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Selemane Chale

Ética na Pesquisa Envolvendo Seres Humanos e Animais

Licenciatura em Ensino de Filosofia com Habilitações em Ética

Universidade Rovuma

Extensão de Cabo Delgado

2022 1
Selemane Chale

Ética na Pesquisa Envolvendo Seres Humanos e Animais

O trabalho de caracter avaliativo, a ser no


Departamento de Letras e Ciências Sociais,
na Cadeira de Bioética, 3º Ano, IIº
Semestre

MA. Dinis Alexandre Gabriel

Universidade Rovuma

Extensão de Cabo Delgado

2022
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Índice
Introdução..........................................................................................................................4

1.Ética de pesquisa em Seres Humanos............................................................................5

1.1.Experimentação com Seres Humanos.........................................................................5

1.3.Código de Nuremberg.................................................................................................6

2.Ética de pesquisa em Animais........................................................................................7

2.1.Argumentos a favor e contra o uso de animais............................................................8

2.2.Por que testar animais para tratar humanos.................................................................8

2.3.Como os dilemas éticos podem contribuir para a pesquisa em animais......................9

3.4.Abusos Bioéticos: agressão a pesquisadores.............................................................10

Conclusão........................................................................................................................11

Referências bibliográficas...............................................................................................12

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Introdução

O presente trabalho tem como tema Ética na pesquisa envolvendo seres Humanos e
Animais, no entanto sem dúvida que as experimentações com seres humanos e animais
é uma das questões de maior peso nas discussões atuais da bioética. De fato, podemos
dizer que a bioética é uma das áreas de maior estudo, de reflexão e de maior
crescimento no mundo nos últimos séculos. A experimentação científica com seres
humanos e animais, em nossa sociedade, é moralmente inadmissível que se utilize seres
humanos e animais como se fossem cobaias de laboratório. Mas, para que se possa
proteger ou promover a saúde da população, muitas vezes é moralmente necessário
realizar experimentos controlados com humanos e animais. É nesse dilema que se
baseia a discussão da ética em pesquisa: entre o respeito à dignidade humana e a
necessidade de experimentação imposta pelo desenvolvimento tecnocientífico, que
representa benefício para a humanidade, mas também tem sido fonte de maior
preocupação, daqueles atentos a preservação dos interesses da pessoa humana.

Objectivo Geral

 Compreender a Ética na Pesquisa Envolvendo Seres Humanos e Animais

Objectivos Específicos

 Definir a ética de pesquisa


 Analisar as pesquisas envolvendo seres humanos e animais
 Apresentar marcos históricos na ética de pesquisa

Metodologia

A metodologia usada para a realização deste trabalho foi baseada em pesquisas e


levantamentos de materiais bibliográficos através de uma literatura actualizada e
especializada que forneceu subsídios teóricos e confiáveis, como a utilização de
revistas, livros, jornais, publicações em anais de congressos, revistas, artigos,
monografias, teses e dissertações, mediante aplicação de instrumentos de pesquisa com
a finalidade de obter informações precisas na construção e efectivação do presente
trabalho.

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1.Ética de pesquisa em Seres Humanos

A pesquisa em seres humanos só é aceitável quando ela responde preliminarmente às


conveniências do diagnóstico e da terapêutica do próprio experimentado, a fim de
restabelecer sua saúde ou minorar seu sofrimento. Qualquer pesquisa que não vise a
esses interesses é condenável. Se o ser humano tem pelo seu corpo um direito limitado,
muito mais limitado é o direito do médico, cuja missão é preservar a vida até onde suas
forças e a ciência permitirem. O médico deve ter, como norma irrecusável, um conjunto
de princípios éticos e morais, inclinando-se mais para a vida, para a preservação da
espécie e para a exaltação das liberdades fundamentais.

O Conselho para as Organizações Internacionais de Ciências Médicas


(CIOMS), em colaboração com a Organização Mundial de Saúde (OMS),
elaborou em 1993 as Diretrizes Internacionais para Pesquisas Biomédicas
Envolvendo Seres Humanos, levando em conta a preocupação que a sociedade
vem expressando com os novos aspectos éticos surgidos na investigação
científica e na tecnologia biomédica (Freitas, 2001. p 205-19).

A Associação Médica Mundial, em sua 52ª Assembléia realizada em


Edimburgo/Escócia, em outubro de 2000, promulgou a Declaração de Helsinki VI,
como uma proposta de princípios éticos que sirvam para orientar médicos e outros
profissionais que realizam investigação médica em seres humanos. A próxima
Assembléia será realizada em Seul/Coréia do Sul, em outubro de 2008.

A pesquisa colaborativa internacional e intercultural aumentou


consideravelmente, envolvendo países em desenvolvimento, muitos dos quais
ainda têm uma capacidade muito limitada para uma avaliação independente de
projetos de pesquisa apresentados por seus próprios pesquisadores ou de outras
nacionalidades (Freitas, 2001. p 213-19).

Existe uma preocupação sobre a percepção da pesquisa biomédica envolvendo seres


humanos como um benefício para seus participantes e a sociedade, e não como uma
fonte de risco para os primeiros. Muitos vêem esta afirmação com apreensão, caso a
pesquisa seja realizada ou promovida sem justificativas adequadas sobre os direitos e o
bem-estar dos seus participantes.

1.1.Experimentação com Seres Humanos

A busca constante do conhecimento é uma das características do ser humano, e uma das
maneiras de atingir a meta é a observação e a experimentação. Experimentando e

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observando ou observando e experimentando o ser humano vem ampliando o
conhecimento sob vários prismas.

A partir do século XVI, quando Galileu (tido como um dos marcos iniciais da ciência)
defendeu o postulado de que a verdade dos fenômenos naturais não deveria ser aceita
simplesmente, porque os autores clássicos afirmaram ser esta a verdade, mas que a
verdade deveria ser obtida por meio da experimentação sistematizada e da observação
critica, fundou-se, segundo os historiadores, um dos alicerces do método cientifico – o
experimental. Nasciam as ciências experimentais, consideradas como berço dos demais
ramos da ciência.

1.3.Código de Nuremberg

Nos campos de concentração nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial prisioneiros


foram utilizados em pesquisas abusivas, rotuladas como crimes contra a humanidade.

No campo de concentração de Dachau, sob os auspícios da aeronáutica alemã, foi


realizada experimentação para estudar os limites de tolerância e sobrevivência a grandes
altitudes (pilotos de avião para fugir das baterias antiaéreas). Prisioneiros foram
colocados em compartimentos de baixa pressão, simulando as condições atmosféricas e
de pressão existentes acima de 21.000m; muitos morreram e outros sofreram danos
graves, devido à embolia gasosa.

Com o objetivo de buscar melhor alternativa para cuidar de soldados ou pilotos


que sofriam congelamento, nas trincheiras ou no mar, prisioneiros do campo de
Dachau eram obrigados a permanecer durante horas em tanques de água gelada
ou eram mantidos nus, a céu aberto, a temperatura abaixo de zero. Em seguida,
eram submetidos a tentativas de reaquecimento por vários meios (SEGRE
2006).

Na tentativa de proteger os soldados alemães, na áfrica, contra a malaria, os médicos do


campo de Dachau submeteram prisioneiros as a picada dos mosquitos, tentando uma
vacina contra a malaria. Mais de 1000 pessoas foram incluídas na experimentação;
muitas morreram.

Para comprovar a real eficácia da sulfanilamida na prevenção de infecção, prisioneiros


de campo de Ravensbruck sofreram sofrimentos provocados e, em seguida,
contaminados com estreptococo, gravetos, terra e vidro moído. Algumas feridas eram
tratadas com sulfa e outra não; houve varias mortes e sequelas graves.

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Muitos prisioneiros dos campos de Buchwald foram inoculados com febre
tifoide, com o objetivo de estudar a eficiência de diversas vacinas.
Experimentações abusivas ocorreram em campos de concentração ou de
asilados nos países aliados. Gestantes de origem japonesa, confinadas nos EUA,
por sua vez, foram submetidas a diferentes radiações, a fim de se estudar efeitos
sobre o feto (SEGRE, 2006).

No período de 1945 a 1947 foram também realizadas, nos EUA, pesquisas dentro do
projeto Manhattan com injeções de plutônio, para a analise dos efeitos sobre o ser
humano, conforme relato publicado em 1999. Entretanto, experimentos abusivos
praticados nos campos de concentração nazistas suscitaram maior atenção por sua
gravidade. Os médicos que os praticaram levados a julgamento no Tribunal de
Nuremberg, constituído para julgarem crimes de guerra denominados “crimes contra a
humanidade”.

2.Ética de pesquisa em Animais

Ao se buscar evidências sobre o uso de animais pelo Homem, percebe-se uma relação
antiga. Os animais têm sido usados como fonte de alimentos, de esporte, de lazer, na
religião e no transporte, visando ao conforto humano. Entretanto, as preocupações com
o bem-estar animal foram negligenciadas por muitos anos. No século XIII, por exemplo,
São Tomás de Aquino afirmava que os animais não possuíam alma e, portanto, de-
veriam receber o mesmo tratamento que objetos inanimados.

Em 1876, o “Cruelty to Animals Act” buscou doutrinar a pesquisa em animais. Apesar


do esforço, essa proposta não foi bem recebida pela comunidade científica da época. Em
1927 surgiu o primeiro documento sobre bioética, no qual o Dr. Fritz Jarh idealizou que
“todos os seres vivos teriam direito ao respeito”.

Em 1949, o Código de Nuremberg, primeiro documento internacional sobre


ética em pesquisa envolvendo seres humanos, ressaltou que os experimentos em
humanos deveriam ser baseados nos resultados de estudos prévios em animais.
Assim, embora o uso de animais em pesquisas estivesse justificado, não havia
nenhuma norma ou diretriz legal que o regulamentasse (SEGRE, 2006).

Para esse fim, Russel e Burch4, em 1959, propuseram uma filosofia denominada
“Princípio dos três R: replacement, reduction e refinement”. Segundo a mesma,
replacement significa trocar animais de desenvolvimento superior por formas de vida
mais primitivas; reduction sugere a maior redução possível do número de animais a

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serem utilizados em um experimento e refinement indica a redução do sofrimento dos
animais, visando ao maior conforto dos mesmos durante a execução do experimento.

2.1.Argumentos a favor e contra o uso de animais

A ciência biomédica está repleta de métodos que começaram a ser testados em animais.
Pode-se dizer que o uso de animais na ciência e no meio acadêmico se divide em três
áreas: ensino, pesquisa, e teste de produtos. Dentre essas práticas, está a vivisseção,
comum em faculdades biomédicas.

Na psicologia, os animais são usados para determinar reações à privação


maternal e indução de estresse. Novas drogas também são testadas em animais,
assim como diversos procedimentos cirúrgicos e experimentais. Já nas
indústrias de cosméticos (produtos de higiene e limpeza) os mesmos são usados
para avaliar os graus de toxicidade de novos produtos, além de toxicidade
alcoólica, de tabaco e até mesmo de armas químicas (Bottini 2009, p. 3-16).

Alguns autores afirmam que a experimentação animal é ilegal, imoral e ineficaz, e


sugerem técnicas alternativas que incluem, entre outros, os testes in vitro (realizados em
tecidos e células), a utilização de vegetais, os estudos clínicos e não invasivos em
humanos voluntários, os estudos epidemiológicos, as técnicas físico-químicas (como a
tomografia) e os estudos em cadáveres.

Graças à legislação, o desenvolvimento de alternativas ligadas ao bem-estar


animal, tanto no ensino como na experimentação, já faz parte da realidade
brasileira. Estudos nacionais demonstram possibilidades para a substituição do
uso de cobaias por métodos alternativos. Uma grande vitória alcançada diz
respeito à redução do número de animais utilizados em experimentos científicos
(Bottini 2009, p. 3-16).

Mas a polêmica do uso de animais vai além da experimentação. Outras aplicações de


animais em função do bem-estar humano incluem por exemplo terapia ou atividades
assistidas por animais e o uso de animais para propósitos educativos e sociais.
Refletindo nesses casos, a recomendação geral é de que as pesquisas garantam os
benefícios dessa interação e que sejam seguidas estritamente condições que assegurem o
direito ao bem-estar animal.

2.2.Por que testar animais para tratar humanos

O uso frequente dos modelos animais em pesquisas biomédicas reflete sua validade
prática, isto é, sua capacidade de sugerir conclusões válidas com base nas informações
deles derivadas. Entretanto, conforme dito anteriormente, alguns argumentos
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consideram esta prática cientificamente pouco informativa e, de certa forma, imoral.
Alguns argumentos justificam essa ideia.

Certos autores consideram os modelos animais como pseudociência e, portanto,


seus resultados seriam pouco válidos. Entretanto, um modelo animal não é
considerado uma teoria, mas um conjunto de hipóteses auxiliares para serem
agregadas à ideia em questão. Outro argumento gira em torno da analogia,
entendendo que se deve considerar o poder preditivo do achado em questão
(Purchase, 2002, 68-85).

Se o modelo animal não se conectar apropriadamente a hipóteses e consequências


humanas, então ele não será válido. Sendo assim, a validade da modelagem animal se
torna uma questão importante no contexto amplo e controverso da ética sobre
experimentação animal.

2.3.Como os dilemas éticos podem contribuir para a pesquisa em animais

Acredita-se que a crescente legislação no Reino Unido tem melhorado a qualidade dos
projetos de pesquisa, e isso se deve principalmente à melhora da abordagem ética que a
melhoras na metodologia científica em si. Quando os cientistas são obrigados a refletir
sobre as práticas existentes e enfrentar implicações éticas de seu trabalho, ao mesmo
tempo são forçados a confrontar suposições com a necessidade de se buscar soluções
reais em um mundo de interesses conflitantes.

A avaliação ética permite aos cientistas identificarem situações em que as


questões éticas estão embutidas e que, de outra forma, não seriam consideradas.
Além disso, o processo ajuda a garantir a imparcialidade das decisões e a
obtenção de uma opção benéfica do ponto de vista do bem-estar animal,
humano e ambiental. Por último, o processo oferece a oportunidade de ser
transparente sobre as fontes potenciais de vieses, considerando se os valores e
interesses refletem do conjunto da sociedade ou apenas do(s) tomador(es) de
decisão. Esse nível de consideração fornece maior segurança não apenas por ser
imparcial, mas porque uma consideração democrática será dada por todos os
intervenientes (Croney, 2010 p. 75-81).

As publicações científicas são tradicionalmente os meios mais comuns de comunicar


resultados, e constituem uma importante fonte de conhecimento. Assim, os trabalhos
científicos devem conter informações relevantes sobre os objetivos experimentais, as
características dos animais, os métodos usados e os resultados obtidos, a fim de permitir
avaliação crítica de seus achados, assim como sua reprodutibilidade. Pesquisas bem pla-

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nejadas, em conjunto com uma análise estatística adequada, permitem aos
investigadores aumentar a robustez e a validade de seus resultados experimentais, pois
maximizam o conhecimento adquirido enquanto que minimizam o número de animais
utilizados.

3.4.Abusos Bioéticos: agressão a pesquisadores

A Bioética corresponde simplesmente à aplicação de noções filosóficas aos problemas


científicos ou a uma reformulação da deontologia. É uma forma de deliberação que
considera normas sociais, culturais e religiosas acerca daquilo que é entendido como
eticamente propício, bom e justo. Apesar da maioria das pessoas concordar que o uso de
animais nas pesquisas é essencial, nos últimos cinco anos, ativistas do direito animal
perpetraram uma série de ataques violentos contra pesquisadores. Ameaças anônimas,
protesto, vandalismo, libertação de animais, agressões físicas e explosões, são exemplos
de algumas manifestações.

Apesar disso, apenas uma pequena parcela dos pesquisadores que foram
atingidos negativamente por tais protestos mudou sua direção. Pesquisas têm
mostrado que a reflexão pessoal sobre questões éticas tende a ser mais eficaz
que o ativismo em si na mudança de comportamento dos pesquisadores
(Siegford, 2010, p. 73-74).

Dentre outras atitudes, a comunicação com o público deveria ser aprimorada através de
programas de extensão que envolvam a população e expliquem a importância do
desenvolvimento das pesquisas. Além da conduta humana preconizada pelos três “R” e
o adequado tratamento dos animais, deve-se seguir, sem fanatismo, o que é direito dos
animais como seres vivos. Isso é o que deveríamos esperar das leis de regulamentação
da pesquisa animal, assim como da formação dos pesquisadores.

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Conclusão

Chegando a conclusão do trabalho, ao longo do mesmo, que se criou toda uma teoria a
respeito do processo de experimentação com seres humanos e animais, e com isso terá
que sempre ter o esclarecimento e consentimento, bem como da sua assinatura em um
documento escrito, com a finalidade de se resguardar a dignidade do ser humano,
enquanto sujeito da pesquisa, mediante o respeito à sua autonomia, mas que, na prática,
aquilo que é pregado pela teoria acaba não sendo seguido, evidenciando, portanto, uma
distância entre o mundo do "dever ser" e do "ser". Essa dissociação, em grande parte,
deve-se à falta de plena ciência, por parte dos agentes que lidam com a pesquisa, quanto
aos riscos a ela pode causar e o seu caráter invasivo, os quais por o sujeito da pesquisa e
a sociedade, ensejam a necessidade de proteção dos mesmos, a qual só se perfaz
mediante condutas estribadas na Ética. Parece faltar, portanto, um pouco de reflexão, de
cuidado, de bom senso, daqueles que intervêm nas pesquisas.

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Referências bibliográficas

Bottini AA, Hartung T. Food for Thought on the Economics of Animal Testing. ALTEX
2009;.

Croney CC, Anthony R. Engaging science in a climate of values: tools for animal
scientists tasked with addressing ethical problems. J Anim Sci 2010.

Freitas CBD, Hossne WS. Pesquisa em seres humanos. In: Campana AO, Padovani CR,
Iaria CT, Freitas CBD, Paiva SAR, Hossne WS. Investigação científica na área médica.
1ed. São Paulo: Manole;

Purchase IFH, Nedeva M. The impact of the introduction of the ethical review process
for research using animals in the UK: implementation of policy. Lab Anim 2002.

SEGRE, Marcos. A QUESTÃO ÉTICA E A SAÚDE HUMANA. São Paulo: Atheneu,


2006.

Siegford JM. Bioethics Symposium: A scientist´s guide to approaching bioethics. J


Anim Sci. 2010;

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