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tradugao, mas ler a Bi tores capazes de ler Ant 0 6, em hebraico caonaihistériadahumanidadevareatmentee Bmieest ‘raduridaseme2283ekinguast Nenhum outro texto de,’ :ia é enunciado em tantos idiomas. A di- de Alexandria traduz para o grego a Biblia dos Setenta € para torné-la acess miimero possivel, 0 que implica recorrer E por razécs analogas que 0 Novo ‘lestamento ser redigido em grego e nao na lingua do Cristo, o aramaigo. Inteiramente traduzidos ou redigidos em grego, 05 textos hnblivos serao, por sua ver, traduridos para 0 tim, ate se tornara a kingua dor A primeira funca dem prética: sem ela, a comunicagao fica comprome- tida ou se torna impossivel. Vemos imediatamente ULReBS BL ger ; $ que podemos extrair dessa faculdade: de principes no Egito, =? 1 que eles podiam a assumir em matéria de diplomacia. EE on 3 fos) para uma lingua ia chegado a farads teria permanecido, sem divida, tio impenetravel quanto a dos etruscos ‘Uma lingua que nfo se consegue mais traduzir é uma ngua morta, antes de a tradigdo vir a ressusci 1 é a questo da ry "WADUGKO - HISTORIA, TEORIAS & METODOS traducao que pressupde do hebraico, mas que vai dar, em portugues, num dis- parate, A Biblia de Je traduz: eles aban resultado absurdo, quaisquer que sejam as linguas considerad imas ou distantes. Seif.’ % davidarinfinitamente mais@ifiel’pareumfalantedy Portugues brasileiro ou do francés aprender 0 hebraj. © co-do que 0 inglés ou 0 espanhol, mas a traducao nao | ~ poderia ser-reduzida, como vemos trequentemente, a = ‘essainica dimensio Linguistica. Segundo essa conceps 5 «Ao, hastaria Ser. ao miesmo tempo, um bom linguista ~ para conhecer “lingua de partida” (0 hebraico, otf 2 qualquer outra:tingua)"e dominarsuficientementeta ., uae chegada’ (em nosso-casoyo,portugudssbrae | radugao que representa — lenteesem considera itp S fator, vinculado aos anteriores is versoes de um mesmo te: tradugdes dadas por Henri Mesch o hebraica, a de Ch das fumacas .€.a do proprio Henri rem q pode se lancar & tradu- ‘A. competéncia dos tradutores nao esti ‘em causa na multiplicacao das variantess Realmente, essas variagdes ‘como também destaca TRADUGAO HISTORIA, TEORIAS € METODOS i mal”). A versio latina contém “a sombra da morte”, io “o vale”, a versio alema contém o “vale”, sombra da morte”, enquanto a versao inglesa contém os dois’. Diante dessas diferengas, podemos adotar varias atitudes. A primeira consiste em concluir pela intra- duzibilidade radical de toda lingua por outra. Para os mugulmanos do mundo inteiro, 0 Corao nao deveria ser trad} io. Podemos também lade das Iinguas tendo-se a c que qualquer outra forma de acesso, existam tradugdes que todos concordem em ae ¢ 3 < e 4 : 3 é ¢ em-vernarcdiversidade das linguas-qualquer-coisa, | menos um dado ne; DWVERSIOADE OAS LINGUAS, UNIVERSALIDADE DA TRADUGKO ” Jacques Derrida‘. A questo da estd para o inglés assim como o portugués esté para o espanhol ou 0 holandés para o alemao, ou até mesmo dinamarqués para 0 sueco) e que desfrutava de um arde figura no Bureau européen des langues [European Bureau for Lesser-Used entre as cerca inguas que devem ser protegidas no seio que representa tit problema de vulto quando pensamos que 96 % das linguas existentes sa faladas porapenas# 4rd populacto do-globorAsex- ish in and furth Languages of 18 TRADUGKO - HISTORIA, TEORIAS E METODOS ‘sto completamente relativas: a equagao pode muito bem se inverter, a depender da época consideradd! pire Beniamin Lee Whort no sécilo seguinte e que veio a dar naquela que costumamos chamar a hipotese “Sapir Whort internacionais, com pergunta, feita pelo est ri, merece ser respor em gres trando que em presenga forem Us paz de evocar a hega- ‘mesma coisa que 0 o1 8 linguas, essa nuance exigem que comecemos pela qui . eet i a ; a 20 “TRADUGHO - MITORIA, TEORIAS € METOOOS (meio) ¢ “gu6’ ou, como se di pério do Meio”. O poder de evocacdo de “Chi “chongguo” nio é, entio, completamente semelhan- te, Jacques Derrida assinala, mas em um quadro de indlise diferente, que “Babel” ndo é apenas um nome proprio, porque ele também significa “confusti Benveniste demons- trou que as categorias de a teles, enquanto “cate- gorias de pensamento”, sio manifestamente o espelho das categorias da lingua grega: tir de um verbo greg presente nas outras linguas indo-europeias. Mas 0 que teria acontecido, questiona-se Emile Benveniste, se Aris se expressado em uma lingua semethante a 1966, p. 70. DIVERSIDADE OAS LINGUAS, UNIVERSALIDADE DA TRADUGKO 2 10 quer dizer que Ari: ‘les nao teria conseguido mceber sua filosofia se 0 grego obedecesse a outras , mas que ela teria tomado caminhos dife- is: i Lingua dé forma ao pensament Portanto, a Linguamndonéoumpsimplessinstrumep- "to, uma operagao intransitiva entre 0 pensamento™ suamexpressio: Tomar consciéncia dessa densidade 3 da lingua certamente ndo estava ao aleance da Grécia antiga, visto que ela possuia uma “visio de mundo’ k Humboldt, figura emblematica dessa posicao. ‘Ao retomar uma distingao aristotclica, W. vo ingua nao é um “er que encontramos ‘A mais fundamental é, ni te: ndo existe tradugdo “net jo da ta ¢ tradugao devem ser situadas serem muitas, falta as ‘A diversidade, na tera, dos idiomas impede toda pessoa de ras que, de outro modo, se encontrariam, por ‘IVERSIDADE DAS LINGUAS, UNIVERSALIDADE DA TRADUGAO Vee, iquogim Vidpee, cre ala tne ‘A tradacao, operigao fundamental da linguagem jadugao-anteriingual”, de usa. para sdugio propsiamentesditayer*ttt- los signos linguisticos por meio d nagdinguisticast De fendmeno parte: ela serd exami mm esclarecer desde ji Pa ‘TRADUGKO HISTORIA, TEORIAS € METOOOS Jakobson parece limitar seus exemplos ao dor artistico, onde i passar “da art cinema ou Por meio dele, a obra Pontoc inka sobre pode ser lida como um verdadei & tratado de “traduca cias, esquemas de apoio, entre as diferentes artes” Mais fundamentalmente, \podemos < lar que 0 Senitido de um Signo € Sua traducao por outro & signo, pouco importa que ele seja visual (lingua esc @ ta ou “lingua de é © (alfabeto braile) e sistemas de signos a0 mesmo temp dimensao, sempre presente, aparece idade toda particular no caso da tradu- DIVERSIOADE DAS LINGUAS, URIVERSALIDADE DA TRADUGKO Fa de seu ser sio exploradas: canto linear efiguracdo espacial, {estos encantatérios ¢ falas visualizadas™. io do estudo de seus signos, a semis *, Roman Jakob- de traducdo atualmente disponiveis Ihe sio devedores. Mas, mesmo tendo mareado época, cle taunDem ficou day ‘ado: tributirio das concepedes da época, os avangos da Linguistica operados a partir de entao sao tantos que boa © parte das andlises desses autores estavam condenadas ‘RADUGAO - HISTORIA, TEORIAS € METODOS tic Aspects of Trans mente ao mesmo tempo), Vinay e Darl nd de Saussure. A: a tradugao esto praticamente aus« do CLG, novos precisa ser elaborados, entre os quai é 0 das “unidades de tra evidencia Saussure, a “delim ias unidades é fundamental: contrariamente & ‘opiniao corrente, ela ndo deveria se reduzir a fazer das “palavras” as unidades bdsicas. Com efei cepeao dessas tem como consequéncia fa jes “nomenclat ‘mos eorrespondente a nogio de “palavra” tem de ser levac Seria necessirio pesquisar sobre qu — porque a palavra, a des mos para defini, é uma unidade to, algo de central no mecanismo da Em tradugio, ni esses trés termos sendo lentes”, Desse modo, eles chegam & seg = CLG, p.97. DWVERSIOADE OAS LINGUAS, UNIVERSALIOADE DA TRADUGKO 2 Poderiamos ainda dizer que Wumidadesdestraduiioxtrone- ‘nor segmento:do'enunciadocom ma coesio-de signos tal qupelesnfor even sor tretoridow separeatCnte™ ‘Vamos dar um exemplo concreto, o da citagao de ygrafe para este capi- of words”. A chegamos a “Nimrud’s ‘of / words", Se a compararmos a jaca brasileira, encontramos a mesma divi e Nimrod les 10”) no mesmo jecupagem” da_realidade] essas cotrespondéncias fo sistematizaveis. O mesmo método pode, entlo, ser 2 TRADUGKO TORIA, TEORIAS € MErODOS A despeito de suas vantagens de uma abordagem desse tipo suscita d grandes ientes. O primeiro é aquele que consiste en inguisticos nulada por Ed- (O segundo inconveniente é deixar de ter na devi- da conta a nogao das “unidades ling prio Ferdinand de Saussure. Os Escritos de lingutstica ‘eral (ELG), publicados or 2002, acentuam todo o tempo a importin algo além das diferen agin, 56a dite Sem dhivida, a nogdo de “unidade recerdi abstrata ¢ dificil de delimitar, mas encontré-la quando se trata de estabelecer “unidades de leitura” em um texto, que sio chamadas por Roland Barthes de “lexias”: Essa decupagem, ria [..] A Jexia compreenderé ora po wve-se dizé-lo, se DIVERSIOADE DAS LINGUAS, UNWERSALIDADE OA TRADUGRO 2 icas, ser intervir apenas unidades simples. Mas nio se pode es- ia compreender por que a ede apreendé-la puderam va- (4 rmaDUGto “APITULO II: HISTORIA DA TRADUGAO. mascarar as sobreposigdes que vinculam as épocas tre si, de onde a necessidade de recorrer a uma apre- do que seja mais tem Os problemas de hoje sao muito claramente (98 mesmos que se apresentaram ontem. As respostas é ‘que variam. dat ¢ que vem as. tradueao que toi possivel const 1. O espirito ea letra 2 TRADUGKO - HISTORIA, TEORIAS E METODOS profanos nao é, to literal nunca foram negligenci efetuadas pelos romanos remontam ao século TH Eu nao as fz como simples trad como orador (sed termos adaptados a nossos costumes latinos. Por isso niio considerei necessério verter toda palavra por uma palavra rhum reddere); contudo, naquilo que diz respeito ao génio de todas as palavras ea seu valor, eu 0s conserve Realmente, acreditei que aquilo que importava para o itor tradugdo: em primeiro lugar, aquilo que poderiamos chamar de a tradugao propriamente dita, a que € fei ‘Tradugio francesa LDépré, Theories et pratiques isrOmA OX TRADUGKO 2 Com isso, ele faz essa forma superior de traducdo pas- sar para campo da ret6rica — e, mais exatamente, da io, Traduzindo em termos modernos, diriamos, ie que se trata de adaptacao, e nao mais de traducao, de westida em Roma, funcio mente diferente daquela que ela podia ter no do grego. A partir da morte de (Alexandre (323 ‘lenistica € tamanha naturalmente do he- a pedra de Roseta, : ¥ Py swaoucKo - WistORIA,TEORIAS € METODOS para além dela, O termo “adaptagio” pressupde uma {ingua literdria plenamente constituida, algo que cialmente e em comparagdo com o grego, a Kingua la tina nao era. ‘Uma vez, concluida essa gestacdo, 0 termo “bi- Tinguis", ¢ 0 que Claude Hagege destaca, torna-se um termo pejorativo, sentido que, por sinal, ele guarda em francés medieval’: 0 grego vai sendo, pouco @ pouco, abandonado, em proveito exclusive do latim. Um ciclo desses nio : mos numero- sos exemplos dele ma hist tna semethante ao que vamos reencontrar no Renasci- mento, quando, dessa vez, é 0 latim que se vé suplan- tado pelas linguas vernaculares. Na Franga, vé-se wma multiplicagao das tradugdes das linguas classicas para 6 francés e de “imitagbes” dos modelos nos, até mesmo italianos, fe fecenvolviniento da tipografid. Também vemos Joa- chim du Bellay, em Defense et illustration de la.lan- ‘que francaise (1549), desenvolvendo {que retoma o racioesnio de Cicero, aplicado a lingua nacional: a imitagdo dos antigos nao deve ser servi tla deve ser feita a servico da lingua francesa, igual, quando nio superior a todas as outras. A época que $e a instauragio do francés como a tinica lingua do reino (ordenanga de Villers-Cotteréts, 1539) € a mes: rma na qual, por meio da traducao, sao feitos n fmpréstimos das Linguas estrangeiras, isso quando imitagdo direta, por sinal, TOMA OA TRADUGHO a 3s 1d nao hesita em recomendar em seu Gpue tique (1565): “Tu comporis palavras intrepi- a imitagao dos gregos, ¢ latinos’ se terceiro aspecto da tradugio, que nao se sita em “verter” palavra por palavra (*verbum de verbo"), ou sentido por sentido (“sensum exprimere dle sensu"), mas ainda se permite transformar delibe- lamente o texto original no quadro da “imitacdo”, ideia que habitualmente fa- nesse sentido que Jacques Jo das Vidas paralelas co (1559), em ver de traduzir 0 grego “este- pela tradugao literal “adornados de flores”, ‘Com chapéus de flores em nossas cabecas”; vex de se contentar com: alma esta encerrada iho que roda sem cessar em la necessidade de alimento”, ele traduz: “A alma uitos esta escondida e contrafeita pelo medo de falta, dentro do corpo, como: dentro de um moi- girando sempre em torno de uma mé depois de perseguir algum alimento”’. As transformagdes intro: a uma légicaque Antoine Berman ‘classifica como a “visada tradutéria” do Renascimento esclarecimento ea adaptago considerado como um ‘tesou- wana rer 0 RoHS UF ‘RADU - HISTORIA, TEORIAS E METODOS ro" que é preciso anexar lingua e & cultura nacionai Para compreender a tradugdo em toda a sua diversida- de, nio basta opor as “palavras” aos “sent 2. As belas infiéis Nessa mesma época, na Inglaterra, a situacio semelhante, com uma diferenca a ser notada: o fran- cés, por sua irradiagio, desfruta de um prestigio com- pardvel ao do latim e do grego. A tradugio a partir do francés constitui uma soma de obras consideravel. gumas marcam época: €0 caso da tradugao dos E de Montaigne por John Florio em 1603. Ela é destacada so The Cambridge History of English and Ame erature (CHEAL) em 18 volumes’ (0 volume consagrado aolperiod6 elisabetano, comeca dedican Jongos capitulos a questao da tradi John Floriomno texto de Montaigne parecem-se com as {que Sio introduzidas por Amyot em sua traducio de Plutarco. Para traduzi 0 equivalente “and I never can fadge | = ‘do’| wel American L ieby.com/cambridge > je ne peux jamais bie ‘Bxemplosdados por Charles Whible 1k DA TRADUGKO io, a mais célebre das tradugées elisabeta nas nao é essa: é, em todos os aspectos, a tradugdo de o feita por Thomas North, Lives of the Noble is and Romans (1579), na qual Shakespeare 1c era acusado por seus detratores de nao conhecer . muito menos o grego) se ins- s. Pelo fato lominar o grego, North faz sua tradugao a par- das Vidas paralelas de PTuitarco feita Pritica comum na época: gua que mais que terd per- lo aos classicos penetrar na lingua e na literatura the avenue through which many of the passed into our language. a tradugio de Amyot serve de m valor de modelo no qué se refere a lingua dou com razio, me parece, a palma a wot, sobre todos os nossos escritores fran- Nos, outros ignorantes, estariamos perdidos veo ndo nos tivesse tirado do impasse; gragas a ion et le » “RADUGKO HISTORIA, TEORIAS F METOOOS Looking into Chapman's Homer (“vendo pela primeira vyex.0 Homero de Chapman”), composto em 1816. Com leito, o que vemos nas tradugBes da época é o inglés lisabetano se configurando diante de nossos olhos. Poderfamos dizer a mesma coisa das traducdes nna Franga, assim como nos outros paises na época do Renascimento, Trata-se da consequéncia do principio que Amyot epuncia nos seguintes termos: ofico proprio de um traduto ..] no esti apenas em ver ter fielmente a sentenca de sew autor, mas também em incor porar a forma de seu estilo e sua mancira de falar Nao poderfamos exprimi-lo mais claramente: @ fidetidade”, necesséria, nfo é suficiente. E indispen- sivel acrescentar-Ihe a beleza, sem a qual a traducio estaria condenada a exclusdo do campo das letras. (0 que vale para a linguagem literdria vale tam- sm para a Kingua como um todo, Efetivamente, a tra- dugao permite a compreensio de um néimero maior d pessoas: Erasmo € o primeiro a desejar ver 0s texte Sagrados traduzidos, Lutero seré seu primeiro grande artesio. Lutero afirma, com efeito: Nao 6 as palavras da lingua latina que devemos perguntar como se deve falar alemio, como fazem esses asnos; mas € Amie em seu lr, as criamgas nas ruas, 2o homem do povo na praca do mercado que & preciso pergunta, le 1ébios como eles falam,e é depois disso que se deve 7 Apud Bamond Cary, Les as francais. Geneve: Georg, 1963, . 17. rom 0A TRADUGAO porque assim eles compreenderd e se dario conta de que Ihes estamos falando ‘A traducdo da Biblia por Lutero foi além disso: ela resenta o registro de nascimento da lingua alema, nesmo que Dante representa para a lingua italiana Diferentemente de Dante, que defende 2 causa expresso em “lingua popular” em De vulgari elo- ‘entia (1303-1305) e no decorrer de sua obra, Lutero ja a lingua alema no decorrer da traducio: como se dda Biblia, é evidente que a parte de “invengaio” essuposta pela imitario dos latinos ndo tem vez. nguém aventaria “transformar” a palavra divina, ‘que, a época, levava diretamente a fogueira, des- reservado a Etienne Dolet, enforcado e queima- 46 na praca Maubert, em Paris. Poderiamos, intemente, pensar que a exigéncia de litera- se situa acima de qualquer outra considera Durante a maior parte da Idade Média, alis, era maneira mais difundida de traduzir os text ‘sos, mas também os textos seculares. O Renas- ito toma o partido contrario, por conta da falta das tradugdes feitas dese modo”. Como » iio desconhecia o preceito de sio Paulo: “A letra mata, mas o espirito vi (2 Corintios 3,6), lama tradugio “literal” ndo deveria se reduzir ao est ra por palavra, como fazia so Jeronimo. Com rutero escreve em 1530: “Eu ndo me afastei rRaoUcKo - HISTORIA, TEORIAS E METODOS muito deliberadamente das letras, antes tomei o maior ‘uma passagem, para ficar tio préximo quanto possivel etras, sem delas me afastar muito livremente fi alema, antes que me al semelhantes aos que se reencontram em na Authorized Ela é publi 1611, mas, na realidade, € obra essencialmente de William Tyndale (enforcado e queimado por heresia em Antuérpia em 1536, onde se refugiara), Tanto quanto Lutero, ele tem a intengao ¢ ser entendido por todos ¢, em vez de traduzir a partir da Vulgata, como Wyclifo fizera no caso da primeira Biblia traduzida para o inglés e publicada em 1388, Tyndale consulta os textos originais hebraicos € gr gos. Tyndale considera que o grego est mais e monia com o inglés do que com o latim (“T ‘agreeth more with the English than with the hebraico, ele combi inglés (“And the properties of the He- brew tongue agreeth a thousand times more with the q passagens” basta traduzi-lo “palavra por palavra” em inglés (“The manner of speaking is both one, so that ina thousand places thou needest not but translate it ish word for word”)*. O raio de influén- cd Version sobre a lingua ¢ a literatura Won TRADUGAO cio sobre todo 0 povo é imensa. Sua prosa compacta, is aproximada do estilo oral que dos eseritos latinos, a iqueza de suas imagens, que um erro aqui e acolé transfor. ngulares ou misteriosas, marearBo muitos produtos ide a vida serd frequentemente Se olharmos para 0 Renascimento, até mesmo as icbes que precisaram ser mais fis tém a virtude de os séculos XVIL ) , seguiindo Malherbe, que sistematiza e apura ncés, Vaugelas define o que deve ser 0 “bom uso” francés em suas Remarques sur la langue fray rard ao ver as tradugbes se 9 € se tranisformarem em “Be- Nicolas Perrot d’Ablancourt, em 1637, transforma auto- Ver Roger Zuber, Les Mi 68, ranugAo = HISTORIA, TEORIAS E METODOS Je mais que a tradugio, ¢ 08 iis, também existem de- fensores da fidelidade ao texto. E 0 caso de Lemaistrey que estabelece a seguinte ret A ‘em nossa lingua tudo o que es aque se, por exemplo, Cero fal falado do modo como o fazemos fal A fi ao respeito ao est s de a tradugio “enriquecer”, gua francesa, que nessa época ja fora promo- ‘Vida & categoria de modelo insuperdvel do bom gosto © fosso entre 0s ai gard ® Antoine Houdar de la Motte, polém mente sera chamada de segunda querela dos Antigos ¢ * dos Modernos®. Seria bastante dificil criticar Houdar de la Motte por seguir Homero ao pé da ‘mais ampla escala: sua Iliade vyersos franceses” — 0 canto vitros enn 1714) desbasta alegremente o texto homért to, que passa de vinte € quatro para doze cantos, com stoma 04 TRADUGKO ro ficadas de supérfluas ou hesita em introduzir até em modificar 0 1s, entre outras: coisas”. gio de Mi ;mada de mais literal, ‘pensamos em prazeres...Na ilha anaoucKo ~ wIsTORIA, TEORIAS E METODS Se as transformagies introduzidas por Mme. Da cier hoje nos parecem tio estranhas e as de Houdar de fa Motte tio extravagantes, € porque elas nio seriam mais consideradas tradugDes propriamente ditas, esim adaptagées. A linha diviséria entre esses dois campos deslocou-se post tornando impensavel que alguém busque da tradugao, “embelezar” ow “‘orrigit” as faltas de estilo pretensamente presentes mero, porque isso passou a ser considerad » um atentado & obra em si. 3. A época contemporanea Em 1680, em seu prefiicio as Ovid's Epistles", Dryden dé uma definigdo decididamente noderna de traduugdo, em sua rejeicao da imitaca és formas de tradugdo: a p tifrase”); a seg ((nicialmente chamada de “pardt da simplesmente de ” no prefécio de 1697 a ‘suas tradugdes de Virgilio’ io” (posteriormente chamada de “paréfrase”) ‘A tradugao literal é re« hacada por referéncia a Hordcio e a seu “nec verbum curabis reddere, fidus 14 on rRADUGAO pres”, que ele cita na tradugao feita por Roseo Nor word for word too faithfully translat ilustragdo da melhor e tinica maneira ver de traduzir, a ir nem as palavras, nem o sentido, mas “se res [..] sdo tratados dessa maneira, no podemos ”, porque ve € quase a eriagdo de algo Isso significa assinar a se1 renga de morte das Be- ‘tad por Inés Oveki "TRADUGAO - MISTORIA, TEORIAS € METODOS to traduzido em comparacéio com O movimento de péndulo no rumo da imitagao estava concluido; ele passaré a vir no rumo oposto no século XIX, o século das tradugies literais. A mais ‘marcante é a tradugio de Paraiso perdido, de Milton, feita por Chateaubriand em 1836 e que em suas Ob- servacées indica sua recusa em efetuar uma traducao “elegante”, acrescentando imediatamente: uma tradugio literal na mais forte acepgo do termo a que eu empreendi, uma tradu Ninguém consegui “Bu decalquei Milton num espelho”, diz ele em uma formulagio marcante. Mas trata-se realmente, como pretende Chateaubriand, de uma tradugao “pa- lavra por palavra”? A resposta € no. Para convencer: -nos disso, basta comparar um extrato do original como His spear, to equal which the tallest Nonwe- anil tobe the mast / Of some great ammiral, were but a ‘wand, / He wall’d with to support uneasy steps / Overt burning mark com o texto de Chateaubriand: Alana de Sati (perto da qual o mais alto pinho cortado nas colinas da Noruega para sero mastro de alguma grande nau WisrORia 04 TRADUGKO “0 almirantanio passeria de um junco) servethe para frmar seus pasos nseguros na marga adente |. Uma tradugdo palavra por palavra, ao alcance de lquer pessoa munida de um dicionério, daria: 8, para igualar a qual o mais alto pinho / cortado nas norueguesas colinas para ser o mastro / de alguma grande nau nio passaria de uma varinha, / Ele andava com 1 penosos passos / Pela maga ardente A tradugio de Chateaubriand vai muito além palavra por palavra mecanico, como se vé na da Ilfada e da Odisseia, realizada mais tar- Leconte de Lisle, “gragas a literalidade mais losa”'. Na verdade, 0 empreendimento de uubriand aproxima-se da terceira modalidade de , distinguida por Goethe no Diva ocidencal- (1819) e que ele considerava a mais superior. tradugao de- que ela desempe- ‘em Roma ou no Renascimento distingue um ciclo de trés tipos 0 se limita a transmitir a obra tal se encontra na lingua driginal; é 0 que teria Lutero ao traduzir a Biblia. O segundo apresenta ¢ tal maneira que ela parece ter sido composta ingua da cultura receptora, a exemplo das elegantes xy: Presses de 'Universi Ver Antoine Berman, L’Eprenve de! ge romantique. Pars: 0 ‘nAougho - HISTORIA, TEORIAS € METOOOS tradugdes a francesa, quando a traducdo vem a subs- tituir o original. Na Alemanha, Wieland ¢ o p exemplo disso. O terceiro tipo é uma sintese tipos anteriores. A tradugio, nesse caso, nao est mais sino Tugar do” Canstatt*) original an der Stelle”) no permitindo ass para outra. E quando se produz um cruzamento ‘as duas Kinguas, um tertium quid. Chateaubri traduz: “Many a row / Of starry lamps / As from a sky” (livro I, 727-730) Viirias ‘a luz como um firmamento”®, sabendo pertinente- mente que “um firmamento ndo emana a luz, a luz ‘mana de um firmamento; mas traduza assim € o que se torna a imagem? Pelo menos o leitor penetra aqui no génio da lingua inglesa™. Para Goethe, a tradugao pode enti ser “idéntica” a0 origi ‘A terceira modalidade de traducao é a melhor, segundo Goethe, mas é também aquela que encontra a maior resistencia entre os leitores, com expressées idiomaticas estrang da Odisseia (1781) e da Ilfada (1793) efetuadas por Johann Heinrich Voss foram, de inic s com cceticismo, antes de passarem a ser co grandes traducdes. E necessério tradugées, ainda mais lite de esperar o século XX para serem re sronta 04 tRADUGKO sto valor. ‘Tanto quanto em Roma ou na época wal” era considerada de enriquecer a Kingua, a literatura e a anha, permitindo assim “fecundar 0 prio pela mediagdo do Estrangeiro” o balango seguinte: com ef terion E nos dias de hoje, o que ocorre? Essa afirmagio ser ainda mais fortemente matizada, .eiramente porque ainda encontramos no XX1 adeptos do “literalismo” na res (quase sempre tedricos) com » Paz, Haroldo de Campos ou Ff ieréria, deveriam-ser classificados na categoria cdo” no sentido eit que Dryden a entendis que podemos falar de vit6ria, temos mani mente, se no prestarmos maior atencao, a vit6ria 5” sobre o “Estrangeiro”; a tradugao repre- is de 2.a 4% das obras publicadas nos Esta- sRADUGRO - HISTORIA, TEORIAS E METODOS no de 14% na Alemanha, €239% no Brasil. Contudo, desde o final da Segunda Guerra Mundi fais traduzida no mundo. O desequilibrio € e 6 ainda mais agravado pelo fato de que a {lo-saxénico (menos em outros lugares, mas essa normas de legibilidade e de elegincia que d 10 de que aquilo que ele esta lendo foi \gua tradutora. Essa “transpa- réncia” reforca ainda mais o efei -mizador do. tetnocentrismo, em detrimento das culturas. A 5g, nesses tempos de gi tio que no deveria deixar ningu Em contrapartida, existe uma V XX marca 0 su influéncia s6 aumenta m mos mais bem apetrechadi ducio e seus desafios. Londres:

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