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3 LETRA DE CÂMBIO

3.1 Introdução
Histórico
Originou-se na Itália no século XIV, em razão de emboscadas e perda dos valores
no transporte de dinheiro. Valores passaram a ser transportados por uma carta com a soma
a ser paga (LC). Atuação de três pessoas na operação.
1) O banqueiro. Recebia o dinheiro e expedia a carta de ordem de pagamento
(sacador)
2) O viajante. Recebia a carta (tomador ou beneficiário)
3) O outro banqueiro. Pagava o valor escrito na carta de ordem (sacado)

Conceito de letra de câmbio


Ordem dada, por escrito, a uma pessoa, para que pague a um beneficiário indicado,
ou à ordem deste, determinada importância em dinheiro. É um título de crédito, com
literalidade e autonomia das obrigações.
É o saque de uma pessoa contra outra, em favor de terceiro. Ordem de pagamento
que o sacador dirige ao sacado, seu devedor, para que pague certa quantia em dinheiro,
devida a um terceiro, tomador.
A LC é uma ordem de pagamento à vista ou a prazo. Sendo a prazo, o sacado deve
assiná-la, o que é denominado aceite. Após dar o aceite, ele se vincula à relação jurídico-
material ficando, portanto, obrigado ao pagamento.
A regra é a relação ocorrer entre três pessoas, o sacador, o sacado e o tomador, mas
a lei permite que uma mesma pessoa ocupe mais de uma posição nesta relação, como o
sacador ser a pessoa do sacado. (LUG, art. 3º)
*Sacador ou emitente. Faz o saque, cria a LC, é quem dá a ordem de pagamento.
*Sacado. A quem a ordem é data, é quem deve efetuar o pagamento. 
*Beneficiário ou tomador. Quem recebe o pagamento, o beneficiário da ordem. 
Ordem de pagamento que o sacador (ordena ao sacado que faça o pagamento, é o
emitente da LC) dirige ao sacado (pessoa física ou jurídica onde o sacador tenha fundos
disponíveis para pagar a LC, é quem efetua o pagamento) para que este pague a importância
consignada ao tomador (terceiro favorecido pela LC).
Letra de câmbio é título de crédito pelo qual o sacador (emitente) dá ao sacado
(aceitante), ordem de pagar, ao tomador (beneficiário investidor), determinada quantia. O
emitente é o devedor, a instituição financeira é a aceitante e o beneficiário é a pessoa
física ou jurídica investidora, adquirente da LC. 

3.2 Legislação aplicável


Dec. 2.044/1908 – Lei Interna (LI) ou Lei Saraiva, que revogou o Título XVI do Código
Comercial.
Anexo I do Dec. 57.663/66 – Lei Uniforme de Genebra (LUG)
O Brasil estabeleceu reservas a alguns artigos da LUG. Nesses casos e naqueles em
que a LI/LS tratar integralmente a matéria, aplica-se a LI/LS.

3.3 A criação e requisitos da letra de câmbio


Criação e requisitos
A LC é ordem de pagamento à vista ou a prazo, criada por um ato chamado “saque”.
Mais usada em operações de crédito  entre financiadoras e empresários ou sociedades
empresárias, enquanto em operações mercantis internas, a prazo, o título mais comum é a
duplicata.
A LC tem formalidades e deve respeitar vários requisitos. Faltando um dos requisitos
essenciais deixa de ser letra de câmbio.
São essenciais ao título: a denominação "letra de câmbio", assim como a quantia a
ser paga deve ser escrita por extenso.
O nome da pessoa que deve pagar , denominada de sacado, e o nome de quem
recebe a quantia, o tomador, além da assinatura do emitente ou do mandatário especial , o
sacador. Por fim, é preciso constar a data de emissão do título executivo.
Não é obrigatório que o valor a ser pago seja escrito numericamente, tanto que se
houver divergência entre a declaração da quantia em cifra e escrita vale a escrita por
extenso.
Em virtude do costume, o nome do sacado vem abaixo do contexto e do lado
esquerdo, e a assinatura do sacador é emitida de próprio punho e posta abaixo do contexto
do lado direito, como em uma carta.
A LC deve conter o nome do sacado, não pode ser emitida ao portador. Se emitida
de maneira incompleta, pode circular, mas deve ser corrigida antes de eventual cobrança
judicial ou do protesto do título. O portador de boa-fé pode completá-la, pois é considerado
procurador do sacador para tanto.
Súmula 387 do STF. A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode
ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.
Atenção! O sacador deve assinar a LC. A falta da assinatura do sacado apenas deixa
de vinculá-lo ao tomador.
Outro requisito essencial é a data de emissão. O art. 889, CC, refere que a falta de
requisito essencial não invalida o negócio jurídico, mas perde a executividade extrajudicial.
Requisitos não essenciais da LC: local do pagamento, valor a ser pago declarado em
cifra e data do vencimento. Como não são essenciais, não precisam ser postos na LC.
Se o local de emissão e pagamento não for indicado no título, será o domicílio do
emitente (art. 889, §2º, CC). Não contendo a indicação da data de vencimento do título, será
considerado pagamento à vista (art. 889, §1º, CC).
O pagamento do título deve ser efetuado pelo devedor no dia de seu vencimento,
podendo ser à vista ou em dia certo.
O pagamento pode ser
a) À vista. O sacado deve pagá-lo no ato de sua apresentação.
b) Em dia certo. O sacado deve pagá-lo:
*na data de vencimento
*a certo termo da data (dias além da emissão)
*a certo termo da vista (dias além do aceite)
Saque. Ato de criação, de emissão do título. Ao ser entregue a LC ao beneficiário,
este procura o sacado, que é quem faz o pagamento ou o aceite.
O sacador fica obrigado a pagar o beneficiário, em caso de não pagamento ou não
aceite pelo sacado, que apenas tem compromisso de pagamento se der o aceite no título de
crédito (até lá, não é um obrigado cambial).
3.4 A circulação da letra

3.4.1 Endosso (art. 11, LUG): exclusivo dos títulos.


Forma de transferir o direito de receber o valor que consta no título pela tradição da
cártula.
Não é só a propriedade da LC que se transfere, mas também a garantia de seu
adimplemento.
Figuram dois sujeitos no endosso 
*Endossante ou endossador: garante o pagamento do título transferido por endosso.
*Endossatário ou adquirente: recebe por meio da transferência a LC.
O endosso responsabiliza solidariamente o endossante ao pagamento do crédito
descrito na cártula, caso sacado e sacador não efetuem o pagamento. Se o devedor entregar
a seu credor um título, sem endosso, não estará vinculado ao pagamento deste crédito. 
O endosso produz dois efeitos:
a) transfere a titularidade do crédito da LC, do endossante para o endossatário;
b) vincula o endossante ao pagamento do título, na qualidade de coobrigado (art. 15,
LUG). Há endossos que não produzem um ou outro destes efeitos.
Pode o endosso ser:
*Em preto: indicação do endossatário do crédito (endosso nominal).
*Em branco: simples assinatura do endossante, sem indicação de quem seja o
endossatário.
Endosso é a assinatura do credor do título no verso, podendo ser sob a expressão
“Pague-se a Antônio Silva” (em preto), apenas “Pague-se” (em branco), ou expressão
equivalente. Se no anverso, é obrigatória a identificação do ato cambiário praticado, não
podendo só assinar.

Classificações doutrinárias de endosso

*Endosso próprio: transfere ao endossatário a titularidade do crédito e o exercício de


seus direitos
*Endosso impróprio: não transfere a titularidade do crédito, somente o exercício de
seus direitos, sendo subdividido em:
-Endosso-mandato ou endosso-procuração: permite que o endossatário aja como
representante do endossante, exercendo os direitos inerentes ao título. O credor dá poderes
para terceiro cobrar o título. Assinatura do endossante-mandante sob a expressão: “pague-
se, por procuração, a fulano de tal...”.
-Endosso-caução ou pignoratício: garantia ao endossatário de uma dívida do
endossante. Instrumento para instituição de penhor sobre o título de crédito. Deve conter
“valor em garantia” ou “valor em penhor”. Cumprida a obrigação pelo endossante, retoma o
título.
O endosso tardio é posterior ao protesto por falta de pagamento ou ao decurso de
seu prazo. Funciona como cessão civil de crédito.
Endosso é a transferência do direito constante do título, vinculando o endossante a
responder solidariamente pelo pagamento.
Não pode ser parcial, limitado ou condicionado. É feito pela simples assinatura no
verso do título ou no anverso com uma declaração de que se trata de endosso.
O endosso só não é permitido quando a LC contiver cláusula “não à ordem”, que
pode ser inserida pelo sacador (art. 11, LUG) ou pelo endossante (art. 15, LUG), sujeitando o
título à circulação pelo regime do direito civil, a cessão civil de crédito.
Se o endossante não quiser assumir a responsabilidade pelo pagamento do título,
caso concorde o endossatário, pode inserir a cláusula “sem garantia”.
Cessão civil de crédito (art. 296, CC)
A cláusula à ordem, expressa ou implícita no título, define como cambial a circulação
do crédito. Se o título contém expressamente a cláusula “não à ordem”, será civil o regime
de transferência da titularidade do crédito.
Circulação cambial e civil: o endossante responde pela solvência do devedor e o
cedente responde apenas pela existência do crédito.
LC emitida “não à ordem”: a transferência do crédito é sujeita ao direito civil, a
circulação não desvincula o título do seu negócio originário.
Se a LC é sacada com a cláusula à ordem, a transferência é endosso (direito
cambiário). Com a circulação, o título se desvincula do negócio originário.
O endosso produz efeitos de cessão civil de crédito:
*dado após o protesto por falta de pagamento, ou depois de expirado o prazo para a
sua efetivação (art. 20, LUG);
*praticado em título em que se inseriu a cláusula não à ordem (art. 15, LUG).

Diferenças de endosso e cessão civil


*O endosso é ato unilateral.
*A cessão civil de crédito é acordo bilateral.
*No endosso ocorre a transferência à ordem. *Na cessão civil de crédito a
transferência é não à ordem.
*Na cessão civil, quem transfere o título de crédito só responde pela existência do
título, mas não pelo seu pagamento. O devedor pode alegar contra o cessionário de boa-fé
exceções pessoais.
*No endosso, quem transfere o título de crédito responde pela existência do título e
pelo seu pagamento, mas o devedor não pode alegar contra o endossatário de boa-fé
exceções pessoais.
*No endosso, o endossatário pode cobrar a dívida de todos os coobrigados.
*Na cessão civil de crédito, o cessionário pode cobrar a dívida somente do devedor.

3.4.2 Aceite (art. 21, LUG)


Ato pelo qual o sacado reconhece a existência e a validade da ordem de pagamento,
mediante assinatura no anverso do título (art. 25, LUG). O sacado se compromete a pagar o
título ao beneficiário, no vencimento.
O aceite deve ser puro e simples, não podendo ser condicionado, e pode ser limitado
de acordo com o que o aceitante se obrigar nos termos do mesmo. Para que seja válido deve
conter o nome e assinatura do aceitante.
Sendo o aceite no verso do título, deve acompanhar a palavra "aceito" ou
"aceitamos", para que não se confunda com endosso; mas se no anverso do título, basta a
assinatura do aceitante.
O aceite é irretratável, desde que produzido o sacado não pode se eximir do
pagamento da LC.
“Prazo de respiro”. Prazo de um dia dado em virtude da primeira apresentação do
título para aceite do sacado. (art. 24, LUG). 
LC com data certa de vencimento ou à vista: dispensa apresentação para aceite,
devendo ser feita em um ano.
Considera-se falta de aceite: sacado não encontrado, muito enfermo (sem poder
expressar-se) ou nega aceite ao título.
O aceite é ato praticado pelo sacado que se compromete a pagar a LC no
vencimento, assinando no anverso do título. Basta a sua assinatura, podendo ser
acompanhado de: “aceite” ou “pagarei”, ou ainda, “honrarei”.
A falta de aceite não extingue a LC. O sacador continua responsável e o sacado
nenhuma obrigação assumiu em relação ao título.
Com a recusa do aceite, o beneficiário deve, para receber o valor do título, protestá-
lo no primeiro dia útil seguinte.
A recusa acarreta o vencimento antecipado do título. Pode o tomador perder o
direito, se não protestar no prazo, de acionar os coobrigados cambiários.

3.4.3 Aval (art. 30, LUG)


Garantia cambial, que terceiro (avalista) firma com o avalizado, se responsabilizando
pelo cumprimento do pagamento do título. Não existe benefício de ordem, pode o terceiro
cobrar de um ou de outro.
O avalista é tão responsável quanto o avalizado (art. 32, LUG), respondendo pelo
pagamento do título perante o credor do avalizado e, realizado o pagamento, pode voltar-se
contra o devedor. Ele se compromete a pagar o título de crédito nas mesmas condições que
um devedor do título (avalizado).
Pode o aval ser:
*Em preto: indica o avalizado nominalmente;
*Em branco: não indica expressamente o avalizado (considera-se o sacador).
Usualmente o avalista garante todo o valor do título, mas a lei admite o aval parcial
(art. 30, LUG, art. 29, Lei do Cheque), exceto na duplicada (lei omissa - art. 897, par. único,
CC). O avalizado será sempre um devedor da LC (sacador, aceitante ou endossante).
A lei interna autoriza o aval antecipado (Dec. 2044/1908, art. 14). O tomador que
não conhece o sacado, ou tem dúvidas sobre a aceitação do título, pode exigir que o
sacador, antes de lhe entregar a LC, encontre quem garanta seu pagamento, como avalista
do devedor principal.
Aval simultâneo
O devedor pode ter a sua obrigação garantida por mais de um avalista. Os avalistas
simultâneos garantem solidariamente o cumprimento da obrigação avalizada, se um deles
pagar toda prestação, pode cobrar do outro sua cota parte.
Aval sucessivo
O avalista garante o pagamento do título em favor de um devedor, e tem sua própria
obrigação garantida, por aval. Há uma escadinha. Ex: Fabrício (avalista); Benedito (devedor,
aceitante); Germano (avalista do avalista).
Diferenças entre aval e fiança
Aval: mediante assinatura
Fiança: exige contrato escrito
Aval: obrigação autônoma
Fiança: obrigação acessória
Aval: não há necessidade da outorga uxória ou marital (a meação do outro fica
protegida)
Fiança: a anuência do cônjuge é imprescindível
Aval: não há o benefício de ordem
Fiança: há o benefício, primeiro se exige a prestação do obrigado
Pagamento
Modo de extinguir a obrigação. “O pagamento de título de crédito extingue uma,
algumas ou todas as obrigações nele mencionadas, dependendo de quem o realiza”.
Se o devedor principal paga a LC, extingue todas as obrigações documentadas no
título, liberando-se sacador, endossantes e avalistas.
Se o codevedor paga, extingue a obrigação de quem pagou e a dos devedores
posteriores. Quem paga pode exercer, em regresso, o direito creditício contra os
devedores anteriores.
Prescrição da LC (art. 70, LUG)
Perda do direito de propor ação judicial em consequência do não uso dela, em
determinado espaço de tempo. A prescrição da LC é a perda da execução judicial pelo seu
não-exercício dentro de três anos.
Contra o aceitante: 3 anos do vencimento Portador contra endossantes e sacador: 1
ano do protesto ou vencimento (“sem despesa”)
Endossante contra endossante e sacador: 6 meses do dia em que pagou ou foi
acionado a pagar
Vencida a LC e não paga, o credor tem o direito de propor ação executiva, em três
anos a contar da data do vencimento. Se deixar passar esse prazo prescricional, não pode
executar o título.
Após 3 anos a LC perde a natureza de título executivo extrajudicial. Resta a ação
monitória (de conhecimento, a partir de prova escrita sem eficácia de título executivo, para
constituição de título judicial).
Quais as diferenças entre o cheque e a LC?
O cheque é ordem de pagamento à vista, que não comporta aceite; é sacado contra
uma instituição financeira, e não contra pessoas físicas ou jurídicas quaisquer; exige provisão
de fundos pertencentes ao emitente, no momento da apresentação, para ser pago.
A LC também é uma ordem de pagamento, mas que pode ser à vista ou a prazo,
exigindo aceite; é sacada contra quaisquer pessoas, comerciantes ou não; não requer
provisão de fundos pertencentes ao sacado, no momento da emissão.

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