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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA


Apostila elaborada por Eduardo Simonini Lopes

A GESTALT

A Gestalt é uma corrente de pensamento que surge na Alemanha. Seus principais


precursores são:

Ehrenfels (1852-1932) e Krüger (1874 - 1948): partiram do estudo da percepção.


Verificaram que os dados sensoriais comportam suas espécies de qualidades:

- qualidades sensíveis: resultantes da atividade sensorial

- qualidades formais ou de forma: advindas não da atividade sensorial,


mas do trabalho mental-percepção de relações.

Para exemplificar isso, empregaram uma melodia, em que as qualidades sensíveis


são as notas e as qualidades de forma são a melodia.

Ehrenfels relatou dois princípios básicos relativos a seu estudo da percepção:

a) Da totalidade: o todo é mais do que apenas a soma das partes que o


constituem e apresenta características próprias, que as partes não
possuem

b) Da transposição: o todo, de certa maneira, é independente das partes


que o constituem.

Os Fundadores da Gestalt são Wertheimer (1890-1943) e seus discípulos Köhler e


Koffka.

O episódio inicial foi o problema da percepção visual do movimento que


Wertheimer chamou de phifenômeno.

A Gestalt sofre filosoficamente uma grande influência da Fenomenologia e sua


concepção de consciência intencional. Sendo assim a Gestalt preocupa-se com a descrição
da experiência imediata. Para a Gestalt não existe uma excitação sensorial isolada. A vida
mental não consiste numa soma de elementos simples, existe algo mais do que a adição de
partes elementares, que é a interpretação da situação, pela percepção da relação entre os
elementos.
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"Gestalt" vem a significar forma, estrutura. Significa um "conjunto de coisas que se


prendem , se apóiam e se determinam reciprocamene”. Refere-se a um padrão organizado,
ou um todo organizado, em contraste com uma coleção de partes. A maneira de ser de cada
elemento depende da estrutura do conjunto.

A Gestalt opõe-se ao Behaviorismo por ter um fundamento epistemológico de tipo


racionalista, ou mais precisamente, por pressupor a capacidade de conhecer (a gênese das
estruturas que possibilitam o conhecimento) é anterior à experiência, sendo fruto do
exercício de estruturas racionais pré-formadas no sujeito.

Pela Gestalt, o objeto não é percebido em suas partes para depois ser organizado
mentalmente, mas se apresenta primeiro em sua totalidade e somente depois o indivíduo se
atentará para as partes. O Todo é mais que a soma das Partes e cada elemento depende da
estrutura a que pertence. Para a Gestalt, um objeto nunca aparece que percepção tal como
existe em si. Ele é elaborado segundo as leis da boa forma: o sujeito estrutura
organicamente coisas apenas justapostas ou leva à perfeição formas apenas esboçadas.

A Gestalt admite a existência de um “campo total” onde organismo e meio entram


como dois polos correlativos. que constituem o verdadeira ambiente de ação. Um espaço se
estrutura de forma deferente se o percorro como faminto, fugitivo ou artista. Daí se vê o
quanto a psicologia da Gestalt se enraíza na Fenomenologia.

Para a Gestalt, a percepção é uma totalidade e toda tentativa de reduzi-la a


elementos, provoca sua destruição. Defendem que nossa percepção vai além dos dados
físicos oferecidos pelos órgãos sensoriais, sendo que um elemento novo se forma quando os
elementos sensoriais se conjugam.

A Gestalt, baseada filosoficamente na Fenomenologia, coloca-se primeiramente em


oposição às correntes positivistas, behavioristas e estruturalistas. A Gestalt afirmava que o
Estruturalismo e o Behaviorismo subestimavam o papel do indivíduo, principalmente nos
processos da percepção e da aprendizagem, , acreditando-o um "registrador" passivo dos
estímulos do ambiente. Opunha-se também à decomposição feita pelos estruturalistas dos
fenômenos mentais em elementos simples, e àquela feita pelos behavioristas do
comportamento complexo em pequenas unidades de reflexos ou respostas.. Essas
decomposições, afirmavam os Gestaltistas, destituíam de sentido o fenômeno estudado.

O todo se constitui como sendo mais que a soma das partes. A Fenomenologia
propõe a superação da dicotomia consciência/objeto, afirmando que toda consciência é
intencional, o que significa que não há pura consciência, separada do mundo, mas todas
consciência tende ao mundo. A consciência se dá na relação, pois toda consciência é
sempre consciência de algo, de alguma coisa. Da mesma forma, não há objeto em si,
independente da consciência que o percebe. Portanto, a primeira oposição que a
Fenomenologia faz ao Positivismo é que não há fatos com a objetividade pretendida., pois
não percebemos o mundo como um dado bruto, desprovido de significados; o m undo que
percebo é "um mundo para mim". Daí a importância dada ao sentido, à rede de
significações que envolvem os objetos percebidos. A consciência vive imediatamente como
doadora de sentido.
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A psicologia derivada da tendência empirista (como o Behaviorismo, por exemplo)


tentava reduzir a percepção a uma análise rigorosa até encontrar "o átomo" psíquico
fundamental. O mundo percebido pela criança, por exemplo, seria inicialmente uma grande
confusão de sensações, cujos fragmentos se organizariam trabalhosamente pelo processo de
associação, pela qual resultam por fim as percepções e depois as idéias.

A Gestalt também supõe a existência de um princípio isomórfico. O isomorfismo é


um princípio que explica que a forma, os caracteres gestálticos do fato perceptual, devem
corresponder a caracteres gestálticos idênticos no fato cerebral correlato. Há portanto uma
identidade estrutural entre a experiência fenomenal, isto é, os processos cerebrais que
correspondem à percepção, e seu correlato fisiológico.

Para Gestalt, nada há no sistema nervoso que prove a hipótese da constância das
vias nervosas (segundo a qual o impulso nervoso tem que percorrer os mesmos elementos
estruturais, as mesmas vias nervosas, como é concebido pela teoria conexista de E. L .
Thorndike). O sistema nervoso funciona como um todo, não existindo zonas especializadas
no cérebro. Todo o córtex cerebral, com exceção dos centros sensoriais e dos centros
motores, possui a mesma capacidade potencial de participar m qualquer hábito aprendido,
como qualquer outra área cortical. O córtex cerebral atual sempre como um todo.

Princípios da Organização Perceptiva


Na teoria da Gestalt, a percepção se orienta pelos princípios de organização. que
ocorrem instantaneamente sempre que ouvimos ou vemos diferentes formas e padrões.
Wertheimer formulou as seguintes leis da percepção:

a) Lei da Pregnância: a organização psicológica tende a seguir uma direção geral


sempre para o estado de pregnância, ou seja, da melhor Gestalt. A lei da pregnância impõe
ordem no campo perceptivo que inicialmente se encontra desorganizado. tendemos a ver
uma figura tão boa quanto possível, sob as condições do estímulo. Isso é chamado de boa
forma .

A lei da pregnância funciona como princípio orientador das cinco leis da


organização, que a ela se subordinam:

1) Proximidade: partes que estão juntas no tempo e no espaço parecem formar uma
unidade e tendem a ser percebidas juntas. Em condições iguais, os estímulos mais próximos
terão maior tendência de serem percebidos como grupo pelo indivíduo. Nem todos os
estímulos agrupados por proximidade têm de ser do mesmo tipo sensorial. Se, por exemplo,
ouvirmos simultaneamente um som alto e virmos uma luz brilhante, tendemos a percebê-
los como reunidos., como parte de um mesmo acontecimento.

2) Continuidade: há a tendência na percepção de seguir uma direção, de vincular os


elementos de uma maneira que os faça parecer contínuos ou fluindo nume mesma direção.
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3) Semelhança: partes semelhantes tendem a ser vistas juntas como se formassem


um grupo. Em condições iguais, os estímulos mais semelhantes entre si terão maior
tendência a se agruparem na percepção do indivíduo. "Semelhança" significa que os
estímulos sejam parecidos quanto às várias características físicas, tais como intensidade,
como tamanho, peso, odor. Assim, sons ou figuras semelhantes tendem a ser vistos ou
ouvidos em grupo, destancando-se de outros elementos diferentes.

4) Complementação ou Fechamento: tendência a completar figuras incompletas.

5) Figura/Fundo: tendemos a organizar percepções no objeto observado (figura) e


o fundo contra o qual ele se destaca. A figura parece ser mais substancial e destacar-se de
seu fundo. Há, em regra, uma tendência para o campo total se organizar em figura/fundo. É
como se estivesse em ação um processo no sentido de atingir um estado de equilíbrio, a
menor tensão, máximo de estabilidade configuracional, a melhor forma.

Uma boa Gestalt é: simétrica, simples, fechada, apresenta continuidade. A


atividade de impor uma boa Gestalt a um evento constitui uma tarefa psicológica, porque
não envolve qualquer mudança no ambiente físico.

Um exemplo significativo, de como essas leis da percepção funcionam de modo


interligado e automático, pode ser retirado do universo cotidiano de todos nós. Cada pessoa,
segundo a Gestalt, configura com o mundo uma relação específica. Vamos supor que uma
pessoa organizou suas experiências de vida dentro da seguinte Gestalt (conjunto de relações
que configuram uma totalidade): "ninguém me ama". No momento que essa organização do
mundo torna-se significativa, essa pessoa tenderá a ver suas relações a partir dessa Gestalt.
E para levar à perfeição essa Gestalt, ela tenderá, por exemplo a:

- reclamar que não é compreendida por ninguém, apesar de estar sempre à


disposição de todos, de ser amável, de ser agradável, de ser compreensiva.

- ficar extremamente possessiva e ciumenta com suas amizades, até chegar ao


ponto de os amigos se sentirem sufocados e se afastarem (o que confirmará a
configuração "ninguém me ama")..., e com o afastamento dos amigos essa
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pessoa sentir que por mais que se dedique aos outros, eles sempre a
decepcionam.

Ou seja, tendo como figura o não-amor, ela verá as expressões de apreço e carinho
como sendo fundo, pois é a figura (o não-amor) que se destaca em sua percepção
das coisas. E mesmo em situações onde não tenha certeza dos sentimentos do outro,
tenderá a complementar e continuar suas relações tendo como parâmetro a
configuração "ninguém me ama". Essa pessoa então levaria sua figura à perfeição,
ou seja, tenderia a complementar, continuar e configurar os estímulos que lhe são
próximos como sendo "não-amor". O mesmo acontece com relação a nossas
crenças, por exemplo, religiosas. Os cristãos, budistas, judeus e muçulmanos
dificilmente se entendem por percebem o mundo a partir da organização de
relações, ou Gestalt, de suas próprias crenças. Sendo assim cada religião configura o
mundo de uma forma, realiza com o mundo uma dada Gestalt que pode parecer
irracional, errada, absurda a outras religiões. Por exemplo, os egípcios enterravam
seus mortos junto a tesouros, comidas, vestes, além de escolherem soldados para
morrerem a fim de protegerem o Faraó na "outra vida". Os cristãos enterram seus
mortos em caixas de madeira. Os budistas tibetanos oferecem seus mortos aos
abutres. Cada prática dessas corresponde a uma configuração de relações com o
mundo, configurações essas que proporcionam um entendimento da realidade e dos
fatos da realidade.

O Insight
Em 1917, o termo Insight foi incorporado ao Gestaltismo por Köhler. Surge a partir
do seu trabalho com relação a como macacos resolvem determinados problemas. Ele
considerou a resolução de problemas como sendo uma reestruturação do campo perceptivo.
Os macacos estabeleciam, por exemplo, uma nova relação entre as varas e a fruta. Uma
fruta distante, inalcançável se se tentasse atingi-la com apenas uma vara, poderia ser
alcançada caso se unissem duas varas. Mas a solução desse problema não era para Kohler
apenas uma questão de ensaio e erro e sim de uma nova percepção de relações, o
estabelecimento de uma nova Gestalt, uma nova totalidade de relações significativas.

Diante disso, a solução de problemas via insight difere dramaticamente da


aprendizagem por ensaio e erro descrita por Thorndike (a exemplo do que já foi explicado,
em que Thorndike utilizou de um alçapão onde prendeu um gato e estudou as tentativas do
animal de resolver sua dificuldade, saindo do alçapão). Köhler afirmou que o gato na caixa-
problema de Thorndike não podia explorar todo o mecanismo de libertação (todos os
elementos pertencentes ao todo), sendo que dessa forma só podia se comportar em termos
de tentativa e erro. Na visão da teoria da Gestalt, antes que o Insight possa acontecer, o
organismo tem que Ter a capacidade de ver os relacionamentos entre os vários elementos
do problema.
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Esses estudos de Köhler sustentam a concepção molar (totalidade) do


comportamento proposta pelos Gestaltistas , em oposição à visão molecular (elementarista,
S-R) promovida pelos associacionista e comportamentalistas.

Então, quando o indivíduo encontra uma situação problemática e consegue


estruturá-la, isto é, formar uma Gestalt, diz-se que ocorreu um insight

A preocupação básica refere-se às condições que possibilitam a descoberta de


respostas adequadas aos problemas propostos. Esse descoberta é sempre feita por meio de
insight. O insight é uma apreensão ou compreensão aparentemente espontânea de relações
perceptivas. A aprendizagem ocorre quando o sujeito percebe a situação de maneira
significativa., como uma Gestalt (uma forma estruturada, organizada). A organização
perceptual dos elementos é sempre feita no sentido de formar uma boa figura.

Há três principais fatores que interferem no aparecimento da experiência do insight:


. a experiência passada: Os Gestaltistas lidam com o aqui-agora (formação de
totalidades na experiência imediata), e enfatizam que a aprendizagem depende da
situação presente, estando sujeita a todas as leis de organização do padrão de estímulos. A
experiência passada pode criar uma disposição para que a percepção seja organizada de
determinada maneira. Assim, a freqüência com que o percepto já ocorreu, pode favorecer o
aparecimento de uma freqüência para organizar os estímulos semelhantes de acordo com
aquele padrão. Todavia, a força do padrão atual do estímulo e a necessidade do indivíduo
naquele momento, podem enfraquecer os efeitos da experiência passada. A Gestalt admite
que a experiência passada pode influir na percepção, mas não a afirma como condição
necessária para tal. A experiência passada representa uma representação do mundo por
parte do indivíduo. Todavia, de acordo com a configuração presente que o indivíduo
realizar, ele pode mudar sua própria configuração da experiência passado, mudar a forma
de ver determinada experiência passada e, dessa forma reconfigurar o que passou,
reinventado o seu passado e dando a este um novo significado
. a configuração atual dos estímulos: A experiência de Insight é melhor
potencializada se a situação apresentar-se "arrumada" de modo que seus aspectos essenciais
possibilitem a respectiva observação e estruturação do campo. A formação de uma Gestalt
resulta tanto do processo inerente ao organismo de tender a uma boa forma (lei da
pregnância), como do padrão estrutural do meio. As partes a relacionar serão reunidas mais
prontamente se estiverem simultaneamente presentes no campo perceptual (ex: uma criança
abre uma caixa mais prontamente se o fecho estiver visível do que se o mesmo achar-se
escondido)

. capacidade do indivíduo: Com relação à capacidade do indivíduo, os Gestaltistas


consideram que as pessoas inteligentes têm maior facilidade para alcançar insights,
possuindo assim maior sucesso em aprendizagens complexas e abstratas.
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O comportamento de tentativa, também chamado de ensaio e erro também está


presente na solução por insight. Entretanto, tal tentativa não se trata de uma ação às cegas
ou mera repetição de comportamentos anteriores, mas sim uma busca inteligente,
envolvendo a seleção das respostas bem sucedidas para se chegar a uma solução.

Os psicólogos da forma, estão convencidos de que é possível superar o nível da pura


compreensão e elaborar leis gerais explicativas. Na base dessa convicção estão as crenças
na existência de leis universais da organização dos campos perceptivos e no isomorfismo
psico-físico. Ou seja, eles tentaram desenvolver uma teoria dos correlatos neurológicos
subjacentes de Gestalt percebidas. Os psicólogos da Gestalt compararam a percepção a um
mapa, que é idêntico (iso) em forma (mórfico) àquilo que representa, embora não seja uma
cópia literal do território que representa. Sendo assim o cérebro - como elemento orgânico -
também é regido por leis como figura-fundo, semelhança, pregnância, etc. Há uma
correspondência entre a experiência psicológica e a experiência cerebral subjacente.

O Dr. Luís Cláudio de Figueiredo alerta para a tendência positivista da Gestalt,


quando ela abraça uma verdade geral para a percepção ( a lei da boa forma) e dita a
qualidade da percepção (simétrica, simples e estável):

“A sua universalidade asseguraria a viabilidade da tarefa científica de descrever objetivamente e


explicar o comportamento alheio. As leis do espírito e do comportamento - como a ‘lei da boa
forma’ que se refere à tendência estilizante dos processos cognitivos que se dirigem sempre para a
estruturação mais equilibrada e agradável do campo - não são, ademais, distintas das leis
fisiológicas. A tese do isomorfismo sustenta a completa equivalência estrutural entre processos
psicológicos e processos fisiológicos; e mais, apontam-se na matéria inorgânica estruturas físicas
análogas às estruturas espirituais. O conceito de Gestalt para a unificar todos os reinos da natureza
e do espírito, todos os objetos das diversas ciências.

O isomorfismo psicofísico cumpre assim a função de expulsar a subjetividade que havia inicialmente
introduzido através da descrição e compreensão da experiência imediata.

Nessa tese se consuma o rompimento da Psicologia da forma com as ciências morais ou do espírito
e, em que pesem as muitas verbalizações em contrário, se revela a índole positivista da Gestalt."

Comparando as teorias derivadas do Positivismo com a Gestalt, temos que tanto


uma quanto a outra tratam de modo reducionista as relações existentes entre sujeito e os
objetos de conhecimento. Em ambas as abordagens nega-se a indissociabilidade entre
sujeito e objeto. A corrente positiva, por exemplo nega o sujeito que conhece. Já a Gestalt,
elegendo leis da percepção (que são pré-formadas, anteriores a qualquer experiência com o
meio)nega também as qualidades e singularidades do sujeito que conhece.
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Frederick S. Perls (Fritz Perls) - 1893/1970


Perls foi um psiquiatra alemão que em seu trabalho buscou enfatizar a importância
de se observar o organismo humano como um todo, ao invés de considerá-lo como sendo
um aglomerado de partes.

Tendo tido forte influência da Psicanálise, Perls contudo rompe com o movimento
psicanalítico por considerar sua técnica e sua teoria por demais obscuras. Perls dizia que a
Psicanálise não levava em consideração o indivíduo em sua totalidade, em sua relação
recíproca com o ambiente circundante.

Perls estava preocupado em observar o indivíduo sem fragmentar a experiência do


existir. A Psicanálise, por sua vez, estabelecendo um mundo da consciência e outro da
inconsciência, divide o humano em esferas de acesso diferenciados, o que Perls não
concordava.

Os conceitos principais da construção teórica de Perls seriam:

 A noção do Organismo como um todo

Considerava que qualquer aspecto de manifestação de comportamento de um


indivíduo pode ser considerado como uma manifestação da totalidade do ser da
pessoa. Então o que a pessoa faz (como se movimenta, como conversa, como
gesticula, como escreve, como sorri) fornece tanta informação (ou mais) do
indivíduo quanto a linguagem verbal. Com isso, temos que Perls não fazia uma
distinção corpo/mente. Não fazendo ele separação entre vida física e vida mental,
não fazia também distinção entre mundo interno e mundo externo. Cada organismo
cria reciprocamente com o meio uma Gestalt, uma configuração de mundo..., mas é
o organismo inteiro que participa dessa configuração, não sendo a mesma restrita
apenas a questões inconscientes reprimidas e traumáticas.

 Ênfase no "Aqui-Agora"

Preocupação com a percepção presente e imediata que o indivíduo tem de seu meio.
Ao contrário do que postula a Psicanálise, Perls acredita que nada é realmente
reprimido, sendo que as Gestalts, as configurações relevantes, estão sempre
emergindo no momento presente. Todos os nossos traumas e dificuldades estão
presentes agora, neste instante, e se transparecem a partir de uma infinidade de
configurações de ação que estabelecimento com o universo que nos rodeia.

 Preponderância do "como" sobre o "porque"

Uma relação causal (causa efeito) não existe entre elementos que formam uma
totalidade. Em uma Gestalt, todo elemento causa e é causado por outros. Assim, em
uma visão da personalidade pela Gestalt, a ênfase está em se ampliar
constantemente a consciência da maneira como a pessoa se comporta e não na
análise dos porquês do comportamento. O comportamento de uma pessoa só pode
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ser entendido como parte de uma totalidade e não como causa dessa totalidade.
Sendo assim, a análise do comportamento de determinado indivíduo tem que se dar
tendo consciência do conjunto de relações que esse indivíduo estabelece com os
outros indivíduos. Um comportamento ao ser analisado de forma isolada não
permite que se veja a totalidade em que ele está inserido e que lhe dá sentido.

 Conscientização

É um "tornar-se presente". É estar continuamente consciente da totalidade da


experiência no momento presente. A situação inacabada mais importante sempre
emerge se a pessoa estiver consciente da experiência de si mesma a todo momento.
É necessário apenas estarmos conscientes do que estamos experimentando a cada
instante. É um estar inteiro na experiência. O indivíduo só se realiza ao se perceber
como uma totalidade não fragmentária e agindo no presente.

Em termos de personalidade, Perls considera que "somos quem somos". Maturidade


e saúde mental envolve assumirmos isso em vez de ficarmos tomados por expectativas do
que deveríamos ser ou gostaríamos de ser. "Eu sou o que sou e não posso ser diferente do
que sou". Procurar ser o que não se é significaria negar a experiência do presente e do
próprio ser, dissociando-se o indivíduo de si mesmo. O indivíduo cresce é na percepção da
totalidade das relações em que está envolvido (vendo-se como causa e causante dessas
relações) e não negando a si mesmo.

Em termos de sonhos, Perls ressalta que eles são importantes não tanto no sentido
de realização de desejos inconscientes reprimidos, mas por serem mensagens existenciais
do indivíduo para ele mesmo. Tudo no sonho diz respeito à pessoa como um todo
(inclusive a paisagem e os mínimos detalhes percebidos). Em vez de se interpretar o sonho,
Perls sugere que o mesmo seja encenado como parte da realidade presente. Tudo no sonho
é parte do sonhador e representa uma gestalt, uma configuração do momento atual do
sonhador.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
HILLIX, A . W. - Sistemas e Teorias em Psicologia
Editora Cultrix, 9ª edição, São Paulo, 1993.

FADIMAN, J. - Teorias da Personalidade


Editora Harbra, São Paulo, 1986.

SCHULTZ, D. P. - História da Psicologia Moderna


Editora Cultrix, 5ª edição, São Paulo, 1992

PONTY, M. M. - O Primado da Percepção e suas conseqüências filosóficas


Papirus Editora, 1ª edição, São Paulo, 1990

FIGUEIREDO, L. C. M. - Matrizes do Pensamento Psicológico


Editora Vozes, 2ª edição, Petrópolis, 1993

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