You are on page 1of 5

INTRODUÇÃO

O modelo ideal de educação de qualidade sempre foi palco de disputa


por aquele que possuem o poder. Com isso, surgem diversos cenários e
propostas com o intuito de promover esse ideal de educação para a sociedade,
como por exemplo, a concepção de escolas democráticas e por outro lado o
processo de militarização. De fato que é só no processo de redemocratização
do Brasil que essas escolas ganham força e são prevista na Constituição de
1988, que prevê a educação enquanto “direito de todos e dever do Estado e da
família, onde será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho”.  Logo, compreende-se que a
educação pública como espaço de formação intelectual e cidadã é defendida
por lei
Entretanto, com a implantação das escolas cívico militares nota-se um
movimento contrário as escolas democráticas, uma vez que suas raizes não
possuem respaldo constitucional e nem na Lei de Diretrizes e Bases de
Educação (LDB), além de violarem diversos direitos.
Sendo assim, o presente estudo busca fazer uma investigação sobre a
implementação das escolas cívico militares no Brasil. Além de analisar e
comparar os fenômenos que levaram a transferência das escolas civis públicas
para o processo de militarização e aderindo assim as normas de um quartel,
considerando, ainda, as diversas consequências da militarização dentro do
ambiente escolar. Ademais, procura explicitar de que maneira a militarização
das escolas públicas, por meio da implementação do Programa de Escolas
Cívico-Militares, confronta-se diretamente com a construção de uma gestão
democrática.
Visto que, A implementação de tal modelo de gestão se inicia no Distrito
Federal em 2019, por meio de ação conjunta entre a Secretaria de Educação e
a Secretaria de Segurança Pública, e prevê a transformação de unidades de
ensino da rede pública em Colégios Cívico-Militares. É válido ressaltar, que
esse decreto não propõe a criação de escolas militarizadas, mas a
transformação de escolas regulares de educação básica em escolas
militarizadas.
Pautada, então, no argumento de que a qualidade educacional não é
alcançada pela rede pública de educação básica, ou seja que o insucesso da
educação pública é exclusivamente causado pelo ensino público, além da
justificativa de que escolas com alto índice de violência e vulnerabilidade
sociais devem aderir ao processo de militarização, uma vez que os policiais
estão naquele ambiente para garantir a ordem, obediência e disciplina. Então
essas escolas tem ocupado cada vez mais espaço na agenda de muitos
governos estaduais e do governo federal, com o incentivo e promessa de
receber recursos e verbas, e com isso transformam o nome da escola e
adotam as normas de um quartel. Desse modo, procuramos extrair dados e
evidências sobre a garantia da qualidade educacional e direitos, conforme
alguns princípios sociais e constitucionais defendido pela constituição e
documentos oficiais da educação.
Posto isso, para resolver determinadas questões analisamos
documentos nacionais, como a Constituição Federal de 1988, a Lei de
diretrizes e Bases de educação, os decretos que viabilizam a implementação
das escolas cívico militares, incluindo o portal do Ministério da Educação
(MEC) e análise de matérias jornalísticas, além de produções teóricas sobre os
temas envolvidos. Por fim, apresentamos o aprofundamento das investigações
e efetivação de algumas questões do tema discutido.
Para compreendermos como a escola cívico militar se caracteriza e os
motivos que baseiam a sua implementação, se faz necessário pontuarmos
diferenças de uma escola militar e uma escola militarizada.
No Brasil, ao todo são 13 colégios militar e deu-se início a partir do
decreto n° 10. 202 de 9 de março de 1889 pelo conselheiro Tomás Coelho. As
escolas acolhem alunos do 6° ano do Ensino Fundamental ao 3° ano do Ensino
Médio. Tinham como objetivo estratégico propiciar aos filhos dos militares do
exército e da marinha e aos civis uma oportunidade de receber instrução para
seguir carreira militar. Aos que tem interesse em ingressar na escola é
submetido à uma prova que seleciona os alunos com as notas mais altas.
Os colégios contam com os recursos do Ministério da Educação e do
Ministério da defesa, detêm de uma boa infraestrutura, possuindo quadras
esportivas, piscina, laboratórios (química, robótica), etc. O quadro de
professores inclui militares e as escolas tem autonomia na elaboração de seus
próprios currículos e sua estrutura pedagógica.
Com os investimentos, valorização dos professores e infraestrutura
adequada, resulta em um bom desempenho nas avaliações nacionais. De
acordo com o IDEB, a nota do ensino fundamental dos colégios é de 6,5,
enquanto as escolas estaduais é de 4,1. Para o cofre público, cada aluno de
um colégio militar custa três vezes mais do que um aluno de escola pública.
Como essas escolas trazem um modelo que demonstram qualidade,
sucesso na educação, um bom desempenho e as escolas públicas não
alcançam a qualidade da educação com a justificativa de que há alto índice de
violência, vulnerabilidade sociais e falta de disciplina e ordem, foi elaborado em
5 de setembro de 2019 o programa PECIM (Programa Nacional das Escolas
Cívicos Militares) pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com
Ministério da defesa através do Decreto 10.004, com o objetivo de melhorar a
gestão escolar e o desempenho do aluno. Como é citado no documento de
Diretrizes das ecolas cívicos militares:
[...] visa implantar um modelo de gestão de excelência em unidades
escolares públicas de ensino regular que ofereçam as etapas dos anos finais
do ensino fundamental e do ensino médio e que possuam baixo resultado de
Ideb e alunos em situação de vulnerabilidade social. (BRASIL,2021)
Esse programa se baseia no modelo que é aplicado nos colégios
militares seguindo três eixos: O administrativo (Direção da escola; Diretor; vice-
diretor; oficial da gestão escolar e secretário escolar e assistentes
administrativos), o didático-pedagógico (Supervisão escola; coordenador
pedagógico; psicopedagogo; corpo docente) e o educacional (Oficial de gestão
educacional e monitores).
O público alvo desse programa são os alunos, gestores, professores,
militares que adotam esse modelo. Essa implementação nas escolas públicas
abre portas para que os militares atuem como monitores no apoio da gestão
escolar e na gestão educacional, sendo capacitados pela própria equipe do
ministério da educação. E de acordo com a diretrizes das escolas cívicos
militares, os educadores continuam atuando no trabalho didático-pedagógico:
Art. 20. As atribuições do Corpo Docente são definidas, conforme
estatutos e legislações das Secretarias de Educação dos entes federativos
partícipes do Pecim. Sugere-se que os professores:
I – Executem o planejamento de ensino sob sua responsabilidade;
II – Mantenham permanente diálogo com o Corpo de Monitores,
visando à formação integral dos alunos;
III – Participem da escolha dos livros do Programa Nacional do Livro e
do Material Didático para a sua disciplina; e
IV – Participem dos Conselhos de Classe da escola e dos Projeto
Valores, Apêndice C, e Projeto Momento Cívico, Apêndice D, sob a orientação
da Supervisão Escolar (Coordenação Pedagógica). (BRASIL, 2021)
Como podemos observar todo o programa foi elaborado oferecendo
“serviço” na área da educação, esporte e “formação cívica” que contrariam os
princípios educacionais da legislação brasileira. O espaço educacional está
sendo disputado por propostas políticas e diversas concepções educativas que
desfaz os direitos conquistados pelas lutas sociais, como o direito de acesso ao
conhecimento, e esse processo de militarização rompe esse direito.
Diferentemente da proposta de "Colégio Militar", que instrui os alunos a
formar os escalões de instituições militares (Marinha, Exército e Aeronáutica)
em todo território brasileiro, a "escolas militarizadas", embora compartilhe
algumas semelhanças, com relação a ser militarizada e hierarquizada, não
são projetados para produzir quadros para carreiras militares. Os educadores
apontam que essas escolas não são para todos, pois procura mecanismos
para selecionar os alunos, criando a exclusão.
Esse modelo de militarização de escolas articula com a “escola sem partido”
que surgiu em 2000 sendo de natureza “apartidária” representando pais e
estudantes que acreditam que há uma ”doutrinação ideológica” dentro da
escola. Não há nada mais partidário do que o Escola sem Partido. Sob o
pretexto de derrubar suposto viés político esquerdista dos professores, seus
ativistas querem retirar das escolas suas instituições públicas, espaço de
debate e formação em valores religiosos que transcendem as crenças
familiares e de cunho privado. O verdadeiro horror do Escola sem Partido é
que as crianças são integradas no mundo fora da família. O que o movimento
está lutando é contra a ideia de escolas como espaços públicos onde crianças
e jovens devem ir para encontrar diferenças e transcender a vida privada.
Então o que podemos perceber é que a escola sem partido se beneficia do da
autoridade e disciplina rígida do modelo da escola cívico militar para implantar
suas ideias.
LOZANO, José Ruy. Entre histéricos, demagogos e financistas. Diplomatique. Brasil.
31 de agosto de 2021. Disponivel em: https://diplomatique.org.br/entre-histericos-demagogos-
e-financistas/. Acesso: 15/11/2022
MATUOKA, Ingrid. As diferenças entre escola militar, cívico-militar e pública. Centro
de Referências em educação integral. 18 de setembro de 2019. Disponivel em:
https://educacaointegral.org.br/reportagens/as-diferencas-entre-escola-militar-civico-militar-e-
publica/. Acesso: 13/11/2022
SOARES, Marina Gleika Felipe. SILVA, Samara de Oliveira. ALMEIDA, Lucine
Rodrigues Vasconcelos Borges de. SOARES, Lucineide Maria dos Santos. CRUZ, Rosana
Evangelista da. Escola militar pra quem? O processo de militarização das escolas na rede
estadual de ensino do Piauí. RBPAE - v. 35, n. 3, p. 786 - 805, set./dez. 2019.

SILVA, Edileuza Fernandes. VEIGA, Ilma Passos Alencastro. FERNANDES, Rosana César de
Arruda. MILITARIZAÇÃO E ESCOLA SEM PARTIDO: repercussões no projeto político-
pedagógico das escolas.Revista Exitus, vol. 10, e020116, 2020

BRASIL. Programa Nacional das Escolas Cívico-militares. Diretrizes das escolas cívico-
militares. 2° edição. 2021.

You might also like