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Sociedade, Género e Poder (41105)

E-Fólio Global (Recurso) – 30 de Setembro de 2020


GRUPO I

1. Defina, de forma sucinta, de que modo a noção de “denominação masculina”


elaborada por Pierre Bourdieu se pode ligar com a definição do conceito de
género.
R: O autor Pierre Bourdieu foi considerado um dos sociólogos do século XX,
destacando-se por ter renovado ideias de autores clássicos como Marx, Weber,
Durkheim, Mauss e Lévi-Strauss, com a criação de um sistema teórico para
interpretar a sociedade a seu redor.
A obra sociológica do autor Pierre Bourdieu (1930-2002), intitulada “A
Dominação Masculina” está intimamente ligada à dimensão simbólica da
dimensão masculina, ou seja, o significado através dos nossos pensamentos. Pode-
se dizer que a dominação simbólica masculina, é uma violência simbólica, isto é,
uma violência suave, que não se sente porque está na forma como vemos o mundo,
onde quase tudo é adquirido, sendo transformado em natural. O autor Pierre
Bourdieu vai interpretar esta tarefa através de um trabalho de investigação,
enquanto sociólogo e antropólogo, numa região da Argélia. No trabalho de campo
desenvolvido nessa mesma região descobre que é androcêntrica, em que o homem
é o centro de tudo e todos. A ideia que o autor quer-nos transmitir é que a
historicizar o natural, tanto as estruturas do pensamento, práticas e demonização
masculina. Assim, as mulheres vêm o homem como sendo natural.
O autor, tenta compreender na sua análise de estudo na Argélia, porque existem
muitas tradições ainda tão enraizadas e, consegue compreender os símbolos e
signos que vão dar primazia à família. Nessa região predileta do autor, traduz-se
as tradições, raízes e crenças, e compreende a estrutura do pensamento. Investiga
a organização da sociedade do conhecimento das práticas, ele tem uma
organização binária, dicotómica, onde pratica o oposto, como por exemplo: na
agricultura compreende o que é quente e frio, na culinária sabe o que é um bom
tempero ou um tempero insosso. É através da vivência com estas sociedades tão
enraizadas que se vê que o pensamento se alia às práticas usadas pela sociedade:
entre as formas de ver o feminismo e o masculino. Desta forma, as mulheres são
vistas como uma entidade negativa na família e também no resto da sociedade. As

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mulheres são vistas como não-homens, com formas de vestir diferentes, com
saias, com uma postura do corpo direita, sem dar muito nas vistas. A mulher passa
a ser simbolizada como diminutivo como sendo um ser frágil, dócil, fútil. No
nosso dia a dia, se pensarmos até nos símbolos como a cor azul, remete-nos para
uma cor quente associada ao homem macho, e a cor rosa associada à feminilidade
da mulher/rapariga. Nesta perspetiva, estes símbolos ou signos são verificados no
ambiente de trabalho de uma empresa, a existência da dicotomia chefe (posição
superior) / secretária (posição inferior), ou médico (posição superior) / enfermeira
(posição inferior). A mulher é simbolizada com menos credibilidade, no entanto,
as mulheres pretendem impor-se no local de trabalho para que possam ser levadas
mais a sério e com mais respeito. Contudo, estes símbolos já estão tão enraizados
que já são aceites inconscientemente nas sociedades, pois parece tão natural as
práticas e os pensamentos que não existe as diferenças. Numa outra situação do
quotidiana no casal, é a dicotomia que existe entre a mulher ser a submissa e o
homem o superior e dominador da relação; vê-se as preferências das mulheres em
escolherem homens mais velhos e maduros, altos e bem-sucedidos, isto é, existe
uma hierarquização. Por outro lado, temos o homem visto como o profissional de
sucesso que está associado a competência, masculinidade, em que o autor
Bourdieu refere que o homem não faz o trabalho da mulher, pois é ela que assume
cuidar do lar e dos filhos, as tarefas domésticas, pois são mais direcionadas ao
feminismo. Contudo, com o evoluir dos tempos, verifica-se algumas mudanças,
tais como a mulher era vista só na cozinha na confeção das confeções, hoje
também são os homens que o fazem, tornando-se grandes chefes de cozinhas, com
prestígio (estrelas Michelin). Com a entrada do homem no mundo da culinária
transformou-se num novo olhar, e são aceites como trabalhadores, emprenhados
e como sendo um cargo de difícil tarefa, ao contrário do que estava estigmatizado
na mulher. Para o autor Pierre Bourdieu, as diferenças só surgem quando o
dominante se posiciona como sendo o universal (o homem) e o não dominante
com particular (a mulher) se torna dominada pelo dominador.
Em suma, os homens são relacionados e criados com competências e habilidades
para terem perfil de liderança, ao invés das mulheres que são criadas para serem
não-homens, pois se demonstrarem estas características são vistas com pouco
feminismo. É uma obra de difícil compreensão devido ao campo simbólico, a

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própria significação/significado para poder entender o processo de pensamento do


que é natural e do que é fabricado mentalmente.

2. Tendo em conta o contexto da pandemia da COVID-19 refira algum aspeto em


que as desigualdades entre homens e mulheres no quotidiano possam ter sido
aumentadas. Justifique a sua escolha.
R: Com a situação do COVID-19 pelo mundo inteiro, as desigualdades
acentuaram e aumentaram, tornando-se bem visíveis nas mulheres, segundo nos
mostra os dados do PORDATA, em 2019 o desemprego no sexo feminino fixou-
se nos 7,1%, enquanto o homem teve uma taxa percentual de 5,8%, no entanto, é
de salientar que em 2020 o sexo masculino teve um aumento significativo, para
os 6,5% e o sexo feminino manteve-se. Outros dados curiosos são em termos de
grupos etários, ressalta-se o desemprego do grupo de 55-64 anos (6,2%) apresenta
uma taxa superior ao grupo de 25-54 anos (5,7%) referentes ao ano 2019; contudo
no ano 2020 presenciamos uma mudança inversa em que o grupo mais jovem tem
maior taxa de desemprego (6,0%) face ao grupo mais velho (5,9%). Associado a
este fenómeno social que é o desemprego, nomeadamente com maior incidência
no sexo feminino, podemos dizer que existem outras questões sociais, como a
violência doméstica/sexual/psicológica que abarca também crianças indefesas e
inocentes. As medidas de confinamento implementadas surgiram devido ao
aumento de casos positivos, e foi nesse momento que milhares de trabalhadores
uns foram dispensados de forma temporários dos seus locais de trabalho, mas
outros de forma definitiva. Neste período houve momentos em que mulheres
vítimas e homens agressores, estiveram a conviver 24-24horas, o que se tornava
“quase” uma missão impossível para pedir ajuda. Importa mencionar que a
violência doméstica não ocorre só no seio familiar de quem é de classe social
desfavorecida, de raça negra, de etnia cigana ou com orientação sexual –
lésbica/homossexual; este fenómeno de violência doméstica abarca todas as
posições sociais e económicas e não escolhe pessoas. Efetivamente não só a
COVID-19 trouxe à tona este fenómeno como tantos outros como, o desemprego
face às pessoas portadoras de deficiência; a crise dos refugiados; as questões da
comunidade de LGBT; os sem-abrigo.
Conclusão, podemos ter a certeza de que o género feminino foi muito mais afetado
durante o período do confinamento/isolamento devido às escolas terem encerrado

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e a implementação da escola à distância, e o fato dos avós serem o suporte familiar


e não poderem tomar conta dos netos.

3. Indique uma questão que foi relevante para si no âmbito desta unidade
curricular. Esta resposta deve conter uma reflexão pessoal e fundamentada na
matéria da UC sobre a mesma.
R: A temática que mais suscitou interesse, enquanto estudante da Uc de
Sociedade, Género e Poder, foi a da masculinidade, abordada pelo autor Michael
Kimmel. A nível pessoal, senti uma grande satisfação ao visualizar o seu discurso
na conferencia, onde uma plateia maioritariamente feminina, se encantaram com
as suas palavras. Sociólogo e autor de diversas obras, Michael Kimmel é
caraterizado como um dos maiores peritos do mundo no que diz respeito à
abordagem de homens e masculinidade. Defensor na envolvência do homem,
enquanto ser humano para a luta e apoio na igualdade de género, foi através do
seu vídeo, que percecionei que Michael Kimmel envolve a plateia e é muito
perspicaz na comunicação, captando atenção para o assunto da igualdade de
género. Na sua perspetiva a “igualdade de género é boa para todos”, como sendo
um “jogo em que todos ganham”, família, trabalho, sociedade, pois aumenta os
nossos níveis de felicidade e saúde. Faz a diferença da desigualdade de géneros
nos empregos: se os trabalhadores forem/estiverem felizes nos seus empregos, vai
gerar maior satisfação no local de trabalho, um ambiente securizante entre os
colegas e entre o chefe, haverá maior produtividade, e no fundo contribuirá para
o sucesso da empresa e dos trabalhadores. No que diz respeito ao nível familiar,
quando às tarefas domésticas, estas são devidamente partilhadas entre o homem e
a mulher vai gerar dois pontos: por um lado, uma maior satisfação na mulher (por
se sentir ajudada e apoiada) e por outro uma lição de aprendizagem para os seus
filhos, o que se traduz numa relação com maior tempo livre para se dedicarem aos
filhos e ao casamento.
Em suma, o sociólogo Michael Kimmel transmite ao longo da sua palestra ideias
muito coerentes em relação à igualdade de género. Em Portugal, podemos
constatar através de uma notícia no Diário de Notícias, datada a 15 de outubro de
2019, que o caminho para a igualdade de género continua a ser percorrido “a passo
de caracol”, no entanto, a igualdade de género melhorou em Portugal, mas ainda
se mantém entre os piores países da EU. A destacar no topo da lista, temos a

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Suécia com 83,6 pontos, e a Dinamarca com 77,5 pontos, por seu turno Portugal
tem 59,9 pontos, tendo vindo a ter melhorias significativas desde 2015. No
entanto, somos nós mulheres que temos de fazer essa diferença, enquanto mães e
filhas de que somos iguais tanto em deveres como em direitos, ou seja, o que o
homem tem por direito a mulher também o terá, e cabe a todos nós (pais,
educadores, meios de comunicação, órgãos políticos) ensinar e transmitir à nova
geração estas ideias de igualdade, para que no futuro haja mais compreensão e
mais igualdade.

(https://www.dn.pt/vida-e-futuro/igualdade-de-genero-portugal-melhorou-
mas-mantem-se-entre-os-piores-11408410.html)

4. Explique de que modo a noção de técnicas de corpo elaboradas por Marcel


Mauss permite a distinção entre “sexo” e “género”.
R: O autor Marcel Mauss, transmite uma ideia de que o corpo não é só uma
matéria de carne e osso, mas quem se serve dele, em diferentes maneiras, aliado
aos diferentes países, povos, culturas, crenças e pensamentos. Contudo faz um
destaque para o sexo e género, na sua obra “As técnicas do corpo” (1934), destaca
com grande foco as técnicas de corpo que variam de sociedade para sociedade: as
técnicas de nascimento e da obstetrícia – como o momento que a mulher (género
feminino) tem o bebé (parto) e o reconhecimento da criança ao mundo; as técnicas
de infância onde demonstra vários os diferentes modos de se carregar um bebé,
de dar de mamar (sexo feminino) e fazer o desmame; as técnicas da adolescência:
onde os jovens passam pelo inicio da aprendizagem/rituais fundamentalmente da
vida adolescente para a vida adulta (introdução de crenças e ideias que rapaz usa
calções e as raparigas usam saias); as técnicas da idade adulta – que são abordados
os vários momentos da atividade diária como o modo de dormir /repouso, as
atividades de movimento como a dança, corrida, salto, escalada, descida e nado;
as técnicas de cuidar do corpo (esfregar, ensaboar) técnicas de consumo (maneira
de comer/beber; e as técnicas de reprodução (as posições sexuais) e as técnicas de
medicação. Em suma, pode-se concluir que a obra do autor Marcel Mauss é
enriquecedora, por nos dar uma diferença entre os sexos e género apresenta o
corpo, como “o primeiro e mais natural objeto técnico” que é figurado em três

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esferas: a biológica, a psicológica e social. Contudo, é na dimensão social que o


corpo é referido, como modo de cultura e com formas especificas de cada cultura.

GRUPO II (50 a 70 linhas)

“Todas essas histórias fazem-me quem eu sou. Mas insistir somente nessas histórias
negativas é superficializar minha experiência e negligenciar as muitas outras histórias
que me formam. A história única cria estereótipos. E o problema com estereótipos não é
que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem uma história tornar-
se a única história (…). Eu sempre achei que era impossível relacionar-me
adequadamente com um lugar ou uma pessoa sem relacionar-me com todas as histórias
daquele lugar ou pessoa. A consequência de uma única história é essa: ela rouba das
pessoas sua dignidade. Faz o reconhecimento de nossa humanidade compartilhada
difícil. Enfatiza como nós somos diferentes ao invés de como somos semelhantes.” (pg 4)

- A partir destas citações do livro “o perigo da história única” de Chimamanda Adichie,


explique de que modo é importante, no contexto desta UC, a desconstrução dos modelos
dominantes de masculinidade e de feminilidade como “únicos”.

R: Autora de um vasto leque de obras, Chimamanda Ngozi Adichie é das maiores vozes
da literatura africana. Nigeriana de nacionalidade, a autora Chimamanda Adichie,
descreve ao detalhe histórias únicas e com relatos na primeira pessoa, vividos e
experienciados em diversos momentos da sua vida, desde a infância, passando pela sua
saída da Nigéria e o ingresso para a universidade. Atualmente é uma das escritoras com
maior sucesso e dá voz ao feminismo, debatendo questões sociais de extrema importância.
Após visualização do vídeo no site youtube “o perigo da história única”, podemos
concluir que a autora Chimamanda Adichie quer transmitir a construção do estereótipo
de pessoas (africanas / americanas / mexicanas…) e dos lugares (ex: méxico) através de
uma perspetiva de construção cultural e distorcida das identidades de lugares ou pessoas.
Esta questão do perigo da história única também podemos aplicar noutras situações,
nomeadamente na dominação de masculinidade e de feminilidade como “únicos”.
Vivemos numa sociedade extremamente pacifica, mas com diversas “histórias”
associadas ao masculino e ao feminino, que passam de geração em geração. Por um lado,
o masculino em que é associado numa única história ligado ao homem como sendo o
dominador, chefe de família, autoritário, trabalhador, competente, empreendedor e gestor

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Sociedade, Género e Poder (41105)

do seu tempo e dinheiro; por outro lado temos o feminino: ligado à mulher que é mais
sentimental, associada à beleza, futilidade, cuidadoras das crianças e do lar, bem como as
mais frágeis. Efetivamente todos estes adjetivos, anteriormente referidos em ambos os
géneros, são “ideias” predefinidas, preconcebidas, que se foram transmitindo de geração
em geração, e que passaram a ser a “única história” contada vezes sem conta e que por
motivos inconscientes foi sendo interiorizada pelos indivíduos. Contudo, estas ideias
sofreram alterações pois impuseram características que não correspondem à realidade de
hoje em dia, por isso, demonstram desigualdades e discriminação entre ambos os sexos,
raças em diversas áreas da vida social dos indivíduos: saúde; educação; política;
deficiência; comunidades LGTB baseando-se em diferenças segundo os contextos sócio
históricos. Estes contextos são utilizados pela sociedade e transformados por si mesmos.
De acordo com o autor Michael Kimmel, caraterizado como um dos maiores peritos do
mundo no que diz respeito à abordagem de homens e masculinidade. Defensor na
envolvência do homem, enquanto ser humano para a luta e apoio na igualdade de género,
é através do seu vídeo, que se perceciona que Michael Kimmel envolve a plateia e é muito
perspicaz na comunicação, captando atenção para o assunto da igualdade de género. Na
sua perspetiva a “igualdade de género é boa para todos”, como sendo um “jogo em que
todos ganham”, família, trabalho, sociedade, pois aumenta os nossos níveis de felicidade
e saúde. Faz a diferença da desigualdade de géneros nos empregos: se os trabalhadores
forem/estiverem felizes nos seus empregos, vai gerar maior satisfação no local de
trabalho, um ambiente securizante entre os colegas e entre o chefe, haverá maior
produtividade, e no fundo contribuirá para o sucesso da empresa e dos trabalhadores. No
que diz respeito ao nível familiar, quando às tarefas domésticas, estas são devidamente
partilhadas entre o homem e a mulher vai gerar dois pontos: por um lado, uma maior
satisfação na mulher (por se sentir ajudada e apoiada) e por outro uma lição de
aprendizagem para os seus filhos, o que se traduz numa relação com maior tempo livre
para se dedicarem aos filhos e ao casamento. Ao analisarmos na área política,
nomeadamente, questões de género masculino e feminino, apercebemo-nos que existe
atualmente uma mudança, criada através de medidas de ação positivas, como o caso da
implementação das quotas baseadas no sexo e da Lei da Paridade. Isto significa que
Portugal após ter adotado a Lei da Paridade, Lei Orgânica nº 3/2006, após uma falha de
implementação do sistema de quotas em 1999, com a finalidade de distribuir de forma
igualitária homens e mulheres em diferentes listas eleitorais (europeias, legislativas e
autárquicas), ainda ficou aquém das expetativas no que toca à igualdade entre sexos. Por

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Sociedade, Género e Poder (41105)

sua vez esta lei não assegura 50%-50% entre os sexos, apenas menciona que nas eleições
da Assembleia da Républica, Parlamento Europeu e autárquicas locais deve haver uma
representação mínima de 33,3% de cada sexo. Ora aqui está uma questão de
discriminação, em que a “profissão” ligada à política está associada a estereótipos
masculinos, e ao seu mérito, pondo em questão o mérito da mulher neste âmbito1.

EXAME – 11 de Julho de 2017

GRUPO I (15 linhas)

1. Indique o nome do/a autor/a do livro “Sexo e temperamento em três sociedades


primitivas”, publicado em 1935.
R: O nome da autora do livro intitulado “Sexo e temperamento em três
sociedades primitivas” é Margaret Mead (1901-1978), que foi publicado em
1935. A autora, enquanto antropóloga clássica teve como objetivo chamar
atenção para o corpo, nomeadamente para as diferenças sexuais, tendo como
finalidade, a compreensão/interpretação do comportamento dos homens e das
mulheres interligados entre os sexos biológicos, nas três sociedades: Nova Guiné
(as tribos Arapesh, Mundugumor e Tchambuli). O seu trabalho demonstrou que
as características atribuídas à mulher e ao homem através do que é esperado
socialmente variavam de sociedade para sociedade, ou seja, o género é uma
construção cultural e não um atributo diretamente ligado aos órgãos sexuais do
individuo. A autora Margaret Mead considera no seu livro a palavra
“temperamento”, tal como no título, é a designar a palavra que atualmente usamos,
“género”. Pode-se dizer que a autora muito contribuiu para o rompimento das
ideias do conceito de género feminino e masculino estivessem ligadas
biologicamente, dando uma especial atenção para o fato de que eram construídos
através de práticas culturais e sociais das sociedades.

2. Diga qual o conceito sobre o qual incidiu sobre a obra de Kimberlé Crenshaw?
R: Na obra de Kimberlé Williams Crenshaw, o conceito que mais se destacou
foi a de Interseccionalidade. Importa mencionar o que significa este conceito, que
permite pensar as desigualdades não apenas a partir do eixo de diferenciação

1
https://journals.openedition.org/spp/696

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(como o género – masculino ou feminino), mas também, a sua pronunciação em


conjunto com outros eixos de diferença, tais como a etnia, a orientação sexual,
classe social, raças.
É pertinente relembrar o que nos diz a Declaração Universal dos Direitos
Humanos a Carta das Nações Unidas referente às questões relacionadas com os
direitos das mulheres e questões de género. Todas as garantias presentes nestes
dois documentos foram abordadas em conferências muito importantes a nível
mundial (Cairo, Viena e Beijing) com o intuito alcançar novos avanços nestas
temáticas – género e em específico as mulheres. Por um lado, temos a Declaração
Universal que nos traz a garantia da aplicação dos direitos humanos sem distinção
do género e também o reforço da não discriminação com base na raça. Contudo,
foi através da Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Racial que se vincou uma maior proteção contra a discriminação
baseada na cor, na descendência e na origem étnica ou nacional. De acordo com
a autora Piscitelli, o conceito Interseccionalidade é modo de olhar as
consequências entre duas ou mais formas de subordinação patentes na sociedade.
Podem ser verificadas através da provocação de desigualdades de raça ou etnia
(nas escolas ou no local de trabalho), a orientação sexual (no domínio da LGBT),
na deficiência (barreiras de acesso ao mercado de trabalho), religião (cristianismo,
islamismo entre outras religiões) ou classes sociais. Outra questão muito
importante, a ser ligada a este tema é o trafico de mulheres, é um tema da
atualidade e que muitas vezes não se dá o devido valor e, acaba caindo no
esquecimento sem nada se ter feito grande investigação e, tendo muito para
descobrir.

3. Tendo em conta a leitura do texto de Teresa Cunha “O Zimpeto: o mercado


abastecedor da arte de pensar e o Museu de Reinata que é ou não uma mulher
emancipada? (porque ninguém se lembraria de perguntar se a Paula Rego é ou
não uma mulher emancipada)” (2010). Explique de forma fundamentada o que
significa este título.
R: Após a leitura e a devida análise do texto de Teresa Cunha, “O mercado de
Zimpeto”, de forma muito sucinta pode-se dizer que esta autora compara o que
considera ser as várias e diferentes formas de emancipação das mulheres, em
detrimento dos mais diversos contextos, na pós-colonização. Contudo, não

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podemos esquecer que o que para nós, “mundo ocidental” é emancipação das
mulheres, mulher branca e classe média, neste sentido é um pouco contrário, no
fundo diferente. Pode-se dizer que no caso do mercado de Zimpeto, local onde a
autora fez trabalho de campo, refere, que as mulheres de “lá” lutam pelos seus
direitos como seres humanos e liberdade sem violência, querendo paz e uma vida
sem agressões por parte dos companheiros. É nesse ponto que autora se debruça
sobre a “emancipação” de Paula Rego, artista plástica de grande foco no mundo
das artes criativas a nível nacional e internacional. Mulher contemporânea, de
nome incontornável, arrecadou inúmeras exposições individuais e inúmeros
prémios e distinções através da sua arte com quadros ligados ao surrealismo,
expressionismo e naturalismo. Notável pela forma como se lançou no mundo quer
era marcado pelo homem, e agora encontra-se bem vincada com o seu nome e
feminismo revolucionário nas artes plásticas.

4. Indique um ou uma autor/a que foi relevante para si no âmbito desta


disciplina curricular e porquê.
R: Após a leitura de vários autores, o autor que se destacou e que me marcou mais
a nível pessoal na literatura, foi o autor Marcel Mauss pela dimensão que eleva
o corpo nas várias vertentes/construções. A interpretação que transmite com a sua
visão, fez-me pensar, enquanto mulher, filha, mãe, pois apesar de ser apenas uma
mulher, o meu corpo tem várias técnicas e dimensões.
O autor transmite uma ideia de que o corpo não é só uma matéria de carne e osso,
mas quem se serve dele, em diferentes maneiras, aliado aos diferentes países,
povos, culturas, crenças e pensamentos. Na sua obra “As técnicas do corpo”
(1934), destaca com grande foco as técnicas de corpo que variam de sociedade
para sociedade: as técnicas de nascimento e da obstetrícia – como o momento que
a mulher tem o bebé (parto) e o reconhecimento da criança ao mundo; as técnicas
de infância onde demonstra vários os diferentes modos de se carregar um bebé,
de dar de mamar e fazer o desmame; as técnicas da adolescência: onde os jovens
passam pelo inicio da aprendizagem/rituais fundamentalmente da vida
adolescente para a vida adulta; as técnicas da idade adulta – que são abordados os
vários momentos da atividade diária como o modo de dormir /repouso, as
atividades de movimento como a dança, corrida, salto, escalada, descida e nado;
as técnicas de cuidar do corpo (esfregar, ensaboar) técnicas de consumo (maneira

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de comer/beber; e as técnicas de reprodução (as posições sexuais) e as técnicas de


medicação.
Em suma, concluí que a obra do autor Marcel Mauss é enriquecedora, por nos dar
uma diferença entre os sexos e género, pois apresenta o corpo, como “o primeiro
e mais natural objeto técnico” que é figurado em três esferas: a biológica, a
psicológica e social. Contudo, é na dimensão social que o corpo é referido, como
modo de cultura e com formas especificas de cada cultura, tendo sido esta a
perspetiva que me chamou mais atenção, o fato de podermos ser vistas e de nos
vermos a nós mesmas de diferentes perspetivas: enquanto mãe no momento da
gravidez e parto, filha com o uso de roupas mais femininas e cortes de cabelo, e
na perspetiva de mulher a sexualidade e sensualidade do meu corpo.

GRUPO II (35 linhas)

1. Diga quais são as ideias principais do texto As técnicas do corpo de Marcel


Mauss publicado em 1934?
R: O autor Marcel Mauss, sociólogo e antropólogo Francês, através da sua obra
intitulada “Técnicas do Corpo”, obra publica em 1934, transmite uma ideia de que
o corpo não é só uma matéria de carne e osso, mas quem se serve dele, consoante
perspetivas diferentes, em diferentes maneiras, tendo em conta os diferentes
países, povos, culturas, crenças e pensamentos. Contudo, Marcel Mauss aponta
quatro princípios, definindo como técnicas do corpo: em que verificou que as
diferenças são observáveis entre sexo feminino e o masculino; há diferença entre
a idade e existem diversas variações; o rendimento tem influência nas técnicas do
corpo e que as técnicas do corpo são transmissíveis de geração em geração,
seguindo as tradições que são impostas. Faz um especial destaque para o sexo e
género, na sua obra “As técnicas do corpo” (1934), destaca com grande foco as
técnicas de corpo que variam de sociedade para sociedade: as técnicas de
nascimento e da obstetrícia – como o momento que a mulher (género feminino)
tem o bebé (parto) e o reconhecimento da criança ao mundo; as técnicas de
infância onde demonstra vários os diferentes modos de se carregar um bebé, de
dar de mamar (sexo feminino) e fazer o desmame; as técnicas da adolescência:
onde os jovens passam pelo inicio da aprendizagem/rituais fundamentalmente da
vida adolescente para a vida adulta (introdução de crenças e ideias que rapaz usa

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calções e as raparigas usam saias); as técnicas da idade adulta – que são abordados
os vários momentos da atividade diária como o modo de dormir /repouso, as
atividades de movimento como a dança, corrida, salto, escalada, descida e nado;
as técnicas de cuidar do corpo (esfregar, ensaboar) técnicas de consumo (maneira
de comer/beber; e as técnicas de reprodução (as posições sexuais) e as técnicas de
medicação. Em suma, pode-se concluir que a obra do autor Marcel Mauss é
enriquecedora, por nos dar uma diferença entre os sexos e género apresenta o
corpo, como “o primeiro e mais natural objeto técnico” que é figurado em três
esferas: a biológica, a psicológica e social. Contudo, é na dimensão social que o
corpo é referido, como modo de cultura e com formas especificas de cada cultura.

2. Explicite de que modo o trabalho de campo da antropóloga Margaret Mead


realizou em diferentes contextos etnográficos é um contributo importante
para a elaboração do conceito analítico de género?

R: A autora Margaret Mead (1901-1978), publica um livro intitulado “Sexo e


temperamento em três sociedades primitivas” que foi publicado em 1935. A
antropóloga foi pioneira tal como o seu colega antropólogo Marcell Mauss no
percurso teórico e histórico do conceito de género. É a autora Margaret Mead que
dá especial contributo, com objetivo chamar atenção para o corpo, nomeadamente
para as diferenças sexuais, tendo como finalidade, a compreensão/interpretação
do comportamento dos homens e das mulheres interligados entre os sexos
biológicos, nas três sociedades: Nova Guiné (as tribos Arapesh, Mundugumor e
Tchambuli). O seu trabalho demonstrou que as características atribuídas à mulher
e ao homem através do que é esperado socialmente variavam de sociedade para
sociedade, ou seja, o género é uma construção cultural e não um atributo
diretamente ligado aos órgãos sexuais do individuo. A autora Margaret Mead
considera no seu livro a palavra “temperamento”, tal como no título, que se
designa a palavra que atualmente usamos, “género”. Pode-se dizer que a autora
muito contribuiu para o rompimento das ideias do conceito de género feminino e
masculino estivessem ligadas biologicamente, dando uma especial atenção para o
fato de que eram construídos através de práticas culturais e sociais das sociedades.
Na sua investigação a padronização temperamental das sociedades estudadas pela
autora são definidas da seguinte maneira: a sociedade Tchambuli são as mulheres

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Sociedade, Género e Poder (41105)

as dominadoras e agressivas, ao contrário, os homens são mais emocionais e


dependentes; a sociedade de Mundugumor, ambos os géneros são agressivos e
violentos, e a sociedade Arapesh ambos os sexos são mais tranquilos, mais
afáveis, doces. Verificou que os povos primitivos tinham papeis diferenciados e
que são atribuídos socialmente para cada sexo, como caso dos Mundugumor em
que a mulher tem a tarefa de pescar.
Em suma, foram grandes os contributos que a antropóloga clássica nos trouxe na
análise e estudo em campo sobre o corpo e as diferenças de sexo, que se tornou
pertinente no campo das Ciências Sociais.

3. “O género, aplicado às mulheres, aos homens, ou mesmo às relações entre eles,


é incapaz de dar conta da complexidade das situações em que outras pertenças
confluem, como a classe, a cor da pele, a etnia, a religião, ou a orientação sexual,
simplesmente porque ele não é um atributo dos indivíduos concretos, mas um
saber da sociedade”. (Amâncio, L. 2003:706).
- Comente esta citação de Lígia Amâncio e diga qual é o conceito que tenta dar
uma análise mais fina da situação de discriminação e desigualdade.
R: A autora Lígia Amâncio, licenciada em Psicologia e Ciências da Educação, é
um nome incontornável nas questões de estudos de género em Portugal. As suas
investigações/estudos centram-se na compreensão dos processos de construção
social do masculino e do feminino e na discriminação alicerçada no género,
destacando -se com maior foco a integração das mulheres em mercado de trabalho
na área pública e qualificada, associada à política, à ciência e à medicina.
Tendo em conta a citação da autora Lígia Amâncio, são explícitos os conceitos
como género ligado à desigualdade entre homens e mulheres e, a discriminação
ligada às questões de classe social, orientação social tudo o que está envolvido a
nível social e que nós enquanto indivíduos percecionamos porque foi assim
transmitido pelos nossos pais ou cuidadores, e de algum modo foi interiorizado e
adquirido inconscientemente.
O próprio conceito de género é recente e associado às questões femininas e de
masculinidade, onde recai mudanças, nomeadamente na esfera familiar.
Considerando que as mulheres têm percorrido um grande caminho para se
afirmarem na sociedade, estas hoje em dia, marcam presença no mercado de
trabalho tal como os homens. Esta igualdade de oportunidade, que de todo não é

13
Sociedade, Género e Poder (41105)

real no âmbito laboral, explica que em questões ligadas à igualdade conjugal,


ainda assumem papéis sexuais diferenciados, ou seja, a existência de práticas na
divisão das tarefas domésticas. De acordo com a notícia publicada pela rádio
notícias da TSF a 12 de fevereiro de 20192, foi realizado um estudo “Quem são, o
que pensam e como se sentem as mulheres em Portugal”, divulgado pela
Fundação Francisco Manuel dos Santos referente às questões dos trabalhos
domésticos entre os casais. O estudo refere que é notória a ausência dos
companheiros em “partilhar os afazeres da casa de forma igual” e no que diz
respeito à educação e cuidado dos filhos, são “as mulheres garantem 73% do
trabalho, enquanto os companheiros asseguram 21%”. Efetivamente, são as
mulheres que permanecem à frente do “trabalho não pago feito em casa”, o que
se torna de certa forma, uma injustiça porque tanto o homem como a mulher têm
os mesmos deveres e direitos. Contudo, temos que ter atenção que são
significativas as mudanças neste âmbito, que as novas gerações têm uma
perspetiva diferente quanto à partilha de tarefas domésticas, de acordo com a
notícia divulgada a 19 de novembro de 20153, pelo jornal público, “é na cozinha
dos lares portugueses que os homens marcam presença de forma crescente”,
contudo, as restantes tarefas são assumidas pelas esposas. No que toca à partilha
das licenças parentais, existe uma grande insatisfação por parte do casal, pois a
lei impõe-se no que toca à questão de quem deve ficar a gozar a licença de
maternidade/paternidade do recém-nascido, e uma vez mais sobra para a mulher.
Nesta perspetiva da partilha de licença de maternidade/paternidade não é igual, e
o Estado deverá melhorar e adequar as medidas de igualdade de formar a
incentivar na procura dos maridos neste campo familiar da paternidade. Desta
feita, uma vez mais, as leis estão a penalizar a partilha de responsabilidades no
cuidado dos filhos, refere a notícia do jornal de notícias datada a 28 de junho de
20164, promovendo, assim, desigualdade entre o homem e a mulher.
Relativamente ao conceito sexo, associamos ao masculino e feminino, onde
sempre existiram discriminações em várias áreas, como é exemplo na área

2
https://www.tsf.pt/sociedade/faltam-180-anos-para-que-a-divisao-das-tarefas-domesticas-seja-igual-
entre-homens-e-mulheres-10569050.html
3
https://www.publico.pt/2015/11/19/sociedade/noticia/elas-ainda-gastam-mais-do-dobro-do-tempo-em-
tarefas-domesticas-do-que-eles-1714869
4
https://www.delas.pt/jovens-mantem-descriminacao-de-genero-nas-tarefas-
domesticas/atualidade/32526/

14
Sociedade, Género e Poder (41105)

política. Ao analisarmos a área política, nomeadamente, questões de sexo


masculino e feminino, apercebemo-nos que existe atualmente uma mudança,
criada através de medidas de ação positivas, como o caso da implementação das
cotas baseadas no sexo e da Lei da Paridade. Isto significa que Portugal após ter
adotado a Lei da Paridade, Lei Orgânica nº 3/2006, após uma falha de
implementação do sistema de quotas em 1999, com a finalidade de distribuir de
forma igualitária homens e mulheres em diferentes listas eleitorais (europeias,
legislativas e autárquicas), ainda ficou aquém das expetativas no que toca à
igualdade entre sexos. Por sua vez esta lei não assegura 50%-50% entre os sexos,
apenas menciona que nas eleições da Assembleia da Républica, Parlamento
Europeu e autárquicas locais deve haver uma representação mínima de 33,3% de
cada sexo. Ora aqui está uma questão de discriminação, em que a “profissão”
ligada à política está associada a estereótipos masculinos, e ao seu mérito, pondo
em questão o mérito da mulher neste âmbito5.
Efetivamente, existe medidas que estão a ser tomadas, no entanto, são muito
lentas, contudo, de acordo com a notícia do Diário de Notícias de 1 de junho de
2021, “Governo lança no Dia da Criança portal para promover igualdade de
género nas profissões”6, “pretende divulgar a presença de mulheres no setor da
tecnologia”, uma área muito associada e estereotipada ao sexo masculino.
Consequentemente, a construção deste portal tem por objetivo desconstruir o mito
de que existem profissões associadas ao sexo feminino e ao sexo masculino, o que
ajudará a nova geração a olhar de forma diferente para a escolha das profissões
como motoristas, mecânicos, educadoras, sapateiras. Podemos dizer que a
discriminação se assume de diversas formas como na área da deficiência, e isso é
bem patente no que respeita à concessão de empregabilidade. Felizmente, existem
medidas de incentivo para as empresas contratarem pessoas portadoras de
deficiência, o que permite de uma certa forma, trazer algumas oportunidades de
integração e inclusão no mercado de trabalho. Associada a esta questão, pôde-se
verificar no tempo de pandemia do COVID-19 em que “Quotas evitam que

5
https://journals.openedition.org/spp/696
6
https://www.dn.pt/sociedade/governo-lanca-no-dia-da-crianca-portal-para-promover-igualdade-de-
genero-nas-profissoes-13790789.html

15
Sociedade, Género e Poder (41105)

desemprego entre deficientes atinja valor alarmante”, segundo notícias recentes


do Jornal de Notícias, datada a 29 de junho de 20217.
Em suma, a área da discriminação e das desigualdades não é só referente ao sexo
nem ao género, também podemos relacionar juntamente com a raça, etnia, cultura,
orientação sexual, a que se chama de Interseccionalidade, ou seja é o conjunto de
dois eixos de diferenciação (exemplo: género com a raça).

GRUPO III (máximo 2 páginas).


Explique de forma fundamentada de que modo o conceito de género pode ser
aplicado na elaboração de políticas públicas. Escolha uma área possível e
justifique a sua escolha.
R: O conceito de género está estritamente ligado com o estudo das diferenças
entre os homens e as mulheres, onde são feitas análises para além das diferenças
biológicas, que também abarca no âmbito cultural e social, que de alguma forma
vai permitir explicar a diferença para ambos os sexos terem comportamentos e
atitudes diferentes. Efetivamente, quer queiramos quer não, a sociedade
padronizou o que é ser homem e o que é ser mulher, estereotipou os seus
comportamentos, o modo de vestir, de agir, ser e saber-fazer. Contudo,
dependendo das sociedades, umas mais desenvolvidas do que outras têm
perspetivas diferentes de ver o homem e a mulher. Porém, podemos afirmar que
a ideia de género é associada a várias áreas nomeadamente à área de políticas
públicas.
Tomo como exemplo no que toca às políticas de família que devem ser
repensadas no âmbito da autonomia e redivisão de tarefas de cuidados: como por
exemplo a partilha das licenças parentais, onde atualmente encontram-se uma
cultura de política a ser renovada, com diálogo constante, com o objetivo final de
democratização das relações conjugais. Efetivamente, existe uma grande
insatisfação por parte do casal, pois a lei impõe-se no que toca à questão de quem
deve ficar a gozar a licença de maternidade/paternidade do recém-nascido, e uma
vez mais, será a mulher a sair prejudica, e associada com a que ganha menos
vencimento e por isso poderá ficar mais tempo em casa. Nesta perspetiva da

7
https://www.jn.pt/nacional/quotas-evitam-que-desemprego-entre-deficientes-atinja-valor-alarmante-
13884376.html?target=conteudo_fechado

16
Sociedade, Género e Poder (41105)

partilha de licença de maternidade/paternidade não é igual, e o Estado deverá


melhorar e adequar as medidas de igualdade de formar a incentivar na procura dos
maridos neste campo familiar da paternidade. Desta feita, uma vez mais, as leis
estão a penalizar a partilha de responsabilidades no cuidado dos filhos, refere a
notícia do jornal de notícias datada a 28 de junho de 2016 8, promovendo, assim,
desigualdade de género entre o homem e a mulher. Outra questão pertinente para
ser analisada será a área de políticas públicas, que socialmente é associada mais
ao masculino do que ao feminino, onde sempre permaneceram discriminações,
preconceitos, estereótipos. Ao analisarmos a área de políticas públicas,
nomeadamente, questões de género, apercebemo-nos que existe atualmente uma
mudança, criada através de medidas de ação positivas, com o sistema de
implementação das quotas baseadas no sexo e da Lei da Paridade. Isto significa
que Portugal após ter adotado a Lei da Paridade, Lei Orgânica nº 3/2006, após
uma falha de implementação do sistema de quotas em 1999, com a finalidade de
distribuir de forma igualitária homens e mulheres em diferentes listas eleitorais
(europeias, legislativas e autárquicas), ainda ficou aquém das expetativas no que
toca à igualdade entre sexos. Por sua vez esta lei não assegura 50%-50% entre os
sexos, apenas menciona que nas eleições da Assembleia da Républica, Parlamento
Europeu e autárquicas locais deve haver uma representação mínima de 33,3% de
cada sexo. Ora aqui está uma questão de discriminação, em que a “profissão”
ligada à política está associada a estereótipos masculinos, e ao seu mérito, pondo
em questão o mérito da mulher neste âmbito9.
Concluímos que a crescente participação feminina, devido ao seu “empowerment”
tem vindo a ser notória na área de políticas públicas, através da conquista do
mercado de trabalho, na educação, no acesso à igualdade para pessoas portadoras
de deficiência, na aceitação da comunidade LGTB. Não esquecendo que o Estado
tem um papel pertinente e principal de remodelação, que possibilite tornar
possível um Estado democrático também do ponto de vista do género. Importa
aqui salientar uma medida que ajudou no empoderamento da mulher e na sua
consequente posição no mundo do trabalho que foi a abertura da rede de creches

8
https://www.delas.pt/jovens-mantem-descriminacao-de-genero-nas-tarefas-
domesticas/atualidade/32526/
9
https://journals.openedition.org/spp/696

17
Sociedade, Género e Poder (41105)

públicas, tornando assim possível a mulher disponibilizar mais tempo para a sua
autonomia.

https://library.fes.de/pdf-files/bueros/brasilien/05630.pdf - página 73 (revisão)

EXAME – 21 de Junho de 2019

GRUPO I (15 linhas)


1. Comente o título da conferência de Michael Kimmel: “Porque é que a
igualdade dos sexos é boa para todos – incluindo os homens?”.
R: Autor de diversas obras e sociólogo, Michael Kimmel é caraterizado
como um dos maiores peritos do mundo no que diz respeito à abordagem de
homens e masculinidade. Defensor na envolvência do homem, enquanto ser
humano para a luta e apoio na igualdade de género, é através do seu vídeo,
que percecionamos que Michael Kimmel envolve a plateia e é muito
perspicaz, captando atenção para o assunto da igualdade de género. Na sua
perspetiva a igualdade de género é boa para todos, como sendo um jogo em
que todos ganham, família, trabalho, sociedade, pois aumenta os nossos níveis
de felicidade e saúde. Ora vejamos como faz a diferença da desigualdade de
géneros nos empregos: se os trabalhadores forem/estiverem felizes nos seus
empregos, vai gerar maior satisfação no local de trabalho, um ambiente
securizante entre os colegas e entre o chefe, haverá maior produtividade, e no
fundo contribuirá para o sucesso da empresa e dos trabalhadores. No que diz
respeito ao nível familiar, quando as tarefas são devidamente partilhadas entre
o homem e a mulher vai gerar dois pontos: por um lado, uma maior satisfação
na mulher e por outro uma lição de aprendizagem para os seus filhos, o que se
traduz numa relação com maior tempo livre para se dedicarem aos filhos e ao
casamento.
Em suma, o sociólogo Michael Kimmel transmite ao longo da sua palestra
ideias muito coerentes em relação à igualdade de género. Em Portugal,
podemos constatar através de uma notícia no Diário de Notícias, datado a 15
de outubro de 2019, que o caminho para a igualdade de género continua a ser
percorrido “a passo de caracol”, no entanto, a igualdade de género melhorou

18
Sociedade, Género e Poder (41105)

em Portugal, mas ainda se mantém entre os piores da EU. A destacar no topo


da lista, temos a Suécia com 83,6 pontos, e a Dinamarca com 77,5 pontos, por
seu turno Portugal tem 59,9 pontos, tendo vindo a ter melhorias significativas
desde 2015.
(https://www.dn.pt/vida-e-futuro/igualdade-de-genero-portugal-melhorou-
mas-mantem-se-entre-os-piores-11408410.html)

2. Defina a noção de Técnicas de Corpo, elaboradas por Marcel Mauss.


R: O autor Marcel Mauss, transmite uma ideia de que o corpo não é só uma
matéria de carne e osso, mas quem se serve dele, em diferentes maneiras, aliado
aos diferentes países, povos, culturas, crenças e pensamentos. Na sua obra “As
técnicas do corpo” (1934), destaca com grande foco as técnicas de corpo que
variam de sociedade para sociedade: as técnicas de nascimento e da obstetrícia –
como o momento que a mulher tem o bebé (parto) e o reconhecimento da criança
ao mundo; as técnicas de infância onde demonstra vários os diferentes modos de
se carregar um bebé, de dar de mamar e fazer o desmame; as técnicas da
adolescência: onde os jovens passam pelo inicio da aprendizagem/rituais
fundamentalmente da vida adolescente para a vida adulta (introdução de crenças
e ideias que rapaz usa calções e as raparigas usam saias); as técnicas da idade
adulta – que são abordados os vários momentos da atividade diária como o modo
de dormir /repouso, as atividades de movimento como a dança, corrida, salto,
escalada, descida e nado; as técnicas de cuidar do corpo (esfregar, ensaboar)
técnicas de consumo (maneira de comer/beber; e as técnicas de reprodução (as
posições sexuais) e as técnicas de medicação.
Em suma, pode-se concluir que a obra do autor Marcel Mauss é enriquecedora,
por nos apresentar o corpo, como “o primeiro e mais natural objeto técnico” que
é figurado em três esferas: a biológica, a psicológica e social. Contudo, é na
dimensão social que o corpo é referido, como modo de cultura e com formas
especificas de cada cultura. Cada sociedade apresenta-se com características
muito próprias, no que diz respeito a como os indivíduos utilizam o corpo e fazem
uso dele mesmo.

19
Sociedade, Género e Poder (41105)

3. Indique uma temática que foi relevante para si no âmbito desta unidade
curricular e justifique o porquê da escolha.
R: A temática que mais suscitou interesse, enquanto estudante da Uc de
Sociedade, Género e Poder, foi a da masculinidade, abordada por Michael
Kimmel. A nível pessoal, senti uma grande satisfação ao visualizar o seu
discurso na conferencia, onde uma plateia maioritariamente feminina, se
encantaram com as suas palavras. Autor de diversas obras e sociólogo,
Michael Kimmel é caraterizado como um dos maiores peritos do mundo no
que diz respeito à abordagem de homens e masculinidade. Defensor na
envolvência do homem, enquanto ser humano para a luta e apoio na igualdade
de género, foi através do seu vídeo, que percecionei que Michael Kimmel
envolve a plateia e é muito perspicaz, captando atenção para o assunto da
igualdade de género. Na sua perspetiva a igualdade de género é boa para todos,
como sendo um jogo em que todos ganham, família, trabalho, sociedade, pois
aumenta os nossos níveis de felicidade e saúde. Faz a diferença da
desigualdade de géneros nos empregos: se os trabalhadores forem/estiverem
felizes nos seus empregos, vai gerar maior satisfação no local de trabalho, um
ambiente securizante entre os colegas e entre o chefe, haverá maior
produtividade, e no fundo contribuirá para o sucesso da empresa e dos
trabalhadores. No que diz respeito ao nível familiar, quando às tarefas
domésticas, estas são devidamente partilhadas entre o homem e a mulher vai
gerar dois pontos: por um lado, uma maior satisfação na mulher (por se sentir
ajudada e apoiada) e por outro uma lição de aprendizagem para os seus filhos,
o que se traduz numa relação com maior tempo livre para se dedicarem aos
filhos e ao casamento.
Em suma, o sociólogo Michael Kimmel transmite ao longo da sua palestra
ideias muito coerentes em relação à igualdade de género. Em Portugal,
podemos constatar através de uma notícia no Diário de Notícias, datada a 15
de outubro de 2019, que o caminho para a igualdade de género continua a ser
percorrido “a passo de caracol”, no entanto, a igualdade de género melhorou
em Portugal, mas ainda se mantém entre os piores países da EU. A destacar
no topo da lista, temos a Suécia com 83,6 pontos, e a Dinamarca com 77,5
pontos, por seu turno Portugal tem 59,9 pontos, tendo vindo a ter melhorias
significativas desde 2015. No entanto, somos nós mulheres que temos de fazer

20
Sociedade, Género e Poder (41105)

essa diferença, enquanto mães e filhas de que somos iguais tanto em deveres
como em direitos, ou seja, o que o homem tem por direito a mulher também o
terá, e cabe a todos nós (pais, educadores, meios de comunicação, órgãos
políticos) ensinar e transmitir à nova geração estas ideias de igualdade, para
que no futuro haja mais compreensão e mais igualdade.
(https://www.dn.pt/vida-e-futuro/igualdade-de-genero-portugal-melhorou-
mas-mantem-se-entre-os-piores-11408410.html)

4. Diga o que significa a designação “feminismos hifenizados”, lembrando o


texto com o mesmo nome de João Manuel de Oliveira.
R: O autor João Manuel de Oliveira, licenciado em psicologia social, tem
vindo a desenvolver vários trabalhos em diversas áreas de investigação:
estudos de géneros, teoria feminista, estudos críticos da sexualidade e teoria
queer.
Este autor contemporâneo, retrata o feminismo como sendo bem aceite pela
sociedade, contudo defende numa outra tipologia, outros tipos de feminismo
que estão consagrados em determinados locais, tais como a luta da mulher
negra contra a exclusão social, atitudes racistas provocadas pela cor. Este tipo
de feminismo surge da norte americana Bell Hooks, na década de 80 do século
XX, em que dá foco ao racismo que existe dentro do próprio feminismo
branco, no entanto, esta sempre lutou ao lado das mulheres brancas pelas
mesmas causas. A autora Bell Hooks que tem trabalhos direcionados sobre a
raça, género, classe e às relações sociais opressivas, dando um especial
destaque à arte, história, feminismo, edição e meios de comunicação, vem
defender que o conceito feminino não é universal uma vez que não inclui todos
os tipos de feminismos, não só se baseando em conquistas das mulheres
brancas apenas na luta por um trabalho e a nível familiar. Pode-se dizer que
existem diversas perspetivas de feminismos, e para que este conceito seja
compreendido temos que aplicar o conceito de Interseccionalidade de
Kimberlé Crenshaw, ou seja, o género (feminino) só pode ser compreendido
e analisado no seu todo tendo em conta outras categorias interligadas.
Em suma, podemos referir que na atualidade, século XXI ainda é patente a
existência de experiências muito pouco agradáveis por parte do género –

21
Sociedade, Género e Poder (41105)

feminino, à raça, à etnia - em que mulheres e crianças são excluídas de escolas,


empregos e cargos políticos. No entanto, é neste ponto que se vê a associações
e organizações na defesa pela igualdade, para melhores acesso à educação,
saúde, oportunidade de trabalho, acesso a cargos institucionais, onde são
implementadas medidas (quase forçosas) para que tudo “pareça”/ ou seja
possível normalizar. Quanto às instituições, refiro-me por exemplo à CIG –
Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género; APAV – Associação
Portuguesa de Apoio à Vítima; SOS Racismo; EIR – Emancipação, Igualdade
e Recuperação (UMAR); ILGA Portugal, entre outras.

GRUPO II (15-35 linhas)

1. Como define Pierre Bourdieu a noção de dominação masculina na obra com o


mesmo título publicado em 1998.
R: O autor Pierre Bourdieu foi considerado um dos sociólogos do século XX,
destacando-se por ter renovado ideias de autores clássicos como Marx, Weber,
Durkheim, Mauss e Lévi-Strauss, com a criação de um sistema teórico para
interpretar a sociedade a seu redor.
A obra sociológica do autor Pierre Bourdieu (1930-2002), intitulada “A
Dominação Masculina” está intimamente ligada à dimensão simbólica da
dimensão masculina, ou seja, o significado através dos nossos pensamentos. Pode-
se dizer que a dominação simbólica masculina, é uma violência simbólica, isto é,
uma violência suave, que não se sente porque está na forma como vemos o mundo,
onde quase tudo é adquirido, sendo transformado em natural. O autor Pierre
Bourdieu vai interpretar esta tarefa através de um trabalho de investigação,
enquanto sociólogo e antropólogo, numa região da Argélia. No trabalho de campo
desenvolvido nessa mesma região descobre que é androcêntrica, em que o homem
é o centro de tudo e todos. A ideia que o autor quer-nos transmitir é que a
historicizar o natural, tanto as estruturas do pensamento, práticas e demonização
masculina. Assim, as mulheres vêm o homem como sendo natural.
O autor, tenta compreender na sua análise de estudo na Argélia, porque existem
muitas tradições ainda tão enraizadas e, consegue compreender os símbolos e
signos que vão dar primazia à família. Nessa região predileta do autor, traduz-se
as tradições, raízes e crenças, e compreende a estrutura do pensamento. Investiga
22
Sociedade, Género e Poder (41105)

a organização da sociedade do conhecimento das práticas, ele tem uma


organização binária, dicotómica, onde pratica o oposto, como por exemplo: na
agricultura compreende o que é quente e frio, na culinária sabe o que é um bom
tempero ou um tempero insosso. É através da vivência com estas sociedades tão
enraizadas que se vê que o pensamento se alia às práticas usadas pela sociedade:
entre as formas de ver o feminismo e o masculino. Desta forma, as mulheres são
vistas como uma entidade negativa na família e também no resto da sociedade. As
mulheres são vistas como não-homens, com formas de vestir diferentes, com
saias, com uma postura do corpo direita, sem dar muito nas vistas. A mulher passa
a ser simbolizada como diminutivo como sendo um ser frágil, dócil, fútil. No
nosso dia a dia, se pensarmos até nos símbolos como a cor azul, remete-nos para
uma cor quente associada ao homem macho, e a cor rosa associada à feminilidade
da mulher/rapariga. Nesta perspetiva, estes símbolos ou signos são verificados no
ambiente de trabalho de uma empresa, a existência da dicotomia chefe (posição
superior) / secretária (posição inferior), ou médico (posição superior) / enfermeira
(posição inferior). A mulher é simbolizada com menos credibilidade, no entanto,
as mulheres pretendem impor-se no local de trabalho para que possam ser levadas
mais a sério e com mais respeito. Contudo, estes símbolos já estão tão enraizados
que já são aceites inconscientemente nas sociedades, pois parece tão natural as
práticas e os pensamentos que não existe as diferenças. Numa outra situação do
quotidiana no casal, é a dicotomia que existe entre a mulher ser a submissa e o
homem o superior e dominador da relação; vê-se as preferências das mulheres em
escolherem homens mais velhos e maduros, altos e bem-sucedidos, isto é, existe
uma hierarquização. Por outro lado, temos o homem visto como o profissional de
sucesso que está associado a competência, masculinidade, em que o autor
Bourdieu refere que o homem não faz o trabalho da mulher, pois é ela que assume
cuidar do lar e dos filhos, as tarefas domésticas, pois são mais direcionadas ao
feminismo. Contudo, com o evoluir dos tempos, verifica-se algumas mudanças,
tais como a mulher era vista só na cozinha na confeção das confeções, hoje
também são os homens que o fazem, tornando-se grandes chefes de cozinhas, com
prestígio (estrelas Michelin). Com a entrada do homem no mundo da culinária
transformou-se num novo olhar, e são aceites como trabalhadores, emprenhados
e como sendo um cargo de difícil tarefa, ao contrário do que estava estigmatizado
na mulher. Para o autor Pierre Bourdieu, as diferenças só surgem quando o

23
Sociedade, Género e Poder (41105)

dominante se posiciona como sendo o universal (o homem) e o não dominante


com particular (a mulher) se torna dominada pelo dominador.
Em suma, os homens são relacionados e criados com competências e habilidades
para terem perfil de liderança, ao invés das mulheres que são criadas para serem
não-homens, pois se demonstrarem estas características são vistas com pouco
feminismo. É uma obra de difícil compreensão devido ao campo simbólico, a
própria significação/significado para poder entender o processo de pensamento do
que é natural e do que é fabricado mentalmente.

2. Explique a “urgência da interseccionalidade” do ponto de vista analítico segundo


K. Crenshaw?
R: Na obra de Kimberlé Williams Crenshaw, o conceito que mais se destacou
foi a de Interseccionalidade. Importa mencionar o que significa este conceito, que
permite pensar as desigualdades não apenas a partir do “eixo de diferenciação”
(como o género – masculino ou feminino), mas também, a junção com outros
eixos de diferença, tais como a etnia, a orientação sexual, a classe social ou as
raças. Desta forma, podemos dizer que existe um cruzamento por exemplo de
discriminação de uma pessoa negra e homossexual, onde estão envolvidas dois
eixos, a raça e a orientação sexual. A autora americana, Kimberlé Crenshaw,
formada em advocacia, fez um estudo que incidiu sobre este fenómeno, na
violência em policias negras no EUA, onde é patente o cunho de ser mulher e de
raça negra e de baixa classe social.
É urgente a “urgência da Interseccionalidade”, assim, destaco a pertinencia de
relembrar o que nos diz a Declaração Universal dos Direitos Humanos a Carta das
Nações Unidas referente às questões relacionadas com os direitos das mulheres e
questões de género. Todas as garantias presentes nestes dois documentos foram
abordadas em conferências muito importantes a nível mundial (Cairo, Viena e
Beijing) com o intuito de alcançar novos avanços nestas temáticas – género e em
específico nas mulheres. Por um lado, temos a Declaração Universal que nos traz
a garantia da aplicação dos direitos humanos sem distinção do género e também
o reforço da não discriminação com base na raça. Contudo, foi através da
Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
Racial que se vincou uma maior proteção contra a discriminação baseada na cor,
na descendência e na origem étnica ou nacional.

24
Sociedade, Género e Poder (41105)

De acordo com a autora Piscitelli, o conceito Interseccionalidade é o modo de


olhar as consequências entre duas ou mais formas de subordinação patentes na
sociedade. Podem ser verificadas através da provocação de desigualdades de raça
ou etnia (nas escolas ou no local de trabalho), a orientação sexual (no domínio da
LGBT), na deficiência (barreiras de acesso ao mercado de trabalho), religião
(cristianismo, islamismo entre outras religiões) ou classes sociais (com maior ou
menor poder económico-financeiro).
Outra questão muito importante, a ser ligada a este tema é o trafico de seres
humanos, nomeadamente mulheres, é um tema da atualidade e que muitas vezes
não se dá o devido valor e, acaba caindo no esquecimento sem nada se ter feito.
À data de 26 de outubro de 2019, foi dada a notícia em todos o meios de
comunicação de suspeitas de tráfico humano por um camionista no Reino Unido,
que terá supostamente feito apenas o transporte de mercadorias, e que foram
detetados no interior do camião 39 mortos. Na Escócia, outra situação idêntica de
trafico de mulheres, que eram recrutadas com a finalidade de conseguir melhor
emprego e condições de vida, oriundas da Eslováquia e vendidas (dez mil libras)
como mercadoria e obrigadas a casarem-se com cidadãos de diferentes
nacionalidades (11 de outubro de 2019).10

3. “A perspetiva desconstrutivista rompeu definitivamente com a concepção do


género como atributo dos homens e das mulheres concretos e tornou visível a
confluência da cultura, da linguagem, das práticas e das instituições para a sua
construção” (Amâncio; Lígia; 2003:707).
- A partir desta citação desta autora explique a diferença entre a noção de “sexo”
e a de “género”.
R: A autora Lígia Amâncio, licenciada em Psicologia e Ciências da Educação, é
um nome incontornável nas questões de estudos de género em Portugal. As suas
investigações e estudos centram-se na compreensão dos processos de construção
social do masculino e do feminino e na discriminação alicerçada no género,
destacando -se com maior foco a integração das mulheres em mercado de trabalho
na área pública e qualificada, associada à política, à ciência e medicina.

10
https://www.dn.pt/tag/trafico-humano.html

25
Sociedade, Género e Poder (41105)

Tendo em conta a citação acima apresentada, a ideia de género está associada a


uma diferenciação simbólica, que está patente no processo de socialização que ao
longo dos tempos e nas diferentes sociedades/culturas tem vindo a ser definidas
consciente ou inconscientemente. Temos os exemplos da forma de vestir das
mulheres e dos homens, bem como a forma de pensar e agir em detrimento de
determinados assuntos do quotidiano (como por ex: tarefas domésticas). Esta
distinção sexual, de acordo com o autor Pierre Bourdieu é dada como natural e
também através do contributo da sociedade, colocando o individuo no seu
domínio, masculino ou feminino. No que respeita ao sexo está intimamente ligado
às características biológicas dos indivíduos que são transversais em todas as
culturas, sociedades, sendo o conceito de género associado a padrões culturais de
cada cultura/sociedade.
Desta feita, o conceito de género foi de extrema importância para os estudos entre
as diferenças entre ambos – mulheres e homens – que integra não só a dimensão
biológica como também a dimensão cultural e social, que tem por finalidade
contribuir para a explicação dos diferentes comportamentos, que conscientemente
ou não tornará visível as desigualdades das relações sociais. Estas desigualdades
são notórias em várias áreas, na medicina, no acesso ao mercado de trabalho, no
acesso a cargos de chefia, bem como a cargos de poder político. Segundo a notícia
do jornal Publico, datada a 7 de Março de 2021, o nosso Governo11 português é
um exemplo de igualdade de género no que respeita “na percentagem de mulheres
que ocupam cargos políticos, com uma percentagem entre 39% e 40%,” dados
publicados pelo Eurostat. Quanto ao Parlamento Europeu, segundo dados do
Eurostat, “um em cada três membros dos parlamentos e dos governos do espaço
europeu eram mulheres”,

GRUPO III (50-70 linhas)

1. “A Igualdade efetiva entre homens e mulheres, bem como a construção de


uma cultura de sustentabilidade e um modelo de desenvolvimento
verdadeiramente sustentável ocupam um lugar central entre os desafios
pendentes do século XXI. Isso foi reconhecido pela sua inclusão entre os

11
https://www.publico.pt/2021/03/07/politica/noticia/portugal-mulheres-governo-parlamento-media-ue-
1953412

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Objetivos do Milénio. Por outro lado, já em 1995, a Declaração Final da


Conferência das Mulheres de Pequim apontou como a degradação do meio
ambiente e os desastres naturais a ela associados têm um impacto negativo
em toda a população, mas especialmente nas meninas e mulheres já que
aumentam a quantidade de trabalho não remunerado que fazem, um trabalho
essencial para a sobrevivência da comunidade. A crise ecológica dificulta e
multiplica as tarefas que recaem sobre as mulheres, dada a tradicional
divisão sexual do trabalho.”

- A partir desta citação da filósofa Alicia Puleo dê alguns argumentos para


relacionar as questões ecológicas e de género. Justifique e fundamente a sua
resposta.

R: A autora Alicia Puleo, cidadã espanhola, é considerada uma das impulsionadoras do


ecofeminismo, tendo publicados diversos ensaios sobre a mesma temática na Europa e
América. As suas investigações incidem nomeadamente na liberdade, igualdade e
solidariedade no que respeita ao ecofeminismo, conceituações da sexualidade, teoria
feminista e de género, bioética e ética ambiental.
Podemos, assim, dizer que o género feminino se encontra em todas as vertentes e
domínios sociais, e uma delas em específico é a área do ambiente. O género feminino
quando se relaciona com a natureza tem o poder de contribuir para a construção de uma
sociedade contemporânea mais justa e equitativa. Tendo em conta o conceito associado
ao ecofeminismo, intitulado de teoria, filosofia ou movimento, é preciso fazermos uma
reflexão acerca do ambiente enquanto espaço de sociabilidade e não como natureza
separada da familiaridade do ser humano. Tendo em conta o género feminino, na
sociedade tem vindo a ser difícil a sua luta pela igualdade perante o género masculino,
aliado ao fato de haver uma representação social dos géneros, tais como o reconhecimento
do trabalhador e o exercício das suas funções que são diferentes no que diz respeito às
remunerações salariais, a hierarquização nas empresas, a divisão sexual do trabalho.
Todas estas questões relacionadas com o género são pertinentes para entender as
desigualdades em que se manifestam de diversas maneiras e formas, e que são dadas ou
ditas como “normais” até que noutras sociedades não são vistas como normais, como é o
caso da nossa sociedade. Também é importante ressaltar outras formas de desigualdades
como a violência doméstica (em 2020 houve 32 homicídios em contexto de violência

27
Sociedade, Género e Poder (41105)

domestica”12, sexo feminino 27 mulheres e 2 crianças, e sexo masculino 3 homens); a


invisibilidade do trabalho doméstico não remunerado, de acordo com a notícia publicada
pela rádio notícias da TSF a 12 de fevereiro de 201913, foi realizado um estudo “Quem
são, o que pensam e como se sentem as mulheres em Portugal”, divulgado pela Fundação
Francisco Manuel dos Santos referente às questões dos trabalhos domésticos entre os
casais. O estudo refere que é notória a ausência dos companheiros em “partilhar os
afazeres da casa de forma igual” e no que diz respeito à educação e cuidado dos filhos,
são “as mulheres garantem 73% do trabalho, enquanto os companheiros asseguram
21%”. Efetivamente, são as mulheres que permanecem à frente do “trabalho não pago
feito em casa”, o que se torna de certa forma, uma injustiça porque tanto o homem como
a mulher têm os mesmos deveres e direitos.
Todavia, o ecofeminismo tem como finalidade diminuir todas estas desigualdades de
género para contribuir para uma sociedade mais enriquecedora e sustentável, por forma a
reduzir a opressão que o patriarcado exerce sobre a mulher e a natureza. Assim, podemos
dizer que as políticas públicas são essenciais para a o seu desenvolvimento e autonomia,
bem como o empoderamento (empowerment) como forma de representar a liberdade de
escolhas e acesso a direitos, de uma melhor qualidade de vida, tornando assim possível
um contributo para o desenvolvimento sustentável. Segundo a autora Angelin14, no início
da propriedade privada, depois do ser humano deixar de ser nómada iniciou-se uma
opressão e submissão às mulheres, levando à divisão do trabalho, em que as mulheres
estavam ligadas à casa, a cuidar dos filhos e na agricultura, e os homens iam caçar. Desta
forma, o homem esteve sempre ligado à sociedade envolvente e a mulher ficou ligada à
natureza, daí haver uma maior aproximação pelo equilíbrio do ambiente e preservação do
espaço natural por parte da mulher. O ecofeminismo tem como princípio uma perspetiva
crítica que envolve os problemas ambientais e de género e que liga a contemplação de
todos esses aspetos que estão intrínsecos na relação. De acordo com Souza e Gálvez15,
este pensamento ecofeminista tem três pressupostos: (1) referente à perspetiva económica
– a natureza é comandada pelo capitalismo pela apropriação de recursos naturais e a

12
https://www.rtp.pt/noticias/covid-19/em-2020-houve-32-homicidios-em-contexto-de-violencia-
domestica_a1301389
13
https://www.tsf.pt/sociedade/faltam-180-anos-para-que-a-divisao-das-tarefas-domesticas-seja-igual-
entre-homens-e-mulheres-10569050.html
14
ANGELIN, Rosângela. 2006 “Género e meio ambiente: a atualidade do ecofeminismo”:
http://www.cidp.pt/revistas/rjlb/2018/6/2018_06_2535_2565.pdf
15
SOUZA, Iriê P. de e Martha C. R Gálvez, 2008. “Os sentidos e representações do ecofeminismo na
contemporaneidade”: http://www.uel.br/eventos/sepech/sepech08/arqtxt/resumos-anais/IriePSouza.pdf

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mulher é inferiorizada na sociedade patriarcal, retirando-lhes todos os direitos; (2) refere-


se à hierarquia existente nos dias de hoje, em que homem e cultura são superiores à mulher
e à natureza, o que leva à opressão das últimas; (3) refere-se à desigualdade de género –
ligado ao âmbito científico durante o processo de desenvolvimento, onde o feminino é
excluído automaticamente. Não menos importante, foi a luta que a autora Vandana
Shiva, sendo uma das principais precursoras do movimento ecofeminismo, lutou contra
a industrialização da Ásia, América e África, apresentando que existia dominação sobre
os povos desses países que eram orientados para programas de destruição da natureza,
como consequência a destruição das condições de sobrevivência das próprias mulheres
com a cessação das fontes de alimentação, água e biodiversidade.
Em suma, o ecofeminismo contribuiu para o reconhecimento do protagonismo das
mulheres que lutaram contra a opressão do patriarcado e que exercia sobre si mesmas e
sobre a natureza. Este é um conceito que traz uma nova sociabilidade, equidade de género
e que rompe com a dualidade entre a cultura e a natureza, onde tem vindo a valorizar a
igualdade entre povos.

Referências Bibliográficas:

• AMÂNCIO, Lígia (1994). “Masculino e Feminino, a construção social da


diferença” (2º edição), Afrontamento Editora;
• MAUSS, Marcel. (1950) “As Técnicas Corporais” in Sociologia e Antropologia,
disponibilizado por Leandro Moura Reis pp. 211-233;
• Material disponível na plataforma da UC – Sociedade, Género e Poder.
• MEAD, Margaret. 2007. “Sexo e temperamento”, S. Paulo: Editora Perspetiva;
• OLIVEIRA, João Manuel & AMÂNCIO, Lígia (2017). “Géneros e Sexualidades:
Interseções e Tangentes”, Género, Sexualidade e Intersecionalidade, Edição –
Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-IUL)/ Lisboa:
• “Assimetria Simbólica: Breve história de um conceito” de Lígia Amâncio
(pp. 18-37);
• “Desigualdades de Género em profissões qualificadas e resistências à
mudança – um percurso de investigação” de Helena Santos (pp.57-72);

• BORDIEU, P. 1998. “A denominação masculina”, Oeiras Celta;

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WEBGRAFIA:

• PORDATA : https:/ / www.pordata.pt/Potugal

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