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Gestao e Saúde rpgs021
Gestao e Saúde rpgs021
Gestão
Saúde
DIRETOR: MIGUEL SOUSA NEVES • SPGSAUDE@GMAIL.COM
PUBLICAÇÃO PERIÓDICA DIRIGIDA A PROFISSIONAIS DE SAÚDE
MARÇO 2017 • N.º 21
6 20
Gastos com o medicamento A importância da Comissão
em Portugal: inovação versus de Proteção contra Radiações
sustentabilidade no contexto da qualidade
do Centro Hospitalar do Porto
Monteiro, A., Machado, C., Mesquita, F.
e Nogueira, M.
12
26
Estratégias e aprendizagens na gestão
da segurança do paciente
Filipa Breia da Fonseca
GESTÃO DO CONHECIMENTO
EM ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE
Um conceito indispensável
45
João F. Rodrigues
Livros
18
EMIGRAÇÃO
Quanto custa um médico ao país?
António Branco Nunes
Revista Portuguesa de
Gestão
Saúde
Publicação periódica dirigida a profissionais de saúde • N.º 21 • março 2017
DIRETOR Miguel Sousa Neves COORDENAÇÃO Carla Vaz DESIGN E PRODUÇÃO Jornal Médico • www.jornalmedico.pt PROPRIEDADE Sociedade
Portuguesa de Gestão de Saúde • Avenida Cidade de Montgeron, 212 • 4490-402 Póvoa de Varzim • E-mail: spgsaude@gmail.com • Site: www.spgsaude.pt
DEPÓSITO LEGAL 239095/06 REGISTO ERC Exclusão de registo prevista no art.º 12, alínea a, do DR n.º 8/99, de 9 de Junho PERIODICIDADE Quadrimestral
PRÉ-IMPRESSÃO E IMPRESSÃO RPO TIRAGEM 2.500 exemplares
Estatuto Editorial
A
Revista Portuguesa de Na elaboração de conteúdos, os colabo-
Revista Portuguesa de Gestão & Saúde (RPGS) é radores da RPGS terão em conta os se-
Gestão um órgão de informação guintes pressupostos:
Saúde especializado que tem i) Os conhecimentos e os valores do
DIRETOR: MIGUEL SOUSA NEVES • INFO@SPGSAUDE.PT
PUBLICAÇÃO PERIÓDICA DIRIGIDA A PROFISSIONAIS DE SAÚDE
MARÇO 2017 • N.º 21 como objetivo primor- grande público refletem, de certo
dial divulgar artigos, estudos e casos modo, a maneira como a informação
na área da Gestão em Saúde. Destina- sobre a Gestão da Saúde é veiculada
-se a todos os profissionais que de- pelos órgãos de comunicação social;
senvolvem a sua actividade no setor ii) A gestão eficiente e eficaz do setor
da Saúde, desde médicos, enfermeiros, da Saúde obriga a uma intervenção
técnicos a diretores de serviço, ges- multidisciplinar, na qual os colabora-
tores, administradores hospitalares, dores da RPGS podem e devem desem-
Gastos com o medicamento em Portugal
Inovação versus
Pearls & pitfalls
do sistema de saúde português
Emigração:
Quanto custa um médico
membros de conselhos de administra- penhar um papel de relevo, através da
sustentabilidade ao país?
A Revista Portuguesa de Gestão & Saú- iii) Os mass media constituem, não
de orienta-se por critérios de rigor e raro, o único meio de contacto en-
criatividade editorial, sem qualquer de- tre as fontes de informação e alguns
pendência de ordem ideológica, política grupos populacionais socialmente
e económica. marginalizados;
A Revista Portuguesa de Gestão & Saúde iv) O êxito da colaboração entre os co-
estabelece as suas opções editoriais sem laboradores da RPGS e as instituições
hierarquias prévias entre os diversos se- que desenvolvem trabalho na área da
tores de atividade. Gestão da Saúde depende, antes de
A Revista Portuguesa de Gestão & Saúde mais, da assunção, por parte de todos,
é responsável apenas perante os leitores, de que a mudança de comportamentos
numa relação rigorosa e transparente, e atitudes para a gestão eficiente e efi-
autónoma do poder político e indepen- caz da Saúde é uma batalha comum.
dente de poderes particulares. Todo o desempenho da Redação da
A Revista Portuguesa de Gestão & Saú- RPGS rege-se pela estrita observância da
de reconhece como seu único limite ética da informação e no cumprimento
o espaço privado dos cidadãos e tem da legislação em vigor, obedecendo des-
como limiar de existência a sua credibi- se modo a uma política de privacidade e
lidade pública. confidencialidade.
A RPGS adota como linha editorial a di- Através da Revista Portuguesa de Gestão
vulgação de conteúdos através de uma & Saúde, procurar-se-á ainda manter o
arrumação facilmente assimilável pe- leitor atualizado no que respeita a regu-
los leitores, reforçada pela atualidade e lamentos, normas, técnicas e ferramen-
continuidade lógica dos diferentes te- tas com impacto direto na gestão dos
mas abordados. serviços de saúde.
A produção de artigos, estudos e casos A RPGS estabelece as suas opções edi-
pautar-se-á por uma forte aplicabilidade toriais no estrito respeito por elevados
dos conceitos divulgados. padrões de isenção e rigor.
A
recente legislação sobre os
Centros de Responsabilida-
de Integrada(os) – CRI – veio
abrir uma pequena janela de
oportunidade para que alguns hospi-
tais e unidades locais de saúde possam
(re)lançar algumas áreas médicas espe-
cíficas, dando-lhes ferramentas para
uma melhor diferenciação e uma maior
adaptabilidade às realidades locais.
Apesar de alguma celeuma em relação
à mesma, eu acredito que este tipo de
legislação poderá permitir aos mais di-
nâmicos melhorar a eficácia e eficiência
de alguns serviços.
Por exemplo, o Centro Hospitalar do
Algarve poderá ter aqui uma mão esten-
dida do Ministro da Saúde... Miguel Sousa Neves
Presidente da Sociedade
Portuguesa de Gestão &
Saúde
Alexandre
Morais Nunes
Doutor em Administração
da Saúde – Universidade de Lisboa
Inovação versus
sustentabilidade
RESUMO da inovação aplicada ao setor do medi- se estar na vanguarda de um mercado
A inovação no setor do medicamento é camento, verificam-se benefícios para os competitivo, ou seja, na primeira linha
conhecida como a capacidade de melho- utentes, que dispõem, de um maior aces- da inovação (Milan, Panizzon, & Toni,
rar os farmacos já existentes, ou de gerar so a medicamentos inovadores, compar- 2014; Porter, 1990). É assim, com a apos-
outros a partir da investigação científica. ticipados pelo SNS. Para além disso, a ta em processos inovadores, que ocorre o
Quer de uma forma ou de outra, tem por despesa com o medicamento baixou, desenvolvimento e se ganha vantagem
objetivo melhorar o estado de saúde da sem que esta redução correspondesse a face à ameaça da concorrência (Hong,
população através da cura ou do controlo uma redução do consumo. Em conclusão McCann & Oxley, 2012). No entanto, a
de uma determinada patologia/doença. e respondendo à pergunta de partida, inovação pode ocorrer em vários níveis,
Os processos de inovação terapêutica pode referir-se que os gastos com o me- entre os quais a OCDE destaca: a ino-
funcionam como motores de desenvol- dicamento foram reduzidos, sendo que vação nos processos; nos produtos; no
vimento, mas são também uma fonte de para tal contribuíram: os compromissos marketing e no modelo organizacional
aumento de custos. Portugal, sendo um de sustentabilidade acordados com a in- (OECD, 2005).
país que tem implementado um sistema dústria farmacêutica (IF), o aumento da Entre os vários estímulos que as organi-
de saúde predominantemente público, o quota de genéricos, a dispensa através zações enfrentam, encontram-se, neste
Serviço Nacional de Saúde (SNS), suporta dos meios eletrónicos e ainda o efeito âmbito, a necessidade de mudança, com
elevados custos com o setor do medica- dissuasor da luta contra a fraude. a criação e modificação de produtos ou
mento. Para garantir a continuidade do serviços, a adaptação às novas tecnolo-
acesso a medicamentos inovadores, sem 1. INTRODUÇÃO gias, ou a melhoria das já existentes (Da-
comprometer a sustentabilidade do sis- A inovação, de uma forma global, está manpour, et al., 2011). De acordo com a
tema foi implementado na política de na base das mudanças ocorridas nas teoria desenvolvida por Schumpeter em
saúde um conjunto de medidas que pri- organizações, empresas e sociedade. As 1934, na base da inovação encontra-se
mam pela contenção da despesa, através transformações que deram origem ao a necessidade de crescimento de uma
de um combate mais eficiente e cons- mundo moderno foram fruto de proces- empresa para fazer face aos novos de-
ciente contra a fraude e o desperdício. sos inovadores, que contribuiram decisi- senvolvimentos e à concorrência. Só
Neste artigo, através do método da revi- vamente para a melhoria das condições uma empresa que inova poderá crescer,
são da literatura e de uma análise esta- vida em sociedade e para o progresso da gerando lucro e prosperando num mer-
tística do consumo e dos custos com fár- administração dos serviços públicos (Bi- cado dinâmico e altamente competitivo
macos, pretende-se responder à seguinte lhim, Guimarães, & Junior, 2013). (McCraw, 2007; Schumpeter, 1934).
questão: “A nova política do medicamen- Os processos de inovação envolvem ati- A inovação no setor da saúde permitiu
to e os compromissos de promoção da vidades que implicam uma mudança na ganhos no perfil de saúde da população.
sustentabilidade geraram os efeitos de- cadeia de valor. São as influências exter- Como grandes exemplos podemos referir
sejados na redução da despesa, não com- nas que fomentam o desenvolvimento a redução da taxa de mortalidade infantil
prometendo o acesso?”. Como resultado de novos produtos, com o objetivo de e o aumento da esperança média de vida
4. EFEITOS DAS MEDIDAS DE uma poupança real de 88,81 M€, ou regista-se um aumento de 13,17 mi-
SUSTENTABILIDADE NA DESPESA seja, de aproximadamente 12% da des- lhões de embalagens dispensadas, o
COM MEDICAMENTO NO SNS pesa inicial. Por seu lado, o encargo do que evidencia a eficiência económica
A implementação das medidas desen- SNS com a comparticipação do medi- das medidas de controlo da despesa no
volvidas, entre 2011 e 2015, geraram, camento dispensado em ambulatório, medicamento. Neste sentido, são apre-
num curto prazo, uma redução de 496 passou de mais de 1,326 M€ para 1,182 sentados no quadro alguns valores so-
milhões de euros. O Quadro 1 apresen- M€, o que representou uma redução bre o medicamento.
ta os principais resultados da poupança na ordem dos 144,81 M€, equivalente Através de uma atenta leitura do quadro,
efetiva para os utentes e para o Estado a 10,9%. verifica-se a variação positiva, em cada
(Serviço Nacional de Saúde). No entanto, repare-se que as reduções ano, no aumento do consumo. Regista-
Os utentes dispensavam um total de nos gastos não são acompanhadas de -se também uma redução gradual do
798,57 M€ em 2011, valor que foi redu- uma quebra no consumo. Pelo contrá- custo para o utente, que passou de um
zido para 709,76 M€, o que significou rio, para o mesmo período de tempo valor médio de 5,71 € embalagem, em
2011, para 4,58 € em 2015. No mesmo
sentido evoluiu a poupança da compar-
ticipação do SNS por embalagem, que
passou de 9,48 € para 7,63 €. Com estes
valores pode referir-se que, com a imple-
mentação de medidas de promoção de
eficiência e controlo na prescrição e dis-
pensa de medicamentos, se conseguiu
uma poupança efetiva de 1,13 €/emba-
lagem para o utente e de 1,85 € para os
cofres públicos.
O atual Governo, no sentido de dar con-
tinuidade à política do medicamento, de-
finiu no seu Programa do Governo:
- A promoção da utilização racional e
segura do medicamento reforçada com
o desenvolvimento de um Programa Na-
cional para a literacia e autocuidados;
- A promoção de uma política sustentá-
vel na área do medicamento de modo a
conciliar o rigor orçamental com o aces-
so à inovação terapêutica, através de:
a) Revisão dos mecanismos de dispensa
e comparticipação de medicamentos dos
doentes crónicos em ambulatório;
b) Promoção do aumento da quota do
mercado de medicamentos genéricos,
tendo em conta a margem para a baixa
de preço que subsiste;
c) Promoção da investigação e da pro-
dução nacional no setor medicamento
(Portugal, 2015).
Preço médio por embalagem para o SNS (euros) 9,48 8,38 7,78 7,65 7,63
Preço médio por embalagem para o utente (euros) 5,71 4,87 4,62 4,59 4,58
NOTAS
1. O Infarmed e a DGS elaboraram um conjunto de Normas de Orientação Clínica direcionadas para o setor do medicamento. A adoção destas normas permitiu ao SNS:
- Obter ganhos com base na evidência científica;
- Promover boas práticas clínicas;
- Ganhos de eficiência com redução de custos;
- Aumento da qualidade (Ministério da Saúde, 2015).
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Estratégias e
aprendizagens na gestão
da segurança do paciente
A segurança do paciente tem sido um atividade de risco. Risco para os doentes quicos são sempre diretos e na primeira
assunto de muita pesquisa, debate e in- que podem sair lesados pelo comprome- linha (Fragata, 2011).
teresse na área da saúde. Nesse sentido, timento da sua segurança, e risco para O relatório do Institute of Medicine (2000)
tem vindo a tornar-se uma preocupação os profissionais de saúde (médicos, en- – To Err is Human – lançou o tema da se-
não só dos prestadores de cuidados de fermeiros e técnicos) que exercem uma gurança na Medicina, ao revelar que en-
saúde, como também dos doentes, dos profissão potencialmente perigosa. Tudo tre 44 mil e 98 mil pacientes poderiam
gestores e da sociedade em geral. isto porque a medicina tem no seu cen- morrer por ano nos EUA, em consequên-
A prática da medicina é ela própria uma tro o doente, cujos danos físicos ou psí- cia de erros no sistema de saúde (IOM,
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A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA:
ASSÉDIO E A FALTA DE COMPLIANCE
A regulamentação da presença de repre-
sentantes da indústria farmacêutica nos
serviços clínicos do SNS e seu cumpri-
mento deveria ser alvo de maior atenção
pelas entidades competentes. O assédio,
de diferente natureza, é constante e nem
sempre a compliance é respeitada.
A informação veiculada por estes agen-
tes é naturalmente enviesada, tendo
em consideração a vertente comercial
do seu modelo de negócio. Os denomi-
nados estudos de não inferioridade são
o ex-libris do marketing enganoso. Sem
de quem pode suportar financeiramente entrada para o quadro da função pública entrar em detalhes técnicos, aquele
formação académica no exterior, de ou- provoca adicionalmente o efeito Limpet: tipo de estudo procura induzir a ideia
tra forma impossível por insuficiência mesmo com ferramentas adequadas não de que determinados medicamentos,
interna de requisitos académicos. Com a é fácil removê-las e os sindicatos têm mesmo de classes farmacológicas to-
implementação deste tipo de faculdades sempre a última palavra a dizer. Não talmente distintas, são igualmente
privadas em Portugal, sempre aumen- conheço outra situação com um efeito eficazes e com os meus perfis de segu-
ta o consumo interno das famílias que de classe tão pernicioso, com bloqueio rança. Trata-se de um método óbvio de
o possam suportar e será uma lufada de quem quer efetivamente trabalhar e cartelização.
de ar fresco para as fileiras da cátedra a encontra-se desempregado ou tem de O pricing dos medicamentos exemplifi-
recrutar. A qualidade de formação e as emigrar. Excluindo, porventura, a ques- ca de forma evidente este fenómeno: no
saídas profissionais da “fornada” será o tão da não exclusividade dos médicos a caso da Oftalmologia, existe um dispo-
menos preocupante, uma vez que o risco tempo parcial no setor público, que não sitivo médico de tratamento do edema
poderá não diferir da situação existente fica aquém. macular que consiste num implante de
atualmente nas instituições do SNS pelo A gestão de recursos humanos nas insti- dexametasona, cujo custo por injeção
desequilíbrio conhecido da balança en- tuições do SNS caracterizam-se pelo hu- intravítrea (IIV) para o SNS é de 950 Eu-
tre formandos e formadores. A ideia é no manismo, inclusão e tolerância, proprie- ros e o seu efeito dura 4 a 6 meses. Um
mínimo excitante e no máximo preocu- dades adversas a uma melhor eficácia e laboratório concorrente, desenvolveu
pante; no meio-termo estará a virtude. eficiência de processos. Neste particular, outro implante com um corticosteroide
torna-se difícil mimetizar o modus ope- diferente para IIV, no caso acetonido de
A ENFERMAGEM E AS SINERGIAS randi e modelo de sucesso dos serviços fluocinolona, cuja acção terapêutica pro-
NÃO RENOVÁVEIS privados de saúde. longa-se, teoricamente, por 36 meses.
E todos os serviços de Oftalmologia Qual o preço para o SNS por IIV deste
nos quais trabalhei, o pessoal de en- HIGIENE NA LAVAGEM DAS MÃOS: segundo implante? Aproximadamente
fermagem – lato sensu – tem um perfil FATOR MODIFICÁVEL? 6.000 euros...
comum: desmotivação; incapacidades Muito se apregoa sobre a necessidade Os pseudo-custos da inovação farmaco-
psico-motoras variadas; e problemas psi- de reduzir as taxas de infecções noso- lógica não deveriam ser suportados pelos
quiátricos relacionados com o facto da comiais em Portugal, substancialmente orçamentos de estado para a saúde, mas
atividade dos profissionais de saúde não mais elevadas que na maioria dos paí- sim pelos laboratórios de I&D que lutam
ser considerada de desgaste rápido. A ses da Comunidade Europeia. É certo de forma ávida pelo mercado.
Emigração
Quanto custa
um médico ao país?
RESUMO incluindo burnout1, uma situação preva- aumentou ao longo dos anos; no total,
A insatisfação do médico com as suas lente (estudo efetuado pela Ordem dos 53% dos inquiridos do primeiro ano de
condições de trabalho pode gerar-lhe Médicos concluiu que 41% dos médicos internato colocou a hipótese de emigrar,
problemas de saúde, contribuir para o que responderam a inquérito – 20% dos contra 74% dos inquiridos a frequentar
absentismo, levar a uma menor eficácia inscritos na Secção Regional do Centro o último ano (média de 65% para a tota-
no tratamento dos seus doentes. Pode da Ordem dos Médicos – apresentava si- lidade), 20% referiu que teria escolhido
levar ao burnout. A insatisfação levará à nais de exaustão emocional).2 outro curso, caso pudesse voltar atrás.
procura de alternativas: a emigração, na As razões apontadas pelos inquiridos
esperança de encontrar melhores con- INSATISFAÇÃO: como justificação para ponderar a emi-
dições de trabalho, será uma delas. No CONSEQUÊNCIAS A MÉDIO PRAZO gração, foram de ordem financeira (41%),
entanto, a emigração de profissionais Um estudo divulgado em março de 2015 de falta de oportunidades de trabalho
especializados tem um custo: o custo da na Acta Médica Portuguesa1 revelava que (31%), de falta de emprego (10%).1
educação de um jovem, a que se associa 65% dos médicos recém-formados em
o custo da formação de um médico e o Portugal ponderava emigrar. Este estudo INSATISFAÇÃO:
da sua especialização. Este, uma vez in- baseou-se num inquérito colocado em CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS
tegrado no país de escolha, pode recusar plataforma informática e aplicado entre Em 2014, 1.122 médicos pediram cre-
o regresso. O país perde alguns dos seus maio e agosto de 2014. A este inquérito denciais à Ordem dos Médicos para se
melhores profissionais, não receberá as responderam 804 médicos internos das apresentarem em instituições estran-
remessas daqueles que já não queiram diversas especialidades médicas (corres- geiras (incluindo graduações e estágios).
regressar, perde parte do seu potencial pondendo a 12,25% da totalidade de in- Destes, emigraram 394. Em 2015, emi-
de regeneração geracional e, em última ternos). Da amostra, 77% das respostas graram 475 médicos.3,4
instância, perde parte da sua genética. foram dadas por médicos nos primeiros
três anos da especialidade. Como resul- EMIGRAÇÃO:
INSATISFAÇÃO: tados, 90% dos internos revelaram estar CONSEQUÊNCIAS
CONSEQUÊNCIAS IMEDIATAS satisfeitos com a especialidade escolhi- ECONÓMICAS DIRETAS
A satisfação do médico com a profissão da, 85% com a profissão, 86% com o seu De acordo com um estudo de 2013 do
melhora a qualidade dos cuidados pres- local de trabalho. No entanto, em res- Centre of Economics and Business Re-
tados e, consequentemente, a saúde dos posta à perceção do panorama da prática search para a seguradora Liverpool Victo-
doentes alvo desses cuidados; melho- médica em Portugal, a maioria dos mé- ria, no Reino Unido, o custo de criar um
ra também a satisfação dos utentes.1 A dicos considerou haver uma deteriora- filho até aos 21 anos ronda os 283 mil
insatisfação do médico está associada ção dessa prática, não havendo nenhum euros. Outro estudo, efetuado em Espa-
a uma maior probabilidade deste vir a considerar a existência de melhoria. nha pela organização de consumidores
a ter problemas de saúde, de faltar ao Feita uma análise por ano de internato, CEACCU revela que cada jovem custou
trabalho, de ter problemas psicológicos, a progressão dessa perceção negativa em média entre 98 e 310 mil euros (aos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(ENDNOTES)
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-do-ano-ja-emigraram-184-medicos-a-procura-de-melhores-salarios, visitado em 2016-10-11]
A importância da Comissão
de Proteção contra Radiações
no contexto da qualidade
do Centro Hospitalar do Porto
RESUMO avaliação das exposições dos doentes a fomentou uma necessidade de criar nor-
Os meios complementares de diagnós- procedimentos específicos com radiação mas e mecanismos de avaliação e con-
tico e terapêutica transformaram-se tem contribuído para reforçar a sensibi- trolo da qualidade nos serviços de saúde.
em ferramentas essenciais para todos lização dos profissionais para os valores (Despacho n.º 5613/2015, de 27 de Maio;
os ramos e especialidades da Medicina. de dose e os seus efeitos. o Despacho n.º 5739/2015, de 29 de
Devido às suas propriedades únicas, a A implementação dos procedimentos da Maio). Na última década os meios com-
radiação ionizante apresenta múltiplas Comissão permite assegurar um melhor plementares de diagnóstico e terapêutica
aplicações terapêuticas. Contudo, pode acompanhamento dos doentes em risco, transformaram-se em ferramentas indis-
também originar potenciais danos para uma maior acuidade na monitorização pensáveis para todas as especialidades da
os utilizadores e para os pacientes. A das doses e uma otimização de protocolos. Medicina. Segundo Mahesh (2011), o re-
quantificação da dose de radiação nos pa- curso a procedimentos radiológicos para
cientes e o tempo de exposição dos proce- 1. INTRODUÇÃO diagnóstico e terapêutica têm determina-
dimentos são uma preocupação crescente A Estratégia Nacional para a Qualidade do um aumento da dose de radiação nos
dos utilizadores. Este trabalho tem como na Saúde 2015-2020 visa assegurar que pacientes, tornando-se numa preocupa-
objetivo apresentar a importância da as funções de governação, coordenação ção constante dos utilizadores.
Comissão de Proteção contra Radiações e ação local, centradas no doente, estão As autoridades internacionais, como o
(CPCR) no contexto da qualidade do Cen- devidamente alinhadas pela mesma re- Comité Científico das Nações Unidas
tro Hospitalar do Porto (CHP). ferência, com respeito pelas dimensões para os Efeitos das Radiações Atómicas,
A CPCR detém múltiplas atividades, es- da efetividade, eficiência, acesso, segu- a Comissão Internacional de Proteção
tando, atualmente, as suas sinergias rança, equidade, adequação, oportunida- Radiológica (ICRP) e a Agência Interna-
direcionadas para a normalização do de, continuidade e respeito pelo cidadão. cional de Energia Atómica (AIEA), reco-
registo de dose no processo clínico dos A pesquisa da qualidade nos serviços de mendam o registo e análise periódica da
pacientes e para a notificação, pelos Téc- saúde deixou de ser um ato isolado e tor- dose de radiação como um fator essen-
nicos de Radiologia, dos eventos radio- nou-se hoje um dado adquirido e categó- cial da proteção radiológica (Heilmaier,
lógicos contemplados nas normas pré- rico. A sociedade está cada vez mais exi- 2017). Tal como Zygmont (2017) compro-
-estabelecidas pela Comissão. gente, no que se refere à qualidade dos va, referindo vários estudos, é primordial
A atribuição à CPCR da competência serviços prestados, fundamentalmente uma ferramenta de notificação de dose,
de identificação, acompanhamento e nas instituições públicas. Esta exigência que informe o utilizador quando os va-
3. RESULTADOS
A CPCR deve assegurar um nível adequado
de recursos, tais como pessoal, instalações
e equipamentos para garantir que há con-
requisição de novos exames (Heilmaier, trolo de qualidade das doses de radiação.
2017). De acordo com alguns autores e A monitorização de dose não se deve
prática em alguns países, deve ser dado cingir à blindagem das instalações e dos
ao paciente um consentimento informa-
do sobre os efeitos da radiação, em parti-
A utilização e equipamentos, mas também à monitori-
zação da radiação. A garantia da qualida-
cular quando a dose esperada do proce- disseminação da de é um componente essencial de qual-
dimento possa ser elevada (Balter, 2012). radiação ionizante quer programa de monitorização.
Em Portugal, nos procedimentos em que A CPCR tem diversos projetos em fase de
é utilizada radiação X, a monitorização
em procedimentos implementação: garantir a uniformiza-
da radiação é da responsabilidade do téc- médicos de ção das doses pediátricas e o registo das
nico de radiologia e do radiologista. No diagnóstico, mesmas no processo clínico; realização
CHP encontra-se em fase de implemen- de ações de formação multidisciplinares
tação a notificação da dose pelo técnico
terapêutica e rastreio sobre proteção radiológica; criação de um
de radiologia, sempre que a mesma exce- conduziram a um manual de boas práticas com níveis de re-
da os valores limite pré-definidos.
aumento considerável ferência de doses adequados aos equipa-
Durante os procedimentos em que é uti- mentos e procedimentos do serviço.
lizada fluoroscopia de forma dinâmica, da exposição da Encontra-se em fase de implementação
o utilizador é notificado quando a dose população. Assim, a a notificação da dose pelos técnicos de
no doente atingiu os 2 Gy, valor este que
proteção radiológica radiologia. Foi criada uma sequência de
confirma os dados atuais que referem procedimentos de forma a registar e ava-
que as reações da pele podem ocorrer em assume um papel liar os efeitos secundários da radiação
pacientes sensíveis dentro de horas após preponderante na ionizante (Esquema 1).
terem recebido essa dose. Como men- O papel da CPCR é essencial em qual-
cionado por Stecker et al. (2009) e Balter
gestão hospitalar quer organismo que realize procedi-
et al. (2010) nas unidades que só podem mentos com radiação ionizante. A Co-
monitorizar tempo de fluoroscopia, o missão garante a monitorização dos
utilizador é notificado quando o total procedimentos radiológicos realizados.
de tempo de fluoroscopia atinge os 30 Desempenha o papel de supervisão
minutos, estando referenciado que em sobre todos os fatores envolvidos na
alguns casos podem surgir lesões para exposição à radiação, tais como: a pro-
tempos de exposição de 60 minutos. teção radiológica dos profissionais pré,
A suspensão de um procedimento devi- peri e após os procedimentos; a prote-
do ao excesso de dose de radiação é pou- ção dos pacientes desenvolvendo fer-
co provável, tal como referem Stecker et ramentas para garantir que o princípio
al. (2009) e Balter (2014), uma vez que o ALARA é aplicado; verificar se o regis-
benefício clínico de um procedimento to de dose da exposição é efetuado,
bem sucedido quase sempre é superior a desencadeando um alerta sempre que
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Zygmont, M., et al. (2017). “Radiology Research in Quality and Safety: Current Trends and Future Needs.” Acad Radiol. 24(3):263-272.
Um conceito indispensável
para a gestão em
Enfermagem
INTRODUÇÃO IMPACTO NAS ORGANIZAÇÕES jectivos traçados; estrutura organi-
Contemporaneamente, vivemos numa E DINÂMICAS ORGANIZACIONAIS zacional, com a revisão e criação das
sociedade do conhecimento onde este Não é clara a forma como as organi- estruturas organizacionais passíveis de
é a fonte de qualidade e poder/domí- zações podem gerar e gerir o seu co- criar um fluxo de conhecimento para
nio. Num mundo onde os mercados, nhecimento, sendo deficitária a sua a transferência de boas práticas em
produtos, tecnologias, competidores e compreensão. Identifica-se um fraco termos horizontais e verticais; gestão
até as sociedades se transformam ve- reconhecimento da dinâmica inerente do desempenho, com a definição e co-
lozmente, a inovação contínua e o co- ao processo de criação e GC por parte municação de objectivos, indicadores
nhecimento que permite tal inovação dos intervenientes organizacionais, e metas do programa de GC, focando
tornaram-se fontes vantajosas para sendo este processo comummente, a atenção dos stakeholders para políti-
uma competição sustentável (Nonaka, e de forma errada, associado a meros cas de recompensa e reconhecimento;
Toyama e Konno, 2000). processos de gestão de informação cultura organizacional, na medida em
A emergência do conceito de Gestão (Cardoso, 2007). que se deverá ter em consideração cul-
do Conhecimento (GC) e a sua actual Para Walker (2006) apud Santos (2008) turas e valores partilhados pelos atores
relevância prendem-se com a impor- o sucesso de um programa de GC as- organizacionais de forma a assegurar
tância atribuída pelas organizações senta, em parte, num processo de uma participação adequada pelos mes-
à capacidade de identificar quais os implementação composto por doze mos; tecnologia, incidindo em formas
atributos responsáveis pela criação e pontos-chave a serem tidas em aten- que visam o suporte do programa de
manutenção de conhecimento, reco- ção pelos gestores: proposição de valor, GC, que deverão estar integradas nas
nhecendo-lhe valor, raridade, inimita- com a definição, clarificação e comuni- infraestruturas organizacionais e pla-
bilidade e insubstituibilidade (Cardo- cação de benefícios e aspectos críticos taformas informáticas; criação de co-
so, Gomes e Rebelo, 2003). Todavia, e relativo à adopção de um programa nhecimentos, com a clarificação dos
de acordo com Frederico e Cruz (2015), estruturado junto dos stakeholders de atores organizacionais de que tipo de
embora o conceito de GC seja reco- forma a motivar e envolver os mesmos; conhecimentos são valiosos para a
nhecido e aceite, este ainda se encon- alinhamento estratégico, com a esti- organização, qual o âmbito e propó-
tra envolto numa “franca opacidade”, pulação das necessidades da organi- sito da sua criação, que recursos são
quanto ao seu conteúdo e natureza zação, considerando-se as estratégias necessários na consecução deste pro-
efetiva do seu significado e potencial fundamentais e criação das condições cesso, entre outros; definição da estru-
de aplicabilidade. indispensáveis à consecução dos ob- tura dos conhecimentos, de forma a
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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gias_da_informacao_e_comunicacao_em_instituicoes_publicas_de_saude_um_estudo_em_enfermeiros>
Frederico, M. & Cruz, S. - Perceção de cultura organizacional e de gestão do conhecimento em hospitais com diferentes modelos de gestão. [Em linha] Revista Referências. Coimbra.
2015. [Consult. 19 Abril 2016] Disponível em WWW: <http://dx.doi.org/10.12707/RIV14065>
Santos, A. - Gestão Estratégica: conceitos, modelos e instrumentos. Escolar Editora. Lisboa, 2008. ISBN 978-972-592-229-3
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