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O que é a Arte?

A R T E , C R I A Ç Ã O A R T Í S T I C A E T E O R I A S
D A F I L O S O F I A D A A R T E
O que é a Arte?
• A filosofia da arte ocupa-se das
questões relacionadas com a
natureza, a produção, a apreciação
e a avaliação das obras de arte.

• Uma das questões centrais da


filosofia da arte é a questão da
natureza da arte.
O que é a Arte?
• Para definir-se Arte, exige-se identificar ou saber-se as características
comuns a todos os objetos de Arte. Isto significa, conhecer as
características comuns que todos os objetos de arte possuem,
permitindo-nos distinguir o que é arte do que não é arte.

• Para respondermos à pergunta O que é a Arte? vamos recorrer a


algumas respostas de filósofos que irão definir a Arte como Imitação, a
Arte como Expressão, a arte como representação, a Arte como
Forma e outros não a irão definir.

• Terminaremos com a pergunta: A arte pode ser definida?


Criação artística
• O processo de criação artística obedece a mecanismos psíquicos (racionais,
irracionais, conscientes e inconscientes) muitas vezes ignorados pelo artista.
Mas criar é sempre uma atividade marcada pela originalidade. Sabe-se
também que nesta atividade a imaginação tem um papel fundamental.

• O que está na base da criação artística? Que motivações conduzem alguém


a criar obras de arte, nos domínios da música, da literatura, do teatro, do
cinema, etc.?
Criação artística - razões
Eis algumas razões que levam o artista à criação das suas obras:

• Inventar novos mundos e transfigurar a realidade vulgar do quotidiano;

• Compreender-se a si mesmo e interpretar o significado da vida e do Universo;

• Transcender ou ultrapassar o carácter efémero ou passageiro das vivências e das


coisas, transpondo-as para um plano de eternidade ou, pelo menos, para uma
dimensão que resista ao desgaste do tempo;

• Procurar ser o porta-voz de uma classe ou de um grupo e intervir social, política e


ideologicamente através da arte;
Criação artística - razões
• Realizar de forma simbólica tudo aquilo que, por razões morais ou materiais,
não pode ser realizado de outro modo; assim, a arte representa uma forma de
equilíbrio, e a criação é um processo catártico, libertador, uma satisfação de
desejos inconscientes, um processo de sublimação;

• Exprimir-se e revelar-se, dando a conhecer a outrem o seu mundo interior;

• Perpetuar a sua passagem pelo mundo, deixando um testemunho da sua


experiência pessoal.
Objetos ansiosos
• A arte contemporânea colocou a questão de saber o
que é a arte de forma exemplar, sobretudo através
do surgimento dos objetos ansiosos.

• Objetos ansiosos são produções artísticas feitas


deliberadamente para manter a incerteza sobre
se são ou não obras de arte.

• Levantam uma questão óbvia: basta que um artista


assim o decida para que um certo objeto, uma
pessoa ou um gesto possam ser arte?
Teorias sobre a natureza da arte
• Teorias essencialistas – a arte tem uma essência e pode ser definida;

• Teorias não essencialistas – a arte não tem uma essência, não sendo
possível a sua definição.
Arte como imitação
• Uma das mais antigas teorias da arte foi defendida pelos filósofos gregos
Platão e Aristóteles, ambos defendiam que a Arte é Imitação ou Mimese.

• Platão perspetivava a arte como algo negativo porque não nos mostra a
Verdade. Platão considerava que o mundo em que vivemos não é
verdadeiramente Real ou Verdadeiro, então a realidade que os artistas
imitavam ainda era mais inferior à realidade em que vivemos.

• A Verdadeira Realidade são as Ideias, que estão além do mundo dos nossos
sentidos, numa dimensão eterna que não é a nossa nem se identifica com o
mundo em que vivemos.
Arte como imitação
• Contudo, Aristóteles pensava de modo diferente pois defendia que as pessoas
podiam aprender com as imitações. Assim classifica diferentes tipos de
imitação:

• Meios de imitação (linguagem, gesto ou som);

• Coisas imitadas (objetos, pessoas ou acontecimentos);

• Modos de imitação (direta ou descrição narrativa).


Arte como imitação
• Os artistas aceitaram durante séculos a ideia da Arte como Imitação. Quanto mais
perfeita fosse a imitação, mais valor teria. Esta teoria muito antiga, continua ainda a
ser considerada por muitas pessoas, principalmente aquelas que não têm formação
e estudos nesta área. Perguntas do género: Mas isto é arte? Não vejo nada neste
quadro a não ser riscos e manchas de tinta!

• A tese da Arte como Imitação é a seguinte:

Se X (por exemplo, um quadro) é Arte, então imita


algo.
• Contudo esta tese não afirma que toda a Imitação seja Arte!
Arte como imitação
• Críticas à Arte como imitação:

• Basta irmos atualmente, a um Museu de Arte


moderna para percebermos que a Arte não se limita
à Imitação! O que dizer da Arte abstrata que nada
imitam? Uma crítica seria…se a arte é imitação, então
as obras de Arte mais valiosas seriam as fotografias!
Certo? Mas esta ideia não é aceitável nem razoável.

• https://gulbenkian.pt/museu/arte-num-minuto/
Arte como representação
• Alguns filósofos, defenderam que o conceito de Imitação tinha de ser substituído
pelo conceito mais amplo de Representação. Nesta medida afirmavam que toda a
Imitação é Representação, mas há Representações que não são Imitações.
Existem vários exemplos de representações que não são imitações (vários símbolos
que estão no lugar de algo, como a bela mulher que representa a República).

• Vemos que o conceito de Representação é mais amplo/ abrangente do que o de


Imitação. Pode até incluir obras de arte abstrata, em que por exemplo cores, traços,
formas, não imitam algo, mas possam representar algo. A partir de agora diz-se:

Se X é Arte, então, representa algo.


Arte como representação
• Contudo, temos um problema. Há pinturas abstratas que dificilmente se
consegue mostrar que representam algo…. Para os defensores da arte como
Representação, há ainda um argumento: uma obra representa sempre algo,
desde que tenha um assunto. E o facto de qualquer obra de arte poder ser
interpretada, mostra precisamente que todas as obras de arte têm um assunto
e que, portanto, referem algo. O que nos conduz a uma outra versão:

Se X é Arte, então pode ser interpretada.


Arte como representação
• Uma obra como A Fonte, de Duchamp,
que é afinal um urinol (pia de casa de
banho), tem um assunto. Aqui o
assunto é a própria noção de arte que
o artista pretende pôr em causa (os
outros urinóis, já não são arte porque
não são “acerca de algo” não sendo
por isso para interpretar).
Arte como representação
• Críticas à teoria da Representação:

• Por exemplo, a música repetitiva, destinada a testar e a alargar a nossa


capacidade de discriminação auditiva (não têm qualquer assunto para
interpretar).

• O mesmo se passa com algumas pinturas abstratas que têm por objetivo
provocar em nós apenas experiências visuais ou jogos de ótica, que
pretendem somente estimular a nossa perceção visual.

• Por conseguinte, a teoria da Representação também é criticável, sendo por isso


insuficiente, apesar de ser verdade que muita Arte Imita ou Representa algo.
Arte como expressão
• No final do séc. XVIII, a arte como imitação é posta em causa com a chamada
revolução romântica. Os artistas começaram a usar a Arte como expressão das suas
experiências individuais ou pessoais. A Arte passou a exprimir emoções e
sentimentos do artista. Até porque, segundo eles, competia à ciência mostrar a
realidade com objetividade.

• Segundo o romancista russo Tolstoi (1828-1910) só há Arte se existir expressão de


sentimentos e mais, que esses sentimentos sejam “captados” pelos outros. Deste
modo, a Arte é uma forma de comunicação que expressa sentimentos, unindo as
pessoas através dos mesmos.

X é arte se, e só se, é Expressão de Sentimentos


Arte como expressão
• A Arte como expressão implica os seguintes aspetos:
O artista tem de sentir emoção.
O público tem de sentir emoção.
As emoções do público e do artista têm de ser as
mesmas.
Tem de haver autenticidade da parte do artista.
Os sentimentos expressos têm de ser
individualizados.
A expressão consiste em clarificar sentimentos.
Arte como expressão
• Algumas vantagens desta teoria da arte:

Explica o conteúdo cognitivo da arte - A arte ensina-nos algo, através da


noção exigida de clarificação; à Arte cabe descobrir novas variações emocionais e
respetivos efeitos no público;

Explica a ligação emocional que temos com a arte - uma vez que a arte
exprime sentimentos importantes para nós, isso explica a profunda ligação que temos
com a arte;

É muito abrangente - Qualquer obra, pode exprimir emoções/sentimentos,


mesmo que nada represente ou imite.
Arte como expressão
• Críticas/ objeções à teoria da arte como Expressão:

• Autenticidade dos sentimentos do artista - como podermos saber se o artista sentiu


de facto esses sentimentos? E as obras de autores desconhecidos? E os atores de
cinema? E o público do cinema, tem de sentir o mesmo dos atores ou realizadores?

• A intencionalidade da obra - muitas obras, nem se destinam a ser publicadas ou


editadas e muito menos transmitir intencionalmente sentimentos nos outros. É
concebível haver artistas cujas obras são criadas sem ter como alvo o público.

• A clarificação das emoções - existem muitas obras de arte que nada clarificam, bem
como existem muitas obras artísticas que têm como propósito provocar sentimentos
negativos como o horror, a repulsa, a fúria, etc.
Arte como expressão
• As obras de arte exprimem sentimentos – não se verifica no caso da música
aleatória, de John Cage (https://www.youtube.com/watch?v=JTEFKFiXSx4)

• A arte abstrata constitui também um contraexemplo. Este tipo de arte, apela


muitas vezes à transmissão de ideias e não de emoções/sentimentos. Podemos
concluir, que apesar da arte como expressão incluir diversas obras de valor artístico,
não é suficientemente abrangente para incluir todas as obras de arte.
Arte como forma
• As teorias formalistas da Arte surgiram no princípio do séc. XX e implicaram uma
grande revolução na arte, nomeadamente na pintura. Pode afirmar-se, que a
pintura moderna se opõe à ideia tradicional de Arte como Representação.

• A sua tese fundamental é a de que tudo o que importa na obra de arte é o jogo
entre as suas qualidades formais: na pintura, as relações de cores e figuras e seu
equilíbrio; na poesia, os sons e ritmos das palavras; na música, os temas, as
tonalidades e os andamentos; na dança, os movimentos e as figuras.
Arte como forma
• Segundo filósofos como, Roger Fry e Bell, uma obra de Arte deve ser considerada
não pelas associações mentais que desperta, mas pelo efeito dos seus elementos
formais nos nossos sentidos.

• Contudo, Bell à partida, parece aproximar-se da ideia de Arte como Expressão


porque indica que todo processo começa com uma experiência pessoal, a que
chama Emoção estética. A Emoção estética perante a obra de arte, necessita que a
obra possua alguma característica responsável pela emoção – qual? Eis o problema.
Arte como forma
• Bell defende que Sensibilidade e Inteligência têm que estar juntas para
conseguirmos ter a tal Emoção estética. A inteligência, despertada pela emoção
estética deverá procurar nas obras de arte, a tal característica individuadora, que
permite distinguir a arte da não arte. Bell chama a essa Característica
Individuadora, a Essência, ou seja, aquilo que faz a obra ser Arte. Essência ou
Característica que é comum a todas as obras de arte.

• Questão: mas há muitos objetos que têm forma e não são Arte!

• Bell, refere-se a uma Forma específica, a que chama Forma Significante!

X é arte se, e só se, tem Forma Significante.


Arte como forma
• A Forma Significante é, aquilo que, num objeito, não pode ser alterado,
simplificado ou adaptado sem perder o seu interesse e o seu significado.

• E uma placa de sinalização, à partida também parece ter a tal Forma Significante
porque o seu significado depende da sua forma…
Arte como forma
• Muitos outros objetos, não podem ser Arte, porque têm como principal objetivo
informar-nos de alguma coisa, proibição, perigo, etc. A obra de Arte tem de ter
como exclusiva ou principal finalidade, exibir apenas a sua Forma.

• Os formalistas pensam que um objeto até pode representar ou expressar algo, mas
não é por isso que é arte. Quando um formalista observa um objeto, por exemplo,
uma pintura, o que procura é ver se as linhas e as cores se combinam de Forma
Significante.
Arte como forma
• Críticas/ objeções à teoria Formalista da Arte:

Como sabemos que um objeto tem


Forma Significante? - o formalista diz que
sabemos que um objeto tem Forma Significante
porque temos emoções estéticas quando o
observamos. Mas se perguntarmos ao formalista o
que é uma emoção estética, ele responde que é o
tipo de emoção provocado pela Forma
Significante.
Arte como forma
Além do formalista não conseguir definir o conceito de Forma Significante,
muitas vezes as características formais têm que estar ligadas ao Significado, Conteúdo
ou Sentido da Obra de Arte. Sem esta relação com o Significado, por exemplo, um
poema, pode perder totalmente o seu Sentido e importância.

Quais as condições ou critérios para termos acesso a essa tal Forma


Significante?

Como definir essa Forma Significante?


Teoria histórica
• Na atualidade mantém-se em aberto a
questão de saber qual é a natureza da arte.

• As teorias históricas defendem que a


essência da arte reside no facto de todas as
obras se relacionarem com obras
anteriores. Pretendem encontrar uma
característica comum a todas as obras de
arte e só a elas.
Teoria histórica
• Jerrol Levinson define a obra de arte:
X é uma obra de arte se e apenas se X é um objeto acerca do qual uma pessoa,
possuindo o direito de propriedade sobre X, tem uma intenção duradoura de que este
seja visto como uma obra de arte.

• Isto é, visto de qualquer modo (ou modos) como foram ou são vistas as obras de
arte anteriores.
Teoria histórica
• Críticas/objeções à teoria histórica:

• É discutível que o direito de propriedade possa ser apontado


como uma condição necessária para haver arte quando podemos
imaginar inúmeros contraexemplos que mostram o contrário.

• É discutível que a intencionalidade seja necessária para haver


arte. Um exemplo que nos leva a pensar que não será diz respeito
a algumas das obras de Frank Kafka. Os manuscritos de
O Processo e O Castelo deveriam ter sido destruídos a pedido do
autor, aquando da sua morte. Contudo, as obras foram publicadas
e ninguém põe em causa que sejam obras de arte literárias.
Pode o
graffiti
ser
Arte?
Shamsia Hassani

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