no registro e podem ocorrer desvios da linha de base. A ENG não registra os movimentos
torcionais dos olhos5.
Os equipamentos de ENG podem ter dois ou mais canais de registro. A colocação dos eletrodos depende do que se
quer avaliar e do número de canais disponíveis. Os equipamentos com dois canais registram os movimentos oculares
horizontais em um dos canais, por meio de eletrodos ativos fixados na pele dos cantos periorbitários externos direito e
esquerdo, e os verticais, no outro canal, por meio de eletrodos ativos fixados acima e abaixo de um dos olhos; um eletrodo
neutro (terra) é colocado na linha média frontal1. Convencionalmente, os eletrodos no canal horizontal são colocados de
modo que ao deslocamento do olhar para a direita corresponda uma inscrição do movimento dos olhos para cima e ao
deslocamento para a esquerda, o movimento é gravado para baixo; no canal vertical, o deslocamento do olhar para cima
corresponde à inscrição para cima e ao deslocamento para baixo, o registro é para baixo4.
► Vectoeletronistagmogra�a
A vectoeletronistagmografia (VENG) é uma variante da ENG que grava os movimentos oculares em três canais de
registro, captando a variação do potencial elétrico corneorretinal. Um eletrodo ativo é colocado no canto externo de cada
olho e um terceiro na linha média frontal, constituindo um triângulo isósceles, formado pelos três canais de registro. O
canal horizontal da VENG é semelhante ao canal horizontal da ENG. Tem a vantagem de identificar os movimentos
oculares horizontais, verticais e oblíquos, medir a velocidade da componente lenta do nistagmo de acordo com a projeção
vetorial, considerando a influência da direção, e permitir a avaliação do nistagmo oblíquo resultante da estimulação dos
canais semicirculares verticais à prova rotatória1,68.
► Videonistagmogra�a
A videonistagmografia (VNG) não utiliza eletrodos. Videocâmeras em lentes binoculares à prova de luz permitem a
observação direta e a gravação dos movimentos oculares horizontais, verticais e torcionais com olhos abertos e no escuro.
O processamento digital da imagem mensura os movimentos do centro da pupila e mede a velocidade da componente
lenta do nistagmo horizontal e vertical, mas não mede a velocidade dos movimentos oculares torcionais5.
A resolução dos canais horizontal e vertical é de aproximadamente 0,1°, sendo possível identificar em condições
laboratoriais movimentos oculares de 0,5°; o registro não tem interferências e não há desvios da linha de base e necessita
de apenas uma calibração no início da avaliação, desde que as câmeras não sejam reposicionadas5. Claustrofobia, ptose
palpebral, cílios que obscurecem a pupila, cosméticos ao redor dos olhos, crianças com a face pequena, pacientes com
malformações na forma da pupila e que não conseguem manter os olhos abertos podem dificultar ou impedir a realização
da VNG5,9.
A VNG tem a vantagem de permitir a visualização e gravação de um nistagmo de posicionamento torcional, de
pequena amplitude e de curta duração à prova de DixHallpike; a caracterização da exata direção do nistagmo de
posicionamento e posicional identifica o canal semicircular comprometido em pacientes com vertigem posicional
paroxística benigna (VPPB), informação importante para a escolha da manobra terapêutica apropriada1,5.
■ Nistagmo espontâneo
O nistagmo espontâneo é um movimento ocular rítmico e involuntário, com componentes lentas e rápidas em direções
opostas; por convenção, a direção da componente rápida indica a direção do nistagmo; suas características auxiliam no
topodiagnóstico de uma lesão vestibular periférica ou central4.
O nistagmo espontâneo é pesquisado no olhar de frente, com fixação do olhar (olhos abertos à ENG e VENG ou com
visão à VNG) e sem fixação (olhos fechados à ENG e VENG ou sem visão, com olhos abertos no escuro, à VNG). Sua
presença, direção, velocidade e concomitância ou não com vertigem são avaliadas. Pode ser horizontal ou horizonto
torcional em indivíduos hígidos, observado sem fixação do olhar, com velocidade inferior a 6°/s e, na fase aguda das
vestibulopatias periféricas, habitualmente a sua direção é oposta à do labirinto lesado e é reduzido à fixação visual, sendo
mais intenso com os olhos fechados do que abertos. Pode ser horizontal, horizontotorcional, torcional puro, vertical para
cima ou para baixo, oblíquo, com ou sem fixação, pendular (com velocidade semelhante nas duas direções), dissociado (é
mais intenso em um dos olhos ou tem direção diferente em cada olho), periódico alternante (muda sequencialmente de
direção) em lesões de tronco encefálico ou cerebelo1,2,14.
■ Rastreio pendular
Avalia o sistema visual de perseguição, que envolve a fóvea, vias subcorticais e corticais15. O paciente deve
acompanhar com os olhos, sem mover a cabeça, um movimento sinusoidal lento e contínuo de um alvo na barra luminosa
nas frequências de 0,1, 0,2 e 0,4 Hz. O tipo e o ganho do rastreio pendular são investigados. Pacientes desatentos, não
cooperantes e idosos podem apresentar respostas inadequadas. Na fase aguda das vestibulopatias periféricas, há
sobreposição do nistagmo espontâneo sobre a curva sinusoidal. Costuma estar alterado nas lesões cerebelares, de tronco
encefálico e de gânglios basais. Rastreio invertido, com sacadas na direção do movimento do alvo, ocorre nos nistagmos
congênitos1,2,14.
■ Nistagmo optocinético
O nistagmo optocinético é induzido pelo movimento ocular ao acompanhamento visual de pontos luminosos móveis
ou pelo movimento de um tambor raiado envolvente, com faixas brancas e pretas alternadas, com direção fixa para a
direita e depois para a esquerda, e velocidade de 20 ou 40 graus por segundo. São avaliadas presença, direção, velocidade
e simetria do nistagmo optocinético. Nas labirintopatias agudas, há abolição ou redução da intensidade do nistagmo
optocinético contralateral à lesão, por influência do nistagmo espontâneo. Nas lesões cerebelares difusas ou dos gânglios
basais pode ocorrer hiporreflexia bilateral; e, nas lesões parietooccipitais, hiporreflexiaipsilateral. Nistagmo optocinético
invertido pode ocorrer em pacientes com nistagmo congênito1,2.
■ Nistagmo per-rotatório
O nistagmo perrotatório é desencadeado quando as células ciliadas das cristas ampulares são estimuladas pelo
movimento da endolinfa nos canais semicirculares gerado pela rotação. O nistagmo perrotatório pode ser investigado
sem fixação do olhar; com fixação do olhar em um alvo que se move simultaneamente com a rotação, para avaliar a
interação vestibulovisual; e, com estimulação optocinética concomitante; é horizontal à estimulação dos canais
semicirculares laterais; e, oblíquo ou vertical, dependendo da posição cefálica, à estimulação dos canais semicirculares
verticais.
Na prova rotatória pendular decrescente (PRPD), a cadeira rotatória é deslocada 90° do centro; depois de liberada,
realiza um movimento pendular periódico com amplitude decrescente. Para avaliar os canais semicirculares laterais, a
cabeça é inclinada 30° para frente; e, para investigar os canais verticais, por meio da VENG, 60° para trás e 45° para a
direita; e 60° para trás e 45° para a esquerda1,8.
Esta prova pode avaliar o estado de compensação labiríntica, baseada na ocorrência e evolução da preponderância
direcional do nistagmo perrotatório; identificar lesões do sistema canal semicircular posterior/nervo vestibular inferior,
quando há ausência ou diminuição de resposta em uma direção da rotação à estimulação dos canais verticais à VENG;
confirmar a arreflexia vestibular, quando ocorre ausência de respostas às provas calóricas convencionais e geladas com
água ou com ar; e observar o efeito da fixação visual. Na fase aguda das vestibulopatias periféricas, há sobreposição do
nistagmo espontâneo sobre o nistagmo perrotatório de mesma direção. Nas síndromes da fossa posterior, pode ocorrer a
ausência de efeito inibidor da fixação ocular, caracterizada por aumento da intensidade do nistagmo com os olhos abertos,
presença de nistagmo com os olhos fixos em alvo estacionário que se move com o paciente e sem a influência da
estimulação optocinética; e a abolição do nistagmo oblíquo à estimulação dos canais verticais, com preservação do
nistagmo horizontal à estimulação dos canais laterais.
■ Nistagmo pós-calórico
Nistagmo póscalórico é o movimento ocular desencadeado por uma estimulação labiríntica com água (ou ar) frio e
quente. O estímulo calórico produz uma corrente endolinfática na direção da ampola do canal lateral excitado (prova
quente) ou na direção oposta (prova fria), flexionando as células sensoriais da crista ampular e desencadeando o RVO que
resulta em nistagmo póscalórico horizontal, oblíquo ou horizontotorcional e em vertigem14,14.
A prova calórica avalia cada labirinto separadamente e permite reconhecer o lado acometido e caracterizar a
intensidade da lesão vestibular14. É realizada com o paciente na posição supina, com a cabeça elevada 30°, para que os
canais semicirculares laterais estejam verticalizados, com a ampola para cima. Cada orelha é estimulada separadamente.
O tempo de estimulação é de 30 segundos na prova com água a 44 e 30°C; de 60 segundos, na prova com ar a 50 e
24°C16. Na prova com água é recomendável fazer um intervalo de 5 minutos entre o final das respostas em uma
estimulação e o início da seguinte. Na prova com ar, o intervalo a ser observado deve ser de 3 minutos. É importante
pesquisar a presença de nistagmo précalórico na posição em que a prova é realizada, pois este fenômeno pode interferir
na direção e na intensidade do nistagmo póscalórico. Devese manter o nível de alerta do paciente por meio de cálculos
ou conversação, evitando a inibição cortical sobre as respostas1.
São analisadas a direção e a velocidade da componente lenta do nistagmo póscalórico do período de respostas mais
intensas, sem e com fixação do olhar para avaliar o efeito inibidor da fixação ocular, e são calculados os valores de
predomínio labiríntico e de preponderância direcional10. A prova calórica gelada pode confirmar uma arreflexia ou uma
hiporreflexia severa, quando as respostas estão ausentes às temperaturas convencionais ou há dúvidas quanto à presença
de respostas, devido à superposição de nistagmo espontâneo17,18.
As vestibulopatias periféricas ou centrais podem evidenciar alterações do nistagmo póscalórico, como hiporreflexia,
em que há redução uni ou bilateral da resposta; arreflexia, quando ocorre abolição uni ou bilateral da resposta às
temperaturas convencionais e na prova gelada; preponderância direcional, quando a intensidade do nistagmo em uma das
direções é maior do que na direção oposta, consideradas as quatro estimulações; e, hiperreflexia, quando o nistagmo é
muito intenso em todas as estimulações16. A hiporreflexia e a arreflexia do nistagmo indicam o(s) lado(s) lesado(s). Nas
vestibulopatias periféricas, as respostas com fixação do olhar (olhos abertos) devem ser pelo menos 40% menos intensas
do que sem fixação (olhos fechados)1.
A lesão do sistema nervoso central pode revelar alterações patognomônicas à prova calórica, como ausência do efeito
inibidor da fixação ocular nas lesões da fossa posterior, que envolvem o cerebelo; perversão, quando ocorre um nistagmo
vertical em vez de horizontal, indicando lesão dos núcleos vestibulares; inversão, em que o nistagmo ocorre nas direções
opostas às esperadas em todas as estimulações, revelando lesão dos núcleos vestibulares; e abolição da componente
rápida, na lesão de tronco encefálico1.
► Posturogra�a
O equilíbrio corporal pode ser investigado, com o indivíduo em pé ou à marcha, de olhos abertos e fechados e às
posturografias estática e dinâmica.
A posturografia analisa o impacto dos estímulos visual, somatossensorial e vestibular sobre o controle postural23. As
posturografias estática e dinâmica permitem a caracterização do estado funcional do sistema vestibuloespinal24. São
indicadas em pacientes com tontura, desequilíbrio e quedas e são úteis para monitorar a evolução do tratamento das
vestibulopatias17.
A posturografia estática com realidade virtual do Balance Rehabilitation Unit (BRUTM), Medicaa25, indica a posição
do centro de pressão do paciente em diferentes condições sensoriais (sobre piso firme e instável; de olhos abertos e olhos
fechados; aos estímulos sacádicos, optocinéticos; e à estimulação optocinética associada a movimentos lentos e uniformes
de rotação da cabeça), por meio da medida da área do limite de estabilidade, área de deslocamento do centro de pressão
(área de elipse) e velocidade de oscilação. Para determinar o limite de estabilidade, o paciente deve deslocar o seu corpo,
o máximo que conseguir sem perder o equilíbrio, nas direções anteroposterior e laterolateral por meio da estratégia de
tornozelo, sem movimentar os pés e sem utilizar estratégias de tronco e/ou quadril. Para determinar a área de
deslocamento do centro de pressão (área de elipse) e a velocidade de oscilação, o paciente permanece em posição
ortostática, sem movimentar os membros superiores, calcanhares e pés, por 60 segundos em cada uma das condições
sensoriais. Ainda não foi determinado um padrão de referência baseado em resultados de indivíduos normais. Indivíduos
com controle postural normal apresentam ampla área de limite de estabilidade, pequena área de deslocamento do centro
de pressão, contida na área de estabilidade, e baixa velocidade de oscilação. Valores aumentados da área de deslocamento
do centro de pressão e da velocidade de oscilação em todas as condições indicam inabilidade para manter o controle
postural, em uma ou todas as condições sensoriais: com e sem privação da visão e sob conflito visual, somatossensorial e
de interação visuovestibular.
A posturografia estática do Tetrax Interactive Balance System, Sunlight Medical Ltd.26, avalia o equilíbrio corporal
por meio dos índices de risco de queda, estabilidade, distribuição de peso, sincronização da oscilação postural
direita/esquerda e dedos/calcanhar; e das faixas de frequência de oscilação postural (F1, F2F4, F5F6, F7F8)26,27. Uma
plataforma com quatro placas independentes afere as variações de pressão dos dedos e calcanhar de cada pé, dos
calcanhares e dos dedos dos dois pés e de cada calcanhar e dos dedos do pé contralateral durante 32 segundos em cada
uma de oito condições sensoriais, com o paciente em pé em posição ortostática, com os braços estendidos ao longo do
corpo: superfície firme, com olhos abertos e fixos em um alvo à frente; superfície firme, com olhos fechados; superfície
instável, com olhos abertos e fixos em um alvo à frente; superfície instável, com olhos fechados; superfície firme, com
olhos fechados e a cabeça virada 45° graus para a direita; superfície firme, com olhos fechados e a cabeça 45º graus para a
esquerda; superfície firme, com olhos fechados e a cabeça inclinada 30° para frente; superfície firme, com olhos fechados
e a cabeça 30° para trás.
O índice de risco de queda é variável entre zero e 100. É classificado como baixo (valor entre zero e 36), moderado
(valor entre 37 e 58) e alto (valor entre 59 e 100); quanto maior o escore, maior o risco de ocorrerem quedas.
O índice de estabilidade é determinado pela quantidade de oscilação das quatro plataformas dividida pelo peso do
paciente; quanto maior o escore, maior a instabilidade. Indivíduos hígidos apresentam um valor entre 7 e 26%.
O índice de distribuição do peso é aferido em cada uma das quatro plataformas. Em indivíduos hígidos, esperase que
os escores de cada plataforma sejam aproximadamente de 25,0% e que o índice esteja entre 4 e 6; valores muito baixos,
próximos de zero, sugerem rigidez postural e valores altos, inabilidade para manter o equilíbrio corporal.
O índice de sincronização da oscilação postural é o resultado da correlação entre a oscilação dos dedos e do calcanhar
de cada pé, entre os dois calcanhares e os dedos dos dois pés e entre cada calcanhar e dedos contralaterais. As
sincronizações avaliam a coordenação e a inervação do sistema motor dos membros inferiores. Em indivíduos hígidos, os
valores são simétricos e estão próximos de ±700 (entre ±1.000); valores baixos (entre zero e 200) indicam
dessincronização e sugerem comprometimento dos mecanismos de controle postural.
As frequências da oscilação postural, medidas por meio da transformação de Fourier, avaliam a intensidade da
oscilação postural em um espectro variável entre 0,01 e 3,0 Hz, subdividido em: F1 (0,010,10 Hz), F2 (0,100,25 Hz), F3
(0,250,35 Hz), F4 (0,350,50 Hz), F5 (0,500,75 Hz), F6 (0,751,00 Hz), F7 (1,003,00 Hz), F8 (3,00 Hz e acima) e
agrupado pelo programa em quatro faixas de frequências: F1 (Baixa), F2F4 (MédiaBaixa), F5F6 (MédiaAlta) e F7F8
(Alta), representando o emprego de subsistemas posturais diferentes. Excesso de oscilações sugerem tentativas de
compensação ou doença. Oscilações preponderantes e de alta intensidade em F1 indicam controle postural; em F2F4,
distúrbio vestibular periférico ou estresse postural moderado; em F5F6, reações somatossensoriais mediadas pelo sistema
motor dos membros inferiores, espinhal e da coluna vertebral dorsal; e, em F7F8, comprometimento do sistema nervoso
central.
A posturografia dinâmica, EquiTest da NeuroCom International, avalia o controle postural por meio da medida do
centro de pressão (COP) e da utilização destes dados para calcular a oscilação do centro de massa, analisando as
informações visuais, proprioceptivas e vestibulares, sua interação central e as respostas motoras dos membros inferiores e
do corpo. O equipamento tem em seu banco de dados padrões de referência relativos à idade (3 a 79 anos), gênero e
altura17 e permite realizar vários tipos de testes.
No teste de organização sensorial (SOT), o paciente em pé em posição ortostática, com os braços estendidos ao longo
do corpo deve manter o equilíbrio do corpo em seis condições: olhos abertos sobre plataforma fixa, olhos fechados sobre
plataforma fixa, estímulos visuais sobre plataforma fixa, olhos abertos com estímulo visual fixo e plataforma em
movimento, olhos fechados e plataforma em movimento e olhos abertos com estímulos visuais e movimento da
plataforma. Cada condição é repetida três vezes para determinar o desempenho médio em cada condição e calcular um
escore de equilíbrio, em porcentagem, que representa a oscilação (excursão máxima do centro de massa) no plano sagital
em cada repetição das diferentes condições. Estas seis condições permitem avaliar a habilidade para utilizar, em conjunto
ou isoladamente, as informações visuais, proprioceptivas/somatossensoriais e vestibulares de modo funcional, permitindo
acompanhar a evolução do quadro clínico, o processo de compensação, o risco de queda, a estratégia preferencial
utilizada na manutenção do equilíbrio e o alinhamento do centro de gravidade. Indivíduos hígidos podem apresentar 12,5
graus de oscilação anterior/posterior sobre a articulação do tornozelo, tipicamente 8 graus para frente e 4,5 graus para trás.
O Quadro 23.1 apresenta os padrões anormais mais comuns do teste de organização sensorial e a dificuldade do paciente
em manter o controle postural, de acordo com as condições sensoriais alteradas.
Quadro 23.1 Padrões anormais mais comuns do teste de organização sensorial e di�culdade do paciente em manter o controle postural, de acordo com as condições
sensoriais alteradas.
Disfunção somatossensorial e vestibular 2, 3, 5 e 6 Ao usar a informação da superfície de apoio dos pés com
a informação vestibular ou usar exclusivamente a
informação vestibular
Quando o SOT está dentro dos limites normais, o teste de organização sensorial com agitação cefálica, nos três planos
de movimentos da cabeça, com os olhos fechados, sobre plataforma fixa e móvel, pode sensibilizálo, avaliando, assim, a
habilidade para manter o equilíbrio corporal quando são requeridas informações precisas do sistema vestibular.
O teste de controle motor avalia a habilidade para recuperar prontamente o equilíbrio corporal diante de um estímulo
externo inesperado, representado por translações horizontais anteriores e posteriores da plataforma em três intensidades,
com o paciente de olhos abertos. Medese o tempo necessário para ativar a recuperação da posição do centro de massa
sobre a base de suporte (latência); resistência em função da intensidade da perturbação; e a distribuição de peso sobre a
perna direita e esquerda. Anormalidades da latência podem indicar distúrbios na via que se inicia com estímulos da região
do tornozelo, projetase ao córtex motor e retorna aos músculos responsáveis pelo controle postural ou a necessidade do
sistema musculoesquelético de recuperarse de oscilações induzidas inesperadamente no plano sagital.
O teste de adaptação afere a habilidade para adaptarse ou desenvolver estratégias para a manutenção do equilíbrio
corporal diante de superfícies irregulares ou com variações de apoio nas condições de dedos do pé para cima e para baixo.
O paciente, com os olhos abertos, deve manter o controle postural diante de rotações súbitas e aleatórias da plataforma.
O teste do limite de estabilidade indica a habilidade para mover o centro de massa corporal e manter o equilíbrio sem
mudar a base de suporte. O paciente, em posição ortostática, é instruído a inclinarse em oito direções ao redor de seu
eixo, o máximo que for possível, sobre a articulação do tornozelo, sem dar um passo, estender a mão ou flexionar o
quadril, assim que ouvir um apito ou ver um cursor no monitor à sua frente. Um ícone colorido indica a direção que deve
seguir. Avaliamse tempo de reação, velocidade do movimento, alcance do alvo, excursão máxima e controle da direção
do movimento.
► Conclusão
A história clínica e a equilibriometria, que pode incluir ENG, VENG ou VNG, vHIT, teste da visual vertical subjetiva
e posturografias estática e dinâmica, permitem confirmar o comprometimento funcional do sistema vestibular periférico
ou central, estabelecer o prognóstico, orientar o tratamento e monitorar a evolução dos pacientes com distúrbios do
equilíbrio corporal.
► Glossário
► Avaliação otoneurológica. Conjunto de procedimentos que podem reconhecer, localizar e quantificar alterações
das funções auditiva e vestibular.
► Canais semicirculares lateral, posterior e anterior. Estruturas labirínticas tubulares sensíveis aos movimentos
angulares da cabeça.
► Crista ampular. Receptor sensorial dos canais semicirculares lateral, posterior e anterior, sensível às acelerações
angulares.
► Cúpula. Massa gelatinosa envolvendo os cílios das células da crista ampular.
► Ductolitíase. Restos de estatocônios provenientes do utrículo que flutuam na endolinfa dos canais semicirculares
posterior, lateral ou anterior.
► Eletrodos. Dispositivos que captam o potencial corneorretinal e possibilitam a gravação dos movimentos oculares à
ENG e à VENG.
► Eletronistagmografia (ENG). Procedimento que registra os movimentos oculares na avaliação da função
vestíbuloocular.
► Endolinfa. Líquido encontrado no labirinto membranáceo.
► Equilíbrio estático e dinâmico. Estado do equilíbrio corporal com o indivíduo de pé e à marcha.
► Estatocônios. Cristais de carbonato de cálcio encontrados normalmente no utrículo e no sáculo e anormalmente nos
ductos semicirculares do labirinto.
► Ganho. Relação entre a velocidade dos olhos e a velocidade do estímulo nas provas de rastreio pendular, optocinética
e rotatória.
► Lentes de Frenzel. Lentes de 20 dioptrias que retiram a fixação visual e ampliam a imagem dos olhos, para facilitar
a observação do nistagmo e outros movimentos oculares em diversas provas vestíbulooculomotoras.
► Nistagmo. Sucessão de movimentos oculares com componentes lentos e rápidos alternados.
► Reflexo vestíbuloocular. Reflexo que produz movimentos oculares.
► Referências bibliográ�cas
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