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A dimensao metodolégica da histéria oral GISAFRAN NazaReNno Mota JucA Introducaio Dentre as palestras ministradas no Instituto do Ceara, no ano de 2001, a do Professor Pedro Alberto de Oliveira Silva, a respeito do “Papel do Historiador na Sociedade Contemporinea” me prendeu a atengao, de modo particular, em virtude de algumas quest6es apresentadas pelos ouvintes. Elas se concentraram no tema Historia Oral, por Ele referenciado, que suscitou a manifesta- ¢4o de opinides contrarias 4 metodologia proposta por pesquisa- dores contemporaneos. Uma vez que as observagdes por mim apresentadas foram breves, resolvi retornar 4 temética, através do presente artigo, tomando por base parte de um capitulo da nossa Tese de Professor Titular do Departamento de Histéria da UECE.' Na verdade, varias sdo as questOes apresentadas ante a His- t6ria Oral como opgao metodolégica: ela representa uma contri- buigao decisiva ao enriquecimento das experiéncias de pesquisa histérica? Como classificar o contetdo transmitido, considerando a distancia entre o depoimento prestado € o tempo onde se registrou 0 ocorrido? A subjetividade nela expressa nao contribuiu para uma distorgdo do contetdo narrado? A Narrativa presente na Historia Oral em que se diferencia da Narrativa tradicional, presente na visdo positivista de Histéria? S&o indagagdes desse teor que nos motivam a retomar o debate acerca do alcance da Histéria Oral. \ Sécio Efetivo de Instituto do Cear’. ' Cf. 2.1. do Capitulo II da referida Tese, intitulada: Fortaleza na Visdo dos Velbos Fortaleza, UECE, 2001, p. 38-48. Revista do Instinue do Ceard » 2002 O Surgimento da Hist6ria Oral e a sua Presenca na Histéria Contemporanea Nao constitui novidade que, desde os tempos primitivos, os relatos orais simbolizavam um precioso recurso de transmitir in- formagdes acerca das experiéncias sociais ou mesmo de divulga- 0 do conhecimento adquirido. Na Antiguidade Classica, a recompasicao do passado dificilmente teria atingido o nivel obti- do se nao tivesse usado as informagdes orais como uma fonte basica de compreensao histérica. Na verdade, “Desde ia época de las guerras Médicas — y Tucidides ~ quin reiata las del peloponeso — se han utilizado los testimonios orales de los actores 0 los testigos de ciertos bechos © eventos sociales que despertaron interés, siempre bajo un espiritu critico. No solo se consultaban los documentos escritos accesibles, sino que también se buscaban. evidencias de tipo personal transmitidas oralmente, pues las soctedades antiguas eran iletradas y anal- faberas”? Entretanto, a consolidacao das ciéncias no mundo contem- poraneo tentou apagar a marca deixada pela tradigao oral, pois nao era considerada cientifica, uma vez que n&o se apresentava através dos documentos, consicderados imprescindiveis 4 elabora- ¢40 dos trabalhos histéricos. A tradicao historiografica, defendida pelo Positivismo, no século XIX, estabeleceu como modelo de fonte histérica exchisivamente 0 que pudesse ser definido como documento, relegando os depoimentos apenas como uma fonte secundaria, mesmo considerando a posicao social de quem os emitia, Na verdade, pouco representavam, pois o testemunho subjetivo comprometia a sonhada verdade histdrica a ser atingida Se os depoimentos escritos ocupavam uma funcao secundaria, os orais eram relegados, uma vez que se enquadram na estreita clas- sificagdo das fontes elencadas. LOZANO, Jorge Aceves. (Compilacor) Historia Oral, México: Amacalli Editores, 1993, p. 7. 150 A dimensfio metodolégica da histéria oral A preocupagio em estabelecer os limites entre as fontes, classificadas como primarias e secundarias, concentrava-se na busca dos documentos considerados originais, afastando qualquer pos- sibilidade de incluir os depoimentos orais na relagao das fontes histéricas. © retorno as fontes primatias teve entre seus principais defensores Leopold Von Ranke e Augustin Thierry, que insistiam em procurar revelar apenas o que realmente acorreu, na busca da prova das fatos acontecidos.* O tempo da histéria era concebido dentro de um padrao otimista de encarar a realidade estudada, sempre buscando associar 0 passado a um futuro idealizado bus- cando superar as limitagdes do passado. Somente a Nova Hist6ria romperia com essa preocupacao futurista, buscando associar o presente ao passado. Ao invés de temas presos ao nacionalismo ou mesmo aos imperialismos, den- tro de um enfoque linear e continuo, onde os acontecimentos estariam sujeitos a um controle recomendado, de acordo com uma compreensao especulativa do tempo histérico. Dai o significado inovador de uma concepcdo diferenciada de tempo e de Histdria, proporcionado pelos defensores da Nova Historia. Na prépria meméria se fazem presentes. As dimensGes de um tempo indivi- dual e de um tempo coletivo aproximam a meméria de tempos diversos. Os historiadores substituiram os objetos traclicionais, ¢s- tudados sob um prisma que ressaltava a acdo individualizada, fa- zendo brotar um tempo histdrico construido por acdes coletivas, voltadas & problematizag’o dos temas levantados. Limitava-se a agao individual, a fim de atingir uma real liberdade interpretativa Os documentos deixam de ser apenas os produzidos dentro dos padroes oficiais, ampliando-se as fontes que resgatam novos agentes a serem considerados.* > A esse respeito, vide BANN, Stephen. Analisando o Discurso da Histéria in — As Invengdes da Histéria: ensaios sobre a representacao do passado, Trac. Flavia Villas-Boas. Sao Paulo: Ed. da Universidade Estadual Paulista, 1994, p. 31-86. * Sobre o referido assunto vide “O Tempo Histérico ¢ as Ciéncias Sociais” ¢ *O ‘Tempo Historico da Nouvelle Histoire” in REIS, José Carlos. Nowvelle Histoire e Tempo Histérico: a conttibuigzo de Febvre Bloch e Braudel. Sio Paulo: Ed. Atica, 1994, p. 14-19. ASL Revista do Instituto do Ceard - 2001 O despertar da Histéria Oral ocorreu a partir dos anos ses- senta, associada aos Movimentos contestatérios que teriam conti- nuidade na década seguinte. Todavia, as primeiras experiéncias se registraram nos Estados Unidos, em 1948, através de entrevistas realizadas a principio com lideranc¢as politicas ¢, posteriormente, envolvendo grandes empresdrios e representantes dos meios de comunicagado, onde se destacavam as emissoras de radio. Explica- se o surgimento da Histéria Oral contemporanea, nos Estados Unidos, como uma decorréncia da concentragao de recursos nao apenas nas Universidades, mas também em virtude do interesse de Grgaos governamentais e dos meios de comunicagao, que in- centivavam o desenvolvimento de anilises sociais ¢ hist6ricas. Entretanto, foi sobretudo na década de sessenta que os centros de estudos a ela dedicados se propagaram, quando da fundagdo da American History Association, que passaria a publicar uma revista em 1973. A sua fungao voltava-se essencialmente @ procura de informes complementares das fontes escritas, a fim de ampliar o acervo documental existente. Com o aparecimento clo interesse dos antropdlogos em estu- dar as culturas consideradas minoritdrias, incentivados pelos movi- mentos de contestagao, que se posicionavam em favor dos menos favorecidos, a Histéria Oral passou a se posicionar como uma forma divergente de encarar a realidade social, acusando as classes domi- nantes pelos males que atingiam os menos favorecidos. Desde o século XIX, quando a Hist6ria se firmara no campo cientifico, as fontes orais tinham sido afastadas do roteiro do pes- quisaclor, que pretendia ser reconhecido como um profissional apoia- do na autenticidade clas fontes escritas. A tradigao oral deveria ficar com OS povos sem escrita, afastada do acervo das ciéncias sociais. O reconhecimento do papel dos menos favorecidos, consi- derados sem histéria, esquecidos ou menosprezados pelas fontes oficiais, deu seus primeiros passos em diferentes pontos do mun- do, desde 0 periodo colonial, através do relato dos cronistas reli- giosos sobre os indios americanos ou mesmo nos movimentos politicos ocorridos na Europa, nos séculos subseqtientes. A simpa- tia pelas culturas populares ganhou espago na literatura em pleno 152 A dimensio metodolégica da historia oral século XIX, na tentativa de preserva-la ante a ameaca do progresso, que suplantava a permanéncia das velhas tradicdes. A Histéria Oral tinha como meta democratizar a histéria, através do espago que reservava aos menos favorecidos, pois o ~ povo deveria emergir como participante das mudangas registradas. Nos Estados Unidos, a Escola de Chicago dedicou-se aos estudos dos excluidos da histéria, os ladrdes e as prostitutas, como uma forma de contestagao a ser divulgada. Mesmo em Universictades Particulares, assim como se registrava nas Publicas, a Histéria Oral procurava dar espago aos excluidos da sociedade. A expansao do interesse pela Histéria Oral ganhou uma di- mensa4o nova, chegando 4 Europa a partir dos anos setenta. Na Inglaterra, historiadores, antropdlogos e socidlogos dedicavam-se a uma nova historia social, onde o cotidiano dos trabalhadores servia de tematica central, retratando suas condigdes de vida com algo mais além do trabalho. A partir desse periocdo, Paul Thompson pas- sou a se destacar como um dos defensores da nova metodologia adotada, juntamente com Raphael Samuel, que insistiam em trans- formar a hist6éria numa forma democratica de dar voz ao povo, nem sempre lembrado na hist6ria tradicional. Na Italia, desde os anos cinqlienta, intelectuais ja se dedicavam as entrevistas como um meio de melhor compreender a histéria dos camponeses e operirios, apresentada com um viés populista. Foi sobretudo a partir dos anos setenta que a Historia Oral amadureceu, na busca da meméria ope- raria, quando se destacou Sandro Portelli como um dos principais representantes da nova versio metodolégica adotada. Na Alema- nha, também a partir dessa década, a Historia Oral se voltava & memoria de guerra ou mesmo do movimento operdrio, sempre pro- curando dar espaco aos menos favorecidos. Na Franga foi sobretu- do a partir da década de setenta que a Histéria Oral passou a ser trabalhada em algumas universidades que se dedicavam ao estudo da vida cotidiana e das manifestagées culturais. A partir dos anos oitenta a Histéria Oral foi reconhecida no Congresso Internacional das Ciéncias Histéricas, realizado em Bu- careste, tornando-se conceituada no mundo académico, em dife- rentes paises, incluindo os que compunham a antiga Uniao 153 Revista do Instituto do Ceara - 2001 Soviética, passando a ser divulgada através do International Journal of Oral History. Utilizando recursos metodolégicos, provenientes de outras ciéncias sociais, a Histéria Oral passou a se concentrar na tematica mem6ria e€ histéria cultural, com o intuito de ampliar os horizontes das pesquisas desenvolvidas.* As novas dimensdes do campo de trabalho do historiador encontraram na Hist6ria Oral uma possibilidade de diversificar as fontes a serem trabalhadas, passando a valorizar o significado da memGria na compreensao da vida humana. O mérito da inovagao metodolégica adotada reside na proposic4o apresentada de abordar novos temas e problemas, possibilitando a descoberta de novos sujeitos na Histéria, renovando métados ¢ fontes adotados, que permitem uma relacao mais significativa com 0 tema estudado® Acima da preocupagao em encontrar novos eventos, a Historia Oral nos remete 4 compreensao do significado dos depoimentos, onde a subjetividade do expositor a ser trabalhada pelo historiador com- prova a ampliagao dos envolvidos na reconstrucaéo do passado. O Despertar da Histéria Oral no Brasil A atividade pioneira no uso da Histéria Oral, no Brasil, data dos anos 70, quando o CPDOC/FGV/RJ iniciou suas atividades de pesquisa na drea de Histéria Politica Contemporanea, com o intui- to de complementar os estudos relativos A era Vargas. A partir dessa data passou a ser o nticleo de referéncia dos interessadios na nova metodologia empregada, inclicada como possuidora do mo- deto e da experiéncia pratica nas técnicas de elaboracdo de entre- vistas, consideradas como novas fontes capazes de ampliar o universo das tematicas propostas. “Acerca de um historico relative a Histéria Oral, vide TREBITSCH, Michel A Funcdo Epistemolégica e Iceol6gica da Historia Oral no Discurso da Historia Contemporanea in MORAES, Maricts de (Org.), Historia Oral. Rio ce Janeiro: Diadorim Editora, 1994, p. 19-41. * Cf. GATTAZ, André Castanheira, Meio século de hist6ria oral in Nebo-Histéria, Revista de Estudos de Histéria Oral, n. 0, jan. 1998, p. 21-33. 154 A dimensio metodolégica da histéria oral A principio, 0 eixo basico dos trabalhos desenvolvidos no CPDOC centrou-se na organizagao do acervo relativo 4 revolucio de 1930, concentrando o seu programa na producado de fontes para a Historia politica. Em meados da década de 80, mesmo dan- do continuidade aos estudos sobre as elites politicas, as agéncias publicas responsveis por diferentes setores da economia, como a Petrobras e o Banco Central, serviram de campo 4 ampliagao dos assuntos tratados. Posteriormente, os depoimentos obtidos volta- vam-se 4 compreensio do golpe de 1964, dessa feita dava voz a diferentes personalidades envolvidas com o movimento, como militares, estudantes e liderancas estudantis.” Todavia, apesar do interesse crescente manifesto em dife- rentes areas de estudo das Universidades Brasileiras, foi sobretudo a partir da década de 90 que a Histéria Oral passou a ser incorpo- rada ao meio universitario em diversos pontos co pais. O interesse pela Historia Oraj teve como mentores os Professores José Carlos Sebe Bom Meihy, da USP, € Marieta de Moraes Ferreira, da Funda- ¢do Getilio Vargas, no Rio de Janeiro, que planejavam a criacdo de uma Associacao de Histéria Oral no Brasil. Para surpresa des- ses pesquisadores, constatou-se que nos anos 70 a Fundagdo Ford manifestava interesse em apoiar a difusdo da nova técnica de pes- quisa, classificada como “Histéria Oral”. A proposta da referida Fundag&o destinava-se ao México e ao Brasil, O projeto oriundo da Ford teve como responsiivel pela His- tOria Oral, no México, Eugenia Meyer e, no Brasil, a Aspasia Camargo, com o apoio de Celina Vargas no CPDOC. Desse modo, @ criagdo do Archivo de la Palabra, no México, e do Programa de Histéria Oral do CPDOC, da Fundacao Gettilio Vargas, concretiza- tam a proposta oriunda do Oral History Program, da Universidade de Columbia. No meio universitario destacou-se como pioneiro em difundir a Historia Oral o Prof. Carlos Humberto P. Corréa, que 7 vide PERRETRA, Marieta de Moraes (org.), Avaliagdes e tencléncias da histérta oral in Historia oral: desafios para o século XXT. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz/ Casa de Oswaldo Cruz/CPDOC ~ Fundacdo Getilio Vargas, 2090, p. 31-81. 155 Revista do Institutu da Ceard - 2001 elaborou a sua dissertaciio de mestrado, denominada O Documenta de Hist6ria Oral camo Fonte Histérica® Entretanto, verificando a dimensao do meio universitario, na primeira metade da década 70, apenas alguns grupos aceitavam o desafio de explorar a nova opcao metodoldgica de pesquisa. Con- siderando o contexto politico brasileiro, ainda sob o controle dos militares, 0 usufruto de depoimentos tinha as suas limitagdes, uma vez que 0 ato de fornecer informagdes poderia comprometer poli- ticamente diversos envolvidos nos temas estudados. Por isso, ante o receio da censura, os trabalhos realizados voltavam-se a um passado distante, que ndo pudesse associar-se a0 presente, ou centravam-se na recuperagao da Histéria das elites politicas, Por outro lado, diversas foram as resist@ncias ao uso da Historia Oral, principalmente em virtude da relagdo dos entrevista- dos se restringir a um seleto grupo de liderangas politicas. Como testemunho dessa reacao, observe-se a opiniao da Professora Déa Ribeiro Fenelon: “Devo esclarecer também. que faco parte daqueles que de certa forma reagiram mal & Historia Oral, apreseniada por seus en- tusiaslas como a possibilidade de garantir a meméria de elites governamentais da era Vargas, como era o trabatho inicial do CPDOG - tinica entidade a, concretamente, arriscar-se. na di- rogdo de implaniar um programa éfetivo de Histéria Oral”? Mesmo assim, nao sé pode menosprezar a significativa con- tribuigao no desenvolvimento das pesquisas, patrocinadas pelo CPDOC e€ pelo Archivo de la Palabra, respons4veis pela concre- tizag4o do uso da Histéria Oral, como nova modalidade de fonte a ser trabalhada. A valorizacao da Histéria Oral, como inova¢io metodolégica, ultrapassando as limitagoes sugeridas pelo madelo americano, to- * Cf D'ARAUJO, Maria Celina. Como a Historia Oral chegou ao Brasil in Aistéria Oral, Revista da Associagao Brusileira de Historia Oral, n. 2, jun. 1999, p. 167-179. ° FENELON, Déa Ribeiro. Q Papel da Hist6ria Oral na Historiografia Moderna in BOM MEIHY, José Carlos Sebe (Org.), (ReJintroduzindo Historia Oral no Brasil. Sho Paulo: Xam, 1996, p. 23. 156 A dimensto metodoldgics da histéria oral mou impulso com a propagac4o da producao historiografica in- glesa, que procurava dar voz aos vencidos, fazendo brotar uma nova op¢ao metodoldgica, tendo por base um suporte tedrico con- dizente com a problematizagao das tematicas sociais elencadas.™ Na verdade, foi sobretudo com a difusio do paradigma da Nova Histéria, suscitando novos temas, novas abordagens e, con- seqiientemente, através da adocio de uma nova metodologia, va- lorizada sobretudo a partir do final dos anos gitenta, que se intensificou o debate acerca de conceitos antes desconsiderados, como o referente a documento, incentivando a descoberta de no- vos agentes e novas dimensdes das tematicas estudadas. A modifi- cacao presente nas atividades de pesquisa alterou a nogao tradicional de fonte histérica, passando a valorizar os documentos referentes 4 vida cotidiana dos grupos antes clesconsiderados, re- conhecendo-os como agentes do fazer Historia. Apesar de ter sido publicado, em 1973, o livro da Professora Ecléa Bosi, Mem6ria e Sociedade: lembranca de velhos, na verdade uma andlise psicolégica dos idosos, passou a ser 0 ponto de refe- réncia dos simpatizantes da relacdo entre memoria e Histéria Oral.'' Vale ressaltar que a inovacao metodoldgica nae se limitou as pesquisas da Histéria, mas difundiu-se entre outros ramos das ci- éncias sociais, inclusive da Psicologia, servindo para aproximar diferentes 4reas de estudo, o que contribuiu para o rompimento de barreiras antes constituidas, passando a Historia Oral a ter um universo bem mais abrangente. Mais uma vez o augtrio da Nova Histéria baseava-se no dueto — interdisciplinaridade e com- plementaridade - que servia de apoio a uma real aproximacao de diferentes espacos das Ciéncias Sociais. © Conforme ressalta Carlos Sebe Bom Meihy, a obra de Paul Thompson. 4 Voz do Passado: Historia Oral, publicada em 1978 e lancada no Brasil, apenas em 1992, pela Editora Paz ¢ Terra serviu de modelo teérico para os trabalhos académicos. 1" Vide BOS, Ecléa, Memdria ¢ Sociedade: lembranga de vethos, 3a. ec, Sac Paulo: ‘Companhia das Letras, 1994. A segund € terceira ediclo datam, respectivamen- te, de 987 e 1994, Vale salientar que a referida obra constituiu o ponto de partida € 0 apoio bisico de nossa pesquisa acerca da visio dos idosos sobre Fortaleza. 15? Revista do Instituto do Ceard - 2002 Em abril de 1995 realizou-se o I Encontro Regional de Histé- ria Oral/Sudeste-Sul, promovido pela Associacio Brasileira de His- téria Oral - ABHO, criada no ano anterior, quando também foi instalado, na Universidade de S40 Paulo, o Laboratério de Histéria Oral do Departamento de Histéria, sob a diregao do Prof. Dr. José Carlos Sebe Bom Meihy. Na opiniao do referido Professor, “De cualquer forma, bistoria oral ornou-se um importante de- nominador comum para todos os que se aventuravam na seara que envolve enirevistas, gravacées, arguivamenios, didlogos multidisciplinares. Interessante notar que tudo isto transcorre sem muitos registros, posto que a hist6ria oral brasileira, ainda que receniemente aclamada, tem poucas, raras publicagées Infelizmente, além de iextos esparsos e que ainda niio ganha- ram lugar na historiografia geral, tediosos catdlogos e listas de levantamento de experiéncias tém lomado conia das publica- ges de bistéria oral no Brasil’? Consideragées Finais Os argumentos apresentados nos possibilitam a compre- ensdo do alcance da Hist6ria Oral. Na verdade, ndo devemos re- forcar a simplista classificagao, que se tornou expressiva na nova metodologia adotada: histaria oral como se fosse um dominio ex- clusivo dos profissionais da Hist6ria. Diferentes areas das Ciéncias Sociais tm contribufdo para fortalecer a sua dimensio meto- dolégica. Nao sendo prioridade exclusiva da Histéria, 0 intercambio mantido com pesquisadores de outras Areas fortalece a contribuigdo da Nova Histéria, onde a adogao de novas op¢des metodolégicas enriquece experiéncias que se entrecruzam. A riqueza da Histéria oral decorre do seu significado plu- ral, propiciado pelo envolvimento de um outro agente, além do historiador, na narracao do tema estudado. Desse modo, o carater utilitario da metodologia adotada ultrapassa a simples dimensao ” BOM MEIHY, José Carlos Sebe, op. cit, p. 7. 158, A dimensio metodolégica da histéria oral informativa, enriquecendo a dindmica interpretativa, expressa nas versGes apresentadas, A capacidade de reconstrugao acerca de um passado nar- rado nao desqualifica o estudo apresentado, pois a forga da subje- tividade na Histéria nos faz compreender o alcance de suas dimensoes. O anseio de “ressuscitar” 0 passado é tao inédcuo quanto © teor na crenga de uma verdade absoluta, divulgada através de uma versao apresentada. As varias interpretagées expressas, atra- vés dos depoimentos coletados, enriquecem 0 contetido a ser ela- borado sob 0 crivo analitico do pesquisador. A Histéria Oral como opc4o metodolégica nao macula o valor das fontes documentais, mas 0 fortalece, pois ao se ampliar o nimero de fontes pesquisadas, outra oportunidade nos € ofere- cida para melhor se compreender 0 passado. 159

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