Opinião pública – eis a chave para compreendermos a natureza de muitos
fenômenos sociais. A opinião pública funciona como salvaguarda da sociedade. É de suas criações mais importantes para o próprio desenvolvimento e ajuste social. É uma arma de defesa contra as ameaças de sistemas autoritários, uma ferramenta de avanços e mudanças e uma câmara de eco das grandes demandas sociais. Como nasce a opinião pública? Nasce das ideias e crenças individuais, que vão se aglomerando em núcleos, expandindo-se de maneira vertical (nas classes sociais) e horizontal (nos espaços geográficos), conduzidas pelos meios de comunicação, que funcionam como tuba de ressonância de fatos. Em um certo momento e em espaços imprevisíveis, vão surgindo ondas que se encadeiam, difundindo e multiplicando, de acordo com as circunstâncias, a complexidade dos fatos, as peculiaridades dos atores sociais envolvidos e as características do momento e do lugar. A opinião pública é determinada, então, por fatores de ordem psicológica, sociológica e histórica. Os fatores psicológicos abrigam as atitudes pessoais e grupais, as crenças e ideologias, os campos das emoções e da razão. Há nas pessoas uma base em que estão devidamente guardados e arquivados as suas crenças, estereótipos, valores e princípios e, consequentemente, as suas propensões para aceitar e/ou rejeitar outras crenças e valores. Inconsciente e consciente mesclam-se no exercício rotineiro de percepção, interpretação e valoração de acontecimentos e pessoas. A integração interpessoal e/ou grupal e a interpretação das bases psicológicas individuais geram novas ondas, que recebem influência de eventos e fatores distintos, como a geografia ambiental e a configuração de elementos de natureza econômica (escassez, excesso de demanda, excesso de oferta, fatores macroeconômicos de ordem internacional), de natureza grupal (etnias, sexo, idade) e de natureza ecológica (preservação da natureza). Ou seja, as cadeias de opinião reagem aos fatos ambientais, determinando nova posições, dispersando-se por todos os espaços, difundidas pelos meios de comunicação. As crises políticas e econômicas são mediadas pelo fenômeno da opinião pública. Constantemente, os governos lançam “balões de ensaio” para testar suas decisões importantes junto à opinião pública. A opinião pública é um fenômeno dinâmico. Acompanha a idade, os valores e a ética de cada tempo. Por isso mesmo, conserva uma base temporal, que vai se adaptando aos ciclos históricos, determinando novas direções, atenuando ou adensando conceitos e preconceitos. Por exemplo: a percepção social sobre moda, sexo e casamento conserva uma base tradicional, cuja passagem pela dinâmica do tempo funciona como fator de lapidação e moldagem de novas percepções. A posição muda de acordo com a região, a classe social, os padrões e as normas vigentes. E que elementos entram na química de formação da opinião pública? Em primeiro lugar, as necessidades determinadas pelos impulsos básicos: os impulsos combativo e nutritivo, que explicam a necessidade de o Homem lutar para se conservar e sobreviver; e os impulsos sexual e maternal, relacionados à perpetuação da espécie e aos valores humanos da solidariedade, amor, paixão, integração, vida em grupo, etc. (ver apêndice 1 sobre Mecanismos Básicos do Comportamento). A leitura sobre o campo de abrangência dos impulsos denota a conjunção de necessidades materiais e espirituais dos indivíduos e dos grupos. Por exemplo: a escassez de energia, pelo impacto que cria, aciona os mecanismos do comportamento grupal, acendendo críticas e estabelecendo formas de defesa individual e social. Os impactos negativos gerados por uma crise de energia funcionam como elementos de defesa e mobilização social. Mas a opinião pública inexistiria se não houvesse uma tuba de ressonância a propagar as ondas de pensamento. Portanto, a grande base de lançamento da opinião pública é a estrutura da indústria da comunicação, composta pelos canais de televisão, emissoras de rádio, jornais e revistas, a indústria do lazer – integrada pelo cinema, teatro e eventos culturais – e, ainda, pela cadeira gigantesca de entidades intermediárias que se organizam para proteger grupos e setores da sociedade. Essas entidades possuem os próprios meios de comunicação, mobilização e articulação, de forma que se somam à força da mídia de massa. O fenômeno da opinião pública e as consequências que provoca são inerentes à sociedade de massas, que se caracteriza pela mobilidade, pela heterogeneidade e também por sua dispersão no espaço. Identifica-se, ainda, na massa, certa propensão para o conformismo, apesar de já termos identificado, em partes anteriores, o despertar de uma nova sociedade. Portanto, para o comunicador, é de fundamental importância identificar a reação da massa diante dos fatos. Não deve confundir, por exemplo, a reação de determinado grupamento social, uma comunidade localizada, conferida, identificada, com a reação da massa amorfa, heterogênea, dispersa e que se refugia no anonimato. Uma comunidade de públicos exerce uma consciência crítica, tem harmonia de interesses, discute racionalmente as questões, e seus interlocutores integram- se no feedback da comunicação simultânea. Na sociedade de massas, essas condições são impossíveis. A massa não tem autonomia em relação às fontes e o discurso massivo não permite feedback imediato. Esses conceitos são básicos para o estabelecimento dos alvos nas políticas de comunicação.
Texto extraído de:
TORQUATO, Gaudêncio. Tratado de comunicação organizacional e política. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. p.77-78