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Flexão I

Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Analisar o efeito da flexão em peças e componentes estruturais.


„„ Revisar o cálculo de centroide nas seções transversais e o cálculo do
momento de inércia.
„„ Identificar estruturas nas quais há efeito de flexão.

Introdução
A flexão é um esforço normalmente resultante de carregamentos trans-
versais que curvam o corpo e geram uma distribuição de tensões em
seu interior. O esforço de flexão é muito comum em nosso cotidiano, em
prédios, pontes, escadas, veículos automotores e mais uma infinidade de
produtos e situações.
Neste capítulo, você vai estudar a flexão e seus efeitos em peças e
componentes estruturais; vai revisar o cálculo de algumas propriedades
de suma importância no estudo da flexão, além de identificar estruturas
em que há o efeito da flexão.

Efeito da flexão em elementos estruturais


As peças estudadas na flexão normalmente são barras, na maioria das vezes
de eixo reto e seção constante. Dependendo da aplicação, a barra pode ter
diferentes denominações, como viga (a mais comum), pilar, eixo, biela, tirante,
cabo, etc.
O corte perpendicular ao eixo da barra é chamado de seção transversal e
pode ter diversas formas, como ilustrado na Figura 1.
2 Flexão I

Retangular Tubular Seção em I Seção em C


retangular

Seção em T Circular cheia Circular vazada

Figura 1. Seções transversais de algumas barras.


Fonte: Adaptada de Rodrigues (2015, documento on-line).

As vigas podem também ser classificadas de acordo com seus apoios,


conforme Figura 2:

„„ Viga simplesmente apoiada — tem apoio fixo em uma extremidade


e um apoio móvel na outra.
„„ Viga em balanço — é engastada em uma extremidade e livre na outra.
„„ Viga biengastada — tem as duas extremidades engastadas.

(a) (b) (c)

Figura 2. Viga: (a) simplesmente apoiada, (b) em balanço e (c) biengastada.


Fonte: Adaptada de Dicionário Ilustrado Estruturas – PréIC (2012, documento on-line).
Flexão I 3

Quando submetidas a uma carga externa, as vigas reagem nos apoios ou


pontos de contato. A carga externa pode ser concentrada em uma pequena
área ou distribuída linearmente ao longo de uma área. Na Figura 2, a carga
externa distribuída é representada pelas setas.
Duas situações são necessárias para que um corpo permaneça em equilíbrio:
o equilíbrio de forças, para que o corpo não sofra translação ou aceleração; e
o equilíbrio de momentos, para que o corpo não sofra rotação. Ilustrados na
Figura 3, forças e momentos são descritos a seguir.

„„ Força normal (N) — é criada quando as forças externas tendem a


tracionar ou comprimir o corpo. Esta força atua de forma perpendicular
à área e pode ser:
■■ força normal de tração, que tende a produzir um alongamento junto
à seção considerada. É uma força positiva e orientada para fora da
seção;
■■ força normal de compressão, que tende a produzir um encurtamento
junto à seção considerada. É uma força negativa e orientada para o
centro da seção.
„„ Força cortante ou de cisalhamento (V) — é criada quando as forças
externas tendem a provocar um deslizamento entre duas partes do
corpo. Esta força atua de forma paralela à área.
„„ Momento de torção ou momento torçor (T) — ocorre quando as cargas
externas tendem a torcer uma parte do corpo em relação à outra. Este
momento atua de forma paralela à área.
„„ Momento de flexão ou momento fletor (M) — ocorre quando as
cargas externas tendem a fletir o corpo em relação ao eixo localizado
no plano da área. O esforço de flexão positivo produz um alongamento
(tração) na parte de baixo da barra e um encurtamento (compressão) na
parte de cima da barra, junto à seção considerada.
4 Flexão I

(a)
F4
F3

Seção

F1 F2

(b)
Momento
de torção T
M F
 Força
normal

V Força de
M
 cisalhamento
Momento
fletor

F1 F2

Figura 3. (a) Corpo mantido em equilíbrio por quatro forças externas e (b)
componentes que atuam no corpo.
Fonte: Adaptada de Hibbeler (2004, p. 5).
Flexão I 5

Quando a carga de flexão é aplicada sobre uma viga, no seu interior são
gerados a força cortante e o momento fletor, que variam ao longo do eixo
longitudinal, dependendo de onde a carga é aplicada.

Alguns componentes estruturais estão sujeitos à concentração de tensão em pontos


onde há uma mudança na seção transversal, como entalhes e furos. Quanto mais severa
for a mudança, mais significativa será a concentração de tensão, principalmente se o
material for frágil e/ou sujeito à fadiga.

Centroide, linha neutra e momento de inércia


Centroide (C) é o centro geométrico de um corpo. Se o corpo possui apenas
um eixo de simetria, o centroide se localiza ao longo dele. Quando tem dois,
o centroide se localiza na sua interseção.
Linha neutra é a interseção de uma superfície neutra que passa ao longo
do eixo longitudinal do corpo com qualquer seção transversal. A linha neutra
representa fisicamente o eixo em torno do qual gira a seção, passando pelo
centro geométrico (centroide) do corpo e não se deslocando durante a flexão.
Momento de inércia (I) pode ser definido como a resistência à rotação
que um corpo oferece durante a deformação por flexão. Também é chamado
de módulo de rigidez à flexão da viga.

Quanto maior for o momento de inércia de um corpo, menor será a tensão, e conse-
quentemente, menor será a deformação.

Na Figura 4 são apresentadas propriedades geométricas, como momento


de inércia e o centroide, de alguns elementos de área mais comuns.
6 Flexão I

  

  =  

  

 
 = 




 = 


 
 
  =  
 
 

 π2
=
2

4  = π 4

 3π
    =  π 4


= π 2
1
 = π 4
 4
 1
 = π
 4 4

2

5

2
= 
3


3 declividade nula
 
8

Figura 4. Propriedades geométricas de alguns elementos de área.


Fonte: Adaptada de Hibbeler (2004, p. 672).

Para o caso de áreas compostas, como os perfis T e I, normalmente as


áreas são divididas em áreas mais simples. Nesses casos, o centroide (e, con-
sequentemente, a linha neutra) pode ser calculado pelas seguintes equações:
Flexão I 7

∑x~A
x– =
∑A

∑y~A
y– =
∑A

Onde ~xe~y são as distâncias algébricas do centroide de cada parte do com-


ponente e ∑A representa a área total, ou seja, a soma das áreas componentes.
Já o momento de inércia de áreas compostas pode ser calculado pela
equação:

I = ∑ (I x’ + Ady2)


Onde I x’é o momento de inércia em torno do eixo x’ (sendo x’ o eixo do
centroide), A é a área e dy é a distância entre os eixos paralelos x e x’.

Cálculo do centroide e do momento de inércia para área de seção transversal T ilustrada


a seguir.


8 pol

3 pol


11,5 pol
10 pol

5 pol


2 pol
8 Flexão I

Centroide:
O eixo y foi posicionado ao longo do eixo de simetria, de modo que x– = 0. Para
obtermos y–, definimos o eixo x ao longo da base da área. A área foi dividia em dois
retângulos. Dessa forma temos:

∑y~A {[5 pol] (10 pol) (2 pol))} + {[11,5 pol] (3 pol)(8 pol)}
y–= = = 8,55 pol
∑A (10 pol) (2 pol) + (3 pol) (8 pol)

Momento de inércia:

8 pol
1,5 pol
1,5 pol 4,45 pol


10 pol
8,55 pol
5 pol

2 pol

A área foi dividida em dois retângulos, determinando a distância do eixo x’ para


cada eixo do centroide.

I = [∑ ( bh
3

12
+ (bh) (dy)2]
1
= [ 12 (2pol) (10 pol)3 + (2 pol) (10 pol) (8,55 pol – 5 pol)2]
1
+ [ 12 (8 pol) (3 pol)3 + (8 pol) (3 pol) (4,45 pol – 1,5 pol)2] = 646 pol4

Estruturas nas quais há efeito de flexão


Segundo Hibbeler (2004) as vigas (barras compridas e retas com área de seção
transversal constante), são consideradas o mais importante dos componentes
estruturais, pois estão presentes em edificações, pontes, aviões, automóveis,
guindastes, entre outras aplicações.
Todas as vigas submetidas à flexão devem resistir aos esforços de tração e
compressão. O concreto, por exemplo, tem baixa resistência, principalmente à
tração. Para compensar esta deficiência e fazer com que ele resista ao momento
Flexão I 9

fletor, são adicionadas barras de aço no seu interior, principalmente onde o


material sofre tração.
Escadas, andaimes e postes, são exemplos de estruturas da construção civil
que também sofrem esforços de flexão. Na ginástica artística, temos outros,
como o trampolim de uma piscina (Figura 5), onde a carga é concentrada na
extremidade sem apoio da viga em balanço, causando uma compressão na
parte inferior do trampolim e uma tração na parte superior. É semelhante
ao que ocorre na vara de salto (Figura 6), onde a carga é concentrada na
extremidade superior enquanto a outra extremidade está apoiada no chão. No
caso do cavalo, as alças (Figura 7) são biapoiadas e sofrem a flexão no centro.

Figura 5. Trampolim.
Fonte: Adaptada de Raul Ruano Pavon/Shutterstock.com.

Figura 6. Salto com vara.


Fonte: sirtravelalot/Shutterstock.com.
10 Flexão I

Figura 7. Cavalo com alças.


Fonte: Polhansen/Shutterstock.com.

Diversos objetos de nosso uso cotidiano sofrem esforços de flexão, tais


como o assento de uma cadeira; o galho de uma árvore com uma criança
andando de balanço; o cabo de energia entre dois postes com um passarinho
sentado sobre ele; a barra de academia, onde as mãos do usuário são o apoio
e as anilhas são a carga; os trilhos de uma ferrovia bem como o próprio trem,
além de carros, motos, ônibus e caminhões. Em grande parte destes casos,
o corpo que sofre o esforço não tem uma seção transversal constante, o que
pode dificultar a análise e a determinação de propriedades, esforços e reações.

Acesse o link a seguir para assistir a um vídeo que explica


o momento fletor.

https://goo.gl/r6DaZS
Flexão I 11

1. A estrutura de barra abaixo está a) Flexão; Fibra inferior: compressão;


suportando uma carga distribuída Fibra superior: tração; Ponto de
de forma uniforme. Indique a que maior deslocamento vertical: B.
tipo de solicitação principal ela está b) Flexão; Fibra inferior: tração; Fibra
submetida e o que ocorre nas fibras superior: compressão; Ponto de
superiores e inferiores quando a maior deslocamento vertical: B.
estrutura se encontra deformada. c) Flexão; Fibra inferior: tração; Fibra
superior: compressão; Ponto de
maior deslocamento vertical: A.
d) Esforço Normal; Fibra inferior:
tração; Fibra superior:
compressão; Ponto de maior
deslocamento vertical: A.
e) Esforço Normal; Fibra inferior:
a) Esforço normal; Fibra compressão; Fibra superior:
inferior: tração; Fibra tração; Ponto de maior
superior: compressão. deslocamento vertical: A.
b) Torção; Fibra inferior: compressão; 3. Calcule o ponto onde passa
Fibra superior: tração. a linha neutra na seção
c) Torção; Fibra inferior: tração; semicircular indicada a seguir.
Fibra superior: compressão.
d) Flexão; Fibra inferior: compressão;
Fibra superior: tração.
e) Flexão; Fibra inferior: tração;
Fibra superior: compressão. a) Linha neutra = 12 mm
2. A estrutura de barra abaixo está (em relação à base)
suportando uma carga distribuída b) Linha neutra = 8,2 mm
de forma uniforme. Indique a (em relação à base)
que tipo de solicitação principal c) Linha neutra = 6,9 mm
ela está submetida, o que ocorre (em relação à base)
nas fibras superiores e inferiores d) Linha neutra = 5,1 mm
quando a estrutura se encontra (em relação à base)
deformada, e em qual ponto ocorre e) Linha neutra = 3,4 mm
o maior deslocamento vertical. (em relação à base)
4. Calcule o ponto onde passa
a linha neutra na seção perfil
T, indicada a seguir.
12 Flexão I

e entre os momentos de inércia


das seções indicadas a seguir.

a) Linha neutra = 42 mm
(em relação à base) a) Centroide: (1) = (2); Momento
b) Linha neutra = 38 mm de Inércia: (1) = 1,33 ∙ (2)
(em relação à base) b) Centroide: (1) ≠ (2); Momento
c) Linha neutra = 36 mm de Inércia: (1) = 1,77 ∙ (2)
(em relação à base) c) Centroide: (1) = (2); Momento
d) Linha neutra = 32 mm de Inércia: (1) = 1,77 ∙ (2)
(em relação à base) d) Centroide: (1) ≠ (2); Momento
e) Linha neutra = 28 mm de Inércia: (1) = 2,3 ∙ (2)
(em relação à base) e) Centroide: (1) = (2); Momento
5. Calculando as seções (a) e (b), diga de Inércia: (1) = 2,3 ∙ (2)
qual a relação entre os centroides

DICIONÁRIO Ilustrado Estruturas – PréIC. 2012. Disponível em: <http://dicioilustrado-


estruturas.blogspot.com/>. Acesso em: 05 jul. 2018.
HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004.
RODRIGUES, R. Momento de inércia de pilares e vigas I. 2015. Disponível em: <https://
engiobra.com/calculadoras/momento-inercia/pilares-vigas-i/>. Acesso em: 05 jul. 2018.

Leitura recomendada
GARCIA, A. Ensaios dos materiais. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:

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