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Políticas setoriais

e políticas
setoriais
contemporâneas
Políticas setoriais
e políticas setoriais
contemporâneas

Maria Lucimar Pereira


Rodrigo Eduardo Zambon
© 2018 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Pereira, Maria Lucimar


P436p Políticas setoriais e políticas setoriais contemporâneas /
Maria Lucimar Pereira, Rodrigo Eduardo Zambon. – Londrina:
Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018.
160 p.

ISBN 978-85-522-0316-2

1. Administração. I. Zambon, Rodrigo Eduardo. II. Título.

CDD 352.081

2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Unidade 1 | Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de
direitos______________________________________________________________ 7

Seção 1 - Anos de 1980: da década perdida à Constituição Federal de 1988 11


1.1 | A década perdida: o aumento da desigualdade social e as mobilizações da
sociedade________________________________________________________ 11
1.2 | A mobilização pelas Diretas Já_____________________________________14

Seção 2 - A nova constituição e a participação da sociedade_____________ 17


2.1 | A conquista da sociedade para a participação na Constituinte_____________17
2.2 | A construção federal como produto de conquista popular________________21
2.3 | Os direitos sociais consagrados na Constituição Federal de 1988_____________
23
2.4 | A Constituição do Estado de direito democrático______________________ 25

Seção 3 - A participação e controle social como conquista de cidadania e


democracia______________________________________________________ 29
3.1 | Espaços de participação e controle_________________________________ 30
3.1.1 | Os conselhos gestores como espaços democráticos__________________ 31

Unidade 2 | Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde,


álcool e drogas_______________________________________________________ 43

Seção 1 - Política setorial de trabalho_________________________________ 46


Seção 2 - Política setorial de educação________________________________52
2.1 | Política setorial de educação______________________________________ 52
Seção 3 - Política setorial de habitação________________________________59
Seção 4 - Política setorial de saúde___________________________________65
4.1 | Política setorial de saúde_________________________________________ 65
Seção 5 - Política setorial de álcool e drogas___________________________ 70

Unidade 3 | Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso,


pessoa com deficiência________________________________________________ 83

Seção 1 - Política setorial de família___________________________________86


Seção 2 - Política setorial de crianças e adolescentes______________________92
Seção 3 - Política setorial da pessoa idosa_______________________________ 100
Seção 4 - Política setorial da pessoa com deficiência_____________________103
4.1 | Política setorial pessoa com deficiência_______________________________
103

Unidade 4 | Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais


(quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes_________________ 115

Seção 1 - Políticas públicas para o público lésbica, gay, bissexual, travesti,


transexual e transgênero – LGBTTT__________________________________ 119
1.1. | Violências e garantia de direitos____________________________________119

Seção 2 - Comunidades tradicionais e as políticas públicas______________ 131


Apresentação
O livro Políticas Setoriais e Políticas Setoriais Contemporâneas
tem por objetivo apresentar a dinâmica das políticas setoriais no
Brasil, especialmente aquelas que foram regulamentadas a partir
da Constituição Federal de 1988. As unidades propõem provocar a
reflexão sobre as mudanças no campo da proteção social, do direito
do cidadão e da responsabilidade do Estado.
É necessário e urgente que os alunos do curso de Serviço Social
conheçam o processo e a trajetória da construção das políticas sociais,
bem como seu arcabouço jurídico, considerando que é neste contexto
que se executa a ação profissional.
A primeira unidade do livro apresenta o contexto político, econômico
e social no período marcado pelo processo de mobilização e
reinvindicação que levou à aprovação da Constituição Federal de 1988,
bem como aos avanços no campo da proteção social, especialmente
com a ampliação e universalização dos direitos sociais e da política de
seguridade social.
Na Unidade 2, você poderá realizar uma aproximação introdutória
acerca de algumas políticas sociais setoriais em seu contexto legal
e suas propostas de efetivação na esfera da política pública. Vamos
apreender brevemente o contexto das políticas sociais setoriais de
trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas.
Na Unidade 3, você poderá realizar uma aproximação introdutória
acerca das políticas sociais setoriais de família, criança e adolescente,
idoso, pessoa com deficiência, em seu contexto legal e suas propostas
de efetivação na esfera da política pública.
Na Unidade 4, e última deste livro, serão apresentados para a você
os direitos dos grupos minoritários da sociedade, tais como as pessoas
lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros – LGBTTT
–, e as populações indígenas e quilombolas. Ainda nesta unidade
também será registrado o processo de reconhecimento e promoção
destes direitos fundamentais destas populações historicamente
excluídas no Brasil.
Desejamos que este conteúdo venha ao encontro da necessidade
de aprendizagem dos alunos e contribua para somar com os
conteúdos já estudados e, sobretudo, aprimore o olhar e a ação dos
futuros profissionais de Serviço Social.
Tenha um ótimo estudo!!!
Unidade 1

Redemocratização da
sociedade brasileira e a
conquista de direitos
Maria Lucimar Pereira

Objetivos de aprendizagem
A primeira unidade do livro Políticas Setoriais e Políticas Setoriais
Contemporâneas tem como objetivo de aprendizagem apontar para
os alunos os acontecimentos anteriores à aprovação da Constituição
Federal de 1988, bem como os cenários político, econômico e social.
Discutiremos nesta mesma unidade sobre os avanços contidos neste
documento legal, que possibilitou as condições para a construção
do processo de proteção social no país no campo legal.

Seção 1 | Anos de 1980: da década perdida à Constituição Federal de 1988


Na primeira seção da unidade serão abordados os antecedentes da
promulgação da Constituição Federal de 1988, destacando os cenários político,
econômico e social da década de 1980 e a mobilização da sociedade para as
“Diretas Já” para eleições presidenciais neste mesmo período.

Seção 2 | A nova Constituição e a participação da sociedade


A segunda seção apresentará o processo da Constituinte, a trajetória da
elaboração da Constituição Federal de 1988 e a participação da população na
elaboração do texto constitucional e na conquista de direitos elementares do
cidadão.

Seção 3 | A participação e controle social como conquista de cidadania e


democracia
A terceira seção tratará dos avanços alcançados e registrados na Constituição
Federal de 1988 no que se refere aos direitos de participação da sociedade civil
na gestão das políticas públicas, destacando os espaços de exercício de controle
social disponibilizados constitucionalmente.

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 7


8 U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos
Introdução à unidade
A última versão da Constituição brasileira foi promulgada em 5 de
outubro de 1988, depois de muita mobilização popular. Nela constam
os direitos sociais essenciais ao exercício da democracia e da cidadania
quando estabeleceu os mecanismos para o cumprimento dos referidos
direitos sociais e criou instrumentos que garantiram a participação da
sociedade na gestão das políticas sociais.
A Constituição Federal de 1988 representou um importante marco
na conquista dos direitos. Por isso também foi conhecida, inclusive
mundialmente, por Constituição Cidadã.
Raichelis (2006) destaca que para chegar neste produto, houve
uma participação em massa dos movimentos sociais formados
por estudantes, trabalhadores, entidades sociais, partidos políticos,
sindicatos e outros no período de sua elaboração, o chamado, período
da Constituinte. Este processo de participação da sociedade passa a
ganhar importante espaço também na própria Constituição, pois passa
a ser uma diretriz e um direito a ser exercido pelos cidadãos brasileiros
além de ganhar novos contornos e dimensões na esfera pública.
Vale destacar que o processo de mobilização da sociedade que
culminou na aprovação da Constituição Federal iniciou na década
anterior, ou seja, na década de 1980, na contraposição ao regime
ditatorial que acontecia no Brasil desde 1964 que se fortaleceu
com o Movimento pelas “Diretas Já”. Este último movimento foi um
importante marco político no processo da mobilização da sociedade,
pois movidas pelo desejo de voltar a eleger o presidente, milhões de
pessoas ocuparam as ruas, praças e outros espaços públicos exigindo
eleições diretas para presidente da República.
No desdobramento das lutas, os movimentos também se
organizavam em torno do direito de condições elementares de vida,
por direitos sociais básicos a todo cidadão e por políticas sociais
implantadas para que pudessem acessar esses direitos e ainda pelo
direito da participação, considerando os anos de exclusão das decisões
acerca das questões políticas do país.
O resultado deste processo foi o maior avanço no campo social de
todas as constituições brasileiras, pois ampliou o conjunto de direitos

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 9


civis e políticos e abrigou o conjunto de direitos sociais, iniciando o
sistema de proteção social universal. Dentre eles, os direitos sociais
mais destacados foram a saúde, como direito universal, e a assistência
social, como política pública não contributiva, consolidando-se, assim,
em termos legais, direito do cidadão e dever do Estado.

10 U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos


Seção 1
Anos de 1980: da década perdida à Constituição
Federal de 1988
Introdução à seção

Os anos 1980 foram chamados pelos economistas de década


perdida devido à estagnação no desenvolvimento econômico vivido
tanto no Brasil como em países da América Latina. Essa estagnação
na produção industrial provocou uma das maiores crises econômicas
representada pela inflação alta, desemprego e, consequentemente,
impactou no aumento (histórico) da desigualdade social.
Entretanto, a década de 1980 também foi marcada por importantes
mobilizações para a história do país. As pressões para o fim da ditadura
militar, para as eleições para presidente da República e para uma
Constituição que atendesse às necessidades da população.

1.1 A década perdida: o aumento da desigualdade social e as


mobilizações da sociedade

A década de 1980 é chamada tanto no Brasil como na América


Latina como a “década perdida”, especialmente no âmbito da
economia. A queda da produção industrial que levou à estagnação de
grande parte da indústria, consequentemente, levou ao desemprego,
até então nunca visto na história brasileira. Paralelo a tudo isso, ainda
tinha a questão política.
Em 1985 finda o Regime Ditatorial Militar, que perdurou no Brasil
de 1964 a 1985, pelo menos oficialmente. Assim, inicia, neste período,
a construção do processo de redemocratização do Estado de Direito
Democrático. Como define Faquin (2010), o Estado Democrático de
Direito vige um conjunto de leis, através do qual todos os cidadãos
são considerados iguais e o Estado só pode atuar conforme o que
está prescrito em leis. Como cidadãos, as pessoas têm seus direitos
garantidos.
O crescimento do Produto Interno Bruto – PIB – caiu
expressivamente comparando a década de 1970, que foi de 7%, e de

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 11


1980, que foi de 2%. Além disso, as taxas de juros da dívida externa, que
já vinha aumentando no período da ditadura militar, fizeram crescer
ainda mais a dívida do Brasil com instituições financeiras americanas.
Mestriner (1992) afirma que neste período o Brasil vivenciou muitas
crises, como a econômica, a financeira, a política, a social, a do Estado
e a de credibilidade, e destaca que os altos índices da inflação e do
desemprego levaram 40% da população à situação de pobreza.
A área social foi vítima diretamente das consequências da economia
nacional e para piorar a situação da população, acrescente-se a herança
das desigualdades sociais provocadas pelo “milagre econômico
brasileiro” de 1968 a 1973.
Milagre Econômico foi o nome dado a um período de crescimento
econômico durante o período da ditadura militar no Brasil. Apesar da
economia ter crescido consideravelmente, este mesmo período não
registrou melhora alguma nas condições de vida da população, aliás,
registra-se aumento nas desigualdades sociais com a concentração de
renda para a população mais rica.
A dívida social na década de 1980 é a soma da forma como a
condução da política econômica, em detrimento da política social, foi
conduzida nas últimas décadas.
O aumento do desemprego, como consequência da estagnação
da indústria e da alta da inflação, influenciou ainda mais a dramática
situação em que vivia a população, repercutindo nas carências sociais.
Entre as piores situações encontravam-se a desnutrição, o aumento da
mortalidade infantil nas áreas mais pobres, das doenças endêmicas, da
favelização urbana, e a baixa taxa de escolarização.
O aumento das demandas sociais era dinâmico e a oferta de bens
e serviços públicos estava muito aquém da necessidade apresentada.
Para agravar ainda mais o quadro, o governo federal recuou na política
de investimentos sociais e em infraestrutura, e adotou medidas de
controle austero do orçamento público.
Draibe (1988) destaca que esta forma de gestão do Estado
rapidamente teve reflexos no campo das políticas sociais no sentido
negativo. O orçamento da política de educação teve seu orçamento
limitado e percentual fixo, isso fez com que logo perdesse a capacidade
de investimento e abortasse as metas de médio e longo prazo que
foram anteriormente planejadas para o sistema educacional.
A restrição financeira também atingiu outras áreas sociais, como

12 U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos


o sistema previdenciário, que diante das restrições financeiras
impostas pela política econômica, redimensionou as porcentagens
de arrecadação e limitou os benefícios pagos, justificando que seria a
forma para manter o equilíbrio orçamentário.
Draibe (1988) reforça ainda que a forma seletiva das políticas sociais
daquele período foi mais marcante devido ao conjunto de medidas
administrativas, que a partir delas passaram a regular o acesso aos
direitos sociais que estavam previstos na legislação vigente.
Para o governo, a forma para a retomada das condições econômicas
necessitaria da determinação de um contingenciamento no consumo
da população, pois isso levaria à geração de poupança interna que
seria capaz de disparar os níveis de produção da economia nacional.
A estratégia era clara. Sequer era anunciado alguma proposta de
combate à pobreza, bem como para melhorar as condições de acesso
da população pobre, vítima das políticas econômicas e das políticas
públicas.

Questão para reflexão


A década de 1980 foi marcada pela intensa crise econômica e também
pelo fim da ditadura militar que perdurou no Brasil de 1964 a 1985.
O retorno do processo democrático permitiu uma reorganização do
movimento social, num patamar nunca visto até aquele momento, mas
as opiniões se dividem: esta década foi de fato uma “década perdida”?
Apesar da crise política e da estagnação da economia, quais dos
indicadores que esta década pode ter sido a alavanca para as conquistas
fundamentais?
Para contribuir com a reflexão sugerimos a leitura do texto: Anos 1980,
década perdida ou ganha? Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/
desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2759:catid
=28&Itemid=23>. Acesso em: 18 jun. 2017.

Era evidente que a condução política e econômica do regime militar


havia agravado as condições de vida da população, especialmente
das classes subalternizadas. As situações que mais provocaram a
instabilidade na sociedade foram o crescimento do endividamento
da Brasil frente às instituições financeiras americanas, a queda do
PIB e o arrocho salarial, pois derrubavam por terra o discurso de
desenvolvimento dos governos militares e cada vez mais a população
aumentava sua insatisfação com relação ao governo.

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 13


Essas insatisfações somadas a outros fatores levaram vários setores
da sociedade a expressar-se nas ruas e em espaços públicos. Assim
ressurgiram os movimentos sociais contestando as políticas do
governo e do regime.

1.2 A mobilização pelas Direitas Já


O processo de construção de um Estado Democrático perpassa
vários fatores que contribuem e impulsionam. O movimento pelas
“Diretas Já” constitui um destes devido à sua grande relevância para a
política contemporânea brasileira. Este processo fez parte da abertura
política, da participação e mobilização popular e da construção do
sentimento de pertencimento e nacionalismo que se mobilizou em
torno das eleições diretas para presidente da República.
Este movimento marcou a história do Brasil. Milhões de brasileiros
foram para as ruas, em todos os estados brasileiros, movidos pelo
desejo de eleger o presidente depois de mais de duas décadas de
regime ditatorial, em que este direito foi cerceado.
Bazaga (2013) relata que muitos comícios foram realizados em
todo país. O que teve a maior concentração de pessoas foi na Praça
da Sé, em São Paulo, em 1984, com a presença de 1.500.000 pessoas.
Este evento teve a participação de operários, estudantes, intelectuais,
artistas, políticos que reforçaram a importância da mudança.

Para saber mais


Para saber mais sobre a mobilização do movimento da sociedade em
torno da reivindicação por eleições diretas para presidente da República
no Brasil, acesse o documentário “Diretas Já” que mostra alguns
momentos de concentração da população em comícios com políticos,
artistas, trabalhadores.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=6uD8xQ9aoWM>.
Acesso em: 18 jun. 2017.

As mobilizações e pressões populares movidas em torno


das eleições diretas provocavam o então presidente, o Sr. João
Figueiredo, a tomar medidas de repressão contra essas manifestações,
principalmente nos grandes centros, já que eram neles que mais se
concentrava a organização popular. As medidas do governo consistiam

14 U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos


na força policial, inclusive com as forças armadas controlando todos os
espaços, o exército nas ruas e a aeronáutica no espaço aéreo.
No dia 25 de abril de 1984 foi a votação da emenda Dante de
Oliveira, que previa a alteração da Constituição Federal de 1969 para o
restabelecimento das eleições diretas, ou seja, direito de a população
eleger o presidente da República.
Neste dia faltaram 22 votos para a aprovação desta emenda. Foram
298 votos a favor, 65 contrários, 113 deputados não compareceram
para votar e 3 se abstiveram. Por tratar de uma emenda constitucional
eram necessários dois terços dos votos, ou seja, 320 votos.
Este dia foi de grande confronto entre governo e movimentos
sociais. O Presidente João Figueiredo manteve a capital, Brasília, em
estado de sítio, a sede da Ordem dos Advogados do Brasil foi fechada
pelo exército e a cidade de Goiânia e outras nos arredores foram alvo
de medidas semelhantes.
A derrota da ementa provocou importante debate para a transição
política no Brasil no que se refere à democracia, pois de um lado
destacou o regime militar que estava desmontando devido ao
desgoverno e a desarticulação da sua base política no congresso, e
por outro, o movimento de oposição a este governo e regime que
se encontravam em uma situação privilegiada devido à mobilização
da população que clamava por avanços no campo social. Além disso,
era necessário buscar uma solução para as crises de forma negociada,
correndo o risco de trair a confiança e vontade popular e continuar
a reproduzir as conciliações que beneficiavam a elite como fora
historicamente.
Em 1985, aconteceu a eleição indireta para presidente. O eleito
pelo Congresso Nacional, em janeiro de 1985, foi Tancredo Neves,
entretanto, ele não chegou a governar, devido ao seu falecimento em
21 de abril de 1985. Quem assumiu, então, foi o vice, José Sarney, que,
durante o seu mandato (1985-1990), manteve aproximação com as
Forças Armadas para ter respaldo político (NOZABIELLI, 2008).
O início do processo de transição democrática foi complicado, pois
o presidente que tomou posse tinha uma história de aproximação com
o regime que a oposição se esforçou por anos para acabar.
O governo Sarney foi dinâmico no que se refere às tentativas
de estabilização da economia. Em março de 1986 apresenta uma
reforma radical trocando a moeda do país que até então era Cruzeiro,
passando-a para Cruzado, além disso congelou os preços e salários o
que atingiu o sistema de cálculo da inflação. Esta era a grande meta.

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 15


Foi neste governo que se elaborou e aprovou a Constituição Federal
de 1988. Nesta nova Constituição foi atendido o grande apelo político
dos movimentos sociais: eleições diretas para presidente da República.
Definiu-se que a partir da próxima eleição a população elegeria o novo
presidente.

Atividades de aprendizagem
1. A década de 1980 ficou conhecida no Brasil e nos países latinos como
a “década perdida”, especialmente no âmbito da economia. Qual foi o
principal fator que provocou esta situação?
a) A dificuldade de escolha na profissão por parte dos estudantes.
b) A violência cometida por parte do regime militar.
c) A queda da produção industrial.
d) A cassação dos políticos corruptos.
e) A queda do regime nazista em países europeus.

2. Foi apresentada uma Emenda Constitucional em 1982 que propunha


a alteração na Constituição Federal com o objetivo de realizar eleições
diretas para presidente da República em 1985. Isso era necessário, pois a
Constituição da época havia sido elaborada durante a ditadura militar e nela
estava suspenso o direito à escolha deste cargo por parte da população.
Como ficou conhecida esta emenda?
a) Emenda Tancredo Neves.
b) Emenda Delfin Neto.
c) Emenda João Figueiredo.
d) Emenda Dante de Oliveira.
e) Emenda Paulo Maluf.

16 U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos


Seção 2
A nova constituição e a participação da sociedade
Introdução à seção

Atualmente, a expressão ‘participação popular’ está em todas


as partes: nas orientações das políticas públicas, nas organizações
privadas e nos programas de governo de todos os partidos políticos.
O direito à participação que temos nos dias de hoje é resultado do
processo que foi se construindo desde meados da década de 1970,
quando surgem os novos movimentos sociais. Foi com a Constituição
Federal de 1988 que consagrou a relevância da sociedade intervir na
gestão ‘das coisas públicas’ a partir da instituição de vários mecanismos
que possibilitaram a participação e o controle social.

2.1 A conquista da sociedade para a participação na Constituinte


A história política do Brasil é recheada de manifestações populares
particulares. Com o golpe militar de 1964 e os 21 anos de ditadura
militar, a conjuntura política e social foi radicalmente alterada. Até o
final da década de 1950 e os primeiros anos da década de 1960, as
lutas populares multiplicavam-se. Destacam-se, neste período, os
movimentos urbanos pela casa própria, pela redução da tarifa do
transporte coletivo, por serviços públicos e, no meio rural, o movimento
pela reforma agrária (ROCHA, 2008).
Até a década de 1960 a participação nas políticas sociais limitava
a “cidadania regulada”, sendo que os símbolos das políticas sociais
eram a carteira de trabalho e a previdência social, pois apenas o
trabalhador era reconhecido como cidadão. Entretanto, não eram
todos os trabalhadores, havia a especificidade. A profissão deste
trabalhador deveria ser reconhecida e ter um sindicato e este deveria
ser reconhecido pelo Estado para poder atuar. Além disso, outro
indicador para ser cidadão era necessariamente ser contribuinte do
sistema previdenciário.
Durante o regime militar, a estratégia de atuação das políticas
sociais foi no sentido de ampliar a intervenção do Estado, alargando
a capacidade da gestão governamental que favorecia as classes

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 17


sociais mais altas em detrimento das classes mais baixas, situação que
acentuou enormemente a desigualdade social na segunda metade
do século XX. O período da ditadura militar foi de apropriação do
espaço público. Os interesses de alguns setores da sociedade, como
os políticos e empresários, tinham acesso privilegiado às decisões
das políticas sociais centralizadas. Essa dinâmica de funcionamento
das políticas sociais distanciava-se do objetivo do combate à miséria
(ROCHA, 2008).

Questão para reflexão


A participação social na gestão das políticas públicas é recente na história
do Brasil. Esta conquista também é social e faz parte da construção
da proteção social ao longo do século XX. Para chegar no arcabouço
que se tem atualmente, quais os principais desafios enfrentados nesta
jornada?
Para contribuir no processo de reflexão, sugerimos a leitura do
texto: A participação social como processo de consolidação da
democracia no Brasil, disponível em: <http://cebes.org.br/site/wp-
content/uploads/2014/03/A-Participacao-Social-como-processo-de-
consolidacao-da-democracia-no-Brasil.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2017.

O marco mais expressivo de participação popular brasileira originou


no seio da resistência contra o regime a partir dos anos de 1970 e
durante os anos de 1980. Neste contexto surgem novos movimentos
populares que se reorganizam em torno das demandas urbanas,
sendo que estes foram iniciados antes do golpe militar e fortalecidos
na década de 1980 com a crise política, econômica e social. As
maiores reivindicações eram em torno de direitos sociais básicos,
como educação, saúde, moradia, saneamento básico e condição de
deslocamento, ou seja, transporte.
Na história contemporânea do Brasil estão registrados mais de 20
anos vividos sob o regime autoritário da ditadura militar. Nesta ocasião,
a participação em espaços políticos era totalmente limitada, em
caso de discordar com o regime era impossível contar com espaços
disponíveis e autorizados, entretanto, essas situações não impediram
a exploração de espaços para além dos oficiais e controlados. A partir
disso, uma multiplicidade de experiências participativas surgiu no seio
da sociedade.

18 U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos


O regime militar reprimia todas as organizações e expressões
políticas contrárias ao regime, controlava e restringia a liberdade de
expressão e das formas de organização de indivíduos e grupos. Por
isso, inicialmente, as lutas eram às escondidas, especialmente nos
primeiros 10 anos. Mesmo com as perseguições ainda havia espaços
de mobilização e debate sobre a sociedade brasileira e seus contextos.
Esses espaços foram ocupados por milhares de organizações em
pouco tempo, tanto no campo formal como informal. Ao final da
década de 1970 apontam novas expressões de mobilizações a partir
das comunidades eclesiais de base, o Movimento Operário do ABC e
Movimento Estudantil.
É com o espírito de resistência e luta que em 1979 acontece
a retomada da União Nacional dos Estudantes – UNE – e no início
dos anos de 1980 surgem a Central Única dos Trabalhadores – CUT
– e o Movimento dos Sem Terra – MST. Esse período é marcado pela
ascensão dos movimentos populares no Brasil devido às suas lutas.
Esses movimentos, além de reivindicarem condições dignas de vida,
também reivindicavam o direito de participar nos processos decisórios
e na gestão das políticas sociais. Isso se dava a partir da compreensão
de que a população desejava, podia e devia contribuir para o debate
frente aos problemas sociais e indicar propostas para o enfrentamento
do déficit social da população, especialmente a excluída da proteção
social estatal.
A institucionalização da democracia no Brasil passou a fazer parte da
pauta dos movimentos sociais da década de 1980. O amadurecimento
deste processo levou à participação da sociedade em outro importante
momento da história brasileira, o processo da nova Constituinte, ou
seja, os mais diferentes movimentos sociais participaram do processo
de elaboração da nova Constituição Federal que iniciou em novembro
de 1986 (ALBUQUERQUE, 2006).
Os movimentos sociais apresentaram um manifesto com mais de
quatrocentas mil assinaturas a partir da iniciativa popular, reivindicando
à Assembleia Nacional Constituinte o direito de participar do processo
de elaboração da Constituição Federal. Com a apresentação do
referido documento e ainda a organização e mobilização, foi aceita a
participação junto às comissões de elaboração de emendas populares
orientadas pelo Regimento Interno da Assembleia Constituinte. Este
processo foi pioneiro no Brasil no que refere à participação ativa da
sociedade no campo da elaboração de propostas para a nova Carta
Magna.
Para mobilizar, motivar e possibilitar a participação da população e

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 19


tornar o mais público possível esta agenda, o movimento “Participação
Popular na Constituinte” mobilizou para a aprovação das emendas
populares, entre elas encontram-se as emendas sobre os direitos da
criança e do adolescente como prioridade absoluta e sobre meio
ambiente, que ao final do trabalho dos atores envolvidos resultou nos
artigos 225 e 227 da Constituição Federal, sendo:

Artigo 225: Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
lo para as presentes e futuras gerações.
[...]
Artigo 227: É dever da família, da sociedade e do Estado
assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão (Redação dada Pela Emenda
Constitucional nº 65, de 2010) (BRASIL, 2015).

Além destas duas importantes áreas, o movimento Participação


Popular na Constituinte provocou uma gama de discussões temáticas
que eram necessárias problematizar com o governo naquele momento,
por exemplo, a luta por moradia. Para esta demanda e outras, como a
saúde universal, saneamento, especialmente para os trabalhadores dos
centros urbanos, somou-se uma diversidade de movimentos sociais.
Neles agregaram estudantes, representantes de categorias profissionais,
organizações não governamentais – ONGs – e funcionalismo público
comprometido com a ampliação dos direitos sociais e a democracia
na gestão das políticas sociais.
O período da Constituinte ficou marcado pelo envolvimento da
sociedade na luta pela democracia, dos direitos sociais e políticos na
perspectiva da operacionalização dos direitos pela via da implantação
e implementação de políticas públicas, ampliando a responsabilização
do Estado na proteção social.

20 U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos


2.2 A Constituição Federal como produto de conquista popular
A Constituição Federal brasileira, promulgada em 5 de outubro de
1988, foi a sétima versão da Constituição desde o período do Império,
em 1924.
A última versão da Constituição foi mundialmente conhecida como
Cidadã por conter uma série de mecanismos de proteção social e de
instrumentos constitucionais que garante maior participação cidadã,
como nunca houve na história brasileira.

Para saber mais


Características que se destacaram nos diferentes anos de atualização da
Constituição Brasileira:
1824: A Constituição Imperial – a primeira brasileira.
1891: A Constituição Republicana – inaugurou a República.
1934: A Revolução Constitucionalista de São Paulo – pôs fim à República
Velha.
1937: Era Getúlio Vargas – início do Estado Novo.
1946: Constituição Democrática – redemocratizou o país.
1967: Ditadura Militar – emendada pela EC Nº 1/69.
1988: Constituição Cidadã – trouxe de volta o Estado Democrático.
Para saber mais sobre a história da Constituição Brasileira, sugerimos
o material didático História Constitucional do Brasil. Disponível em:
<http://www.iesp.edu.br/newsite/assets/2012/11/HistoriaCB.pdf>.
Acesso em: 6 ago. 2017.

Foi expressiva a participação da sociedade no processo Constituinte,


resultado que levou o nome de Constituição Cidadã, não apenas
pelos avanços na área social, mas também pela participação dos
movimentos sociais. A partir de 1988 os temas referentes à participação
da população nos espaços públicos ocupam novos contornos e
dimensões nas esferas públicas (RAICHELIS, 2006). Esses espaços
foram conquistados a partir da mobilização que antecedeu ao fim da
ditadura militar e a garantia de espaços participativos foi consagrada na
Constituição Federal de 1988 e reafirmada nas legislações específicas
de cada política pública.
Diversas políticas públicas foram consagradas na Constituição

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 21


como direitos sociais, por exemplo, saúde, previdência e assistência
social que compuseram a seguridade social. Além de garantir o direito
de o cidadão acessar os serviços, programas, projetos e benefícios
das políticas, ainda foi definido nas diretrizes destas mesmas políticas
públicas que a participação na gestão também é um direito.
Destaca-se também nesta Constituição o art. 3º que trata dos
objetivos fundamentais da República, em especial o que tem
como finalidade de construir uma sociedade livre, justa e solidária,
promovendo o bem de todos sem preconceito de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 2015).
Entretanto, sem dúvida, o maior avanço no campo do capítulo
da ordem social é o que consagra a seguridade social, no art. 194,
definindo um conjunto interligado de ações de responsabilidade tanto
dos poderes públicos como também de organizações da sociedade,
propostas para afiançar os direitos garantidos nas áreas da saúde,
previdência, e assistência social. Esse conjunto de ações passou a
fazer parte do novo sistema de proteção social brasileiro para além do
trabalhador inserido no mundo do trabalho, mas estendido a todos os
cidadãos brasileiros.
Foi a partir deste marco que o Estado reconheceu a saúde como
um direito social. Até aquele presente momento, a assistência à saúde
estava intrinsicamente atrelada à política previdenciária, confiada
àqueles inscritos em tal política que contribuíam mensalmente ao
Instituto Nacional de Previdência Social – INPS.
Distinguir a saúde como um direito social e para tanto requer
política pública para que os cidadãos acessem tal direito é reconhecer
que este assunto é de relevância pública e ainda que as condições de
saúde da população têm relação com o contexto das políticas sociais
e econômicas. Para operacionalizar esse direito na mesma norma
jurídica, institui-se o Sistema Único de Saúde – SUS –, nacional, público,
universal e igualitário.
Para o financiamento, não apenas do SUS, como de todas as políticas
da seguridade social, a Carta Magna determina também um sistema
de financiamento a partir de tributos e das contribuições sociais, ou
seja, cabia ao Estado a responsabilidade de garantir os recursos para o
financiamento das políticas sociais.

22 U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos


2.3 Os direitos sociais consagrados na Constituição Federal de
1988
A expectativa que se tem com a implementação dos direitos sociais
na Constituição Federal de 1988 é que eles assegurem uma vida com
dignidade para o povo brasileiro no que refere às suas demandas mais
elementares.
Falar em direitos sociais é falar de um assunto relativamente
novo. Esses direitos passaram a fazer parte da vida em vários países
apenas a partir do século XX, especificamente após a Segunda Guerra
Mundial. Vale destacar que depois, em meados da década de 1940,
os problemas sociais se intensificam, principalmente o desemprego, a
fome e o desemprego.
Os direitos sociais foram introduzidos no Brasil nas décadas de 1930
e 1940, especificamente no governo do Presidente Getúlio Vargas e
durante o período da ditadura militar, após o golpe de 1964.
Nestes dois momentos, tanto no período Vargas como durante
a ditadura militar, o Estado cumpriu um papel fundamental na
implantação dos direitos sociais, sobretudo para os trabalhadores. O
maior destaque que não podemos deixar de citar foi a elaboração da
Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT – em 1943. Outro importante
destaque foi a inclusão social dos trabalhadores rurais, que apenas em
1971 foram atendidos no sistema previdenciário através do Fundo de
Assistência ao Trabalhador Rural –FUNRURAL.
Por um lado, o Estado concedeu direitos sociais, por outro, restringia
a população à participação, informação e expressão de ideias. Durante
a ditadura militar que perdurou por longos 21 anos foram ordenados
Atos Institucionais, conhecidos como AIs, sendo estes a manifestação
máxima da suspensão dos direitos civis e políticos.
Carvalho (2002) relembra que o AI nº 1 suspendeu por dez anos o
exercício dos direitos políticos de operários, intelectuais, sindicalistas,
parlamentares e as organizações políticas como sindicatos foram
fechadas ou ainda vítimas de intervenções. O AI nº 2 revogou o direito
às eleições diretas para presidente da República, o presidente eleito
indiretamente apenas por dois partidos teve seu poder ampliado e
a opinião pública restringida. O Ato Institucional que mais provocou
indignação foi o AI nº 5, pois este fechou o Congresso Nacional,
suspendeu o habeas corpus para atos contra a segurança nacional e
deliberou que todos os atos praticados pelo Estado decorrentes do AI

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 23


nº 5 não seriam analisados judicialmente (CARVALHO, 2002).
Como já vimos anteriormente, nesta mesma unidade, a sociedade
brasileira teve um papel fundamental durante o processo pelo fim da
ditadura militar. Foi a partir da insatisfação e indignação com este regime
que a sociedade se reorganiza e se mobiliza. Este processo culminou
ao final da década de 1980 com a aprovação da Constituição Federal
de 1988, na qual foram introduzidos novos direitos de cidadania, desta
vez destacando que todos os brasileiros devem acessar os direitos
sociais à educação, saúde, trabalho, lazer, segurança, previdência social,
proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados.
Esta foi a primeira versão dos direitos sociais nesta Constituição.
Atualmente, após algumas emendas constitucionais, ampliaram-se
estes direitos que se consagram no artigo 6º da Constituição Federal “[...]
educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte,
o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”
(BRASIL, 2015b).
Além da consagração dos direitos elementares, como a saúde e
a educação, esta Constituição também incluiu a assistência social
como direito do cidadão e responsabilidade do Estado. Ficando para o
passado que o amparo a segmentos mais vulneráveis como as pessoas
pobres, as crianças, as pessoas com deficiência não é mais uma ação
caritativa e espontânea da sociedade, mas um dever do Estado com
todos os cidadãos que necessitarem.
Esses direitos são fundamentais para os cidadãos por que o acesso
a eles contribui para o desenvolvimento pessoal e o usufruto, inclusive,
de outros direitos, como o direito à participação popular e o direito de
ir e vir. Frota (2017) cita dois exemplos que podem ilustrar a importância
destes direitos na conversão com outros direitos:
• A educação pública de qualidade é um direito social, o
acesso a este direito possibilita o desenvolvimento de confiança
para usar livremente a cidade, ou seja, o usufruto do direito de ir e
vir sendo este um direito civil, ou seja, com o acesso à educação e
consequentemente à informação, pode-se escolher as melhores
alternativas e principalmente, saber que entrar em espaços públicos é
um direito de todos, como em tribunais, escolas, museus, cinemas e
outros sem a preocupação de ser barrado.
• O outro exemplo citado pela autora é que quando uma

24 U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos


criança acessa a rede de saúde, pública e de qualidade e tem uma
alimentação adequada, ou seja, esta criança acessa direitos sociais, ela
terá mais sucesso na escola e mais possibilidades de ser um jovem
cidadão informado e participativo, inclusive podendo ser um líder no
seu território, ocupando um cargo público, assim usufruindo de seus
direitos políticos.
A mesma autora ainda parafraseia o ditado popular “uma coisa leva
a outra”, o que quer dizer que um direito provoca o acesso do outro
(FROTA, 2017, p. 28).

2.4 A Constituição do Estado de Direito Democrático


O Brasil definiu-se como um Estado de Direito Democrático na
sua última Constituição Federal, deixando claro logo em seu primeiro
artigo em que direciona como fundamentos da República a soberania,
a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do
trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político e ainda no único
parágrafo estabelece que “Todo o poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição” (BRASIL, 2015, p. 7). Desta forma, para concretizar a
democracia e a cidadania do seu povo, faz-se necessário medidas que
viabilizem condições para o exercício destes.
A participação de um povo em seu país é um direito elementar de
uma democracia, desta forma, materializando o Estado Democrático
de Direito.
Para Barroso (2013), para a constituição de um Estado de Direito
Democrático é imperativo assegurar o respeito às liberdades individuais
e ter como sagrado os direitos humanos e os direitos fundamentais
garantidos em uma Constituição. Neste modelo de Estado a
representação popular é a prioridade diante da vontade do Estado, ou
ainda, dos representantes dele.
É nesta perspectiva que a Constituição Federal de 1988 conferiu
ao Estado de direito um caráter democrático que entende que o povo
é a base do poder, portanto, é assegurado a ele a participação nas
instituições públicas.
Somente a partir desta normativa foi possível destacar nas políticas
públicas diretrizes de descentralização, de participação popular e
de municipalização, redefinindo e limitando o papel do Estado, o

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 25


qual passou a ser responsável pela criação de espaços de efetivas
participações da sociedade civil e por outro lado empoderando a
população no controle do que é público.
A Constituição Federal de 1988 instituiu importantes instrumentos
jurídicos para garantir a participação popular, tais como plebiscito,
iniciativa popular de lei, audiência pública, orçamento participativo,
fóruns, conferências e conselhos.
Essas formas de possibilitar a participação modificaram a gestão das
políticas públicas nos três níveis de governo, principalmente na esfera
municipal, pois permitiram novas instâncias deliberativas, propositivas,
articuladas, controladas e fiscalizadas, além de flexibilizar os processos
sociais.
A Constituição Federal permitiu que as decisões e operacionalizações
das políticas públicas fossem transferidas aos municípios. Além da
implantação de um sistema descentralizado e participativo, também
é de sua responsabilidade a execução de programas, serviços, ações,
projetos e benefícios, necessitando envolver a população em todo
processo, nas discussões e decisões e nas fiscalizações sobre suas
demandas e interesses.
A participação popular enquanto processo da gestão das políticas
públicas, deve ter caráter democrático e descentralizado. Neste
contexto, a sociedade deve fiscalizar e controlar o Estado para que este
cumpra a função de garantidor de acesso aos direitos sociais.
O exercício da participação popular requer a ocupação dos espaços,
principalmente aqueles definidos constitucionalmente, como os
conselhos e as conferências entre outros, que primam pela discussão
e decisão da população.
A descentralização de poderes aumentou e possibilitou maior
participação das organizações locais, sendo aquelas da sociedade civil
organizada e, consequentemente, aumentaram as possibilidades de
controle social.
Para Mestriner (1992), a promulgação da Constituição de 1988 não
foi suficiente para a transposição de um modelo de Estado assistencial
para o Estado de direito. Ainda haveria que se enfrentar um longo
caminho, com alternância de avanços e retrocessos durante esse
processo histórico e político.
O capítulo da ordem social, que trata entre outros assuntos sobre

26 U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos


a seguridade social, determina que as ações nas áreas das políticas
de saúde, previdência e assistência social, necessariamente devem
ter a participação dos cidadãos. Na gestão da política da previdência
social o princípio da participação está definido no artigo 194, inciso
VII, assinalando que além do caráter democrático também deve ser
descentralizado e com a participação da comunidade, especialmente
dos trabalhadores, dos empresários e dos aposentados.
No que refere à política de saúde, o art. 198 que trata das ações
e dos serviços, enquanto a diretriz geral é sobre a participação da
comunidade. No caso específico da política de assistência social, em
seu art. 204 inciso II da Constituição Federal, orienta que a participação
é “por meio de organizações representativas, na formulação das
políticas e no controle das ações em todos os níveis” (BRASIL, 2015).
Foi a partir da regulamentação desses artigos, por normativas
específicas, que foi privilegiada a implantação de diversas estruturas,
como os conselhos gestores de políticas públicas. Cada política
organizou seu conselho a partir de suas dinâmicas próprias,
considerando a mobilização dos movimentos sociais da área. Os
conselhos gestores das políticas sociais que compõem a seguridade
social tiveram destino diferenciado, enquanto instrumento e espaço de
participação popular e exercício de controle.

Atividades de aprendizagem
1. O Governo autoritário que se instalou a partir de 1964 no Brasil não
admitia qualquer expressão de mobilização popular. Diante disso, assinale
a opção INCORRETA:
a) A única forma de expressão era o teatro, o cinema e a música. Estas
formas não sofreram forma de repressão alguma.
b) A preocupação do governo era manter o controle social por meio dos
mecanismos repressores e de coerção.
c) Toda e qualquer participação era proibida, inclusive a eleição para
diretorias dos sindicatos.
d) Estimulava o exercício de uma política assistencialista como forma de
manipular os trabalhadores.
e) O silêncio atribuído à classe operária foi alimentado com a aceitação de
suas principais lideranças.

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 27


2. A Constituição Federal brasileira, promulgada em 5 de outubro de 1988,
foi a sétima versão da Constituição desde o período do Império em 1924. A
última versão foi mundialmente conhecida como cidadã, por qual motivo
levou este título?
a) Por expressar o reconhecimento patronal com os trabalhadores, bem
como a responsabilidade dos patrões em garantir a proteção social.
b) Por conter uma série de mecanismos de proteção social e de instrumentos
constitucionais que garantem a maior participação cidadã.
c) Pela preocupação ambiental em proteger a flora e a fauna, em especial
aqueles em risco de extinção, responsabilizando toda a sociedade.
d) Pela implantação e implementação de políticas econômicas responsáveis
pelo desenvolvimento econômico e consequentemente social.
e) Pela retomada da democracia.

28 U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos


Seção 3
A participação e controle social como conquista de
cidadania e democracia
Introdução à seção

O conceito de participação social na esfera pública sempre foi


condição elementar para o exercício da democracia e da cidadania
em um Estado, dito, de Direito Democrático. A democracia implica
participação corresponsável e a interação entre os diferentes atores do
processo. Isso indica que o Estado e a sociedade civil decidem juntos os
rumos das políticas públicas. Sem dúvida, esta conquista que consta na
Constituição Federal de 1988 foi fruto dos movimentos que surgiram
na base da sociedade no contexto da ditadura militar nas décadas de
1970 e 1980, que a partir da mobilização e reivindicação conseguiriam
imprimir nesta normativa a democratização no nível institucional.
A democratização do Estado brasileiro foi para além da consagração
dos direitos sociais e da seguridade social, foi também o direito de
decidir sobre a gestão das políticas sociais. Esses direitos também
foram impressos na Constituição e ainda nos espaços de participação
na gestão destas políticas. Entre esses espaços, os conselhos gestores
são os mais presentes na vida da população, que, além de garantir o
direito de participar também exercem o controle social. O controle
sobre o Estado e suas ações.

Para saber mais


Exercer o controle social é participar na gestão das coisas públicas
e ainda uma forma de prevenir a corrupção, pois com a fiscalização
do dinheiro público, com o que é gasto e a forma que é gasto pela
população ficará difícil desviar a finalidade do recurso. Entretanto, para
isso, são necessários informação e conhecimento sobre recursos,
orçamentos, legislações e outros assuntos que perpassam a gestão
pública. Por isso sugerimos o material:
Controle social: orientações aos cidadãos para participação na gestão
pública e exercício do controle social, elaborado e publicado pela
Controladoria-Geral da União (CGU). Disponível em: <http://www.cgu.
gov.br/Publicacoes/controle-social/arquivos/controlesocial2012.pdf>.
Acesso em: 8 ago. 2017.

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 29


3.1 Espaços de participação e controle
Demo (1996) afirma que participar implica envolver-se, debater,
propor e partilhar ideias e que a participação é um processo de
conquista a partir das relações de envolvimento, iniciativa com a ação.
A participação requer que o sujeito se expresse e se envolva
efetivamente nas atividades, ações e serviços das políticas públicas nas
quais está envolvido. Bravo (2007) reafirma que a participação social
envolve a gestão de todo processo nas políticas, desde o planejamento
até a fiscalização em momento da operacionalização realizada pela
sociedade civil organizada.
Atualmente, no Brasil, a participação dos cidadãos no sistema
político é fato. A partir da Constituição Federal de 1988 é direito e
responsabilidade de cidadania a participação na implantação e gestão
das políticas públicas juntamente com o governo na divisão de
responsabilidades das decisões públicas. Além de garantir este direito,
a Constituição também instituiu mecanismos de participação por meio
da ampliação de espaços democráticos.
A participação exercida pela sociedade é uma das condições para o
exercício do controle social para garantir os direitos sociais e ultrapassar
as formas tradicionais de controle técnico e burocrático, sendo esta
condição elementar para a operacionalização de outra diretriz, a
descentralização. Oliveira (1999) afirma que o controle é exercido
sobre o campo público, e que se compreende que todos os cidadãos
brasileiros são detentores deste poder de controlar, entretanto, para
o exercício desta importante função se faz necessário apropriar-se de
conhecimento e informação, especialmente sobre os seus direitos.
Depois de muito tempo de ditadura militar, foi conquistado o
direito de o cidadão expressar a sua opinião, além disso, de participar
de decisões políticas, praticando sua cidadania, mas é necessário que
a construção da cidadania seja contínua e para tal é essencial que
tenha estímulo e condições apropriadas para o exercício do direito à
participação social. Um dos espaços mais utilizados para a execução
da participação são os conselhos municipais de políticas públicas, mas
estes não são os únicos garantidos constitucionalmente.

30 U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos


3.1.1 Os conselhos gestores como espaços democráticos
A Constituição Federal de 1988 proporcionou a implantação
de mecanismos de participação popular nas gestões, baseada
nos princípios da descentralização e da democracia. Um desses
mecanismos são os espaços dos conselhos gestores de políticas
públicas que são aparelhos que admitem a sociedade civil participar
da elaboração, implantação, implementação e fiscalização dessas
políticas. “Os conselhos constituem, no início deste novo milênio, a
principal novidade em termos de políticas públicas” (GOHN, 2001, p. 7).
De forma objetiva Gohn (2001, p. 7) conceitua os conselhos como
“canais de participação que articulam representantes da população e
membros do poder público estatal em práticas que dizem respeito à
gestão de bens públicos”.
Quando propostos na Constituição esses conselhos foram
idealizados como espaços inovadores e essenciais que viabilizassem,
de fato, o exercício da cidadania ativa, pois apresentam-se como
espaços públicos, formados paritariamente por membros da sociedade
civil e dos poderes públicos com poderes deliberativos e consultivos.
É nestes espaços que a sociedade tem o direito e a responsabilidade
de cogestão da administração pública, já que pode decidir (discutir e
deliberar) em relação às questões da gestão. Além da participação nas
decisões, cabe aos cidadãos brasileiros a fiscalização intransigente da
utilização dos recursos públicos.
Este modelo de participação antecede a Constituição e se insere
na história no Brasil nos anos 1970 e 1980, quando são criados os
conselhos comunitários, como exigência do poder público, para
negociar as demandas apresentadas pelos movimentos populares, ou
seja, os conselhos eram formados por representantes do movimento
que negociavam com representantes do Estado. Esta experiência foi
um embrião importante para o processo constituinte.
Para Gonh (2001), o que prevaleceu foi a compreensão do conselho
como um dos espaços de participação que possibilita a mudança da
forma de se fazer a gestão pública, especialmente na construção das
políticas sociais, na expectativa da democratização e transparência,
sendo o espaço de relação entre a sociedade e o Estado para a
mediação de conflitos.
Os conselhos gestores de políticas públicas como espaços de
participação popular favorecem novas formas de relações entre o

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 31


Estado e a sociedade, pois neste espaço há a participação de diferentes
representações sociais para a tomada de decisões e construção de
políticas e ainda empoderar os conselheiros para o cumprimento da
vigilância sobre a operacionalização do que foi deliberado e a qualidade
destas ações, sem perder de vista o cuidado com o recurso público,
inclusive da prestação de contas por parte do executivo.
Atualmente, os conselhos gestores passaram a fazer parte da
gestão das políticas públicas nos municípios brasileiros. Alguns destes
conselhos, por exemplo, o de saúde, tem influência na definição das
prioridades nesta área é maior do que o poder da Câmara de Vereadores
e de outros órgãos locais.
Em 2009 havia no Brasil mais de 43 mil conselhos municipais, deste
montante o que se verifica em maior número são os Conselhos de
Política de Assistência Social, naquele momento presentes em 99%
dos municípios, depois os Conselhos de Alimentação Escolar, em 98%
das cidades e, posteriormente, os Conselhos de Saúde com 97% e os
Conselhos do FUNDEB em 94% (BUVINICH, 2013).
Este crescimento quantitativo dos conselhos infelizmente não
significou, na mesma proporção, o seu sucesso em superar os desafios
impostos durante o processo de implantação e que ainda permanecem
na realidade e resistem para ser superados.
Além disso, a questão da qualidade da participação dos e nos
conselhos é um tanto quanto desalentadora, como apresenta Carvalho
(2017), pois há fragilidades na representatividade dos conselheiros no
que refere à competência de deliberar e exigir suas decisões frente
aos representantes do governo. Tatagiba (2003) destaca outra grave
situação que é a resistência dos governos em respeitar e operacionalizar
as decisões destes espaços, necessitando abrir mão do diálogo, do
debate e utilizando estratégias de negociação para ter alguns poucos
avanços.

32 U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos


Questão para reflexão
Como vimos até aqui, os Conselhos Gestores de Políticas Públicas
são formados por espaços institucionais, permanentes, autônomos,
compostos por membros da sociedade civil e poder público com a
responsabilidade de propor políticas públicas, deliberá-las, acompanhá-
las e fiscalizá-las. Desde sua reformulação com a Constituição Federal
de 1988, a participação da sociedade e governo é paritária, sendo assim,
o Governo está presente em todo processo, portanto, não deveria ser
resistente para a implantação do que se delibera neste espaço.

A mesma autora, Tatagiba (2003, p. 98), aponta outra fragilidade


observada no processo: “os conselhos apresentam, no cenário atual,
uma baixa capacidade propositiva, executando um reduzido poder de
influência sobre o processo de definição das políticas públicas”.
Essas dificuldades apresentadas, e outras vividas no cotidiano dos
conselhos, fazem com que seja colocada em dúvida a viabilidade
deste importante espaço de participação social conseguir alcançar
os objetivos para o qual foi proposto na Carta Magna de 1988, em
especial de ser por excelência o espaço democrático, de cidadania e
do exercício do controle social.
Temos que lembrar que o processo democrático está sendo
construído e que a construção tem avanços e retrocessos, pois temos
na nossa história duas grandes ditaduras, do período do Presidente
Vargas e outra muito recente que é a ditadura militar. Além disso,
ainda estamos construindo a cultura da participação, portanto, faz-
se necessário e urgente tornar público o direito à participação e
à responsabilidade do cuidado do que é público, como as políticas
sociais, o que desperta nos cidadãos o desejo da participação e da
escolha, como citação de Rousseau (apud NASCIMENTO, 1998, p.
237):

Entre todos os povos do mundo, não é em absoluto a


natureza, mas a opinião, que decide a escolha de seus
prazeres. Melhorai as opiniões dos homens, e seus
costumes purificar-se-ão por si mesmos. Ama-se sempre
aquilo que é belo ou que se julga belo.

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 33


Atividades de aprendizagem
1. A inserção dos processos democráticos e do controle social nas políticas
públicas tem sua institucionalização na Constituição Federal de 1988, que
ordena a participação da sociedade na gestão destas políticas. Entre os
pressupostos principais dos conselhos gestores destaca-se:
a) A separação e distanciamento entre a formulação dos conselhos e o
controle social, pois estes são construídos por instituições prestadoras de
serviços às quais têm inseparável relação com o Estado.
b) A implantação de espaços democráticos constituídos na diretriz da
descentralização administrativa, cujo avanço está relacionado com a
capacidade técnico/gerencial dos membros da sociedade civil.
c) A construção de espaços democráticos que busquem, principalmente, a
expansão da democracia, a construção da cidadania e ainda proporcione
tanto o exercício do controle social quanto as demandas da sociedade.
d) O caráter apenas consultivo dos conselhos gestores de políticas públicas o
impedem de exercer o controle social devido à sobreposição de atribuições
com as instâncias legislativas.
e) A participação de membros em espaço dos poderes públicos com a
prerrogativa de fiscalização das ações das organizações da sociedade civil.

2. A Constituição Federal de 1988 implantou mecanismos e dispositivos


importantes para garantir e proporcionar a participação da sociedade. Entre
os espaços institucionais de participação, quais os espaços mais utilizados
pela população?
a) As redes de serviços socioassistenciais.
b) Os projetos de responsabilidade social privada.
c) As secretarias municipais de políticas públicas.
d) Os conselhos gestores de políticas públicas.
e) As organizações comunitárias e sociais.

Fique ligado
• A década de 1980 ficou conhecida como a “Década Perdida”,
tanto no Brasil como nos países latino-americanos, devido à queda da
produção industrial, que provocou a estagnação de grande parte da
indústria e consequentemente levou ao desemprego até então nunca
visto na história brasileira.
• Em 1985 finaliza oficialmente o regime da ditadura militar, que
perdurou no Brasil de 1964 a 1985. Iniciam neste período as condições

34 U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos


para a construção do processo de redemocratização do Estado de
Direito Democrático.
• Na década de 1980, o Brasil vivenciou muitas crises, como
a econômica, a financeira, a política, a social, a do Estado e a de
credibilidade. Destaca-se neste momento, o alto índice da inflação e
do desemprego, o que levou 40% da população à situação de pobreza,
especialmente no Brasil.
• A construção do processo democrático perpassa por vários
fatores que contribuem e impulsionam, um deles foi o movimento
pelas “Diretas Já” devido à sua grande relevância para a política
contemporânea brasileira.
• O movimento pelas “Diretas Já” não conseguiu a eleição
direta para presidente da República em 1985, definiu-se que a partir da
próxima eleição a população elegeria o novo presidente, entretanto,
seguiu no sentido de mobilizar para o processo Constituinte.
• Até os anos 1960, a participação nas políticas sociais limitava
a ‘cidadania regulada’, e as políticas sociais destinavam-se aos
contribuintes da previdência social por meio da carteira de trabalho,
pois apenas o trabalhador do mundo formal era reconhecido como
cidadão.
• O marco mais significativo de participação popular brasileira
surgiu no meio da resistência e enfrentamento contra o regime da
ditadura militar a partir dos anos de 1970 e durante os anos de 1980.
• Para mobilizar, motivar e possibilitar a participação da
população e tornar o mais público possível esta agenda, o movimento
“Participação Popular na Constituinte” mobilizou-se para a aprovação
das emendas populares, entre elas as emendas sobre os direitos da
criança e do adolescente como prioridade absoluta e sobre meio
ambiente, que ao final do trabalho dos atores envolvidos resultou nos
artigos 225 e 227 da Constituição Federal.
• A última versão da Constituição foi mundialmente conhecida
como cidadã por conter uma série de mecanismos de proteção social
e de instrumentos constitucionais que garantem maior participação
cidadã, como nunca houve na história brasileira.
• A Constituição Federal permitiu que as decisões e

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 35


operacionalizações das políticas públicas fossem transferidas aos
municípios. Além da implantação de um sistema descentralizado
e participativo, também é de sua responsabilidade a execução de
programas, serviços, ações, projetos e benefícios, necessitando
envolver a população em todo processo, discussões, decisões e
fiscalizações sobre suas demandas e interesses.
• Demo (1996) afirma que participar implica envolver-se,
debater, propor e partilhar ideias e que a participação é um processo
de conquista a partir das relações de envolvimento, iniciativa com a
ação.
• Ultimamente, no Brasil a participação dos cidadãos no
aparelho político é fato. Isso foi possível a partir da Constituição Federal
de 1988, que estabeleceu o direito da participação na implantação e
gestão das políticas públicas juntamente com o governo na divisão de
responsabilidades das decisões públicas.
• “Os conselhos constituem, no início deste novo milênio, a
principal novidade em termos de políticas públicas” (GOHN, 2001, p. 7).
• Os conselhos gestores de políticas públicas como espaços
de participação popular favorecem novas formas de relações
entre o Estado e a sociedade, pois há a participação de diferentes
representações sociais para a tomada de decisões e construção de
políticas.
• Os conselhos gestores passaram a fazer parte da gestão das
políticas públicas nos municípios brasileiros. Alguns destes conselhos,
como o de saúde, têm mais influência na definição das prioridades
nesta área do que o poder da Câmara de Vereadores e de outros
órgãos locais.

Para concluir o estudo da unidade


Na história do Brasil, as constituições foram evoluindo ao adotar
os direitos sociais paralelamente aos direitos civis e políticos. A última
versão da constituição inovou mais ainda quando amplia os direitos
sociais a todos os cidadãos brasileiros e consagra a seguridade social
como um “conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes
públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à

36 U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos


saúde, à previdência e à assistência social” (BRASIL, 2015, p. 117).
Para além dos direitos sociais, também foi conquistado na Carta
Magna o direito à efetiva participação da população e o exercício do
controle sob as ações do Estado. Para o usufruto deste direito, o espaço
por excelência são os Conselhos Gestores de Políticas Públicas, que
têm em sua natureza todas as condições de realizar o controle social
de forma democrática por terem sido constituídos de caráter plural e
com poder de deliberação.
Entretanto, o usufruto dos direitos, de todos os direitos duramente
conquistados, perpassa pelo conhecimento destes e ainda do
processo de conquistas, portanto, faz-se necessário que, você tome
conhecimento destes fatos e aproprie-se do conhecimento e das
informações para tornar-se um agente de mudança, conforme orienta
o código de ética da profissão.
Para tanto, sugerimos o bom uso do material aqui apresentado e das
pesquisas nos endereços eletrônicos sugeridos, além da participação
no fórum da disciplina e nas aulas atividade. Também sugerimos que se
façam buscas em outros materiais e fontes de informações, lembrando
que o assunto é dinâmico e se faz necessária sempre sua atualização.

Atividades de aprendizagem da unidade


1. A Constituição Federal de 1988 foi mundialmente conhecida como
“constituição cidadã”, pois foi considerada uma grande conquista
democrática para os brasileiros após longo período de regime militar.
Aponte, entre as alternativas, qual direito contribuiu para a Constituição
adquirir tal apelido.
a) Concurso público para os cargos públicos.
b) Consagração da seguridade social.
c) Conquista dos direitos individuais.
d) Imigrantes como cidadãos de direitos.
e) Direito ao meio ambiente equilibrado.

2. Em 1985 finda o Regime ditatorial militar no Brasil. Assim, inicia neste


período a construção do processo de redemocratização do Estado de
Direito Democrático. Como define Faquin (2009), o Estado Democrático
de Direito vige um conjunto de leis, através do qual todos os cidadãos são

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 37


considerados iguais e o Estado só pode atuar conforme o que está prescrito
em leis. Como cidadãos, as pessoas têm seus direitos garantidos. Qual foi o
período em que perdurou a ditadura militar no Brasil?
a) 1930 a 1945.
b) 1937 a 1950.
c) 1945 a 1960.
d) Não houve ditaduras no Brasil.
e) 1964 a 1985.

3. Os Conselhos Gestores de Políticas Públicas são canais institucionais,


plurais, permanentes, autônomos, compostos por representantes da
sociedade civil e do poder público, cujas maiores funções são propor
diretrizes das políticas públicas, fiscalizá-las, controlá-las e deliberar sobre
elas. A partir da Constituição Federal de 1988 foi possível esta forma de
gestão nas políticas públicas. Quais as fragilidades mais presentes no
cotidiano dos conselhos?
a) Composição desproporcional, mais membros representantes dos poderes
público em relação à sociedade civil.
b) Baixa capacidade propositiva dos conselheiros e resistência dos governos
em respeitar as deliberações.
c) A implantação e implementação dos conselhos não faz parte da realidade
dos municípios brasileiros.
d) Conflitos nas disputas para ocupar os espaços dos conselhos como
conselheiros.
e) Falta de legislação específica para a regulamentação dos Conselhos
Gestores de Políticas Públicas.

4. A seguridade social brasileira constitui um conjunto de ações


proporcionadas pelos poderes públicos e pela sociedade aos cidadãos em
momentos de redução ou perda de renda, contingências como doenças,
acidentes, maternidade ou desemprego, entre outras. Para garantir essas
proteções, quais políticas sociais são necessárias?
a) Trabalho, educação e saúde.
b) Trabalho, moradia e previdência social.
c) Saúde, previdência e assistência social.
d) Habitação, trabalho e previdência social.
e) Saúde, habitação e trabalho.

38 U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos


5. Com relação aos Conselhos Gestores de Políticas Públicas, analise as
afirmativas a seguir:
I. Os conselhos gestores tornaram-se instituições importantes no âmbito
das políticas públicas a partir da Constituição Federal de 1988.
II. Os conselhos gestores têm como principal desafio constituir espaços
democráticos e promover a construção da cidadania.
III. Os conselhos gestores são formados por representantes de diversos
segmentos da sociedade civil, como usuários, trabalhadores e prestadores
de serviços das políticas públicas.
Assinale a alternativa que está correta:
a) I apenas.
b) II apenas.
c) III apenas.
d) I e II apenas.
e) II e III apenas.

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 39


Referências
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construção da democracia brasileira. São Paulo: Instituto Pólis, 2006.
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TATAGIBA, L. 2003. A democracia gerencial e suas ambivalências: participação, modelos
de gestão e cultura política. Campinas, SP. Tese de doutorado. Unicamp, 189 p.

U1 - Redemocratização da sociedade brasileira e a conquista de direitos 41


Unidade 2

Políticas setoriais: trabalho,


educação, habitação, saúde,
álcool e drogas
Rodrigo Eduardo Zambon

Objetivos de aprendizagem
Nesta unidade, você poderá realizar uma aproximação introdutória
acerca de algumas políticas sociais setoriais em seu contexto legal
e suas propostas de efetivação na esfera da política pública. Vamos
apreender brevemente o contexto das políticas sociais setoriais de
trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas.

Seção 1 | Política setorial de trabalho


Nessa Seção, você estudará o trabalho como política setorial a partir dos
pressupostos legais e à luz da literatura vigente. Identificará os tipos de trabalhadores
e as suas relações com o trabalho.

Seção 2 | Política setorial de educação


Na Seção 2, trataremos da política setorial de educação. Apresentaremos as
políticas e programas voltados para o ensino.
Seção 3 | Política setorial de habitação
Neste momento, o estudo está voltado para a política setorial de habitação,
será apresentado um breve apanhado histórico e as principais ações do governo
para garantir tal direito.

Seção 4 | Política setorial de saúde

Nessa Seção, a política setorial estudada é a saúde. Definimos saúde e


apresentamos algumas políticas vigentes no país.

Seção 5 | Política setorial de álcool e drogas


A política setorial sobre álcool e drogas é apresentada nessa seção. Você
constatará que se trata de um problema social e identificará ações em prol da
resolução dos problemas e prevenção.

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 43


44 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas
Introdução à unidade
Pensar em políticas setoriais nos remete a refletirmos e
problematizarmos de que forma os direitos a estas políticas estão sendo
efetivados. Nesta unidade, especificamente, significa realizarmos uma
leitura da realidade para verificar de que forma o direito ao trabalho, à
educação, à habitação, à saúde e ao enfrentamento dos problemas
relacionados ao álcool e drogas estão sendo garantidos.
É o que veremos brevemente a seguir!

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 45


Seção 1
Política setorial de trabalho
Introdução à seção

O artigo 7º da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) faz


referência aos principais direitos para os trabalhadores que atuam
sob a lei brasileira, bem como à Consolidação das Leis de Trabalho.
São considerados direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de
outros que visem à melhoria de sua condição social:

[...] I- relação de emprego protegida contra despedida


arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei
complementar, que preverá indenização compensatória,
dentre outros direitos (a entrar em vigor);
II- seguro-desemprego, em caso de desemprego
involuntário (a entrar em vigor);
III- fundo de garantia do tempo de serviço (a entrar em
vigor);
IV- salário-mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado,
capaz de atender a suas
necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia,
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social, com reajustes periódicos
que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua
vinculação para qualquer fim;
V- piso salarial proporcional à extensão e à complexidade
do trabalho;
VI- irredutibilidade do salário, salvo o disposto em
convenção ou acordo coletivo;
VII- garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os
que percebem remuneração variável;
VIII- décimo terceiro salário com base na remuneração
integral ou no valor da aposentadoria;
IX- remuneração do trabalho noturno superior à do diurno
(a entrar em vigor);
X- proteção do salário na forma da lei, constituindo crime
sua retenção dolosa;
XI- participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da
remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão

46 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


da empresa, conforme definido em lei;
XII- salário-família para os seus dependentes;
XII- salário-família pago em razão do dependente do
trabalhador de baixa renda nos termos da lei (a entrar em
vigor);
XIII- duração do trabalho normal não superior a oito
horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a
compensação de horários e a redução da jornada, mediante
acordo ou convenção coletiva de trabalho; (vide Decreto-
Lei nº 5.452, de 1943)
XIV- jornada de seis horas para o trabalho realizado em
turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação
coletiva;
XV- repouso semanal remunerado, preferencialmente aos
domingos;
XVI- remuneração do serviço extraordinário superior, no
mínimo, em cinquenta por cento à do normal;
XVII- gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos,
um terço a mais do que o salário normal;
XVIII- licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do
salário, com a duração de cento e vinte dias;
XIX- licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
XX- proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante
incentivos específicos, nos termos da lei;
XXI- aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo
no mínimo de trinta dias, nos termos da lei;
XXII- redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de
normas de saúde, higiene e segurança;
XXIII- adicional de remuneração para as atividades penosas,
insalubres ou perigosas, na forma da lei;
XXIV- aposentadoria (BRASIL, 1988, [s.p.]).

No país, há diversos tipos de trabalho, os mais conhecidos são o


formal, no qual o funcionário tem sua carteira de trabalho assinada, e
informal em que temos uma ampla gama de trabalhadores informais ou
autônomos, ou seja, que não possuem relação com um empregador.

Você conhece todos os tipos de contrato de trabalho ou


trabalhadores em vigor no Brasil?
São eles: 1- Estagiários cursando o ensino regular, em instituições de
níveis médio, técnico, superior, ou realizando curso profissionalizante,

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 47


a relação entre estagiário e empresa não constitui vínculo de trabalho,
mas deverá haver um termo de compromisso entre as partes; 2-
Trabalhador autônomo que executa trabalhos sem vínculo e tem horário
alternativo; 3- Trabalhador eventual que pode ser rural ou urbano, presta
serviços temporários sem vínculo trabalhista; 4- Trabalhador avulso
realiza serviços de natureza urbana e rural e é contratado por sindicatos
e outros órgãos, mas não possui vínculo empregatício; 5 -Trabalhador
voluntário presta serviços a uma entidade pública ou privada sem fins
lucrativos, sem vínculo empregatício e, 6- Trabalhador presidiário é
aquele que está condenado e presta serviços remunerados (BARROS,
1995).

Para saber mais


1º de Maio - Dia do Trabalhador
Você sabia que o dia 1º de maio é considerado o dia do trabalhador ou
dia do trabalho? Todos os anos essa data é comemorada no mundo
e possui relação com uma greve e diversos conflitos agressivos que
aconteceram na cidade de Chicago (EUA), em 1886. Com a Revolução
Industrial, a qualidade de vida dos trabalhadores havia sido afetada, e a
burguesia não conseguia atender às necessidades dos operários.
Nesse período, surgiram os sindicatos e movimentos trabalhistas, sendo
a greve um dos principais meios de se manifestar. Ocorreu, portanto,
uma greve e um conflito violento no dia 1º de maio de 1886, que se
prolongou por quatro dias, culminando em uma explosão à bomba
na praça Haymarket que matou e feriu diversas pessoas, dentre elas
manifestantes e policiais. No Brasil, a sugestão da data também surgiu
com movimento sociais, até que em 1925, o presidente Arthur Bernardes
a transformou em feriado nacional. No governo de Getúlio Vargas foi
muito utilizada para promoção de suas campanhas, além da divulgação
dos principais benefícios relativos à legislação trabalhista.
Fonte: <http://direito-trabalhista.info/. Acesso em: 26 ago. 2017.

A seguir apresentamos algumas ações e programas voltados à


geração de trabalho, emprego e renda realizadas pelo Ministério do
Trabalho.

Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) – principal


documento do trabalhador, com a CTPS ele pode trabalhar nas áreas
urbanas e rural na formalidade e assim assegurar seus direitos, tais

48 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


como seguro-desemprego, FGTS e benefícios previdenciários.

Seguro-desemprego – é um benefício previsto pela seguridade


social que garante por um determinado tempo uma assistência
financeira temporária ao trabalhador dispensado involuntariamente.

Abono salarial – assegura o valor de um salário mínimo anual aos


trabalhadores brasileiros que recebem em média até dois salários
mínimos de remuneração mensal de empregadores que contribuem
para o Programa de Integração Social (PIS) ou para o Programa de
Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP).

Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) – foi criado em


1967 pelo governo federal para proteger o trabalhador demitido sem
justa causa. O FGTS é constituído de contas vinculadas, abertas em
nome de cada trabalhador, quando o empregador efetua o primeiro
depósito. O saldo da conta vinculada é formado pelos depósitos
mensais efetivados pelo empregador, equivalentes a 8,0% do salário
pago ao empregado, acrescido de atualização monetária e juros.

Economia solidária – é um jeito diferente de produzir, vender,


comprar e trocar o que é preciso para viver. Enquanto na economia
convencional existe a separação entre os donos do negócio e os
empregados, na economia solidária os próprios trabalhadores também
são donos, pois são eles quem tomam as decisões de como tocar o
negócio, dividir o trabalho e repartir os resultados.

Há algumas iniciativas econômicas, no campo e na cidade, em


que os trabalhadores estão organizados coletivamente: associações
e grupos de produtores; cooperativas de agricultura familiar;
cooperativas de coleta e reciclagem; empresas recuperadas assumidas
pelos trabalhadores; redes de produção, comercialização e consumo;
bancos comunitários; cooperativas de crédito; clubes de trocas; entre
outras.
Vejamos alguns princípios que regem a economia solidária. São
eles:

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 49


1. Cooperação: ao invés de competir, todos devem
trabalhar de forma colaborativa, buscando os interesses e
objetivos em comum, a união dos esforços e capacidades,
a propriedade coletiva e a partilha dos resultados.
2. Autogestão: as decisões nos empreendimentos são
tomadas de forma coletiva, privilegiando as contribuições
do grupo ao invés de ficarem concentradas em um
indivíduo. Todos devem ter voz e voto. Os apoios externos
não devem substituir nem impedir o papel dos verdadeiros
sujeitos da ação, aqueles que formam os empreendimentos.
3. Ação econômica: sem abrir mão dos outros princípios, a
economia solidária é formada por iniciativas com motivação
econômica, como a produção, a comercialização, a
prestação de serviços, as trocas, o crédito e o consumo.
4. Solidariedade: a preocupação com o outro está presente
de várias formas na economia solidária, como na distribuição
justa dos resultados alcançados, na preocupação com
o bem-estar de todos os envolvidos, nas relações com
a comunidade, na atuação em movimentos sociais e
populares, na busca de um meio ambiente saudável e de
um desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2015).

A política setorial do trabalho, apesar das diversas iniciativas


aqui apresentadas e outras que podem ser verificadas em nossas
indicações, ainda carece de ações mais efetivas, dado o contingente
de desemprego e subemprego em nosso país. Uma das ações deve ser
uma articulação com nossa próxima política setorial a ser apresentada,
a política de educação.

Para saber mais


Acerca dos programas e ações do governo federal, acesse o Portal
Fundo de Amparo ao Trabalhador. Disponível em: <http://portalfat.mte.
gov.br/programas-e-acoes-2/>. Acesso em: 20 jun. 2017.

Questão para reflexão


Para você, os serviços e benefícios oferecidos pelo governo atendem às
necessidades da população pobre do país?

50 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


Atividades de aprendizagem
1.O artigo 7º da Constituição Federal de 1988 faz referência aos principais
direitos para os trabalhadores com vistas à melhoria de sua condição social.
Assinale a alternativa que contemple três direitos dos trabalhadores.
a) Piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;
irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo
coletivo, e garantia de salário, nunca superior ao mínimo, para os que
percebem remuneração variável.
b) Licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração
de cem dias; Licença-paternidade, nos termos fixados em lei, e piso salarial
proporcional à extensão e à complexidade do trabalho.
c) Salário-família para os seus dependentes; salário-família pago em razão
do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei (a entrar
em vigor) e duração do trabalho normal não superior a seis horas diárias
e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a
redução da jornada, mediante acordo.
d) Aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de
trinta dias, nos termos da lei; redução dos riscos inerentes ao trabalho, por
meio de normas de saúde, higiene e segurança; adicional de remuneração
para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei.

2. Em que contexto surgiu o feriado do dia do trabalhador? Em sua opinião,


qual é a importância de uma data comemorativa no tocante ao trabalho?

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 51


Seção 2
Política setorial de educação
Introdução à seção

Nesta seção, apresentaremos a educação enquanto política setorial,


abordando uma definição conceitual à luz da legislação vigente e
conhecendo os programas voltados para ao ensino.
2.1 Política setorial de educação
A educação é um direito social, conforme preconiza a Constituição
Federal de 1988 acerca desse direito.

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,


será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho” (BRASIL, 1988, p. 81)

Ainda conforme a lei magna, o ensino deve seguir oito princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência


na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o
pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e
coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos
oficiais;
V - valorização dos profissionais da educação escolar,
garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com
ingresso exclusivamente por concurso público de provas e
títulos, aos das redes públicas; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 53, de 2006)
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII - garantia de padrão de qualidade.
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais
da educação escolar pública, nos termos de lei federal.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
(BRASIL, 1988, p. 81).

52 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


Como podemos perceber a Constituição Federal – CF – de 1988
evidencia a educação como um direito a ser estendido a todos,
devendo o Estado e a família garantirem o seu acesso e permanência. A
principal função da educação é promover a plena realização humana,
inserindo o sujeito no contexto do Estado democrático de direito e
qualificando-o para o trabalho. A educação também se tornou um
mecanismo de desenvolvimento pessoal e social, com vistas à própria
cidadania.
Ainda no âmbito legal, vamos abordar direitos voltados à educação
básica e ensino superior. De acordo com a Lei das Diretrizes e Bases da
Educação Nacional – LDB 9394/96 –, o ensino educacional brasileiro
apresenta a seguinte divisão:
Figura 2.1 | Níveis de ensino
EDUCAÇÃO
BÁSICA

NÍVEIS DE
ENSINO

ENSINO
SUPERIOR

Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 2.2 | Níveis da educação básica


EDUCAÇÃO
INFANTIL

ENSINO EDUCAÇÃO
FUNDAMENTAL BÁSICA

ENSINO
MÉDIO

Fonte: elaborada pelo autor.

Além disso, a LDB9394/96 preconiza que a educação tem por


finalidade “[...] desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação
comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe
meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (BRASIL,
1996). Essa lei introduziu mecanismos de avaliação do ensino
básico que divulgam os resultados do trabalho desenvolvido pelos
educadores: os mais conhecidos são o Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (Ideb) e o Censo Escolar. Cabe ressaltar, que a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996 contou e ainda
conta com o auxílio do Plano Nacional da Educação – 2014 – (PNE)
que apresenta 14 artigos e um documento em que são apresentadas
20 metas e estratégias que devem ser aplicadas com vistas à:

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 53


I - erradicação do analfabetismo; II – universalização do
atendimento escolar; III - superação das desigualdades
educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e
na erradicação de todas as formas de discriminação; IV
- melhoria da qualidade da educação; V - formação para
o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores
morais e éticos em que se fundamenta a sociedade; VI -
promoção do princípio da gestão democrática da educação
pública; VII - promoção humanística, científica, cultural
e tecnológica do país; VIII - estabelecimento de meta
de aplicação de recursos públicos em educação como
proporção do Produto Interno Bruto – PIB –, que assegure
atendimento às necessidades de expansão, com padrão de
qualidade e equidade; IX - valorização dos(as) profissionais
da educação; X - promoção dos princípios do respeito
aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade
socioambiental (BRASIL, 2014).

Compete aos estados e municípios que:

[...] assegurem a articulação das políticas educacionais com


as demais políticas sociais, particularmente as culturais; que
considerem as necessidades específicas das populações
do campo e das comunidades indígenas e quilombolas,
asseguradas a equidade educacional e a diversidade cultural;
que garantam o atendimento das necessidades específicas
na educação especial, assegurado o sistema educacional
inclusivo em todos os níveis, etapas e modalidades; que
promovam a articulação interfederativa na implementação
das políticas educacionais (BRASIL, 2014).

Podemos inferir que o que compete às leis e afins é de suma


importância para essa política setorial, pois o direito adquirido na
legislação deve tornar-se efetivo na vida, principalmente, das crianças
e adolescentes. O Brasil possui uma das melhores legislações do
mundo, contudo, um texto bem escrito, apenas, não é garantia de
prática efetiva da lei; trata-se da chamada cidadania de papel, como
classifica Sacristam (2000, p. 69), “garantida nos papéis, mas não existe
de verdade”. Para eliminar a distância entre os direitos garantidos no
papel e o efetivamente praticado, todos os envolvidos com a educação
têm a missão de fomentar ideias práticas para que a legislação não seja

54 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


mais um apanhado de belas palavras que ora ou outra são consultadas,
mas que seja sim um norteador para o exercício da cidadania em nosso
país.

Fique ligado
Convém assinalar que todos devemos monitorar os
desdobramentos desses documentos (LDB, CF, PNE etc.) e exercer
“pressão social” para que principalmente as metas vislumbradas sejam
de fato materializadas. Para acompanhar os movimentos do PNE,
acesse: <http://pne.mec.gov.br/>. Acesso em: 20 ago. 2017.

Tanto a CF/88 como da LDB/9394/96 constituem-se em pilares


da atual legislação educacional, nesses documentos estão elucidados
os avanços no âmbito da educação brasileira, ambos fomentaram
novas conquistas e melhorias no sistema educacional, possibilitando o
acesso, exercício e gozo do direito social público à educação.

Para saber mais


Como a LDB é um documento ímpar ao avanço na qualidade da
educação, é valoroso conhecer a sua história e as mudanças que a
acompanharam nessas duas décadas. Acesse: <https://novaescola.
org.br/conteudo/4693/20-anos-ldb-darcy-ribeiro-avancos-desafios-
linha-do-tempo>. Acesso em: 20 ago. 2017.

A articulação entre o direito à educação e às políticas sociais é


defendido por Almeida (2003, p. 6) da seguinte maneira:

Os usuários e a própria rede de instituições que compõem


o campo da política de educação não se relaciona mais da
mesma forma com a rede de proteção social das demais
políticas setoriais. Existem nítidos sinais de estrangulamento
e redimensionamento deste relacionamento indicando
que novos espaços ocupacionais, assim como novas
dinâmicas interinstitucionais, estão sendo forjadas
como novas alternativas à nova realidade social. Tanto
as unidades educacionais passam a necessitar direta ou
indiretamente de novos aportes sociais e profissionais

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 55


para o desenvolvimento das suas funções socioinstitucionais
tradicionais, quanto as instituições e os profissionais da
rede de proteção social passam a formular projetos e ações
exclusivamente dirigidas para as escolas.

Para o autor supracitado, deve haver uma interação constante entre


a política educacional e seus autores (alunos, professores, gestores e
afins), a fim de preparar e amparar os profissionais da educação para
que possam agir como sujeitos centrais no processo de construção de
um projeto educacional de qualidade. Para tanto, algumas distorções
devem ser corrigidas, e o governo disponibiliza alguns programas
para garantir que tais lacunas sejam preenchidas. Na sequência, você
confere alguns dos atuais programas destinados à educação básica
que são de responsabilidade do Ministério da Educação – MEC:
Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – PNAIC – é um
compromisso formal assumido pelos governos federal, do Distrito
Federal, dos estados e municípios de assegurar que todas as crianças
estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do
ensino fundamental.
Programa Caminho da Escola – foi criado com o objetivo de
renovar a frota de veículos escolares, garantir segurança e qualidade ao
transporte dos estudantes e contribuir para a redução da evasão escolar,
ampliando, por meio do transporte diário, o acesso e a permanência na
escola dos estudantes matriculados na educação básica da zona rural
das redes estaduais e municipais.
Projovem Campo – saberes da terra – oferece qualificação
profissional e escolarização aos jovens agricultores familiares de 18 a
29 anos que não concluíram o ensino fundamental.
Programa Brasil Alfabetizado – voltado para a alfabetização de jovens,
adultos e idosos em todo o território nacional, com o atendimento
prioritário a municípios que apresentam alta taxa de analfabetismo.
Proinfância – atua na construção de creches e pré-escolas, bem
como na aquisição de equipamentos para a rede física escolar desse
nível educacional, indispensáveis à melhoria da qualidade da educação.
Programa Nacional de Tecnologia Educacional – Proinfo – objetiva
promover o uso pedagógico da informática na rede pública de
educação básica. O programa leva às escolas computadores, recursos

56 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


digitais e conteúdos educacionais. Em contrapartida, estados, Distrito
Federal e municípios devem garantir a estrutura adequada para receber
os laboratórios e capacitar os educadores para uso das máquinas e
tecnologias.
Programa Novo Mais Educação – criado pela Portaria MEC nº
1.144/2016 e regido pela Resolução FNDE nº 5/2016, é uma estratégia
do Ministério da Educação que tem como objetivo melhorar a
aprendizagem em língua portuguesa e matemática no ensino
fundamental, por meio da ampliação da jornada escolar de crianças e
adolescentes.
Ensino Médio Inovador – busca promover a formação integral
dos estudantes e fortalecer o protagonismo juvenil com a oferta de
atividades que promovam a educação científica e humanística, a
valorização da leitura, da cultura, o aprimoramento da relação teoria
e prática, da utilização de novas tecnologias e o desenvolvimento de
metodologias criativas e emancipadoras.

Para saber mais


Até aqui elencamos apenas algumas ações, busque conhecer as demais
visitando os portais:
<http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao-basica/programas-
e-acoes>.
<http://pne.mec.gov.br/planos-de-educacao/situacao-dos-planos-
de-educacao>.
E para conhecer as políticas públicas voltadas a sua formação continuada
acesse:
<http://portal.mec.gov.br/formacao>. Acessos em: 21 ago. 2017.

Conforme estabelecido na LDB e na DCN, o encaminhamento e


a viabilização dessas políticas contam com recursos e financiamentos
próprios da educação. Percebam quão precioso é conhecermos as
políticas públicas vigentes para termos condições de lutar pela sua
efetivação e qualidade.

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 57


Questão para reflexão
Você conhecia as políticas setoriais de educação? Será que estão em
vigor nas escolas brasileiras?

De acordo com Programa das Nações Unidas para o


Desenvolvimento – PNUD – ONU (2014), articular políticas educacionais
e sociais promove a elevação do índice de desenvolvimento humano
(IDH) brasileiro. Em 2013, o país passou da 80ª para 79ª, contudo, em
2017 ocupa essa mesma posição.

Para saber mais


Confira a apresentação dos dados do IDH 2014 feita pelos
ministros Henrique Paim, Tereza Campello e Arthur Chioro ou
ouça a entrevista em: <http://portal.mec.gov.br/busca-geral/222-
noticias/537011943/20617-politicas-educacionais-e-sociais-
contribuem-para-idh-crescer>. Acesso em: 27 jun. 2017.

Atividades de aprendizagem
1. Por que alguns autores afirmam que há uma dependência entre
educação e políticas setoriais?

2. Comente acerca das metas para melhorar a qualidade da educação em


nosso país.

58 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


Seção 3
Política setorial de habitação
Introdução à seção

Nesta seção, apresentaremos o direito à habitação enquanto política


setorial. Brevemente, explanaremos uma definição conceitual à luz
da literatura atual e também conheceremos as políticas habitacionais
vigentes no país.
Considerado pela CF/88 uma necessidade básica inerente ao ser
humano, a habitação está muitas vezes atrelada à própria sobrevivência
e dignidade do ser humano, sendo responsabilidade da União, Estados,
Municípios e Distrito Federal, que devem atuar de modo articulado para
sua efetivação. Todavia, a lei não expressa quais as atribuições inerentes
a cada um, o que promove, em muitos casos, a inércia e em outros,
a sobreposição de atuações em um mesmo território, usualmente
aqueles de maior visibilidade política.
A história nos ensina que nas últimas décadas, devido à rápida
industrialização, houve migração de grande parte da população da zona
rural para a urbana, porém, outros fatores também contribuíram para as
ocupações ilegais ou irregulares, a inexistência de políticas habitacionais
que impedissem a formação dessas áreas foi um dos fatores, a
ocupação ilegal é expressão da ausência de políticas de habitação
social. Vale ressaltar, que algumas das formas de irregularidades se
caracterizam pelas favelas (instaladas em áreas públicas e privadas),
cortiços, loteamentos clandestinos e/ou irregulares, construções sem
“habite-se”, edifícios públicos ou privados abandonados que acabam
por abrigar moradores, e também, pontes, viadutos ou beira das
estradas que se transformam em moradia.

Questão para reflexão


Como se configura esse quadro habitacional em seu município?

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 59


As políticas habitacionais propostas não foram capazes de impedir
essas moradias irregulares devido a diversos fatores políticos, sociais,
econômicos e culturais, e também porque o surgimento de políticas
habitacionais com vistas a solucionar os problemas desse setor é
recente, tendo sido implementado na Constituição Federal de 1988,
e regulamentado pelo Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001 apud SAULE
JÚNIOR 1999), que regula o uso da propriedade urbana em prol do
interesse coletivo e do equilíbrio ambiental, sendo um instrumento
inovador na política habitacional e importante ferramenta de
regularização fundiária (SAULE JÚNIOR 1999).

Para saber mais


Caracterização das áreas urbanas ilegais
As áreas ilegais são definidas por um estudo realizado pelo Instituto
Pólis, que as estruturou devido às suas diversas formas encontradas no
Brasil, em:
a) Áreas loteadas e ainda não ocupadas: ocupações realizadas em
espaços anteriormente destinados a outros fins, como construção
de ruas, áreas verdes e equipamentos comunitários ou, ainda, casas
construídas sem respeitar a divisa dos lotes;
b) Áreas alagadas: áreas localizadas em aterramentos de manguezal
ou charco; geralmente são terrenos de marinha ou da União em áreas
litorâneas:
c) Áreas de preservação ambiental: construções realizadas em margens
de rios, mananciais ou em serras, restingas, dunas e mangues;
d) Áreas de risco: moradias construídas em terrenos de alta declividade,
sob redes de alta tensão, faixas de domínio de rodovias, gasodutos e
troncos de distribuição de água ou coleta de esgotos.
Fonte: <http://polis.org.br/publicacoes/manual-de-regularizacao-
fundiaria-em-terras-da-uniao/>. Acesso em: 16 jun. 2017.

Está posto um grande desafio à política de habitação social


brasileira, que é atuar diretamente contra a ilegalidade urbana, por
meio da regularização fundiária, entendida, conforme Betânia Alfonsin
(2006, p. 100), como “[...] uma intervenção que, para se realizar efetiva e
satisfatoriamente, deve abranger um trabalho jurídico, urbanístico, físico
e social”. Se alguma destas dimensões é esquecida ou negligenciada,

60 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


não se atingem plenamente os objetivos do processo.
De acordo com o Portal Brasil (2017), há medidas que vão beneficiar
cidadãos, no campo e nas cidades, que não possuem o título das suas
propriedades, a saber:

[...] A regularização de terras e imóveis sem documentação


terá novas regras a partir desta terça-feira (11). Com a sanção
presidencial da Medida Provisória 759/2016, aprovada pelo
Congresso Nacional no mês passado, o Programa Nacional
de Regularização Fundiária vira realidade, modernizando e
tornando mais ágil a emissão dos títulos das propriedades.
Com a medida, a expectativa é de que cerca de 460 mil
títulos rurais sejam distribuídos até 2018, e que mais de 150
mil famílias de baixa renda que vivem em áreas da União
sejam beneficiadas nas cidades. "A regularização fundiária
converte uma situação de evidente precariedade do
exercício da cidadania na melhor expressão de dignidade
do cidadão", afirmou o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu
Padilha. Mais que a posse formal da terra, os documentos
possibilitam o acesso às políticas públicas destinadas aos
agricultores rurais, como ao crédito com juros baixos
do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar (Pronaf) e à Assistência Técnica e Extensão Rural
(Ater). Já nas cidades, mais de 50% dos domicílios urbanos
possuem alguma irregularidade fundiária, segundo dados
do Ministério das Cidades. Com o programa, mais imóveis
serão registrados, dando abertura aos serviços oferecidos
pelos municípios e aquecendo o mercado imobiliário.

Essa é uma das conquistas atuais, contudo, está em curso no


país a Política Nacional de Habitação (PNH), implantada em 2004
pelo Ministério das Cidades, com o objetivo de garantir à população
acesso à habitação digna, além de mobilizar recursos com as esferas
do governo. No Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social
(SNHIS) está seu principal instrumento para possibilitar o alcance dos
princípios, objetivos e diretrizes da política, mas também conta com o
Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS) e o Conselho
Gestor do FNHIS. O SNHIS tem como principais objetivos: I- viabilizar
para a população de menor renda o acesso à terra urbanizada e à
habitação digna e sustentável; II- implementar políticas e programas
de investimentos e subsídios, promovendo e viabilizando o acesso

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 61


à habitação voltada à população de menor renda; e III- articular,
compatibilizar, acompanhar e apoiar a atuação das instituições e
órgãos que desempenham funções no setor da habitação.

Para saber mais


Existe em Brasília a Secretaria Nacional de Habitação, responsável
por acompanhar, avaliar, formular e propor os instrumentos para a
implementação da Política Nacional de Habitação. Cabe ainda à SNH
coordenar e apoiar as atividades referentes à área de habitação no
Conselho das Cidades. Acesse mais informações em: <http://www.
cidades.gov.br/secretarias-nacionais/secretaria-de-habitacao/>.
Acesso em: 26 out. 2017.

Também é importante acessar o texto: Política Nacional de


Habitação: o atual cenário das políticas do setor habitacional e suas
implicações para os municípios brasileiros. Disponível em: <http://
www.cnm.org.br/cms/biblioteca_antiga/ET%20Vol%203%20-%2013.%20
Pol%C3%ADtica%20Nacional%20de%20Habita%C3%A7%C3%A3o.pdf>.
Acesso em : 14 ago. 2017.

Dentre os programas e ações do Ministério das Cidades estão em


vigor atualmente:
PAC – Urbanização de Assentamentos Precários.
Programa Minha Casa, Minha Vida.
Plano Local de Habitação de Interesse Social – PLHIS Simplificado.
Programa Moradia Digna (apoio à melhoria das condições
de habitabilidade de assentamentos precários; apoio à provisão
habitacional de interesse social).
Programa Urbanização, Regularização e Integração de
Assentamentos Precários.
Habitação de Interesse Social – HIS.
Ação Provisão Habitacional de Interesse Social.
Ação Provisão Habitacional de Interesse Social – modalidade:
assistência técnica.
Ação Apoio à Elaboração de Planos Habitacionais de Interesse
Social – PLHIS.

62 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


Ação de Apoio à Produção Social da Moradia.
OGU.
Programa Moradia Digna (apoio à urbanização de assentamentos
precários).
Habitar Brasil BID – HBB.
Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat –
PBQP-H.
Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social – PSH.
Projetos Prioritários de Investimentos – PPI (intervenções em
favelas).
Programa de Atendimento Habitacional Através do Poder Público
– Pró-Moradia.
Programa de Apoio à Produção de Habitações.
Programa Especial de Crédito Habitacional ao Cotista do Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço – Pró-cotista.
Programa de Financiamento de Material de Construção – FIMAC.
Política Socioambiental do FGTS.
Programa de Arrendamento Residencial – PAR.
Programa Crédito Solidário.
PMI – Projetos Multissetoriais Integrados.
Fonte: <http://www.cidades.gov.br/habitacao-cidades/progrmas-e-
acoes-snh>. Acesso em: 13 ago. 2017.

Podemos notar que essa política setorial, entendida não apenas


como moradia, mas como um conjunto de elementos ligados a
saneamento básico, serviços urbanos, educação, saúde, dentre outros,
constitui um dos mais graves problemas que assola nossa sociedade.
A questão habitacional é um dos grandes desafios colocados para o
Estado. Conforme observamos, há ações governamentais em seus
diversos níveis de atuação, com diferentes graus de intensidade e
amplitude e que perseguem as mais variadas soluções ainda assim,
esse problema está longe de ser solucionado.

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 63


Atividades de aprendizagem
1. Está posto um grande desafio à política de habitação social brasileira,
que é atuar diretamente contra a ilegalidade urbana. De que modo o Estado
pretende combater a ilegalidade nesse setor?

2. Qual é o objetivo da Política Nacional de Habitação (PNH) implantada em


2004 pelo Ministério das Cidades?

64 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


Seção 4
Política setorial de saúde
Introdução à seção

Nessa seção, apresentaremos o direito à saúde enquanto política


setorial. Brevemente explanaremos uma definição conceitual à luz da
literatura atual e também conheceremos as políticas de saúde vigentes
no país.

4.1 Política setorial de saúde


A saúde também foi instituída pela CF/88 como um direito social,
conforme Art. 196 “A saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal
e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação”. Para conceituar saúde, emprestamos a definição
da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2011 p. 100) que define
como “[...] estado de completo bem-estar físico, mental e social, e
não somente a ausência de enfermidade ou invalidez”. Sendo assim,
considera-se que ter saúde vai além de não ser ou estar doente, trata-
se de um conjunto de atitudes, hábitos e condições que proporcionam
o bem-estar humano e aprimoram a qualidade de vida. Como pode
ser observado, a OMS buscou definir saúde da maneira mais ampla
e positiva, incluindo fatores como alimentação, exercícios, acesso da
população ao sistema de saúde, aspectos como o ambiente social,
econômico, o físico e as características e comportamentos individuais
das pessoas, que também são determinantes para uma vida saudável.
Albuquerque e Silva (2014, p. 962) abordam a saúde da seguinte
forma:

[...] é possibilidade de objetivação em cada indivíduo


do grau de humanidade que a humanidade produziu,
apresenta-se de modo diferente nas diferentes sociedades,
nas diferentes classes e estratos de classes sociais, apesar
das semelhanças biológicas entre os corpos dos seres
humanos que as compõem.

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 65


Tal objetivação da saúde a vincula a uma determinação social,
atrelada ao modo produção, conforme detalham os autores:

[...] compreender a determinação social da saúde,


portanto, não consiste em compreender apenas que a
saúde depende do acesso aos objetos humanos, mas que
as possibilidades de realização do humano, e o acesso
aos produtos necessários para tal, dependem do grau de
desenvolvimento das forças produtivas e das relações
de produção estabelecidas em cada formação social. A
ideia dominante, de identificação dos determinantes, é,
portanto, insuficiente para direcionar ações de saúde
que contribuam efetivamente para a máxima realização
do humano. Para tal, seria necessário alterar o modo de
produção (ALBUQUERQUE; SILVA, 2014, p. 962).

Questão para reflexão


Para você, o que é ter saúde ou ser saudável?
Compare sua resposta com os estudos do livro: ALMEIDA FILHO, N. O
que é saúde? Rio de Janeiro: Fiocruz, 2011.

No que tange às políticas públicas de saúde, Rocha (2008, p. 1)


afirma que o Sistema Único de Saúde (SUS) “[...] vem ampliando as
responsabilidades municipais na garantia de acesso aos serviços
de saúde com base na sua descentralização (regionalização) e
reorganização funcional”. Foi criado com a incumbência de promover
justiça e diminuir as desigualdades sociais. Neste contexto, está
o Programa Saúde da Família (PSF) que, de acordo com o autor,
possibilitou maior visibilidade às novas formas de se produzir saúde,
particularmente, na atenção básica.

[...] Nos últimos anos, tem sido concebido como estratégia


aglutinadora de múltiplas iniciativas de mudanças do
modelo de atenção em saúde. O recente pacto pela saúde,
com novas diretrizes para as políticas de saúde brasileiras,
reafirma a centralidade da estratégia na reorganização
da Atenção Básica para a consolidação do SUS. A
substituição do modelo tradicional pelo PSF, com enfoque

66 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


na integralidade do sistema e práticas de saúde, implica
custos e o enfretamento de um conjunto de mudanças
quantitativas e qualitativas marcadas pela tendência de
extensão das equipes aos grandes centros urbanos e
descentralização de responsabilidades com a média e alta
complexidade com vistas à integralidade do sistema e das
práticas de atenção à saúde (ROCHA, 2008, p. 1).

Além do PSF, há outras políticas de Estado, a saber: 1- Programa


Crack, 2- Programa Mais Médicos, 3- Saúde Conte com a Gente
(saúde mental), 4- Saúde da Mulher, 5- Saúde da População Negra, 6-
Saúde Mais perto de Você (atenção básica), 7- Saúde não Tem Preço
(assistência farmacêutica), 8- Saúde Toda Hora (atenção às urgências) e,
9- Viver sem Limite. Ainda há ações votadas ao combate a Aids, malária
e outras doenças, melhorias para a saúde da gestante e redução da
mortalidade infantil.

Para saber mais


O SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. Abrange
desde o simples atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos,
garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população
do país. Foi criado, em 1988 pela Constituição Federal Brasileira.
Conheça a história e as ações, acessando: <http://portalsaude.saude.
gov.br/index.php/cidadao/entenda-o-sus>. Acesso em: 13 ago. 2017.

Questão para reflexão


Qual é a sua experiência com o SUS? Você conhecia todas as
incumbências desse serviço?

Vale apresentar ainda o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF)


que foi criado em 2008 para apoiar a consolidação da atenção básica
no Brasil e ampliar ofertas de saúde na rede de serviços. O trabalho das
equipes multiprofissionais se dá de modo integrado com as equipes de
saúde da família (eSF), as equipes de atenção básica para populações
específicas (consultórios na rua, equipes ribeirinhas e fluviais) e com o
Programa Academia da Saúde.

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 67


Esta atuação integrada permite realizar discussões de casos clínicos,
possibilita o atendimento compartilhado entre profissionais tanto na
unidade de saúde como nas visitas domiciliares e permite a construção
conjunta de projetos terapêuticos de forma que amplia e qualifica as
intervenções no território e na saúde de grupos populacionais. Essas
ações de saúde também podem ser intersetoriais, com foco prioritário
nas ações de prevenção e promoção da saúde.
Com a publicação da Portaria nº 3.124, de 28 de dezembro de 2012,
o Ministério da Saúde criou uma terceira modalidade de conformação
de equipe: o NASF 3, abrindo a possibilidade de qualquer município do
Brasil faça implantação de equipes NASF, desde que tenha ao menos
uma equipe de Saúde da Família (BRASIL, 2017). Embora haja esforços
para melhorar a qualidade dos serviços públicos oferecidos em saúde,
há que se trilhar um longo caminho até que se conquiste a equidade,
conforme afirmam Bossi e Afonso (2008, p. 364):

[...] A despeito dos avanços obtidos no plano legal, a


realidade dos serviços oferecidos à população em muito se
distancia da garantia do direito à saúde, tão almejada em
nosso país. Para tanto, há que se considerar o papel dos
usuários em sua relação com os profissionais e serviços,
diante do desafio de construção de uma consciência
sanitária.

Em suma, entre as políticas públicas específicas estão a da saúde


que integra o campo de ação social do Estado orientado para a
melhoria das condições de saúde da população e dos ambientes
natural, social e do trabalho. Sua missão consiste em organizar as
funções públicas governamentais para a promoção, proteção e
recuperação da saúde dos indivíduos e da coletividade. No Brasil, as
políticas públicas de saúde orientam-se conforme CF/1988, pelos
princípios de universalidade e equidade no acesso às ações e serviços
e pelas diretrizes de descentralização da gestão, de integralidade do
atendimento e de participação da comunidade, na organização de um
sistema único de saúde no território nacional.

68 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


Para saber mais
O Portal da Saúde oferece diversas informações sobre os serviços,
ações e os programas do governo federal para a promoção da saúde
no país. Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/
servicos>. Acesso em: 13 ago. 2017.

Atividades de aprendizagem
1. O que se faz necessário para afirmar que um ser humano possui saúde
ou que é saudável?

2. Quais são as incumbências do Núcleo de Apoio à Saúde da Família


(NASF)?

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 69


Seção 5
Política setorial de álcool e drogas
Introdução à seção

Nesta seção, apresentaremos as políticas governamentais com


vistas à prevenção e atuação no combate ao consumo de álcool e
drogas.
É notório que o consumo de álcool e outras drogas é um grave
problema de saúde pública, ou seja, é um problema social. Dados
de pesquisa realizada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) revelam que uma ampla gama de adolescentes já
teve acesso a bebidas alcoólicas e a drogas ilícitas. Conforme pode ser
verificado na tabela a seguir, cerca de 1,44 milhão de adolescentes entre
13 a 15 anos, relataram já ter ingerido ao menos uma dose de bebida
alcoólica, muito embora, um em cada cinco jovens apresentaram pelo
menos um episódio de embriaguez. Os estados da região sul estão
entre os que registraram maior índice de consumo de álcool nos 30
dias anteriores à pesquisa - Rio Grande do Sul, 34%, e Santa Catarina,
33,8%, seguidos de Mato Grosso do Sul (31,2%) e Paraná (30,2%), apenas
no que tange ao uso de bebidas, veja a tabela a seguir.

Tabela 2.1 | Percentual de escolares frequentando o 9º ano do ensino fundamental


que experimentaram cigarro alguma vez

70 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


Fonte: IBGE (2012).

Questão para reflexão


Você sabia que existe uma política do ministério da saúde com diretrizes,
ações e metas destinadas para atenção integral a usuários de álcool e
outras drogas?

Implantada em 2003, essa política está abarcada na esfera da saúde,


porém perpassou por diferentes entendimentos e definições até a
concretude do cenário atual:

Historicamente, a questão do uso abusivo e/ou


dependência de álcool e outras drogas têm sido abordada
por uma ótica predominantemente psiquiátrica ou médica.
As implicações sociais, psicológicas, econômicas e políticas
são evidentes, e devem ser consideradas na compreensão
global do problema. Cabe ainda destacar que o tema vem
sendo associado à criminalidade e práticas antissociais
e à oferta de “tratamentos” inspirados em modelos de
exclusão/separação dos usuários do convívio social.
Constatamos assim que, neste vácuo de propostas e de

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 71


estabelecimento de uma clara política de saúde por parte
do Ministério da Saúde, constituíram-se “alternativas de
atenção” de caráter total, fechado e tendo como principal
objetivo a ser alcançado a abstinência. A percepção
distorcida da realidade do uso de álcool e outras drogas
promove a disseminação de uma cultura de combate a
substâncias que são inertes por natureza, fazendo com que
o indivíduo e o seu meio de convívio fiquem aparentemente
relegados a um plano menos importante. Isto por vezes é
confirmado pela multiplicidade de propostas e abordagens
preventivas / terapêuticas consideravelmente ineficazes,
por vezes reforçadoras da própria situação de uso abusivo
e/ou dependência (BRASIL, 2003, p. 7).

O próprio Ministério da Saúde reconhece que ainda há limitações


no que tange à política de saúde integral destinada ao consumidor de
álcool e outras drogas:

[...] podem ser percebidos a partir do impacto econômico e


social que tem recaído para o Sistema Único de Saúde – SUS
—, seja por seus custos diretos, seja pela impossibilidade
de resposta de outras pastas governamentais voltadas para
um efeito positivo sobre a redução do consumo de drogas;
isto também ocorre no que se refere ao resgate do usuário
do ponto de vista da saúde (e não tão somente moralista ou
legalista), e em estratégias de comunicação que reforçam
o senso comum de que todo consumidor é marginal e
perigoso para a sociedade. Internamente à saúde, ressalta-
se a elaboração pregressa de políticas fragmentadas,
sem capilaridade local e de pouca abrangência, além do
desenvolvimento de ações de redução de danos adstritas
ao controle da epidemia de AIDS, não explorando as suas
possibilidades para a prevenção e a assistência (BRASIL,
2003, p. 7).

Em 2002, foram criados serviços para intermediar a relação entre o


usuário e sua família, comunidade e trabalho, de modo que estes não
sejam retirados do seu meio, são os chamados Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS), distribuídos de acordo com o porte: CAPS-I, CAPS-
II, CAPS-III (funcionando 24 horas), CAPS-AD (álcool e outras drogas) e
CAPS-I (crianças e adolescentes). No que concerne à prevenção, há

72 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


uma Rede de atenção psicossocial com os seguintes objetivos:

[...] I - Promover cuidados em saúde especialmente grupos


mais vulneráveis (criança, adolescente, jovens, pessoas
em situação de rua e populações indígenas); II - Prevenir
o consumo e a dependência de crack, álcool e outras
drogas; III - Reduzir danos provocados pelo consumo de
crack, álcool e outras drogas; IV - Promover a reabilitação
e a reinserção das pessoas com transtorno mental e com
necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras
drogas na sociedade, por meio do acesso ao trabalho,
renda e moradia solidária; V - Promover mecanismos de
formação permanente aos profissionais de saúde; VI -
Desenvolver ações intersetoriais de prevenção e redução
de danos em parceria com organizações governamentais
e da sociedade civil; VII - Produzir e ofertar informações
sobre direitos das pessoas, medidas de prevenção e
cuidado e os serviços disponíveis na rede; VIII - Regular e
organizar as demandas e os fluxos assistenciais da Rede de
Atenção Psicossocial; e IX - Monitorar e avaliar a qualidade
dos serviços através de indicadores de efetividade e
resolutividade da atenção (BRASIL, 2011, p, 12).

Há instituído também a Rede a Atenção Básica a Saúde (RAS), que


dispõe de unidade básica de saúde, entendida como:

[...] Serviço de saúde constituído por equipe


multiprofissional responsável por um conjunto de ações
de saúde, de âmbito individual e coletivo, que abrange
promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos,
o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução
de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de
desenvolver a atenção integral que impacte na situação
de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes
e condicionantes de saúde das coletividades. A Unidade
Básica de Saúde como ponto de atenção da Rede de Atenção
Psicossocial tem a responsabilidade de desenvolver ações
de promoção de saúde mental, prevenção e cuidado dos
transtornos mentais, ações de redução de danos e cuidado
para pessoas com necessidades decorrentes do uso de
crack, álcool e outras drogas, compartilhadas, sempre que
necessário, com os demais pontos da rede (BRASIL, 2011,
p. 12).

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 73


Veja na sequência as funções da Atenção Básica nas redes de
atenção à saúde:

I - Ser base: ser a modalidade de atenção e de serviço de


saúde com o mais elevado grau de descentralização e
capilaridade, cuja participação no cuidado se faz sempre
necessária;
II - Ser resolutiva: identificar riscos, necessidades e
demandas de saúde, utilizando e articulando diferentes
tecnologias de cuidado individual e coletivo, por meio
de uma clínica ampliada capaz de construir vínculos
positivos e intervenções clínica e sanitariamente efetivas,
na perspectiva de ampliação dos graus de autonomia dos
indivíduos e grupos sociais;
III - Coordenar o cuidado: elaborar, acompanhar e gerir
projetos terapêuticos singulares, bem como acompanhar e
organizar o fluxo dos usuários entre os pontos de atenção
das RAS. Atuando como o centro de comunicação entre
os diversos pontos de atenção responsabilizando-se pelo
cuidado dos usuários em qualquer destes pontos através
de uma relação horizontal, contínua e integrada com o
objetivo de produzir a gestão compartilhada da atenção
integral. Articulando também as outras estruturas das redes
de saúde e intersetoriais, públicas, comunitárias e sociais.
Para isso, é necessário incorporar ferramentas e dispositivos
de gestão do cuidado, tais como: gestão das listas de
espera (encaminhamentos para consultas especializadas,
procedimentos e exames), prontuário eletrônico em
rede, protocolos de atenção organizados sob a lógica de
linhas de cuidado, discussão e análise de casos traçadores,
eventos-sentinela e incidentes críticos, dentre outros. As
práticas de regulação realizadas na atenção básica devem
ser articuladas com os processos regulatórios realizados
em outros espaços da rede, de modo a permitir, ao mesmo
tempo, a qualidade da microrregulação realizada pelos
profissionais da atenção básica e o acesso a outros pontos
de atenção nas condições e no tempo adequado, com
equidade;
IV - Ordenar as redes: reconhecer as necessidades de
saúde da população sob sua responsabilidade, organizando
as necessidades desta população em relação aos outros
pontos de atenção à saúde, contribuindo para que a
programação dos serviços de saúde parta das necessidades
de saúde dos usuários (BRASIL, 2011).

74 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


Em suma, para a política setorial de álcool e drogas, o uso de drogas
abarca o tráfico, para o qual medidas de repressão são necessárias,
e o consumo de drogas, em que medidas assistenciais devem ser
implementadas. Reconhece ainda que os usuários podem não ter o
mesmo padrão de envolvimento com as substâncias, uma vez que
existem diferentes padrões de uso, não somente a dependência.
Sendo assim, é preciso agir com foco na prevenção, no tratamento e
na reinserção social. No que tange ao consumo do álcool, é preciso
a realização de campanhas de conscientização quanto aos danos
causados pelo álcool, redução da demanda de álcool por populações
vulneráveis, como crianças e adolescentes, prevenir os acidentes de
trânsito correlacionados com o uso de bebidas alcoólicas e incentivar
a regulamentação, o monitoramento e a fiscalização de bebidas
alcoólicas.

Para saber mais


No âmbito do SUS, a Portaria GM/816, de 30 de abril de 2002, instituiu
o Programa Nacional de Ação Comunitária Integrada aos Usuários
de Álcool e outras Drogas, levando em consideração a diversidade
de categorias organizacionais das redes assistenciais localizadas nos
Estados e Distrito Federal, os diferentes perfis populacionais existentes
no país e a variabilidade de incidência dos transtornos decorrentes do
uso abusivo e/ou dependência de álcool e outras drogas. Leia na íntegra
disponível em: <http://www.saude.mg.gov.br/images/documentos/
portaria_0816.pdf. Acesso em: 14 ago. 2017.

Atividades de aprendizagem
1. Quais são as limitações apontadas pelo Ministério da Saúde no que tange
à política de saúde integral destinada ao consumidor de álcool e outras
drogas?

2. Em 2002, foram criados serviços para intermediar a relação entre o


usuário e sua família, comunidade e trabalho, de modo que estes não sejam
retirados do seu meio, são os chamados Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS), distribuídos de acordo com o porte: CAPS-I, CAPS-II, CAPS-III
(funcionando 24 horas), CAPS-AD (álcool e outras drogas) e CAPS-i (crianças
e adolescentes), no que concerne à prevenção, há uma Rede de Atenção
Psicossocial, quais são os objetivos?

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 75


Fique ligado
Você estudou nesta unidade:
Cinco políticas sociais setoriais em nosso país:
• Trabalho.
• Educação.
• Habitação.
• Saúde.
• Álcool e drogas.
Conheceu também os principais programas e ações do governo
federal destinados a cada política, além de se aproximar do aporte
teórico e legal que respalda a reflexão e aplicação de tais políticas.

Para concluir o estudo da unidade


Nesta unidade, você pôde conhecer brevemente as políticas
setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas,
trazendo uma pequena introdução ao assunto. A partir disso, realizamos
uma aproximação introdutória em seu contexto legal e suas propostas
de efetivação na esfera da política pública.
Verificamos que há ações das diversas políticas setoriais,
contudo, ainda carecem de ações mais efetivas, dado o contexto
socioeconômico e ético-político de nosso país, que apresenta índices
alarmantes de pobreza, exclusão e desigualdade social.
O processo histórico de conquista da cidadania pelo povo brasileiro
encontra-se ainda em grande desafio. Os direitos conquistados devem
servir como estímulo para a luta de um Brasil justo, democrático e
que concretamente assegure a dignidade do ser humano. Assim, além
de reformas e políticas públicas necessárias ao “andar da carruagem”,
a revolução no Brasil só será concreta quando o povo conseguir
uma organização que os coloque como os verdadeiros gestores dos
interesses coletivos.

76 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


Atividades de aprendizagem da unidade
1. O cidadão brasileiro exerce diferentes tipos de trabalho. É considerado
pessoa física quando realiza determinados serviços em um ambiente
específico e cumpre tarefas em troca de salário. Vimos na Seção 1 os
diferentes tipos de trabalhadores em vigor no país, a partir disso, associe as
colinas a seguir:

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 77


1. Trabalhador avulso ( ) Ele realiza serviços de natureza
urbana e rural e é contratado por
sindicatos e outros órgãos, não possui
vínculo empregatício.
2. Trabalhador voluntário ( ) Está condenado e presta serviços
remunerados.

3. Trabalhador autônomo ( ) Ele executa trabalhos sem vínculo e


tem horário alternativo.

4. Trabalhador eventual ( ) Ele presta serviços a uma entidade


pública ou privada sem fins lucrativos,
sem vínculo empregatício.

5. Trabalhador presidiário ( ) Ele pode ser rural ou urbano, presta


serviços temporários sem vínculo
trabalhista.

De acordo com o Ministério do Trabalho e Previdência Social


(MTPS), a relação correta a ser feita é:
a) 2; 3; 1; 4 e 5.
b) 3; 4; 5; 1 e 2.
c) 1; 5; 3; 2 e 4.
d) 4; 1; 3; 5 e 2.
e) 3, 1, 2, 4 e 5.

2. A educação é um direito social a ser exercido em parceria com o Estado,


família e sociedade, devendo ser promovida e incentivada visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho. Conforme os princípios da lei LDB/98, não há
ensino sem:

I. Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola e liberdade


de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber.
II. Pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, e coexistência de
instituições públicas e privadas de ensino.
III. Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais.
IV. Valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma
da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso
público de provas e títulos, aos das redes públicas.
V. Atendimento educacional especializado a todos os alunos com
deficiência.

78 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


Conforme a referida lei estão corretas as afirmativas:
a) I, IV e II.
b) II e III.
c) II, III e IV.
d) I, II, III e IV.
e) III e V.

3. Compondo à Rede a Atenção Básica à Saúde (RAS), está a Unidade Básica


de Saúde. É um ponto de atenção da rede de atenção psicossocial e tem
a responsabilidade de desenvolver ações de promoção de saúde mental,
prevenção e cuidado dos transtornos mentais, ações de redução de danos
e cuidado para pessoas com necessidades decorrentes do uso de crack,
álcool e outras drogas, compartilhado, sempre que necessário, com os
demais pontos da rede. Em outras palavras, a Unidade Básica de Saúde é
entendida como:

a) Serviço de saúde constituído por equipe multiprofissional responsável por


um conjunto de ações de saúde, de âmbito individual e coletivo.
b) Serviço de saúde constituído por equipe de profissionais da saúde e
educação com o objetivo de desenvolver a atenção integral da saúde.
c) Política de saúde que impacta na situação de saúde e autonomia das
pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades.
d) Política setorial de saúde em que se norteiam as ações de saúde, de
âmbito individual e coletivo.
e) Política de saúde que impacta na vida das pessoas.

4. É sabido que uma percepção errônea e até distorcida acerca da realidade


sobre o uso de álcool e outras drogas pode vir a disseminar uma cultura
de combate a substâncias que são naturalmente inertes. Normalmente, as
propostas advindas desse pensamento possuem caráter:

a) Preventivo e/ou terapêutico.


b) Paliativo e de atenção.
c) Preventivo e informativo.
d) Separação e terapêutico.
e) Psicológico e preventivo.

U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 79


5. No que tange ao conceito de saúde, Albuquerque e Silva (2014) afirmam
que se trata de mais um determinante da vida humana. A possibilidade de
objetivação em cada indivíduo do grau de humanidade que a esta produziu,
apresenta-se de modo diferente nas diferentes sociedades, nas diferentes
classes e estratos de classes sociais, apesar das semelhanças biológicas entre
os corpos dos seres humanos que as compõem. Quais outras definições
conceituais são atribuídas à saúde:

I. Estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a


ausência de enfermidade ou invalidez.
II. Conjunto de atitudes, hábitos e condições que proporciona o bem-estar
humano e aprimora a qualidade de vida.
III. Determinantes de saúde que perpassam os aspectos como o ambiente
social e econômico, o físico e as características e comportamentos
individuais das pessoas.
IV. Ausência de doenças.
V. Intolerância medicamentosa.

A sequência que contempla as afirmativas corretas é:


a) II, III e V.
b) I, II e IV.
c) I, II e III.
d) II, IV e V.
e) I, II, III, IV e V.

80 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


Referências
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ALMEIDA FILHO, N. O que é saúde? Rio de Janeiro: Fiocruz, 2011.
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BARROS, Ricardo Paes de. Os determinantes da desigualdade no Brasil 1995.
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U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas 81


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82 U2 - Políticas setoriais: trabalho, educação, habitação, saúde, álcool e drogas


Unidade 3

Políticas setoriais: família,


criança e adolescente, idoso,
pessoa com deficiência
Rodrigo Eduardo Zambon

Objetivos de aprendizagem
Nesta unidade, você poderá realizar uma aproximação
introdutória acerca de algumas políticas sociais setoriais em seu
contexto legal e suas propostas de efetivação na esfera da política
pública. Aprenderemos o contexto das políticas sociais setoriais de
família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência.

Seção 1 | Política setorial de família


Nessa seção, você estudará a política setorial voltada à família a partir dos
pressupostos legais e à luz da literatura vigente, bem como identificará as novas
configurações de família e suas relações com o meio social.

Seção 2 | Política setorial de crianças e adolescentes


Na Seção 2, trataremos da política setorial da criança e do adolescente e
apresentaremos as políticas e programas voltados para esse público.

Seção 3 | Política setorial da pessoa idosa


Nesta seção, o estudo está voltado para a política setorial da pessoa idosa, além
disso, apresentamos algumas políticas vigentes no país e ações em vigor.

Seção 4 | Política setorial pessoa com deficiência


Neste momento, o estudo está voltado para a política setorial da pessoa com
deficiência, em que será apresentado um breve apanhado histórico e as principais
ações do governo para garantir o direito desse público.

U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência 83


84 U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência
Introdução à unidade
Pensarmos em políticas setoriais nos remete a refletir e problematizar
de que forma os direitos afetos a estas políticas estão sendo efetivados.
Nesta unidade, especificamente, significa realizarmos uma leitura da
realidade para verificar de que forma o direito da família, da criança e
do adolescente, do idoso e da pessoa com deficiência estão sendo
garantidos.
É o que veremos brevemente a seguir!

U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência 85


Seção 1
Política setorial de família
Introdução à seção

Nesta seção, apresentaremos a política setorial de família, abordando


uma definição conceitual à luz da legislação vigente e conhecendo
os programas governamentais destinados a suprir as necessidades das
famílias.
1.1 Política setorial de família
Após a Constituição Federal de 1988 (CF/88), a família passou a
ser concebida como possuidora de direitos e responsabilidades, teve
reconhecidos direitos no que se refere ao reconhecimento dos direitos
da mulher, das crianças/adolescentes, foi re(conceituada) no tocante
aos diferentes tipos de famílias, porém ainda colocada como um dos
pilares sociais (GENOFRE, 1995). No art. 226/CF-88 são evidenciados
os cuidados protetivos que cabem ao Estado.

[...] 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a


união estável entre o homem e a mulher como entidade
familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
4º Entende-se, também, como entidade familiar a
comunidade formada por qualquer dos pais e seus
descendentes.
5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal
são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio,
após prévia separação judicial por mais de um ano nos
casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato
por mais de dois anos.
7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana
e da paternidade responsável, o planejamento familiar
é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar
recursos educacionais e científicos para o exercício desse
direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de
instituições oficiais ou privadas.
8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa
de cada um dos que a integram, criando mecanismos para

86 U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência


coibir a violência no âmbito de suas relações (BRASIL,
1988).

Vale ressaltar também que no artigo seguinte são apresentados


deveres da família conjuntamente com o Estado:

[...] Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado


assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão (BRASIL, 1988).

A família está presente nas políticas sendo considerada uma rede


primária de proteção, conforme preconiza Fontenele (2012, p. 160)
“[...] é pensada como espaço de proteção social, como parceira
na ‘luta’ contra a pobreza, tendo como parâmetro de (des)proteção
a proposta dos mínimos sociais, estruturado a partir do acesso a
uma renda mínima e a serviços básicos voltados para os pobres,
saúde e educação - articulados a uma perspectiva de privatização e
assistencialização da proteção e da justiça social”. Em outras palavras,
a família pobre, é solicitada a lutar contra a pobreza, em um passado
próximo isso significaria tentar diminuir o número de filhos, mas na
atualidade essa luta perpassa desde a administração da vida dos filhos,
por exemplo, levar à escola, ao posto de saúde, não expor ao trabalho
precoce, degradante e perigoso e gerenciar o benefício monetário
destinado pelo governo para suprir as necessidades mínimas da família.
“[...] A ideologia da luta contra a pobreza é perpassada pela divisão de
responsabilidades entre governo/sociedade e pelo controle da família
e da pobreza” (FONTENELE, 2007, p. 161). Pode ser observado que a
família é convocada a cooperar na construção da ordem, da paz e da
proteção social.

U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência 87


Questão para reflexão
O que você pensa sobre a frase: ao mesmo tempo em que ela molda,
também é moldada e controlada? E ainda, qual é o real interesse do
Estado em prover a família como referência para a eficácia das políticas
públicas?

Para Mioto (2010), ao atender suas necessidades básicas, a família


retira do Estado possíveis demandas para políticas de saúde e assistência
social e certamente isso interessa ao poder público.
Entre os principais programas e benefícios do governo está o Bolsa
Família que é um programa de transferência direta de renda, voltado
às famílias em situação de vulnerabilidade e extrema pobreza, tem
por objetivo garantir o direito à alimentação, o acesso à educação e
à saúde. Estima-se que em todo o país mais de 13 milhões de famílias
receberam o valor de R$ 179,00 mês (janeiro a agosto de 2017), essas
famílias devem possuir renda mensal de até R$ 170,00 por pessoa, na
sua configuração devem constar membros, como gestantes, crianças
ou adolescentes (entre 0 e 17 anos). Para participar desse e de outros
programas Sociais do governo federal, é preciso realizar o Cadastro
Único, meio pelo qual o governo conhece as reais necessidades das
famílias. Segundo dados do Ministério Social e Agrário, em julho de 2017
havia 27.976.018 famílias inscritas no Cadastro Único para programas
sociais, cerca de 80.771.343 pessoas cadastradas com a seguinte renda
per capita mensal:
• 12.756.097 com renda per capita familiar de até R$ 85,00.
• 3.888.891 com renda per capita familiar entre R$ 85,01 e R$
170,00.
• 6.806.031 com renda per capita familiar entre R$ 170,01 e
meio salário mínimo.
• 4.524.999 com renda per capita acima de meio salário mínimo.

Questão para reflexão


Afinal, em meio há diferentes arranjos familiares, podemos definir apenas
um tipo de família? Qual é a definição de família na atual conjuntura?

88 U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência


Para Teixeira (2008, p. 64-65) existem nove tipos de composição
familiar:

[...] 1) Família nuclear: é a família formada por pai, mãe e


filhos biológicos, ou seja, é a família formada por apenas
duas gerações;
2) Famílias extensas: são as famílias formadas por pai, mãe,
filhos, avós e netos ou outros parentes, isto é, a família
formada por três ou quatro gerações;
3) Famílias adotivas temporárias: são famílias (nuclear,
extensa ou qualquer outra) que adquirem uma característica
nova ao acolher um novo membro, mas temporariamente;
4) Famílias adotivas: são as famílias formadas por pessoas
que, por diversos motivos, acolhem novos membros,
geralmente crianças, que podem ser multiculturais ou
birraciais;
5) Famílias de casais: são as famílias formadas apenas pelo
casal, sem filhos;
6) Famílias monoparentais: são as famílias chefiadas só
pelo pai ou só pela mãe;
7) Famílias de casais homossexuais com ou sem criança:
são as famílias formadas por pessoas do mesmo sexo,
vivendo maritalmente, possuindo ou não crianças;
8) Famílias reconstruídas após o divórcio: são famílias
formadas por pessoas (apenas um ou o casal) que
foram casadas, que podem ou não ter crianças do outro
casamento;
9) Famílias de várias pessoas vivendo juntas, sem laços
legais, mas com forte compromisso mútuo: são famílias
formadas por pessoas que moram juntas e que, mesmo
sem ter a consanguinidade, são ligadas fortemente por
laços afetivos.

Analisando a relação dialética de mudanças da família, de acordo


com Álvares (2008, p. 17), ela está em constante transformação e
dinamicidade, “sofrendo influências internas que lhe sucedem como:
nascimento, casamento, morte de seus membros e por fatores
externos: sociais, econômicos, culturais, entre outros”. Ainda conforme,
Álvares (2008), além dessas mudanças, outras transformações na
família contemporânea ocorreram, tais como: maior participação
das mulheres no mercado de trabalho e nas universidades, com
exceção das classes mais pobres; casamentos consentidos por fatores

U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência 89


afetivos e emocionais com base no amor romântico; esposa e filhos
da tradicional família nuclear inserindo-se no mercado de trabalho e
alterando relações de poder tanto nos aspectos econômicos, quanto
políticos; a diminuição do número de filhos; a redução de número de
matrimônios realizados legalmente (casamento civil); o aumento de
separações e divórcios; o aumento de número de famílias chefiadas
por mulheres e das unidades unipessoais, entre outros.

Para saber mais


Objetivando combater a fome e promover a segurança nutricional;
combater a pobreza e outras formas de privação das famílias; promover
o acesso à rede de serviços públicos (saúde, educação, segurança
alimentar e assistência social), o governo federal por meio da Caixa
Econômica Federal dispõe às famílias mais pobres diferentes tipos de
benefícios:
• Benefício básico: concedido às famílias em situação de extrema
pobreza (com renda mensal de até R$ 85,00 por pessoa). O auxílio é de
R$ 85,00 mensais.
• Benefício variável: para famílias pobres e extremamente pobres,
que tenham em sua composição gestantes, nutrizes (mães que
amamentam), crianças e adolescentes de 0 a 16 anos incompletos. O
valor de cada benefício é de R$ 39,00 e cada família pode acumular até
5 benefícios por mês, chegando a R$ 195,00.
• Benefício variável de 0 a 15 anos: destinado a famílias que tenham em
sua composição, crianças e adolescentes de 0 a 15 anos de idade. O
valor do benefício é de R$ 39,00.
• Benefício variável à gestante: destinado às famílias que tenham em sua
composição gestante. Podem ser pagas até nove parcelas consecutivas
a contar da data do início do pagamento do benefício, desde que a
gestação tenha sido identificada até o nono mês. O valor do benefício
é de R$ 39,00.
• Benefício variável nutriz: destinado às famílias que tenham em sua
composição crianças com idade entre 0 e 6 meses. Podem ser pagas
até seis parcelas mensais consecutivas a contar da data do início do
pagamento do benefício, desde que a criança tenha sido identificada
no Cadastro Único até o sexto mês de vida. O valor do benefício é de
R$ 39,00.
• Benefício variável jovem: destinado às famílias que se encontrem
em situação de pobreza ou extrema pobreza e que tenham em sua

90 U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência


composição adolescentes entre 16 e 17 anos. O valor do benefício é de
R$ 46,00 por mês e cada família pode acumular até dois benefícios, ou
seja, R$ 92,00.
• Benefício para superação da extrema pobreza: destinado às famílias
que se encontrem em situação de extrema pobreza. Cada família pode
receber um benefício por mês. O valor do benefício varia em razão do
cálculo realizado a partir da renda por pessoa da família e do benefício
já recebido no Programa Bolsa Família.
• Observação: As famílias em situação de extrema pobreza podem
acumular o benefício básico, o variável e o variável jovem, até o máximo
de R$ 372,00 por mês. Como também, podem acumular um benefício
para superação da extrema pobreza.
Fonte: <http://www.caixa.gov.br/programas-sociais/bolsa-familia/
Paginas/default.aspx>. Acesso em: 20 ago. 2017.

Atividades de aprendizagem
1. De acordo com Alvarez (2008, p. 17), a família e seus diversos modelos
estão em constante transformação e dinamicidade, “sofrendo influências
internas que lhe sucedem como: nascimento, casamento, morte de seus
membros e por fatores externos: sociais, econômicos, culturais, entre
outros”. Considerando tal afirmação, você acredita que as classes mais
pobres têm mais dificuldade em lidar com seus problemas, inclusive
econômicos?

2. De acordo com a Constituição Federal de 1988, a família conjuntamente


com o Estado possui alguns deveres. Complete a sentença com os direitos
faltantes.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
________________, à alimentação, à __________________, ao lazer, à
profissionalização, _____________________, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, _________________________, exploração,
__________________, crueldade e opressão.

U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência 91


Seção 2
Política setorial de crianças e adolescentes
Introdução à seção

Nesta seção apresentaremos a política setorial de crianças e


adolescentes, abordando as medidas protetivas à luz da legislação
vigente e as ações e programas voltados para a garantias dos direitos
desse público.
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – Lei nº
8.069/90 (BRASIL, 1990), em nosso país, a divisão etária é estabelecida
da seguinte maneira: crianças: 0 a 12 anos; adolescente: 12 a 18
anos; jovens: 18 a 29 anos. Existe uma Política Nacional dos Direitos
Humanos de Crianças e Adolescentes orientada a partir valores
universais e permanentes que foram incorporados socialmente. Tais
princípios, inegociáveis, ancoram a base da política, uma vez que
refletem as premissas da Convenção sobre os Direitos da Criança e
de outros acordos internacionais das Nações Unidas, da Constituição
Federal e do ECA. Os oito princípios da Política Nacional da Criança e
do Adolescente são apresentados a seguir.

[...] Universalidade dos direitos com equidade e justiça


social. Todos os seres humanos são portadores da
mesma condição de humanidade; sua igualdade é a
base da universalidade dos direitos. Associar à noção de
universalidade as de equidade e justiça social significa
reconhecer que a universalização de direitos em um
contexto de desigualdades sociais e regionais implica foco
especial nos grupos mais vulneráveis.
Igualdade e direito à diversidade. Todo ser humano
tem direito a ser respeitado e valorizado, sem sofrer
discriminação de qualquer espécie. Associar a igualdade
ao direito à diversidade significa reconhecer e afirmar a
heterogeneidade cultural, religiosa, de gênero e orientação
sexual, físico-individual, étnico-racial e de nacionalidade,
entre outras.

92 U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência


Proteção integral para a criança e o adolescente. A proteção
integral compreende o conjunto de direitos assegurados
exclusivamente a crianças e adolescentes, em função de
sua condição peculiar de pessoas em desenvolvimento.
São direitos específicos que visam assegurar a esses grupos
etários plenas condições para o seu desenvolvimento
integral.
Prioridade absoluta para a criança e o adolescente. A
garantia de prioridade absoluta assegurada a crianças e
adolescentes implica a sua primazia em receber socorro,
proteção e cuidados, bem como a sua precedência no
atendimento e preferência na formulação e execução de
políticas e ainda na destinação de recursos públicos.
Reconhecimento de crianças e adolescentes como sujeitos
de direitos. O reconhecimento de crianças e adolescentes
como sujeitos de direitos significa compreendê-los como
detentores de todos os direitos da pessoa humana, embora
o exercício de alguns seja postergado. A titularidade desses
direitos é plenamente compatível com a proteção integral,
esta sim devida apenas a eles.
Descentralização político-administrativo. A Constituição
Federal de 1988 elevou os municípios à condição de entes
federados e estabeleceu novo pacto federativo, com
base na descentralização político-administrativa e na co-
responsabilidade entre as três esferas de governo para a
gestão e o financiamento das ações.
Participação e controle social. A participação popular
organizada na formulação e no controle das políticas
públicas de promoção, proteção e defesa dos direitos da
criança e do adolescente está prevista na Constituição
Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente; seus
espaços preferenciais de atuação são os conselhos dos
direitos e o processo de conferências.
Intersetorialidade e trabalho em rede. A organização
das políticas públicas por setores ou segmentos impõe
a adoção da ótica intersetorial e de trabalho em rede
para compreensão e atuação sobre os problemas, o que
está previsto no ECA ao estabelecer que a política será
implementada por meio de um conjunto articulado de
ações governamentais e não governamentais no âmbito da
União, dos Estados, Distrito Federal e Municípios. (BRASIL,
1990, p. 27-28).

U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência 93


As políticas setoriais voltadas à criança e ao adolescente têm por
missão promover políticas públicas voltadas à promoção dos direitos
da criança e do adolescente. As ações são executadas pela Secretaria
Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente
(SNPDCA):

[...] Coordenar as ações e medidas governamentais


referentes à criança e ao adolescente;
Coordenar a produção, a sistematização e a difusão das
informações relativas à criança e ao adolescente;
Coordenar ações de fortalecimento do Sistema de Garantia
de Direitos (SGD) de crianças e adolescentes;
Coordenar a política nacional de convivência familiar e
comunitária;
Coordenar a política do Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo (Sinase);
Coordenar o Programa de Proteção de Adolescentes
Ameaçados de Morte (PPCAAM);
Coordenar o enfrentamento ao abuso e exploração sexual
de crianças e adolescentes;
Exercer a secretaria-executiva do Conselho Nacional dos
Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda)” (BRASIL,
2017).

De acordo com a CF/88, um dos direitos da criança e do adolescente


é a convivência familiar, enquanto parte das condições para a garantia
do seu bem-estar:

[...] Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado


assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão (BRASIL, 1988, p. 81).

94 U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência


Já ao Estado cabe:

[...] 1º O Estado promoverá programas de assistência


integral à saúde da criança e do adolescente, admitida
a participação de entidades não governamentais e
obedecendo aos seguintes preceitos:
§ 1º O Estado promoverá programas de assistência integral
à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a
participação de entidades não governamentais, mediante
políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos:
I - aplicação de percentual dos recursos públicos
destinados à saúde na assistência materno-infantil;
II - criação de programas de prevenção e atendimento
especializado para os portadores de deficiência física,
sensorial ou mental, bem como de integração social
do adolescente portador de deficiência, mediante o
treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação
do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação
de preconceitos e obstáculos arquitetônicos.
§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes
aspectos:
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao
trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII;
II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente à
escola;
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem
à escola;
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição
de ato infracional, igualdade na relação processual e defesa
técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a
legislação tutelar específica;
V - obediência aos princípios de brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa
em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer
medida privativa da liberdade;
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência
jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei,
ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou
adolescente órfão ou abandonado;
VII - programas de prevenção e atendimento especializado
à criança e ao adolescente dependente de entorpecentes
e drogas afins.
VII - programas de prevenção e atendimento especializado

U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência 95


à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de
entorpecentes e drogas afins.
§ 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a
exploração sexual da criança e do adolescente.
§ 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da
lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação
por parte de estrangeiros.
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento,
ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas
à filiação.
§ 7º No atendimento dos direitos da criança e do
adolescente levar-se-á em consideração o disposto no
art. 204.
§ 8º A lei estabelecerá
I - O estatuto da juventude, destinado a regular os direitos
dos jovens;
II - O plano nacional de juventude, de duração decenal,
visando à articulação das várias esferas do poder público
para a execução de políticas públicas.
Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de
dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os
filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar
e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade
(BRASIL, 1988, p. 81).

No tocante a saúde é assegurada pelo Estatuto da Criança e


Adolescente (ECA) atendimento integral à criança e ao adolescente,
via Sistema Único de Saúde (SUS), com acesso a ações e serviços que
promovam proteção e recuperação da saúde. A fim de enfrentar os
desafios da situação da saúde desse público, o Ministério da Saúde,
articulado com diversos setores, construiu diretrizes que guiam
o trabalho de gestores e profissionais da área no atendimento a
adolescentes e jovens. Ainda conforme o ECA (BRASIL, 1990), é
condenado todo e qualquer atentado aos direitos fundamentais,
embora, passados 27 anos da promulgação, tais violações sejam
recorrentes, casos mais comuns perpassam a violência doméstica e
institucional, a violência sexual, a situação de rua, o trabalho infantil,
a negação do direito à convivência familiar e a morbimortalidade por
violência.

96 U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência


[...] para o enfrentamento dessas situações, construídas ao
longo dos séculos, há que se destacar o papel dos Conselhos
Tutelares como instância formal de atendimento à violação
ou ameaça de violação de direitos. Os Conselhos Tutelares
(CT) encontram-se instalados em 98,3% dos municípios
brasileiros, num total de 5.472 Conselhos, com 27.360
conselheiros tutelares (IBGE, 2009a). Dos 92 municípios
que não possuem CT 52% se concentram em três estados:
Maranhão, Bahia e Minas Gerais. Ao considerarmos que
há 10 anos estavam presentes em 71,9% dos municípios,
verifica-se que estão praticamente universalizados”
(BRASIL, 1990, p. 13).

Esse órgão, de acordo com o artigo 136 do ECA, tem por atribuições:

[…] atender às crianças e adolescentes nas hipóteses


em que seus direitos forem violados, seja por ação ou
omissão da sociedade ou do Estado, por falta, omissão
ou abuso dos pais ou responsável, ou em caso de ato
infracional. O Conselho Tutelar pode aplicar medidas
como encaminhamento da criança ou do adolescente aos
pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade,
orientação, apoio e acompanhamento temporários,
matrícula e frequência obrigatória em estabelecimento
oficial de ensino fundamental, inclusão em serviços e
programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio
e promoção da família, da criança e do adolescente
e requisição de tratamento médico, psicológico ou
psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial, dentre
outros (BRASIL, 1990, p. 33).

Sabemos que diariamente uma ampla gama de meninos e meninas


têm seus direitos violados no Brasil e estão expostos aos diversos tipos
de violência: drogas, o bullying, a pornografia infantoadolescente na
internet, a morbimortalidade por causas externas, o abuso sexual,
a violência física intrafamiliar, entre outras, contudo, algumas ações
são realizadas com vistas a protegê-los, e o conselheiro tutelar é um
agente protetor em potencial. Eleito pela sociedade para zelar pelos
direitos das crianças e dos adolescentes, entre suas atribuições está o
acompanhamento dos menores em situação de risco e decidem em
conjunto sobre qual medida de proteção para cada caso.

U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência 97


Questão para reflexão
Você conhece a campanha “Respeitar. Proteger. Garantir - Todos
Juntos pelos Direitos de Crianças e Adolescentes”? Em sua opinião, esse
tipo de campanha é eficaz?

Ela foi criada por diversos setores da sociedade a fim de estimular


a sociedade na denúncia de situações como: trabalho infantil;
exploração sexual infantil; uso de álcool e outras drogas por crianças e
adolescentes; crianças em situação de rua e desaparecimento.

Para saber mais


O vídeo da campanha pode ser conferido no endereço a seguir.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=VewldMOf4b4>.
Acesso em: 24 ago. 2017.

Em 2003, destaca-se a criação do Disque Denúncia Nacional,


conhecido como disque 100, que já realizou mais de 2,5 milhões de
atendimentos e encaminhou cerca de 130 mil denúncias envolvendo
mais de 4.500 municípios até o findar de 2016.
Não obstante, o Estado tem o dever de cumprir responsavelmente
com os compromissos junto à infância e à adolescência, além de
atender às novas demandas que se apresentam, como o direito humano
de crianças e adolescentes de viverem em cidades sustentáveis,
socialmente inclusivas, com a superação de barreiras de iniquidades e
de todas as formas de discriminação, opressão e violência.

Para saber mais


Conheça o documento elaborado pela Secretaria de Direitos
Humanos, Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança
e do Adolesceente e Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente, intitulado Construindo a Política Nacional dos Direitos
Humanos de Crianças e Adolescentes e o Plano Decenal dos Direitos
Humanos de Crianças e Adolescentes 2011 – 2020, no qual são
apresentados os seguintes itens:
• Situação da infância e adolescência no Brasil
• Política Nacional dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes

98 U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência


• Princípios, eixos orientadores e diretrizes
• Plano Decenal dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes
• 30 objetivos estratégicos e metas
Fonte: <https://www.unicef.org/brazil/pt/PoliticaPlanoDecenal_
ConsultaPublica.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2017.

Atividades de aprendizagem
1. Para o enfrentamento dos diversos tipos de violência enfrentados pelas
crianças e adolescentes, há que se destacar o papel dos conselheiros
tutelares como instância formal de atendimento à violação ou ameaça de
violação de direitos. Relate a função desses conselheiros.

2. Quais são os tipos de violência recorrentes em crianças e adolescentes?

U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência 99


Seção 3
Política setorial da pessoa idosa
Introdução à seção

Nessa seção, apresentaremos a política setorial da pessoa idosa e


brevemente explanaremos uma definição conceitual à luz da literatura
atual e conheceremos as principais políticas vigentes no país.
Conforme o Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741,de 1º de outubro de
2003, pessoa idosa é aquela com 60 anos ou mais. Essa população
cresce abruptamente no Brasil, conforme dados de 2010, do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há neste período, 23 milhões
idosos, totalizando 11,8% da população total do país (IBGE, 2010). A
expectativa de vida, para ambos os sexos, aumentou para 74 anos,
sendo 77,7 anos para a mulher e 70,6 para o homem. Esse crescimento
representa uma importante conquista social e resulta da melhoria das
condições de vida, com ampliação do acesso a serviços médicos
preventivos e curativos, avanço da tecnologia médica, ampliação da
cobertura de saneamento básico, aumento da escolaridade e da renda,
entre outros determinantes, assim afirma a Coordenação de Saúde da
Pessoa Idosa – MINISTÉRIO DA SAÚDE-COSAPI/DAET/SAS (2017).

Para saber mais


Sobre o envelhecimento no Brasil, acesse o link a seguir, pois este estudo
mostra além do perfil da pessoa idosa, aponta avanços no tocante à
qualidade de vida. Disponível em: <http://www.sdh.gov.br/assuntos/
pessoa-idosa/dados-estatisticos/DadossobreoenvelhecimentonoBras
il.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2017.

Alguns dos principais dispositivos legais que ancoram a proteção


e os direitos da pessoa idosa são: 1) Lei Federal nº 10.741, de 2003:
dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências; 2) Lei
Federal nº 8.842, de 1994: dispõe sobre a política nacional do idoso,
cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências; 3) Decreto

100 U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência
Federal nº 1.948, de 1996: regulamenta a Lei nº 8.842, de 4 de 1994,
que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, e dá outras providências;
4) Portaria nº 2.528, de 2006 (Ministério da Saúde): aprova a Política
Nacional de Saúde da Pessoa Idosa; 5) Decreto nº 5.934, de 2006:
estabelece mecanismos e critérios a serem adotados na aplicação do
disposto no art. 40 da Lei nº 10.741, 2003 (Estatuto do Idoso); exercício
do direito no sistema de transporte coletivo interestadual, nos modais
rodoviário, ferroviário e aquaviário e, 6) Resolução nº 303, de 2008
(CONTRAN): dispõe sobre as vagas de estacionamento de veículos
destinadas exclusivamente às pessoas idosas.

Questão para reflexão


Você conhece instituições de defesa e garantia dos direitos da pessoa
idosa?

Dentre as principais instituições de defesa e garantia dos direitos da


pessoa idosa estão:
• Portal do Envelhecimento: formado por membros associados
do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento (OLHE),
profissionais de diversas áreas, pesquisadores e professores, mestres
e doutores, todos estudiosos do processo de envelhecimento na
perspectiva do ser que envelhece e não unicamente que adoece.
• Portal da 3ª Idade: realizado pela Associação Cultural Cidadão
Brasil, é voltado para a terceira idade e atualizado diariamente com
notícias, cursos, eventos e dicas culturais.
• Pastoral da Pessoa Idosa: tem por objetivo assegurar a
dignidade e a valorização integral das pessoas idosas, por meio da
promoção humana e espiritual, respeitando seus direitos, num processo
educativo de formação continuada destas, de suas famílias e de suas
comunidades, sem distinção de raça, cor, profissão, nacionalidade,
sexo, credo religioso ou político, para que as famílias e as comunidades
possam conviver respeitosamente com as pessoas idosas, protagonistas
de sua autorrealização, por meio de diversas atividades.

U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência 101
Atividades de aprendizagem
1. Em sua opinião, qual é o fator predominante para o aumento da
população idosa em nosso país?

2. A pessoa idosa tem a seu dispor, alguns dispositivos legais que ancoram
a sua proteção e direitos. Assinale a opção que apresenta alguns desses
dispositivos:

a) Lei de Diretrizes e Bases da Educação.


b) Estauto da Criança e Adolescente.
c) Plano Nacional de Educação.
d) Estatuto do Idoso.
e) Estatuto das Cidade.

102 U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência
Seção 4
Política setorial da pessoa com deficiência
Introdução à seção

Nesta seção veremos a política setorial das pessoas com deficiência.


Brevemente apresentaremos o contexto histórico e legal, bem como
as ações governamentais para este público.
4.1 Política setorial pessoa com deficiência
Em conformidade com a Internacional classification of impairments,
disabilities, and handicaps: a manual of classification relating to
the consequences of disease (ICIDH), traduzido por Classificação
internacional de deficiências, incapacidades e desvantagens: um
manual de classificação das consequências das doenças, o Brasil
utiliza o quadro a seguir para classificar as deficiências. Ela “[…] tem sido
utilizada na determinação da prevalência das incapacidades, aplicada à
área de seguro social, saúde ocupacional, concessões de benefícios e,
em nível comunitário, em cuidados pessoais de saúde ou como forma
de avaliar pacientes em reabilitação” (AMIRALLIAN, 2000, p. 98).

Quadro 3.1 | Distinção semântica entre os conceitos

Deficiência Incapacidade Incapacidade Desvantagem

Da linguagem De falar Na orientação


Da audição (sensorial) De ouvir
Da visão De ver

Músculoesquelética De andar (de locomoção) Na independência


(física) De assegurar a subsistência no lar física
De órgãos (orgânica) (posição do corpo e destreza) Na mobilidade
De realizar a higiene pessoal Nas atividades da vida
De se vestir (cuidado pessoal) diária
De se alimentar
Intelectual (mental) De aprender Na capacidade
Psicológica De perceber (aptidões particulares) ocupacional
De memorizar Na integração social
De relacionar-se (comportamento)
De ter consciência

Fonte: Amiralian (2000).

U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência 103
A história da humanidade comprova que em todos os momentos as
pessoas com deficiência foram alvos de comportamentos de diversas
reações, ora acolhedoras/integradoras, ora excludentes/contraditórias.
Esses comportamentos mudaram de acordo com os avanços sociais,
culturais, científicos e tecnológicos que acometiam a sociedade. No
Quadro 3.2 pode-se verificar importantes acontecimentos referindo-se
às pessoas com deficiência.

Quadro 3.2 | Fatos históricos

Momento histórico Fatos marcantes.

Roma Antiga A criança que nascia com deficiência era abandonada


nos esgotos para morrer, era considerada sem alma.
Século III – Idade Média Hegemonia da Igreja, nesse período a pessoa com
deficiência era considerada herege, demônio, o que
justificava serem alvos da inquisição.
Século VI - Reforma Protestante As pessoas com necessidades especiais continuavam
sendo perseguidas, uma parte da sociedade considerava
que os deficientes mentais eram seres diabólicos que
mereciam castigo para serem purificados.
Século - VI Revolução industrial Com o avanço do capitalismo as pessoas com
deficiências eram consideradas improdutivas, e definidas
como um peso social.
Século VIII e XIX As pessoas com deficiência continuam isoladas
socialmente, mas agora em abrigos, conventos e
albergues. Surge o primeiro hospital psiquiátrico da
Europa, mas não havia tratamento especializado nem
educacional. Em 1784 foi fundada a primeira escola para
cegos visando à educação profissional.
Século - XX Avanço Científico Nesse período já considerava como cidadão a
pessoa com deficiência, sendo portador de direitos
e deveres, predomínio de um caráter caritativo e
assistencialista. Com a ajuda da ciência a sociedade
“tenta” compreender e facilitar a vida das pessoas com
necessidades.
1948 - Declaração Universal dos Produzida pela Organização das Nações Unidas, afirma
Direitos Humanos que todos os seres nascem livres e iguais em direitos e
dignidade.

Fonte: Zambon (2008).

A diversidade está presente porque somos seres únicos, cada qual


com características próprias. Lidar com essas diferenças é um desafio
que perpassa o passado e o presente, sendo assim, é importante
conhecermos a história para compreender melhor o presente e agir de
forma diferente. Ao observar o Quadro 3.2 percebe-se que desde a Roma

104 U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência
Antiga até os primórdios do século XIX as pessoas com deficiências
foram alvo de discriminação. A humanidade não sabia lidar com o
diferente, recorrendo muitas vezes aos mitos para explicar e justificar a
deficiência física ou mental, esse rótulo evidenciava-se principalmente
quando a deficiência tinha origem antes do nascimento, atribuídas
a castigos divinos e/ou possessão diabólica. Após a dominação do
capitalismo na maior parte do mundo, verifica-se que a busca de
explicações científicas significou uma iniciativa em superar os mitos e
preconceitos. Com o surgimento e avanço da ciência (século XX), as
causas genéticas das deficiências ou deformações foram descobertas,
mas o preconceito não foi totalmente superado e, infelizmente perdura
até os dias atuais.
No âmbito educacional, o Brasil, foi o precursor na legitimação da
inclusão. No artigo 208 da CF/88 é previsto o atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede
regular de ensino, sendo considerados educandos com necessidades
educacionais especiais aqueles que apresentarem no processo de
aprendizagem dificuldades acentuadas ou limitações para acompanhar
as atividades curriculares; condições de comunicação e sinalização
diferenciadas dos demais alunos (BRASIL, 1988).
Além disso, foram estabelecidas diretrizes para tratar a educação
especial como modalidade da educação e ainda dispõe como princípio
educacional a criação de programas de atendimento especializado
para os portadores de deficiência física, mental, sensorial, bem como
de integração social do adolescente portador de deficiência. No artigo
58 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB/96), a educação
especial é definida, como uma modalidade de educação escolar,
oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos
com necessidades especiais (BRASIL, 1996). Nos parágrafos do artigo
58 observam-se orientações importantes:

U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência 105
[...] § 1º - Haverá, quando necessário, serviços de
apoio especificado, na escola regular para atender às
peculiaridades da clientela especial.
§ 2º - O atendimento educacional será feito em classes,
escolas ou serviços especializados, sempre que, em função
das condições específicas dos alunos, não for possível sua
integração nas classes comuns de ensino regular.
§ 3º- A oferta de educação especial, dever constitucional
do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos,
educação infantil (BRASIL, 1996, p. 54).

No artigo 59 destacam-se: organização de currículos, métodos,


técnicas, recursos para atender às necessidades; terminalidade
específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para
a conclusão do ensino fundamental, e aceleração para concluir em
menor tempo o programa escolar para os superdotados; professores
com especialização adequada em nível médio ou superior, para
atendimento especializado, bem como professores do ensino regular
capacitados para a integração nas classes comuns; educação especial
para o trabalho, visando à sua integração na vida social, acesso igualitário
aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o
respectivo nível do ensino regular (BRASIL, 1996). Finalizando os artigos
da LDB, prioriza-se o parágrafo único,

O Poder Público adotará, como alternativa preferencial,


a ampliação do atendimento aos educandos com
necessidades especiais na própria rede pública regular
de ensino, independentemente do apoio às instituições
previstas neste artigo” (BRASIL, 1996, p. 57).

Para saber mais


Sobre a inclusão escolar, sugerimos a seguinte leitura:
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. PRIETO, Rosângela Gavioli. Inclusão
escolar: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2006. 103 p.

Na esfera trabalhista há aparatos legais que visam garantir à


pessoa com deficiência vaga no mercado de trabalho pela via da
empregabilidade (Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991), reservando um
percentual de cotas proporcionalmente ao número de funcionários de
uma empresa. Apesar disso, Da Rosa (2005, p. 76) alerta que “[...] o que
se constata é uma imensa dificuldade da sociedade para efetivar suas
106 U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência
propositas, verificando-se a necessidade de uma constante revisão de
suas práticas inclusivas, por vezes excludentes e discriminatórias”.
O Brasil possui ainda a Lei Brasileira de Inclusão (LBI/2015), conhecida
também como Estatuto da Pessoa com Deficiência, conhecida como
inovadora e ousada, é resultado de uma construção coletiva e avançou,
entre outros pontos, ao ampliar a punição para quem desrespeita
os direitos desse segmento da população, ao mudar a avaliação de
pessoas com deficiência que reivindicam benefícios e direitos sociais
e ao proibir atos discriminatórios, como cobrar mensalidade mais cara
de alunos com deficiência (BRASIL, 2016).

[...] O propósito da presente Convenção é promover,


proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de
todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por
todas as pessoas com deficiência e promover o respeito
pela sua dignidade inerente. Pessoas com deficiência
são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais,
em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdades
de condições com as demais pessoas (BRASIL, 2016).

Questão para reflexão


Você acredita que a lei de cotas, que pretende minimizar o problema da
exclusão social e oportunizar às pessoas com deficiência mais qualidade
de vida, tem atingido esse objetivo? Você acha que as empresas estão
adaptadas para receber estas pessoas?

Da Rosa (2005, p. 75) afirma ainda que apesar do avanço legal,


ainda não temos o que comemorar, pois a efetivação da lei depende
de alguns complexos fatores

que exigem de todos os envolvidos, uma (re)posição que


revisa as referências que fundamentam os conceitos e
os preconceitos de uma sociedade sobre determinada
questão, assim como é preciso considerar, aspectos
políticos, econômicos, institucionais

U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência 107
Atividades de aprendizagem
1. Considerando o papel do Estado no tocante à inclusão escolar, descreva
o que a LDB contempla como imprescindível para que os alunos sejam
incluídos dignamente.

2. Na esfera trabalhista há aparatos legais que visam garantir à pessoa com


deficiência vaga no mercado de trabalho pela via da empregabilidade. Qual
é a principal regra para que a pessoa com deficiência seja contratada?

Fique ligado
Você estudou nesta unidade:
Quatro políticas sociais setoriais em nosso país:
• Família.
• Criança e adolescente.
• Idoso.
• Pessoa com deficiência.

Conheceu também os principais programas e ações do governo


federal destinados a cada uma delas e se aproximou do aporte teórico
e legal que respalda a reflexão e aplicação dessas políticas.

Para concluir o estudo da unidade


Nesta unidade você pôde conhecer brevemente as políticas
setoriais destinadas à família, à criança e ao adolescente, ao idoso e à
pessoa com necessidades especiais, com uma pequena introdução ao
assunto. Realizamos uma aproximação introdutória em seu contexto
legal e suas propostas de efetivação na esfera da política pública.
Verificamos que há diversas iniciativas, contudo, ainda carecem de
ações mais efetivas. Por isso, é fundamental a consolidação das políticas
setoriais enquanto política pública, no universo dos direitos sociais e
do alargamento da cidadania. Reconhecer os limites e possibilidades

108 U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência
da concretização da cidadania na ordem burguesa. Mas, sem deixar de
acumular esforços para patamares mais dignos de sobrevivência.

Atividades de aprendizagem da unidade


1. Algumas instituições e instrumentos legislativos têm por objetivo
proteger a pessoa idosa. Há esforço conjunto do Governo Federal, Conselho
Nacional dos Direitos dos Idosos (CNDI) e dos movimentos sociais para
estabelecer estratégias de ação, planejamento, organização, controle,
acompanhamento e avaliação de todas as etapas da execução das ações
de prevenção e enfrentamento da violência contra a pessoa idosa. Alguns
dos instrumentos são:

1) Observatório Nacional da Pessoa Idosa.


2) Portal do Envelhecimento.
3) Pastoral do Idoso.
4) Portal da 3ª idade.
5) Lei Federal nº 8.842, de 1994.

( ) Site que possui notícias, cursos, eventos e dicas culturais.


( ) Assegura a dignidade e a valorização integral das pessoas idosas, por
meio da promoção humana e espiritual, respeitando seus direitos.
( ) Site que apresenta estudos voltados à pessoa idosa.
( ) Dispositivo de observação, acompanhamento e análises das políticas e
estratégias de ação de enfrentamento da violência contra a pessoa idosa.
( ) Dispõe sobre a política nacional do idoso, cria o Conselho Nacional do
Idoso e dá outras providências.

De acordo com o texto, a relação correta a ser feita é:


a) 2; 3; 1; 4 e 5.
b) 3; 5; 4; 1 e 2.
c) 5; 4; 1; 3 e 2.
d) 4; 1; 3; 5 e 2.
e) 1; 2; 3; 4 e 5.

2. O ECA compõe um conjunto de medidas propostas a partir da CF/88


que apresenta a criança e o adolescente no cerne de importantes reflexões,
tornam-se de sujeitos de direitos, ou seja, passam a ser considerados
cidadãos em nossa legislação. Segundo o ECA, em nosso país, são
considerados crianças a faixa etária de

U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência 109
a) 0 a 12 anos.
b) 12 a 18 anos.
c) 18 a 29 anos.
d) 0 a 10 anos.
e) 0 a 10 anos.

3. Uma das ações governamentais voltadas à pessoa com deficiência


é a inclusão escolar. Foram estabelecidos programas de atendimento
especializado para as pessoas com deficiência física, mental, sensorial,
bem como de integração social do adolescente portador de deficiência.
No artigo 58 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – (LDB/96) a
educação especial é definida, como uma modalidade de educação escolar,
oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos
com necessidades especiais (BRASIL, 1996). Nos parágrafos do artigo 58
observa-se orientações importantes:

I. Organização de currículos, métodos, técnicas, recursos para atender às


necessidades.
II. Terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível
exigido para a conclusão do ensino fundamental, e aceleração para concluir
em menor tempo o programa escolar para os superdotados.
III. Professores com especialização adequada em nível médio ou superior,
para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular
capacitados para a integração nas classes comuns.
IV. Ampliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais
na própria rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às
instituições previstas neste artigo.

A sequência que contempla apenas alternativas corretas é:


a) II e III.
b) I, II e III.
c) I, II, III e IV.
d) III e IV.
e) I e II.

4. O governo federal por meio da Caixa Econômica Federal dispõe às


famílias mais pobres diferentes tipos de benefícios que têm por objetivo:
a) Combater a fome e promover a segurança nutricional.
b) Combater a pobreza e a miséria.
c) Promover o acesso à rede de serviços públicos (saúde e assistência social).
d) Promover a equidade.
e) Erradicar a miséria.

110 U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência
5. As estimativas atuais indicam que existam no Brasil cerca de 24 milhões
de pessoas com deficiências, cada vez mais essas pessoas adentram o
mercado de trabalho. Para receber esses trabalhadores, as empresas
precisam realizar algumas adaptações. Assinale a alternativa que contemple
algumas das adaptações físicas que a empresa deve adotar.
a) Sinais sonoros e instruções em Braille para deficientes visuais.
b) Instalações de rampas, banheiros adaptados para cadeiras de rodas, de
sinais sonoros e instruções em Braille para deficientes visuais.
c) Instalações de rampas.
d) Instalações de rampas, sinais sonoros e instruções em Braille para
deficientes visuais.
e) Instalações de rampas, de banheiros adaptados para cadeiras de rodas, de
sinais sonoros e instruções em Braille para deficientes visuais.

U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência 111
Referências
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Social & Realidade. v. 17, n. 2. UNESP. Franca, 2008. p. 9-26. Disponível em: <http://www.
franca.unesp.br/int_publicacoes_online_SSRealidade.php>. Acesso em: 5 ago. 2011.
AMIRALIAN, M. L. T. et al. Conceituando deficiência. Revista de Saúde Pública, v. 34, n. 1,
p. 97-103, 2000.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial. 1988.
______. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e
do Adolescente e dá outras providências. Lex: Estatuto da Criança e do Adolescente.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 8
ago. 2017.
______. Lei nº 10.741, de 01 de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá
outras providências. Brasília, DF: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2004.
______. Ministério da Justiça e Cidadania. Secretaria Especial dos Direitos da Pessoa com
Deficiência. Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência lei brasileira de
inclusão da pessoa com deficiência (estatuto da pessoa com deficiência). Brasília, 2016.
______. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação. Brasília: MEC, 1996.
______. Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário. Secretaria de Avaliação
e Gestão da Informação. Relatório sobre bolsa família e cadastro único.
Disponível em: <http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/RIv3/geral/relatorio_form.php?p_
ibge=430060&area=0&ano_pesquisa=&mes_pesquisa=&saida=pdf&relatorio=153&
ms=585,460,587,589,450,448,464,601>. Acesso em: 3 ago. 2017.
DA ROSA, D. T. Q. Algumas reflexões sobre a pessoa portadora de deficiência e sua
relação com o social. Psicologia & Sociedade, v. 17, n. 1, 2005.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010. Características
da população e dos domicílios: resultados do universo. Rio de Janeiro: IBGE, 2011.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/25072002pidoso.
shtm>. Acesso em: 18 mar. 2017.
FONTENELE, I. C. A política de assistência social no Brasil: o foco na família e a questão
dos mínimos sociais. Sociedade em Debate, v. 13, n. 2, p. 153-173, 2012.
GENOFRE, R. M. Família: uma leitura jurídica. In: CARVALHO, Mª do C. B de. (Org.). A
família contemporânea em debate. São Paulo: EDUC/Cortez, 1995.
MIOTO, R. C. T. A família como referência nas políticas públicas: dilemas e tendências.
Trad., Leny A. Bomfim. (Org.). Família contemporânea e saúde: significados, práticas e
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TEIXEIRA. S. M. Família e as formas de proteção social primária aos idosos. Revista Kairós.
v. 11(2), dez. São Paulo: 2008, pp. 59-80. Disponível em: <http://revistas.pucsp.br/index.
php/kairos>. Acesso em: 5 ago. 2011.

112 U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência
ZAMBON, F. B. Análise da proposta em vigor no Paraná “incluir com responsabilidade”
pessoas com necessidades educacionais especiais. 2008. 43 f. Monografia (Curso de
Especialização em Educação Especial) – Centro de Ciências Humanas, Educação,
Comunicação e Artes. Universidade Norte do Paraná, Londrina, 2008

U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência 113
114 U3 - Políticas setoriais: família, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência
Unidade 4

Políticas setoriais: mulher,


LGBT, comunidades
tradicionais (quilombolas,
indígenas, ribeirinhos);
gênero, migrantes
Maria Lucimar Pereira

“Num país e estado tão diversos em sua composição étnica, racial


e cultural, é um grande desafio assegurar direitos para promoção do
bem-estar social da população, sobretudo dos povos e comunidades
tradicionais. Sabemos que boa parte dessas comunidades se encontra
ainda na invisibilidade, silenciada por pressões econômicas, fundiárias,
processos de discriminação e exclusão social” (Coordenadoria de
Inclusão e Mobilização Sociais e Ministério Público de Minas Gerais,
2014)

Objetivos de aprendizagem
A quarta unidade do livro Políticas Setoriais e Políticas Setoriais
Contemporâneas tem como objetivo de aprendizagem apontar para
os alunos os direitos dos grupos minoritários, tais como as pessoas
lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros –
LGBTTT –, as populações indígenas e quilombolas, bem como
o processo de reconhecimento e promoção destes direitos
fundamentais desta população historicamente excluída no Brasil.

Seção 1 | Políticas públicas para o público lésbicas, gays, bissexuais,


travestis, transexuais e transgêneros – LGBTTT
Destacamos, nesta primeira seção, as formas de violência e violação de
direitos vivenciada por essas pessoas e as dificuldades para a implantação e
implementação de políticas públicas, além das recomendações da Organização

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 115
das Nações Unidas quanto à proteção dos direitos humanos de pessoas lésbica,
gay, bissexual, travesti, transexual e transgênero – LGBTTT.

Seção 2 | Comunidades tradicionais e as políticas públicas

Na segunda seção trataremos duas comunidades tradicionais, a indígena e a


quilombola e destacaremos as condições de vida, as conquistas no campo jurídico
com a Constituição de 1988 e os desafios para a implantação e implementação
de políticas públicas.

116 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
Introdução à unidade
As políticas públicas de atenção a grupos minoritários da sociedade
brasileira são muito recentes e trazem histórias de lutas e muita
mobilização social. As ações aos grupos de minorias, que foram
discriminados ao longo da história por ser fruto de uma sociedade com
bases injustas, desigual e com amplos privilégios para outros setores,
são registradas a partir da Constituição Federal de 1988, tendo como
bases os princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana.
Para acessar os direitos sociais e a construção da idealizada
sociedade – preconizada na Constituição Federal de 1988 – livre, justa
e solidária, especialmente para a população excluída historicamente, é
necessária a construção das condições do Estado democrático, o qual
também preconiza a nossa Carta Magna.
Falar de políticas setoriais para a população lésbica, gay, bissexual,
travesti, transexual e transgênero – LGBTTT – e comunidades
tradicionais (quilombolas e indígenas), é falar de políticas para grupos
minoritários em nossa sociedade, e utilizar o termo ‘minorias’ é
considerar quanto a etnia, a religião, a cultura, o gênero, a orientação
sexual, a condição sexual, a condição social, entre outras, requerem
do Estado o reconhecimento de situações que os expõem ao abuso, à
exclusão ou à discriminação.
A terminologia ‘minorias’ é utilizada de forma genérica para
referenciar grupos sociais particulares que são entendidos como uma
parte menor da sociedade com destaque às características específicas,
o que geralmente estão associadas a situações sociais mais vulneráveis.
Esses grupos, na sua maioria, são marginalizados e excluídos
dentro de uma sociedade, geralmente devido a situações econômicas,
culturais, físicas, religiosas, orientação sexual ou outras. O caso
mundialmente conhecido de perseguição a minorias ocorreu no
século XX, na Alemanha, quando milhões de judeus foram perseguidos
e mortos pelo comando de Adolf Hitler. A justificativa era a superioridade
da raça ariana. Além dos judeus, os nazistas também perseguiram
outras minorias como os ciganos e os comunistas.
É importante ressaltar que não são todos os grupos de minorias
que sofrem preconceitos. As minorias que pertencem a grupos da elite

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 117
organizada ou dos mais ricos arrumam formas de articulações políticas
para conseguir o que desejam através do poder econômico e das
relações que possuem.
A Constituição Federal de 1988, em acordo com a Convenção
Internacional sobre a Eliminação de Todas as Forma de Discriminação
Racial, de 1969, admitiu as múltiplas formas de organização social e
cultural de diferentes segmentos da sociedade brasileira. Exemplo
disso foi o reconhecimento dos direitos aos povos indígenas e das
comunidades quilombolas. Por serem grupos com quantidade menor
de pessoas e, consequentemente, com menor representação política,
cabe ao poder público garantir e assegurar o acesso aos seus direitos
fundamentais.
A operacionalização desses direitos pela via do acesso a políticas
públicas manifesta a consideração e respeito por parte do Estado da
diversidade sociocultural que convive na sociedade brasileira.
Portanto, faz-se necessário, nesta unidade, aprofundarmos o
conteúdo referente aos grupos sociais formado por pessoas lésbicas,
gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros e comunidades
tradicionais (quilombolas e indígenas), bem como os seus direitos, o
processo de conquista e a forma para acessar as políticas sociais.

118 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
Seção 1
Políticas públicas para o público lésbica, gay,
bissexual, travesti, transexual e transgênero –
LGBTTT
Introdução à seção

“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente


diferentes e totalmente livres.” Rosa Luxemburgo

O combate à violência e à violação de direitos ao público lésbica,


gay, bissexual, travesti, transexual e transgênero – LGBTTT – deve ser
compreendido para além da criação de novos direitos, e principalmente
pela aplicação dos direitos a todos os cidadãos sem distinção. Assim,
refere-se ao respeito aos princípios fundamentais dos direitos humanos
como a igualdade e os valores de dignidade de todos os seres humanos.

1.1. Violências e garantia de direitos


Várias são as formas de violências e violação de direitos que estão
expostos à população lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual e
transgênero – LGBTTT – por motivos relacionados à orientação sexual
e identidade de gênero no nosso país e em muitos outros. Essas
violências formam um modelo com diferentes rituais de abusos e
discriminações que vão agravando e tomando outras dimensões,
como o ódio, a exclusão e até o homicídio.
O enfrentamento às formas de preconceitos, discriminação e
violências contra lésbicas, gays, bissexuais, travesti, transexuais e
transgêneros – LGBTT – e a configuração de seus direitos devem ser
entendidos pelo emprego dos direitos humanos a todos os cidadãos
de forma universal, a partir dos princípios constitucionais fundamentais
da igualdade de valores e da dignidade.
Vivemos em um período contraditório, por um lado conquistamos
direitos sociais, políticos e humanos que estão em importantes
normativas que resguardam o direito de viver e de se relacionar

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 119
de várias formas, por outro lado, é possível ver a continuidade e
crescimento de situações discriminatórias e de violências a que está
exposta diariamente a população lésbica, gay, bissexual, travesti,
transexual e transgênero – LGBTTT. Fazer parte deste grupo ainda
é estar em situação de insegurança e correr o risco de ser vítima de
diversas formas de violência.
Uma das formas mais cruéis de violência é a homofobia. Esta
violência possui várias expressões que extrapolam as tipificadas no
código penal. Não é apenas a não aceitação da relação entre pessoas
do mesmo sexo, mas a manifestação de sentimentos que chegam a
ódio em relação aos outros, além de desqualificá-los como inferiores e
anormais devido às suas diferenças, excluindo os homossexuais de sua
condição humana, de sua dignidade e personalidade.
As diferentes formas de violações dos direitos humanos pertinentes
à orientação sexual de que são vítimas especialmente o público lésbica,
gay, bissexual, travesti, transexual e transgênero – LGBTTT – formam
um modelo ou padrão que envolve uma variedade de abusos e
discriminações que geralmente avançam para outras formas apuradas
de violência, incluindo outros fatores como idade, religião, raça, cor,
situação socioeconômica e outros.
Romper com crescimento da violência requer a implantação e
implementação de políticas públicas que passem pela informação à
população, a criminalização da violência e a estruturação de serviços
para atendimento às vítimas.
A sexualidade deve ser entendida como um direito que emana da
própria condição do homem que tem como pilar outro direito humano
que é a liberdade, ou seja, a liberdade de “[...] se orientar sexualmente
da maneira que quiser, sem ingerência por parte do Estado. O direito à
igualdade não pode ser condicionado à orientação sexual do indivíduo”
(MATTOS, 2017, p. 11).
A população lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual e transgênero
– LGBTTT – ainda não foi contemplada com uma legislação própria
que a proteja e criminalize a prática da homofobia, como já ocorre
em caso de racismo, apesar dos acontecimentos de violência e de
discriminação a que está exposta. Além destas situações, ainda sofrem,
na maioria dos casos, com a falta de apoio e até abandono das famílias.
Os temas que envolvem a questão lésbica, gay, bissexual, travesti,
transexual e transgênero – LGBTTT – tem sido publicizada com

120 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
frequência nos meios de comunicação, em programas, noticiários e
até novelas, além de ser assunto em bares, confraternizações, espaço
de trabalho e familiares. Mesmo com o assunto em pauta, ainda é
comum o desconhecimento de informações elementares e o debate
avança para a área do senso comum, religioso e da moral.
Apesar de ainda persistirem os casos de violência e de discriminação,
há de se considerar que houve avanços importantes. A justiça vem,
ainda de forma lenta, garantindo direitos aos homossexuais, entretanto,
o caminho é longo e há grandes desafios para que esta população
tenha acesso aos mesmos direitos que todo cidadão tem. Apesar de já
ser garantido por lei, a questão, agora, é o acesso a políticas públicas.

Para saber mais


Para saber mais sobre a violência contra a população lésbica, gay,
bissexual, travesti, transexual e transgênero – LGBTTT – , sugerimos o
vídeo: Cresce violência LGBTTs em 2016. Disponível em: <http://www.
redebrasilatual.com.br/cidadania/2017/01/violencia-contra-lgbts-
cresce-em-2016-e-340-casos-sao-registrados-9640.html>. Acesso
em: 6 nov. 2017.

No que se refere à defesa de direitos de lésbica, gay, bissexual,


travesti, transexual e transgênero – LGBTTT – que de fato estão
concretizados, podemos indicar a Constituição Federal de 1988, que
iniciou esta construção, quando, em seu art. 5º, garante que todos são
iguais perante a lei, sem nenhuma distinção e ainda proíbe no art. 3º
qualquer forma de preconceito em virtude da origem, raça, sexo, cor
e idade (BRASIL, 2015). Lembrando que a garantia destes direitos cabe
a todos os cidadãos brasileiros e não é exclusiva à população LGBTTT.
A implantação de políticas públicas específicas no âmbito da
promoção dos direitos humanos e ampliação da cidadania para este
público é reivindicação dos movimentos sociais e ainda orientação da
Organização das Nações Unidas, da qual o Brasil é membro.
A implantação de políticas públicas específicas para segmentos
específicos que historicamente foram discriminados e violentados
já é reconhecida por organizações tanto públicas como privadas.
Entretanto, é um assunto extremamente contraditório, pois de um lado
há aqueles que defendem e militam na defesa da criação de políticas
públicas que promovam direitos e acesso a serviços a grupos de

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 121
pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros
– LGBTTT –, e de outro lado, há reações tão mobilizadoras quanto,
para o não reconhecimento.
A luta do movimento da população lésbica, gay, bissexual, travesti,
transexual e transgênero – LGBTTT – por direitos ou por usufruto dos
direitos não é nada radical ou complexo. A reivindicação se baseia em
dois princípios elementares que amparam o regime internacional de
direitos humanos, a igualdade e a não discriminação. A reclamação
por leis que protejam esta população é por que já existem atitudes
homofóbicas em todos os ambientes: no trabalho, na escola, nos
serviços de saúde, nas ruas e na própria família.
Situações de violência associadas à falta de proteção jurídica
expõem as pessoas lésbicas, gays, bissexuais travestis, transexuais e
transgêneros – LGBTTT – de todas as partes do mundo a transgressões
de seus direitos humanos.
Questão para reflexão
Os papéis masculino e feminino estão culturalmente definidos na
nossa sociedade. Para quem é bom e para quem é ruim? Por que é
bom romper essa cultura? Por que é ruim manter esta cultura? Quais
são os grandes desafios para romper a cultura dos papéis definidos
socialmente?
Para contribuir na reflexão sugerimos o artigo: A desigualdade imposta
pelos papéis de homem e mulher: uma possibilidade de construção
da igualdade de gênero, que trata do fragmento da dissertação de
mestrado de Carla da Silva. Disponível em: <http://www.unifia.edu.
br/projetorevista/artigos/direito/20121/desigualdade_imposta.pdf>.
Acesso em: 16 set. 2017.

A Organização da Nações Unidas – ONU – (2013) denuncia que


em 76 países ainda há leis que descriminam e criminalizam pessoas
do mesmo sexo que vivem relações consensuais privadas, sendo
arriscadas à detenção, acusação e prisão.
Que situações como essas acontecem, inclusive há muito tempo,
não é mais segredo para ninguém e para as instituições públicas
e privadas. Até mesmo as violações de direitos e violências são
denunciadas aos mecanismos de defesa de direitos das Nações Unidas
desde a década de 1990 (ONU, 2013).
Em 2011, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas

122 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
deliberou a primeira resolução sobre direitos humanos, orientação
sexual e identidade de gênero. Nela demonstrou preocupação com
a “violência e a discriminação contra indivíduos em razão de sua
orientação sexual e identidade de gênero” (ONU, 2013, p. 7). Além
disso, alertou para a urgente necessidade de providenciar medidas para
o enfrentamento dessas violações. Esta resolução abriu precedente
para a elaboração do primeiro relatório das nações unidas sobre esta
temática.
O relatório que foi elaborado pelo alto comissariado da ONU
denunciou diversas formas de violências, discriminações e até
assassinatos às pessoas em razão da sua orientação sexual e identidade
de gênero. Além de denunciar, o documento também orientou os
países membros a criar estratégias de proteção dos direitos humanos
as pessoas lésbicas, gays, bissexuais travestis, transexuais e transgêneros
– LGBTTT – conforme preconiza a Declaração Universal dos Direitos
Humanos (ONU, 2013, p. 10):

Todas as pessoas, independente de sexo, orientação


sexual ou identidade de gênero, têm direito de gozar
da proteção assegurada pelo regime internacional dos
direitos humanos, inclusive em relação aos direitos à
vida, à segurança pessoal e à privacidade, o direito de ser
livre de tortura, detenções e prisões arbitrárias, o direito
de ser livre de discriminação e o direito às liberdades de
expressão, de reunião e de associação pacífica.

Enfrentar as diversas formas de violência e discriminação em razão


da orientação sexual e identidade de gênero constitui um imenso
desafio para os direitos humanos de todos os países. Entretanto, os
países membros da ONU, entre eles o Brasil, têm obrigações legais
de Estado no sentido de promover o debate sobre o assunto e ainda
proteger a população lésbica, gay, bissexual travesti, transexual e
transgênero – LGBTTT.
A seguir, veja as cinco responsabilidades legais que os estados
membros da ONU precisam atentar-se para a proteção dos direitos
humanos de pessoas LGBTTT:

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 123
1. Proteger indivíduos de violência homofóbica e transfobia:
• Geralmente a violência determinada pelo ódio contra pessoas
lésbicas, gays, bissexuais travestis, transexuais e transgêneros – LGBTTT
– é comum ser cometida por pessoas sem ligação com instituições
públicas. Entretanto, cabe às instituições dos poderes públicos
investigar e punir todas as violações à vida, à liberdade e à segurança
pessoal, como garante:
• Declaração Universal dos Direitos Humanos, artigo 3:
“Todos têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal” (ONU,
2013, p. 14).
• Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Político, artigos 6º e 9º,
respectivamente:
* “O direito à vida é inerente à pessoa humana. Este direito deverá
ser protegido pela lei. Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de
sua vida” (ONU, 2013, p. 14).
“Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoal” (ONU,
2013, p. 14).
• Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, artigo 33:
* “Nenhum dos Estados contratantes expulsará ou repelirá (refouler)
um refugiado, seja de que maneira for, para as fronteiras dos territórios
onde a sua vida ou a sua liberdade sejam ameaçadas em virtude de
sua raça, religião, nacionalidade, filiação a um certo grupo social ou
opiniões políticas” (ONU, 2013, p. 15).

2. Prevenir tortura e tratamento cruel, desumano e degradante de


pessoas LGBTTT:
• O direito internacional obriga os Estados a protegerem seu povo
contra a tortura e outras formas de tratamentos atrozes, desumanos
e humilhantes. Além de proibir, também cabe aos poderes a
responsabilidades em reparar quando houver esses tratamentos.
• Declaração Universal dos Direitos Humanos, artigo 5:
“Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo
cruel, desumano ou degradante” (ONU, 2013, p. 23).
• Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, artigo 7:
“Ninguém poderá ser submetido a tortura nem a penas ou
tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Será proibido,

124 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
sobretudo, submeter uma pessoa, sem seu livre consentimento, a
experiências médicas ou científicas” (ONU, 2013, p. 23).

3. Descriminalizar a homossexualidade:
• Onde se criminaliza a homossexualidade abre precedentes para
um leque de outras violações que são independentes, mas inter-
relacionadas. A permissividade da violência também autoriza a pena
de morte, o que viola o direito individual de se viver em lugar livre
de discriminação e viola o direito à vida, conforme consta em várias
normativas internacionais:
• Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, artigo:

2: Cada Estado membro do presente Pacto compromete-


se a garantir a todos os indivíduos que se encontrem em seu
território e que estejam sujeitos à sua jurisdição os direitos
reconhecidos no presente pacto, sem discriminação
alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião,
opinião política ou de qualquer outra natureza, origem
nacional ou social, situação econômica, nascimento ou
qualquer outra condição.
6: Nos países em que a pena de morte não foi abolida,
uma sentença de morte só pode ser pronunciada para os
crimes mais graves em conformidade com a legislação
em vigor no momento em que o crime foi cometido e
não deve estar em contradição com as disposições do
presente Pacto nem com a Convenção para Prevenção e
Repressão do Crime de Genocídio. Esta pena não pode ser
aplicada senão em virtude de um julgamento proferido por
um tribunal competente.
9: Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança
pessoal. Ninguém poderá ser preso ou encarcerado
arbitrariamente. Ninguém poderá ser privado de sua
liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em
conformidade com os procedimentos nela estabelecidos.
17: Ninguém poderá ser objeto de interferências arbitrárias
ou ilegais em sua vida privada, em sua família, em seu
domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas
ilegais a sua honra e reputação.
26: Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm
direito, sem discriminação alguma, à igual proteção da
lei. A este respeito, a lei deverá proibir qualquer forma de

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 125
discriminação e garantir a todas as pessoas proteção igual
e eficaz contra qualquer discriminação por motivo de raça,
cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra
natureza, de origem nacional ou social, de propriedade,
de nascimento ou de qualquer outra situação (ONU, 2013,
p. 31).

• Declaração Universal dos Direitos Humanos:

2: Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e


as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção
de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião,
opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou
social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
7: Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito,
sem qualquer distinção, a igual proteção desta. Todos
e todas têm direito a igual proteção contra qualquer
discriminação que viole a presente Declaração e contra
qualquer incitamento a tal discriminação.
9: Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
12: Ninguém será sujeito a interferências em sua vida privada,
em sua família, em seu lar ou em sua correspondência, nem
a ataques a sua honra e reputação (ONU, 2013, p. 30).

4. Proibir discriminação baseada em orientação sexual e


identidade de gênero:
• O direito a não ser discriminado pela orientação sexual e identidade
de gênero também está garantido e protegido em documentos
internacionais:
• Declaração Universal dos Direitos Humanos:

2: Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e


as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção
de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião,
opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou
social, situação econômica, nascimento, ou qualquer outra
condição.

126 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
7: Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito,
sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm
direito a igual proteção contra qualquer discriminação que
viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento
a tal discriminação (ONU, 2013, p. 40).

• Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos:

2: Cada Estado membro do presente Pacto compromete-


se a garantir a todos os indivíduos que se encontrem em seu
território e que estejam sujeitos à sua jurisdição os direitos
reconhecidos no presente Pacto, sem discriminação
alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião,
opinião política ou de qualquer outra natureza, origem
nacional ou social, situação econômica, nascimento ou
qualquer outra condição.
26: Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm
direito, sem discriminação alguma, a igual proteção da
lei. A este respeito, a lei deverá proibir qualquer forma
de discriminação e garantir a todas as pessoas proteção
igual e eficaz contra qualquer discriminação por motivo de
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra
natureza, origem nacional ou social, situação econômica,
nascimento ou qualquer outra condição (ONU, 2013, p.
40).

• Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais

2: Os Estados Membros do presente Pacto comprometem-


se a garantir que os direitos nele enunciados se exercerão
sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo,
língua, religião, opinião política ou de qualquer outra
natureza, origem nacional ou social, situação econômica,
nascimento ou qualquer outra condição. Convenção
sobre os Direitos da Criança.
2: Os Estados membros comprometem-se a respeitar e
garantir os direitos previstos na presente Convenção a todas
as crianças sujeitas à sua jurisdição, sem discriminação,
independentemente de qualquer consideração de
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 127
outra natureza, em relação à criança, aos seus pais ou
representantes legais, ou da sua origem nacional, étnica ou
social, situação econômica, incapacidade, nascimento ou
de qualquer outra condição (ONU, 2013, p. 41).

5. Respeitar as liberdades de expressão, de associação e de


reunião pacífica:
• Evitar a participação, manifestação e expressão da liberdade
pelos direitos da população lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual
e transgênero – LGBTTT – viola uma série de direitos já garantidos
internacionalmente:
• Declaração Universal dos Direitos Humanos

19: Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião


e de expressão; este direito inclui as liberdades de,
sem interferências, ter opiniões e procurar, receber e
transmitir informações e ideias por quaisquer meios e
independentemente de fronteiras.
20: Todo ser humano tem direito às liberdades de reunião
e de associação pacífica (ONU, 2013, p. 57).

• Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos

19: Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão;


este direito incluirá a liberdade de procurar, receber
e difundir informações e ideias de qualquer natureza,
independentemente de fronteiras, sob forma oral ou por
escrito, impressa ou artística, ou por qualquer outro meio
à sua escolha.
21: O direito à reunião pacífica será reconhecido. O
exercício deste direito estará sujeito apenas às restrições
previstas em lei e que se façam necessárias, em uma
sociedade democrática, ao interesse da segurança nacional,
da segurança ou ordem públicas, ou para proteger a saúde
ou a moral pública ou os direitos e as liberdades das demais
pessoas.
22: Toda pessoa terá o direito de associar-se livremente
a outras, inclusive o direito de constituir sindicatos e de a
eles filiar-se, para proteção de seus interesses” (ONU, 2013,
p. 57).

128 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
Os poderes públicos do Brasil e do mundo de uma forma geral têm
responsabilidade em garantir os direitos humanos a todos. Essa garantia
é independentemente do sexo, orientação sexual ou identidade de
gênero. A população ainda tem o direito de acessar seus direitos de
forma livre da discriminação.
O Brasil, enquanto Estado de Direito Democrático, deve criar
condições para garantir o exercício dos direitos e ainda implantar
e implementar políticas públicas na perspectiva da prevenção à
violência e violação de direitos e também estruturas para investigar e
responsabilizar os cometedores de violências.

Questão para reflexão


O Brasil sempre fez parte dos países signatários das convenções
referentes a direitos civis, políticos, humanos, entretanto, também faz
parte do rol dos países mais desiguais do mundo. Quais as dificuldades
para cumprir o que preconizam as convenções internacionais das quais
o Brasil é signatário?

Atividades de aprendizagem
1. O direito internacional obriga os países a protegerem seu povo contra:
a) A tortura.
b) O exílio.
c) A mudança de nacionalidade.
d) A se reunirem sem autorização.
e) O direito internacional não tem governabilidade nos países.

2. A Organização das Nações Unidas, da qual o Brasil é membro,


responsabiliza os países para se atentarem para cinco importantes
recomendações sobre a proteção dos direitos humanos para pessoas
LGBTTT.
Observe as afirmativas sobre essas recomendações:
I- Proteger indivíduos de violência heterossexual.
II- Prevenir tortura e tratamento cruel, desumano e degradante de pessoas
LGBTTT.
III- Criminalizar a homossexualidade.
IV- Proibir discriminação baseada em orientação sexual e identidade de
gênero.
V- Respeitar as liberdades de expressão, de associação e de reunião pacífica.

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 129
Assinale a alternativa que apresenta as recomendações da ONU:
a) I, II, III e V.
b) II, IV e V.
c) III, IV e V.
d) I, III e V.
e)I, IV e V.

130 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
Seção 2
Comunidades tradicionais e as políticas públicas
Introdução à seção

É importante destacar que falar sobre as comunidades tradicionais


não é fácil, pois trata-se de um conceito novo em todas as áreas, tanto
na esfera pública como na acadêmica e social.
Esses povos estabelecem formas específicas de viver e de se
relacionar no território em que estão inseridos, respeitando o meio
ambiente e o princípio da sustentabilidade, preocupando-se com a
sobrevivência dos grupos presentes e com as gerações que estão por
vir.
A relação destas comunidades com o Estado e a sociedade não
tem sido tranquila, pelo contrário, muitas delas estão em disputas pelos
territórios que ocupam. Estas disputas perpassam brigas judiciais até as
brigas de fato.
A atenção as populações tradicionais
Já sabemos que o Brasil, com sua dimensão continental, tem
muita diversidade em sua composição étnica, racial e cultural. Apesar
de necessário, é desafiante implantar e implementar políticas públicas
de acesso e garantia de proteção social aos cidadãos considerando as
múltiplas diferenças. Muitas comunidades tradicionais encontram-se na
invisibilidade das políticas sociais, ou seja, juridicamente são cidadãos
de direitos, mas na realidade estão sem acesso à estrutura das políticas
e da justiça social e ainda caladas por pressões econômicas e fundiárias
e excluídas socialmente.
Diegues (1996, p. 87) define esta população como:

Comunidades tradicionais estão relacionadas com um


tipo de organização econômica e social com reduzida
acumulação de capital, não usando força de trabalho
assalariado. Nelas produtores independentes estão
envolvidos em atividades econômicas de pequena
escala, como agricultura e pesca, coleta e artesanato.
Economicamente, portanto, essas comunidades se

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 131
baseiam no uso dos recursos naturais renováveis[...]. Seus
padrões de consumo, baixa densidade populacional e
limitado desenvolvimento tecnológico fazem com que sua
interferência no meio ambiente seja pequena.

Esses povos reivindicam os seus espaços que de acordo a tradição


sempre foram deles. O modo de viver e ocupar estes territórios fazem
com que se identifiquem e se autorreconheçam nestes locais como
cidadãos de direitos, ou seja, donos do espaço por direitos adquiridos.
A Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e
Comunidades Tradicionais de 2007 caracteriza estes povos em seu
artigo 3º:

I - Povos e Comunidades Tradicionais: grupos


culturalmente diferenciados e que se reconhecem como
tais, que possuem formas próprias de organização social,
que ocupam e usam territórios e recursos naturais como
condição para sua reprodução cultural, social, religiosa,
ancestral e econômica, utilizando conhecimentos,
inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição
(BRASIL, 2007).

A forma com que esses grupos se relacionam com a terra que


ocupam e se apropriam dos recursos naturais faz com que este lugar
tenha um significado muito maior do que apenas a terra ou valor
econômico. Portanto, o território o é mais importante para estes
povos, é nele que estão registrados os acontecimentos que marcaram
as histórias que estão na memória do grupo, também é no território
que estão enterrados os entes queridos, onde se localizam os lugares
sagrados, é lá que estabelecem a forma de viver e de ver o ser humano
e o mundo. O território é profundamente conhecido por todos que ali
estão, ou seja, todos pertencem ao território.
Quando estes grupos começam a se manifestar em organizações
locais, apresentando tanto as violências sofridas como as estratégias
de sobrevivência, a luta para manter uma cultura, o respeito pelo meio
ambiente, ou seja, quando saem da invisibilidade, há a necessidade da
intervenção do Estado para mediar as relações. Diante disso, foi criada,
em 2004, Governo Federal, a Comissão Nacional de Desenvolvimento
Sustentável das Comunidades Tradicionais, coordenada pelo Ministério

132 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e secretariada pelo
Ministério do Meio Ambiente, posteriormente reeditada em 2006.
A intenção desta comissão era construir uma política nacional
específica para estas populações com os apoios das políticas públicas
pertinentes ao desenvolvimento sustentável das comunidades
tradicionais nos âmbitos federal, estadual e municipal.
A política nacional foi elaborada com ampla participação de toda
sociedade e promulgada em 7 de fevereiro de 2007 pelo Decreto nº
6.040. A partir deste foi implantado e implementado o Plano Prioritário
de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais
nos anos de 2008 e 2010, envolvendo várias pastas governamentais
com o compromisso de desenvolver programas que minimizassem as
desigualdades entre esses povos e os demais cidadãos brasileiros.
Esses documentos legais foram embasados na lei maior, a
Constituição Federal de 1988, que por sua vez seguiu também as
Convenções Internacionais da qual o Brasil é signatário. Por isso criou
uma série de decretos, resoluções, portarias e instruções normativas
que orientam os direitos dos povos e comunidade tradicionais.
O art. 215 da Constituição afirma que o poder público deve proteger
as manifestações culturais indígenas e afro-brasileiras e demais
manifestações que expressem o processo de civilização brasileira:

O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos


culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará
e incentivará a valorização e a difusão das manifestações
culturais. § 1º O Estado protegerá as manifestações das
culturas populares, indígenas e afro- -brasileiras, e das
de outros grupos participantes do processo civilizatório
nacional [...] (BRASIL, 2015, p. 239).

Já o art. 216 determina que o Estado crie as condições de proteção


dos bens culturais brasileiros, levando em conta as diferentes formas
de se viver e de se expressar dos grupos que compõem a sociedade
no Brasil:

Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de


natureza material e imaterial, tomados individualmente
ou em conjunto, portadores de referência à identidade,

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 133
à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - As formas de expressão;
II - Os modos de criar, fazer e viver;
III - As criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - As obras, objetos, documentos, edificações e demais
espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,
paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,
ecológico e científico.
§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade,
promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro,
por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento
e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e
preservação. [...]
§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão
punidos, na forma da lei.
§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios
detentores de reminiscências históricas dos antigos
quilombos (BRASIL, 2015, p. 239).

Questão para reflexão


Considerando que a definição de povos e comunidades tradicionais
pelo Decreto Federal nº 6.040, são “grupos culturalmente diferenciados
e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de
organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais
como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral
e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados
e transmitidos pela tradição” (BRASIL, 2017).
Quais e quantos sãos os povos e comunidades tradicionais deste
imenso país?

A consideração da existência e do reconhecimento das diferentes


formas de culturas dos povos tradicionais e dos direitos particulares
desses grupos é de responsabilidade do Estado. As políticas sociais
devem chegar nesses territórios a partir de ações que atendam ao
princípio da equitativa garantindo o respeito à diversidade e o acesso à
proteção social especialmente àqueles que estiverem em situação de
vulnerabilidade e risco.
A Convenção Sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das

134 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
Expressões Culturais foi colocada como prioridade na 33ª Conferência
da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura – UNESCO – em Paris no ano de 2005, mas começou a vigorar
em 2007, sendo que 141 países foram signatários e o Brasil é um deles.
Os países que votaram contra esta convenção foram os EUA e Israel
e os que se abstiveram foram Austrália, Honduras, Nicarágua e Libéria
(KAUARK, 2014). Foi o primeiro documento a destacar cultura num
patamar jurídico.
Este evento teve momento de muita euforia e emoção, pois
além deste documento constam vários instrumentos jurídicos para
fundamentar a área da cultura, expressa ainda o processo de construção
de duas décadas de discussão entre organizações de defesa dos
direitos dessa população tanto nacional como internacional.

Para saber mais


Para mais conhecimento sobre a elaboração da Convenção sobre a
Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, inclusive
sobre a importante participação da delegação do Brasil e a sua influência
neste processo, sugerimos a leitura do texto: O Ministério da Cultura
e a convenção sobre a diversidade cultural. Disponível em: <http://
culturadigital.br/politicaculturalcasaderuibarbosa/files/2010/09/14-
GIULIANA-KAUARK.1.pdf>. Acesso em: 16 set. 2017.

A referida convenção tem legitimidade internacional, pretende


direcionar os países no sentido da implantação e implementação de
políticas culturais respeitando as diversidades dos diferentes grupos.
A iniciativa para a criação de um documento jurídico partiu de um
conjunto de 16 países solicitando para a Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO – preocupados com
a preservação das expressões artísticas. Diante disso, 16 ministros da
cultura requereram em 2003 a elaboração de uma convenção em
que os países se comprometessem em respeitar os direitos e a ter
obrigações com as culturas nacionais.
Vale destacar que o Brasil teve uma participação de destaque,
inclusive influenciando no debate. A delegação brasileira era formada
por gestores culturais que tinham domínio da área, os discursos
eram embasados em uma visão ampla de cultura, sustentados com
informações, dados, experiências e maturidade.
A aprovação desta convenção tornou a diversidade um bem

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 135
comum a toda humanidade e a partir dela a possibilidade de propiciar
o diálogo e a criatividade para a contribuição no desenvolvimento da
democracia, a manutenção da paz e a operacionalização do acesso aos
direitos humanos de todos os povos como preconiza a Declaração dos
Direitos Humanos e outros mecanismos mundialmente reconhecidos.
Ao longo deste documento, reafirma, além da importância do
diálogo entre as diferentes culturas como forma mais apropriada para
a construção da paz, da tolerância e do respeito, que a diversidade
também exige dos países signatários o compromisso da proteção às
diferenças nas identidades culturais.
Outro ponto extremamente importante do referido documento foi
a obrigação dos Estados em adequarem recursos e serviços públicos
e implantarem organizações de apoio na área de cultura nas distintas
expressões culturais e, ainda, possibilitar o acesso do seu povo a essas
áreas.
Para além da proteção destes povos em seus territórios, o Estado
deve ter responsabilidades com a formação em geral da sociedade, ou
seja, com o conhecimento, reconhecimento e respeito da diversidade
e a implantação de ações de políticas públicas desde a infância e
juventude até a população adulta para a divulgação das normativas e
para o incentivo ao respeito as diversidades (HAAS, 2009).

Comunidades e povos quilombolas


Compreender a dimensão do significado do termo “quilombo” e as
suas decorrências políticas é importante para o norteamento teórico
da discussão sobre o caminho construído para o negro no Brasil que
está diretamente relacionado com o processo de exclusão social do
qual viveu esta população.
Leite (2000) relata que a definição de quilombo significa
‘acampamento guerreiro na floresta’ e ainda ‘divisão administrativa’
e que foram trazidos pelos próprios povos africanos escravizados.
Para Munanga (2001), reconquistar quilombos no Brasil foi forma de
enfrentamento ao escravismo e às condições que o negro vivia, foi
muito mais que um refúgio para os escravos fujões. Os quilombos
foram espaços de encontro para reunir homens e mulheres insatisfeitos
que queriam acima de tudo reagir ao sistema e desenvolver vínculos de
solidariedade que contribuir para a dignidade e autonomia.
Souza (2010, p. 170) destaca que para o Rei de Portugal, em 1740,

136 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
quilombo era: “toda habitação de negros fugidos que passem de cinco,
em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados nem
se achem pilões neles”.
Outras definições acerca dos quilombos apareceram ao longo da
história, entretanto sempre foram de acordo com os interesses próprios
dos sistemas da época.
Durante todo o período da escravidão existiram os quilombos em
todas as regiões do Brasil, ou seja, onde havia a prática da escravidão
contra o negro também havia quilombo. Atualmente há comunidades
quilombolas em 24 estados brasileiros, sendo que a maior concentração
está nos estados de Pernambuco, Bahia, Maranhão Pará e Minas Gerais.
Acre e Rondônia são os únicos estados que não há cerificações de
quilombos (BRASIL, 2013).
Leite (2000) também destaca que as formações dos quilombos
necessariamente representam a oposição ao regime escravista, mas
não significam que todos foram organizados a partir da fuga dos
escravos. O autor cita outros motivos para a organização que deu
origem a outros quilombos:
• Fazendeiros que abandonaram os escravos principalmente em
momentos de crises econômicas.
• Fazendeiros que deixaram terras como heranças para seus
escravos ou um dos escravos era filho ‘bastardo’ do fazendeiro.
• Terras ocupadas por comunidades negras que anteriormente
haviam sido doadas a santos.
• Terras que foram ocupadas de formas pacíficas depois que seus
senhores a abandonaram em momentos de crise econômica.
• Escravos alforriados que compraram suas terras.
• Entre outras.

Lamentavelmente, no Brasil há compreensões variadas e


diferenciadas sobre a palavra quilombo, isso se atribui também ao modo
como essa população foi tratada desde o período da colonização e à
forma pejorativa que se arrasta até os dias de hoje. Como exemplifica
Leite (2000), quilombo tem vários significados, sendo associado ao
local ‘um estabelecimento singular’, ao povo deste local, ‘às etnias
que compõem’, às manifestações da população ‘festa de rua’, ou,
pior ainda, à prática que a sociedade condena, ‘onde se instalam

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 137
casas de prostitutas’ ou há desordem ‘grande confusão’, também se
usa a expressão como se fosse uma relação social ‘uma união’ ou um
sistema econômico ‘local de fronteira, com climas comuns na maioria
dos casos’.

Condições de vida nos quilombos


Garrafa (2005) denuncia que os problemas vivenciados nas
comunidades de povos quilombolas são muitos, desde a necessidade
da resistência étnica, cultural e a histórica, pois este povo carrega
marcas de conflitos e dilemas, até a discriminação, miséria, invasões de
seus territórios por posseiros, necessidade de migrações para centros
urbanos em busca de condições de vida, intromissão na sua cultura,
na sua paisagem e no equilíbrio ambiental, baixíssima renda familiar,
inserção no mercado informal, trabalho de crianças e adolescentes,
dificuldades no fornecimento de água, energia e saneamento básico,
moradias que não oferecem conforto e segurança, dificuldades de
acesso às políticas públicas, inclusive as mais elementares, como, a
saúde, educação, além da falta de alimentos, conflitos com instituições
públicas e a invisibilidade deste povo.
Brasil (2004b) advertia que em 2003 havia quase três mil
comunidades quilombolas existentes em terras brasileiras, menos da
metade estava registrada, ou reconhecida como terras destes grupos.
Depois de nove anos, ou seja, em 2011, foi possível perceber
melhorias na questão do reconhecimento das terras desta população.
Nas pesquisas mais recentes, como evidência em Brasil (2013), no
país registram-se 2.197 comunidades oficialmente reconhecidas de
população quilombola, destas, 2.040 estão certificadas.
No que refere à área da saúde, ainda há uma carência de estrutura
dos serviços, como acontece em todas as áreas da política pública, pois,
por exemplo, na assistência básica da saúde há pouco fornecimento
de materiais, equipamentos e diminuído número de trabalhadores.
Ainda há outro grande dificultador do acesso desta população
aos serviços que são empecilhos em relação à geografia, ou seja, os
quilombos encontram-se geralmente longe dos centros urbanos, onde
se encontram os equipamentos sociais, além da falta de valorização do
conhecimento popular das medicinas tradicionais dos quilombolas.
Brasil (2013) também apresenta as vulnerabilidades as quais está

138 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
exposta esta população. Atualmente, 80% das famílias quilombolas
estão no Cadastro Único do Governo Federal, deste montante, 79,78%
estão incluídas no Programa Bolsa Família, o que significa 64 mil
famílias, 24,21% são de não analfabetos, 82,2% estão envolvidos na
agricultura, no extrativismo ou pesca artesanal, o que significa que não
estão conseguindo sobrevier, pois, 74,73% das famílias encontram-se
em extrema pobreza.

Política pública para população quilombola


A história das políticas públicas no Brasil compreende um processo
complexo desde sua preparação até a operacionalização. É encontrada
na literatura que trata deste assunto uma vasta explicação diante da
acumulação teórica sobre este tema.
A Constituição Federal de 1988, também chamada de Constituição
Cidadã, foi o divisor de águas para os avanços dos direitos sociais
a novos modelos de políticas sociais e neste mesmo contexto
para o reconhecimento das populações tradicionais, como vimos
anteriormente.
Foi neste documento jurídico que foram reconhecidos os direitos
das comunidades tradicionais. Tomamos como ponto de destaque
o art. 3º que trata da responsabilidade do Estado com a redução das
desigualdades sociais no Brasil:

Art. 3 – Constituem objetivos fundamentais da República


Federativa do Brasil:
III – Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais;
V – Promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação (BRASIL, 2015, p. 12).

Outro importante avanço registrado na Constituição Federal de


1988, especificamente para a população quilombola, consta no art.
68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que afirma que
“Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam
ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo
o Estado emitir-lhes os títulos respectivos” (BRASIL, 2015, p. 205).
Em seguida foi decretado e regulamentado o procedimento

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 139
para “Identificação, Reconhecimento, Delimitação, Demarcação e
Titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades
de quilombos”.
Vale destacar que a questão sobre quilombolas já esteve na pauta
de debates e presente nas legislações do final do século XIX, entretanto,
com conotação bem diferente em relação à última Constituição
Federal. Naquela época os quilombos eram proibidos e refugiar-
se neles era considerado crime. Do final do século XIX até o final da
década de 1980 não se falou mais nesta população em termos legais,
ou seja, nenhum outro documento legal em quase 100 anos constou
com alguma referência sobre este assunto.
A questão quilombola volta no cenário com a promulgação da
Carta Magna de 1988, operando em uma inversão de valores quando
comparada com aquele momento, quando no art. 68 das Disposições
Constitucionais Transitórias atende a direitos dos povos quilombolas na
perspectiva de sobrevivência destas comunidades, as quais foi dado o
caráter de ‘remanescentes’.
Em 2003 foi regulamentado o art. 68 das Disposições Constitucionais
por meio do Decreto nº 4.887, que reafirma o direito às terras ocupadas
pela população remanente de quilombolas, bem como identifica,
reconhece, delimita, demarca e titula essas terras.
O referido decreto, além da regularização da pose da terra
aos povos quilombolas, também orienta para a criação do plano
de desenvolvimento sustentável para estas comunidades. A
responsabilidade do plano é de diversos ministérios governamentais que
têm como responsabilidade a “a garantia da reprodução física, social,
econômica e cultural” dessas comunidades, conforme determina o
seu art. 2º, § 2º (BRASIL, 2013).
Passaram-se 100 anos entre a abolição dos escravos e o
reconhecimento dos direitos dos povos dos quilombos.
Depois de tanto tempo para o reconhecimento do direito, a
construção da identidade étnica e do direito à terra para estes povos
em nível nacional pela Constituição Federal, ainda são muito poucas
as comunidades que conquistaram estes direitos. Conforme o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA –, em
2006 foram identificadas 3.554 comunidades quilombolas no Brasil,
destas, em torno de 100 possuem o registro da propriedade das terras
(RODRIGUES, 2010).

140 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
Os povos dos quilombos se mobilizam ainda por operacionalização
dos direitos registrados nos documentos jurídicos, como a igualdade e
equidade dos direitos, pela regularização da posse de suas terras, pelo
acesso às políticas sociais como cidadãos de direitos sociais.

Programa Brasil Quilombola


Como vimos, o Brasil passou a reconhecer os povos remanescentes
dos quilombos como cidadãos de direitos a partir da Constituição
Federal de 1988, portanto, foi a partir deste marco legal que inovou os
direitos etnorraciais e territoriais em nosso país.
Para operacionalizar os direitos contidos nas normativas que
foram reconhecidas a partir da Carta Magna surge, então, a Política de
Promoção da Igualdade Racial destinada para a população negra.
A Política de Promoção da Igualdade Racial, especificamente no
que refere à população quilombola, promoveu o Programa Brasil
Quilombola com a proposta de primeiramente identificar as demandas
destes povos, bem como atendê-las, considerando o que eles,
enquanto protagonistas, vislumbram para o futuro (BRASIL, 2013).
O referido Programa foi implantado em 2004 pelo Governo
Federal, coordenado pela subsecretaria de Políticas para Comunidades
Tradicionais e comprometendo no primeiro momento os ministérios
governamentais.
Em 2014, o programa previa o envolvimento de 21 órgãos
governamentais da gestão federal, os quais durante o tempo foi
percebido a necessidade de participação, tais como: Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária – INCRA –, Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA –, Delegacias
Regionais do Trabalho, Fundação Nacional de Saúde – Funasa –, Caixa
Econômica Federal, Ministério da Cultura, Ministério do Planejamento
Social, entre outros. As ações e responsabilidades de cada órgão são
definidas no Plano Plurianual (BARBOSA, 2017).
O programa caracterizou-se como transversal devido à agenda
social que pretendia a organização de ações de política pública, para
tanto estabeleceu quatro eixos para intervenção dos gestores públicos:
• Acesso à terra e regularização fundiária.
• Infraestrutura e qualidade de vida.
• Desenvolvimento local e inclusão produtiva.

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 141
• Participação social, direitos e cidadania.

Acesso à terra e regularização fundiária: possibilitará o acesso à


terra, para além da questão da sobrevivência econômica, é também a
preservação da identidade do povo quilombola, com ele seus valores
culturais, e consequentemente da história do Brasil. Como já vimos
anteriormente, o art. 68 dos Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias – ADCT – já reconheceu o direito à terra aos quilombolas
e cabe ao Estado atuar no sentido de regularizar a posse destas terras
que historicamente são deles.
Infraestrutura e qualidade de vida: a Constituição Federal de 1988
assegurou o direito à terra ao povo quilombola, mas também garantiu
os direitos sociais àqueles homens, mulheres, crianças, adolescentes
e idosos como de todos os direitos dos demais cidadãos brasileiros.
Para tanto, faz-se necessário que o Estado também lhe garanta as
condições para o acesso aos serviços essenciais das políticas sociais,
como saneamento básico, energia elétrica, moradia, saúde, educação,
entre outros elementares para a sobrevivência. A partir do Programa
Brasil Quilombola foram implantados programas para atender às
comunidades que até então essa população não tinha se quer o direito
de acessar, como Minha Casa Minha Vida da Política de Habitação,
Saneamento Rural e o Apoio à Educação para as Relações Étnico-
raciais (BARBOSA, 2017).
Desenvolvimento local e inclusão produtiva: também é necessária
a aplicação de estratégia para o desenvolvimento local e possibilidade
de renda para as famílias, a partir da identidade cultural, dos costumes e
dos recursos naturais existentes na região. As ações visam ao respeito e
à sustentabilidade ambiental, social, cultural, econômica e política das
comunidades. Para o desenvolvimento destas comunidades na
perspectiva da autonomia, o Programa Brasil Quilombola estabelece
parceria com outras áreas específicas, como:
• O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura –
PRONAF.
• Programa Cisternas.
• Projetos voltados para segurança alimentar e nutricional.
• Programa Aquisição de Alimentos – PAA.
• Assistência técnica e extensão rural quilombola.

142 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
• Programa Brasil Local – Economia Solidária.
• Outros.

Participação social, direitos e cidadania: este eixo, assim como


os demais, deve fomentar iniciativas para garantir o acesso ao direito
da participação e ao exercício do controle social. As ações devem
ser implantadas pelos diferentes órgãos públicos e pelas instituições
e organizações da sociedade civil, na perspectiva de estimular a
participação cidadã dos membros dos quilombos nos espaços
institucionais, como conselhos locais, regionais e nacional, além dos
fóruns.
Apesar do tempo que demorou para a implantação de uma política
para os povos quilombolas, o Programa Brasil Quilombola expressou
importante avanço para o desenvolvimento das comunidades e já
constata resultados importantes na qualidade de vida da população,
entretanto, não exclui a necessidade de implementação desta política
e do aceleramento destes processos de inclusões.
Além do Brasil Quilombola, outra importante política social presente
na dinâmica da vida destes povos é a assistência social. Esta política, a
princípio deve identificar as demandas desta população e em seguida
criar as condições para proteger os direitos ou ainda atender às pessoas
e grupos que estão tendo seus direitos violados.
Para tanto, faz-se necessário a implantação e ou implementação
da Política de Assistência Social nos territórios quilombolas. Uma das
estratégias é a instalação do Centro de Referência de Assistência Social
– CRAS –, pois é por meio deste equipamento estatal que ocorre a
aproximação das famílias com a rede de proteção socioassistencial e
social. Assim, para garantir, de fato, o acesso destas famílias, é imperativo
que o CRAS esteja o mais próximo delas, ou seja, dentro do território,
por isso que se deve se chamar ‘CRAS Quilombola’.

População indígena no Brasil


A história dos índios do Brasil se confunde com a história do Brasil,
pois é datada do mesmo período da sua colonização. Apesar do tempo,
as questões referentes à causa indígena apresentam na atualidade
uma nova configuração. Alguns dados da história fazem jus a alguns
destaques para podermos entender o processo de vulnerabilidade que

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 143
se encontra esta população.
A população indígena ocupava as terras brasileiras e fazia parte da
economia política desde o período colonial. Eram úteis por diversos
motivos, desde o cuidado com as fronteiras contra a invasão de tropas
inimigas, até mesmo como reserva de mão de obra. Já sabemos
através da história que suas terras e suas culturas foram invadidas e
desorganizadas.
Silva (2006) destaca que são públicas as informações sobre a
resistência dos índios contra o povoamento no interior do Brasil em
meados do século XVII, bem como, também, é de conhecimento
as atrocidades cometidas contra este povo em nome do processo
civilizatório e religioso.

Para saber mais


Para saber mais sobre as condições de vida da população indígena do
Brasil, sugerimos o material:
AZEVEDO. M. M. Diagnóstico da situação das populações indígenas
no Brasil. Cienc. Cult. v. 60 n. 4. São Paulo, out. 2008. Disponível
em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0009-67252008000400010>. Acesso em: 17 set. 2017.

No século XIX, a relação com os índios tomou nova feição. Naquele


momento a questão da expansão das terras por parte dos fazendeiros
que utilizavam a mão de obra dos escravos negros constituiu a base
do sistema político brasileiro. As terras que os fazendeiros invadiam,
com o consentimento do Estado, eram da população indígena, assim
desde então esta população só foi decrescendo. Silva (2006) reafirma
que desde a chegada dos europeus no Brasil a população indígena só
diminuiu.
Por outro lado, o mesmo autor também informa que algumas
sociedades indígenas comprovaram capacidade de recuperação de
sua população nas últimas décadas. No período do ‘descobrimento’
a população que era de 10 milhões chegou a 200 mil, conforme
estimativas do CENSO do IBGE no início do século XX.
No Brasil, em 348 municípios há população com mais de 700
indígenas. Grande parte destas cidades estão localizadas nas regiões
norte e centro-oeste, entretanto, um número expressivo de populações
de tamanhos diversos está distribuído em todas as regiões do país.
Uma parte também significativa das comunidades é menor do que 100

144 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
pessoas.
Oliveira (2010) relata que o Instituto Socioambiental afirma que
há no Brasil 240 povos indígenas remanescentes, totalizando uma
população considerada em 600 mil pessoas. Sendo que 480 mil estão
nas terras indígenas e nas áreas urbanas próximas. Doze povos têm
população entre cinco e 40 pessoas, ou seja, estão correndo sério
riscos de desaparecimento.
No Brasil, conforme Silva (2006), há 169.872.856 indígenas
identificados pelo IBGE. Esta população está distribuída em todo país:
• 29% na região norte.
• 23% na região nordeste.
• 22% na região sudeste.
• 11,5% na região sul.
• 14% na região centro-oeste.

Outro dado relevante sobre esta população é quanto à desigualdade


social. Os povos indígenas fazem parte dos grupos mais empobrecidos,
explorados e discriminados das Américas. Silva (2006) constata que
38% encontra-se em situação de extrema pobreza com renda familiar
abaixo de ¼ do salário mínimo. Em comparação com a população
branca, essa proporção é de 15,5%.
É muito comum a situação indígena ser analisada a partir do senso
comum, por exemplo, considerar que por esta população estar na
zona rural tem mais facilidade e acesso a alimentos como atividade de
extração, caça e coleta. Contudo, não é bem assim. A realidade requer
análise e contextualização. Na questão indígena o que se constata é a
desproteção social, especialmente pela ausência de ações de políticas
sociais direcionada especialmente para este público ou ainda pela
existência de ações desorganizadas e ineficazes.
O que se percebe em grande parte dos municípios onde há terras
indígenas é que uma grande parte desta população está vivendo em
situação de carência material, em pobreza extrema, além de outras
violências e violações de direitos. Atualmente, é comum a dependência
química, a exposição, a mendicância, crianças sem escolas, pessoas em
situação de doenças crônicas, entre outras situações. Os indicadores
destacados por Silva (2006) evidenciam que essa população está entre
as mais vulneráveis.

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 145
Direitos sociais da população indígena
A Constituição Federal de 1988 reconheceu os povos indígenas
como cidadãos de direitos e avançou na ampliação e garantia dos seus
direitos e alinhou-se à Convenção 169, da Organização Internacional
do Trabalho (OIT), à Declaração Universal dos Direitos do Homem e
do Cidadão e da Organização das Nações Unidas (ONU), mecanismos
jurídicos internacionais que referenciam o campo da proteção para
população indígena.
A Constituição Federal é a maior lei do país e vale destacar,
conforme citação de Curi (2010) o que ela orienta em relação aos
Direitos Indígenas:

Art. 20. São bens da União:


XI – As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
XIV – populações indígenas;
Art. 49. É de competência exclusiva do Congresso Nacional:
XVI – autorizar, em terras indígenas, a exploração e o
aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e a lavra
de riquezas minerais;
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
XI – A disputa sobre direitos indígenas.
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
V – Defender judicialmente os direitos e interesses das
populações indígenas;
Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos
minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem
propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração
ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao
concessionário a propriedade do produto da lavra.
§ 1° - A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o
aproveitamento dos potenciais a que se refere o caput
deste artigo somente poderão ser efetuados mediante
autorização ou concessão da União, no interesse nacional,
por brasileiros ou empresa brasileira de capital nacional,
na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas
quando essas atividades se desenvolverem em faixa de
fronteira ou terras indígenas.
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino
fundamental, de maneira a assegurar formação básica
comum e respeito aos valores culturais e artísticos,
nacionais e regionais.
§ 2° - O ensino fundamental regular será ministrado em

146 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
língua portuguesa, assegurados às comunidades indígenas
também a utilização de suas línguas maternas e processos
próprios de aprendizagem.
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos
direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional,
e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais (CURI, 2010, p. 5).

São reconhecidos os avanços com a Constituição Federal de 1988


no Brasil, entretanto, a partir deste evento, nota-se um forte movimento
contrário no sentido de uma mobilização para diminuir ou excluir o que
os indígenas conquistaram – o pouco que conquistaram – ao longo do
tempo, principalmente por parte dos latifundiários que fazem divisas
com suas terras.
Um exemplo disso é a demarcação do limite de terras no Estado
de Roraima, no ano de 2009. Após muitos conflitos a população
indígena conquistou o direito às terras que historicamente foram
dela. Mesmo com o apoio e manifestação de muitos movimentos
sociais, dos movimentos ecológicos e ambientalistas internacionais,
constantemente este assunto volta à pauta e eles correm o risco de
ainda perderem esta conquista.
A demora do poder legislativo e do judiciário é percebida pelo
Estatuto dos Povos Indígenas, que foi protocolado no Congresso
Nacional sob o número PL 2057/1991. O referido projeto encontra-se
paralisado na mesa diretora da Câmara dos Deputados desde junho de
2012.
O debate sobre ele não entra num acordo acerca da independência
da população indígena. Ainda domina a compreensão de que estes
povos precisam ser tutelados e seguidos por legislações de proteção
territorial, ambiental e cultural.
Em relação às políticas sociais, a educação escolar indígena foi
reconhecida como direito na Constituição Federal de 1988 e reafirmada
em 1996 na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que desde
o ensino fundamental, que deve estar nas aldeias, até o ensino superior,
devem ter o ensino bilíngue, sendo em sua língua materna e também
em português.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação também tem como objetivo

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 147
a recuperação das memórias históricas e a reafirmação das identidades
étnicas dos povos indígenas, utilizando e valorizando a sua língua e
ciências.
Também está prevista pelas políticas sociais a profissionalização
desta população em áreas diversas, especialmente na saúde, bem
como na formação de professores e intelectuais indígenas pelas
universidades públicas e privadas, inclusive com a publicação de
artigos e livros, o que vem possibilitando a transmissão do pensamento
ameríndio, ou seja, a transmissão de pensamento dos povos indígenas
originários da América.
Estes são os sinais de avanços nas políticas na perspectiva da
autonomia e independência das comunidades e da população.
Além da educação, também se faz necessárias outras políticas
sociais no território da população indígena, como nas áreas da saúde
e da assistência social.
No que refere à saúde, é elementar que se tenha uma Unidade Básica
de Saúde – UBS –, que esteja equipada e com profissionais qualificados
para o atendimento humanizado para aquela população específica,
como prevê a Política Nacional de Atenção Básica – Portaria GM.MS.
nº 648, de 28 de março de 2006 (BRASIL, 2006). Esta normativa regula
o programa da estratégia de Saúde da Família e Agentes Comunitário
de Saúde.

Atividades de aprendizagem
1. Os povos das comunidades tradicionais estabelecem formas específicas
de se viver e de se relacionar no território em que estão inseridos, respeitando
o meio ambiente e o princípio da sustentabilidade, preocupando-se com a
sobrevivência dos grupos presentes e com as gerações que estão por vir.
Quais são as comunidades conhecidas como tradicionais?
a) Solidária, pescadores, agricultores e apicultores.
b) Ribeirinhos, italianos, ciganos e agropecuaristas.
c) Indígenas, alemães, lenhadores e extrativistas.
d) Quilombolas, pescadores, ribeirinhos e extrativistas.
e) Orgânicos, ribeirinhos, piscicultores e granjeiros.

2. A convenção sobre a proteção e promoção da diversidade das expressões


culturais foi coloca como prioridade na 33ª Conferência da Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO – em

148 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
Paris no ano de 2005, mas começou a vigorar em 2007. 141 países foram
signatários nesta Convenção e o Brasil foi um deles.
Apenas dois países não assinaram este importante documento, quais foram
esses países?
a) Japão e Alemanha.
b) Coreia do Sul e Estados Unidos.
c) Estados Unidos e Israel.
d) Rússia e Egito.
e) Síria e Nigéria.

Fique ligado
• As políticas públicas de atenção a grupos minoritários da
sociedade brasileira são muito recentes e trazem histórias de lutas e
muita mobilização social.
• Ao longo da história da humanidade identificamos que as minorias
foram sendo eliminadas, presas ou discriminadas, afrontando o
princípio da dignidade essencial a todo ser humano.
• A Constituição Federal de 1988, em acordo com a Convenção
Internacional sobre a Eliminação de Todas as Forma de Discriminação
Racial, admitiu as múltiplas formas de organização social e cultural de
diferentes segmentos da sociedade brasileira.
• Várias são as formas de violências e violação de direitos a que está
exposta a população LGBTTT por motivos relacionados à orientação
sexual e identidade de gênero no nosso país e em muitos outros.
• Uma das formas mais cruéis de violência é a homofobia.
• Romper com crescimento da violência requer a implantação e
implementação de políticas públicas que passem pela informação à
população, a criminalização da violência e a estruturação de serviços
para atendimento às vítimas.
• No que se refere à defesa de direitos LGBTTT, que de fato estão
concretizados, podemos indicar a Constituição Federal de 1988 que
iniciou esta construção, quando, em seu art. 5º, garante que todos são
iguais perante a lei.
• Em 2011, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas
deliberou a primeira resolução sobre direitos humanos, orientação

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 149
sexual e identidade de gênero. Nela demonstrou preocupação com
a “violência e a discriminação contra indivíduos em razão de sua
orientação sexual e identidade de gênero”.
• Todos os países membros da ONU têm responsabilidades legais e
precisam atentar-se para a proteção dos direitos humanos de pessoas
LGBTTT, são elas:
• Proteger indivíduos de violência homofóbica e transfobia.
• Prevenir Tortura e tratamento cruel, desumano e degradante de
pessoas LGBTTT.
• Descriminalizar a homossexualidade.
• Proibir discriminação baseada em orientação sexual e identidade
de gênero.
• Respeitar as liberdades de expressão, de associação e de reunião
pacífica.
• A população ainda tem o direito de acessar seus direitos de forma
livre da discriminação.
• O Brasil, enquanto Estado de Direito Democrático, deve criar
condições de garantir o exercício dos direitos e ainda implantar
e implementar políticas públicas na perspectiva da prevenção à
violência e violação de direitos e também estruturas para investigar e
responsabilizar os cometedores de violências.
• A preocupação com as comunidades e com os povos tradicionais
surgiu com o processo das discussões ambientais, especificamente
quando se debatia sobre as áreas protegias pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA.
• Esses grupos estabelecem formas específicas de se viver e de se
relacionar no território em que estão inseridos, respeitando o meio
ambiente e o princípio da sustentabilidade, preocupando-se com a
sobrevivência dos grupos presentes e com as gerações que estão por
vir.
• O art. 215 da Constituição decide que o poder público deve
proteger as manifestações culturais indígenas e afro-brasileiras e demais
manifestações que expressem o processo de civilização brasileira.
• A consideração da existência e do reconhecimento das diferentes

150 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
formas de culturas dos povos tradicionais e dos direitos particulares
desses grupos é de responsabilidade do Estado.
• Durante todo o período da escravidão existiram os quilombos em
todas as regiões do Brasil, ou seja, onde havia a prática da escravidão
contra o negro também havia quilombo.
• O art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
expressa importante avanço nas conquistas dos direitos quilombolas
quando afirma que “Aos remanescentes das comunidades dos
quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a
propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos
respectivos” (BRASIL, 2015, p. 205).
• A Política de Promoção da Igualdade Racial, especificamente
no que refere à população quilombola, promoveu o Programa Brasil
Quilombola com a proposta de primeiramente identificar as demandas
destes povos.
• A história dos índios do Brasil se confunde com a história do Brasil,
pois é datada do mesmo período da sua colonização.
• A população indígena ocupava as terras brasileiras e fazia parte da
economia política deste o período colonial.
• O que se percebe em grande parte dos municípios onde há terras
indígenas é que uma grande parte desta população está vivendo em
situação de carência material e em pobreza extrema, além de outras
violências e violações de direitos.
• A demora do poder legislativo e do judiciário é percebida pelo
Estatuto dos Povos Indígenas que se encontra paralisado desde 1994.
• Em relação às políticas sociais, a educação escolar indígena
foi reconhecida como direito na Constituição Federal de 1988 e
reafirmada em 1996 na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
assim, desde o ensino fundamental, que deve estar nas aldeias, até o
ensino superior, deve ser ofertado o ensino bilíngue, na língua materna
e também em português.

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 151
Para concluir o estudo da unidade
Ainda se constitui em grande desafio a construção, de forma
democrática, de políticas afirmativas para a população lésbica,
gay, bissexual travesti, transexual e transgênero – LGBTTT. Além de
construção, também é necessária a implantação e implementação
dessas políticas a partir de planejamentos específicos com a
participação da sociedade, especialmente do público LGBTTT.
Em quase trinta anos, o cenário mudou de forma expressiva, partindo
do regime autoritário para o processo democrático e a aprovação da
Constituição Federal de 1988, que proporcionou grandes avanços na
área social. Entretanto, ainda há muito que reconhecer e aplicar os
direitos de forma universal para todos os cidadãos brasileiros, no caso
da população lésbica, gay, bissexual travesti, transexual e transgênero
– LGBTTT.
A mesma Constituição também projetou a proteção à diversidade
cultural brasileira, reconhecendo que a nossa sociedade é multicultural
e pluralista e orientando que o patrimônio histórico cultural precisa ser
eternizado. Assim, as populações indígenas, os quilombolas e outras
comunidades tradicionais tiveram na Carta Magna o apoio que nenhum
outro documento jurídico proporcionou anteriormente na história
brasileira. Vale destacar que além de movimentos sociais do Brasil,
também houve pressão internacional para as regulamentações nesta
área, além de mecanismos jurídicos como convenções internacionais
direcionadas para a proteção dos direitos destas populações.
Vale ressaltar que os assuntos não se esgotam aqui, que são
necessárias outras pesquisas sobre eles, inclusive aproveitando as
indicações aqui deixadas ou em outras fontes de sua preferência.

Atividades de aprendizagem
1. Qual foi o documento que em 1969 admitiu as múltiplas formas de
organização social e cultural de diferentes segmentos da sociedade
brasileira, inclusive contribuiu para a elaboração da Constituição Federal de
1988?
Assinale a alternativa correta:
a) Convenção Internacional dos Direitos dos Homens, Mulheres, Crianças,
Adolescentes e Idosos.

152 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
b) Declaração Mundial dos Direitos do Homem.
c) Declaração dos Direitos Indígenas Brasileiros.
d) Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Forma de
Discriminação Racial.
e) Convenção Nacional entre os Estados do Centro-Oeste Brasileiro sobre
Populações Tradicionais.

2. A luta do movimento lésbica, gay, bissexual travesti, transexual e


transgênero – LGBTTT – por direitos ou por usufruto dos direitos não é
nada radical ou complexo. A reivindicação se baseia em dois princípios
elementares que amparam o regime internacional de direitos humanos.
Quais são esses princípios?
a) Igualdade e não discriminação.
b) Justiça e participação cidadã.
c) Equidade e liberdade de expressão.
d) Universalidade e proteção social.
e) Controle e não discriminação.

3. A Política de Promoção da Igualdade Racial, especificamente no que


refere à população quilombola promoveu o Programa Brasil Quilombola
com a proposta de primeiramente identificar as demandas destes povos,
bem como atender a essas demandas, considerando o que eles, enquanto
protagonistas, vislumbram para o futuro. O referido Programa prevê quatro
eixos para intervenção dos gestores públicos.

Assinale a alternativa que não é um dos eixos do Programa Brasil quilombola:


a) Acesso à terra e regularização fundiária.
b) Infraestrutura e qualidade de vida.
c) Desenvolvimento local e inclusão produtiva.
d) Desenvolvimento comercial e industrial.
e) Participação social, direitos e cidadania.

4. Além do Brasil Quilombola, qual importante política social está presente


na dinâmica da vida destes povos que têm como função a identificação das
demandas sociais e a criação de condições para proteção dos direitos e
ainda atender às pessoas e grupos que estão tendo seus direitos violados?

a) Política de Habitação.
b) Política de Assistência Social.

U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes 153
c) Política de Segurança.
d) Política de Previdência Social.
e) Política de Desenvolvimento.

5. Quais documentos internacionais a Constituição Federal de 1988 utilizou


como referências no campo da proteção para população indígena?
a) O Estatuto da Terra e do Homem.
b) A Declaração dos Direitos do Homem.
c) Convenção 169 e a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do
Cidadão.
d) Convenção Internacional dos Direitos Indígenas.
e) Declaração Internacional dos Direitos Humanos e Convenção Tribal.

154 U4 - Políticas setoriais: mulher, LGBT, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ribeirinhos); gênero, migrantes
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