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Reconhecido por Decreto do Conselho de Ministros n.

º 26/07, de 07 de Maio de 2007

_________________________________________________________________________________________

DEPARTAMENTO DOS CURSOS DE CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

ANO LECTIVO 2022/23

Disciplina: Diplomacia e Negociação Internacional I


Docente: Msc. João Manuel Pedro
Ano: 3º
Carga horária: 09 aulas

UNIDADE II – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA DIPLOMACIA

2.1. Introdução
2.2. Breve historial sobre a origem das Missões Diplomáticas Permanentes
2.3. O Tratado de Westefália (1648) para a diplomacia moderna e seus
princípios.
2.4. O Congresso de Viena (1 de Outubro de 1814 e 9 de Junho de 1815),
conferência entre embaixadores das grandes potências europeias.
2.4.1. Directrizes e consequências do congresso.
2.5. O Reino do Congo
2.6. O Reino de Chinfuna de 1883
2.7. Conferência de Berlim 1884 – 1885
2.8.O Tratado de Simulambuco de 1885
2.9.Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas e Consulares.
2.9.1. Convenção de Viena de 1961
2.9.2. Convenção de Viena de 1963

1
NOTA OBJECTIVA
As aulas serão teórico-práticas através de leitura em
grupo, análise de texto e exposições realizadas em aula
pelos estudantes.
Para o efeito, o estudante deverá dominar as matérias
dadas e será convidado a exercitar a sua capacidade
de análise no sentido da operacionalização dos
conhecimentos, por via de questionário

2
INTRODUÇÃO

As exigências da leccionar nos cursos de formação e de aperfeiçoamento


profissional de diplomatas das matérias directamente relacionadas com o exercício da
profissão estão na origem da preparação do presente resumo referente ao capítulo II da
disciplina de Diplomacia e Negociação Internacional I, para o ano lectivo 2022/23, no
Instituto Superior de Ciências Sociais e Relações Internacionais – CIS.
A falta de textos adequados para cobertura de toda matéria a socializar tornou
imperiosa a elaboração de um resumo como esse que chegará as mãos do caro
estudante, de acordo com a sua principal finalidade, possui naturalmente um carácter
didáctico e prático.
A escassa bibliografia existente sobre as matérias tratadas e o curto espaço de
tempo em que foi elaborado o presente, tornarão claras algumas das deficiências que o
mesmo certamente apresentará.
O exercício da profissão diplomática, durante muitos anos é regulado pelo uso
internacional, regulado por várias convenções internacionais resultantes dos trabalhos
levados a cabo pela Comissão de Direito Internacional da ONU. O presente baseia-se
essencialmente nas disposições da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de
1961, da Convenção de Viena sobre as Relações Consulares de 1963 e da Convenção de
Viena sobre a Representação dos Estados nas suas Relações com as Organizações
Internacionais de Carácter Universal de 1975.
A diplomacia tradicional foi paulatinamente estruturada e desenvolvida, durante
séculos, desde a mais remota antiguidade. O surgimento da diplomacia se confunde com
o tempo histórico, no sentido de ser concomitante aos primeiros registos remanescentes
de história escrita, que se manifesta por meio de tratados e em diversas regiões do
mundo.
Foi na Mesopotâmia onde se concluiu o tratado mais antigo do qual se tem
registo. Trata-se do tratado entre Eannatum, soberano da cidade de Lagash e a cidade de
Umma, escrito em língua suméria e o qual fixava limites de fronteiras.
Na China, as práticas diplomáticas já alcançavam conteúdos complexos e
detalhados na Antiguidade, funcionando como uma das formas mais eficazes de diálogo
e contenção de conflitos entre os povos vizinhos. A influência confuciana também
esteve presente entre os povos vizinhos do império do meio, os quais desenvolveram
importantes institutos diplomáticos e aperfeiçoaram a criação de carreiras públicas

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mediante concursos periódicos para o recrutamento de homens de talento, inclusive para
a arte diplomática, assim como exigia a Dinastia Lý, no actual Vietname. Outros povos
igualmente forneceram aportes para o desenvolvimento histórico da diplomacia e todos
os institutos que a norteiam, como os povos islâmicos, os quais tiveram um importante
papel na contribuição da construção do direito das gentes e especificamente do direito
diplomático, mormente no que diz respeito ao reconhecimento da inviolabilidade dos
embaixadores e ao respeito do cumprimento das obrigações convencionais.
Entre os antigos gregos se encontram instituições até hoje conhecidas do direito
das gentes, tais como os tratados, a utilização de arbitragem e a inviolabilidade dos
arautos. A proxenia1 é muitas vezes citada dentre as instituições consulares da
antiguidade grega dada a importância do acordo de hospitalidade mútua entre os entes
políticos e as imunidades conferidas aos seus representantes públicos.

BREVE HISTORIAL SOBRE A ORIGEM DAS MISSÕES DIPLOMÁTICAS


PERMANENTES

As exigências de contactos frequentes requeridos pelas diversas unidades


políticas italianas levaram à criação de Embaixador residente. Enquanto na antiguidade
e no período medieval as embaixadas possuíam um carácter temporário, mesmo quando
se prolongava por algum tempo, a intensa e continuada actividade diplomática dos
Estados italianos no início da Idade Moderna fez surgir a necessidade de representações
diplomáticas de carácter permanente.
Antes do final do século XV, os embaixadores residentes, desconhecidos em
toda Europa passaram a ser uma instituição corrente em toda a Itália. Iniciou o sistema
de embaixadores residentes o senhor de Milão Giangaleazo Visconti que, durante mais
de sete anos, ou seja de Maio de 1425 à Julho de 1432 manteve um embaixador
residente junto da Corte de Segismundo (1368-1437), rei da Hungria e imperador do
Santo Império Romano.
Durante quase esse todo tempo o rei Segismundo manteve igualmente um
embaixador residente em Milão. É possível que Veneza tenha mantido também um
embaixador residente em Milão de 1415 à 1425, quando a República Adriática
procurava negociar a paz com Milão.
1
Proxeny ou proxenia na Grécia antiga era um arranjo pelo qual um cidadão hospedava embaixadores
estrangeiros as suas próprias custas em troca de títulos honorários do Estado. O cidadão era chamado
proxenes ou proxeino. Hoje essa actividade é desenvolvida pelas instituições consulares.

4
Em 1431, Veneza, Florença e o Papado juntaram-se contra Milão a fim de entre
outros objectivos, recuperarem as duas cidades papais de que os milaneses haviam
apoderado.
Antes de Abril de 1435, Veneza envia a Roma, como Embaixador residente, um
diplomata experiente, Zacarias Bembo.
A partir de 1448 Veneza e Florença trocaram embaixadores permanentes.
Em 1457, Napoles mantinha um embaixador residente em Veneza, outro em Milão
em Dezembro de 1448.
A Santa Sé começou a receber embaixadores residentes antes de os enviar junto das
diversas cortes italianas.
Durante todo século XV os Papas receberam embaixadores mas não enviaram
nenhum. Alexandre VI (1492-1503) manteve um nuntius2 e orator3 na corte do
Imperador Maximiliano (1459-1519) durante quatro anos.
Por volta de 1500 o mesmo Papa enviou representantes permanentes para Espanha,
França e Veneza.
Em 1506, Júlio César (1503-1513), renovou a representação em Espanha.
A expansão decisiva do sistema papal de representação diplomática permanente só
veio a dar-se nos pontificados de Leão X (1513-1521) e Clemente VII (1523-1534) e a
nova instituição assumiu uma forma precisa a partir do pontificado de Gregório XIII
(1572-1585) atingindo o seu pleno desenvolvimento no começo do século XVII.
Da Itália o sistema dos embaixadores residentes transmitiu-se ao resto da Europa
embora não de forma uniforme e simultânea.
Para Portugal, o primeiro embaixador residente em Roma foi designado em 1512,
desempenhado pelo Dr. João de Faria até 1514.

SINTESE

As ciências sociais não podem produzir à sua vontade os factos sobre os quais
constroem as suas teorias, mas pode recorrendo à história, estudar a génese e evolução

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Um nuntio ou núncio apostólico ou papal, é um representante diplomático permanente da Santa Sé, não
do Estado do Vaticano, que exerce o posto de embaixador. Representa a Santa Sé perante os estados e
perante a Igreja local. Costuma ter a dignidade eclesiástica de Arcebispo.
3
Um orator ou oratista, é um orador público especialmente aquele que é eloquente ou habilidoso. Na
Roma antiga, a arte de falar bem em público era uma competência profissional especialmente cultivada
por políticos e advogados.

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dos factos que mais interessa. Por isso se diz que a história, é o laboratório experimental
das ciências sociais.
O estudo feito sobre a evolução da instituição diplomática permiti extrair dele
algumas conclusões que consideramos importantes para a elaboração do conceito e da
teoria geral da diplomacia. Essas conclusões são:
1. A utilização de intermediários entre detentores de poder político de duas
nações ou grupos políticos diferentes existiu sempre, desde os tempos em
que as sociedades se organizaram politicamente.
2. Em todas as civilizações da Antiguidade se recorreu ao uso de
intermediários ou diplomatas nas relações entre os povos diferentes.
3. A instituição diplomática constitui um elemento importante e constante
da organização do estado nas civilizações grega e romana.
4. Na época medieval, prevaleceu o uso de intermediários para as
negociações.
5. Negociações tentadas de forma directa acabaram por fracassar e raras
vezes foram bem sucedidas.
6. No desenvolvimento de uma tendência que vinha da Idade Moderna
consagrou o princípio das representações diplomáticas permanentes ou
dos embaixadores residentes.
7. Na época moderna foi consagrado o sistema da diplomacia multilateral,
mas, com carácter eventual para resolver importantes problemas que
interessavam a um grupo de países.
8. No princípio da era contemporânea foram estabelecidas as primeiras
regras convencionais definindo as categorias e as precedências dos
agentes diplomáticos. Foi criado o estatuto internacional do agente
diplomático, na Conferência de Viena sobre Relações Diplomáticas de
1961.
9. Na era contemporânea foi igualmente institucionalizada a diplomacia
multilateral com a criação de diversas organizações internacionais de tipo
regional ou universal.
10. Ainda na era contemporânea se desenvolveu grandemente os contactos
directos entre detentores do poder político de diversos Estados devido ao
extraordinário progresso dos meios de comunicação.

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11. A constância da instituição diplomática através de alguns milhares de
anos e em todas as civilizações conhecidas demonstra tratar-se de uma
instituição inerente à própria vida internacional. Que poderá sofrer
transformações ou ser utilizada com mais ou menos intensidade, mas que
não pode ser dispensada.

O TRATADO DE WESTEFÁLIA4 (1648) PARA A DIPLOMACIA MODERNA E


SEUS PRINCÍPIOS.

A paz de Westfália é geralmente apontada como o marco da diplomacia


moderna, pois ela deu início ao sistema moderno do Estado nação; a primeira vez que se
reconheceu a soberania de cada um dos Estados envolvidos.
As guerras surgidas após o acordo não mais tiveram como causa principal a
religião, mas giravam em torno de questões de Estado. Isto permitiu que as potências
católicas e protestantes pudessem se aliar, provocando grandes inflexões no
alinhamento dos países europeus.
O Tratado de paz de Vestefália fortaleceu as divisões internas da Alemanha,
impedindo-a de formar um Estado-nação unido, facto que perdurou até final do século
XIX.
O Congresso de Vestefália foi convocado com o objectivo de terminar a Guerra
dos Trinta Anos, um conflito político e religioso que decorreu entre 1618 e 1648 e que
teve o seu epicentro no território da actual Alemanha. Decorreu nas cidades de Munster
e Osnabruck (uma católica, outra protestante) entre 1643 e 1648 e consistiu em diversas
reuniões sem um plenário. Participaram plenipotenciários dos diversos beligerantes,
nomeadamente o Sacro Império Romano-Germânico, os Estados Imperiais, a França, o
Império Espanhol, a Suécia, as Províncias Unidas dos Países Baixos, a Confederação
Helvética, a República de Veneza e o Papado.
Vestefália ou Westefália, é uma região histórica da Alemanha, à volta das
cidades de Dortmund, Munster, Bielefeld, e Osnabruck, e agora incluída no estado
federal alemão (Bundesland) de Renânia do Norte-Vestfália (e uma parte a sudoeste da
Baixa Saxónia).

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Westfalia, é uma região histórica da Alemanha a volta das cidades de Dortmund, Munster, Bielefeld e
Osnabruck, agora incluída no Estado federal alemão (Bundesland) de Renânia do Norte. Westfalia, é uma
parte a sudoeste da Baixa Saxónia.

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A denominada «Paz de Westefália», também conhecida como os Tratados de
Munster e Osnabruck, designa a série de acordos que foram produzidos. Através deles
foram reconhecidas a independência tanto das Províncias Unidas como da Confederação
Suíça, consagrando-se o princípio da liberdade religiosa.
O Tratado assinado em Munster em 30 de Janeiro de 1648 pôs fim à Guerra de
Independência das Províncias Unidas. O Tratado assinado em Osnabruck, em 24 de
Outubro de 1648, entre o Sacro Império Romano-Germânico, os demais príncipes
alemães (que integravam a “União Evangélica”), a França e a Suécia, pôs fim à Guerra
dos 30 anos. O Congresso não almejou alcançar a paz entre França e Espanha, a qual só
seria concluída em 1659, ainda que tal acordo seja por vezes incluído na "Paz de
Vestefália".
O tratado de Westfalia, de 1648, trouxe a paz dado fim a guerra dos trinta anos,
o que inaugurou uma nova forma de relação internacional, possibilitando o
relacionamento entre estados, e uma solução pacífica para conflitos que até então, só
conheciam a forma da beligerancia como resolução de problemas entre estados.
A diplomacia portuguesa da Restauração tinha como grandes objectivos o
reconhecimento da legitimidade de D. João IV, do carácter irreversível da
independência e soberania de Portugal e a manutenção das possessões ultramarinas.
Procurou participar no Congresso, ainda que não tivesse sido uma potência beligerante,
na medida em que este ratificaria a nova ordem europeia. Espanha opôs-se firmemente a
tal desiderato, sob ameaça de abandonar as negociações. Ainda que não tenham chegado
a ser acreditados, os emissários portugueses mantiveram uma ampla actividade
diplomática, com múltiplos contactos com os participantes à margem do congresso,
promovendo a causa portuguesa.
Como resultado dos tratados de Westfália, a Holanda obteve independência da
Espanha, a Suécia ganhou o controlo do mar Báltico e a França foi reconhecida como a
mais importante potência na Europa Ocidental, sem rivais à altura.
A Paz de Westfália é frequentemente apontada como o marco da diplomacia
moderna, pois deu início ao sistema moderno de Estados-nação. Pela primeira vez
reconheceu-se a soberania de cada um dos estados envolvidos.
A Paz de Westfália marcou o início da hegemonia da França na Europa e do
declínio do poder Habsburgo. Mais do que isso, afirmou a supremacia do poder
temporal (não religioso) sobre o papado, um aspecto fundamental para a consolidação
do poder monárquico nos países europeus.

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A Paz de Westfália foi um acontecimento histórico marcado pela assinatura de
dois tratados de paz nas cidades alemãs de Munster e Osnabruck, em 1648, e que
colocou fim a Guerra dos Trinta Anos (1618 – 1648).
Como importância dos Tratados de Paz de Westfália para o surgimento do
Estado moderno foram consagrados a ideia de “múltiplas independências” no continente
europeu, além de reflectir a necessidade de um sistema de “balança de poder”.
Foi o conflito que colocou fim às guerras religiosas na Europa e inaugurou a
figura do Estado mais próxima do que conhecemos dos quais a Guerra dos Trinta Anos
- Conflito entre católicos e protestantes marcou Europa de 1618 a 1648. Entre 1618 e
1648, aconteceu na Europa um conflito que marcou a transição do feudalismo para a
Idade Moderna.
O Tratado de Westfalia de 1648 e considerado um marco para as relações
internacionais por ser considerado como um marco fundamental na história do Direito
Internacional. Isso porque assinalam o fim dos três factores principais que dificultavam
o desenvolvimento e a afirmação desse direito: a hegemonia papal, o feudalismo e o
império.

A Paz de Westfália, significou a dissolução da antiga ordem imperial, permitiu o


crescimento de novas potências. Como fundamento da constituição alemã, o tratado
formou a base de todos os acordos seguintes até o desaparecimento definitivo do
império em 1806.
Essa noção de aprofundou com o Congresso de Viena (1815) e o Tratado de
Versalhes (1919). Por essa razão o Tratado de paz de Westfália é considerado o marco
inicial no currículo dos estudos de Relações internacionais.
As negociações de paz foram realizadas nas cidades de Munster e Osnabruck,
como alternativa oferecidas pela Suécia, enquanto que Hamburgo e Colónia alternativas
oferecidas pela França.
A razão da escolha das duas cidades era devido ao conflito existente entre os
líderes católicos e protestantes. Os protestantes ficaram em Osnabruck e os católicos em
Munster.

RESULTADOS

 O Tratado teve resultados abrangentes.


 Os países baixos, tornaram-se independentes da Espanha.

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 Fim da guerra dos oitentas anos.
 A Suécia ficou com Pomerânia, Wismar e Werden.
 O poder dos Sacro-Imperadores ficou abalado.
 Os governantes dos estados germânicos voltaram a gozar da prorrogativa
de determinar a religião oficial dos seus territórios.
 O tratado deu reconhecimento legal aos calvinistas.
 Três grandes potências emergiram: a Suécia, Província unidas e a França.

OS PRINCIPIOS MAIS IMPORTANTE DA PAZ DE WESTFALIA

Os princípios mais importantes da Paz de Westfália são:

1. A Paz de Praga, foi incorporada à paz de Westfália (que por sua vez
incorporava a paz de Augsburgo).
2. O calvinistas foram reconhecidos internacionalmente e o Édito da Restituição
foi de novo, rescindido.
3. A primeira Dieta de Speyer foi aceite internacionalmente.
4. Procederam-se aos seguintes ajustes de território:
a. França recebeu as dioceses de Metz, Toul, Verdun e toda a Alsácia, excepto
Estrasburgo e Mulhouse. Também ganhou o direito à voto na Dieta Imperial
alemã (Reischstag).
b. A Suécia recebeu a Pomerânia Ocidental e as dioceses de Bermen e Stettin.
Ganhou o controle da desembocadura dos rios Oder, Elba e Weser, bem
como o direito de voto na Dieta Imperial alemã.
c. A Baviera recebeu o direito de voto no Conselho Imperial de eleitores
(selecionado pelo Sacro Imperador).
d. Brandemburgo recebeu a Pomerânia Oriental e as dioceses de Magdeburgo e
Halberstadt, cujo primeiro governante secular foi o representante do eleitor
de Brandemburgo, Joachim Friedrich von Blumenthal.
e. Reconheceu-se a completa independência da Suíça ( a Suíça não é signatária
da paz de Westfália).
f. Reconheceu-se a independência da República das sete Províncias Unidas dos
Países Baixos

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g. Os diversos estados alemãs independentes (cerca de 360), receberam o
direito de conduzir a sua política externa, mas era vedada cometer actos de
guerra contra o Sacro Imperador. O Império como um todo, reservava o
direito de fazer a guerra e celebrar tratados.
h. A eleição de Sacro Imperadores vivente imperatore, foi proibida.
i. O Palatinado foi dividido entre o Eleitor Palatino Carlos Luís e o Eleitor
Duque Maximiliano da Baviera ou seja entre protestantes e católicos,
ficando Carlos com a porção ocidental, próximo ao Reno e Maximiliano
manteve o Alto Palatino, no que hoje é Baviera.

A maior parte do Tratado de Westfália, pode ser atribuída ao trabalho do Cardeal


Mazarino, que era na época o governante de facto da França. A França, saiu da guerra
numa posição muito melhor do que as outras potências, sendo capaz de ditar boa parte
do Tratado do Estado.

 Titulares

1. Dom Luís de Portugal, nomeado Plenipotenciário, partiu de Lisboa em 24 de


Maio de 1643. Foi primeiro à Suécia e depois a Hamburgo, viajando na comitiva
sueca. Não teve acesso às conferências;
2. Rodrigo Botelho de Morais, Plenipotenciário nomeado para Osnabruck onde
chegou em Maio de 1644. Não chegou a ocupar o posto tendo morrido em 15 de
Dezembro de 1644;
3. Luís Pereira de Castro, Plenipotenciário, chegou a Munster em Junho de 1644.
Não teve acesso às Conferências e partiu cerca de Junho de 1649;
4. Francisco de Andrade Leitão, Plenipotenciário, chegou a Munster em Setembro
de 1644. Pugnou por entrar na cidade como Embaixador ou ser tratado como
Plenipotenciário. Acabou no entanto, por ingressar na cidade de forma discreta,
sem incidentes. Não teve acesso às conferências, nem mesmo a uma audiência
dos mediadores. Não assinou o Tratado de Paz;
5. Cristóvão Soares de Abreu, Plenipotenciário, chegou a Munster cerca de
Outubro de 1646. Terá desempenhado funções de secretário da Missão de
Portugal em Munster, de onde partiu em 27 de Fevereiro de 1648, seguindo para

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Paris e depois para Osnabruck. Não teve acesso às Conferências e não assinou
os Tratados de Paz.

 Informação complementar

A Guerra dos Trinta Anos começou por ser um conflito entre o Sacro Imperador
Romano Germânico e alguns dos Estados Imperiais protestantes. No entanto Suécia e
Dinamarca (lado protestante) e Espanha e Estados Papais (lado do Imperador)
envolveram-se igualmente, levando a uma escalada da guerra, altamente destrutiva e
mortífera, sobretudo na Europa central. Espanha por outro lado via-se ainda envolvida
na guerra de independência das Províncias Unidas.
Vislumbrando-se uma vitória do lado católico, a França, receando uma
hegemonia europeia dos Habsburgos que passariam a rodear o seu território (como
acontecera no século anterior com Carlos V), entrou na guerra ao lado dos protestantes a
partir de 1636.
Simultaneamente, a França fomentou e apoiou a revolta da Catalunha e o
movimento da Restauração em Portugal. Foi este o contexto em que se chegou ao
Congresso de Vestefália, no qual a diplomacia portuguesa procurou valorizar os seus
argumentos em função dos interesses próprios de cada Estado beligerante.
A correspondência dos nossos representantes indicados para Vestefália e dos
nossos diplomatas acreditados nos países aliados (França, Holanda e Suécia), revela
uma intensa actividade diplomática no sentido de tentar garantir o seu interesse pela
causa portuguesa, no contexto do equilíbrio europeu que se estava a negociar. Era uma
teia que passava pela acção concertada entre os diplomatas envolvidos nos diferentes
processos.
Portugal pretendia ser parte de um acordo geral de paz, assim vendo reconhecida
a sua recém readquirida independência, contando sobretudo com o apoio da França,
ainda que se saiba hoje que o Primeiro ministro francês, Cardeal Mazarino, tenha
instruído os seus diplomatas no sentido de que a “questão portuguesa” não deveria
bloquear a paz que deveria sair de Westefália.
A acção diplomática desenvolvida começou logo nas capitais, com vista a
assegurar a admissão dos Enviados de Portugal às Conferências, cuja verificação das
credenciais teve início em 19 de Maio de 1644. Assim sucedeu com o Conde da

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Vidigueira em Paris, D. Francisco de Sousa Coutinho na Holanda e Rodrigo Botelho de
Morais na Suécia.
Em 30 de Janeiro de 1648, as Províncias Unidas, apesar do empenho da França
em contrário, assinaram a paz separada com a Espanha. Doravante, os Países Baixos
passaram a ser opositores no Ultramar, mas também na Europa, contando a Espanha
com a assegurada neutralidade holandesa.
Em 24 de Outubro de 1648, os representantes suecos e franceses chegaram a
acordo com os seus contrapartes do Sacro Império, tendo sido celebrados em
Osnabruck, dois tratados com vantagens consideráveis para os aliados. Em Munster, as
negociações com os Habsburgos espanhóis não progrediam, o que justifica as instruções
do Cardeal Mazarino aos delegados franceses para apoiarem as nossas pretensões,
apesar de inicialmente ter determinado que a “questão portuguesa” não deveria
constituir um obstáculo para a paz geral.
Em 7 de Novembro de 1659 era concluído o Acordo dos Pirenéus e em 1660 tem
lugar a cerimónia de casamento de Luís XIV com Maria Teresa de Áustria na Ilha dos
Faisões.

O CONGRESSO DE VIENA (1 DE OUTUBRO DE 1814 E 9 DE JUNHO DE


1815), CONFERÊNCIA ENTRE EMBAIXADORES DAS GRANDES
POTÊNCIAS EUROPEIAS.

O Congresso de Viena foi uma conferência entre embaixadores das grandes


potências europeias que teve lugar na capital da Áustria, entre 1 de Outubro de 1814 a 9
de Junho de 1815, cuja intenção era a de redesenhar o mapa político do continente
europeu após a derrota da França napoleónica na primavera anterior, bem como
restaurar os respectivos tronos às famílias reais derrotadas pelas tropas de Napoleão
Bonaparte e firmar uma aliança entre os signatários.
Os termos de paz foram estabelecidos com a assinatura do Tratado de Paris
(30.05.1814), na qual se estabeleciam as indemnizações a pagar pela França aos Países
vencedores. Mesmo diante do regresso ex. imperador Napoleão I do exílio, tendo
reassumido o poder em França em Março de 1815, as discussões prosseguiriam,
concentradas em determinar a forma de toda a Europa depois das guerras napoleónicas.
O acto final do Congresso foi assinado a 9 de Junho de 1815, nove dias antes da derrota
final de Napoleão na batalha de Waterloo.
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 Objectivo

As potências europeias tinham como objectivo principal delimitar novas


fronteiras para as nações europeias, que foram destruídas pelas campanhas
Napoleónicas.

 Princípios

Dois princípios básicos nortearam as discussões do Congresso de Viena:

1. O princípio da legitimidade, definido sobretudo por Talleyrand a partir do qual


se consideravam legítimos os governos e
2. As fronteiras que vigoravam antes da Revolução francesa.

Atendia os interesses dos Estados vencedores na guerra contra Napoleão


Bonaparte, mas, ao mesmo tempo, buscava salvaguardar a França de perdas territoriais,
assim como da intervenção estrangeira. Os representantes dos governos mais
reaccionários acreditavam que poderiam, assim, restaurar o Antigo Regime e bloquear o
avanço liberal. Contudo, o acesso não foi respeitado, porque as quatro potências do
Congresso trataram de obter algumas vantagens na hora de desenhar a nova organização
geopolítica da Europa.
O princípio de restauração, que era a grande preocupação das monarquias
absolutistas, uma vez que se tratava de recolocar a Europa na mesma situação política
em que se encontrava antes da Revolução Francesa, que guilhotinou ao rei absolutista e
criou um regime República, que acabou com os privilégios reais e instituiu o direito
legítimo de propriedade aos burgueses. Os governos absolutistas defendiam a
intervenção militar nos reinos em que houvesse ameaça de revoltas liberais.
O momento de reacção conservadora na Europa, articulado na presença de
representantes dos diversos países vencedores de Napoleão, o objectivo declarado deste
fórum era o de solucionar os problemas suscitados no continente desde a Revolução
Francesa (1789) e as conquistas napoleónica. Temia-se uma nova revolução.

 Equilíbrio de Poder e Fronteiras Geográficas

Outra decisão importante das grandes potências reunidas em Viena, foi a


consagração da ideia de balança do poder. Segundo essa perspectiva, considerava-se

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que só fora possível o fenómeno Napoleão na Europa porque ele havia juntado uma tal
soma de recursos materiais e humanos que, aliados à sua capacidade política e militar,
provocaram todo aquele período de guerras.
As grandes potências decidiram então dividir as recursos materiais e humanos da
Europa, de tal maneira que uma potência não pudesse ser poderosa que a outra (balança
e equilíbrio de poder); sendo assim, nenhum outro Napoleão se atreveria a desafiar seu
vizinho, sabedor de que este contaria com os mesmos recursos.
Sendo este critério estabelecido, trataram de pô-lo em prática, resultando num
mapa europeu em que as etnias e as nacionalidades não foram levadas em consideração,
tal como aconteceu com a partilha da Polónia.
Uma vez estabelecida a paz, haveria a necessidade de manutenção de exércitos?
Os estadistas reunidos em Viena foram unânimes em responder afirmativamente.
Tratava-se de manter forças armadas exactamente para preservar a paz alcançada. A
garantia da paz residia a partir de então na preservação das fronteiras geográficas
estabelecidas justamente para evitar que qualquer potência viesse a romper o equilíbrio,
anexando recursos de seus vizinhos e pondo em risco todo o sistema de estados
europeus. O princípio geopolítico das “fronteiras geográficas” perdurou até o término da
Segunda Guerra Mundial, quando esse conceito foi substituído pelo conceito de
“fronteiras ideológicas”, no contexto da Guerra Fria.
O Congresso alicerçou-se em dois grandes princípios:

1. Legitimidade – propunha a restauração das dinastias que governaram antes de


eclodir a Revolução Francesa. Era a restauração das monarquias.
2. Equilíbrio de forças – visava ao restabelecimento das fronteiras, divisão do
território europeu e das colónias pelo mundo.

DIRECTRIZES E CONSEQUÊNCIAS DO CONGRESSO

 Directrizes

As directrizes fundamentais do Congresso de Viena foram:

1. O princípio da legitimidade,
2. A restauração,
3. O equilíbrio do poder,

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4. A consagração do conceito de “fronteiras geográficas”

Essas directrizes estabeleciam que deveriam voltar ao trono (restauração), os


legítimos governantes (legitimidade) que estavam no poder antes da Revolução. As
antigas dinastias reinantes retornam ao poder. Essa posição foi defendida pelo
representante francês, Talleyrand garantindo, com isso, que os Bourbons retornassem ao
poder com a anuência dos vencedores. Talleyrand usou também o conceito de
legitimidade para evitar que a França derrotada perdesse territórios para seus vizinhos,
isto é, conseguiu restaurar as antigas fronteiras, anteriores à 1790.

 Consequências do Congresso

1. Reconstruir as monarquias absolutas.


2. A Rússia anexou parte da Polónia, Finlândia e a Bessarábia.
3. A Áustria anexou a região dos Balcãs.
4. A Inglaterra ficou com a estratégica Ilha de Malta, O Ceilão e a Colónia do
Cabo. O que garantiu o controlo das rotas marítimas.
5. O Império Otomano manteve o controlo dos povos cristãos do Sudoeste da
Europa.
6. A Suécia e a Noruega, uniram-se.
7. A Prússia ficou com parte da saxónia, Westfália, da Polónia e com as Províncias
do Reno.
8. A Bélgica industrializada, foi obrigada a unir-se aos Países Baixos, formando o
Reino dos Países Baixos.
9. Os Principados Alemãs formaram a Confederação Alemã com 38 Estados, a
Prússia e a Áustria praticavam dessa Confederação.
10. Restabelecimento dos Estados Pontifícios.
11. A Espanha e Portugal não foram recompensados com ganhos territoriais, mas
tiveram restauradas as suas dinastias.

No encerramento do Congresso de Viena, pelo Artº 105 do acto final, o direito


português ao território de Olivença foi reconhecido. Apesar de sua inicial resistência a
esta disposição, a Espanha terminaria por ratificar o tratado mais tarde, em 7 de Maio de
1817, nunca havendo entretanto cumprido esta disposição ou restituído o território
oliventino a Portugal.

16
O Congresso de Viena logrou garantir a paz na Europa. Além das disposições
políticas territoriais, estabeleceu-se:

 O princípio da livre navegação do Reno e do Meuse.


 A condenação do tráfico de escravos, determinando sua proibição ao norte da
linha do Equador.
 Medidas favoráveis para melhorias das condições dos Judeus.
 E de suma importância, um regulamento sobre a prática das actividades
diplomáticas entre

BELLE ÉPOQUE OU “BELA ÉPOCA”

A «Belle Époque», do francês «bela época», foi um período de grande


optimismo e paz, desfrutado pelas potências ocidentais, sobretudo o europeu, entre 1871
até 1914, quando eclode a Primeira Guerra Mundial. Esta «época áurea» foi
possibilitada em grande parte pelos avanços científicos e tecnológicos, os quais
tornaram a vida quotidiana mais fácil, bem como firmaram a crença de prosperidade e
esperança no futuro.

 Principais Causas

Com o fim da guerra Franco-Prussiana, surgiu na Europa uma política de


estabilidade, apesar da insatisfação francesa em perder os territórios de Alsácia-Lorena
para a Alemanha em 1871, o que acabou gerando também uma tensão militar entre
aquelas potências.
A despeito da corrida armamentista que se desenrolava, o clima de progresso da
Segunda Revolução Industrial provocou um forte êxodo rural e favoreceu o
desenvolvimento de uma cultura urbana cosmopolita e de divertimento, fomentada
pelos avanços nos meios de comunicação e transporte.

 Principais Características

O ponto marcante desta época foi o estilo de vida boémio e optimista, com
destaque para a França, a qual se tornou o centro Global de toda influência educacional,
científica, médica e artística após a instauração da Terceira República Francesa, em

17
1870. Ademais, se a nação francesa era o pólo difusor, Paris era o núcleo da Belle
Époque Mundial.
Ora, foram criações francesas (parisienses) notáveis deste período: as políticas
de saneamento público e urbanização de Haussmann, que renovaram Paris
(drasticamente) sob os preceitos dos saberes médicos-higienistas e reduziram as taxas
de mortalidade, tornando aquela um modelo para o Mundo; os cabarés, como o Moulin
Rouge; a Torre Eiffel (1889); o Casino de Paris (1890); o Metró de Paris, etc.
Ainda na França surgiram o pneumático de borracha removível de Edouard
Michelin (1890), o Peugeot Tipo 3 (1891), a primeira força aérea nacional (1910), a
indústria cinematográfica de Auguste e Louis Lumière, dentre outras.
Paralelamente, a Belle Époque se desenvolvia nos Estados Unidos da América
apois a recuperação da crise económica de 1873; no Reino Unido pós era vitoriana; na
Alemanha do Kaiser Wilhelm I & II; e na Rússia de Alexandre III e Nicolas II. No
Brasil, este período ficou marcado nas cidades de Fortaleza, Manaus e Rio de Janeiro,
sobretudo após a Proclamação da República, em 1889.
De toda forma, podemos vislumbrar em todo Ocidente, as revoluções
provocadas com a melhoria nos transportes públicos de massa (trens e navios a vapor)
ou individuais (Ford T e a bicicleta), pelas tecnologias de telecomunicações (telefone e
telégrafo sem fio), ou pela substituição da iluminação a gás pela eléctrica.
Do ponto de vista cultural, assistimos a multiplicação das livrarias, salas de
concertos, boulevards, ateliers, cafés e as galerias de arte, principalmente as parisienses,
de onde saíam quase todas as tendências estéticas e artísticas globais produzidas durante
o período.
Não obstante, vale destacar enquanto movimento artístico da Belle Époque, o
estilo “Art Noveau”, um fazer ornamental de cores vibrantes e formas sinuosas,
presente desde as fachadas dos edifícios até nos objectos decorativos, como jóias e
mobiliários. No âmbito da pintura, também se destacou o Impressionismo de Claude
Monet (1840- 1926).
Outros artistas de renome da Belle Époque foram Odilon Redon (1840-1916),
Paul Gauguin (1848-1903), Henri Rousseau (1844-1910), Pierre Bonnard (1867-1947),
Émile Zola (1840-1902), dentre outros.

18
O REINO DO CONGO

CARACTERISTICAS

Wene wa Kongo ou Kongo dya Ntotil - Reino do Congo


Reino Soberano: 1390 – 1857
Reino Vassalo do Reino de Portugal: 1857 -1914
Período de existência: 1390 – 1914
Duração: 524 anos
Continente: África
Região: África Central
Países: Angola, República do Congo, República Democrática do Congo e Gabão
Capital: Mbanza Congo (Angola)
Língua oficial: Kikongo e Português
Religião: Tradicionais africanas e cristianismo
Governo: Monarquia
Manicongo: 1390 – Lukeni Lua Nimi (primeiro)
1911-1914 – Manuel III (último)
Legislatura: Conselho Real composto por 12 membros
História: 1390 - Conquista da Kabunga
29.10.1665 – Guerra civil do Congo
00.02.1709 – Reunificação do Congo
1857 – Congo torna-se vassalo de Portugal
1914 – Dissolução pela autoridade portuguesa
Área: 1650: 129.400 Km2
População: 1650: 509.250 hab.
Den. Pop: 3,9 hab/Km2
Moeda: Nzimbu (conchas) e pano de ráfia

O chamado Reino do Congo ou Império do Congo foi uma região


africana localizada no Sudoeste da África no território que hoje corresponde ao noroeste
de Angola, República do Congo, à parte Ocidental da República Democrática do
Congo e à parte centro-sul do Gabão. Na sua máxima dimensão, estendia-se desde o

19
oceano Atlântico, a oeste, até ao rio Cuango, a leste, e do Rio Ogoué no actual Gabão, a
norte, até ao rio Cuanza, a sul. (Anónimo, 1972).
O Reino do Congo ou Império do Congo foi um Estado pré-colonial africano no
sudoeste da África no território que hoje corresponde ao noroeste de Angola (incluindo
Cabinda ), o sudoeste e oeste da República do Congo, a parte oeste da República
Democrática do Congo e a parte centro-sul da República do Gabão. Estendia-se desde o
oceano Atlântico, a oeste, até ao rio Cuango, a leste, e do Rio Ogoué, no actual Gabão, a
norte, até ao rio Cuanza, a sul de Luanda (Angola). O reino do Congo foi fundado por
Ními ya Lukeni no século XIV.
A região era governada por um líder chamado rei pelos europeus, o manicongo 5.
Ela consistia de nove províncias e três regiões (Angolo, Cacongo e Loango), mas a sua
área de influência estendia-se também aos estados independentes, tais como Dondo,
Matamba, Cassange e Quissama. A capital era a cidade de M’banza
Congo (literalmente, Cidade do Congo), rebaptizada com o nome de São Salvador do
Congo após os primeiros contactos com os portugueses e a conversão do manicongo ao
catolicismo no século XVI, e renomeada de volta para M'Banza Congo em 1975.
O reino era regido por uma monarquia, que por vezes em sua história alternou
entre hereditária e electiva. A linhagem de reis durou desde a fundação do reino em
1390 até a abolição em 1914 pela implantada Primeira República de Portugal, que
diminuiu o título do rei á uma mera figura simbólica na cidade de São
Salvador (M'Banza Congo) até 11.11.1975, quando o governo de Angola, termina por
abolir os títulos definitivamente.

I. HISTÓRIA
 Fundação

Os contos históricos verbais sobre os inícios da história do Reino do Congo,


foram estabelecidas por escrito pela primeira vez no final do século XVI, e a mais
abrangente foi registada em meados do século XVII, incluindo aquelas escritas pelo
missionário Capuchino italiano, Giovanni Cavazzi da Montecuccolo.

5
O Manicongo, é uma corruptela da palavra “Mwene Kongo”, que na língua africana
Kikongo significa literalmente “senhor do Kongo”. Cercado por seus conselheiros, o Manicongo exercia a
justiça e buscava garantir a harmonia da vida no reino e das pessoas que nele viviam.

20
Pesquisas mais detalhadas sobre as tradições orais modernas, inicialmente
conduzidas no início do século XX por missionários redentoristas como Jean Cuvelier e
Joseph de Munck, não parecem se relacionar com o período inicial.
De acordo com a tradição do Congo, a origem do reino reside em Pemba Cassi,
um grande reino banto ao sul do Reino Bambata, que se fundiu com esse Estado para
formar o Reino do Congo por volta de 1375. Pemba Cassi estava localizado ao sul da
actual Matadi na República Democrática do Congo (RDC). Uma dinastia de
governantes desta pequena comunidade governou ao longo do vale Cuílo, e seus
membros estão enterrados em Nsi Kwilu, sua capital.
As tradições do século XVII aludem a este cemitério sagrado.
De acordo como o missionário Girolamo da Montesarchio, capuchinho italiano
que visitou a região entre 1650 e 1652, o local era tão sagrado que olhá-lo era mortal.
Em algum ponto por volta de 1375, Ními ya N’zima, governante de Pemba Cassi, fez
uma aliança com Nsaku Lau, governante do vizinho Reino Bambata. Nímia Anzima
casou-se com Luqueni Luansanze, um membro do povo bata e possivelmente filha de
Nsaku Lau. Essa aliança garantia que cada um dos dois aliados ajudaria a garantir a
sucessão da linhagem de seu aliado no território do outro.

 Formação do Reino

O primeiro rei do Reino do Congo (Dya N’totila) foi Ními ya N’zima e o filho
de Lukeni Luansanze, Nimi ya Lukeni (reinando por volta de 1380 até 1420).
O nome Ními ya Lukeni apareceu em tradições orais posteriores e alguns
historiadores modernos, notadamente Jean Cuvelier, o popularizaram. Nimi ya
Lukeni tornou-se o fundador do Reino do Congo quando conquistou o reino do Muene
Cabunga (ou Muene Ampangala), que ficava em uma montanha ao sul. Ele transferiu
seu governo para esta montanha, o Mongo dia Congo ou «montanha do Congo», e fez
de M’banza Congo, a cidade e sua capital.
Dois séculos depois, os descendentes de Muene Cabunga ainda desafiavam
simbolicamente a conquista em uma celebração anual. Todos os governantes que
seguiram Ními ya Lukeni reivindicaram alguma forma de relação com seu canda, ou
linhagem, e eram conhecidos como Casa de Lukeni. A Casa de Lukeni, como foi
registado em documentos portugueses, governou o Reino do Congo sem oposição até
1567.

21
Após a morte de Ními ya Lukeni, seu irmão, Mbokani Mavinga, assumiu o trono
e governou até aproximadamente 1467. Ele tinha duas esposas e nove filhos. Seu
governo viu uma expansão do Reino do Congo para incluir o estado vizinho, o Reino do
Loango e outras áreas agora abrangidas pela actua República do Congo.
Os manicongos frequentemente atribuíam o cargo de governador a membros de
suas famílias ou clientes. À medida que essa centralização aumentava, as províncias
aliadas gradualmente perdiam influência até que seus poderes fossem apenas
simbólicos, manifestados em Bata, antes um co-reino, mas em 1620 conhecido
simplesmente pelo título de «Avô do Rei do Congo» (Cacandi a Muene Congo).
A alta concentração da população em torno de M’banza Congo e arredores
desempenhou um papel crítico na centralização do Congo. A capital era uma área
densamente povoada em uma região pouco habitada, onde a densidade populacional
rural provavelmente não ultrapassava cinco pessoas por Km2.
Os primeiros viajantes portugueses descreveram M'Banza Congo como uma
cidade grande, do tamanho da cidade portuguesa de Évora em 1491.
No final do século XVI, a população do Congo era provavelmente de cerca de
meio milhão de pessoas em uma região central de cerca de 130.000 Km2. No início
do século XVII, a cidade e seu interior tinham uma população de cerca de 100.000
habitantes, ou um em cada cinco habitantes do Reino (de acordo com estatísticas
baptismais compiladas por padres jesuítas).
Esta concentração permitiu que recursos, soldados e alimentos excedentes
estivessem prontamente disponíveis a pedido do rei. Isso tornou o rei extremamente
poderoso e fez com que o reino se tornasse altamente centralizado.
Na época do primeiro contacto registado com os europeus, o Reino do Congo
era um Estado altamente desenvolvido no centro de uma extensa rede comercial. Além
dos recursos naturais e do marfim, o País fabricava e comercializava artigos de cobre,
metais ferrosos, tecido de ráfia e cerâmica. O povo Congo falava na língua Kikongo. As
regiões orientais, especialmente aquela parte conhecida como os Sete Reinos do Congo
dia Nlaza (ou em kikongo Mumbwadi ou «os Sete»), eram particularmente famosas pela
produção de tecido.

22
 Contactos com os portugueses e o cristianismo

Em 1483, o explorador português Diogo Cão navegou pelo desconhecido rio


Congo, encontrando aldeias do Congo e tornando-se o primeiro europeu a encontrar o
Reino do Congo.

Diogo Cão deixou homens no Congo e levou nobres do Congo para Portugal.
Ele retornou com os nobres do Congo em 1485. Nesse ponto, o rei governante, N’zinga
ya N’kwa, decidiu se converteu ao cristianismo para uma melhor relação com os
visitantes.
Diogo Cão regressou ao reino com padres e soldados católicos romanos em
1491, baptizando N’zinga ya N’kwa e também os seus principais nobres, a começar
pelo governante do Soyo, a província costeira. Ao mesmo tempo, um cidadão do Congo
alfabetizado que regressava de Portugal abriu a primeira escola.. N’zinga ya N’kwa
assumiu o nome cristão de João I em homenagem ao então rei de Portugal, D. João I.
D. João I governou até à sua morte por volta de 1506 e foi sucedido por seu filho
Afonso I. Ele enfrentou um sério desafio de um meio-irmão, M’panzu ya Kitima. O rei
venceu seu irmão em uma batalha travada em M’banza Congo. Segundo o relato do
próprio Afonso, enviado a Portugal em 1506, conseguiu vencer a batalha graças à
intervenção de uma visão celeste de São Tiago e da Virgem Maria. Inspirado por esses
eventos, ele posteriormente desenhou um brasão de armas para o Congo que foi usado
por todos os reis seguintes em documentos oficiais, reais e similares até 1860. Enquanto
D. João I mais tarde voltou às suas crenças tradicionais, Afonso estabeleceu o
Cristianismo como religião oficial do seu reino.
Dom Afonso trabalhou para criar uma versão viável da Igreja Católica no Reino
do Congo, provendo os seus rendimentos de bens reais e impostos que forneciam
salários aos seus trabalhadores. Com conselheiros de Portugal como Rui d’Aguiar, o
capelão real português enviado para ajudar no desenvolvimento religioso do Congo,
Afonso criou uma versão sincrética do cristianismo que permaneceria parte da
sua cultura pelo resto da existência independente do reino. O próprio Dom Afonso
estudou muito nesta tarefa. Rui d'Aguiar disse uma vez que Afonso conhecia mais os
princípios da Igreja do que ele. Em 1509, em vez da eleição habitual entre os nobres,
uma sucessão hereditária ao estilo europeu levou Afonso a suceder ao pai.
A igreja do Congo sempre teve falta de clero ordenado e compensou isso com o
emprego de um laicato forte. Os professores ou mestres de escolas congolesas eram a

23
âncora deste sistema. Recrutados da nobreza e treinados nas escolas do reino, eles
forneceram instrução religiosa e serviços a outros com base na crescente população
cristã do Congo. Ao mesmo tempo, eles permitiram o crescimento de formas sincréticas
de cristianismo que incorporavam ideias religiosas mais antigas com as cristãs.
Exemplos disso são a introdução de palavras kikongo para traduzir conceitos cristãos.
As palavras kikongo ukisi (uma palavra abstracta que significa charme, mas usada para
significar «sagrado» e nkanda (que significa livro) foram mescladas de modo que a
Bíblia cristã ficou conhecida como nkanda ukisi. A igreja ficou conhecida como nzo ya
ukisi. Embora alguns clérigos europeus frequentemente denunciem essas tradições
mistas, eles nunca foram capazes de erradicá-las.
Parte do estabelecimento da igreja foi a criação de um forte sacerdócio e para
esse fim o filho de Dom Afonso, Dom Henrique, foi enviado à Europa para se educar.
Henrique foi ordenado sacerdote e em 1518 foi nomeado bispo de Utica (uma diocese
do norte da África recentemente ocupada pelos muçulmanos e reivindicada pelos
cristão, nunca sendo assumida de facto pelo príncipe). Dom Henrique, retornou ao
Congo no início dos anos 1520 para administrar a nova igreja do Congo. Morreu em
1531. Hoje, o catolicismo romano é a maior religião em Angola, que contém a secção
em língua portuguesa do antigo reino do Congo.

 Escravidão

Nas décadas seguintes, o Reino do Congo tornou-se uma importante fonte de


escravos para os comerciantes portugueses e outras potências europeias. O Atlas
Cantino de 1502 menciona o Congo como fonte de escravos para a ilha de São Tomé.
A escravidão já existia no Reino do Congo muito antes da chegada dos
portugueses, e as primeiras cartas de Dom Afonso mostram a existência de mercados de
escravos. Eles também mostram a compra e venda de escravos dentro do País e suas
contas sobre a captura de escravos na guerra, que foram dados e vendidos a mercadores
portugueses.
É provável que a maioria dos escravos exportados para os portugueses fosse
prisioneiros de guerra das campanhas de expansão do Congo. Além disso, as guerras
escravistas ajudaram Dom Afonso a consolidar seu poder nas regiões fronteiriças do sul
e do leste.
Apesar do seu longo estabelecimento no reino, Dom Afonso acreditava que o
tráfico de escravos devia estar sujeito à lei do Reino do Congo. Quando suspeitou que

24
os portugueses recebiam escravos ilegalmente para vender, escreveu ao rei Dom João
III de Portugal em 1526 implorando-lhe que acabasse com a prática.
Por fim, Dom Afonso decidiu constituir uma comissão especial para determinar
a legalidade da escravidão dos que estavam a ser vendidos.
Uma característica comum da vida política no reino do Congo era uma
competição feroz pela sucessão ao trono. A disputa de Dom Afonso pelo trono foi
intensa, embora pouco se saiba sobre ela.
No entanto, muito se sabe sobre como tais lutas ocorreram a partir do confronto
que se seguiu à morte de Dom Afonso no final de 1542 ou início de 1543. Isto deveu-se,
em grande parte, a minucioso inquérito conduzido por funcionários régios em 1550, que
sobreviveu nos arquivos portugueses. Neste inquérito pode-se ver que facções se
formaram por trás de homens proeminentes, como o filho de Dom Afonso I, Dom Pedro
Ancanga Vemba e Diogo Kumbi ya M’pundi, seu neto que acabou derrubando Dom
Pedro em 1545.
Embora as facções se colocassem no idioma do parentesco (usando o termo
português geração ou linhagem, provavelmente canda em Kikongo) eles não foram
formados estritamente ao longo das linhas de hereditariedade, já que parentes próximos
frequentemente estavam em facções separadas. Os jogadores incluíam nobres detentores
de títulos nominais para governadores provinciais, membros do conselho real e também
funcionários na agora bem desenvolvida hierarquia da Igreja.
O Rei Dom Diogo I, habilmente substituiu ou superou seus concorrentes
entrincheirados depois de ser coroado em 1545. Enfrentou uma grande conspiração
liderada por Dom Pedro I, que se refugiara numa igreja, e a quem Dom Diogo I,
respeitando a regra de asilo da Igreja, o deixou ficar na igreja.
No entanto, Dom Diogo I, fez um inquérito sobre a trama, cujo texto foi enviado
a Portugal em 1552 e dá-nos uma excelente ideia da forma como os conspiradores
esperavam derrubar o rei, induzindo os seus apoiantes a abandoná-lo.
De acordo com um tratado entre o reino do Congo e Portugal, este último
deveria apenas negociar dentro do reino do primeiro por escravos. Isso significava que
os portugueses ficavam restritos aos escravos oferecidos pelo rei Diogo I ou aos que ele
autorizava a vender.
Todos os anos, os tomistas (portugueses residentes em São Tomé) chegavam
com 12 a 15 navios para transportar entre 400 e 700 escravos (5.000 a 10.000 escravos

25
por ano). Isso não foi suficiente para tirar proveito do fornecimento cada vez maior de
escravos do Congo.
Os capitães tentariam sobrecarregar suas cargas, resultando em revoltas. No
entanto, o factor que realmente quebrou o negócio foi o hábito tomista de navegar rio
acima até o lago Malebo para comprar escravos de comerciantes BaTeke que eram cada
vez mais levados com mercadorias europeias sobre as conchas N’zimbu que o
manicongo lhes oferecia. Enfurecido com a quebra de contrato, o rei Diogo rompeu
relações em 1555 e expulsou cerca de 70 portugueses que viviam no seu reino (muitos
dos quais viviam ali há muito tempo e tinham esposas africanas e filhos mestiços).
A tentativa do rei de pacificar o impaciente Reino do Congo em 1556 saiu pela
culatra, resultando na independência deste último. Apesar desse revés, ele desfrutou de
um longo reinado que terminou com sua morte em 1561.
O sucessor de D. Diogo I, cujo nome se perdeu na história, foi morto pelos
portugueses e substituído por um filho bastardo, mais dócil aos interesses de Tomistas,
Dom Afonso II. O povo comum do Congo ficou furioso com sua entronização e
respondeu com tumultos por todo o reino. Muitos portugueses foram mortos e o porto
real de Mpinda foi fechado aos mesmos, pondo fim ao comércio de escravos entre o
Reino do Congo e Portugal.
Em menos de um mês neste caos, D. Afonso II foi assassinado durante uma
missa, pelo seu irmão, o próximo manicongo, Bernardo I. O rei Bernardo permitiu que o
boicote ao comércio português continua-se, restabelecendo discretamente as relações
com Lisboa. O rei Bernardo I foi morto em guerra contra os jagas, em 1567.
O manicongo seguinte, Henrique I foi arrastado para uma guerra no leste do
País, onde foi morto, deixando o governo nas mãos de seu enteado Álvaro Ními ya
Lukeni ya M’vemba. Foi coroado Álvaro I, «de comum acordo», segundo algumas
testemunhas.

 Faccionalismo

Dom Álvaro I e seu sucessor, Álvaro II, também enfrentaram problemas com
rivais de facções de famílias que haviam sido deslocadas da sucessão.
Para levantar apoio contra alguns inimigos, eles tiveram que fazer concessões de
poder a outros. Uma das mais importantes dessas concessões foi permitir que Dom
Manuel, o Conde do Soyo, ocupa-se o cargo por muitos anos antes de 1591.

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Nesse mesmo período, Álvaro II fez uma concessão semelhante a Dom António
da Silva, o Duque de Bamba. António da Silva teve força para decidir a sucessão do
reino, elegendo Bernardo II em 1614, mas afastando-o a favor de Álvaro III em 1615.
Só com muito trabalho Álvaro III conseguiu colocar a sua escolha como duque
de Bamba, quando António da Silva morreu em 1620, em vez de a província cair nas
mãos do filho do duque. Ao mesmo tempo, porém, Álvaro III criou outro nobre
poderoso e semi-independente em Dom Manuel Jordão, que ocupou Nsundi para ele.

 Casa de Quincanga

As tensões entre Portugal e o Reino do Congo aumentaram ainda mais à medida


que os governadores da Angola portuguesa se tornaram mais agressivos. Luís Mendes
de Vasconcelos, que chegou a governador em 1617, usando grupos mercenários
africanos de nome Imbangala para fazer uma guerra devastadora no Reino do
N’dongo e, em seguida, para atacar e saquear algumas províncias do sul do Congo.
Ele estava particularmente interessado na província de Cassange, uma região
pantanosa que ficava ao norte de Luanda. Muitos escravos deportados através de
Luanda fugiam para esta região e muitas vezes recebiam refúgio, e por isso Mendes de
Vasconcelos decidiu a necessidade de uma acção determinada para impedir.
O governador de Angola a seguir, João Correia de Sousa, usou os Imbangalas
para lançar uma invasão em grande escala ao sul do Reino do Congo em 1622, após a
morte de Álvaro III.
Correia de Sousa, afirmou ter o direito de escolher o rei do Congo. Ele também
não concordou com a decisão dos eleitores congoleses que escolheram Pedro II, um ex-
duque de Bamba, como novo rei. Pedro II era originário do ducado de Nsundi, daí o
nome da casa real que ele criou, a Casa de Kincanga (ou Casa de Sundí). Correia de
Sousa afirmou ainda que D. Pedro II tinha acolhido escravos fugidos de Angola durante
o governo deste último de Bamba.

II. TENSÕES COM PORTUGAL

A Primeira Guerra Luso-Congolesa começou em 1622, inicialmente por causa


de uma campanha portuguesa contra o Reino de Cassange, que foi conduzida de forma
implacável. De lá, o exército mudou-se para Nambuangongo, cujo governante, Pedro
Afonso, foi acusado também de estar abrigando escravos fugitivos. Embora Pedro

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Afonso enfrentasse um exército esmagador de mais de 20.000 e ainda concordasse em
devolver alguns fugitivos, o exército atacou seu país e o mataram.
Após o sucesso em Nambuangongo, o exército português avançou para Bamba
em Novembro. As forças portuguesas conquistaram a vitória na Batalha de Bumbi. Lá
enfrentaram uma força local rapidamente reunida liderada pelo novo duque de Mbamba
e reforçada por forças de Mpemba lideradas por seu marquês. Tanto o duque de
Mbamba quanto o marquês de Mpemba foram mortos na batalha.
Segundo relatos de Esicongo, os soldados eram canibalizados pelos aliados
Imbangala dos portugueses. No entanto, Pedro II, o recém-coroado rei do Congo, trouxe
o exército principal, incluindo tropas do Soyo, para Mbamba e derrotou decisivamente
os portugueses, expulsando-os do País numa batalha travada perto de Mabanda Cassi
em Janeiro de 1623. Residentes portugueses do Congo, assustados com as
consequências para os seus negócios da invasão, escreveram uma carta hostil a Correia
de Sousa, denunciando a sua invasão.
Após a derrota dos portugueses em Mabanda Cassi, D. Pedro II declarou
Angola inimiga oficial. O rei escreveu então cartas denunciando Correia de Sousa ao
Rei de Espanha e ao Papa. Enquanto isso, revoltas anti-portuguesas irromperam em
todo o reino e ameaçaram comunidade mercantil já estabelecida. Os portugueses de
todo o País foram desarmados de forma humilhante e até forçados a desistir das roupas.
Dom Pedro, ansioso por não alienar a comunidade mercantil portuguesa, e ciente de que
esta se mantivera geralmente leal durante a guerra, fez tudo o que pôde para preservar as
suas vidas e bens, levando alguns dos seus detractores a chamá-lo de «rei dos
portugueses».
Como resultado da vitória do Congo, a comunidade mercantil portuguesa de
Luanda revoltou-se contra o governador, na esperança de preservar os seus laços com o
rei. Apoiados pelos jesuítas, que ali também tinham acabado de recomeçar a sua missão,
obrigaram João Correia de Sousa a demitir-se e a fugir do País. O governo interino que
se seguiu à partida foi liderado pelo bispo de Angola. Foram conciliadores com o Reino
do Congo e concordaram em devolver mais de mil escravos capturados por Correia de
Sousa, especialmente os nobres menores capturados na Batalha de Mbumbi.
Apesar das aberturas do novo governo em Angola, D. Pedro II não se esqueceu
da invasão e planeou tirar os portugueses do reino. O rei enviou uma carta aos Estados
Gerais holandeses propondo um ataque militar conjunto a Angola com um exército do
Congo e uma frota holandesa. Ele pagaria aos holandeses com ouro, prata e marfim por

28
seus esforços. Conforme o planificado, uma frota holandesa sob o comando do célebre
almirante Piet Heyn chegou a Luanda para realizar um ataque em 1624. O plano não
deu certo porque Dom Pedro já havia morrido e seu filho Garcia Vemba ya Ncanga foi
eleito rei. O Rei Garcia I foi mais indulgente com os portugueses e foi persuadido com
sucesso pelos seus vários gestos de conciliação. Ele não estava disposto a pressionar o
ataque a Angola na época, alegando que, como católico, não poderia se aliar a não
católicos para atacar a cidade.

 Invasões Holandesas

Em 1641, os holandeses invadiram Angola e capturaram Luanda, após uma luta


quase sangrenta.

Procuraram imediatamente renovar a sua aliança com o Reino do Congo, que


teve um início falso em 1624, quando Gracia I se recusou a apoiar um ataque holandês a
Luanda. Embora as relações entre São Salvador e Luanda não fossem calorosas, as duas
comunidades tinham gozado de uma paz fácil, devido às distracções internas da
primeira, e da segunda guerra contra o Reino da Matamba.
No mesmo ano da expulsão portuguesa de Luanda, o Reino do Congo celebrou
um acordo formal com o novo governo e concordou em fornecer assistência militar
conforme necessário. Garcia II expulsou quase todos os mercadores portugueses e luso-
africanos do seu reino. A Colónia de Angola foi declarados aliados mais uma vez, e o
duque de Mbamba foi enviado com um exército para ajudar os holandeses. Os
holandeses também forneceram ao Congo assistência militar, em troca de pagamento
em escravos.
Em 1642, os holandeses enviaram tropas para ajudar Garcia II a conter uma
revolta de povos do distrito do sul na região dos Dembos. O governo rapidamente
reprimiu a rebelião de Nsala, reafirmando a aliança Congo-holandesa. O rei Garcia
II pagou aos holandeses por seus serviços em escravos tirados das fileiras dos rebeldes
Dembos. Esses escravos foram enviados para Pernambuco, Brasil, onde os holandeses
haviam conquistado uma parte da região produtora de açúcar portuguesa. Uma força
holandesa do Congo atacou bases portuguesas no rio Bengo em 1643 em retaliação ao
assédio português. Os holandeses capturaram posições portuguesas e forçaram seus
rivais a se retirarem para os fortes no rio Cuanza, na Muxima e Massangano. Após esta

29
vitória, os holandeses mais uma vez pareciam perder o interesse em conquistar a colónia
de Angola.
Como na conquista de Pernambuco, a Companhia Holandesa das Índias
Ocidentais se contentou em permitir que os portugueses permanecessem no interior. Os
holandeses procuraram poupar-se das despesas da guerra e, em vez disso, confiaram no
controlo da navegação para lucrar com a colónia.
Assim, para desgosto de Garcia, portugueses e holandeses assinaram um tratado
de paz em 1643, encerrando a breve, embora bem-sucedida guerra. Com os portugueses
fora do caminho e o fim da perseguição holandesa às tropas, Garcia II pôde finalmente
voltar a sua atenção para a crescente ameaça representada pelo conde do Soyo.

III. PRIMEIRA GUERRA CIVIL DO CONGO

Embora Garcia ficasse desapontado com o facto de a sua aliança com os


holandeses não poder expulsar os portugueses, libertou-o para voltar a atenção para a
crescente ameaça representada pelo conde do Soyo.
Os Condes do Soyo eram inicialmente partidários fortes da Casa de Quincanga e
da sua sucessora, a Casa de Quinzala. O Conde Paulo ajudou na ascensão do Quinzala
ao poder.
No entanto, Paulo morreu quase ao mesmo tempo que Garcia se tornou rei em
1641. Um conde rival, Daniel da Silva, da Casa de Coulo, assumiu o controlo do
condado como partidário da facção kimpanzo recém-formada. Ele alegaria que Soyo
tinha o direito de escolher seu próprio governante, embora Garcia nunca aceitasse essa
afirmação e passasse grande parte da primeira parte de seu reinado lutando contra ela.
Em 1645, Garcia II enviou uma força contra Daniel da Silva sob o comando de
seu filho, Afonso. A campanha foi um fracasso, devido à incapacidade do Congo de
tomar a posição fortificada do Soyo em Mfinda Ngula.
Pior ainda, Afonso foi capturado na batalha, forçando Garcia a iniciar
negociações humilhantes com o conde para reconquistar a liberdade do filho.
Missionários capuchinhos italianos recém-chegados ao Soyo, no rescaldo da batalha,
ajudaram nas negociações.
Em 1646, Garcia enviou uma segunda força militar contra o Soyo, mas as suas
forças foram novamente derrotadas. Como Garcia estava tão decidido a subjugar o

30
Soyo, ele não conseguiu fazer um esforço militar completo para ajudar os holandeses na
guerra contra Portugal.

IV. A RECONQUISTA PORTUGUESA DE LUANDA

Os holandeses estavam convencidos de que poderiam evitar comprometer suas


forças em novas guerras. A rainha Nginga Mbandi tinha sido activa contra os
portugueses, e os holandeses se sentiam seguros.
Quando os reforços portugueses conseguiram derrotá-la em Cavanga em 1646,
os holandeses se sentiram obrigados a ser mais agressivos. Os holandeses convenceram
Congo a se juntar a eles e à rainha Nginga Mbandi em outra aventura contra os
portugueses.
Em 1647, as tropas do Congo participaram na Batalha do Kombi, onde
derrotaram solidamente o exército de campanha português, depois de os obrigar a lutar
defensivamente.
Um ano depois, os reforços portugueses do Brasil forçaram os holandeses a
renderem Luanda e se retirarem de Angola em 1648. O novo governador português,
Salvador de Sá, buscou um acordo com o Reino do Congo, exigindo a Ilha de Luanda, a
fonte do suprimento de dinheiro do reino em conchas de N’zimbu.
Embora nem o Reino do Congo nem Angola tinham jamais ratificado o tratado,
enviado ao rei em 1649, os portugueses ganharam de facto o controlo da ilha. A guerra
resultou na perda dos holandeses de suas reivindicações na África central, Nginga
Mbandi, foi forçado a voltar para Matamba, os portugueses restaurados à sua posição
costeira.
O Reino do Congo não perdeu ou ganhou nada, excepto a indemnização paga
por Garcia, que pôs fim às hostilidades entre as duas potências rivais. O rei Garcia II,
depois de permitir que os portugueses obtivessem o controlo da Ilha de Luanda, trocou a
moeda do reino por tecido de ráfia, aparentemente negando os ganhos portugueses.

V. Batalha de Ambuíla

Portugal começou a pressionar os vassalos do sul do Congo, especialmente o


País de Ambuíla, após a restauração portuguesa em Luanda. Ambuíla, um vassalo
nominal do Reino do Congo, também assinou um tratado de vassalagem com
31
Portugal em 1619. No período intermediário dividiu a sua lealdade entre a Colónia e o
Reino do Congo. Embora os portugueses frequentemente atacassem Ambuíla, eles
nunca o colocaram sob sua autoridade.
O Reino do Congo começou a trabalhar no sentido de uma aliança espanhola,
especialmente após a sucessão de António I como rei em 1660. Embora não seja claro
que actividades diplomáticas exerceu com a própria Espanha, os portugueses
acreditavam claramente que ele esperava repetir a invasão holandesa, desta vez com os
assistência da Espanha.
António enviou emissários para a região dos Dembos e para Matamba e
Ambuíla, na tentativa de formar uma nova aliança anti-portuguesa. Os portugueses
foram incomodados, além disso, pelo apoio dos escravos fugitivos do Reino do Congo,
que migraram para o sul do Reino do Congo durante a década de 1650.
Ao mesmo tempo, e na sua agenda prioritária os portugueses avançavam para
Ambuíla, que reivindicavam como vassalo. Em 1665, ambos os lados invadiram
Ambuíla, e seus exércitos rivais se encontraram em Ulanga, no vale abaixo de M'Banza
Ambuíla, capital do distrito.
Na Batalha de Ambuíla em 1665, as forças portuguesas de Angola tiveram a sua
primeira vitória contra o reino do Congo desde 1622. Derrotaram as forças comandadas
por António I matando-o e muitos dos seus cortesãos, bem como o padre capuchinho
luso-africano Manuel Roboredo (também conhecido pelo nome de claustro de Francisco
de São Salvador), que tinha tentado impedir esta guerra final.

VI. SEGUNDA GUERRA CIVIL DO CONGO

Após a batalha, não houve uma sucessão clara. O País foi dividido entre
pretendentes rivais ao trono. As duas facções, Kimpanzo e Kinzala, endureceram e
dividiram o País entre si. Os fingidos ascenderiam ao trono e então seriam expulsos. O
período foi marcado pelo aumento da venda de escravos congos através do Atlântico,
pelo enfraquecimento da monarquia congolesa e pelo fortalecimento do Soyo.
Durante este caos, o Congo foi sendo cada vez mais manipulado pelo Soyo.
Num acto de desespero, a autoridade central do Congo apelou a Luanda para atacar o
Soyo em troca de várias concessões. Os portugueses invadiram o condado do Soyo em
1670. Não tiveram mais sucesso do que Garcia II, sendo derrotado pelas forças do Soyo
na Batalha de Kitombo em 18 de Outubro de 1670.
32
O reino do Congo permaneceria completamente independente, embora ainda
envolvido em guerra civil, graças à própria força (coloniais portugueses) que lutou tanto
para destruir.
A derrota portuguesa foi suficientemente retumbante para acabar com todas as
ambições portuguesas na esfera de influência do Reino do Congo, até ao final do século
XIX.
As batalhas entre Kimpanzos e Kinzalas continuaram mergulhando o reino em
um caos desconhecido há séculos. As lutas entre as duas linhagens levaram ao saque de
São Salvador em 1678.
Ironicamente, a capital construída pelo pacto de Mpemba e Bata foi totalmente
queimada, não pelos portugueses ou por nações africanas rivais, mas pelos próprios
herdeiros. A cidade e o interior ao redor de São Salvador ficaram despovoados.
A população dispersou-se nas fortalezas dos reis rivais no topo da montanha.
Eram a serra de Quibango a leste da capital e a fortaleza das Águas Rosadas, linha
fundada na década de 1680 pelos descendentes de Kinlaza e Kimpanzo, a região de
Mbula, ou Lemba onde governou uma linha fundada pelo pretendente a Kinlaza, Dom
Pedro III; e Lovota, um distrito no sul do Soyo que abrigava uma linhagem Kimpanzo
cuja cabeça era Dona Suzana da Nóbrega.
Finalmente, Dona Ana Afonso de Leão fundou o seu próprio centro no rio
Ambidizi em Incondo e guiou os seus parentes mais novos para reclamarem o País, ao
mesmo tempo que procurava reconciliar as facções hostis.
Neste ínterim, no entanto, dezenas de milhares de fugitivos do conflito ou
apanhados nas batalhas foram vendidos como escravos a comerciantes de escravos
europeus todos os anos.
Um riacho humano conduzia ao norte para Loango, cujos mercadores,
conhecidos como Vili (Mubires no período) os transportavam principalmente para os
mercadores com destino à América do Norte e Caribe, e outros foram levados ao sul
para Luanda, onde foram vendidos a mercadores portugueses com destino a Brasil.
No final do século XVII, várias guerras longas e intervenções dos agora
independentes Condes do Soyo (que se remodelaram como Príncipes) que puseram fim
à idade de ouro do Reino do Congo.

VII. DECADÊNCIA E RESTABELECIMENTO

33
Por quase quarenta anos, o reino do Congo mergulhou na guerra civil. Com São
Salvador em ruínas, as casas rivais recuaram para bases em Mbula (também conhecida
como Lemba) e Quibango.
Em meio a essa crise, uma jovem chamada Dona Kimpa Vita, apareceu
alegando estar possuída pelo espírito de Santo António. Ela tentou ganhar
reconhecimento para a reunificação do País.
A princípio, em 1704, tentou com D. Pedro IV N’samu u Vemba que governava
de Kibango, a leste da antiga capital. Quando rejeitada, foi até seu rival Dom João
II Nzuzi ya Ntamba, na montanha fortificada de Lemba (também conhecida como
Mbula), ao sul do rio Congo.
Depois de ser expulsa de lá, ela decidiu chamar seus seguidores para reocupar a
capital. Milhares vieram e a cidade foi repovoada. À medida que se tornou mais uma
atriz política, envolveu-se na rivalidade entre os reis, optando por eleger o comandante
do exército Kibango Pedro Constantino da Silva como novo rei, em detrimento de Dom
Pedro IV.
No entanto, ela foi capturada pouco depois pelos partidários de Pedro IV,
julgada, condenada por feitiçaria e heresia e queimada em Julho de 1706. O movimento
continuou no controlo de São Salvador, até que o exército de Dom Pedro IV a invadiu
em 1709, conseguindo por reunificar o País.

VIII. SÉCULOS XVIII E XIX

Nos séculos XVIII e XIX, os artistas do Reino do Congo começaram a fazer


crucifixos e outros objectos religiosos que retratavam Jesus como um africano.
Tais objectos produzidos por muitas oficinas durante um longo período (dada a
sua variedade) reflectiam a crença emergente de que o Reino do Congo foi uma parte
central do mundo cristão e fundamental para sua história.
Uma história do século XVIII é que a catedral parcialmente arruinada de São
Salvador, originalmente construída para os jesuítas em 1549 e posteriormente elevada à
categoria de catedral, foi construída da noite para o dia por anjos. Era carinhosamente
chamado de Culumbimbi. O Papa João Paulo II acabaria celebrando a missa nesta
catedral em 1992.
Dom Manuel II, Rei do Reino do Congo sucedeu a Dom Pedro IV em 1718.
Manuel II governou um reino restaurado e inquieto até à sua morte em 1743.

34
No entanto, o estatuto provincial do Soyo no reino, limitou o poder de Manuel.
Sundí, ao norte, que também se tornou parcialmente independente, embora ainda
afirmava ser parte do reino maior e permanentemente governado por uma família
Kimpanzo.
Mesmo nas porções restantes do reino, ainda havia rivalidades poderosas e
violentas. Pelo menos uma grande guerra ocorreu na década de 1730 na província de
Bamba. O sucessor de Dom Pedro IV, Garcia IV Nkanga ya Bamba, governou de 1743
a 1752.
A restauração de Dom Pedro IV exigiu que seu sucessor fosse membro de um
ramo da facção Kinzala residente em Matadi que jurou lealdade a Dom Pedro IV em
1716. Outros ramos Kinzala se desenvolveram a norte, em Lemba e Matari, e a sul ao
longo do rio Ambidizi em terras governadas por Dona Ana Afonso de Leão. As terras
de Ana Afonso de Leão passaram a ser chamadas de «Terras da Rainha».
O sistema de sucessão alternada ruiu em 1764, quando Álvaro XI, um Kinzala,
expulsou o usurpador rei Kimpanzo Pedro IV (o primeiro a ter este título) e assumiu o
trono.
Pedro e seu sucessor em Lovata mantiveram um tribunal separado no Sembo e
nunca reconheceram a usurpação. Um regente do sucessor de Pedro reivindicou o trono
no início da década de 1780 e pressionou suas reivindicações contra José I, um Kinzala
do ramo do Vale do Ambidizi da família real.
José venceu o confronto e lutou em São Salvador em 1781, uma batalha massiva
envolvendo 30.000 soldados apenas ao lado de José. Para mostrar seu desprezo pelo
rival derrotado, José se recusou a permitir que o soldado da outra facção recebe-se em
um enterro cristão. O poder de José era limitado, pois ele não tinha domínio sobre as
terras controladas pela facção Kinlaza de Lemba e Matari, embora fossem tecnicamente
da mesma família. Não seguiu sua vitória para estender sua autoridade sobre as terras
Kimpanzo ao redor de Lovota.
Ao mesmo tempo, as terras ao redor do monte Kibango, base original de Pedro
IV, eram controladas por membros da família Água Rosada, que afirmavam ser
descendentes de Kimpanzos e Kinzalas.
José governou até 1785, quando entregou o poder a seu irmão Afonso V (1785–
87). O breve reinado de Afonso terminou com sua morte repentina, supostamente por
envenenamento.

35
Uma luta confusa estourou após a morte de Afonso V. Em 1794, o trono acabou
nas mãos de Henrique II, um homem de casa desconhecida, que arranjou três partidos
para dividir a sucessão. Garcia V revogou o acordo, proclamando-se rei em 1805. Ele
governou até 1830. André II, que seguiu Garcia V, parecia ter restaurado as
reivindicações rotacionais mais antigas, visto que era do ramo norte de Kinzala, cuja
capital havia se mudado de Matadi para Mangá. André II, governou até 1842 quando
Henrique III, do ramo sul (Vale do Ambidizi) da mesma família, o derrubou. André II,
no entanto, não aceitou seu destino e retirou-se com seus seguidores para M'Banza Puto,
uma aldeia logo além da orla de São Salvador, onde ele e seus descendentes mantiveram
suas reivindicações. O rei Henrique II, que chegou ao poder após a derrubada de André
II, governou o Congo de 1842 até sua morte em 1857.
Em 1839, o governo português, agindo sob pressão britânica, aboliu o comércio
de escravos ao sul do equador que tanto prejudicara a África Central. O tráfico de
pessoas continuou até meados da década de 1920, primeiro como comércio ilegal de
escravos, depois como mão-de-obra contratada.
Um comércio de commodities, inicialmente focado em marfim e cera, mas
crescendo gradualmente para incluir amendoim e borracha, substituiu o comércio de
escravos. Este comércio revolucionou as economias e, eventualmente, a política de toda
a África Central.
No lugar do comércio de escravos, em grande parte sob o controlo das
autoridades estaduais, milhares, e eventualmente centenas de milhares, de plebeus
começaram a transportar mercadorias do interior para os portos costeiros. Essas pessoas
conseguiram compartilhar a riqueza do novo comércio e, como resultado, pessoas
conectadas comercialmente construíram novas aldeias e desafiaram as autoridades.
Durante este período, a estrutura social também mudou. Novas organizações
sociais, makanda, surgiram. Esses makanda, nominalmente clãs descendentes de
ancestrais comuns, eram tanto associações comerciais quanto unidades familiares.
Estes clãs fundaram cadeias de aldeias ligadas por parentesco fictício ao longo
das rotas comerciais, de Boma ou da costa do Soyo à São Salvador e depois para o
interior. Uma nova tradição oral sobre o fundador do reino, muitas vezes considerado
Afonso I, descreveu o reino como originário quando o rei fez com que os clãs se
dispersassem em todas as direcções.

36
As histórias desses clãs, geralmente descrevendo as viagens de seu fundador e
seus seguidores desde um ponto de origem até suas aldeias finais, substituíram em
muitas áreas a história do próprio reino.
Apesar das rivalidades violentas e da fragmentação do reino, ele continuou a
existir de forma independente até o século XIX. A ascensão dos clãs tornou-se notável
na década de 1850, no final do reinado de Henrique III.
Em 1855 ou 1856, dois reis em potencial surgiram para contestar a sucessão
após sua morte. Álvaro Ndongo, um Kimpanzo, reivindicou o trono em nome da facção
Kinzala de Matari, ignorando a existência do grupo de André em M'Banza Puto, que se
auto-denominava Álvaro XIII, enquanto Pedro Elelo reivindicou o trono em nome da
facção do Vale do Ambidizi dos Kinzala, de uma base em Bembe.
Dom Pedro acabou vencendo uma longa luta militar, graças à solicitação de
ajuda portuguesa, e com a ajuda deles seus soldados derrotaram Álvaro em 1859. Como
André II, Álvaro XIII não aceitou a derrota e estabeleceu sua própria base em Nkunga,
não muito longe de São Salvador.
O apoio português que colocou Pedro Elelo no trono teve um preço, pois quando
foi coroado Pedro VI, ele também havia jurado um tratado de vassalagem para Portugal.
Portugal ganhou assim autoridade nominal sobre o Reino do Congo, quando
Pedro VI assumiu o controlo dele em 1859, e até construiu um forte em São Salvador
para abrigar uma guarnição.
Em 1866, alegando custos excessivos, o governo português retirou sua
guarnição. Dom Pedro VI foi capaz de continuar seu governo. No entanto, embora
enfrenta-se rivalidade crescente de magnatas do comércio baseados em clãs, que
drenaram sua autoridade de grande parte do País.
O mais perigoso deles era Garcia Mbwaka Matu, da cidade de Makuta. Esta
cidade havia sido fundada por um homem chamado Kuvo, que provavelmente obtinha
sua riqueza através do comércio, já que ele e Garcia controlavam muito os mercados.
Embora este tenha sido um grande desafio na década de 1870, após a morte de Garcia
em 1880, Makuta tornou-se menos problemático.
Na Conferência de Berlim em 1884-1885, as potências europeias dividiram a
maior parte da África Central entre si. Portugal reivindicou a parte do que restou do
Congo independente.
No entanto, Portugal não estava em condições de fazer uma «ocupação
efectiva».

37
O rei Pedro VI continuou a governar até sua morte em 1891, e foi capaz de usar
os portugueses para fortalecer controlo.
Em 1888, Dom Pedro VI, reafirmou voluntariamente a posição do Reino do
Congo como um estado vassalo português. Depois de uma revolta contra os portugueses
em 1914, Portugal declarou a abolição do reino do Congo, do qual o governante na
época era Manuel III, pondo fim ao domínio nativo e substituindo-o pelo domínio
colonial directo.
No entanto, de acordo com o Almanach de Bruxelles6, uma série de reis titulares
continuou usando o título até 1962, quando uma disputa pela sucessão começou.
Em 1975 com a independência de Angola, foi instaurado um Estado socialista e
os títulos foram oficialmente abolidos.

IX. ESTRUTURA MILITAR

O exército do Reino do Congo consistia em uma leva em massa de arqueiros,


oriundos da população masculina em geral, e um corpo menor de infantaria pesada, que
lutava com espadas e carregava escudos para protecção.
Os documentos portugueses normalmente se referiam à infantaria pesada,
considerada nobre, como fidalgos nos documentos. O porte de escudo também era
importante, como os documentos portugueses costumam chamar a infantaria pesada de
adargueiros (porta-escudos). Há evidências fracas que sugerem que as atribuições de
receita as pagaram e sustentaram.
Um grande número, talvez até 20.000, ficou na capital. Contingentes menores
viviam nas principais províncias sob o comando de governantes provinciais.
Depois de 1600, a guerra civil tornou-se muito mais comum do que a guerra
entre estados. O governo instituiu um recrutamento para toda a população durante a
guerra, mas apenas um número limitado realmente serviu.
Muitos que não carregavam armas carregavam bagagem e suprimentos. Milhares
de mulheres apoiaram exércitos em movimento. Os administradores esperavam que os
soldados tivessem comida para duas semanas ao se apresentarem para o serviço de
campanha. As dificuldades logísticas provavelmente limitaram tanto o tamanho dos
exércitos quanto sua capacidade de operar por longos períodos.

6
Almanach de Bruxelles, é um registo social francês extinto que listava dinastias reais da Europa. Foi
estabelecido em 1918 durante a Primeira Guerra Mundial para competir contra a proeminente Alemão
Almanach de Gotha.

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Algumas fontes portuguesas sugeriram que o rei do Reino do Congo destacou
exércitos de até 70.000 soldados para a Batalha de Ambuíla7 em 1665, mas é
improvável que exércitos com mais de 20-30.000 soldados pudessem ser reunidos para
campanhas militares.
As tropas foram mobilizadas e revistas no dia de São Tiago, 25 de Julho, altura
em que também foram recolhidos impostos. Súbditos festejados nesta data em
homenagem a São Tiago e Afonso I, cuja milagrosa vitória sobre o seu irmão em 1509
foi o principal significado da festa no Congo.
Quando os portugueses chegaram ao Reino do Congo, foram imediatamente
adicionados como uma força mercenária, provavelmente sob o seu próprio comandante,
e usaram armas de uso especial, como bestas e mosquetes, para adicionar força à ordem
normal de batalha do Congo.
Seu impacto inicial foi silenciado; Afonso reclamou em uma carta de 1514 que
eles não foram muito eficazes na guerra que ele travou contra Munza, um rebelde
Mbundu, no ano anterior. Na década de 1580, porém, um corpo de mosqueteiros, criado
localmente com portugueses residentes e seus descendentes mestiços (mestiços), fazia
parte regular do exército principal do Congo na capital. Os exércitos provinciais tinham
alguns mosqueteiros; por exemplo, serviram contra o exército invasor português em
1622. Trezentos e sessenta mosqueteiros serviram no exército do Congo contra os
portugueses na Batalha de Ambuíla.

X. ESTRUTURA POLÍTICA

A aldeia Vata, referida como Lubatas nos documentos do Reino do Congo e


pelos portugueses no século XVI, serviu como unidade social básica do Congo depois
da família.
As kanda são famílias, grupos de descendência matrilinear, que legitimavam o
controlo sobre a terra. Quando ocorriam concentrações dessa terra, o poder tornava-se
bastante hierárquico e concentrava-se nas mãos de um chefe. Nkuluntu, ou mocolunto
para os portugueses, chefes dirigiam as aldeias. De cem a duzentos cidadãos por aldeia
migraram a cada dez anos para acomodar a exaustão do solo. A propriedade comunal da

7
Batalha de Ambuíla, foi uma batalha que ocorreu em 29 de Outubro de 1664, na região de Ambuila
(Angola) entre as forças do Reino de Portugal e do Reino do Congo. O Rei António I do Congo, do Reino
do Congo, foi derrotado e decapitado.

39
terra e as fazendas colectivas produziram colheitas divididas pelas famílias de acordo
com o número de pessoas por família. O Nkuluntu recebeu um prémio especial da
colheita antes da divisão.
As aldeias foram agrupadas em wene, pequenos estados, liderados por awene
(plural de muene) ou mani aos portugueses. Awene vivia em M'Banza, vilas maiores ou
pequenas cidades com algo entre 1.000 e 5.000 cidadãos. A alta nobreza normalmente
escolhia esses líderes. O rei também nomeava oficiais de nível inferior para servir,
geralmente por mandatos de três anos, auxiliando-o no patrocínio.
Várias províncias constituíam as divisões administrativas superiores do Congo,
com alguns dos estados-maiores e mais complexos, como Bamba, divididos em vários
números de sub-províncias, que a administração subdividiu posteriormente. O rei
nomeava Muene Bamba, duque de Bamba após a década de 1590.
O rei tinha tecnicamente o poder de demitir o Muene Bamba, mas a complexa
situação política limitava o exercício do poder pelo rei. Quando a administração
distribui-a títulos de estilo europeu, grandes distritos como Bamba e Nsundi tornavam-
se ducados. A administração fazia outros menores, como Pemba, Mpangu ou uma série
de territórios ao norte da capital. Soyo, uma província complexa na costa, tornou-se um
«Condado», assim como Nkusu, um Estado menor e menos complexo a leste da capital.
Famílias hereditárias controlavam algumas províncias, mais notavelmente o
Ducado de Mbata e o Condado de Nkusu, por meio de seus cargos como oficiais
nomeados pelo rei. No caso de Mbata, a origem do reino como uma aliança produziu
esse poder, exercido pelo Nsaku Lau.
No século XVII, as manobras políticas também fizeram com que algumas
províncias, nomeadamente o Soyo, mas ocasionalmente Bamba, fossem governadas
durante muitos anos pela mesma pessoa. Os governos provinciais ainda pagavam renda
à coroa e seus governantes se reportavam à capital para prestar contas.
O reino do Congo era constituído por um grande número de províncias. Várias
fontes listam de seis a quinze como as principais. A descrição de Duarte Lopes, com
base na sua experiência no final do século XVI, identifica seis províncias como as mais
importantes. Eram Nsundi no nordeste, Ampangu no centro, Mbata no sudeste, Soyo no
sudoeste e duas províncias do sul de Mbamba e Mpemba.
O rei do Congo também detinha vários reinos em vassalagem pelo menos
nominal. Estes incluíam os reinos de Cacongo, Angoio e Vungu ao norte do Congo. Os
títulos reais, elaborados pela primeira vez por Afonso em 1512, denominavam o

40
governante de «Rei do Congo e Senhor dos Ambundos» e, posteriormente, os títulos
listavam uma série de outros condados sobre os quais também governava como «Rei».
Os reinos ambundos incluíam Ndongo (às vezes erroneamente mencionado como
«Angola»), Quissama e Matamba.
Todos esses reinos estavam ao sul do Congo e muito mais distantes da influência
cultural do rei do que os reinos do norte. Reinos orientais ainda posteriores, como o
Congo dia Nlaza, também foram mencionados nos títulos do governante.
Em alguns casos, mulheres governaram pequenos territórios, embora nenhuma
possua um título provincial importante antes do final do século XVII. O padre
capuchinho Giovanni Antonio Cavazzi, que visitou o Reino do Congo em 1663-4,
registou que acreditava que tais nomeações femininas não eram incomuns. Segundo ele,
se tal mulher fosse solteira, ela poderia escolher um homem para ser seu marido, e ele
seria respeitado como tal por todos.
No século seguinte, as mulheres tornaram-se muitas mais abertas em suas
expressões de poder. Não se sabe o porquê dessa mudança. Cherubino da Savona
descreveu o Congo em 1760 como um império onde vários reinos eram governados por
mulheres.

XI. CONSELHO REAL

O Reino do Congo era governado em concerto pelo manicongo e pelo conselho


real conhecido como «ne mbanda-mbanda», traduzindo aproximadamente como «o topo
do topo». Era composta por doze membros divididos em três grupos.
Um grupo era de burocratas, outro de eleitores e um último de matronas. Altos
funcionários escolhiam o manicongo ou rei que servia por toda a vida após sua escolha.
Os eleitores variavam com o tempo e provavelmente nunca houve uma lista
completamente fixa; em vez disso, altos funcionários que exerciam o poder o fizeram.
Muitos reis tentaram escolher seu sucessor, nem sempre com sucesso. Um dos
problemas centrais da história do Congo foi a sucessão de poder e, como resultado, o
País foi perturbado por muitas rebeliões e revoltas.

41
XII. POSTOS BUROCRÁTICOS

Os quatro cargos não eleitos eram compostos por Muene Lumbo (senhor do
palácio/mordomo), Mfila Ntu (conselheiro/primeiro ministro de maior confiança),
Muene Vangu-Vangu (senhor dos feitos ou acções/juiz supremo, especialmente em
casos de adultério), e Muene Bampa (tesoureiro). Esses quatro eram todos indicados
pelo rei e tinham grande influência nas operações do dia-a-dia da corte.

 Eleitores

Outros quatro conselheiros trabalhavam para eleger o rei e também homens para
cargos importantes.
Os eleitores são compostos pelo Muene Vunda (senhor de Vunda, um pequeno
território ao norte da capital com obrigações principalmente religiosas que liderava os
eleitores) o Muene Bata (senhor da província de Mbata directamente a leste da capital e
administrado pelo Nsaka Lau kanda que fornecia a grande esposa do rei), Muene Soyo
(senhor da província do Soyo a oeste da capital e historicamente a província mais rica
por ser o único porto e ter acesso ao sal), e um quarto eleitor, provavelmente o Muene
Bamba (senhor da província de Bamba ao sul da capital e capitão-geral dos exércitos).
O Muene Vunda era nomeado pelo rei do Nsaku ne Vunda Kanda.
O Muene Bata era confirmado nominalmente pelo rei do Nsaku Lau kanda.
A Muene Soyo era nomeada pelo rei do Kanda da Silva.
O Muene Bamba era nomeado pelo rei de qualquer lugar que ele deseja-se, mas
geralmente tinha uma relação familiar próxima.
Esses quatro homens elegiam o rei, enquanto Muene Vunda e Muene Bata
desempenhavam papéis cruciais na coroação.

 Matronas

Por último, o conselho contava com quatro mulheres com grande influência no
conselho.
Eles eram liderados pela Muene Zimba Pungo, uma rainha-mãe, geralmente
sendo a tia paterna do rei. A segunda mulher mais poderosa era Muene Banda, a grande
esposa do rei, escolhida entre os Nsaku Lau kanda. Os outros dois cargos eram dados às

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outras mulheres próximas e importantes no reino, sendo rainhas viúvas ou matriarcas de
ex-governantes.
Elas frequentemente possuíam alta renda e posição, por vezes administrando
enorme influência na política, outras vezes com essa influência praticamente
inexistente. Em alguns casos foram figuras de grande autoridade, sendo até conhecidas
como matronas, e tiveram sua opinião e seus pedidos levados em conta, o que definiu
aspectos políticos da relação interna do Congo e do Congo com Portugal.
Em registos, reconhecem-se as posições de mães, de conselheiras, ou de piedade
e devoção.

XIII. ESTRUTURA ECONÓMICA

A moeda universal no Reino do Congo e em quase toda a África Central era a


concha de Olivella nana, um caracol marinho, conhecido localmente como nzimbu.
Cem nzimbu podiam comprar uma galinha; 300 uma enxada de jardim e 2.000
uma cabra.
Os escravos, que sempre fizeram parte da economia do Reino do Congo,
aumentavam no comércio depois do contacto com Portugal, também foram comprados
em zimbu. Uma escrava podia ser comprada (ou vendida) por 20.000 nzimbu e um
escravo por 30.000.
As conchas de Nzimbu eram recolhidas na ilha de Luanda e mantidas como
monopólio real. As conchas menores eram filtradas para que apenas as conchas grandes
entrassem no mercado como moeda. O Congo não trocaria por ouro ou prata, mas as
conchas de nzimbu, muitas vezes colocadas em potes em incrementos especiais, podiam
comprar qualquer coisa. Os «potes de dinheiro» do Congo continham incrementos de
40, 100, 250, 400 e 500.
Para compras especialmente grandes, havia unidades padronizadas como um
funda (1.000 cascas grandes), Lufucu (10.000 cascas grandes) e um cofo (20.000
grandes cartuchos).
A administração do Congo considerava suas terras como renda, transferência de
receita. O governo do Congo cobrava um imposto monetário por cabeça para cada
aldeão, que podia muito bem ter sido pago em espécie, formando a base para as finanças
do reino. O rei concedia títulos e renda com base neste imposto por pessoa. Os titulares
se reportavam anualmente ao tribunal de seu superior para avaliação e renovação.

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Os governadores provinciais pagavam uma parte das declarações de impostos de
suas províncias ao rei. Os visitantes holandeses do Congo na década de 1640 relataram
essa receita como vinte milhões de conchas de nzimbu. Além disso, a coroa colectava
seus próprios impostos e taxas especiais, incluindo pedágios sobre o comércio
substancial que passava pelo reino, especialmente o lucrativo comércio de tecidos entre
a grande região produtora de tecidos dos «Sete Reinos do Congo dia Nlaza», o leste
regiões denominadas «Momboares» ou «Os Sete» em kikongo, e o litoral,
especialmente a colónia portuguesa de Luanda.
As receitas da coroa sustentavam a igreja, pagas por atribuições de receitas
baseadas na renda real. Por exemplo, Pedro II detalhou as finanças de sua capela real,
especificando que as receitas de várias propriedades e rendas provinciais a sustentariam.
Taxas de baptismo e sepultamento também financiaram as igrejas locais.
Quando o rei Garcia II cedeu a ilha de Luanda e a sua pesca real aos portugueses
em 1651, trocou a moeda do reino por tecido de ráfia. O pano era «do tamanho de um
guardanapo» e chamado mpusu. No século XVII, 100 mpusu podiam comprar um
escravo, implicando em um valor maior que o da moeda nzimbu. O tecido de
ráfia também era chamado de Lubongo (singular: Lubongo, Libongo, plural: Mbongo).

XIV. ESTRUTURA SOCIAL

 Organização matrilinear, famílias e mulheres

Os grupos Bantu centrais que compunham a maior parte do reino do Congo


passaram ao status por sucessão matrilinear. Além disso, as mulheres no grupo de reinos
que em várias épocas foram províncias do reino do Congo podiam ter papéis
importantes no governo e na guerra.
Ainda são poucos os estudos sobre as vidas e possibilidades de acção dessas
mulheres no Reino do Congo. Pode-se inferir que isso se deveu não só às suas
participações veladas, mas importantes, na política da região, mas também a uma falta
de documentos e de registos escritos que focassem puramente nelas.
Contudo, é possível, mesmo que de modo bastante incompleto, reconstruir suas
histórias com base nesses poucos registos - principalmente de viajantes e de
missionários – e na cosmologia, cosmo visão e lógica familiar dos congoleses.

44
Durante grande parte da história da realeza no Reino do Congo, essa foi
dominada pela ideologia da kanda. As kanda são grupos de descendência
matrilinear que legitimavam o controlo sobre a terra.
Quando ocorriam concentrações dessa terra, o poder tornava-se bastante
hierárquico e concentrava-se nas mãos de um chefe. Nessa ideologia, os casamentos
serviam não só para firmar alianças entre grupos vizinhos, mas também podiam indicar
diferenciação de classes de acordo com o número de esposas que alguém poderia
sustentar. Havia uma “esposa principal” que ajudava a cimentar as relações entre iguais
e “esposas subsidiarias” que ajudavam a cimentar as relações com subordinados.
Existia uma clara divisão de trabalho entre mulheres e homens. Esses eram
encarregados dos trabalhos mais pesados, como o desflorestamento, enquanto aquelas
limpavam o solo e cuidavam das plantações. O foco das kanda na terra ajudou a
perpetuar essa divisão, na medida que tornou uma complementaridade no trabalho em
uma certa complementaridade política: as kanda eram normalmente chefiadas por um
homem e uma mulher, sendo que o posto de líder era passado, em uma lógica
matrilinear, da tia materna de um rei para a sua irmã.
Durante os séculos XVI e XVII, e talvez em períodos pré-coloniais, muitos
kanda foram chefiados somente por mulheres. Supõem-se que uma mudança para a
patrilinearidade e lideranças puramente masculinas tenham ocorrido a partir da
introdução do cristianismo e de pensamentos eurocêntricos, além de uma mudança
ecológica que possibilitou que os homens que trabalhavam no desflorestamento
passassem a se dedicar a trabalhos mais lucrativos e a ter mais liberdade que as
mulheres.
No início do século XV o reino do Congo se expandiu e passou a incluir
diferentes kanda, sendo que cada um providenciava uma esposa para o mani Congo.
O Conselho era composto por doze indivíduos, sendo quatro desses sempre
mulheres. Elas podiam ter sido as chefes femininas do kanda do próprio mani Congo,
ou do kanda do seu pai, ou do seu avô materno ou do seu avô paterno. A mulher
principal era intitulada 'Mãe' do mani Congo e, seguindo o modelo kanda, era a chefe
feminina do mani Congo, talvez tendo sido também uma chefe importante e mais velha
do seu próprio kanda. À cada uma dessas mulheres também era confiada a liderança de
uma província e um salário. Logo, elas detinham uma grande quantia e capacidade de
poder.

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Entretanto, enquanto as descendências eram calculadas do ponto de vista
matrilinear, para a realeza esse sistema podia diferir. Antes do e durante o século XVI
houve uma flexibilização das relações da realeza, o que interferiu nas kanda e permitiu
definir estruturas políticas extra-kanda.
O título de mani Congo tornou-se a maior fonte de poder e logo se acirraram as
disputas entre kandas, complexificadas pelo contacto com portugueses e pelo crescente
tráfico de escravos.
Mulheres também eram dadas como concubinas para os governadores de cada
província, alguns chegavam a ter mais de 30. Isso criava para elas relações de bastante
estabilidade, nas quais tinham muito a ganhar: seus filhos eram relacionados ao pai,
homem de poder, e não às suas famílias. Descendência relacionada ao pai foi
gradualmente substituindo a ideia dos laços matrilineares e fortalecendo a
patrilinearidade.
O cristianismo, com sua tradição de baptizar a criança com o sobrenome do pai,
contribuiu para essa fortificação.
As categorias patrilineares diferiam da ideia da kanda matrilinear. Elas não
chegavam a formar grupos com características definidas, mas conseguiam se estabelecer
como grupos de liderança no Congo.
A partir do reino de Afonso I foram os descendentes patrilineares membros de
seu kanda que concentraram o poder. Essa situação teve efeitos positivos e negativos
sobre as mulheres. Primeiramente, as linhas de descendência patrilineares fizeram com
que os homens buscassem direitos de ter seus filhos como herdeiros, o que fortaleceu a
posição da esposa principal. Essa detinha, além de bastante riquezas, muitos escravos.
Outrossim, o cristianismo como religião consolidada fortificou o papel dessa esposa de
modo a tentar erradicar a poligamia. Em muitos casos, as outras esposas acabaram
tornando-se escravas.
Muitos governantes ainda esperavam que os kanga lhes concedessem mulheres
para desposar. Porém, os líderes dos kanga perceberam que seu kanga podia ter mais
poder se casassem com as mulheres da família dos reis, e não o contrário. Desse modo,
criaram-se ligações que possibilitaram que os próximos reis fossem filhos desses
casamentos em que, apesar de tudo, a matrilinearidade ainda tinha seu poder – a
associação entre um determinado número de famílias.
As mulheres sabiam que seus filhos, pelo parentesco, podiam assumir o trono.
As linhagens foram traçadas a partir da relação da criança com o rei. Logo, fica claro

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que muito do poder feminino, dentro da elite, advinha de sua influência sobre os
homens, no papel de líderes das linhagens, seja como mãe, tia, esposa ou avó. Isso
ocorreu de forma evidente durante o século XVI, já que as disputas por poder e uma
guerra civil no século XVII modificaram estruturas
O sistema político e administrativo no Congo era bastante centralizado. Um
sistema em que a heriditariedade não é a regra abre mais espaço para a participação
feminina. Porém, se a mulher não possui uma relação forte de parentesco com o rei, sua
posição seria deveras desprivilegiada.
O sistema de parentesco teria conferido às mulheres um poder potencialmente
estratégico como mediadoras, talvez porque estivessem fora dos papéis políticos
formais, além de poderem ocupar altos cargos devido à sua lealdade ao rei.
As mulheres adoptaram o cristianismo e destacaram-se dentro dele. Em 1491,
Leonor Anzinga Anlaza, esposa do rei, demandou que fosse baptizada da mesma forma
que seu marido. Assim, ela iniciou uma tradição de «rainhas» que representavam a fé
católica.
Em documentos do século XVI e do início do século XIX, há uma série de
indicações de que as mulheres desempenharam um papel importantíssimo na
manutenção e desenvolvimento do catolicismo do Congo. Nos momentos em que a
unidade do reino foi desestabilizada e seu poder dissipado entre concorrentes, foram as
mulheres da elite que continuaram a manter a fé e acolheram os missionários católicos.
Com a chegada dos missionários Capuchinhos no Congo em 1645, diversos
registos sobre a vidas das mulheres na corte e fora dela foram feitos.
Algo notado por eles foi o trabalho de mulheres comuns junto ou por meio de
sues maridos, a partir do controle das propriedades e recursos. Talvez isso as tenha
tornado mais independentes que as mulheres da elite.
Um relatório de um Capuchinho mostra que era crime que levava a escravização
do malfeitor o adultério com filhas, esposas, sobrinhas ou concubinas de homens da
elite. O padre deixa escrito que no Soyo, «quem deflorar uma menina, ele próprio se
tornaria seu escravo» como pagamento por seu crime.
Ainda assim, nenhuma mulher teve o total controle do Estado no Congo,
diferentemente de regiões próximas como o Mbundu, onde houve o governo da rainha
Nginga. Isso pode significar que, ideologicamente, no Congo não se aceitava a
possibilidade de uma mulher ser líder de Estado, mesmo que algumas tenham sido
autoridades locais.

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NOTA IMPORTANTE:

M'Banza Congo passou a chamar-se São Salvador do Congo depois do século


XVI; sendo, rebaptizada novamente para M'Banza Congo, depois da independência de
Angola a 11 de Novembro de 1975.

O TRATADO DE CHINFUNA DE 1883

Aos 29 dias do mês de Setembro do ano de 1883, no morro de Chinfuma, em


Lândana, na costa ocidental de África, achando-se reunidos como representantes por
parte do governo português o capitão-tenente da armada Guilherme Augusto de Brito
Capelo, comandante da corveta rainha de Portugal, e pela dos Povos que habitam os
territórios de ambas as margens do rio Kakongo, os Príncipes e mais Cavalheiros,
actuais Chefes e Governadores dos mesmos Povos, que por todos os presentes foram
reconhecidos como sendo os próprios, juntamente com os negociantes portugueses e
estrangeiros, donos das casas comerciais estabelecidas em Lândana, Chiloango e
margens do citado rio, os quais se prestaram a assistir a esta reunião como testemunhas
dos actos que nela se praticassem, Robert F. Hammick da canhoneira inglesa Flirt, e o
gerente da casa Hatton & Cookson R. E. Demet, foi pelo referido comandante,
declarado que tendo alguns Chefes manifestado desejos de pedirem a protecção de
Portugal, sob cuja soberania queria ficar, por ser a nação com a qual mantinham mais e
constantes relações, tanto comerciais como de hábitos e linguagem, desde que europeus
haviam pisado território de África para o sul do Equador, ele comandante vinha agora
munido de plenos poderes que lhe tinham sido conferidos pelo governo de sua
majestade el-rei de Portugal, a fim de fazer um tratado que, depois de assinado e
aprovado por ambas as partes contratantes, estabelecesse as futuras relações entre
Portugal e os Países Governados pelos Chefes que assinassem.
E tendo os Príncipes e mais Cavalheiros formalmente declarado que queriam
firmar com a sua assinatura um documento pelo qual ficasse bem autenticado o
Protectorado e soberania de Portugal sobre todos os territórios que se estendem do rio
Massabe até Malembo, se discutiram e aprovaram onze artigos de um tratado que depois
de lido e explicado em boa e devida forma, tanto em português como em língua do país,
foi por todos assinado.

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E para que de futuro ficassem bem autenticadas as resoluções tomadas nesta
solene reunião, se lavrou esta acta, que vai por todos assinada, ficando junto ao tratado,
do qual se tiraram cópias devidamente certificadas e seladas com o selo usado nos
documentos oficiais da corveta rainha de Portugal, e entregues aos principais Chefes,
Tali-e-Tali, Príncipe Regente do Reino de Kakongo, Mancoche, Rei do Encoche
Luango, António Tiaba da Costa, Governador de Massabe, digo António Tiaba da
Costa, Regente do Reino de Chinchôcho, representando a Rainha Samano; Mangoal,
Príncipe Regente do Mambuco Manipolo; António Tiaba da Costa, Governador de
Massabe, representantes de Chefes dali, que receberam também a bandeira portuguesa
para a mandarem içar nas suas povoações e nos locais que fossem cedidos ao governo
português, a fim de a conservarem e defenderem como símbolo representativo da
soberania e Protectorado de Portugal sobre os territórios por eles governados.

TRATADO
Guilherme Augusto de Brito Capelo, capitão-tenente da armada, comendador de Avis e
cavaleiro de várias Ordens, comandante da corveta rainha de portugal, delegado por
parte do governo de sua majestade eI-rei de portugal, concluiu com os Príncipes Tali-e-
Tali, Regente do Reino de Kakongo, Mancoche, Rei do Encoche-Luango, António
Tiaba da Costa, Regente do Reino de Chinchôcho, representante da Rainha Samano e
Mangoal, Regente do Mambuco, e seus Sucessores, bem como os mais Chefes dos
territórios que do no Massabe se estendem até Malembo, na Costa Ocidental de África,
o seguinte:
Artigo 1º
Os Príncipes e mais Chefes do País, e seus Sucessores, declaram, voluntariamente,
reconhecer a soberania de Portugal, colocando sob o Protectorado desta nação todos os
territórios por eles governados.

Artigo 2º
Portugal reconhece os actuais Chefes e confirmará os que de futuro forem eleitos pelos
povos, segundo as suas leis e usos, prometendo-lhes auxílio e Protecção.

Artigo 3º
Portugal obrigasse a manter a integridade dos territórios colocados sob o seu
Protectorado.

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Artigo 4º
Aos Chefes do País e seus habitantes será conservado o Senhorio directo das terras que
lhes pertencem, podendo-as vender ou alienar de qualquer forma para o estabelecimento
de feitorias de negócio ou outras indústrias particulares, mediante o pagamento dos
costumes, marcando-se duma maneira clara e precisa a área dos terrenos concedidos,
para evitar complicações futuras, devendo ser ratificados os contratos pelos
comandantes dos navios de guerra portugueses.

Artigo 5º
A maior liberdade será concedida aos negociantes de todas as nações para se
estabelecerem nestes territórios, ficando o governo português obrigado a Proteger esses
estabelecimentos, reservando-se o direito de proceder como julgar mais conveniente,
quando se provar que se tenta destruir o domínio de Portugal nestas regiões.

Artigo 6
Os Príncipes e mais Chefes indígenas obrigam-se a não fazer tratados, nem ceder
terrenos aos representantes de nações estrangeiras, quando esta cedência seja de carácter
oficial e não com o fim mencionado no artigo 4º.

Artigo 7º
Igualmente se obriga a proteger o comércio quer dos portugueses, quer dos estrangeiros
e indígenas, não permitindo interrupção nas comunicações com o interior e a fazer uso
da sua autoridade para desembaraçar os caminhos, facilitando e protegendo as relações
entre compradores e vendedores, as missões religiosas e científicas que se
estabelecerem temporária ou permanentemente nos seus territórios, assim, como o
desenvolvimento da agricultura.
# único - Obrigam-se mais a não permitir o tráfico da escravatura nos limites dos seus
domínios.

Artigo 8º
Toda e qualquer questão entre europeus e indígenas, será resolvida sempre com a
assistência do comandante de guerra do navio português que nessa ocasião estiver em
possível comunicação com a terra.

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Artigo 9º
Portugal respeitará e fará respeitar os usos e costumes do País.

Artigo 10º
Os Príncipes e Chefes cedem a Portugal a propriedade inteira e completa de porções de
terrenos em Lândana, Chinchôcho e Massabe, que serão marcados de combinação com
os Chefes dessas localidades a quem os Príncipes encarregam de fazer a entrega. Do
acto de posse se lavrarão dois autos, um dos quais ficará na mão do delegado do
governo português e o outro na do Chefe indígena.

Artigo 11º
0 presente tratado assinado pelos Príncipes e Chefes do País, bem como pelo capitão-
tenente comandante da corveta rainha de Portugal, começará a ter execução desde o dia
da sua assinatura, não podendo contudo considerar-se definitivo senão depois de ter sido
aprovado pelo governo de sua majestade eI-rei de Portugal.

Chinfuma em Lândana, 29 de Setembro de 1883

CONFERÊNCIA DE BERLIM 1884 – 1885

A Conferência de Berlim, proposta pelo Chanceler alemão Otto von Bismarck


(1815-1898), foi uma reunião entre países europeus para dividir o continente africano.
Estiveram presentes as nações imperialistas do século XIX: Estados Unidos da
América, Rússia, Grã-Bretanha, Dinamarca, Portugal, Espanha, França, Bélgica,
Holanda, Itália, Império Alemão, Suécia, Noruega, Império Austro-Húngaro e Império
Turco-Otomano.
Note que alguns países participantes não possuíam colónias em África, como o
império Alemão, Império Turco-Otomano e Estados Unidos da América. No entanto,
cada um deles tinha interesse em obter um pedaço do território africano ou garantir
tratados de comércio.

51
 Causas da Conferência de Berlim

A Conferência de Berlim foi realizada entre Novembro de 1884 e Fevereiro de


1885, na Alemanha. Presidida pelo chanceler do Império Alemão Otto Von Bismarck, o
evento durou três meses e todas as negociações eram secretas, como era habitual
naqueles tempos.
Oficialmente, a reunião serviria para garantir a livre circulação e comércio na
bacia do Congo e no rio Níger; e o compromisso de lutar pelo fim da escravidão no
continente.
Contudo, a ideia era resolver conflitos que estavam surgindo entre alguns países
pelas possessões africanas e dividir amistosamente os territórios conquistados entre as
potências mundiais.
Embora os objectivos tenham sido alcançados, a Conferência de Berlim, gerou
diversos atritos entre os países participantes. Vejamos alguns deles:
 Bélgica: O rei Leopoldo II escolheu para si um território isolado e de difícil
acesso, no centro do continente. Sua intenção era possuir uma colónia tal qual
seus pares europeus, para inscrever a Bélgica como uma nação imperialista,
como a Inglaterra e a França. Dessa maneira, o Congo belga fazia fronteira com
várias colónias de outras nações e isso geraria conflitos no futuro.
 França x Inglaterra: A França disputava com a Inglaterra a supremacia
colonial tanto na África quanto na Ásia. Por isso, as duas nações esforçavam-se
para fincar suas estacas na maior quantidade possível de território no continente
africano. A Inglaterra contava com sua poderosa esquadra naval, a maior da
época, para pressionar e influenciar os resultados das negociações. Por sua parte,
a França foi negociando tratados com os chefes tribais ao longo do século XIX e
usou este argumento para garantir territórios no continente africano. Essa técnica
era usada por todos as nações que ocuparam a África. Os europeus aliavam-se a
certas tribos e as ajudavam a combater seus inimigos promovendo guerras.

 Consequências da Conferência de Berlim

Como consequência, o território africano foi dividido entre os países integrantes da


Conferência de Berlim:

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1. Grã-Bretanha: suas colónias atravessavam todo o continente e ocupou terras
desde o norte com o Egipto até o sul, com a África do Sul;
2. França: ocupou basicamente o norte da África, a costa ocidental e ilhas no
Oceano Índico,
3. Portugal: manteve suas colónias como Cabo Verde, são Tomé e Príncipe,
Guiné, e as regiões de Angola e Moçambique;
4. Espanha: continuou com suas colónias no norte da África e na costa ocidental
africana;
5. Alemanha: conseguiu território na costa Atlântica, actuais Camarões e
Namíbia e na costa Índica, a Tanzânia;
6. Itália: invadiu a Somália e Eritreia. Tentou se estabelecer na Etiópia, mas foi
derrotada;
7. Bélgica: ocupou o centro do continente, na área correspondente ao Congo e
Ruanda.

Por sua vez, a liberdade comercial na bacia do Congo e no rio Níger foi garantida;
assim como a proibição da escravidão e do tráfico de seres humanos. A Conferência de
Berlim foi uma vitória diplomática do chanceler Bismarck. Com a reunião, ele
demonstrava que o Império Alemão não podia ser mais ignorado e era tão importante
quanto o Reino Unido e a França.
Igualmente, não solucionou os litígios de fronteiras disputados pelas potências
imperialistas na África e levariam à Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
O conflito foi travado entre dois grandes blocos: Alemanha, Áustria e Itália
(formavam a Tríplice Aliança), e França, Inglaterra e Rússia (formavam a Tríplice
Entente).
Como a África era considerada uma extensão desses países europeu, o continente
também se viu envolvido na Grande Guerra Mundial, com os nativos integrando os
exércitos nacionais.

Essa nova configuração do continente africano feito pelas potências mundiais,


permaneceu até o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Após esta data
eclodiram vários movimentos de independência em diversos países africanos.

53
O TRATADO DE SIMULAMBUCO DE 1885

O Tratado de Simulambuco assinado a 1 de Fevereiro de 1885 é considerado


pelos Cabindas como um tratado de Direito Internacional que lhes dá a possibilidade de
reivindicar a sua soberania, por ter sido acordado entre os príncipes e chefes tradicionais
com a realeza portuguesa a protecção do enclave à luz das disputas de outras potências
coloniais sobre a região.
Razão pela qual tem sido concebido como um símbolo de reivindicação contra
Angola depois da independência em 1975.
Maior interesse tem sido actualmente manifestado por parte de jovens e
estudantes na investigação da história do enclave, sobretudo no estudo dos tratados
assinados entre Cabinda e os governos coloniais da Inglaterra, França, Holanda e
Bélgica que também disputavam o território.
Roque Gaspar Borges, professor de História de Angola e de Investigação
Científica na Universidade Privada de Angola, disse em entrevista à Voz da América
que o interesse pela investigação da história dos tratados do enclave de Cabinda pelos
mais jovens, decorre do facto desses tratados representarem a soberania de Cabinda.

O TRATADO

Artigo 1º
Os príncipes e mais chefes e seus sucessores declaram, voluntariamente, reconhecer a
soberania de Portugal, colocando sob o protectorado desta nação todos os territórios por
eles governados.

Artigo 2º

Portugal reconhece e confirmará todos os chefes que forem reconhecidos pelos povos
segundo as suas leis e usos, prometendo-lhes auxílio e protecção.

Artigo 3º

Portugal obriga-se a fazer manter a integridade dos territórios colocados sob o seu
protectorado.

Artigo 4º

54
Aos chefes do país e seus habitantes será conservado o senhorio directo das terras que
lhes pertencem, podendo-as vender ou alugar de qualquer forma para estabelecimento
de feitorias de negócio ou outras indústrias particulares, mediante pagamento dos
costumes, marcando-se de uma maneira clara e precisa a área dos terrenos concedidos,
para evitar complicações futuras, devendo ser ratificados os contratos pelos
comandantes dos navios de guerra portugueses, ou pelas autoridades em que o governo
de sua majestade delegar os seus poderes.

Artigo 5º

A maior liberdade será concedida aos negociantes de todas as nações para se


estabelecerem nestes territórios, ficando o governo português obrigado a proteger esses
estabelecimentos, reservando-se a direito de proceder como julgar mais conveniente,
quando se provar que se tenta destruir o domínio de Portugal nestas regiões.

Artigo 6º

Os príncipes e mais chefes indígenas obrigam-se a não fazer tratados nem ceder terrenos
aos representantes de nações estrangeiras, quando esta cedência seja com carácter
oficial e não com o fim mencionado no artigo 4º.

Artigo 7º

Igualmente se obrigam a proteger o comércio quer dos portugueses, quer dos


estrangeiros e indígenas, não permitindo interrupção nas comunicações com o interior, e
a fazer uso das suas autoridades para desembaraçar os caminhos, facilitando e
protegendo as relações entre vendedores e compradores, o as missões religiosas e
científicas que se estabeleçam temporária ou permanentemente nos seus territórios;
assim como o desenvolvimento da agricultura.

§ único. - Obrigam-se mais a não permitir o tráfico de escravatura nos limites dos seus
domínios.

Artigo 8º

Toda e qualquer questão entre europeus e indígenas será resolvida sempre com a
assistência do comandante do navio de guerra português que nessa ocasião estiver em
possível comunicação com a terra, ou de quem estiver munido de poderes devidamente
legalizados.

55
Artigo 9º

Portugal respeitará e fará respeitar os usos e costumes do país.

Artigo. 10º

Os príncipes e governadores cedem a Portugal a propriedade inteira e completa de


porções de terreno, mediante o pagamento dos seus respectivos valores, a fim de neles o
governo português mandar edificar os seus estabelecimentos militares, administrativos
ou particulares.

Artigo 11º

O presente tratado assinado pelos príncipes e chefes do País, bem como pelo capitão-
tenente comandante da corveta «Rainha de Portugal», começa a ter execução desde o
dia da sua assinatura, não podendo, contudo, considerar-se definitivo senão depois de
ter sido aprovado pelo Governo de Sua Majestade.

CONVENÇÃO DE VIENA SOBRE RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS E


CONSULARES.

A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (CVRD), é um tratado


adoptado em 18 de Abril de 1961, pela Conferência das Nações Unidas sobre Relações
e Imunidades diplomáticas.
A reunião foi realizada no Palácio Imperial de Holburg, em Viena, Áustria de 2
de Março à 14 de Abril do mesmo ano.
Esse encontro representa um esforço bem sucedido na codificação do ramo do
Direito internacional relativo aos direitos e deveres dos Estados na condução das
relações diplomáticas entre si, regulado inclusive, os privilégios e imunidades de que
gozam os funcionários das missões diplomáticas.
Foi criado um Estatuto da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas
(CVRD), que entrou em vigor em 24 de Abril de 1964, nos termos do seu artigo 51º.

 Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961

Considerando que, desde tempos remotos se estabeleceram relações consulares


entre os povos, conscientes do propósito e princípios da Carta das Nações Unidas
relativas à igualdade soberana dos Estados, à manutenção da paz e segurança
56
internacional e ao desenvolvimento das relações de amizade entre as nações,
persuadidos de que uma convenção internacional sobre as relações privilégios e
imunidades consulares contribuiria também para o desenvolvimento de relações
amistosas entre os países independentemente de seus regimes constitucionais e sociais a
finalidade dos privilégios e imunidades não é beneficiar indivíduos, mas assegurar o
eficaz desempenho das funções das repartições e consulares, em nome de seus
respectivos Estados.

 Convenção de Viena sobre Relações Consulares de 1963

A Convenção de Viena sobre Relações Consulares (CVRC), é um tratado


internacional celebrado em 24 de Abril de 1963, que codifica as práticas consulares que
se desenvolveram por meio do direito internacional consuetudinário, de diversos
tratados bilaterais e de alguns tratados regionais.
A Convenção relaciona entre direitos e deveres básicos dos Estados signatários
os seguintes:

 O estabelecimento e condução de relações consulares por consentimento


mútuo e,
 Os privilégios e imunidades dos funcionários consulares e da repartição
consular em face das leis do “Estado que recebe” (o País onde se
encontra a repartição consular estrangeira).

Em particular, o artigo 36º da Convenção determina que:

 As autoridades locais devem, sem demora, notificar à repartição consular


estrangeira a prisão ou detenção de indivíduo de nacionalidade desta última, a
pedido do indivíduo;
 as autoridades locais são obrigadas a informar o estrangeiro preso ou detido do
direito acima mencionado;
 os funcionários consulares têm o direito de visitar um seu nacional que esteja
preso ou detido e com ele conversar e se corresponder.

57
O estatuto da Convenção de Viena sobre Relações Consulares entrou em vigor em
19 de Março de 1967.

58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

DAVID Dj. Dasic, (2012), História da Diplomacia, Alters, Beograd - Sérvia


MAGALHÃES, José Calvet de (2005), A Diplomacia Pura, Editorial Bizancio, Lisboa.
Prof. Dr. DAVID Dj. Dasic, (2008), A Diplomacia Contemporânea - Centro
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