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Apêndice – Opinião Pública

(extraído de TORQUATO, 2002)

Opinião pública – eis a chave para compreendermos a natureza de muitos


fenômenos sociais. A opinião pública funciona como salvaguarda da sociedade.
É de suas criações mais importantes para o próprio desenvolvimento e ajuste
social. É uma arma de defesa contra as ameaças de sistemas autoritários, uma
ferramenta de avanços e mudanças e uma câmara de eco das grandes
demandas sociais. Como nasce a opinião pública? Nasce das ideias e crenças
individuais, que vão se aglomerando em núcleos, expandindo-se de maneira
vertical (nas classes sociais) e horizontal (nos espaços geográficos), conduzidas
pelos meios de comunicação, que funcionam como tuba de ressonância de fatos.
Em um certo momento e em espaços imprevisíveis, vão surgindo ondas que se
encadeiam, difundindo e multiplicando, de acordo com as circunstâncias, a
complexidade dos fatos, as peculiaridades dos atores sociais envolvidos e as
características do momento e do lugar.
A opinião pública é determinada, então, por fatores de ordem psicológica,
sociológica e histórica. Os fatores psicológicos abrigam as atitudes pessoais e
grupais, as crenças e ideologias, os campos das emoções e da razão. Há nas
pessoas uma base em que estão devidamente guardados e arquivados as suas
crenças, estereótipos, valores e princípios e, consequentemente, as suas
propensões para aceitar e/ou rejeitar outras crenças e valores. Inconsciente e
consciente mesclam-se no exercício rotineiro de percepção, interpretação e
valoração de acontecimentos e pessoas.
A integração interpessoal e/ou grupal e a interpretação das bases
psicológicas individuais geram novas ondas, que recebem influência de eventos
e fatores distintos, como a geografia ambiental e a configuração de elementos
de natureza econômica (escassez, excesso de demanda, excesso de oferta,
fatores macroeconômicos de ordem internacional), de natureza grupal (etnias,
sexo, idade) e de natureza ecológica (preservação da natureza). Ou seja, as
cadeias de opinião reagem aos fatos ambientais, determinando nova posições,
dispersando-se por todos os espaços, difundidas pelos meios de comunicação.
As crises políticas e econômicas são mediadas pelo fenômeno da opinião
pública. Constantemente, os governos lançam “balões de ensaio” para testar
suas decisões importantes junto à opinião pública.
A opinião pública é um fenômeno dinâmico. Acompanha a idade, os
valores e a ética de cada tempo. Por isso mesmo, conserva uma base temporal,
que vai se adaptando aos ciclos históricos, determinando novas direções,
atenuando ou adensando conceitos e preconceitos. Por exemplo: a percepção
social sobre moda, sexo e casamento conserva uma base tradicional, cuja
passagem pela dinâmica do tempo funciona como fator de lapidação e
moldagem de novas percepções. A posição muda de acordo com a região, a
classe social, os padrões e as normas vigentes.
E que elementos entram na química de formação da opinião pública? Em
primeiro lugar, as necessidades determinadas pelos impulsos básicos: os
impulsos combativo e nutritivo, que explicam a necessidade de o Homem lutar
para se conservar e sobreviver; e os impulsos sexual e maternal, relacionados à
perpetuação da espécie e aos valores humanos da solidariedade, amor, paixão,
integração, vida em grupo, etc. (ver apêndice 1 sobre Mecanismos Básicos do
Comportamento). A leitura sobre o campo de abrangência dos impulsos denota
a conjunção de necessidades materiais e espirituais dos indivíduos e dos grupos.
Por exemplo: a escassez de energia, pelo impacto que cria, aciona os
mecanismos do comportamento grupal, acendendo críticas e estabelecendo
formas de defesa individual e social. Os impactos negativos gerados por uma
crise de energia funcionam como elementos de defesa e mobilização social.
Mas a opinião pública inexistiria se não houvesse uma tuba de
ressonância a propagar as ondas de pensamento. Portanto, a grande base de
lançamento da opinião pública é a estrutura da indústria da comunicação,
composta pelos canais de televisão, emissoras de rádio, jornais e revistas, a
indústria do lazer – integrada pelo cinema, teatro e eventos culturais – e, ainda,
pela cadeira gigantesca de entidades intermediárias que se organizam para
proteger grupos e setores da sociedade. Essas entidades possuem os próprios
meios de comunicação, mobilização e articulação, de forma que se somam à
força da mídia de massa.
O fenômeno da opinião pública e as consequências que provoca são
inerentes à sociedade de massas, que se caracteriza pela mobilidade, pela
heterogeneidade e também por sua dispersão no espaço. Identifica-se, ainda,
na massa, certa propensão para o conformismo, apesar de já termos
identificado, em partes anteriores, o despertar de uma nova sociedade. Portanto,
para o comunicador, é de fundamental importância identificar a reação da massa
diante dos fatos. Não deve confundir, por exemplo, a reação de determinado
grupamento social, uma comunidade localizada, conferida, identificada, com a
reação da massa amorfa, heterogênea, dispersa e que se refugia no anonimato.
Uma comunidade de públicos exerce uma consciência crítica, tem harmonia de
interesses, discute racionalmente as questões, e seus interlocutores integram-
se no feedback da comunicação simultânea. Na sociedade de massas, essas
condições são impossíveis. A massa não tem autonomia em relação às fontes e
o discurso massivo não permite feedback imediato. Esses conceitos são básicos
para o estabelecimento dos alvos nas políticas de comunicação.

Texto extraído de:


TORQUATO, Gaudêncio. Tratado de comunicação organizacional e política.
São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. p.77-78

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