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As fiadoras da ordem democrática

Forças de segurança pública, como burocracias profissionais, são responsáveis


por garantir a ordem e a aplicação da lei, de modo a assegurar e universalizar
direitos fundamentais. Elas são instituições de Estado essenciais para o pleno
exercício da cidadania e, por isso mesmo, em democracias, precisam ser
simultaneamente valorizadas e controladas em suas competências e padrões de
atuação.
Todavia, como o Fórum Brasileiro de Segurança Pública tem alertado nos
últimos anos, há no país sérias dissonâncias e sobreposições legais que
dificultam a atividade policial e geram ruídos e antagonismos na relação
federativa e no debate sobre o tema no Brasil. A grande maioria da legislação
infraconstitucional que rege a forma de atuação das forças de segurança é
anterior à Constituição Federal e, com isso, muitas dos princípios e comandos
da nossa Carta Magna não estão sendo observados no cotidiano operacional
das corporações listada no seu Artigo 144.
E, para contribuir para o saneamento de tais dissonâncias e sobreposições,
apresentamos minuta de Lei Geral, que considera que:
1. Sem desmerecer os esforços pela aprovação de leis orgânicas
específicas para cada tipo de força de segurança existente no país, a Lei
Geral aqui proposta visa complementar a regulamentação do parágrafo 7º
do artigo 144 da Constituição, especificamente no que diz respeito à
organização e atuação eficiente/integrada das forças de segurança
pública dos estados;
2. O projeto também tem como função tentar preencher algumas lacunas
importantes da legislação, como a sugestão de definição dos conceitos
de poder de polícia e ordem pública na Lei do SUSP (aplicável também à
Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal), além de se propor a revogar
a legislação sobre a PM e o CBM oriunda da ditadura militar, incompatível
com o Estado Democrático de Direito fundado em 1988;
3. O projeto revoga expressamente o Decreto-Lei 667, o R-200 e o decreto
atual sobre convocação das PMs e CBMs pelo Exército. No mesmo
sentido, extingue a Inspetoria Geral das Polícias Militares e compartilha
as competências federais entre os Ministérios da Segurança e da Defesa
no que diz respeito ao controle de material bélico das forças de
segurança. Porém, não muda a legislação atinente à previdência dos
militares;
4. Pela urgência que temas econômicos terão na relação entre os Poderes
Executivo e Legislativo, que demandará foco para alterações
constitucionais, a minuta ora proposta não menciona/aborda temas que
demandam alteração da Constituição. O foco da minuta reside na esfera
infraconstitucional, mesmo reconhecendo que elas serão, em um
segundo momento, fundamentais para a reforma do modelo que organiza
a área no Brasil;
5. A minuta buscou respeitar o Pacto Federativo, fortalecendo a posição dos
governadores e explicitando que: a) as polícias e corpos de bombeiros
militares tenham seus próprios códigos de conduta; b) convocação dessas
forças pelo Presidente da República demandará consulta ao Conselho de
Defesa Nacional e anuência do governador; c) que as armas dos
bombeiros e das PMs sejam cadastradas também no Sinarm,da Polícia
Federal, além do Sigma, gerenciado pelo EB.
6. Nesse mesmo sentido, o controle sobre a dotação do armamento das
forças de segurança passa a ser uma atribuição conjunta do novo
Ministério da Segurança Pública e do Ministério da Defesa;
7. A gestão baseada em planejamento e em evidência das forças de
segurança foi reforçada com a exigência de elaboração de planejamento
estratégico e de plano de comando; da previsão do fortalecimento da
transparência ativa mediante a publicação de relatório anual com
informações básicas sobre gestão administrativa e de pessoal;
8. Muitas são as novidades sobre gestão de recursos humanos previstas na
minuta, como a existência de critérios mínimos para fixação e distribuição
de efetivos; a exigência de correlação entre cargo/status na carreira e
função a ser exercida; a ideia da promoção horizontal (para fins
remuneratórios) e de progressão vertical (para fins de exercício de novas
funções); a exigência de capacitação específica para o exercício das
novas funções como pré requisito para a progressão funcional; conteúdos
básicos para os concursos; a exigência de realização de mapeamento de
competências e estudo científico dos cargos para que possa ser definido
a função de cada uma das carreiras da instituição.
9. Ainda em relação à gestão de pessoas um ponto importante é a forte
restrição à cessão de policiais mediante a redução dos locais em que o
tempo de serviço policial/militar seguirá contando. Há também a
obrigatoriedade de que as forças de segurança estabeleçam a jornada
semanal de trabalho dos profissionais e a vedação ao uso ordinário das
escalas de 24 horas.
10. É prevista a possibilidade de criação de carreiras administrativas, não
policiais, para exercerem as atividades que não são atividades. Com isso,
foi excluída a figura do militar temporário, que tinha sido incluída no DL
667 pela reforma da previdência dos militares.
11. Com relação aos direitos e deveres três pontos são importantes: a
vedação do comparecimento de profissionais de segurança
fardados/uniformizados em manifestações políticas (o que já existe no
667/69 e agora será extensível às demais forças de segurança); a
inclusão da quarentena para candidaturas políticas e a vedação do uso
das imagens institucionais para obtenção de vantagem pessoal (o
problema das redes sociais).
12. Com relação à Polícia Civil a principal inovação é a unificação das
carreiras, particularmente de escrivão e agente.
13. No que diz respeito à PM e ao CBM o projeto propõe o debate sobre a
carreira única. Os postos e graduações, por hora, não foram detalhados,
mas a necessidade de fazer isso, como hoje ocorre no DL 667, foi
delegada para Ato do Poder Executivo Federal para cada tipo de força
de segurança.
14. Uma questão importante diz respeito à previdência dos militares: como o
projeto revoga o DL 667, o sistema previdenciário atualmente vigente foi
incorporado, textualmente, pelo projeto.
15. É apresentada uma regulamentação básica da polícia penal,
estritamente dentro dos limites constitucionais que preveem sua
função de fazer segurança dos estabelecimentos penais. Há
alguns apontamentos específicos em relação ao uso de arma de fogo
por esta polícia, como a vedação destes equipamentos dentro dos
estabelecimentos penais, conforme as normativas internacionais.
16. O projeto veda o uso pelas forças de segurança de softwares e
equipamentos de escuta e de inteligência que não sejam rastreáveis e
auditáveis em seu uso. Para assegurar essa vedação, o projeto altera a
lei do Fundo para que seus recursos não possam ser utilizados para
aquisição de sistemas não rastreáveis e auditáveis.

São Paulo, 1 de novembro de 2022

Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Redação, Pesquisa e Coordenação

Isabel Figueiredo
Betina Barros
Amanda Lagreca
David Marques
Renato Sérgio de Lima

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