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Apontamentos Semanais de Direito Penal Aula 08.11: Manhã Teoria Geral Do Crime
Apontamentos Semanais de Direito Penal Aula 08.11: Manhã Teoria Geral Do Crime
® Ação
® Típica
® Ilícita
® Culposa
® Punível
Ou seja, vai verificar se preenche estes requisitos.
Virtualidade da teoria geral do crime:
Sistema Clássico
Influenciado pelo positivismo naturalista do século XIX-XX.
Há dois vetores que influenciaram este sistema:
1. Positivismo naturalista: o universo da razão prática, para estes autores, era uma
aparência. A conduta humana era condicionada (tal como qualquer fenómeno
natural) por condições endógenas e exógenas. E por aí, cria-se a crença de que
todas as ciências humanas deviam funcionar do mesmo modo das naturais,
fazendo-se revestir de conceitos formalistas e descritivos desprovidos de valor
axiológico – reportando-se a realidades empíricas (factos empíricos, que se
deveriam traduzir em conceitos descritivos e axiologicamente neutrais).
o Positivismo jurídico: na base do princípio da divisão de poderes caberia ao
legislador/parlamento e ao juiz caberia apenas uma aplicação automática dessa
mesma lei. Funcionava pelo silogismo judiciário; defendia-se o carácter descritivo
e formal dos conceitos jurídicos, pois só eles permitiam controlar a liberdade do
juiz e assegurar a “segurança dos particulares” – defesa do caráter descritivo e
formal dos conceitos jurídicos.
Foi daqui que resultou a conformação deste sistema clássico, que dominou a
literatura/doutrina alemã até aos anos 20.
O sistema clássico não teve adeptos nem defensores, mas é importante estudá-la porque
a sua construção viria a condicionar todo o desenvolvimento posterior da teoria geral do
crime.
A dogmática alemã entra na doutrina portuguesa por volta de 1940, já com outro sistema,
o neoclássico/normativista.
® Ação causal: uma ação, que era definida em termos causais; este conceito era
estritamente objetivo e descritivo (axiologicamente neutro). O que releva não é a
descrição fáctico-exterior da conduta. Esta ação casual não pretendia explicar o
crime omissivo (quando alguém está vinculado ao dever jurídico de proteger x e
não o faz; omissão de auxílio por exemplo). Se todo o crime tinha de ser uma ação
casual, uma omissão não cabe aqui, porque este não interveio/não modificou o
mundo exterior.
Em suma:
O crime era toda a modificação do mundo exterior, causalmente ligada a uma
vontade e cega de valores.
Ø estritamente objetiva
Ø vontade como motor do processo causal
Ø descritivo/axiologicamente neutra
Ø não se atende a aspetos valorativos
Exemplo:
O senhor A dá um empurrão no senhor B. O que é isto?
è Depende.
Se quiser matar é tentativa de homicídio; se quiser violar, é tentativa de violação,
etc.
A conduta humana é uma objetificação de uma subjetividade, não é objetiva por si só.
Os seus contratipos:
- Descritivos
- Estritamente objetivos (não se atende à vontade do agente)
Exemplo:
Arrufo entre senhor A e senhor B, vizinhos. Por vingança, o senhor A parte a janela e o
caixilho do senhor B. Porém, existia uma fuga de gás na casa de B e aquele acabou por
salvar este da morte.
A intenção desta conduta era causar o dano, não era salvar a vida de B, por isso o ato não
é justificável. A conduta humana não é objetiva, a subjetividade e intenção relevam no
direito penal e, ainda que pudessem existir atenuantes, a conduta não seria ignorada ou
valorada positivamente só por ter, no fim, um resultado positivo.
Contudo, alguns autores defendem que a pena do senhor A deveria ser atenuada para
tentativa; numa ideia de “está tudo bem, quando tudo acaba bem”.
Distinção
• Negligência consciente: está consciente dos riscos, mas decide avançar com o ato,
crente de que conseguirá evitar o perigo.
• Negligência inconsciente: não representa o caráter perigoso da conduta e o agente
nem sequer antecipa o perigo.
Este sistema centra-se numa perspetiva causalista e objetiva, não exprimindo o
sentido valorativo das condutas jurídico-criminais.
Assim, o sistema clássico, pela sua construção, deixa de fora muitos conceitos:
è O conceito de ação causal, deixa de fora o crime de omissão.
è O conceito de culpa deixa de fora a distinção entre imputável e inimputável e a
impossibilidade de admitir a negligência consciente.
è A subjetividade da conduta humana, por assentar na causalidade e em aspetos
estritamente objetivos, passa ao lado deste sistema.
Tarde
Em toda e qualquer situação para haver crime é preciso percorrer os vários conceitos do
conceito material de crime (que reconduzem à teoria geral do crime).
Teoria geral do crime – os elementos constitutivos têm de estar presentes em todo e
qualquer crime. É o caminho que se oferece a um juiz a nível de aplicação de casos
concretos; para saber como agir numa situação concreta.
Começamos a analisar a primeira das grandes construções da doutrina moderna:
Sistema clássico ou positivista
Esquematização do sistema clássico:
Sistema
Clássico
Culpa
Ilícita ou
Ação Causal Tipicidade Conceito
antijurídica
Psicológico de culpa
Descritiva/
Objetiva Axiologicamente Objetiva Descritiva Objetiva Objetiva
neutral
Este descontínuo não é compreensível pela mente humana e deve convertê-lo num
contínuo homogéneo.
• Este descontínuo heterogéneo não atende a diferenças qualitativas – é a perspetiva
das ciências naturais.
Para os neo-kantianos não é suficiente para compreender toda a realidade, por isso surge
uma segunda forma:
Como se explica a tentativa (em que não há resultado); como se distinguem os crimes de
dano e os crimes de perigo?
Sistema
Neoclássico
Culpa
Ação social Ilicitude + tipicidade
Objetiva Conceito Psicológico
(referencial a valores) ilícito típico
de culpa