Professional Documents
Culture Documents
_________________________________________________________________________________________
2.1. Introdução
2.2. Breve historial sobre a origem das Missões Diplomáticas Permanentes
2.3. O Tratado de Westefália (1648) para a diplomacia moderna e seus
princípios.
2.4. O Congresso de Viena (1 de Outubro de 1814 e 9 de Junho de 1815),
conferência entre embaixadores das grandes potências europeias.
2.4.1. Directrizes e consequências do congresso.
2.5. O Reino do Congo
2.6. O Reino de Chinfuna de 1883
2.7. Conferência de Berlim 1884 – 1885
2.8.O Tratado de Simulambuco de 1885
2.9.Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas e Consulares.
2.9.1. Convenção de Viena de 1961
2.9.2. Convenção de Viena de 1963
1
NOTA OBJECTIVA
As aulas serão teórico-práticas através de leitura em
grupo, análise de texto e exposições realizadas em aula
pelos estudantes.
Para o efeito, o estudante deverá dominar as matérias
dadas e será convidado a exercitar a sua capacidade
de análise no sentido da operacionalização dos
conhecimentos, por via de questionário
2
INTRODUÇÃO
3
mediante concursos periódicos para o recrutamento de homens de talento, inclusive para
a arte diplomática, assim como exigia a Dinastia Lý, no actual Vietname. Outros povos
igualmente forneceram aportes para o desenvolvimento histórico da diplomacia e todos
os institutos que a norteiam, como os povos islâmicos, os quais tiveram um importante
papel na contribuição da construção do direito das gentes e especificamente do direito
diplomático, mormente no que diz respeito ao reconhecimento da inviolabilidade dos
embaixadores e ao respeito do cumprimento das obrigações convencionais.
Entre os antigos gregos se encontram instituições até hoje conhecidas do direito
das gentes, tais como os tratados, a utilização de arbitragem e a inviolabilidade dos
arautos. A proxenia1 é muitas vezes citada dentre as instituições consulares da
antiguidade grega dada a importância do acordo de hospitalidade mútua entre os entes
políticos e as imunidades conferidas aos seus representantes públicos.
4
Em 1431, Veneza, Florença e o Papado juntaram-se contra Milão a fim de entre
outros objectivos, recuperarem as duas cidades papais de que os milaneses haviam
apoderado.
Antes de Abril de 1435, Veneza envia a Roma, como Embaixador residente, um
diplomata experiente, Zacarias Bembo.
A partir de 1448 Veneza e Florença trocaram embaixadores permanentes.
Em 1457, Napoles mantinha um embaixador residente em Veneza, outro em Milão
em Dezembro de 1448.
A Santa Sé começou a receber embaixadores residentes antes de os enviar junto das
diversas cortes italianas.
Durante todo século XV os Papas receberam embaixadores mas não enviaram
nenhum. Alexandre VI (1492-1503) manteve um nuntius2 e orator3 na corte do
Imperador Maximiliano (1459-1519) durante quatro anos.
Por volta de 1500 o mesmo Papa enviou representantes permanentes para Espanha,
França e Veneza.
Em 1506, Júlio César (1503-1513), renovou a representação em Espanha.
A expansão decisiva do sistema papal de representação diplomática permanente só
veio a dar-se nos pontificados de Leão X (1513-1521) e Clemente VII (1523-1534) e a
nova instituição assumiu uma forma precisa a partir do pontificado de Gregório XIII
(1572-1585) atingindo o seu pleno desenvolvimento no começo do século XVII.
Da Itália o sistema dos embaixadores residentes transmitiu-se ao resto da Europa
embora não de forma uniforme e simultânea.
Para Portugal, o primeiro embaixador residente em Roma foi designado em 1512,
desempenhado pelo Dr. João de Faria até 1514.
SINTESE
As ciências sociais não podem produzir à sua vontade os factos sobre os quais
constroem as suas teorias, mas pode recorrendo à história, estudar a génese e evolução
2
Um nuntio ou núncio apostólico ou papal, é um representante diplomático permanente da Santa Sé, não
do Estado do Vaticano, que exerce o posto de embaixador. Representa a Santa Sé perante os estados e
perante a Igreja local. Costuma ter a dignidade eclesiástica de Arcebispo.
3
Um orator ou oratista, é um orador público especialmente aquele que é eloquente ou habilidoso. Na
Roma antiga, a arte de falar bem em público era uma competência profissional especialmente cultivada
por políticos e advogados.
5
dos factos que mais interessa. Por isso se diz que a história, é o laboratório experimental
das ciências sociais.
O estudo feito sobre a evolução da instituição diplomática permiti extrair dele
algumas conclusões que consideramos importantes para a elaboração do conceito e da
teoria geral da diplomacia. Essas conclusões são:
1. A utilização de intermediários entre detentores de poder político de duas
nações ou grupos políticos diferentes existiu sempre, desde os tempos em
que as sociedades se organizaram politicamente.
2. Em todas as civilizações da Antiguidade se recorreu ao uso de
intermediários ou diplomatas nas relações entre os povos diferentes.
3. A instituição diplomática constitui um elemento importante e constante
da organização do estado nas civilizações grega e romana.
4. Na época medieval, prevaleceu o uso de intermediários para as
negociações.
5. Negociações tentadas de forma directa acabaram por fracassar e raras
vezes foram bem sucedidas.
6. No desenvolvimento de uma tendência que vinha da Idade Moderna
consagrou o princípio das representações diplomáticas permanentes ou
dos embaixadores residentes.
7. Na época moderna foi consagrado o sistema da diplomacia multilateral,
mas, com carácter eventual para resolver importantes problemas que
interessavam a um grupo de países.
8. No princípio da era contemporânea foram estabelecidas as primeiras
regras convencionais definindo as categorias e as precedências dos
agentes diplomáticos. Foi criado o estatuto internacional do agente
diplomático, na Conferência de Viena sobre Relações Diplomáticas de
1961.
9. Na era contemporânea foi igualmente institucionalizada a diplomacia
multilateral com a criação de diversas organizações internacionais de tipo
regional ou universal.
10. Ainda na era contemporânea se desenvolveu grandemente os contactos
directos entre detentores do poder político de diversos Estados devido ao
extraordinário progresso dos meios de comunicação.
6
11. A constância da instituição diplomática através de alguns milhares de
anos e em todas as civilizações conhecidas demonstra tratar-se de uma
instituição inerente à própria vida internacional. Que poderá sofrer
transformações ou ser utilizada com mais ou menos intensidade, mas que
não pode ser dispensada.
4
Westfalia, é uma região histórica da Alemanha a volta das cidades de Dortmund, Munster, Bielefeld e
Osnabruck, agora incluída no Estado federal alemão (Bundesland) de Renânia do Norte. Westfalia, é uma
parte a sudoeste da Baixa Saxónia.
7
A denominada «Paz de Westefália», também conhecida como os Tratados de
Munster e Osnabruck, designa a série de acordos que foram produzidos. Através deles
foram reconhecidas a independência tanto das Províncias Unidas como da Confederação
Suíça, consagrando-se o princípio da liberdade religiosa.
O Tratado assinado em Munster em 30 de Janeiro de 1648 pôs fim à Guerra de
Independência das Províncias Unidas. O Tratado assinado em Osnabruck, em 24 de
Outubro de 1648, entre o Sacro Império Romano-Germânico, os demais príncipes
alemães (que integravam a “União Evangélica”), a França e a Suécia, pôs fim à Guerra
dos 30 anos. O Congresso não almejou alcançar a paz entre França e Espanha, a qual só
seria concluída em 1659, ainda que tal acordo seja por vezes incluído na "Paz de
Vestefália".
O tratado de Westfalia, de 1648, trouxe a paz dado fim a guerra dos trinta anos,
o que inaugurou uma nova forma de relação internacional, possibilitando o
relacionamento entre estados, e uma solução pacífica para conflitos que até então, só
conheciam a forma da beligerancia como resolução de problemas entre estados.
A diplomacia portuguesa da Restauração tinha como grandes objectivos o
reconhecimento da legitimidade de D. João IV, do carácter irreversível da
independência e soberania de Portugal e a manutenção das possessões ultramarinas.
Procurou participar no Congresso, ainda que não tivesse sido uma potência beligerante,
na medida em que este ratificaria a nova ordem europeia. Espanha opôs-se firmemente a
tal desiderato, sob ameaça de abandonar as negociações. Ainda que não tenham chegado
a ser acreditados, os emissários portugueses mantiveram uma ampla actividade
diplomática, com múltiplos contactos com os participantes à margem do congresso,
promovendo a causa portuguesa.
Como resultado dos tratados de Westfália, a Holanda obteve independência da
Espanha, a Suécia ganhou o controlo do mar Báltico e a França foi reconhecida como a
mais importante potência na Europa Ocidental, sem rivais à altura.
A Paz de Westfália é frequentemente apontada como o marco da diplomacia
moderna, pois deu início ao sistema moderno de Estados-nação. Pela primeira vez
reconheceu-se a soberania de cada um dos estados envolvidos.
A Paz de Westfália marcou o início da hegemonia da França na Europa e do
declínio do poder Habsburgo. Mais do que isso, afirmou a supremacia do poder
temporal (não religioso) sobre o papado, um aspecto fundamental para a consolidação
do poder monárquico nos países europeus.
8
A Paz de Westfália foi um acontecimento histórico marcado pela assinatura de
dois tratados de paz nas cidades alemãs de Munster e Osnabruck, em 1648, e que
colocou fim a Guerra dos Trinta Anos (1618 – 1648).
Como importância dos Tratados de Paz de Westfália para o surgimento do
Estado moderno foram consagrados a ideia de “múltiplas independências” no continente
europeu, além de reflectir a necessidade de um sistema de “balança de poder”.
Foi o conflito que colocou fim às guerras religiosas na Europa e inaugurou a
figura do Estado mais próxima do que conhecemos dos quais a Guerra dos Trinta Anos
- Conflito entre católicos e protestantes marcou Europa de 1618 a 1648. Entre 1618 e
1648, aconteceu na Europa um conflito que marcou a transição do feudalismo para a
Idade Moderna.
O Tratado de Westfalia de 1648 e considerado um marco para as relações
internacionais por ser considerado como um marco fundamental na história do Direito
Internacional. Isso porque assinalam o fim dos três factores principais que dificultavam
o desenvolvimento e a afirmação desse direito: a hegemonia papal, o feudalismo e o
império.
RESULTADOS
9
Fim da guerra dos oitentas anos.
A Suécia ficou com Pomerânia, Wismar e Werden.
O poder dos Sacro-Imperadores ficou abalado.
Os governantes dos estados germânicos voltaram a gozar da prorrogativa
de determinar a religião oficial dos seus territórios.
O tratado deu reconhecimento legal aos calvinistas.
Três grandes potências emergiram: a Suécia, Província unidas e a França.
1. A Paz de Praga, foi incorporada à paz de Westfália (que por sua vez
incorporava a paz de Augsburgo).
2. O calvinistas foram reconhecidos internacionalmente e o Édito da Restituição
foi de novo, rescindido.
3. A primeira Dieta de Speyer foi aceite internacionalmente.
4. Procederam-se aos seguintes ajustes de território:
a. França recebeu as dioceses de Metz, Toul, Verdun e toda a Alsácia, excepto
Estrasburgo e Mulhouse. Também ganhou o direito à voto na Dieta Imperial
alemã (Reischstag).
b. A Suécia recebeu a Pomerânia Ocidental e as dioceses de Bermen e Stettin.
Ganhou o controle da desembocadura dos rios Oder, Elba e Weser, bem
como o direito de voto na Dieta Imperial alemã.
c. A Baviera recebeu o direito de voto no Conselho Imperial de eleitores
(selecionado pelo Sacro Imperador).
d. Brandemburgo recebeu a Pomerânia Oriental e as dioceses de Magdeburgo e
Halberstadt, cujo primeiro governante secular foi o representante do eleitor
de Brandemburgo, Joachim Friedrich von Blumenthal.
e. Reconheceu-se a completa independência da Suíça ( a Suíça não é signatária
da paz de Westfália).
f. Reconheceu-se a independência da República das sete Províncias Unidas dos
Países Baixos
10
g. Os diversos estados alemãs independentes (cerca de 360), receberam o
direito de conduzir a sua política externa, mas era vedada cometer actos de
guerra contra o Sacro Imperador. O Império como um todo, reservava o
direito de fazer a guerra e celebrar tratados.
h. A eleição de Sacro Imperadores vivente imperatore, foi proibida.
i. O Palatinado foi dividido entre o Eleitor Palatino Carlos Luís e o Eleitor
Duque Maximiliano da Baviera ou seja entre protestantes e católicos,
ficando Carlos com a porção ocidental, próximo ao Reno e Maximiliano
manteve o Alto Palatino, no que hoje é Baviera.
Titulares
11
Paris e depois para Osnabruck. Não teve acesso às Conferências e não assinou
os Tratados de Paz.
Informação complementar
A Guerra dos Trinta Anos começou por ser um conflito entre o Sacro Imperador
Romano Germânico e alguns dos Estados Imperiais protestantes. No entanto Suécia e
Dinamarca (lado protestante) e Espanha e Estados Papais (lado do Imperador)
envolveram-se igualmente, levando a uma escalada da guerra, altamente destrutiva e
mortífera, sobretudo na Europa central. Espanha por outro lado via-se ainda envolvida
na guerra de independência das Províncias Unidas.
Vislumbrando-se uma vitória do lado católico, a França, receando uma
hegemonia europeia dos Habsburgos que passariam a rodear o seu território (como
acontecera no século anterior com Carlos V), entrou na guerra ao lado dos protestantes a
partir de 1636.
Simultaneamente, a França fomentou e apoiou a revolta da Catalunha e o
movimento da Restauração em Portugal. Foi este o contexto em que se chegou ao
Congresso de Vestefália, no qual a diplomacia portuguesa procurou valorizar os seus
argumentos em função dos interesses próprios de cada Estado beligerante.
A correspondência dos nossos representantes indicados para Vestefália e dos
nossos diplomatas acreditados nos países aliados (França, Holanda e Suécia), revela
uma intensa actividade diplomática no sentido de tentar garantir o seu interesse pela
causa portuguesa, no contexto do equilíbrio europeu que se estava a negociar. Era uma
teia que passava pela acção concertada entre os diplomatas envolvidos nos diferentes
processos.
Portugal pretendia ser parte de um acordo geral de paz, assim vendo reconhecida
a sua recém readquirida independência, contando sobretudo com o apoio da França,
ainda que se saiba hoje que o Primeiro ministro francês, Cardeal Mazarino, tenha
instruído os seus diplomatas no sentido de que a “questão portuguesa” não deveria
bloquear a paz que deveria sair de Westefália.
A acção diplomática desenvolvida começou logo nas capitais, com vista a
assegurar a admissão dos Enviados de Portugal às Conferências, cuja verificação das
credenciais teve início em 19 de Maio de 1644. Assim sucedeu com o Conde da
12
Vidigueira em Paris, D. Francisco de Sousa Coutinho na Holanda e Rodrigo Botelho de
Morais na Suécia.
Em 30 de Janeiro de 1648, as Províncias Unidas, apesar do empenho da França
em contrário, assinaram a paz separada com a Espanha. Doravante, os Países Baixos
passaram a ser opositores no Ultramar, mas também na Europa, contando a Espanha
com a assegurada neutralidade holandesa.
Em 24 de Outubro de 1648, os representantes suecos e franceses chegaram a
acordo com os seus contrapartes do Sacro Império, tendo sido celebrados em
Osnabruck, dois tratados com vantagens consideráveis para os aliados. Em Munster, as
negociações com os Habsburgos espanhóis não progrediam, o que justifica as instruções
do Cardeal Mazarino aos delegados franceses para apoiarem as nossas pretensões,
apesar de inicialmente ter determinado que a “questão portuguesa” não deveria
constituir um obstáculo para a paz geral.
Em 7 de Novembro de 1659 era concluído o Acordo dos Pirenéus e em 1660 tem
lugar a cerimónia de casamento de Luís XIV com Maria Teresa de Áustria na Ilha dos
Faisões.
Princípios
14
que só fora possível o fenómeno Napoleão na Europa porque ele havia juntado uma tal
soma de recursos materiais e humanos que, aliados à sua capacidade política e militar,
provocaram todo aquele período de guerras.
As grandes potências decidiram então dividir as recursos materiais e humanos da
Europa, de tal maneira que uma potência não pudesse ser poderosa que a outra (balança
e equilíbrio de poder); sendo assim, nenhum outro Napoleão se atreveria a desafiar seu
vizinho, sabedor de que este contaria com os mesmos recursos.
Sendo este critério estabelecido, trataram de pô-lo em prática, resultando num
mapa europeu em que as etnias e as nacionalidades não foram levadas em consideração,
tal como aconteceu com a partilha da Polónia.
Uma vez estabelecida a paz, haveria a necessidade de manutenção de exércitos?
Os estadistas reunidos em Viena foram unânimes em responder afirmativamente.
Tratava-se de manter forças armadas exactamente para preservar a paz alcançada. A
garantia da paz residia a partir de então na preservação das fronteiras geográficas
estabelecidas justamente para evitar que qualquer potência viesse a romper o equilíbrio,
anexando recursos de seus vizinhos e pondo em risco todo o sistema de estados
europeus. O princípio geopolítico das “fronteiras geográficas” perdurou até o término da
Segunda Guerra Mundial, quando esse conceito foi substituído pelo conceito de
“fronteiras ideológicas”, no contexto da Guerra Fria.
O Congresso alicerçou-se em dois grandes princípios:
Directrizes
1. O princípio da legitimidade,
2. A restauração,
3. O equilíbrio do poder,
15
4. A consagração do conceito de “fronteiras geográficas”
Consequências do Congresso
16
O Congresso de Viena logrou garantir a paz na Europa. Além das disposições
políticas territoriais, estabeleceu-se:
Principais Causas
Principais Características
O ponto marcante desta época foi o estilo de vida boémio e optimista, com
destaque para a França, a qual se tornou o centro Global de toda influência educacional,
científica, médica e artística após a instauração da Terceira República Francesa, em
17
1870. Ademais, se a nação francesa era o pólo difusor, Paris era o núcleo da Belle
Époque Mundial.
Ora, foram criações francesas (parisienses) notáveis deste período: as políticas
de saneamento público e urbanização de Haussmann, que renovaram Paris
(drasticamente) sob os preceitos dos saberes médicos-higienistas e reduziram as taxas
de mortalidade, tornando aquela um modelo para o Mundo; os cabarés, como o Moulin
Rouge; a Torre Eiffel (1889); o Casino de Paris (1890); o Metró de Paris, etc.
Ainda na França surgiram o pneumático de borracha removível de Edouard
Michelin (1890), o Peugeot Tipo 3 (1891), a primeira força aérea nacional (1910), a
indústria cinematográfica de Auguste e Louis Lumière, dentre outras.
Paralelamente, a Belle Époque se desenvolvia nos Estados Unidos da América
apois a recuperação da crise económica de 1873; no Reino Unido pós era vitoriana; na
Alemanha do Kaiser Wilhelm I & II; e na Rússia de Alexandre III e Nicolas II. No
Brasil, este período ficou marcado nas cidades de Fortaleza, Manaus e Rio de Janeiro,
sobretudo após a Proclamação da República, em 1889.
De toda forma, podemos vislumbrar em todo Ocidente, as revoluções
provocadas com a melhoria nos transportes públicos de massa (trens e navios a vapor)
ou individuais (Ford T e a bicicleta), pelas tecnologias de telecomunicações (telefone e
telégrafo sem fio), ou pela substituição da iluminação a gás pela eléctrica.
Do ponto de vista cultural, assistimos a multiplicação das livrarias, salas de
concertos, boulevards, ateliers, cafés e as galerias de arte, principalmente as parisienses,
de onde saíam quase todas as tendências estéticas e artísticas globais produzidas durante
o período.
Não obstante, vale destacar enquanto movimento artístico da Belle Époque, o
estilo “Art Noveau”, um fazer ornamental de cores vibrantes e formas sinuosas,
presente desde as fachadas dos edifícios até nos objectos decorativos, como jóias e
mobiliários. No âmbito da pintura, também se destacou o Impressionismo de Claude
Monet (1840- 1926).
Outros artistas de renome da Belle Époque foram Odilon Redon (1840-1916),
Paul Gauguin (1848-1903), Henri Rousseau (1844-1910), Pierre Bonnard (1867-1947),
Émile Zola (1840-1902), dentre outros.
18
O REINO DO CONGO
CARACTERISTICAS
19
oceano Atlântico, a oeste, até ao rio Cuango, a leste, e do Rio Ogoué no actual Gabão, a
norte, até ao rio Cuanza, a sul. (Anónimo, 1972).
O Reino do Congo ou Império do Congo foi um Estado pré-colonial africano no
sudoeste da África no território que hoje corresponde ao noroeste de Angola (incluindo
Cabinda ), o sudoeste e oeste da República do Congo, a parte oeste da República
Democrática do Congo e a parte centro-sul da República do Gabão. Estendia-se desde o
oceano Atlântico, a oeste, até ao rio Cuango, a leste, e do Rio Ogoué, no actual Gabão, a
norte, até ao rio Cuanza, a sul de Luanda (Angola). O reino do Congo foi fundado por
Ními ya Lukeni no século XIV.
A região era governada por um líder chamado rei pelos europeus, o manicongo 5.
Ela consistia de nove províncias e três regiões (Angolo, Cacongo e Loango), mas a sua
área de influência estendia-se também aos estados independentes, tais como Dondo,
Matamba, Cassange e Quissama. A capital era a cidade de M’banza
Congo (literalmente, Cidade do Congo), rebaptizada com o nome de São Salvador do
Congo após os primeiros contactos com os portugueses e a conversão do manicongo ao
catolicismo no século XVI, e renomeada de volta para M'Banza Congo em 1975.
O reino era regido por uma monarquia, que por vezes em sua história alternou
entre hereditária e electiva. A linhagem de reis durou desde a fundação do reino em
1390 até a abolição em 1914 pela implantada Primeira República de Portugal, que
diminuiu o título do rei á uma mera figura simbólica na cidade de São
Salvador (M'Banza Congo) até 11.11.1975, quando o governo de Angola, termina por
abolir os títulos definitivamente.
I. HISTÓRIA
Fundação
5
O Manicongo, é uma corruptela da palavra “Mwene Kongo”, que na língua africana
Kikongo significa literalmente “senhor do Kongo”. Cercado por seus conselheiros, o Manicongo exercia a
justiça e buscava garantir a harmonia da vida no reino e das pessoas que nele viviam.
20
Pesquisas mais detalhadas sobre as tradições orais modernas, inicialmente
conduzidas no início do século XX por missionários redentoristas como Jean Cuvelier e
Joseph de Munck, não parecem se relacionar com o período inicial.
De acordo com a tradição do Congo, a origem do reino reside em Pemba Cassi,
um grande reino banto ao sul do Reino Bambata, que se fundiu com esse Estado para
formar o Reino do Congo por volta de 1375. Pemba Cassi estava localizado ao sul da
actual Matadi na República Democrática do Congo (RDC). Uma dinastia de
governantes desta pequena comunidade governou ao longo do vale Cuílo, e seus
membros estão enterrados em Nsi Kwilu, sua capital.
As tradições do século XVII aludem a este cemitério sagrado.
De acordo como o missionário Girolamo da Montesarchio, capuchinho italiano
que visitou a região entre 1650 e 1652, o local era tão sagrado que olhá-lo era mortal.
Em algum ponto por volta de 1375, Ními ya N’zima, governante de Pemba Cassi, fez
uma aliança com Nsaku Lau, governante do vizinho Reino Bambata. Nímia Anzima
casou-se com Luqueni Luansanze, um membro do povo bata e possivelmente filha de
Nsaku Lau. Essa aliança garantia que cada um dos dois aliados ajudaria a garantir a
sucessão da linhagem de seu aliado no território do outro.
Formação do Reino
O primeiro rei do Reino do Congo (Dya N’totila) foi Ními ya N’zima e o filho
de Lukeni Luansanze, Nimi ya Lukeni (reinando por volta de 1380 até 1420).
O nome Ními ya Lukeni apareceu em tradições orais posteriores e alguns
historiadores modernos, notadamente Jean Cuvelier, o popularizaram. Nimi ya
Lukeni tornou-se o fundador do Reino do Congo quando conquistou o reino do Muene
Cabunga (ou Muene Ampangala), que ficava em uma montanha ao sul. Ele transferiu
seu governo para esta montanha, o Mongo dia Congo ou «montanha do Congo», e fez
de M’banza Congo, a cidade e sua capital.
Dois séculos depois, os descendentes de Muene Cabunga ainda desafiavam
simbolicamente a conquista em uma celebração anual. Todos os governantes que
seguiram Ními ya Lukeni reivindicaram alguma forma de relação com seu canda, ou
linhagem, e eram conhecidos como Casa de Lukeni. A Casa de Lukeni, como foi
registado em documentos portugueses, governou o Reino do Congo sem oposição até
1567.
21
Após a morte de Ními ya Lukeni, seu irmão, Mbokani Mavinga, assumiu o trono
e governou até aproximadamente 1467. Ele tinha duas esposas e nove filhos. Seu
governo viu uma expansão do Reino do Congo para incluir o estado vizinho, o Reino do
Loango e outras áreas agora abrangidas pela actua República do Congo.
Os manicongos frequentemente atribuíam o cargo de governador a membros de
suas famílias ou clientes. À medida que essa centralização aumentava, as províncias
aliadas gradualmente perdiam influência até que seus poderes fossem apenas
simbólicos, manifestados em Bata, antes um co-reino, mas em 1620 conhecido
simplesmente pelo título de «Avô do Rei do Congo» (Cacandi a Muene Congo).
A alta concentração da população em torno de M’banza Congo e arredores
desempenhou um papel crítico na centralização do Congo. A capital era uma área
densamente povoada em uma região pouco habitada, onde a densidade populacional
rural provavelmente não ultrapassava cinco pessoas por Km2.
Os primeiros viajantes portugueses descreveram M'Banza Congo como uma
cidade grande, do tamanho da cidade portuguesa de Évora em 1491.
No final do século XVI, a população do Congo era provavelmente de cerca de
meio milhão de pessoas em uma região central de cerca de 130.000 Km2. No início
do século XVII, a cidade e seu interior tinham uma população de cerca de 100.000
habitantes, ou um em cada cinco habitantes do Reino (de acordo com estatísticas
baptismais compiladas por padres jesuítas).
Esta concentração permitiu que recursos, soldados e alimentos excedentes
estivessem prontamente disponíveis a pedido do rei. Isso tornou o rei extremamente
poderoso e fez com que o reino se tornasse altamente centralizado.
Na época do primeiro contacto registado com os europeus, o Reino do Congo
era um Estado altamente desenvolvido no centro de uma extensa rede comercial. Além
dos recursos naturais e do marfim, o País fabricava e comercializava artigos de cobre,
metais ferrosos, tecido de ráfia e cerâmica. O povo Congo falava na língua Kikongo. As
regiões orientais, especialmente aquela parte conhecida como os Sete Reinos do Congo
dia Nlaza (ou em kikongo Mumbwadi ou «os Sete»), eram particularmente famosas pela
produção de tecido.
22
Contactos com os portugueses e o cristianismo
Diogo Cão deixou homens no Congo e levou nobres do Congo para Portugal.
Ele retornou com os nobres do Congo em 1485. Nesse ponto, o rei governante, N’zinga
ya N’kwa, decidiu se converteu ao cristianismo para uma melhor relação com os
visitantes.
Diogo Cão regressou ao reino com padres e soldados católicos romanos em
1491, baptizando N’zinga ya N’kwa e também os seus principais nobres, a começar
pelo governante do Soyo, a província costeira. Ao mesmo tempo, um cidadão do Congo
alfabetizado que regressava de Portugal abriu a primeira escola.. N’zinga ya N’kwa
assumiu o nome cristão de João I em homenagem ao então rei de Portugal, D. João I.
D. João I governou até à sua morte por volta de 1506 e foi sucedido por seu filho
Afonso I. Ele enfrentou um sério desafio de um meio-irmão, M’panzu ya Kitima. O rei
venceu seu irmão em uma batalha travada em M’banza Congo. Segundo o relato do
próprio Afonso, enviado a Portugal em 1506, conseguiu vencer a batalha graças à
intervenção de uma visão celeste de São Tiago e da Virgem Maria. Inspirado por esses
eventos, ele posteriormente desenhou um brasão de armas para o Congo que foi usado
por todos os reis seguintes em documentos oficiais, reais e similares até 1860. Enquanto
D. João I mais tarde voltou às suas crenças tradicionais, Afonso estabeleceu o
Cristianismo como religião oficial do seu reino.
Dom Afonso trabalhou para criar uma versão viável da Igreja Católica no Reino
do Congo, provendo os seus rendimentos de bens reais e impostos que forneciam
salários aos seus trabalhadores. Com conselheiros de Portugal como Rui d’Aguiar, o
capelão real português enviado para ajudar no desenvolvimento religioso do Congo,
Afonso criou uma versão sincrética do cristianismo que permaneceria parte da
sua cultura pelo resto da existência independente do reino. O próprio Dom Afonso
estudou muito nesta tarefa. Rui d'Aguiar disse uma vez que Afonso conhecia mais os
princípios da Igreja do que ele. Em 1509, em vez da eleição habitual entre os nobres,
uma sucessão hereditária ao estilo europeu levou Afonso a suceder ao pai.
A igreja do Congo sempre teve falta de clero ordenado e compensou isso com o
emprego de um laicato forte. Os professores ou mestres de escolas congolesas eram a
23
âncora deste sistema. Recrutados da nobreza e treinados nas escolas do reino, eles
forneceram instrução religiosa e serviços a outros com base na crescente população
cristã do Congo. Ao mesmo tempo, eles permitiram o crescimento de formas sincréticas
de cristianismo que incorporavam ideias religiosas mais antigas com as cristãs.
Exemplos disso são a introdução de palavras kikongo para traduzir conceitos cristãos.
As palavras kikongo ukisi (uma palavra abstracta que significa charme, mas usada para
significar «sagrado» e nkanda (que significa livro) foram mescladas de modo que a
Bíblia cristã ficou conhecida como nkanda ukisi. A igreja ficou conhecida como nzo ya
ukisi. Embora alguns clérigos europeus frequentemente denunciem essas tradições
mistas, eles nunca foram capazes de erradicá-las.
Parte do estabelecimento da igreja foi a criação de um forte sacerdócio e para
esse fim o filho de Dom Afonso, Dom Henrique, foi enviado à Europa para se educar.
Henrique foi ordenado sacerdote e em 1518 foi nomeado bispo de Utica (uma diocese
do norte da África recentemente ocupada pelos muçulmanos e reivindicada pelos
cristão, nunca sendo assumida de facto pelo príncipe). Dom Henrique, retornou ao
Congo no início dos anos 1520 para administrar a nova igreja do Congo. Morreu em
1531. Hoje, o catolicismo romano é a maior religião em Angola, que contém a secção
em língua portuguesa do antigo reino do Congo.
Escravidão
24
os portugueses recebiam escravos ilegalmente para vender, escreveu ao rei Dom João
III de Portugal em 1526 implorando-lhe que acabasse com a prática.
Por fim, Dom Afonso decidiu constituir uma comissão especial para determinar
a legalidade da escravidão dos que estavam a ser vendidos.
Uma característica comum da vida política no reino do Congo era uma
competição feroz pela sucessão ao trono. A disputa de Dom Afonso pelo trono foi
intensa, embora pouco se saiba sobre ela.
No entanto, muito se sabe sobre como tais lutas ocorreram a partir do confronto
que se seguiu à morte de Dom Afonso no final de 1542 ou início de 1543. Isto deveu-se,
em grande parte, a minucioso inquérito conduzido por funcionários régios em 1550, que
sobreviveu nos arquivos portugueses. Neste inquérito pode-se ver que facções se
formaram por trás de homens proeminentes, como o filho de Dom Afonso I, Dom Pedro
Ancanga Vemba e Diogo Kumbi ya M’pundi, seu neto que acabou derrubando Dom
Pedro em 1545.
Embora as facções se colocassem no idioma do parentesco (usando o termo
português geração ou linhagem, provavelmente canda em Kikongo) eles não foram
formados estritamente ao longo das linhas de hereditariedade, já que parentes próximos
frequentemente estavam em facções separadas. Os jogadores incluíam nobres detentores
de títulos nominais para governadores provinciais, membros do conselho real e também
funcionários na agora bem desenvolvida hierarquia da Igreja.
O Rei Dom Diogo I, habilmente substituiu ou superou seus concorrentes
entrincheirados depois de ser coroado em 1545. Enfrentou uma grande conspiração
liderada por Dom Pedro I, que se refugiara numa igreja, e a quem Dom Diogo I,
respeitando a regra de asilo da Igreja, o deixou ficar na igreja.
No entanto, Dom Diogo I, fez um inquérito sobre a trama, cujo texto foi enviado
a Portugal em 1552 e dá-nos uma excelente ideia da forma como os conspiradores
esperavam derrubar o rei, induzindo os seus apoiantes a abandoná-lo.
De acordo com um tratado entre o reino do Congo e Portugal, este último
deveria apenas negociar dentro do reino do primeiro por escravos. Isso significava que
os portugueses ficavam restritos aos escravos oferecidos pelo rei Diogo I ou aos que ele
autorizava a vender.
Todos os anos, os tomistas (portugueses residentes em São Tomé) chegavam
com 12 a 15 navios para transportar entre 400 e 700 escravos (5.000 a 10.000 escravos
25
por ano). Isso não foi suficiente para tirar proveito do fornecimento cada vez maior de
escravos do Congo.
Os capitães tentariam sobrecarregar suas cargas, resultando em revoltas. No
entanto, o factor que realmente quebrou o negócio foi o hábito tomista de navegar rio
acima até o lago Malebo para comprar escravos de comerciantes BaTeke que eram cada
vez mais levados com mercadorias europeias sobre as conchas N’zimbu que o
manicongo lhes oferecia. Enfurecido com a quebra de contrato, o rei Diogo rompeu
relações em 1555 e expulsou cerca de 70 portugueses que viviam no seu reino (muitos
dos quais viviam ali há muito tempo e tinham esposas africanas e filhos mestiços).
A tentativa do rei de pacificar o impaciente Reino do Congo em 1556 saiu pela
culatra, resultando na independência deste último. Apesar desse revés, ele desfrutou de
um longo reinado que terminou com sua morte em 1561.
O sucessor de D. Diogo I, cujo nome se perdeu na história, foi morto pelos
portugueses e substituído por um filho bastardo, mais dócil aos interesses de Tomistas,
Dom Afonso II. O povo comum do Congo ficou furioso com sua entronização e
respondeu com tumultos por todo o reino. Muitos portugueses foram mortos e o porto
real de Mpinda foi fechado aos mesmos, pondo fim ao comércio de escravos entre o
Reino do Congo e Portugal.
Em menos de um mês neste caos, D. Afonso II foi assassinado durante uma
missa, pelo seu irmão, o próximo manicongo, Bernardo I. O rei Bernardo permitiu que o
boicote ao comércio português continua-se, restabelecendo discretamente as relações
com Lisboa. O rei Bernardo I foi morto em guerra contra os jagas, em 1567.
O manicongo seguinte, Henrique I foi arrastado para uma guerra no leste do
País, onde foi morto, deixando o governo nas mãos de seu enteado Álvaro Ními ya
Lukeni ya M’vemba. Foi coroado Álvaro I, «de comum acordo», segundo algumas
testemunhas.
Faccionalismo
Dom Álvaro I e seu sucessor, Álvaro II, também enfrentaram problemas com
rivais de facções de famílias que haviam sido deslocadas da sucessão.
Para levantar apoio contra alguns inimigos, eles tiveram que fazer concessões de
poder a outros. Uma das mais importantes dessas concessões foi permitir que Dom
Manuel, o Conde do Soyo, ocupa-se o cargo por muitos anos antes de 1591.
26
Nesse mesmo período, Álvaro II fez uma concessão semelhante a Dom António
da Silva, o Duque de Bamba. António da Silva teve força para decidir a sucessão do
reino, elegendo Bernardo II em 1614, mas afastando-o a favor de Álvaro III em 1615.
Só com muito trabalho Álvaro III conseguiu colocar a sua escolha como duque
de Bamba, quando António da Silva morreu em 1620, em vez de a província cair nas
mãos do filho do duque. Ao mesmo tempo, porém, Álvaro III criou outro nobre
poderoso e semi-independente em Dom Manuel Jordão, que ocupou Nsundi para ele.
Casa de Quincanga
27
Afonso enfrentasse um exército esmagador de mais de 20.000 e ainda concordasse em
devolver alguns fugitivos, o exército atacou seu país e o mataram.
Após o sucesso em Nambuangongo, o exército português avançou para Bamba
em Novembro. As forças portuguesas conquistaram a vitória na Batalha de Bumbi. Lá
enfrentaram uma força local rapidamente reunida liderada pelo novo duque de Mbamba
e reforçada por forças de Mpemba lideradas por seu marquês. Tanto o duque de
Mbamba quanto o marquês de Mpemba foram mortos na batalha.
Segundo relatos de Esicongo, os soldados eram canibalizados pelos aliados
Imbangala dos portugueses. No entanto, Pedro II, o recém-coroado rei do Congo, trouxe
o exército principal, incluindo tropas do Soyo, para Mbamba e derrotou decisivamente
os portugueses, expulsando-os do País numa batalha travada perto de Mabanda Cassi
em Janeiro de 1623. Residentes portugueses do Congo, assustados com as
consequências para os seus negócios da invasão, escreveram uma carta hostil a Correia
de Sousa, denunciando a sua invasão.
Após a derrota dos portugueses em Mabanda Cassi, D. Pedro II declarou
Angola inimiga oficial. O rei escreveu então cartas denunciando Correia de Sousa ao
Rei de Espanha e ao Papa. Enquanto isso, revoltas anti-portuguesas irromperam em
todo o reino e ameaçaram comunidade mercantil já estabelecida. Os portugueses de
todo o País foram desarmados de forma humilhante e até forçados a desistir das roupas.
Dom Pedro, ansioso por não alienar a comunidade mercantil portuguesa, e ciente de que
esta se mantivera geralmente leal durante a guerra, fez tudo o que pôde para preservar as
suas vidas e bens, levando alguns dos seus detractores a chamá-lo de «rei dos
portugueses».
Como resultado da vitória do Congo, a comunidade mercantil portuguesa de
Luanda revoltou-se contra o governador, na esperança de preservar os seus laços com o
rei. Apoiados pelos jesuítas, que ali também tinham acabado de recomeçar a sua missão,
obrigaram João Correia de Sousa a demitir-se e a fugir do País. O governo interino que
se seguiu à partida foi liderado pelo bispo de Angola. Foram conciliadores com o Reino
do Congo e concordaram em devolver mais de mil escravos capturados por Correia de
Sousa, especialmente os nobres menores capturados na Batalha de Mbumbi.
Apesar das aberturas do novo governo em Angola, D. Pedro II não se esqueceu
da invasão e planeou tirar os portugueses do reino. O rei enviou uma carta aos Estados
Gerais holandeses propondo um ataque militar conjunto a Angola com um exército do
Congo e uma frota holandesa. Ele pagaria aos holandeses com ouro, prata e marfim por
28
seus esforços. Conforme o planificado, uma frota holandesa sob o comando do célebre
almirante Piet Heyn chegou a Luanda para realizar um ataque em 1624. O plano não
deu certo porque Dom Pedro já havia morrido e seu filho Garcia Vemba ya Ncanga foi
eleito rei. O Rei Garcia I foi mais indulgente com os portugueses e foi persuadido com
sucesso pelos seus vários gestos de conciliação. Ele não estava disposto a pressionar o
ataque a Angola na época, alegando que, como católico, não poderia se aliar a não
católicos para atacar a cidade.
Invasões Holandesas
29
vitória, os holandeses mais uma vez pareciam perder o interesse em conquistar a colónia
de Angola.
Como na conquista de Pernambuco, a Companhia Holandesa das Índias
Ocidentais se contentou em permitir que os portugueses permanecessem no interior. Os
holandeses procuraram poupar-se das despesas da guerra e, em vez disso, confiaram no
controlo da navegação para lucrar com a colónia.
Assim, para desgosto de Garcia, portugueses e holandeses assinaram um tratado
de paz em 1643, encerrando a breve, embora bem-sucedida guerra. Com os portugueses
fora do caminho e o fim da perseguição holandesa às tropas, Garcia II pôde finalmente
voltar a sua atenção para a crescente ameaça representada pelo conde do Soyo.
30
Soyo, ele não conseguiu fazer um esforço militar completo para ajudar os holandeses na
guerra contra Portugal.
V. Batalha de Ambuíla
Após a batalha, não houve uma sucessão clara. O País foi dividido entre
pretendentes rivais ao trono. As duas facções, Kimpanzo e Kinzala, endureceram e
dividiram o País entre si. Os fingidos ascenderiam ao trono e então seriam expulsos. O
período foi marcado pelo aumento da venda de escravos congos através do Atlântico,
pelo enfraquecimento da monarquia congolesa e pelo fortalecimento do Soyo.
Durante este caos, o Congo foi sendo cada vez mais manipulado pelo Soyo.
Num acto de desespero, a autoridade central do Congo apelou a Luanda para atacar o
Soyo em troca de várias concessões. Os portugueses invadiram o condado do Soyo em
1670. Não tiveram mais sucesso do que Garcia II, sendo derrotado pelas forças do Soyo
na Batalha de Kitombo em 18 de Outubro de 1670.
32
O reino do Congo permaneceria completamente independente, embora ainda
envolvido em guerra civil, graças à própria força (coloniais portugueses) que lutou tanto
para destruir.
A derrota portuguesa foi suficientemente retumbante para acabar com todas as
ambições portuguesas na esfera de influência do Reino do Congo, até ao final do século
XIX.
As batalhas entre Kimpanzos e Kinzalas continuaram mergulhando o reino em
um caos desconhecido há séculos. As lutas entre as duas linhagens levaram ao saque de
São Salvador em 1678.
Ironicamente, a capital construída pelo pacto de Mpemba e Bata foi totalmente
queimada, não pelos portugueses ou por nações africanas rivais, mas pelos próprios
herdeiros. A cidade e o interior ao redor de São Salvador ficaram despovoados.
A população dispersou-se nas fortalezas dos reis rivais no topo da montanha.
Eram a serra de Quibango a leste da capital e a fortaleza das Águas Rosadas, linha
fundada na década de 1680 pelos descendentes de Kinlaza e Kimpanzo, a região de
Mbula, ou Lemba onde governou uma linha fundada pelo pretendente a Kinlaza, Dom
Pedro III; e Lovota, um distrito no sul do Soyo que abrigava uma linhagem Kimpanzo
cuja cabeça era Dona Suzana da Nóbrega.
Finalmente, Dona Ana Afonso de Leão fundou o seu próprio centro no rio
Ambidizi em Incondo e guiou os seus parentes mais novos para reclamarem o País, ao
mesmo tempo que procurava reconciliar as facções hostis.
Neste ínterim, no entanto, dezenas de milhares de fugitivos do conflito ou
apanhados nas batalhas foram vendidos como escravos a comerciantes de escravos
europeus todos os anos.
Um riacho humano conduzia ao norte para Loango, cujos mercadores,
conhecidos como Vili (Mubires no período) os transportavam principalmente para os
mercadores com destino à América do Norte e Caribe, e outros foram levados ao sul
para Luanda, onde foram vendidos a mercadores portugueses com destino a Brasil.
No final do século XVII, várias guerras longas e intervenções dos agora
independentes Condes do Soyo (que se remodelaram como Príncipes) que puseram fim
à idade de ouro do Reino do Congo.
33
Por quase quarenta anos, o reino do Congo mergulhou na guerra civil. Com São
Salvador em ruínas, as casas rivais recuaram para bases em Mbula (também conhecida
como Lemba) e Quibango.
Em meio a essa crise, uma jovem chamada Dona Kimpa Vita, apareceu
alegando estar possuída pelo espírito de Santo António. Ela tentou ganhar
reconhecimento para a reunificação do País.
A princípio, em 1704, tentou com D. Pedro IV N’samu u Vemba que governava
de Kibango, a leste da antiga capital. Quando rejeitada, foi até seu rival Dom João
II Nzuzi ya Ntamba, na montanha fortificada de Lemba (também conhecida como
Mbula), ao sul do rio Congo.
Depois de ser expulsa de lá, ela decidiu chamar seus seguidores para reocupar a
capital. Milhares vieram e a cidade foi repovoada. À medida que se tornou mais uma
atriz política, envolveu-se na rivalidade entre os reis, optando por eleger o comandante
do exército Kibango Pedro Constantino da Silva como novo rei, em detrimento de Dom
Pedro IV.
No entanto, ela foi capturada pouco depois pelos partidários de Pedro IV,
julgada, condenada por feitiçaria e heresia e queimada em Julho de 1706. O movimento
continuou no controlo de São Salvador, até que o exército de Dom Pedro IV a invadiu
em 1709, conseguindo por reunificar o País.
34
No entanto, o estatuto provincial do Soyo no reino, limitou o poder de Manuel.
Sundí, ao norte, que também se tornou parcialmente independente, embora ainda
afirmava ser parte do reino maior e permanentemente governado por uma família
Kimpanzo.
Mesmo nas porções restantes do reino, ainda havia rivalidades poderosas e
violentas. Pelo menos uma grande guerra ocorreu na década de 1730 na província de
Bamba. O sucessor de Dom Pedro IV, Garcia IV Nkanga ya Bamba, governou de 1743
a 1752.
A restauração de Dom Pedro IV exigiu que seu sucessor fosse membro de um
ramo da facção Kinzala residente em Matadi que jurou lealdade a Dom Pedro IV em
1716. Outros ramos Kinzala se desenvolveram a norte, em Lemba e Matari, e a sul ao
longo do rio Ambidizi em terras governadas por Dona Ana Afonso de Leão. As terras
de Ana Afonso de Leão passaram a ser chamadas de «Terras da Rainha».
O sistema de sucessão alternada ruiu em 1764, quando Álvaro XI, um Kinzala,
expulsou o usurpador rei Kimpanzo Pedro IV (o primeiro a ter este título) e assumiu o
trono.
Pedro e seu sucessor em Lovata mantiveram um tribunal separado no Sembo e
nunca reconheceram a usurpação. Um regente do sucessor de Pedro reivindicou o trono
no início da década de 1780 e pressionou suas reivindicações contra José I, um Kinzala
do ramo do Vale do Ambidizi da família real.
José venceu o confronto e lutou em São Salvador em 1781, uma batalha massiva
envolvendo 30.000 soldados apenas ao lado de José. Para mostrar seu desprezo pelo
rival derrotado, José se recusou a permitir que o soldado da outra facção recebe-se em
um enterro cristão. O poder de José era limitado, pois ele não tinha domínio sobre as
terras controladas pela facção Kinlaza de Lemba e Matari, embora fossem tecnicamente
da mesma família. Não seguiu sua vitória para estender sua autoridade sobre as terras
Kimpanzo ao redor de Lovota.
Ao mesmo tempo, as terras ao redor do monte Kibango, base original de Pedro
IV, eram controladas por membros da família Água Rosada, que afirmavam ser
descendentes de Kimpanzos e Kinzalas.
José governou até 1785, quando entregou o poder a seu irmão Afonso V (1785–
87). O breve reinado de Afonso terminou com sua morte repentina, supostamente por
envenenamento.
35
Uma luta confusa estourou após a morte de Afonso V. Em 1794, o trono acabou
nas mãos de Henrique II, um homem de casa desconhecida, que arranjou três partidos
para dividir a sucessão. Garcia V revogou o acordo, proclamando-se rei em 1805. Ele
governou até 1830. André II, que seguiu Garcia V, parecia ter restaurado as
reivindicações rotacionais mais antigas, visto que era do ramo norte de Kinzala, cuja
capital havia se mudado de Matadi para Mangá. André II, governou até 1842 quando
Henrique III, do ramo sul (Vale do Ambidizi) da mesma família, o derrubou. André II,
no entanto, não aceitou seu destino e retirou-se com seus seguidores para M'Banza Puto,
uma aldeia logo além da orla de São Salvador, onde ele e seus descendentes mantiveram
suas reivindicações. O rei Henrique II, que chegou ao poder após a derrubada de André
II, governou o Congo de 1842 até sua morte em 1857.
Em 1839, o governo português, agindo sob pressão britânica, aboliu o comércio
de escravos ao sul do equador que tanto prejudicara a África Central. O tráfico de
pessoas continuou até meados da década de 1920, primeiro como comércio ilegal de
escravos, depois como mão-de-obra contratada.
Um comércio de commodities, inicialmente focado em marfim e cera, mas
crescendo gradualmente para incluir amendoim e borracha, substituiu o comércio de
escravos. Este comércio revolucionou as economias e, eventualmente, a política de toda
a África Central.
No lugar do comércio de escravos, em grande parte sob o controlo das
autoridades estaduais, milhares, e eventualmente centenas de milhares, de plebeus
começaram a transportar mercadorias do interior para os portos costeiros. Essas pessoas
conseguiram compartilhar a riqueza do novo comércio e, como resultado, pessoas
conectadas comercialmente construíram novas aldeias e desafiaram as autoridades.
Durante este período, a estrutura social também mudou. Novas organizações
sociais, makanda, surgiram. Esses makanda, nominalmente clãs descendentes de
ancestrais comuns, eram tanto associações comerciais quanto unidades familiares.
Estes clãs fundaram cadeias de aldeias ligadas por parentesco fictício ao longo
das rotas comerciais, de Boma ou da costa do Soyo à São Salvador e depois para o
interior. Uma nova tradição oral sobre o fundador do reino, muitas vezes considerado
Afonso I, descreveu o reino como originário quando o rei fez com que os clãs se
dispersassem em todas as direcções.
36
As histórias desses clãs, geralmente descrevendo as viagens de seu fundador e
seus seguidores desde um ponto de origem até suas aldeias finais, substituíram em
muitas áreas a história do próprio reino.
Apesar das rivalidades violentas e da fragmentação do reino, ele continuou a
existir de forma independente até o século XIX. A ascensão dos clãs tornou-se notável
na década de 1850, no final do reinado de Henrique III.
Em 1855 ou 1856, dois reis em potencial surgiram para contestar a sucessão
após sua morte. Álvaro Ndongo, um Kimpanzo, reivindicou o trono em nome da facção
Kinzala de Matari, ignorando a existência do grupo de André em M'Banza Puto, que se
auto-denominava Álvaro XIII, enquanto Pedro Elelo reivindicou o trono em nome da
facção do Vale do Ambidizi dos Kinzala, de uma base em Bembe.
Dom Pedro acabou vencendo uma longa luta militar, graças à solicitação de
ajuda portuguesa, e com a ajuda deles seus soldados derrotaram Álvaro em 1859. Como
André II, Álvaro XIII não aceitou a derrota e estabeleceu sua própria base em Nkunga,
não muito longe de São Salvador.
O apoio português que colocou Pedro Elelo no trono teve um preço, pois quando
foi coroado Pedro VI, ele também havia jurado um tratado de vassalagem para Portugal.
Portugal ganhou assim autoridade nominal sobre o Reino do Congo, quando
Pedro VI assumiu o controlo dele em 1859, e até construiu um forte em São Salvador
para abrigar uma guarnição.
Em 1866, alegando custos excessivos, o governo português retirou sua
guarnição. Dom Pedro VI foi capaz de continuar seu governo. No entanto, embora
enfrenta-se rivalidade crescente de magnatas do comércio baseados em clãs, que
drenaram sua autoridade de grande parte do País.
O mais perigoso deles era Garcia Mbwaka Matu, da cidade de Makuta. Esta
cidade havia sido fundada por um homem chamado Kuvo, que provavelmente obtinha
sua riqueza através do comércio, já que ele e Garcia controlavam muito os mercados.
Embora este tenha sido um grande desafio na década de 1870, após a morte de Garcia
em 1880, Makuta tornou-se menos problemático.
Na Conferência de Berlim em 1884-1885, as potências europeias dividiram a
maior parte da África Central entre si. Portugal reivindicou a parte do que restou do
Congo independente.
No entanto, Portugal não estava em condições de fazer uma «ocupação
efectiva».
37
O rei Pedro VI continuou a governar até sua morte em 1891, e foi capaz de usar
os portugueses para fortalecer controlo.
Em 1888, Dom Pedro VI, reafirmou voluntariamente a posição do Reino do
Congo como um estado vassalo português. Depois de uma revolta contra os portugueses
em 1914, Portugal declarou a abolição do reino do Congo, do qual o governante na
época era Manuel III, pondo fim ao domínio nativo e substituindo-o pelo domínio
colonial directo.
No entanto, de acordo com o Almanach de Bruxelles6, uma série de reis titulares
continuou usando o título até 1962, quando uma disputa pela sucessão começou.
Em 1975 com a independência de Angola, foi instaurado um Estado socialista e
os títulos foram oficialmente abolidos.
6
Almanach de Bruxelles, é um registo social francês extinto que listava dinastias reais da Europa. Foi
estabelecido em 1918 durante a Primeira Guerra Mundial para competir contra a proeminente Alemão
Almanach de Gotha.
38
Algumas fontes portuguesas sugeriram que o rei do Reino do Congo destacou
exércitos de até 70.000 soldados para a Batalha de Ambuíla7 em 1665, mas é
improvável que exércitos com mais de 20-30.000 soldados pudessem ser reunidos para
campanhas militares.
As tropas foram mobilizadas e revistas no dia de São Tiago, 25 de Julho, altura
em que também foram recolhidos impostos. Súbditos festejados nesta data em
homenagem a São Tiago e Afonso I, cuja milagrosa vitória sobre o seu irmão em 1509
foi o principal significado da festa no Congo.
Quando os portugueses chegaram ao Reino do Congo, foram imediatamente
adicionados como uma força mercenária, provavelmente sob o seu próprio comandante,
e usaram armas de uso especial, como bestas e mosquetes, para adicionar força à ordem
normal de batalha do Congo.
Seu impacto inicial foi silenciado; Afonso reclamou em uma carta de 1514 que
eles não foram muito eficazes na guerra que ele travou contra Munza, um rebelde
Mbundu, no ano anterior. Na década de 1580, porém, um corpo de mosqueteiros, criado
localmente com portugueses residentes e seus descendentes mestiços (mestiços), fazia
parte regular do exército principal do Congo na capital. Os exércitos provinciais tinham
alguns mosqueteiros; por exemplo, serviram contra o exército invasor português em
1622. Trezentos e sessenta mosqueteiros serviram no exército do Congo contra os
portugueses na Batalha de Ambuíla.
X. ESTRUTURA POLÍTICA
7
Batalha de Ambuíla, foi uma batalha que ocorreu em 29 de Outubro de 1664, na região de Ambuila
(Angola) entre as forças do Reino de Portugal e do Reino do Congo. O Rei António I do Congo, do Reino
do Congo, foi derrotado e decapitado.
39
terra e as fazendas colectivas produziram colheitas divididas pelas famílias de acordo
com o número de pessoas por família. O Nkuluntu recebeu um prémio especial da
colheita antes da divisão.
As aldeias foram agrupadas em wene, pequenos estados, liderados por awene
(plural de muene) ou mani aos portugueses. Awene vivia em M'Banza, vilas maiores ou
pequenas cidades com algo entre 1.000 e 5.000 cidadãos. A alta nobreza normalmente
escolhia esses líderes. O rei também nomeava oficiais de nível inferior para servir,
geralmente por mandatos de três anos, auxiliando-o no patrocínio.
Várias províncias constituíam as divisões administrativas superiores do Congo,
com alguns dos estados-maiores e mais complexos, como Bamba, divididos em vários
números de sub-províncias, que a administração subdividiu posteriormente. O rei
nomeava Muene Bamba, duque de Bamba após a década de 1590.
O rei tinha tecnicamente o poder de demitir o Muene Bamba, mas a complexa
situação política limitava o exercício do poder pelo rei. Quando a administração
distribui-a títulos de estilo europeu, grandes distritos como Bamba e Nsundi tornavam-
se ducados. A administração fazia outros menores, como Pemba, Mpangu ou uma série
de territórios ao norte da capital. Soyo, uma província complexa na costa, tornou-se um
«Condado», assim como Nkusu, um Estado menor e menos complexo a leste da capital.
Famílias hereditárias controlavam algumas províncias, mais notavelmente o
Ducado de Mbata e o Condado de Nkusu, por meio de seus cargos como oficiais
nomeados pelo rei. No caso de Mbata, a origem do reino como uma aliança produziu
esse poder, exercido pelo Nsaku Lau.
No século XVII, as manobras políticas também fizeram com que algumas
províncias, nomeadamente o Soyo, mas ocasionalmente Bamba, fossem governadas
durante muitos anos pela mesma pessoa. Os governos provinciais ainda pagavam renda
à coroa e seus governantes se reportavam à capital para prestar contas.
O reino do Congo era constituído por um grande número de províncias. Várias
fontes listam de seis a quinze como as principais. A descrição de Duarte Lopes, com
base na sua experiência no final do século XVI, identifica seis províncias como as mais
importantes. Eram Nsundi no nordeste, Ampangu no centro, Mbata no sudeste, Soyo no
sudoeste e duas províncias do sul de Mbamba e Mpemba.
O rei do Congo também detinha vários reinos em vassalagem pelo menos
nominal. Estes incluíam os reinos de Cacongo, Angoio e Vungu ao norte do Congo. Os
títulos reais, elaborados pela primeira vez por Afonso em 1512, denominavam o
40
governante de «Rei do Congo e Senhor dos Ambundos» e, posteriormente, os títulos
listavam uma série de outros condados sobre os quais também governava como «Rei».
Os reinos ambundos incluíam Ndongo (às vezes erroneamente mencionado como
«Angola»), Quissama e Matamba.
Todos esses reinos estavam ao sul do Congo e muito mais distantes da influência
cultural do rei do que os reinos do norte. Reinos orientais ainda posteriores, como o
Congo dia Nlaza, também foram mencionados nos títulos do governante.
Em alguns casos, mulheres governaram pequenos territórios, embora nenhuma
possua um título provincial importante antes do final do século XVII. O padre
capuchinho Giovanni Antonio Cavazzi, que visitou o Reino do Congo em 1663-4,
registou que acreditava que tais nomeações femininas não eram incomuns. Segundo ele,
se tal mulher fosse solteira, ela poderia escolher um homem para ser seu marido, e ele
seria respeitado como tal por todos.
No século seguinte, as mulheres tornaram-se muitas mais abertas em suas
expressões de poder. Não se sabe o porquê dessa mudança. Cherubino da Savona
descreveu o Congo em 1760 como um império onde vários reinos eram governados por
mulheres.
41
XII. POSTOS BUROCRÁTICOS
Os quatro cargos não eleitos eram compostos por Muene Lumbo (senhor do
palácio/mordomo), Mfila Ntu (conselheiro/primeiro ministro de maior confiança),
Muene Vangu-Vangu (senhor dos feitos ou acções/juiz supremo, especialmente em
casos de adultério), e Muene Bampa (tesoureiro). Esses quatro eram todos indicados
pelo rei e tinham grande influência nas operações do dia-a-dia da corte.
Eleitores
Outros quatro conselheiros trabalhavam para eleger o rei e também homens para
cargos importantes.
Os eleitores são compostos pelo Muene Vunda (senhor de Vunda, um pequeno
território ao norte da capital com obrigações principalmente religiosas que liderava os
eleitores) o Muene Bata (senhor da província de Mbata directamente a leste da capital e
administrado pelo Nsaka Lau kanda que fornecia a grande esposa do rei), Muene Soyo
(senhor da província do Soyo a oeste da capital e historicamente a província mais rica
por ser o único porto e ter acesso ao sal), e um quarto eleitor, provavelmente o Muene
Bamba (senhor da província de Bamba ao sul da capital e capitão-geral dos exércitos).
O Muene Vunda era nomeado pelo rei do Nsaku ne Vunda Kanda.
O Muene Bata era confirmado nominalmente pelo rei do Nsaku Lau kanda.
A Muene Soyo era nomeada pelo rei do Kanda da Silva.
O Muene Bamba era nomeado pelo rei de qualquer lugar que ele deseja-se, mas
geralmente tinha uma relação familiar próxima.
Esses quatro homens elegiam o rei, enquanto Muene Vunda e Muene Bata
desempenhavam papéis cruciais na coroação.
Matronas
Por último, o conselho contava com quatro mulheres com grande influência no
conselho.
Eles eram liderados pela Muene Zimba Pungo, uma rainha-mãe, geralmente
sendo a tia paterna do rei. A segunda mulher mais poderosa era Muene Banda, a grande
esposa do rei, escolhida entre os Nsaku Lau kanda. Os outros dois cargos eram dados às
42
outras mulheres próximas e importantes no reino, sendo rainhas viúvas ou matriarcas de
ex-governantes.
Elas frequentemente possuíam alta renda e posição, por vezes administrando
enorme influência na política, outras vezes com essa influência praticamente
inexistente. Em alguns casos foram figuras de grande autoridade, sendo até conhecidas
como matronas, e tiveram sua opinião e seus pedidos levados em conta, o que definiu
aspectos políticos da relação interna do Congo e do Congo com Portugal.
Em registos, reconhecem-se as posições de mães, de conselheiras, ou de piedade
e devoção.
43
Os governadores provinciais pagavam uma parte das declarações de impostos de
suas províncias ao rei. Os visitantes holandeses do Congo na década de 1640 relataram
essa receita como vinte milhões de conchas de nzimbu. Além disso, a coroa colectava
seus próprios impostos e taxas especiais, incluindo pedágios sobre o comércio
substancial que passava pelo reino, especialmente o lucrativo comércio de tecidos entre
a grande região produtora de tecidos dos «Sete Reinos do Congo dia Nlaza», o leste
regiões denominadas «Momboares» ou «Os Sete» em kikongo, e o litoral,
especialmente a colónia portuguesa de Luanda.
As receitas da coroa sustentavam a igreja, pagas por atribuições de receitas
baseadas na renda real. Por exemplo, Pedro II detalhou as finanças de sua capela real,
especificando que as receitas de várias propriedades e rendas provinciais a sustentariam.
Taxas de baptismo e sepultamento também financiaram as igrejas locais.
Quando o rei Garcia II cedeu a ilha de Luanda e a sua pesca real aos portugueses
em 1651, trocou a moeda do reino por tecido de ráfia. O pano era «do tamanho de um
guardanapo» e chamado mpusu. No século XVII, 100 mpusu podiam comprar um
escravo, implicando em um valor maior que o da moeda nzimbu. O tecido de
ráfia também era chamado de Lubongo (singular: Lubongo, Libongo, plural: Mbongo).
44
Durante grande parte da história da realeza no Reino do Congo, essa foi
dominada pela ideologia da kanda. As kanda são grupos de descendência
matrilinear que legitimavam o controlo sobre a terra.
Quando ocorriam concentrações dessa terra, o poder tornava-se bastante
hierárquico e concentrava-se nas mãos de um chefe. Nessa ideologia, os casamentos
serviam não só para firmar alianças entre grupos vizinhos, mas também podiam indicar
diferenciação de classes de acordo com o número de esposas que alguém poderia
sustentar. Havia uma “esposa principal” que ajudava a cimentar as relações entre iguais
e “esposas subsidiarias” que ajudavam a cimentar as relações com subordinados.
Existia uma clara divisão de trabalho entre mulheres e homens. Esses eram
encarregados dos trabalhos mais pesados, como o desflorestamento, enquanto aquelas
limpavam o solo e cuidavam das plantações. O foco das kanda na terra ajudou a
perpetuar essa divisão, na medida que tornou uma complementaridade no trabalho em
uma certa complementaridade política: as kanda eram normalmente chefiadas por um
homem e uma mulher, sendo que o posto de líder era passado, em uma lógica
matrilinear, da tia materna de um rei para a sua irmã.
Durante os séculos XVI e XVII, e talvez em períodos pré-coloniais, muitos
kanda foram chefiados somente por mulheres. Supõem-se que uma mudança para a
patrilinearidade e lideranças puramente masculinas tenham ocorrido a partir da
introdução do cristianismo e de pensamentos eurocêntricos, além de uma mudança
ecológica que possibilitou que os homens que trabalhavam no desflorestamento
passassem a se dedicar a trabalhos mais lucrativos e a ter mais liberdade que as
mulheres.
No início do século XV o reino do Congo se expandiu e passou a incluir
diferentes kanda, sendo que cada um providenciava uma esposa para o mani Congo.
O Conselho era composto por doze indivíduos, sendo quatro desses sempre
mulheres. Elas podiam ter sido as chefes femininas do kanda do próprio mani Congo,
ou do kanda do seu pai, ou do seu avô materno ou do seu avô paterno. A mulher
principal era intitulada 'Mãe' do mani Congo e, seguindo o modelo kanda, era a chefe
feminina do mani Congo, talvez tendo sido também uma chefe importante e mais velha
do seu próprio kanda. À cada uma dessas mulheres também era confiada a liderança de
uma província e um salário. Logo, elas detinham uma grande quantia e capacidade de
poder.
45
Entretanto, enquanto as descendências eram calculadas do ponto de vista
matrilinear, para a realeza esse sistema podia diferir. Antes do e durante o século XVI
houve uma flexibilização das relações da realeza, o que interferiu nas kanda e permitiu
definir estruturas políticas extra-kanda.
O título de mani Congo tornou-se a maior fonte de poder e logo se acirraram as
disputas entre kandas, complexificadas pelo contacto com portugueses e pelo crescente
tráfico de escravos.
Mulheres também eram dadas como concubinas para os governadores de cada
província, alguns chegavam a ter mais de 30. Isso criava para elas relações de bastante
estabilidade, nas quais tinham muito a ganhar: seus filhos eram relacionados ao pai,
homem de poder, e não às suas famílias. Descendência relacionada ao pai foi
gradualmente substituindo a ideia dos laços matrilineares e fortalecendo a
patrilinearidade.
O cristianismo, com sua tradição de baptizar a criança com o sobrenome do pai,
contribuiu para essa fortificação.
As categorias patrilineares diferiam da ideia da kanda matrilinear. Elas não
chegavam a formar grupos com características definidas, mas conseguiam se estabelecer
como grupos de liderança no Congo.
A partir do reino de Afonso I foram os descendentes patrilineares membros de
seu kanda que concentraram o poder. Essa situação teve efeitos positivos e negativos
sobre as mulheres. Primeiramente, as linhas de descendência patrilineares fizeram com
que os homens buscassem direitos de ter seus filhos como herdeiros, o que fortaleceu a
posição da esposa principal. Essa detinha, além de bastante riquezas, muitos escravos.
Outrossim, o cristianismo como religião consolidada fortificou o papel dessa esposa de
modo a tentar erradicar a poligamia. Em muitos casos, as outras esposas acabaram
tornando-se escravas.
Muitos governantes ainda esperavam que os kanga lhes concedessem mulheres
para desposar. Porém, os líderes dos kanga perceberam que seu kanga podia ter mais
poder se casassem com as mulheres da família dos reis, e não o contrário. Desse modo,
criaram-se ligações que possibilitaram que os próximos reis fossem filhos desses
casamentos em que, apesar de tudo, a matrilinearidade ainda tinha seu poder – a
associação entre um determinado número de famílias.
As mulheres sabiam que seus filhos, pelo parentesco, podiam assumir o trono.
As linhagens foram traçadas a partir da relação da criança com o rei. Logo, fica claro
46
que muito do poder feminino, dentro da elite, advinha de sua influência sobre os
homens, no papel de líderes das linhagens, seja como mãe, tia, esposa ou avó. Isso
ocorreu de forma evidente durante o século XVI, já que as disputas por poder e uma
guerra civil no século XVII modificaram estruturas
O sistema político e administrativo no Congo era bastante centralizado. Um
sistema em que a heriditariedade não é a regra abre mais espaço para a participação
feminina. Porém, se a mulher não possui uma relação forte de parentesco com o rei, sua
posição seria deveras desprivilegiada.
O sistema de parentesco teria conferido às mulheres um poder potencialmente
estratégico como mediadoras, talvez porque estivessem fora dos papéis políticos
formais, além de poderem ocupar altos cargos devido à sua lealdade ao rei.
As mulheres adoptaram o cristianismo e destacaram-se dentro dele. Em 1491,
Leonor Anzinga Anlaza, esposa do rei, demandou que fosse baptizada da mesma forma
que seu marido. Assim, ela iniciou uma tradição de «rainhas» que representavam a fé
católica.
Em documentos do século XVI e do início do século XIX, há uma série de
indicações de que as mulheres desempenharam um papel importantíssimo na
manutenção e desenvolvimento do catolicismo do Congo. Nos momentos em que a
unidade do reino foi desestabilizada e seu poder dissipado entre concorrentes, foram as
mulheres da elite que continuaram a manter a fé e acolheram os missionários católicos.
Com a chegada dos missionários Capuchinhos no Congo em 1645, diversos
registos sobre a vidas das mulheres na corte e fora dela foram feitos.
Algo notado por eles foi o trabalho de mulheres comuns junto ou por meio de
sues maridos, a partir do controle das propriedades e recursos. Talvez isso as tenha
tornado mais independentes que as mulheres da elite.
Um relatório de um Capuchinho mostra que era crime que levava a escravização
do malfeitor o adultério com filhas, esposas, sobrinhas ou concubinas de homens da
elite. O padre deixa escrito que no Soyo, «quem deflorar uma menina, ele próprio se
tornaria seu escravo» como pagamento por seu crime.
Ainda assim, nenhuma mulher teve o total controle do Estado no Congo,
diferentemente de regiões próximas como o Mbundu, onde houve o governo da rainha
Nginga. Isso pode significar que, ideologicamente, no Congo não se aceitava a
possibilidade de uma mulher ser líder de Estado, mesmo que algumas tenham sido
autoridades locais.
47
NOTA IMPORTANTE:
48
E para que de futuro ficassem bem autenticadas as resoluções tomadas nesta
solene reunião, se lavrou esta acta, que vai por todos assinada, ficando junto ao tratado,
do qual se tiraram cópias devidamente certificadas e seladas com o selo usado nos
documentos oficiais da corveta rainha de Portugal, e entregues aos principais Chefes,
Tali-e-Tali, Príncipe Regente do Reino de Kakongo, Mancoche, Rei do Encoche
Luango, António Tiaba da Costa, Governador de Massabe, digo António Tiaba da
Costa, Regente do Reino de Chinchôcho, representando a Rainha Samano; Mangoal,
Príncipe Regente do Mambuco Manipolo; António Tiaba da Costa, Governador de
Massabe, representantes de Chefes dali, que receberam também a bandeira portuguesa
para a mandarem içar nas suas povoações e nos locais que fossem cedidos ao governo
português, a fim de a conservarem e defenderem como símbolo representativo da
soberania e Protectorado de Portugal sobre os territórios por eles governados.
TRATADO
Guilherme Augusto de Brito Capelo, capitão-tenente da armada, comendador de Avis e
cavaleiro de várias Ordens, comandante da corveta rainha de portugal, delegado por
parte do governo de sua majestade eI-rei de portugal, concluiu com os Príncipes Tali-e-
Tali, Regente do Reino de Kakongo, Mancoche, Rei do Encoche-Luango, António
Tiaba da Costa, Regente do Reino de Chinchôcho, representante da Rainha Samano e
Mangoal, Regente do Mambuco, e seus Sucessores, bem como os mais Chefes dos
territórios que do no Massabe se estendem até Malembo, na Costa Ocidental de África,
o seguinte:
Artigo 1º
Os Príncipes e mais Chefes do País, e seus Sucessores, declaram, voluntariamente,
reconhecer a soberania de Portugal, colocando sob o Protectorado desta nação todos os
territórios por eles governados.
Artigo 2º
Portugal reconhece os actuais Chefes e confirmará os que de futuro forem eleitos pelos
povos, segundo as suas leis e usos, prometendo-lhes auxílio e Protecção.
Artigo 3º
Portugal obrigasse a manter a integridade dos territórios colocados sob o seu
Protectorado.
49
Artigo 4º
Aos Chefes do País e seus habitantes será conservado o Senhorio directo das terras que
lhes pertencem, podendo-as vender ou alienar de qualquer forma para o estabelecimento
de feitorias de negócio ou outras indústrias particulares, mediante o pagamento dos
costumes, marcando-se duma maneira clara e precisa a área dos terrenos concedidos,
para evitar complicações futuras, devendo ser ratificados os contratos pelos
comandantes dos navios de guerra portugueses.
Artigo 5º
A maior liberdade será concedida aos negociantes de todas as nações para se
estabelecerem nestes territórios, ficando o governo português obrigado a Proteger esses
estabelecimentos, reservando-se o direito de proceder como julgar mais conveniente,
quando se provar que se tenta destruir o domínio de Portugal nestas regiões.
Artigo 6
Os Príncipes e mais Chefes indígenas obrigam-se a não fazer tratados, nem ceder
terrenos aos representantes de nações estrangeiras, quando esta cedência seja de carácter
oficial e não com o fim mencionado no artigo 4º.
Artigo 7º
Igualmente se obriga a proteger o comércio quer dos portugueses, quer dos estrangeiros
e indígenas, não permitindo interrupção nas comunicações com o interior e a fazer uso
da sua autoridade para desembaraçar os caminhos, facilitando e protegendo as relações
entre compradores e vendedores, as missões religiosas e científicas que se
estabelecerem temporária ou permanentemente nos seus territórios, assim, como o
desenvolvimento da agricultura.
# único - Obrigam-se mais a não permitir o tráfico da escravatura nos limites dos seus
domínios.
Artigo 8º
Toda e qualquer questão entre europeus e indígenas, será resolvida sempre com a
assistência do comandante de guerra do navio português que nessa ocasião estiver em
possível comunicação com a terra.
50
Artigo 9º
Portugal respeitará e fará respeitar os usos e costumes do País.
Artigo 10º
Os Príncipes e Chefes cedem a Portugal a propriedade inteira e completa de porções de
terrenos em Lândana, Chinchôcho e Massabe, que serão marcados de combinação com
os Chefes dessas localidades a quem os Príncipes encarregam de fazer a entrega. Do
acto de posse se lavrarão dois autos, um dos quais ficará na mão do delegado do
governo português e o outro na do Chefe indígena.
Artigo 11º
0 presente tratado assinado pelos Príncipes e Chefes do País, bem como pelo capitão-
tenente comandante da corveta rainha de Portugal, começará a ter execução desde o dia
da sua assinatura, não podendo contudo considerar-se definitivo senão depois de ter sido
aprovado pelo governo de sua majestade eI-rei de Portugal.
51
Causas da Conferência de Berlim
52
1. Grã-Bretanha: suas colónias atravessavam todo o continente e ocupou terras
desde o norte com o Egipto até o sul, com a África do Sul;
2. França: ocupou basicamente o norte da África, a costa ocidental e ilhas no
Oceano Índico,
3. Portugal: manteve suas colónias como Cabo Verde, são Tomé e Príncipe,
Guiné, e as regiões de Angola e Moçambique;
4. Espanha: continuou com suas colónias no norte da África e na costa ocidental
africana;
5. Alemanha: conseguiu território na costa Atlântica, actuais Camarões e
Namíbia e na costa Índica, a Tanzânia;
6. Itália: invadiu a Somália e Eritreia. Tentou se estabelecer na Etiópia, mas foi
derrotada;
7. Bélgica: ocupou o centro do continente, na área correspondente ao Congo e
Ruanda.
Por sua vez, a liberdade comercial na bacia do Congo e no rio Níger foi garantida;
assim como a proibição da escravidão e do tráfico de seres humanos. A Conferência de
Berlim foi uma vitória diplomática do chanceler Bismarck. Com a reunião, ele
demonstrava que o Império Alemão não podia ser mais ignorado e era tão importante
quanto o Reino Unido e a França.
Igualmente, não solucionou os litígios de fronteiras disputados pelas potências
imperialistas na África e levariam à Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
O conflito foi travado entre dois grandes blocos: Alemanha, Áustria e Itália
(formavam a Tríplice Aliança), e França, Inglaterra e Rússia (formavam a Tríplice
Entente).
Como a África era considerada uma extensão desses países europeu, o continente
também se viu envolvido na Grande Guerra Mundial, com os nativos integrando os
exércitos nacionais.
53
O TRATADO DE SIMULAMBUCO DE 1885
O TRATADO
Artigo 1º
Os príncipes e mais chefes e seus sucessores declaram, voluntariamente, reconhecer a
soberania de Portugal, colocando sob o protectorado desta nação todos os territórios por
eles governados.
Artigo 2º
Portugal reconhece e confirmará todos os chefes que forem reconhecidos pelos povos
segundo as suas leis e usos, prometendo-lhes auxílio e protecção.
Artigo 3º
Portugal obriga-se a fazer manter a integridade dos territórios colocados sob o seu
protectorado.
Artigo 4º
54
Aos chefes do país e seus habitantes será conservado o senhorio directo das terras que
lhes pertencem, podendo-as vender ou alugar de qualquer forma para estabelecimento
de feitorias de negócio ou outras indústrias particulares, mediante pagamento dos
costumes, marcando-se de uma maneira clara e precisa a área dos terrenos concedidos,
para evitar complicações futuras, devendo ser ratificados os contratos pelos
comandantes dos navios de guerra portugueses, ou pelas autoridades em que o governo
de sua majestade delegar os seus poderes.
Artigo 5º
Artigo 6º
Os príncipes e mais chefes indígenas obrigam-se a não fazer tratados nem ceder terrenos
aos representantes de nações estrangeiras, quando esta cedência seja com carácter
oficial e não com o fim mencionado no artigo 4º.
Artigo 7º
§ único. - Obrigam-se mais a não permitir o tráfico de escravatura nos limites dos seus
domínios.
Artigo 8º
Toda e qualquer questão entre europeus e indígenas será resolvida sempre com a
assistência do comandante do navio de guerra português que nessa ocasião estiver em
possível comunicação com a terra, ou de quem estiver munido de poderes devidamente
legalizados.
55
Artigo 9º
Artigo. 10º
Artigo 11º
O presente tratado assinado pelos príncipes e chefes do País, bem como pelo capitão-
tenente comandante da corveta «Rainha de Portugal», começa a ter execução desde o
dia da sua assinatura, não podendo, contudo, considerar-se definitivo senão depois de
ter sido aprovado pelo Governo de Sua Majestade.
57
O estatuto da Convenção de Viena sobre Relações Consulares entrou em vigor em
19 de Março de 1967.
58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
SILVA, Roberto Luiz. (2002). Direito Internacional Público. Belo Horizonte: Del Rey.
OLIVER, Roland Anthony; Atmore, Anthony; Oliver, Roland Anthony African middle
ages (2001). Medieval Africa, 1250-1800. Internet Archive. [S.l.]: Cambridge, U.K. ;
New York : Cambridge University Press
THORNTON, John (2001). The Origins and Early History of the Kingdom of Kongo, c.
1350-155». The International Journal of African Historical Studies (1).
89 páginas. ISSN 0361-7882. doi:10.2307/3097288. Consultado em 28 de Abril de
2021
HILTON, A. (1983), Family and Kinship among the Kongo South of the Zaïre River
from the Sixteenth to the Nineteenth Centuries. Journal of African History, v. 24, n. 2, p.
189-206, 1983.»
59
THORNTON, Jonh. K. (2006), Elite Women In The Kingdom Of Kongo: Historical
Perspectives On Women's Political Power. Journal of African History, v. 47, p. 437–60,
HOGENDOM, Jan; Johnson, Marion (1986). The Shell Money of the Slave Trade.
[S.l.]: Cambridge University Press
MARTIN, Phyllis M. (1986). Power, Cloth and Currency on the Loango Coast. African
Economic History (15). 1 páginas. ISSN 0145-2258. doi:10.2307/3601537. Consultado
em 28 de Abril de 2021
HEYWOOD, Linda. (2009) Slavery And Its Transformation In The Kingdom of Kongo:
1491–1800. Journal of African History, v. 50, p. 1–22.
60
ADERINTO, Saheed (2017). African kingdoms: an encyclopedia of empires and
civilizations. Santa Bárbara, Califórnia: ABC-CLIO. OCLC 988900622
GIUNTINI, Christine; Green, James; Howe, Ellen G.; Rizzo, Adriana; Windmuller-
Luna, Kristen (2015). Kongo: power and majesty. Nova Iorque: Museu Metropolitano
de Arte. OCLC 904861628
HEYWOOD, Linda M.; Thornton, John K. (2007). Central Africans, Atlantic Creoles,
and the foundation of the Americas, 1585-1660. Nova Iorque: Imprensa da
Universidade de Cambrígia. OCLC 77494467
THORNTON, John (1977). Demography and History in the Kingdom of Kongo, 1550-
1750. Jornal de História Africana [The Journal of African History]. 18 (4)
THORNTON, John (2001). The Origins and Early History of the Kingdom of Kongo, c.
1350-1550. Jornal Internacional de Estudos Históricos Africanos [The International
Journal of African Historical Studies (1). ISSN 0361-7882. doi:10.2307/3097288
TSHILEMALEMA, Mukenge (2002). Culture and Customs of the Congo (em inglês).
Londres: Greenwood
61
62