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O lado claro das assombracées fot er Ut etd A H ciganos 0 preconceito € contrario a razao Ciganos sao ladroes de criancas! Eis um mito sem fundamento. E. represt mesmo a m, nta um dos maiores problemas éticos em ambito mundial, pois sua base é 0 pre- conceito e o estereotipo. E, para entender- mos esse mito, antes devemos compreender 0s dois termos que o sustentam, O estered- Lipo é uma generalizacdo superficial, do tipo os ciganos roubam criangas”. Representa © ponto de partida para o preconceito, Por , © preconceito € a opinidio erronea de um, que € aceita sem raciocinio, por outro. Norberto Bobbio, professor de Di- reito Politico Italiano, definiu a natureza sua ve do preconceito como irracional. Para ele quem acredita et n opiniao falsa € justa- (© mito é o nada que é tudo. © mesmo sol que abre os céus 6 um mito brilhante e mudo. (Fernando Pessoa) Mae cigana da etnia Sinti, ‘com filha loira, faz pensar ‘em possivel heranga gené- tiea de ascendentes nko cciganos que foram ado- tados como tals quando: recém-nascidos. mente quem vé nessa opinido uma razio pratica que serve aos interesses de quem a expressa Origem literaria de um esterestipo Uma das origens do mito de que os ciganos sto ladrdes de criancas pode ser encontrada nos is interesses” do escritor panhol Miguel de Cervantes, Sua litera- tura, do inicio do século 17, criou o tema do roubo de criancas pelos ciganos. Na novela La gitanilla (A ciganinha), 0 autor narra historia de uma jovem cigana de rara beleza, sensibilidade, inteligencia e maestria naarte de cantar e dancar, que se distinguia das outras jovens de seu grupo ¢ a todos fascinava. Depois de muitas aventuras nas quais 0 texto trata os ciganos com despre 0, € narrado 0 encontro da jovem com 0 corregedor de uma cidade espanhola e sua esposa, de quem a avé adotiva da menina confessa havé-la roubado quando crianca: Assim que a corregedora reconheceu 05 brincos, levou-os aos libios, deu-lhes infindos beijos e caiu desmaiada. O cor- regedor a amparou e, tendo vindo a si, a mie disse: —‘Boa mulher, antes anjo do que cigana, onde estd a dona destes brincos? Onde Em vossa casa a tendes: aquela ciganinha est senthora? Respondeu a cigana ~ que vos fez chorar € a dona deles e é, sem diivida alguma, a vossa filha que eu raptei em Madri, de vossa casa, no dia e hora que dizeis” (Texto integral em espanhol: www dominiopublico.gox.br— traducao: Dittoco — Revista or ENsino REUGIos0), No século 19, imtmeros autores uti ram o “mito” com objetivos “educativos” e estereotiparam a imagem dos ciganos para valorizar as virtudes dos nao ciganos. Mas, tendo visto a origem literdria desse mito, nao devemos descartar a sua origem social Sabe-se que, na época de Cervantes, o cha- mac “casamento poramor” praticamente nao existia. Os casamentos entre filhos de nobres eram arranjados pelos pais, com interesse de unir as terras e posses das fa- milias. Entao, por exemplo, a filha de um conde estava prometida em casamento ao filho de um barao, mas a donzela amava, digamos, 0 bobo da corte, ¢ por amor se entregava a ele. Engravidando, cis 0 que acontecia: ficava em um convento ou escondida em casa até dar a luz perguntavam por ela, dava-se a entender Aos que que havia viajado para comprar 0 enxoval Quando a crianea nascia, era levada pelo avo a um acampamento onde era entregue a uma cigana com a ordem “els aqui uma 2 ew on 7 Matto 2 émnico crianga enjeitada e estas moedas de ouro sto para as despesas com ela”. E, assim que a cigana pegava a crianca nos bracos, ouvia a ordem: minhas terras! Bem, segundo a teoria de comparacao lin “Saiam imediatamente de guistica e as rei entes pesquisas genéticas, sabemos que a origem étnica dos grupos genericamente chamados de ciganos ¢ 0 norte da india, Isso equivale a ¢ que em nés, ciganos, predominavam a pele, os cabelos e os olhos escuros. Portanto, uma crianga nao cigana em um acampamento chamava a atencao: fosse pela pele clara, ‘Quadro Os suplicantes, de Edwin Longsden, Pedido de ajuda de ciganos espanhdis a uma auto- ridade da Igreja Catolica contra 0 decreto de expulsio expedido pelo rei Felipe IV no século 17. pelos cabelos louros ou ruivos ou ainda pelos olhos azuis ou verdes. O fato levan- tava falatorio dos curiosos e maledicentes ¢ era agravado pelo avo da crianca enjeitada, que dizia: “Expulsei os ciganos de minhas terras porque roubaram meus cavalos! A ideia dessa mentira era afastar a crianca indesejada, mas ela alimentava a ma fama a raiva do povo contra os ciganos, Esse fa © mito do nomadismo. (0 indiretamente também pode explicar Na realidade, os grupos ciganos, além de sempre serem expulsos, nao foram nomades por vontade propria ou por valor cultural. Confirma-se que, “uma mentira contada mil vezes torna- se uma verdade”, como proclamava Paul Joseph Goebbels, ministro da propaganda do governo de Adolf Hitler na Alemanha nazista $6 a partir do século 18 é que foram publicados os primeiros livros pseudocien. tificos sobre ciganos europeus, mas os : woo POSS DOD Te TC autores s6 alimentam os estereotipos que {ja existiam. Um deles foi 0 alemao, Hein- rich Grellmann, que, utilizando fontes sensacionalistas, transcreveu em seu livro Historischer Versuch Uber Die Zigeuner (Ensaio historico sobre os ciganos 1787) a noticia de um jornal de 1782, que acusava 0s ciganos de serem antropafagos. Resulta- do do mito, 45 ciganos foram enforcados E um ano depois da publicacao do livro, que se tornou um best-seller mundial com edig&es em varias linguas, provou-se que a acusacao era falsa. Outro pesquisador de gabinete, que pou- quissimo contato teve com ciganos, foi 0 ingles George Borrow, autor de The zincali (Os ciganos ~ 1841). George Borrow apre- sentou a imagem estereotipada dos ciganos espanhois, ¢ la estava o mito novamente: ciganos ladroes de criancas: “Os ciganos sio como se nao fossem de espécie humana, mas antes animal, e em lugar de razdo sao do- tados de um tipo de instinto que os auxilia até um certo limite e nada mais”. Desmitificando o imaginatio popular Em qualquer agrupamento humano ha pessoas boas e mas, honestas e desonestas. Portanto, nao podemos compreender as ca- racteristicas culturais dos grupos ciganos por meio da generalizacio. E preciso observar a identidade étnica especifica de cada grupo. Enos, ciganos, temos uma bagagem cultural que se configura na especificidade da tradi¢ao. Portanto, para nds, toda e qualquer mudanca deve comegar com o respeito ao passado com 0 entendimento do presente, para que possamos garantir um futuro melhor, Somos © que somos por conta de nossas crencas ¢ J ota non stongn 0-Maonstoars étnico tradigdes, € nao pelos mitos e esterestipos que existem a nosso respeito. Diariamente eu arranco, com minhas maos, os preconceitos dos coracdes daque- les que generalizam dizendo: *Cigano ¢ la- drao de crianga (...)”; Mas os preconceitos crescem ali novamente, tal erva daninha entre pedras. Entio eu oro. “O, Baro Del, cuja voz eu escuto em toda cancao! ‘Ouve-me, sou uma crianga diante da vida e necessito de tua sabedoria: Faz-me sabio para que eu possa compre- ender e suportar as dores que me causam 605 irmaos preconceituosos; Faz com que meu coracao, minha razao minhas maos sempre respeitem aqueles que me ofendem sem ao menos saberem quem eu sou; , Baro Del, cujo olhar eu vejo no sol que € 0 fogo da vida! Faz com que eu encontre uma forma de mostrar aos outros a minha Verdade: Nao quero ser melhor que meu irmao, mas desejo que ele aprenda como eu apren- di, que nosso maior inimigo esta dentro de nos mesmos. , Baro Del, cujas lagrimas escorrem na chuva! Faz com que 0 preconceituoso seja tal qual a abelha que colhe o néctar em di- versas flores para produzir 0 mel, ¢ que, assim, ele seja sabio aceitando a esséncia das diversas etnias criadas por ti! O, Baro Del, cujo ar sopraste em nossas vidas! Permite que, quando chegar 0 momento do meu timo folego, quando minha vida for se apagar, como 0 prea Dy ee eked proprio sol se apaga no poente, este cigano possa chegar diante de ti com 0 orgulho de um guerreiro MM a Ot cd que lutou empunhando as tas armas: GEESE ESOP eat Resa aeeeey Amor, a Verdade e a Paz!” Peo here eA Poa Me ieee Mant ty Referéncias Ct Coe ie aa ccacy BOBBIO, Norberto. Elogio da serenidade e outros | (pani ptieee Sati vay escritos morais. Sie Paulo: Unesp. 2 ed. 2001. ‘© Programa Nacional de Direitos Huma- Nos, nos artigos de 259 a 264, prev que Oe eee are eee zs Pee seen Ce eet Rey Pn ks pe eee et ea Gerais Os fos ue ic cea ie es viries livros. Ganhador do Prémio occ Beuinho de Astude Cadi 2012, Ce ace aes eee ence tert Coco cn eect PLT a eee eee TY Pens eter eet ts ee er ean Pee RO! erase leit lek Ace e rege Cio acest Cece 262. Apoiar a realizacao de estudos para Pree oe he ae ere crue pT Se ae dades nas quais se identifica a presenca Atras do Mure Lnvisivel CO tne Ceo Ueto unico ee aaa ee eect ae de Cultura Cigana. Presidente dda Embaixada Cigana do Brasil = Phralipen Romane. Site www Midas eure Traktec b Ditters Clatie Cee aC Se Rc oc ceca Ter: Bsa eee Reon e POO eee Cie tase Nicolas Ramanush nascimento dos filhos, assim como apoiar eee cee ee tet ee ‘Chpe cbreee a Arse are ret eeree Peer tte telex ease cane (vend no sta aca). Sree ice

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