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Ciências Sociais e Investigação Criminal
Ciências Sociais e Investigação Criminal
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Resumo
Essa dissensão (não entre haver duas espécies de ciências, mas sobre
a ciência social ter ou não a mesma estrutura da ciência natural) instaura nas
ciências sociais dois caminhos, o naturalismo e o historicismo5, tão bem ex-
plicado por Karl Popper (1957) que demonstra em que sentido cada um está
correto e incorreto, segundo sua perspectiva falsificacionista da ciência. Na
raiz dessa querela, segundo se tem observado (POPPER, 1976, p. 17), há
uma equivocada visão das ciências naturais, fruto de um ingênuo indutivis-
mo, contra o qual Karl Popper apresentou o falsificacionismo e o método
hipotético-dedutivo como a lógica das pesquisas científicas.
1 Nesse sentido, encontram-se as leis da evolução social de Comte (cf. Bottomore, 1971, p. 32).
2 Nesse sentido, é a opinião de Durkehin sobre a tarefa do sociológico (cf. Bottomore, 1971, p. 33, nota 8)
3 Cf. nesse sentido, Bottomore, 1971, p. 33.
4 Cf. Barata, 1998, p. 15.
5 Ressalte-se que o que se relata aqui é a síntese rudimentar de um problema epistemológico muito mais
complexo.
6 O que está por trás de uma explicação nesses termos não é uma questão de causalidade, mas de
condicionalidade, segundo a qual, em determinadas condições X, há uma tendência para Y, o que,
embora se torne algo limitado, tem a vantagem de reconhecer os limites do conhecimento sociológico
e avançar a partir dele.
mente deste último contexto que parte uma sociologia de ação, que vamos
expor sucintamente como um modelo propício a fazer despertar as relações
que existem entre investigação científica sociológica e investigação criminal
científica, sobretudo a partir do conceito de investigação-ação.
de abordagem insiste numa das duas faces de uma mesma realidade” (1996, p. 109).
8 Pontue-se que alguns trabalhos da Escola de Chicago são especialmente conhecidos no campo da
criminologia sociológica, ou sociologia do crime. Outro marco, e por muitos considerado o fundador
da pesquisa-ação, são os trabalhos de Kurt Lewin, baseados em dinâmicas de grupo, destinados não a
produzir conhecimento para depois ser aplicado por decisões políticas, mas a atuarem diretamente no
problema – daí chamar-se muito constantemente de investigação operacional. Isabel Guerra (2002,
p. 55), contudo, considera que é nos trabalhos de Dewey, no campo da educação, que se deve situar a
origem da investigação-ação.
9 Entre essas perspectivas, que não vamos desenvolver aqui, mas são relevantes para a compreensão do
tema, encontram-se o individualismo metodológico de Boudon, a análise estratégica de Grozier e a
teoria da ação de Touraine. Para uma visão geral dessas perspectivas, cf. Guerra, 2002, 21 e ss; Coster,
1996, p. 81 e ss.
10 Veja-se que nessa concepção se pode identificar a definição de investigação proposta por Dewey, em
sua “Lógica: Teoria da Investigação”.
11 Ou seja, “mais do que correntes teóricas, trata-se, sobretudo, de posturas de investigação – apelidadas
de investigação-acção – que procuram abranger um conjunto de experiências práticas desenvolvidas
por vários autores, e relativamente distintas entre si, mas enquadradas no mesmo propósito de
conhecer a realidade para a transformar, assumindo assim uma concepção pragmática da realidade
social” (GUERRA, 2002, p. 43). Perceba-se que, sob essa perspectiva, as práticas de investigação
criminal se encaixam facilmente nessa concepção de pesquisa científica.
12 Essa é, aliás, a via mais adequada quando nos colocamos em uma investigação criminal, em que se
devem dirigir as ações segundo valores fundamentais (os direitos e garantias do homem), devendo
qualquer ideia de ciência ser dirigida a partir deles como premissas do conhecimento e da ação.
13 Para uma visão desse diversos campos, cf. Guerra, 2002, p. 60.
14 No Brasil, essa é exatamente a situação das organizações policiais responsáveis pela investigação criminal,
na relação com a sociologia acadêmica que, a partir de uma visão sempre externa de desconstrução da
segurança publica, é incapaz de adentrar nos grandes problemas reais das instituições e construir novos
modelos de ação. E ao serem confrontadas tais sociologias com a busca das instituições policiais pelo
desenvolvimento de uma ciência própria, consideram ser impossível falar de uma ciência policial.
15 Ao lado dessas, encontra-se ainda o inquérito por questionário (QUIVY e CAPENHOUDT, 1995)
que somente em situações muito particulares poderia ser utilizado na área da investigação criminal, mas
tendo em vista outra espécie de questão não diretamente relacionada a um caso concreto investigado.
Por isso, deixamo-lo de lado inicialmente, mas não descartamos em absoluto sua utilização.
18 Um bom estudo acerca da entrevista se encontra na obra Como Perguntar: Teoria e Prática da Construção
de Perguntas em Entrevistas e Questionários, de William Foddy (1993), em que o autor declaradamente
assume o interacionismo simbólico como quadro teórico de fundo para o desenvolvimento de seu
estudo (p. 26). Segundo ele, “a mais básica implicação da teoria do para as situações de investigação
traduz-se na hipótese de que o significado atribuído pelos sujeitos aos actos sociais é produzido no
interior da própria relação em que esses actos ocorrem” (p. 23).
19 No direito processual brasileiro, aliás, o conceito jurídico de documento abrange tudo quanto
seja registrado em um meio físico em condições de ser consultado, conferido, confrontado ou
contraditado.
20 A análise quantitativa não pode ser de todo excluída do nosso interesse científico, conjuntamente com
certas análises estatísticas, igualmente relevantes para a investigação criminal, mas no âmbito de outra
ordem de questões.
21 A classificação é de Uwe Flick, Métodos Qualitativos na Investigação Científica, onde o autor apresenta
outros variados métodos de codificação e categorização.
22 Uma possibilidade que se pode vislumbrar é a análise do conteúdo de diversos inquéritos investigativos,
visando a extrair padrões de modus operandi de certos crimes em conexão com modos de prová-los.
E-mail: Eliomar.esp@dpf.gov.br
23 Quanto aos inquéritos quantitativos, Boudon (1971, p. 41) os define como “aqueles que permitem
recolher, num conjunto de elementos, informações comparáveis entre esses elementos. Esta comparação
de informações possibilita, em seguida, a inumeração e, mais geralmente, a análise quantitativa dos
dados. A condição necessária para a aplicação dos métodos quantitativos é que a observação incida
sobre um conjunto de elementos, de certa maneira comparáveis.”
Referências
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