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Medicina Legal

1. Organização Médico Legal


A lei orgânica do Ministério da Justiça (DL n.º146/2000 de18 de Julho), criou o Instituto
Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses tem sede em Coimbra, com delegações no Porto,
Lisboa e Coimbra, e é constituído por 27 gabinetes médico-legais forenses cujo objectivo perpassa
pela cooperação com os tribunais e as demais entidades que intervém no sistema da administração da
justiça com a realização de exames e perícias médico-legais, sendo que o INMLCF presta serviços a
entidades públicas e privadas, bem como a particulares.
No âmbito da sua missão e atribuições o INMLCF, I.P. tem a natureza de laboratório
de Estado e é considerado instituição nacional de referência.

1.1. Composição
O INMLCF é constituído por diversos órgãos, a saber:
 Conselho directivo
 Conselho médico-legal: exerce funções de consultadoria e emite pareceres sobre questões
técnicas e científicas, sendo que a consulta técnico-científica pode ser solicitada pelo
membro do Governo responsável pela justiça; conselho superior de magistratura;
procuraria-Geral da República e presidente do conselho directivo.
i) Composto por:
a. Presidente do conselho directivo da INMLCF, vice-presidente e
vogais;-
b. Um representante dos conselhos regionais disciplinares de cada uma
das secções regionais da ordem dos médicos;-
c. Dois docentes de clinica cirúrgica, clinica médica, obstetrícia e
ginecologia e direito ;-
d. Um docente de anatomia patológica, ética e ou direito medico,
ortopedia e traumatologia, neurologia ou neurocirurgia e psiquiatria.
 Comissão de ética
 Fiscal único

1.2. Serviços técnicos das delegações do INMLCF:


a) 3 Serviços de clínica (compete a realização de exames, e perícias em pessoas, para descrição e
avaliação dos danos provocados na integridade psico-física, nos diversos domínios do Direito,
designadamente no âmbito do direito penal, civil e do trabalho; e realização de exames de natureza
psiquiátrica e psicológica forenses – que poderão ser realizadas por entidades terceiras, publicas ou
privadas, contratadas ou indicadas para o efeito pelo INMLCF, I.P) e patologia forenses (realização de
autópsias médico-legais respeitantes aos óbitos verificados nas comarcas do âmbito territorial da actuação

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da Delegação, competindo a realização de perícias de identificação de cadáveres e de restos humanos, de
embalsamentos e de estudo de peças anatómicas).
b) Química e toxicologia forenses (exames laboratoriais, químicos e toxicológicos no âmbito das
delegações e dos gabinetes médico-legais, bem como a solicitação das autoridades e entidades para o efeito
competentes)
c) Genética e Biologia Forenses (realização de perícias e exames de identificação genética,
nomeadamente os de investigação biológica de parentesco, de identificação individual, de criminalística
biológica)
d) Tecnologias Forenses e Criminalística

1.3. Distribuição dos exames de Psiquiatria Forense (DL n.º 326/86


de 29 de Setembro)
Os exames médico-legais de foro psiquiátrico deverão ser solicitados ao IML da
circunscrição médico-legal respectiva, que os distribuirá pelas instituições psiquiátricas, às quais
cabe a realização destes exames. O critério distributivo a ponderar é o de 6 exames por perito/ano.
DL n.º 50/2007 de 28 de Fevereiro – assim considera-se necessário alterar o DL
326/86 de 29 de Setembro, que estabelece as normas de requisição de exames médico-forenses às
faculdades mentais ao Instituto de Medicina Legal, a fim de ser eliminado o limite de seis exames
por perito e ser atribuída prioridade às perícias que envolvam cidadãos internados em cumprimento
de medidas de segurança ou de outras medidas privativas da liberdade.

1.4. O que é que fazem os gabinetes médico-legais e forenses?


  A realização de exames e perícias em pessoas no âmbito do direito penal, civil e do
trabalho;
  As perícias de psiquiatria e psicologia forenses;
  Realização das autópsias, da antropologia forense, da identificação de cadáveres e de
embalsamamentos;
  Colheita de amostras para exames complementares.

1.5. Despesas de deslocação:


As pessoas que residam fora da área de comarca em que se encontre sediada a delegação
do instituto, o gabinete médico-legal ou o estabelecimento universitário ou de saúde especializado no
qual tenham comparecido para a realização de exames, podem requerer que lhes seja arbitrada uma
quantia a título de compensação pelas despesas realizadas paga pelo cofre geral dos tribunais através
da sua delegação junto do tribunal que solicitou o exame. As quantias são consideradas custas do
processo.

1.6. Realização de perícias médico-legais:


Lei no 45/2004, de 19 de Agosto:

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Perícias médico-legais: as perícias médico-legais são solicitadas por autoridade judiciária
ou judicial e são ordenadas por despacho da mesma, nos termos da lei de processo, não sendo
todavia aplicáveis às efetuadas nas delegações do Instituto ou nos gabinetes médico-legais as
disposições contidas nos artigos 154.º e 155.º do Código de Processo Penal. Por razões de celeridade
processual, a requisição dos exames deve ser acompanhada das informações clinicas disponíveis ou
que possam vir a ser obtidas pela entidade requisitante até à data da sua realização.

1.6.1. Requisição de perícias


As perícias médico-legais são realizadas, obrigatoriamente, nas delegações e nos
gabinetes médico-legais do Instituto Nacional de Medicina Legal, no entanto, e a título excepcional,
perante manifesta impossibilidade dos serviços, poderão ser realizadas por entidades terceiras,
públicas ou privadas, contratadas ou indicadas para o efeito pelo Instituto.

1.6.2. Acesso à informação


No exercício das suas funções periciais, os médicos e outros técnicos têm acesso à
informação relevante, nomeadamente à dos autos (que lhes deverá ser facultada em tempo útil),
sendo que qualquer pessoa competente (presidente do instituto, diretores das delegações, diretores
dos serviços técnicos ou coordenadores dos gabinetes médico-legais) poderá solicitar as informações
clínicas directamente aos serviços clínicos hospitalares, serviços clínicos de companhias seguradores
ou outras entidades publicas ou privadas, as quais deverão ser prestadas no prazo máximo de 30 dias.

1.6.3. Denúncia de crimes


As delegações e os gabinetes médico-legais do Instituto podem receber a denúncia de
crimes, não obstante, estas deve ser remetidas para o MP.
Sempre que tal se mostre necessário para a boa execução das perícias médico-legais, as
delegações e os gabinetes médico-legais do Instituto podem praticar os actos cautelares
necessários e urgentes para assegurar os meios de prova, procedendo, nomeadamente, ao exame,
colheita e preservação dos vestígios, sem prejuízo das competências legais da autoridade policial à
qual compete a investigação.

1.6.4. Responsabilidade pelas perícias


No exercício das suas funções periciais, os médicos e outros técnicos especialistas em
medicina legal, os médicos contratados para o exercício dessas funções, os médicos dos serviços de
saúde entre outros, gozam de autonomia e são responsáveis pelas perícias, relatórios e pareceres por
si efectuados, sendo que os peritos encontram-se obrigados a respeitar as normas, modelos e
metodologias periciais em vigor no Instituto, bem como as recomendações decorrentes da supervisão
técnico-científica dos serviços.
Obrigatoriedade de sujeição a exame
Note-se que ninguém pode eximir-se a ser submetido a qualquer exame médico-legal
quando este se mostrar necessário ao inquérito ou à instrução de qualquer processo e desde que

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ordenado pela autoridade judiciária competente, nos termos da lei. A autoridade judiciária
competente pode assistir à realização dos exames periciais.
1.6.5. Exames complementares:
O instituto pode celebrar protocolos com instituições públicas ou privadas ou celebrar
contratos com médicos ou outros técnicos, com vista a realização de exames periciais
complementares e de diagnóstico.

1.6.6. Custos dos exames e perícias


Os exames e perícias realizados são pagos diretamente ao Instituto pelos Tribunais de
acordo com as tabelas fixadas por portaria do Ministro da Justiça ou com as tabelas em vigor no
Serviço Nacional de Saúde, sendo que, nos casos previstos na última hipótese, poderá, uma parte
dessa quantia reverter, até um máximo de 50%, para os médios ou técnicos que os tenham efetuado.
As quantias são consideradas custas do processo mesmo que haja lugar ao seu arquivamento.
Portaria n.º 175/2011, de 28 de Abril
 Autópsia médico-legal (um períto): 7 UC (714€)
 Autópsia médico-legal (dois ou mais peritos): 9 UC (918€)
 Embalsamento: 10 UC (1020€)
 Investigação de filiação: 5,5, UC (561€)
 Espectrofotometria de absorção atómica: 1,1 UC (112,20€)
 Exame de psiquiatria forense: 4 UC (408€)

1.6.7. Esclarecimentos complementares


Na prestação de esclarecimentos complementares posteriores à realização da perícia e envio
do respectivo relatório médico-legal deverá prescindir-se, sempre que possível, da presença do
perito, devendo a autoridade judicial que a solicita usar os meios técnicos processualmente previstos.

1.6.8. Destino dos produtos examinados


Por fim, qual é o destino dos produtos examinados? - A amostra fica depositada no serviço
médico-legal durante o período de dois anos, após o qual o serviço médico-legal pode proceder à sua
destruição, salvo se, entretanto, o tribunal tiver comunicado determinação em contrário.

2. Genética Forense
2.1. Conceito

A Genética Forense abrange perícias relativas à investigação biológica da paternidade


(muito frequente) e as relativas à criminalística biológica (menos frequente somente sendo solicitado
quando é cometido um crime e no local se encontrem provas sujeitas a este tipo de perícia –
manchas, cabelo, pêlos, ou então, nos casos de violação) – cf. DL 11/98, 24 de Janeiro (sobretudo o
art.31o).

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2.2. Investigação da paternidade:
2.2.1. Conceitos importantes

i) Pares cromossómicos – em cada par, um cromossoma é do pai, outro é da


mãe, e é esse par que determina as características genéticas do feto;-
ii)  Gene – é a unidade básica responsável por uma característica que se
transmite hereditariamente, sendo que em cada gene há zonas que são
responsáveis por certas características (zonas genéticas); outras que não
(zonas não genéticas) = através da análise destas zonas é possível
identificarmos uma pessoa.
a. Locus: é a porção básica que um gene ocupa num cromossoma;
b. Alelo: é cada uma das formas alternativas com que o locus se
expressa. Note-se que os alelos podem ser iguais quando apresentam
dois alelos idênticos no locus (homozigoto) ou podem ser diferentes
quando se apresentem dois alelos diferentes num locus (heterozigoto).
iii) Genótipo - é aquilo que está presente nos cromossomas, ou seja, é cada
uma das combinações possíveis para um determinado locus (AA, AB, BB).
iv)  Fenótipo – é a expressão das combinações alélicas – pode ser que um dos
alelos não se veja (na eventualidade de um alelo ser recessivo e o outro ser
dominante).

2.2.2. Características dos marcadores genéticos:


 A sua expressão genética está regulada, em geral, por um único locus, ou seja, é
unitário, mas descontínuos;
 São independentes das condições ambientais;
 Estão presentes desde antes do nascimento e são invariáveis durante toda a vida (e,
como tal, não são modificáveis por factores externos);
 Apresentam polimorfismo;
 ADN não codificante.

2.2.3. Equilibrio de Hardy-Weinberg

Equilíbrio Hardy-Weinberg: de acordo com esta teoria, numa população de grande


tamanho, em que não se verifiquem factores como a mutação ou a selecção para determinado locus
(por exemplo, se em Coimbra, onde há mais morenos que loiros, o cabelo moreno fosse critério
determinante nos casamentos, o alelo dos cabelos morenos multiplicar-se-ia, enquanto eu o alelo dos
cabelos loiros tenderia a desaparecer), se os indivíduos da população se cruzarem entre si ao acaso, o
valor das frequências alélicas mante-se indefinidamente de geração em geração (por exemplo, se
hoje 60% da população de Coimbra tem o grupo sanguíneo A e à100 anos isso também acontecia,
tudo indica que também será assim daqui a 100 anos).

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2.2.4. Investigação biológica da paternidade:

Desde logo terá de haver uma impugnação da paternidade (pelo pai) ou uma
reclamação (normalmente de mães solteiras), sendo que a prova de paternidade só será válida
quando tenha por valor mínimo 99, 99%.
Há dois tipos de provas de paternidade:
a) Provas de exclusão (destinam-se a provar que certo individuo não é o pai da
criança). Se concluirmos, desde logo, que o investigado não é o pai da criança a
investigação não procede. Caso contrário temos de recorrer a outros tipos de
provas:
a. Exclusão de 1a ordem: consiste na existência de um alelo no filho que
não existe na mãe, nem no pretenso pai (por exemplo, mãe – AA; pai –
AA; filho -AB) e cuja única possibilidade de erro é a mutação = ou seja,
não pode ser aquele o pai da criança a menos que tenha havido mutação
(que ocorre uma vez em cada milhão);
b. Exclusão de 2a ordem: o pretenso pai não transmite ao filho um alelo que
deveria transmitir, nestes casos, a possibilidade de erro devem-se à
transmissão de alelos silenciosos (que ocorre uma vez em cada mil) ou de
ADN muito danificado.
Posto isto, quando há apenas uma exclusão de 1a ordem ou até duas exclusões de 2a ordem,
será calculada a probabilidade de paternidade sem ter em conta os marcadores em que se verifica a
exclusão, chegando a uma das seguintes conclusões:
1. Quando o número de exclusões é superior, considera-se provada a exclusão;-
2. Quando o número é inferior, temos que ir às segundas provas (probabilísticas) deixando
de lado os marcadores onde houve exclusão.

b) Prova de probabilidade: Calcula-se com base no Teorema de Bayes que é um


teorema de probabilidade condicionada. Trata-se de saber que probabilidade tem o
pretenso pai de ser o verdadeiro pai (X), quando comparado, ao acaso, com outro
homem da população de referência (por exemplo, se a mãe nunca saiu de Coimbra
será essa a população de referência), ou seja, com a probabilidade de que outro
homem da população seja o verdadeiro pai (Y).
X
A probabilidade de paternidade pode ser expressa em termos (equação de Essen
X +Y
X
Moller) ou como índice de paternidade será sempre acompanhada pela respectiva tradução verbal
Y
de Hummel.
Escala de Hummel
Probabilidade de paternidade Predicativo verbal

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Maior que 99.73 Paternidade praticamente provada
Entre 99.0 e 99.73 Paternidade extremamente provável
Entre 95.0 e 99.0 Paternidade muito provável
Entre 90.0 e 95.0 Paternidade provável
Entre 80.0 a 90.0 Provável
Entre 50.0 e 80.0 Duvidosa
Entra 10.0 e 50.0 Indefinida
2.2.5. Procedimento
O Instituto de Medicina Legal (IML) marca uma determinada data em que devem
comparecer o pretenso pai, a mãe e o filho;
- São identificados;
- Faz-se uma pequena colheita a cada um;
- O laboratório faz as várias análises dos antigénios eritrocitários, enzimas, proteínas e
ADN;
- Envio do relatório (onde constará a informação sobe o caso, os marcadores e as técnicas
utilizadas, os resultados e as conclusões), sendo certo que, por vezes, poderão eclodir erros técnicos,
tais como, troca de tubos, erros de leitura e interpretação ou erros de cálculo.
Casos especiais:
- Pretenso pai já ter falecido (recolhe-se os restos cadavéricos, sobretudo, a polpa dentária
dado que resiste a putrefacção);
- Pretenso pai estar ausente (recolha de amostras sanguíneas de familiares, sendo que nestes
casos os cálculos são mais complexos);
- Casos de violação (recolha de amostras intra-uterinas).

2.3. Criminalistica Biológica


Deve-se fazer um exame do local, da vítima e do agressor, sendo que os tipos de
vestígios mais frequentes são:
a)  Manchas de sangue (deve-se secar a mancha, guardar em recipiente fechado sem ser de
plástico, conservar a 4oC se for por um máximo de dois dias, se for por tempo superior
deve-se guardar a - 20oC);
b)  Manchas de esperma (é necessário fazer a recolha – vaginal, oral, anal – com zaragatoas,
secar ao ar, guardar em embalagens que não sejam de plástico, enviar para o laboratório e
guardar a -4oC ou a - 20oC);
c)  Urina (amostras de 20 a 50ml, em contentor fechado e guardado a baixas temperaturas)
d)  Pêlos (basta um, desde que tenha raiz);
e)  Saliva (amostra de 0,1 a 0,5 ml – que pode ser colhida, por exemplo, num cigarro,
guardada em tubo fechado e congelada a -20oC. veja-se que a saliva tem maior
concentração de ADN do que a urina porque é composta por células descamadas);
f)  Dentes;

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g)  Outras manchas.

2.3.1. Colheitas

Roupas: inspeccionar, fotografar, proteger as áreas manchadas, secar as manchas, iluminar


com luz ultravioleta ou laser, retirar as peças ou recortar, separar as peças, introduzir em invólucros
de papel.
Cadáver: Na cabeça, colheitas a nível da boca e dentes. Mordeduras. Nas mãos procurar
proteger os vestígios. No períneo pentear a região púbica, colheita de pêlos para comparação,
colheitas vaginais e anais. No caso de cadáver em putrefacção: colheitas de músculo, próstata/útero,
dentes, pêlos e cabelo, ossos longos.
Colheitas de manchas: fotografar a mancha e marcar a sua sinalização, é o perito que
extrai a mancha. Mandar a peça inteira para análises e na sendo possível, se for absorvente usar
algodão em água destilada e se não for absorvente raspar com bisturi. Usar sempre luvas
descartáveis, deixar secar as peças secas húmidas, usar uma embalagem fechada que nunca seja de
plástico e conservar a baixa temperatura.
Colheitas nos genitais femininos: são feitas a vários níveis: genitais externos, vulva,
vagina, fundos de saco, excroto, endocolo e não esquecer a região anal, bucal e toda a superfície
corporal. Utilizar zaragatoas, secar no ar, colocar em recipientes separados, enviar ao laboratório e se
necessário guardar a 4oC ou -20oC.
Nas agressões sexuais devem evitar-se erros como: a destruição/ lavagem de peças de
roupa, tomar banho e atrasar a conservação médica (a título de curiosidade o sémen na cavidade
bucal e vaginal dura apenas algumas horas, já as manchas de sangue e as manchas e esperma
demoram anos a desaparecer). Como tal, deve-se fazer a colheita a diferentes níveis (vulva,
endocolo, região anal e bocal) através de zaragatoas devidamente secas e guardadas em recipientes a
baixas temperaturas.

Nota: As amostras devem ser enviadas o mais rapidamente possível para análise devendo
mante-las em ambiente refrigerado (evitando o seu aquecimento) e em cadeia de custódia (ou seja, as
amostras, desde a sua recolha e durante o seu envio para o laboratório, nunca devem deixar de ser
fiscalizadas pela autoridade).

Note bem:
Nas agressões sexuais devem evitar-se erros como: a destruição/ lavagem de peças de roupa,
tomar banho e atrasar a conservação médica (a título de curiosidade o sémen na cavidade bucal e
vaginal dura apenas algumas horas, já as manchas de sangue e as manchas e esperma demoram anos
a desaparecer). Como tal, deve-se fazer a colheita a diferentes níveis (vulva, endocolo, região anal e
bocal) através de zaragatoas devidamente secas e guardadas em recipientes a baixas temperaturas.

2.3.2. Como se procede à perícia e ao relatório-médico


- Descrição do agregado familiar;

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- Descrição do episódio de agressão que motivou a queixa (verificando se há ou não
antecedentes de violência doméstica);
- Observação clínica (sintomatologia e exame físico);
- Discussão (nexo de causalidade e consequências da violência);
- Conclusões (natureza do instrumento, tempo de doença, consequências e necessidades da
vítima) – sendo que o médico deverá tranquilizar e transmitir segurança à vítima e instaurar os
serviços judiciais e sociais se necessário.
2.3.3. A valorização das provas em criminalística:
A exclusão, por exemplo:
A (sujeito): 7-8;
X (mancha): 7-9
Esta mancha não é da vítima e, como tal, temos de ter um suspeito para sabermos a quem
pertence a mancha. No entanto, o sujeito pensado não foi quem deixou tal mancha, dado que o
suspeito tem de ter os 2 alelos iguais.
A coincidência, por exemplo:
A (sujeito): 7-9;
X (mancha): 7-9
Pode ser este individuo o que deixou a mancha (e dizemos que pode porque temos de
comprar com o resto da população) dado que a mancha tem alelos iguais ao do supseito.
Valorização, por exemplo,
A (sujeito): 2-4
X (mancha): 2-4
Atende-se, aqui, à probabilidade: possuem este genótipo uma em cada 100 pessoas tomadas
ao acaso (1%). O advogado de acusação diria que possuem esse genótipo um em cada 100 pessoas e
que, como tal 99 dessas pessoas não o possuem (falácia de acusação). O advogado de defesa diria
que possuem este genótipo 1% dos indivíduos em Coimbra, ou seja, de 100 mil habitantes, possuem
1.000 pessoas tal genótipo, como tal, se o delito for cometido por um habitante de Coimbra, o
acusado tem uma possibilidade em 1000 de ser culpado (falácia de defesa).
Qual é a probabilidade de culpabilidade dada determinado resultado da prova? Apresenta-se
o resultado com base em:

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2.3.3. Bases de dados do ADN:
 ADN autossómico: cromossomas não sexuais (todos nós temos 46 cromossomas: 44 auto-
cromossomas e 2 cromossomas sexuais – X e Y);
 ADN do cromossoma Y: o cromossoma Y só existe nos homens. No caso de violação o
cromossoma Y é igual ao do meu pai, ao do meu avô, ao do meu irmão – o que na linhagem paterna
corresponde a uma desvantagem, pois o cromossoma Y identifica uma família e não um único
sujeito;
 ADN mitocondrial: todos nós temos as mitocôndrias que vêm da mãe (da avó, etc.). Esta
tem vantagens porque permite identificar toda a linhagem materna, sendo que o ADN mitocondrial é
mais resistente e, como tal, podemos estuda-lo em ossos muito antigos.
 ADN do cromossoma X (só existe nas mulheres).
A identificação do ADN é fundamental, por exemplo, no caso dos acidentes de viação.
Sendo que nos casos de acidentes de viação, havendo vestígios de sangue deve proceder-se à
extracção de ADN através de película adesiva.
Note-se que, em acidentes de grandes dimensões, como por exemplo, o atentado do World
Trade Center, o atentado de Madrid ou o tsunami do Oceano Índico há corpos não-identificados.
Deste modo, como é que se procede à identificação de vítimas em catástrofes?
- Reconhecimento (caracteres determinantes, tatuagens, implantes, roupas objectos); -
Impressões digital;
- Radiologia forense;
- Antropologia forense;
- Odontologia forense; - Genética forense.
Nestes cassos recorre-se, sobretudo, à identificação genética que pode ser exclusiva em
corpos muito fragmentados, mas é uma identificação demorada (o período expectável para a
identificação é até 3 meses), especializada (recursos humanos / equipamentos) e dispendiosa. Os
pontos a ter em conta/ a analisar no caso da identificação genética são:

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 Colheita, acondicionamento, transporte e preservação das amostras: via regra, devemos
conter 5 a 8 fragmentos da vítima (usualmente com 1 a 10 cm); 20% das amostras reanalisadas para
obtenção de perfil; contacto com 3 a 4 familiares por vítima; 5 a 8 amostras de referência de objectos
pessoais apresentados e 5% das amostras reanalisadas para controlo de qualidade);
 Cadeia de custódia
 Controlo de qualidade
 Procedimentos laboratoriais / marcadores a analisar
 Interpretação de resultados
 Painel de peritos
 Custos das perícias
 Comunicação a familiares
 Comunicação social
A comparação de amostras pode ser:
- Directa feita através de escovas de dentes ou cabelo, máquina de barbear, envelopes, selos,
biópsias e análises médicas (em média identificação de 2/3 das vítimas);
- Familiar feita através dos pais biológicos (LR para ambos os pais relativamente a outro
casal) ou de um dos cônjuges e 2 filhos (em média identificação 1/3 das vítimas).
Quais são os principais problemas das identificações genéticas nas catástrofes?
 Falta de amostras para comparação;
 Degradação do material biológico (por isso mesmo, o melhor material biológica para se
colher serão
os músculos, os dentes, a próstata/ útero e os ossos longos);
 Contaminação (para prevenir a contaminação deve-se usar material descartável, evitar
calor/humidade, limpar cuidadosamente as mesas da autopsia e, ainda, recorrer a diferentes
embalagens evitando o uso de plástico);
 Volume de trabalho;
 Volume de informação.
É certo que as técnicas clássicas de identificação são as provas realizadas com base em
machas de sangue e esperma, nomeadamente, as provas de orientação através da detecção da
proteína P30 (específica do líquido seminal) e as provas de certeza.

3. Do exame ao local e Certificação do óbito


Autópsia médico-legal - centram-se no estudo do cadáver em casos com interesse judicial
para esclarecimento da causa de morte e das circunstâncias que a rodearam, nomeadamente, uma
eventual intervenção de terceiros, a sua identificação e os respectivos graus de responsabilidade.
Este tipo de autópsia é executada nos seguintes casos (cf.art.16o do DL 45/2004, de 19 de Agosto):

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3.1. Objectivos da autópsia médico-legal:

Objectivos gerais: são aqueles que pretendem atingir a generalidade dos cassos e passam pela
resposta a 5 questões, a saber:
1)  Diagnóstico diferencial entre morte natural e morte violenta;
2)  Diagnóstico diferencial entre homicídio/ suicido e acidente: sendo que há diferenças
cruciais, deste modo:
Suicídio: no suicido há a ausência de sinais de luta e ausência de lesões de defesa;
aquisição de uma arma branca (e a sua respectiva presença no local); ausência de desordem
no vestuário e local.
Homicídio: normalmente há uma carta de despedida com uma letra distinta do cadáver;
sinais de luta, lesões de defesa e sinais de violência; ausência da arma no local e desordem
no vestuário.
Acidente: neste caso há a ausência de lesões de defesa, antecedentes irrelevantes, exame
do vestuário e do local em conformidade e ausência de vestígios de outrem.
3)  Diagnóstico diferencial sobre a natureza do instrumento que produziu as lesões;
4)  Qualificação dos ferimentos em causa adequada ou em causa ocasional da morte;
5)  Indicação sobre se as lesões encontradas indicam ou não a intenção de matar;
Objectivos particulares: correspondem aos objectivos eventuais que dependem do caso
concreto, designadamente:
- Identificação do cadáver;
- Determinação da taxa de alcoolémia;
- Havendo ferimentos, determinar qual foi o primeiro;
- Determinar o tempo de sobrevida após a produção de lesões;
- Ferimentos vitais e ferimentos pós-morte e, ainda, saber se o corpo foi ou não mexido após
a morte.

3.2. Finalidade da actuação pericial:


- Verificar o óbito;
- Estimar a data da morte;- Identificar o cadáver;
- Elaborar uma hipótese sobre a causa e etiologia da médico-legal.

3.3. Papel do Perito no local


No local, o perito, deverá avaliar o meio ambiente e as circunstâncias do local da
ocorrência, bem como avaliar a posição e o estado em que o cadáver se encontra. Pessoalmente,
deverá registar o responsável pelo local, a sua identidade e o seu contacto e procurar informações
preliminares que possam orientar e avaliar a sua investigação pericial, para tal, deverá isolar a área e
preservar o local (não tocar em nada que não seja necessário, não fumar, observar muito e falar
pouco) e fotografar todos os elementos relevantes.

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A conduta/ actuação do perito deverá fazer-se com luvas e devidamente equipado, sendo
fundamental a recolha de informação sobre o caso:
- Indagar quem foi a primeira pessoa a encontrar o corpo e a tomar conhecimento do evento,
registando o seu nome e os seus contactos;
- Procurar obter os detalhes iniciais da situação, avaliando, também, se algumas
contaminações, artefactos ou alterações podem ter sido introduzidas;
- Registar fotograficamente a posição do corpo e dos espaços envolventes (no entanto, se o
corpo ou as evidências tiverem sido removidas, não devem ser reintroduzidas para se fazerem
fotografias, sob pena de erro grasso);
- Analisar os vestígios e objectos (armas, pegadas, impressões digitais, vestígios de
arrastamento, materiais presentes no local), sendo que se houver algum suspeito no local deverá o
perito fotografar lesões, recolher vestígios, ouvir o seu testemunha e não permitir que este lave as
mãos.
- Pesquisar sinais de deslocação de cadáver: pegadas, marcas de arrastamento, marcas de
pneus, vestuário inapropriado para o local, livores não compatíveis com a posição do cadáver,
material estranho ao local;-
O exame local é muito importante para se apurar a verdadeira causa de morte.

3.4. Exame ao Corpo


Exame - posição, condições (arrefecimento, livores, rigidez cadavérica, grau de
decomposição, estado da putrefacção).
 Proceder a um exame preliminar do corpo, avaliando os livores (cor, localização,
mobilidade, intensidade e sua consistência com a posição do corpo), a rigidez
cadavérica (estado-intensidade, localização, consistência-inconsistência com a
posição do corpo), eventuais sinais de decomposição e descreve-los.
 Registar as evidencia observadas e a sua relação com o corpo, se necessário com
medições e fotografá-las com e sem escalas.
 Para evidências como sangue ou outros fluídos corporais, anotar o volume
aproximado, padrões, localização e outras características antes da sua
remoção/colheita.
Exame sumário das diferentes regiões do corpo; natureza e descrição das lesões e exame ao
vestuário, sem esquecer de registar a presença de eventuais sinais de tratamento e manobras de
reanimação.

3.5. Identificação do cadáver

13
A identificação do cadáver corresponde, desde já, ao conjunto de sinais que distinguem m
indivíduo dos demais seja durante a vida, seja depois da morte, estando o cadáver inteiro ou
conservando-se alguns fragmentos.
Para proceder à identificação do cadáver é fundamental determinar as características
identificativas:
 Aspecto facial;
 Idade, estatura, sexo e etnia;
 Cor dos olhos e cabelo;
 Pigmentação da pele (e eventuais tatuagens);
 Cicatrizes, deformação ou próteses;
 Estigmas ocupacionais;-
 ADN.
No entanto, é importante distinguir entre:
- Cadáveres frescos ou inatos: incide-se, sobretudo, no reconhecimento visual ou
fotográfico e poderá́ recorrer-se a tatuagens/ cicatrizes ou sinais particulares;
- Cadáveres decompostos ou desfigurados: incide-se, sobretudo, em roupas ou pertences/
objectos pessoais, ficha dentária, esqueleto impressões digitais e ADN.
- restos cadavéricos - Quanto aos restos cadavéricos é necessário identificar os restos
ósseos para saber se são humanos, qual o sexo, a estatura, raça, causa da morte, estabelecer a data...
Se necessário recolhe-se amostras, rotula-se, armazena-se e mantém se em cadeia de custódia.

3.6. Elaborar um hipótese sobre a causa e etiologia Médico-Legal


a) Morte Natural
b) Morte violenta
a. Suícidio;-
b. Homicidio;-
c. Acidente

3.7. Causas de morte Violenta – 3 categorias


Lesões traumáticas (incluindo queimaduras por agentes térmicos ou físicos);
Asfixias mecânicas: ocorrem quando há um obstáculo mecânico que impede que o
oxigénio chegue ao alvéolo pulmonar. Englobam-se aqui várias categoriais, nomeadamente:
- Por contrição externa do pescoço (enforcamento, estrangulamento ou esganadura
= estrangulamento natural)
- Sufocação
- Afogamento (submersão)

14
Intoxicações
Abordaremos, então:
A) Enforcamento: pode ocorrer por:
- Suspensão completa (corpo totalmente suspenso no ar, pelo que todo o seu peso
constrange o pescoço);
- Suspensão incompleta (existe um contacto mais ou menos amplo do corpo com algum
ponto de apoio).
Para efeitos de apuramento real da causa de morte é fundamental nunca retirar o meio de
suspensão (veja-se que uma força de contrição de 2kg é suficiente para obstruir a jugular, e uma
força de 4kg provoca a obstrução das carótidas e, consequentemente, a falta de irrigação cerebral =
anoxia cerebral. Daí que a maior parte dos enforcados morra, não por asfixia, mas sim por anoxia
cerebral, já que bastam 30 segundos de falta de irrigação cerebral para que haja perda de consciência
e cerca de 2 minutos para provocar a morte.
B)  Ferimentos por arma branca: evitar pisar manchas de sangue, ter em atenção as zonas de
entrada e de saída e, ainda, procurar a presença da arma.
C)
Toxicodependência:analisarseháounãoantecedentestóxicosconhecidos,verificarapresençade seringa
(se existir recolhe-la com luvas), verificar se há ou não sinais de injecção recente e presença de
droga no local da ocorrência.
4)  Ferimentosporarmadefogo:nestescasos,nãosedevetocarnasmãosdocadáver,nãodeslocara
arma do local onde foi encontrada, localizar a cápsulas, as buchas e projectáveis e, ainda, preservar
ao máximo ao local da ocorrência.
5)  Intoxicações: deve-se, sempre, verificar se há frascos de produtos tóxicos ou embalagens
de medicamentos; na presença de vómito, não retirar a roupa da vítima; averiguar tentativas de
intoxicação anteriores; procurar notas de despedida.

Notas
Registar quando, onde, como, por quem e em que circunstâncias a vitima tinha sido vista
viva pela última vez. Procurar obter informação sobre eventuais incidentes prévios à morte e sobre
eventuais queixas/sintomas prévios à morte Analisar toda a informação recolhida (testemunhas,
antecedentes, informação clinica e informação pericial). Pode revelar-se de extrema importância na
estratégia a adoptar na autópsia.
Posto isto, devemos analisar toda a informação recolhida testemunhal, verificar os
antecedentes da vítima e examinar a informação clínica e policial disponível.

3.8. Patofisiologia da morte – sinais de morte

3.8.1. Fenómenos cadavéricos:


 Fenómenos cadavéricos imediatos – arrefecimento, desidratação rigidez, livores

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 Fenómenos cadavéricos tardios – destrutivos (autólise e putrefação) e conservadores
(mumificação e saponificação)

3.8.1.1. Fenómenos cadavéricos imediatos


3.8.1.1.1 Arrefecimento cadavérico (condução, convecção e irradiação)– Fenomeno cadavérico
de maior utilidade para a determinação do intervalo postmortem e nas primeiras 24
horas após a morte – utilizável apenas nos climas temperados. Inicio pela face, mãos e
pés. Perturbações da regulação térmica, aumento muscular da produção de calor,
excessiva actividade bacteriana – hipoteria postmortem O tempo que um determinado
corpo tarda em igualar a sua temperatura com a do meio ambiente depende mais da
diferença entre a sua e a temperatura ambiental que dos valores absolutos de ambas as
temperaturas “Lei de Newton” -a qual não se aplica todavia totalmente ao corpo
humano, que tem uma grande massa, uma forma irregular, e é composto por tecidos
com diferentes propriedades físicas.
o Planalto inicial – 30 minutos a 1 hora, mas pode durar até 3 ou 5 horas;-
o 1.º Período (arrefecimento linear) – cerca de 0,5 C/horas,durante 3-4- horas após
a morte
o 2.º período – cerca de 1ºC/hora, durante 6-10 horas após a morte;-
o 3.º período – cerca de 3.º 4.º C/ hora, até igualar a temperatura ambiente.
a. Principais problemas no recurso ao arrefecimento postmortem são:
a. Desconhecimento da temperatura do corpo no momento da morte;-
b. Desconhecimento da duração do planalto postmortem.
b. Como se verifica:
a. Tacto – regiões descobertas (pés, mãos e face) – 2 horas; regiões cobertas – 4/5 horas;
arrefecimento completo após 8 a 17 horas (10 a 12 horas)
b. Termómetro: tempo postmortem = 36.9 – temperatura rectal /0,8

c. Factores de Variação
a. Causa da morte

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1. Arrefeciemtno mais rápido – doenças crónicas, hemorragias, grandes
queimaduras, morte por ação do frio, intoxicações pelo arsénio, fósforo, álcool
etc.
2. Arrefecimento mais lento - doenças agudas, isolação, golpe de calor,
sufocação, intoxicação pela estricnina, notcotina;-
3. Factores individuais – Idade, estatura, estado de nutrição, vestuário;-
4. Factores ambientais – temperatura ambiental, humidade, ventilação, corpo
dentro de água, etc.
3.a.1.1.1. Rigidez Cadavérica –
o 1.º período - Flacidez primária;-
o 2.º período - Rigidez
o 3.º período Flacidez secundária (>36horas)
e. Conceito - caracteriza-se pelo endurecimento das massas musculares
dos cadáveres a partir da 2o ou 4o hora apos a morte e, também, pela
inflexibilidade das articulações. A partir da 12o hora a rigidez começa
a declivar, tornando-se cada vez menor até desparecer por completo ao
3o ou 4o dia, coincidindo com o surgimento de outro fenómeno – a
putrefacção – ao mesmo tempo que os livores desaparecem (é,
também, importante para determinar a cronotanatognose). Inicia-se na
musculatura lisa (miocárdio e diafragma – 2 a 3 horas após a morte),
sendo mais tardia nos múscuos estriados esqueléticos (6 a 8 horas após
a morte). A sua intensidade depende do grau de desenvolvimento
musculares e é influenciada por múltiplos factores, tanto intrínsecos
como exógenos, calor ou frio acentuados produzem rigidez
rapidamente, embora no calor passe rapidamente por ação de
putrefação. AS pessoas que morrem com uma temperatura mais
elevada (seja devido a doença ou a exercício físico violento) podem
evidenciar rigidez mais precoce.
a) 2-4- horas – inicio; 6-12 horas – completa; 13-24 horas – intensidade
máxima (pode ser necessária força considerável oara colocar o cadáver em
posição anatómica, sendo mesmo possíveis fraturas do úmero ou colo do
fémur no decurso destas manobras); 36 horas desaparece
b) Variações
1. Precoce, pouco acentuada e de curta duração – crianças, velhos,
astenia;-
2. Precoce, intensa e prolongada – processos convulsivos, intoxicações,
electrocussões, frio..

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3. Tardia, intensa e prolongada – adultos, bom desenvolvimento
muscular;-
4. Tardia, pouco acentuada e de curta duração - hemorragias,
doenças crónicas, caquexia, atrofias musculares
3.8.1.1.3. Espasmo Cadavérico
a) Conceito – Contração muscular sem que tenha havido flacidez primária. Fixa a
atitude da vítima no momento da morte.
b) Mecanismo – Fenómeno Intra-vital;-
c) Distribuição – Localizado ou generalizado (muito raro)
d) Circunstâncias em que ocorre – Processos convulsivos, lesões espontâneas do
SNC (hemorragias cerebrais intensas),fulguração, feridas por armas de fogo (com
lesão repentina dos centros nervosos superiores ou do coração), asfixias
mecânicas.
e) Habitualmente em mortes violentas
Pode ser localizado ou generalizado
3.8.1.1.4. Desidratação Cadavérica
o Conceito - o nosso corpo é constituído entre 60% a 80% de água, sendo que após a
morte há um processo de evaporação tanto mais intenso quanto mais propícias
forem as circunstâncias ocasionais (meio, temperatura – por exemplo, não há
desidratação se o cadáver estiver num meio líquido).
 Perda de peso – fenómeno constante mas só apreciável no recém-nascido
e nas crianças de pouca idade (+- g/Kg de peso e dia: cerca de 18g/Kg nas
primeiras 25 horas)
 Apergaminhamento cutâneo – áreas escoriadas (placas amareladas,
secas, duras, espessas, com consistência e aspecto de pergaminho e com
visualização da rede vascular. Áreas de pele delgada (escroto por exemplo)
 Desidratação das mucosas – observável sobretudo nos lábios de recém-
nascidos e na vulva de crianças de pouca idade.
 Opacificação da córnea - Mancha esclerótica de Sommer-Larcher
3.8.1.1.5. Livores
o Conceito – Acumulação do sangue não circulante nos vasos da pele das regiões
de declive, é um fenómeno puramente mecânico “Butterfly appearance”. São
manchas de cor vinosa que se situam nas regiões mais declivosas do corpo, mas não
sujeitas à compressão, que se vão acentuando à medida que o tempo vai
decorrendo. Para além de um sinal seguro de morte fornece outros dados
esclarecedores da causa de morte e do momento em que a morte tenha ocorrido
(problema da cronotanatognose). Uma pressão moderada pode ser suficiente para
impedir a formação de livores.

18
 Possível indicador da causa da morte (!), de eventual mudança de
posição do cadáver(!) e do intervalo postmortem (?). Um dos primeiros
sinais de morte, podem ocorrer mesmo antes da morte em doenças que
implicam acentuada desidratação como a cólera.
 Caracteristicas
 Cor – geralmente coloração roxo-avermelhada ou vermelho-
arroxeada (variando entre o vermelho claro e o azul escuro); pode
variar em função da causa da morte;-
 Intensidade – dependente da fluidez do sangue e da causa da
morte;
 Localização – Depende da posição do cadáver – localizam-se nas
regiões do declive. Não se formam nas zonas cutâneas sujeitas a
compressão;-
 Evolução – Começam a surgir cerca de 15-30 minutos a 2-3 horas
após a morte, confluentes 1 a 4 horas após a morte; generalizados
cerca de 6/8 (4/8) horas após a morte; fios a partir das 10/12
(12/18) horas após a morte; intensidade máxima por volta das 12
(10) horas (entre as 3 e as 16 horas)
o Caracterização
 0-1 horas – pequenas manchas na parte posterior do pescoço;-
 1-5 horas - Livores abundantes nas regiões de declive, palidez total nas
mudanças mudanças de posição;.
 5-8 horas – Desaparecimento à digito-pressão. Retorno à palidez da região
anterior de declive em 15 minutos;-
 8-14 horas – Palidez à digito-pressão, mas sem desaparecimento total;
ausência de desaparecimento pela mudança de posição; Extravassão para a
derme; hemólise intravascular;-
 14 horas – ausência de palidez à digito-pressão;-
 24 horas - ausência de formação de novas manchas noutra posição de
declive. Infiltração de hemoglobina do epitélio.
o Existem:
 Livores móveis - até 6 horas;-
 Livores 12 horas – livores fixos;-
o Variações consideráveis - nível de pressão, duração da pressão, superfície de
contacto, grau de branqueamento
o Fixação dos livores
 Hemólise - Difusão da hemoglobina (difusão da Hb para a parede vascular
e/ou tecido circundante)

19
 Hemoconcentração – hemoconcentração nos vasos sanguíneos
por perda de plasma para o tecido extravascular através da parede
vascular.
o Livores paradoxais – Surgem em regiões que ão são de declive, apresentam a
forma de manchas (acompanhadas frequentemente de petéquias hemorrágicas) e
observam-se sobretudo na face, regiões anteriores do pescoço e do tórax,
particularmente nas mortes súbitas e nas asfíxias.
3.8.1.1.6. Púrpura Hipostática – pontuado parecido com a escarlatina devido à rotura dos vasos
sanguíneos pelo aumento da pressão provocado pela hipóstase cadavérica.
Cronotanatognose –

3.8.1.2. Fenómenos cadavéricos tardios


 Destrutivos
 Autólise
 Putrefação
 Conservadores
 Mumificação
 Saponificação
A) Destrutivos
a. Autólise
i) Conceito- corresponde á auto destruição de certos órgãos e tecidos que para o
efeito utilizam os seus próprios enzimas (até aí existentes para tornar a vida
possível), como é o caso, da medula supra-renal. É o início da putrefacção. É o
conjunto de fenómenos fermentativos, que têm lugar no interior da célula por
ação as próprias enzimas celulares. Consiste num processo de demolição
molecular dos elementos orgânicos existentes na célula pela intervenção dos
fermentos ou enzimas moleculares. Ao fim de algum tempo a evolução das

20
enzimas chegam a atuar sobre si próprios, destruindo-se, terminando este
processo e sendo substituído pela putrefação.
 Alterações nos fluídos
o Sangue – alteração da forma e da permeabilidade dos
glóbulos vermelhos (hemólise); alterações nas técnicas
analíticas em que se utiliza o soro;-
o Bilis – fenómenos de embebição biliosa (coloração
amarelada ou esverdeada)
 Alterações os órgãos
o Pâncreas – amolece, torna-se friável e adquire uma
coloração avermelhada. Se a autólise se inicia em focos
isolados (coloração branco-acinzentada) há possibilidade
de confusão com necrose gora pancreática vital;-
o Supra renal – muito precoce;-
o Timo – rápida, com amolecimento e eventual formação de
focos moles, mal delimitados, que constituem cavidade
ocupadas por um líquido de coloração cinzenta-escura;-
o Estômago e esófago – alterações pelo fermentos
digestivos do suco gástrico (atividade mantida
habitualmente até às 6 ou 7 horas, mais raramente até 15
ou 24 horas),por vezes (muito raramente) com perfuração
da mucosa;-
o Encéfalo – precocemente (sobretudo nos recém-nascidos
e lactentes)
ii) Putrefação - Processo de fermentação pútrida de origem bacteriana. É
consequência da atividade bacteriana e enzimática.
 Gases (hidrogénio, amoníaco, metano, ácido sulfídrico, anidrido
carbónico, nitrogénio)
 Ácidos ( fórmico, oelico, succínio, leucínio, acético, palmítico,
butírico, láctico, oxálico)
 Lactonas (valerolactona)
 Ácidos aminados (leucina, tirosina, glicocola)
 Corpos aromáticos sem nitrogénio (ácido fenilacético, fenol,
ácido fenilpropiónico, etc)
 Ptomaínas
a) Períodos:

21
1. Período colorativo (ou cromático) – Horas – inicio 24 horas após a
morte, durando vários dias, identificada pelo surgimento de mancha
verde
a. Mancha verde - primeira manifestação objetiva e visível
da putrefação, produzida pela ação do ácido sulfídrico,
originado pela putrefação dos tecidos, sobre a
hemoglobina sanguínea na presença do oxigénio do ar,
levando à formação de sulfohemoglobina (inicio habitual
na fossa ilíaca direita). Ocupa inicialmente uma extensão
muito reduzida, de coloração verde clara ou ligeiramente
azulada, que se vai acentuando e estendendo
progressivamente em sentido periférico. Nos cadáveres
congelados pode adquirir uma coloração avermelhada. A
coloração verde pode também ser visível nas vísceras
abdominais(especialmente no fígado). Surge
habitualmente peãs 24-48 horas após a morte (segundo as
condições ambientais e individuais – de 14 horas a 5
dias), estendendo-se entre os 3 e os 15 dias a todo o
ventre e outras partes do corpo.
1.1. Variações topográficas:
 Afogamento (inicio no pescoço e parte superior
do tórax)
 Mortes com fenómenos congestivos cefálicos
(inicio na face)
 Fetos ( inicio na face, pescoço e parte superior do
tórax);.
 Traumatismos internos sem lesão cutânea
(inicio nas xonas cutâneas próximas da lesão
interna)
 Lesões gangrenosas, supurativas e neoplásticas
(inicio na vizinhança das lesões)
1.2. Variações cronológicas – Dependentes das condições
cadavéricas e do meio ambiente.
2. Período Enfisematoso (dias) – desenvolvimento de grande
quantidade de gases que invadem o tecido celular subcutâneo,
inchando e desfigurando o cadáver (duração de vários dias até duas
semanas – incha a cabeça, exoftalmia)
a. Incha a cabeça

22
b. Exoftalmia
c. Projecção exterior da língua
d. Distensão do tórax e abdómen
e. Distensão dos genitais masculinos
f. A rede venosa superficial torna-se aparente
3. Período Coliquativo (ou de liquefacção) – Meses [geralmente de 8
a 10]
a. A epiderme separa-se da derme;-
b. Formam-se bolhas cutâeas de dimensões variáveis cheias
de líquido de cor escura;-
c. A epiderme desprende-se facilmente do plano subjacente
pela simples pressão dos dedos;-
d. Os apêndices cutâneos (unhas e pelos) soltam-se;-
e. Escorre uma serosidade escura pelos orifícios nasais e
dos órgãos;-
f. Os gases vão-se escapando diminuindo o corpo de
volume.
4. Período Esquelético (anos) – 2 a 3 anos, até um máximo de 5 anos
a. As partes moles do cadáver desaparecem
progressivamente através da liquefacção;-
b. O conjunto de órgãos e vísceras vai-se destruindo ao
mesmo tempo mas com variações em função da
resistência que a estrutura lhes confere;-
c. Elementos mais resistentes: tecido fibroso, ligamentos e
cartilagens (o esqueleto pode permanecer unido durante
todo este período); nos órgãos: coração, traqueia e
brônquios, aparelho digestivo e útero.
b) Evolução da putrefacção
1. Influencias individuais
a. Influêcias patológicas
i. Putrefacção precoce e intensa – feridas
graves, focos extensos de contusões,
doenças sépticas (proporcionam abundante
matéria orgânica), agonias lentas (dão
origem a uma disseminação de gérmens);
diversas causas de morte violeta (asfixia,
insolação, fulguração)

23
b. Influências ambientais- humidade, frio, calor,
arejamento e fauna – em iguais condições de
temperatura:1 semana de putrefação ao ar livre equivale a
2 semanas na água e a 8 semanas em terra.
i. Secura – mumificação
ii. Arejamento abundante – mumificação
iii. Humidade considerável – saponificação

B) Conservadores
a. Processos conservadores do cadáver
 Naturais – mumificação, soponificação, corificação, congelação
 Artificiais – embalsamento, refrigeração, congelação

i) Mumificação – desidratação/dessecaão rápida do cadáver por evaporação


de água dos seus tecidos, com conservação prolongada (mais ou menos
perfeita) das suas formas exteriores. Inicia-s geralmente pelas partes
expostas do corpo, estendendo-se sucessivamente ao resto da superfície
cadavºerica e incusivamente aos órgãos internos. Provoca uma grande
consistência da pele, que se apresenta apergaminhada, assemelhando-se a
couro curtido, ressoando à percurssão; pele seca, quebradiça e encolhida e
de coloração castanha escura. (cor pode variar por colonização por fundos).
Provoca a diminuição o volume corporal e do volume dos órgãos, que
adquirem uma coloração situada entre o cinzento-escuro e o negro, bem
como uma considerável diminuição do peso (secos). Coloração
castanha/avermelhada dos cabelos independentemente da coloração em
vida.
a. Cronologia
 Requer um período situado entre 1 a 12 meses, consoante as
condições ambientais e o volume corporal (caso descrito por
Franchini – apenas 17 dias). Se o cadáver não está protegido
irá sendo destruído progressivamente por aç\ao da erosão
ambiental, fauna e flora.
b. Condições ambientais
 Ambiente seco e de temperatura elevada;-
 Ventilação
 Presença no ambiente de substâncias higroscópias (nitrato
de potássio, por exemplo)

24
 Assim secura , calor e ar circulamte com facilidade e
abundância – (pode acontecer em condições de frio intenso
(por secura do ar e inibição de proliferação bacteriana)
c. Condições individuais
 Idade (mais fácil nos recém nascidos pequenos e estéreis)
 Constituição (magreza como condição quase indispensável)
 Causa da morte (diarreias profusas com acentuada
desidratação corporal, grandes hemorragias, antibioterapia
intensa e prolongada)
d. Problemas médico-legais
 Determinação da data da morte- o tempo necessário para
uma mumificação completa não pode ser precisado mas, em
condições ideais, uma mumificação pode estar num estado
avançado ao fim de algumas semanas.
1. Múmias recentes: pesadas (?) com persistência de
tecidos não completamente dessecados e com uma
consistência ainda mais ou menos branda. Têm um
tempo de meses (inferior a 1 ano)
2. Múmias não recentes: leves (?), tecidos
completamente dessecados e de consistência
dura.Têm um tempo de anos.
 Identificação do cadáver – pode ser possível por
identificação visual, dactiloscopia, determinação de perfil de
ADN
 Determinação da causa da morte – habitualmente possível
nas causa mecânicas com lesões da pele e de tecidos moles;
mais problemático e frequentemente impossível quando se
trata de patologia orgânica ou lesões viscerais.
ii) Saponificação - Processo espontâneo da preservação (parcial) do cadáver
por hidrolise ou saponificação da gordura corporal. A hidrolise da gordura
liberta ácidos gordos que, por serem acídicos, inibem bactérias
putrefactivas. A gordura no momento da morte contém menos de 1% de
ácidos gordos, mas com a adipocera estes podem atingir 20 % num mês e
mais de 70% em 3 meses. O processo transformativo do cadáver conduz à
formação de uma camada gordurosa, untuosa e viscosa em estado húmido,
mas que, depois de ter secado ao ar, adquire consistência dura, granulosa.
a. Caracteristicas –

25
 tem lugar do exterior para o interior, rodeando o tronco e o
esqueleto nas extremidades.
 Inicia-se nas partes do corpo com maior conteúdo de
gordura, estendendo-se progressivamente ao resto do corpo.
 Desenvolve-se em primeiro no tecido subcutâneo,
envolvendo frequentemente as bochechas, mamas e
nádegas.
 Envolve mais habitualmente apenas a superfície do corpo, e
raramente as vísceras (estruturas internas adiposas e órgãos
contendo gordura devido a processos patológicos ou
degenerativos podem ser preservados pela formação
adipocera no seu parênquima).
 Pode ser total (raro) ou parcial.
b. Coloração
 Amarelada/acastanhada - consistência firme
 Cinzenta/esbranquiçada - friável
A coloração pode variar por influencia do sangue e de produtos
de decomposição. A adipocera mistura-se com os restos
mumificados de músculos, tecidos fibrosos e nervos. Esta tem
uma coloração branca quando formada na água, ou ligeiramente
amarela quando ocorre em terra húmida.
c. Odor
 Amoniacal intenso e persistente nas fases iniciais;-
 Odor a ranço e adocicado quando concluída
 A adipocera recente é untuosa ao tacto e viscosa,
moldável com os dedos, tem pouca
homogeneidade estrutural sendo visível na sua
espessura, porções de tecidos estranhos, e
apresenta ao corte a consistência de um queijo
mole.
 A adipocera não é recente é dura, seca, quebradiça
e com uma estrutura homogénea.
d. Condições ambientais
 Permanência do cadáver submerso em águas paradas ou de
pouca corrente;-
 Permanência do cadáver inumado em solo argiloso húmido;-
 Favorecido pela acidez (pântanos, caixões de carvalho ricos
em tanino)

26
 Múltiplos cadáveres enterrados simultaneamente em
contacto uns com os outros.
e. Condições individuais
 Idade (mais frequente em bebés bem nutridos)
 Obesidade (mais frequente nos cadáveres obesos/mulheres)
 Determinadas condições patológicas (alcoolismo e outras
intoxicações que originam uma degenerescência gorda)
f. Condições (súmula)
 Humidade, obstáculo ao acesso do ar e existência de gordura
no cadáver.
 Um ambiente quente, húmido e anaeróbico favorece a
formação de adipocera, mas: GORDURA +ÁGUA =
SAPONIFICAÇÃO
 Existem casos descritos de saponificação em ambientes
secos (água do organismo suficiente para a hidrolise
ocorrer?)
 Embora o calor seja considerado como condição
favorecedora o processo também tem sido constatado em
águas frias e covas profundas
 Atividade precoce de anaeróbios, como o Clostridium
perfrigens ajuda na saponificação, pois as bactérias
produzem lecitinase que facilita a hidrolise e hidroxigenação
 Não é habitualmente evidente antes de 3 a 4 meses, são
necessárias pelo menos semanas, provavelmente meses.
Macroscopicamente após 3-4 semanas (em condições ideais)
 A saponificação extensa não é habitualmente vista antes de
5 a 6 meses.
g. Importância médico-legal:
 Reconhecimento de lesões
 Identificação
 Preservação do corpo
 Estabelecimetno do intervalo postmortem

4. Verificação do óbtito
De acordo com a lei no141/99, de 28 de Agosto um indivíduo está morto quando “houver
cessação irreversível das funções do tronco cerebral” (art.2o). A verificação do óbito é da
competência do médico e qualquer médico inscrito na Ordem do Médicos deverá estar habilitado a
fazê-lo. Deste modo, na prática pode certificar o óbito o médico que:

27
- Tenha assistido o doente nos últimos 7 dias que antecederam a sua morte;
- Ou, no caso de se tratar de um médico assistente habitual, mesmo que não o tenha
observado nas últimas semanas, mas que a morte seja uma consequência previsível da
evolução da doença.
A verificação do óbito destina-se a estabelecer com segurança que um determinado
indivíduo se encontra morto, sendo que esta se baseia-a, sobretudo, na identificação clínica dos
sinais negativos de vida observados durante um período de tempo apropriado, recorrendo, se
necessário, a exames complementares e/ou a testes adequados.
Sinais devidos à cessação das funções vitais, ou seja, sinais positivos da morte:
Ausência de movimentos inspiratórios (ausência de sopro nasal);
Ausência de batimentos cardíacos (através da auscultação com estetoscópios 5 minutos
em cada um dos
quatro focos cardíacos – aórtico, pulmonar, mitral e tricúspide);
Ausência de respostas a estímulos dolorosos;
Ausência de movimentos (imobilidade, flacidez e ausência de tónus muscular);
Ausência de reflexos;
EEG isoeléctrico
Como já foi dito, a morte absoluta, acontece com a cessação real, definitiva e efectiva das
funções vitais (por oposição à morte intermédia, em que já não é possível fazer o indivíduo voltar à
vida, embora possam continuar a manifestar-se certos fenómenos de algum modo vitais, como é o
caso da movimentação de espermatozóides ou dos movimentos peristálticos), sendo que há sinais
seguros da morte, nomeadamente:
Livores
Rigidez:
Desidratação:
Arrefecimento: o arrefecimento começa a acontecer logo que a vida cessa, isto é, logo
que deixa de haver metabolismo. O arrefecimento máximo atinge-se ao fim de 24h (em condições
normais) e depende das condições locais ocasionais.
Acidificação dos tecidos: a destruição dos tecidos dá lugar à formação dos ácidos.
Autólise:
Putrefacção: é um estádio em que as modificações do cadáver são inúmeras e de tal
ordem que constituem grande preocupação dos legistas pois dificultam imenso o seu trabalho, por
exemplo, as unhas e os cabelos soltam-se.
Note-se que há um distinção crucial entre:
- Morte cardio-respiratória: falecimento imediato da vítima.
- Morte cerebral: situação em que o indivíduo se encontra em coma profundo por lesão
irreversível com a ausência de função do SNC e com as restantes funções mantidas por
meios extraordinários de suporte.

28
A verificação da morte cerebral requer:
1)  Realização de, no mínimo, 2 conjuntos de provas com um intervalo adequado à situação
clínica e à idade;
2)  Realização de exames complementares de diagnósticos sempre que for considerado
necessário;
3)  A execução de provas de morte cerebral por dois médicos especialistas (neurologista ou
neurocirurgião, ou com experiencia em cuidados intensivos), sendo que nenhum dos médicos que
executa as provas poderá pertencer a equipas envolvidas no transplante de órgãos ou tecidos ou, pelo
menos, um não deverá pertencer à unidade ou serviço em que o doente esteja internado.
4) O tempo legal da declaração da morte cerebral foram repetidos pela segunda vez e se
revelem inequivocamente positivos.
4.8. Quem certifica o óbito (Lei n.º 141/99 de 28 de Agosto)

- É o médico que verifica a morte, e aquele a quem estiver acometida a responsabilidade do


doente no momento da morte ou o que chega em primeiro lugar é quem deve verificar o óbito.
- Se o individuo ainda não estava morto e foi accionado o INEM, os médicos da emergência serão os
primeiros. Quando o individuo é encontrado já cadáver, dependerá da autoridade policial, que não
tem formação nem sensibilidade para chamar o médico indicado (artigo 3.º, n.2e 4.º, n.º 1)
Com base em critérios médicos, técnicos e científicos a definir pela ordem dos médicos
(artigo 3.º, n.º 2)

4.8.1. O que deve figurar na verificação do óbito? – Art.4

- Identificação possível do falecido e o modo como esta se obteve (por identificação verbal
ou por documento de identificação existente);
- Local, data e hora da verificação;
- Informação clínica ou observações eventualmente úteis;
- Identificação do médico e do seu número de cédula da Ordem dos Médicos (note-se que se
a morte ocorrer por sustentação artificial das funções cárdio-circulatória e respiratória, a verificação
da morte deve ser efectuados por dois médicos).
No entanto, não há impressos próprios para a verificação do óbito podendo esta
circunscrever-se à ficha do INEM ou ao boletim da autoridade de saúde (em que impresso ou
formulário -ambulatório [em papel timbrado do médico, da instituição ou outro; no estabelecimento
de saúde públicos ou privados – no processo clínico]. Este documento, nos termos do art.4, no3, é
entregue à família ou à autoridade que aparece no local.
O óbito é certificado, na maioria dos casos, apenas com base nos conhecimentos e
convicções pessoais do médico, todavia:
- O médico deve proceder, de forma imperiosa e obrigatória, ao exame de hábito externo do
cadáver;

29
- O médico deve, ainda, conhecer as situações em que se encontra habilitado a certificar o óbito
e as que obrigam à autópsia médico-legal, facultando, nestes casos, a informação necessária.

4.8.2. Casos em que é obrigatória a presença de mais de um médico

Nos casos de sustentação artificial das funções cardio-circulatoria e respiratória, a


verificação da morte deve ser efetuada por dois médicos, de acordo com o regulamento elaborado
pela Ordem dos Médicos.

4.8.3. Certificado de Óbito

O óbito é certificado, na generalidade dos casos, apenas com base nos conhecimentos e
convicção pessoais do médico, de acordo com as artes do ofício. Mas a sua certificação vincula
profissional e legalmente o médico. Há necessidade de estabelecer, com segurança, a causa da morte.
Deve ser totalmente preenchido pelo médico responsável pela informação e não apenas a parte
relativa à causa de morte. Deve ser expressamente referido a causa de morte, a causa directa, a causa
básica, causa intermédia.
Certificado de óbito fetal e neo-natal: destinado a fetos mortos com 22 ou mais semanas e
óbitos de crianças com menos de 28 dias de idade. É de modelo diferente devendo ser preenchido,
sempre que possível, com o auxílio do médico que tenha assistido a mãe.
O certificado de óbito deve ser totalmente preenchido pelo médico responsável pela
informação e não apenas a parte relativa à causa da morte. Deve ser referida a causa da morte
(CID 10) e distinguir mecanismo da morte de causa de morte.

Por outro lado, a OMS recomenda que se distingam três tipos de causa de morte:
a)  Causa directa: o estado patológico ou lesão traumática que provocou directamente a
morte (constitui a última consequência ou efeito da causa básica);
b)  Causa básica: estado patológico responsável pelo desencadeamento de outros estados
patológicos classificáveis como causa directa (por exemplo, as circunstâncias que estiveram nos
antípodas de um suicídio ou de uma lesão);
c)  Causa intermédia: estado patológico que relaciona a causa básica com a causa directa,
quando existe; quando não existe apenas dá lugar às outras duas.

4.8.3.1. Situações em que a verificação e a certificação do óbito


constituem acto único:

Sempre que a morte ocorra no domicílio, com assistência médica e é possível


estabelecer, com segurança, a causa da morte (nestes casos deve-se sempre admitir, ainda que
remota, a hipótese de uma morta não natural, pelo que o se deve proceder obrigatoriamente ao
exame de hábito externo e, se necessário, à autopsia médico-legal);

30
Sempre que a morte se verifique em estabelecimento de saúde e o médico assistente
tenha chegado a um diagnóstico da doença em causa (veja-se que se não houver um diagnóstico
seguro, ou o doente morrer subitamente no em curso improvável para a doença porque estava
interna, ou há suspeita de morte violenta, então, deve ser solicitada uma autopsia). Se anátomo-
patologica o medico hospitalar com base nos resultados da anatomia patológica, passará o
certificado. Se for médico-legal o perito deverá ser o responsável.

4.8.3.2. Situações em que a verificação e a certificação de óbito


constituem actos distintos:
A maioria das autópsias médico-legais;
Mortes súbitas, ignoradas ou violentas;
Um médico verificou o óbito e houve lugar a autópsia médico-legal:
- O perito passa o certificado depois da autópsia (no entanto, por vezes, pode acontecer que
a autoridade sanitária passe o certificado e após a autópsia, se se concluir de forma diferente, haverá
uma nova emissão de certidão de óbito rejeitando a primeira).

4.8.4. SICO
É um sistema de informação cuja finalidade é permitir uma articulação das entidades
envolvidas no processo de certificação dos óbitos, com vista a promover uma adequada utilização
dos recursos, a melhoria da qualidade e a rapidez de acesso aos dados em condições de segurança e
no respeito pela privacidade dos cidadãos. (Lei 15/2012).
É uma uma plataforma electrónica que permite a desmaterialização dos certificados de óbito
e a comunicação electrónica dos dados respectivos às entidades públicas para os quais são relevantes
(cf. lei no15/2012, 3 de Abril). Este sistema apresenta como vantagens:
- Conhecimento do número de mortes por dia;
- Conhecimento mais precoce das causas de morte;
- Processos de codificação mais rápidos e estatísticas mais eficazes;
- Permite incorporar a informação obtida posteriormente á feitura da autópsia;
- Fim do envio de cartas da DGS aos médicos;
- Boletins de informação clínica legíveis;
- Aumento do direito da privacidade aos cidadãos.
Notar: quando há dúvidas deve-se colocar na certidão de óbito: morte de causa
desconhecida; sendo certo que certificado de óbito será emitido após a realização da autópsia
médico-legal ou a recepção da decisão de dispensa de autópsia (deve-se imprimir a guia de
transporte que acompanha o cadáver – e não o certificado de óbito, sendo que este documento deve
ser acompanhado de comprovativo da intervenção do Ministério Público).

31
4.8.5. Exame externo ao corpo
Exame externo do cadáver:
 Importância, procedimentos e elaboração do relatório:
 Sinais relativos à identificação
 Sinais relativos à data de morte
 Sinais relativos à causa de morte
 Sinais relativos ao meio em que permaneceu o cadáver
- Exame do vestuário e objectos que acompanham o cadáver: vitima não identificada e
danos/manchas. Número de peças, estado de conservação. Tamanho, cor, marcas, monogramas,
compostura ou desalinho. Arranjos, estragos (rasgões, arrancamentos, cortes, orifícios, queimaduras,
falta de botões, etc) e a sua correspondência com eventuais lesões na superfície cadavérica.

Exame externo:
a) Sinais relativos à identificação: idade aparente, sexo, altura, peso, estado de nutrição,
cor e forma do cabelo, cor da íris, estado e particularidades da dentadura,
cicatrizes/tatuagens, deformidades/malformações, estigmas profissionais, impressões
digitais, vestuário/objectos de uso pessoal, etc.
b) Sinais relativos à causa de morte: processos patológicos espontâneos – colorações
anormais, edemas, ascite, varizes e úlceras varicosas, escaras de decúbito, processos
sépticos locais, desnutrição. Lesões traumáticas – natureza da lesão, localização,
número de lesões, distância a pontos fixos, forma da lesão, dimensões, direcção,
características da lesão. Cor dos livores. Posição do cadáver.
Colheitas: amostras de cabelos e pêlos. É necessário uma descrição rigorosa e precisa,
atenção a todos os pormenores, é preferível colher a mais do que perder um vestígio.

5. Toxicologia forense
5.8. Conceitos
5.8.1. Toxicologia: A toxicologia é o estudo da interação entre os xenobióticos e os sistemas
biológicos com o objetivo de determinar qualitativamente e quantitativamente o potencial
do xenobiótico para induzir danos, de onde resultem efeitos adversos para os diferentes
organismos. Investiga, igualmente, a natureza destes efeitos adversos, a sua incidência, o
seu mecanismo de produção, os fatores que influenciam o seu desenvolvimento e a sua
reversibilidade e desenvolve os tratamentos para as intoxicações por xenobióticos.
5.8.2. Toxicologia forense: Desde logo, tem um vasto espectro de interesses civis e criminais
dado que a toxicologia forense é uma ciência forense de características essencialmente
analíticas com importante fundamento: o esclarecimento de questões judiciais
presumivelmente relacionadas com a intoxicação seja esta ou não fatal, ou seja, permite
detectar e quantificar xenobióticos em vários tipos de matrizes.

32
5.8.2.1. Objetivo – Os toxicologistas forenses sabem que quando a natureza da(s) substância(s) é
desconhecida, uma análise sistemática terá de ser feita para a(s) identificar e/ou quantificar,
sendo que estes têm sempre presente que em geral não basta identificar a substância: é
preciso demonstrar que a dose é suficiente pois a “dose faz o veneno”. A lei coloca, no
entanto, excepções no caso da fiscalização rodoviária sob influência de substâncias
psicotrópicas e estupefacientes. Deste modo, o seu objectivo fulcral é assegurar a realização
de perícias e exames laboratoriais químicos e toxicológicos no âmbito das actividades da
delegação e dos gabinetes médico-legais que se encontrem na sua dependência, bem como
a solicitação dos tribunais, da Polícia Judiciária, da Polícia de Segurança Pública ou da
Guarda Nacional Republicana.
5.8.3. Toxicocinética – conjunto de processos a que uma substância tóxica é submetida aquando
da passagem pelo organismo, processos esses que vão controlar quer o grau de acesso da
substância tóxica aoseu local de ação específico nos diversos tecidos, bem como determinar
a extensão da sua ação. (absorção, distribuição, metabolismo e eliminação)

5.9. Xenóbióticos
Os principais xenobióticos com interesse no âmbito da toxicologia forense são:
a)  Gases
b)  Aniões e xenobióticos corrosivos
c)  Fármacos
d)  Voláteis (etanol e metanol)
e)  Pesticidas
f)  Drogas de abuso
g)  Metais

5.10. Perícia Toxicológica


  Informação: - Informação social colhida junto de familiares e/ou amigos ou vizinhos da
vítima, de entre os quais, questionar se a vítima consumia drogas (em caso afirmativo, de
que tipo, por que vias e desde quando); se tem antecedentes patológicos (nomeadamente
doença psiquiátrica); tentativas de suicídio (nomeadamente, se há ou não cartas de
despedida).
  Exame do local: nos casos de suspeita de morte por intoxicação, o perito deve dar
especial atenção à informação circunstancial da morte e material encontrado junto da vítima:
- Restos de vómito;
- Cheiro ou odores no local (intoxicação por gases, etc. verificando se a torneira está aberta
ou fechada);
- Presença de braseira ou qualquer outra fonte produtora de monóxido de carbono e se as
janelas e portas se encontram abertas/fechadas;

33
- Existência de dispositivos para recolher gases de combustão de motores (ex: mangueira
ligada ao cano de escape);
- Presença de seringas/agulhas, algodão, limão, tampas de garrafas, colheres;
- Embalagens de medicamentos e/ou frascos ou contentores de outros xenobióticos (nomeadamente,
pesticidas).
  Exame do corpo (na autópsia): as lesões macroscópicas ou microscópicas são apenas
indicativas de determinado tipo de intoxicação e carecem de confirmação toxicológica. Os aspectos
lesionais que podem ser objectivados durante uma autópsia (quer do hábito interno ou externo) em
que se suspeita de intoxicação, não permitem ao perito médico tirar conclusões definitivas sobre as
substâncias responsáveis por determinada morte.
1)  Hábito externo:
- Coloração dos livores;
- Abrasão cutânea nas mãos ou na boca;
- Estigmas de toxicodependência (por exemplo, marcas antigas ou recentes de picadas
intravasculares).
2)  Hábito interno:
- Anotação do cheiro depreendido pelas vísceras (sendo que estas nunca devem ser lavadas
durante a dissecção);
- Laqueação do estômago e dos intestinos (e observação atenta da mucosa das vias
digestivas e do estômago);
- Observação atenta das cavidades passíveis de albergar produtos tóxicos.
Note-se que a amostragem deve ser tanto mais abrangente quanto possível: - Pulmão,
fígado, rim, bílis, conteúdo gástrico;
- Cabelo e unhas;
- Sangue (matriz de eleição);
- Urina.
Sempre que possível devemos analisar a via de acesso, os veículos de acesso a todas as
partes do organismo, as vísceras e a urina (via normal de expulsão). Veja-se, ainda, que num caso
muito concreto é necessário um cuidado redobrado, refiro-me, aos vestígios de arsénio, desde logo
porque este está presente no nosso organismo e ainda, em meios naturais (como a água ou a terra).
Procura e colheita de todos os vestígios biológicos e não biológicos

5.11. Cadeia de Custódia em Toxicologia Forense: é um processo usado para manter e


documentar a história cronológica da evidência, para garantir a idoneidade e a
rastreabilidade das evidências utilizadas em processos judiciais (por exemplo, garantir que
as amostras foram colhidas correctamente, que não foram adulteradas antes de chegar ao
laboratório e que estão em boas condições para serem analisadas). Assim, quando uma

34
amostra entra em laboratório (devidamente acondicionada – em frascos ou envelopes e
mantidas a baixas temperaturas) é recebida, verificada e registada. Deste modo, A escolha
das amostras, a colheita ou o modo como são colhidas, o acondicionamento e o transporte
das amostras são etapas determinantes e eventualmente condicionantes dos resultados da
perícia toxicológica, sendo que se deve ter determinados cuidados com as amostras,
vejamos:
Colheita adequada a cada tipo de análise;
Fechados e selados;
Mantidos ao abrigo da luz e a baixas temperaturas;
Requisições devidamente preenchidas;
Etiquetas com identificação inequívoca, conteúdo, proveniência; Referência à
data/hora da colheita.

5.12. Grupos Toxicológicos de maior relevância nacional


Os principais agentes responsáveis por intoxicações:
i) Medicamentos - os fármacos mais detetados nas intoxicações forenses são:
 Psicotrópicos;-
 Salicilatos;-
 Paracetamol;-
 Antiepiléticos;-
 Benzodiazepinas;-
a. Margem terapêutica - A margem terapêutica é um intervalo de
séricas ou plasmáticas de um fármaco entre as quais é seguro e eficaz o
tratamento de uma dada situação clinica.
São tóxicos potenciais se administrados em dose toxica. Tem
havido um aumentos destas intoxicações devido a facilidade de aquisição,
automedicação, erros de medicação, acidentes com crianças.
 Podem ter utilização suicida ou homicida.
Os medicamentos e a condução: a condução sob o efeito de medicamentos = sonolência,
alterações de visão, alteração de comportamentos e dos reflexos e, ainda, perda de consciência.
Acresce que há uma redução da capacidade de atenção e de vigilância, das capacidades perceptivas,
cognitivas e do desempenho motor e, por conseguinte, há um aumento do tempo de reação.
ii) Pesticidas (organoclorados e organofosforados);-
iii) Drogas de abuso
b. Dependência psíquica – estado mental caracterizado por
comportamentos compulsivos e obsessivos para o consumo de uma
droga para obter prazer ou aliviar uma tensão;-
c. Dependência física – exigência do organismo de consumir uma droga
sob pena do aparecimento de uma síndrome de abstinência;-

35
d. Os consumidores podem ser experimentadores, ocasionais, habituais,
compulsivos e dependentes. Desde logo, importa ao perito saber se a
vitima estava sob o efeito de drogas, atento o disposto no artigo 157.º
do DL 44/2005 de 23 de Fevereiro. Deve desde logo fazer a distinção
entre morte relacionada com droga (droga como factor coadjuvante do
processo que conduziu à morte) e a morte induzida ou provocada
diretamente pela droga – overdose.
e. Consequências – sistema cardiovascular; metabólico, sistema
pulmonar, visão, percepção e humor e capacidades cognitivas e
psicomotoras.
iv) Álcool etílico – efeitos
• Pele:
– Dilatação vascular cutânea
– Flush da face, pescoço e tronco
– Em doses elevadas: palidez da pele por insuficiência circulatória do tipo do choque
• Rim:
– Poliúria, ↑ acidez urina
– Inibe libertação de HAD
• Fígado:
– hepatotóxico directo
– Esteatose e cirrose
• Cardiovascular:
– Vasodilatação
– Elevação da TA
– Aumento do débito cardíaco
– ↑↑ Quantidades: asfixia, impede circulação, choque e analgesia
• Tubo Digestivo:
– ↑ Fluxo de saliva e suco gástrico
– Inibe motilidade, secreções
– Vómitos de origem central

Efeitos no sistema nervoso central:


• Deprime todas as áreas e funções do cérebro
• Depressão centros inibitórios mais elevados

Libertação dos mecanismos normais de controlo social e comportamental.

Efeito inibidor e euforizante

36
• Depressão das áreas de integração + elevadas

Alteração do raciocínio, da discriminação fina, da capacidade de decisão e da função motora.
Assim:
Perturbação dos aspectos cognitivos;
Perturbação do processamento da informação (descoordenação dos movimentos);
Deterioração da análise das aferências sensoriais (aumento do tempos de reacção);
Deterioração da organização das respostas motoras – menor capacidade e rapidez de
decisão; diminuição do poder de diversificar a atenção;

Logicamente quanto maior for a taxa de álcool no sangue, menor é capacidade psicomotora.
Note-se que os efeitos do álcool e as alterações psicomotoras podem ser influenciadas por vários
factores: farmacológicos, motivacionais, situacionais e individuais.
Consumo de álcool e:
- Comportamentos de risco:
1) Sinistralidadedomestica;
2) Sinistralidadelaboral;
3) Sinistralidaderodoviária.
- Comportamentos desviantes:
1) Suicídios;
2) Criminalidade (ofensas corporais, homicídios e agressões sexuais).

Acidentes de viação:
 Factor técnico (10 a 15% dos acidentes rodoviários): condições de funcionamento
do veículo ou características do meio.
 Factor humano (85 a 90% dos acidentes rodoviários): idade, fadiga, experiência,
capacidades psico- sensoriais e psicomotoras, sendo certo que a simples existência
de álcool no sangue num condutor aumenta o risco estatístico de acidente.

Determinação de alcoolémia: TAS = teor ou taxa de álcool no sangue, sendo que temos duas
forma para determinas a TAS:

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Ar expirado:
- Analisador qualitativo: indica a presença
- Analisador quantitativo: quantifica a TAS

“2300 cc de ar alveolar contêm aproximadamente a mesma quantidade de etanol que 1cc de


sangue, quando o ar é medido a 34ºC (relação é pouco susceptível de variações individuais). A
conversão dos valores do teor de álcool no ar expirado em teor de álcool no sangue é baseada no
princípio de 1mg de álcool por litro de ar expirado é equivalente a 2,3g de álcool por litro de
sangue.”
Sangue: depois de ingerido o álcool é absorvido logo no estomago, ao contrário dos
outros alimentos que só são absorvidos na segunda parte do intestino delgado. Portanto, o álcool é
rapidamente absorvido, passando logo para o sangue arterial. Para determinarmos a TAS a colheita
de sangue não deve ser fita na artéria, sendo que o sangue venoso permite-nos determinar com
exactidão a taxa de álcool que já passou pelo sistema nervoso central.
Se é certo que o consumo de álcool e seus efeitos na capacidade de condução têm feito parte
da nossa preocupação nos últimos setenta anos, não é menos correcto assegurar que o impacto das
drogas de abuso na condução rodoviária tem uma importância muito própria, não só pela evidência
epidemiológica acumulada recentemente, mas também pela enorme possibilidade de intervenção
preventiva que apresenta, assim é fundamental a cooperação entre várias entidade, veja-se, por
exemplo:
GNR/ PSP: procedem ao exame de ar expirado (teste do balão) – note-se que os
analisadores de triagem são aparelhos portáteis que nos dão uma ideia da TAS.
INML: procede ao exame de confirmação através do sangue (podemos ter, ainda,
métodos indirectos de determinação das TAS, por exemplo, a urina ou a saliva).
Exames para condução sob o efeito de álcool e substancias psicotrópicas:

Cálculo retrospectivo da alcoolemia:


C0 = Ct + ßt
C0 - Concentração de álcool extrapolada para a hora pretendida
Ct - Concentração de álcool no sangue no momento da extracção
ß - Coeficiente de etiloxidação de álcool do sangue (varia de individuo para individuo)
t - Período de tempo decorrido

 Estas fórmulas para o cálculo retrospectivo são apenas aplicáveis na fase da eliminação. Para
serem de maior fidedignidade exigem diversas determinações das T.A.S e tão próximas quanto
possível da ingestão. Foram elaboradas a partir de estudos experimentais desenvolvidos em
condições não correspondentes às da prática médico-legal, nomeadamente tanatológica. O cálculo
exponencial utilizada em muitas delas leva a uma multiplicação do erro da própria determinação, o
que pode conduzir a desvios inadmissíveis.

38
Local da colheita da amostra de sangue:
Difusão e distribuição post mortem do etanol: no cadáver, a concentração de etanol no
sangue periférico é, teoricamente, mais representativa da concentração existente no momento da
morte, embora não necessariamente a mesma. Se não for possível obter sangue venoso periférico,
utilizar sangue venoso central desde que num intervalo post mortem inferior a 18horas, ausência de
fenómenos putrefactivos (cadáver conservado a 4ºC), ausência de aspiração do vómito e ausência de
etanol no conteúdo gástrico.
Determinação indirecta da alcoolemia: humor vítreo (corpo vítreo do olho) dá mais
facilidade na obtenção da amostra, protegido dos fenómenos putrefactivos e traumas, fluido com boa
estabilidade química e fácil de processar analiticamente, reduzida probabilidade de contaminação
por síntese post mortem, amostra pode ser obtida sem a necessidade de autópsia.
Formação e destruição do etanol no cadáver: no cadáver, por microorganismos, com
contaminação externa e endógena. In vitro, com substratos (glucose, lactato, glicerol, ribose,
aminoácidos, etc.)

5.13. Quem pode pedir análise químico-toxicológicas ao serviço de


toxicologia forense?
5.13.1. Serviço de patologia forense
5.13.2. Comarcas e GML pertencentes à respetiva circunscrição médico-legal;-
5.13.3. Clinica Forense do INMLCF, I.P.

6. Estabelecimento da imutabilidade médica (nexo de causalidade) e Estado


anterior)

Imputabilidade médica (nexo de causalidade): corresponde à relação entre a situação


psico-física de um determinado indivíduo e um determinado facto, é o elemento que permite admitir
cientificamente a existência de uma ligação entre um qualquer evento e um estado patológica. A
explicação dos mecanismos fisiopatológicos que permitiram às lesões iniciais gerar lesões
temporárias ou permanentes, apesar, por exemplo, dos eventuais tratamento. Temos, aqui,
subjacentes alguns critérios – critérios clássicos, a saber:
Natureza adequada do traumatismo para produzir as lesões evidenciadas;
Natureza adequada das lesões a uma etiologia traumática;
Adequação entre a sede do traumatismo e a sede da lesão;
Adequação temporal;
Exclusão da pré-existência do dano relativamente ao traumatismo;
Encadeamento anátomo-clínico;
Exclusão de uma causa estranha ao traumatismo.

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Pode ser Certo ou hipotético, Direito ou indireito, Total ou parcial – sendo que se for
certo, direito e total não existem dificuldades:
Hipotético – quando a análise dos critérios relativos ao nexo de causalidade não
consente o seu estabelecimento com segurança, sucedendo todavia que o perito medico também o
não pode afastar formalmente;-
Indireto- visa a filiação patogénica entre a causa e o efeito;-
Parcial – quando um estado patológico intervem mais do que um único factos
etiológico, o nexo é parcial porque há uma ou mais causas que concorrem, entre as quais o
traumatismo para o resultado do dano. São situações em que o dano é imputável só parcialmente ao
traumatismo.
Estado intercorrente – é toda a alteração de saúde, acidente ou outra, que surge durante ou
depois da ação traumática, que é uma das causas do estado atual.
Predisposição = é uma variedade do estado anterior, que é por definição um estado anterior
muitas vezes mudo ou ignorado, correspondendo frequentemente a um estado psicológico, mental ou
a factores de risco. Por exemplo, a osteoporose da mulher idosa predisponente para a fractura do
colo do fémur, os antecedentes diabéticos, a personalidade paranóide, o alcoolismo, o tabagismo,
etc.
Estado anterior: corresponde ao estado que se verificava imediatamente antes, ou seja, no
momento da ocorrência do factor causador da lesão objecto de valorização. Veja-se que
independentemente do papel que o estado anterior possa ter sobre a evolução do processo patológico
decorrente do evento traumático, o perito médico também deve explicar qual a sua influência sobre o
estado anterior.
 Exteriorização – é a passagem de um estado latente, conhecido ou desconhecido,
mas silencioso, ao estado patente;-
 Descompensação – estado anterior era já conhecido, mas estava estabilizado. O
evento veio faer evoluir este estado.
 Aceleração – precipitação do processo evolutivo sendo a evolução a que se previa
para a doença pré-existente, mas sendo o intervalo evolutivo encurtado;-
 Agravamento – passagem de um estado patológico conhecido e com uma evolução
determinada para uma situaão de maior gravidade desencadeada pelo traumatismo.

7. Avaliação de dano corporal


 Em direito do Trabalho – a indemnização pretende, meramente,
compensar a perda da capacidade de ganho para o trabalho, como tal, não
contempla os danos subjectivos.

 Em direito civil – visa a reparação do dano integral


 Em direito Penal

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Metodologia do exame é relativamente comum para todas as perícias, mas o
objectivo e as conclusões são diferentes.
7.8. Avaliação do dano pessoal pós-traumático em Direito Civil
7.8.1. A avaliação do dano corporal em direito civil: visa definir em termos técnicos e num
quadro jurídico determinado, as lesões e os elementos de dano susceptíveis de serem
objecto de sanção penal e/ou de indemnização, bem como os benefícios sociais, tendo em
vista a reparação, reabilitação e reintegração da vítima.
Veja-se que no âmbito do direito civil há a reparação integral do dano, ou seja, vale entre
nós o princípio da integração integral do dano e, como tal, por mínimo que este seja deve ser, todo
ele, indemnizado. Ou seja, visa-se restabelecer tão exactamente quanto possível o equilíbrio
destruído pelo dano e recolocar a vítima, a expensas do responsável, na situação em que esta se
encontraria se o facto produtor das lesões não tivesse ocorrido (sendo certo que é necessário
considerar não só os danos patrimoniais, mas também os danos não patrimoniais – que são de difícil
quantificação pecuniária e, como tal, devemo-nos referir a eles como mera compensação - que
tenham um reflexo económico directo, ou seja, os lucros cessantes e os danos emergentes).

7.8.2. Objectivo: Definir em termos técnico-científicos, as lesões e os parâmetros de dano que


poderão ser objeto de indemnização, tendo em vista a reparação, reabilitação e reintegração
da vítima.

7.8.3. Metodologia:
 Descrever os danos na pessoa na perspectiva da vivência do trauma e das sequelas (3D)
 Determinar nexo de causalidade e data de cura/consolidação
 Quantificar os parâmetros de dano (patrimoniais e não patrimoniais)
 Orientar a definição das ajudas e adaptações tendo em vista promover a Reintegração,
Autonomia e Independência.
7.8.4. Danos
Danos Patrimoniais (económico) suscetíveis de avaliação e reparação pecuniária (despesas
e perda de ganho);-
Danos não patrimoniais (moral ou não económico-saúde bem-estar, beleza, perfeição
física, honra, bom-nome) – mais uma compensação para o lesado do que uma indemnização.
O dinheiro não remove o dano, mas proporciona uma satisfação ao lesado suscetível de o
compensar, é uma “pena” para o lesante.
Reparação do dano corporal – uma mesma lesão ou sequela orgânica pode ter
consequências diferentes em termos pessoais e profissionais; dificuldade na obtenção de dados sobre
os antecedentes e sobre a evolução das lesões, reações psicológicas aos traumatismos e situações de
simulação ou dissimulação.
7.8.5. Reparação do dano Corporal

41
Danos temporários – défice funcional temporário, repercussão temporária nas atividades
profissionais (estes a dois níveis parcial ou total), quantum doloris. Temos, aqui, de ter em conta
alguns parâmetros, tais como:
a) Défice funcional temporário: corresponde ao período durante o qual a vítima, em
virtude do processo evolutivo das lesões no sentido da cura ou da consolidação, viu condicionada a
sua autonomia na realização dos actos correntes da vida diária, familiar e social (exclui-se aqui a
repercussão na actividade profissional). Poderá ser total ou parcial, coincidindo a primeira situação
com os períodos de internamento e/ou de repouso absoluto, e iniciando-se a segunda logo que a
evolução das lesões passe a consentir algum grau de autonomia na realização desses actos, ainda que
com limitações. Descreve-se em número de dias.
b) Repercussão temporária nas actividades profissionais: corresponde ao período
durante o qual a vítima, em virtude do processo evolutivo das lesões no sentido da cura ou da
consolidação, viu condicionada a sua autonomia na realização dos actos inerentes à sua actividade
profissional habitual. Poderá ser total ou parcial. O tempo de repercussão temporária absoluta (total)
nas actividades profissionais envolverá desde logo os períodos de internamento e/ou de repouso
absoluto, entre outros, passando a repercussão temporária parcial nas actividades profissionais logo
que a evolução das lesões consinta algum grau de autonomia na realização dessas mesmas
actividades, ainda que com limitações. Aqui é necessário precisar durante quanto tempo as lesões em
evolução impediram a vítima de exercer total ou parcialmente a sua atividade profissional
(considerar a atividade declarada como sendo a exercida no momento do evento traumático causal;
assinalar quando o período de interrupção proposto decorre das declarações da vítima, e explicar as
situações em que se afigure ter existido um arrastamento desnecessário da baixa laboral.
c) Quantum doloris: corresponde à valoração da dor física resultante não só dos ferimentos
como dos tratamentos e da dor em sentido psicológico. O sofrimento físico e psíquico vivenciado
pela vítima durante o período de danos temporários (entre a data do evento e a cura ou consolidação
das lesões). Devemos ter em conta, por exemplo, o tipo e o número de lesões e tratamentos
instituídos, bem como a duração e complexidade do período de reabilitação funcional. A sua
valoração será expressa através de uma escala quantitativa de sete graus de gravidade crescente (1/7
a 7/7).
i) factores internos - ansiedade e angustia criadas pelas circunstâncias inerentes ao
acidente, como sejam as resultantes de hospitalização, angústia e ansiedade face a
intervenções cirúrgicas e particularmente à anestesia geral, a consciência do risco de vida, o
afastamento do meio e das responsabilidades familiares etc...
ii) Factores externos – características das lesões traumáticas (natureza e gravidade
das lesões iniciais, localização, extensão, profundidaed e número de lesões) ; modalidade de
tratamento ( tipo e número de tratamento, número e natureza das intervenções cirúrgicas,
natureza e duração dos tratamentos de fisiatria); evolução das lesões (incidentes de

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imobilização e evolutivos; número e duração dos internamentos hospitalares, número e
natureza dos exames complementares, transportes)

 Dano permanente: alguns parâmetros a ter em conta no âmbito do dano permanente


são:
a) Dano estético (envolvendo uma avaliação personalizada da afectação da
imagem da vítima quer em relação a si próprio, quer perante os outros. Veja-se que uma
cicatriz no rosto de um jovem de 20 anos deve ser avaliada de forma diferente do qua a de
uma idosa de 90 anos);
b) Prejuízo de afirmação pessoal (avaliação do reflexo das sequelas em termos de
diminuição ou privação das satisfações e prazeres da vida);
c) Afectação permanente da integridade físico-psíquica: corresponde à afectação
definitiva da integridade física e/ou psíquica da pessoa, constitutiva de um défice funcional
permanente com eventual repercussão nas actividades da vida diária, incluindo as familiares
e sociais, e sendo independente das actividades profissionais. A afectação da integridade
físico-psíquica constitui uma redução definitiva do potencial físico, psico-sensorial e/ou
intelectual resultante de um dano anátomo-fisiológico medicamente constatável. É avaliado
relativamente à capacidade integral do indivíduo (100 pontos), podendo, eventualmente,
traduzir-se num compromisso total dessa capacidade (ex.: estado vegetativo). Veja-se que
este facto é determinado tendo em conta a globalidade das sequelas do caso concreto (corpo,
funções e situações de vida) e tendo como elemento indicativo de referência, a Tabela de
Avaliação de Incapacidades em Direito Civil (Anexo II do DL352/2007, de 23 de Outubro);
d) Repercussão na actividade profissional (corresponde ao rebate das sequelas no
exercício da actividade profissional habitual da vítima, sendo que o estado sequelar pode ser
compatível, exigir esforços adicionais ou ser impeditiva da actividade profissional) e na
actividade sexual;
e) Dependências (poderão se temporárias ou permanentes, sendo que se englobam
aqui, por exemplo, a dependência da vítima face a um terceiro, as ajudas medicamentosas ou
necessidade de recurso à tecnologia a nível arquitectónico, de mobiliário e/ou equipamentos,
no sentido de permitir a realização de determinadas actividades diárias a pessoas que, de
outra maneira, o não conseguiriam fazer).

7.8.6. Avaliação do dano corporal: a prova pericial é essencialmente médica e apresenta-se sob a
forma de relatório (onde se descreve os danos temporários e permanentes, resultado dos
exames efectuados, se interpretam e valoram os resultados e se elaboram um conjunto de
conclusões devidamente fundamentadas), com base na entrevista, nos elementos
documentais e nos exames efetuados Tal relatório médico-legal é composto por:
a) Preâmbulo (identificação do examinado e do requisitante);

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b) Informação (história do evento, dados documentais e antecedentes) – engloba-se, aqui,
a idade e a profissão actual à data do acidente, o dia, data e hora do acidente, tipo e
mecanismo de evento traumático, circunstância da ocorrência, resumos da lesões, data
da retoma da profissão (quanto à primeira), quanto à segunda é fundamental a descrição
e comprovação das lesões sofridas, referenciando sempre a fonte de informação e
fazendo um resumo dos dados existentes, transcrevendo apenas quando necessário;
quanto aos antecedentes, pessoais (patológicos e/ou traumáticos relevantes, fornecidos
pela vitima e confirmados se possível por documentação, importante estabelecer nexo
de causalidade) ou familiares,
c) Estado actual (queixas, exame objectivo e exames complementares) – temos, aqui, a
avaliação global da pessoa, fundamentada quer nas queixas da vítima quer no exame
médico propriamente dito. Veja-se que as queixas terão sempre subjacente uma
denotação bastante subjectiva; já o exame objectivo determinará o estado geral
(consciência, orientação temporo-espacial, colaboração, lado dominante e tipo de
marcha) e as lesões/ sequelas relacionadas com o evento (a sua discrição
pormenorizada, a respectiva foto-documentação) e lesões os sequelas sem relação com
o evento; e, por fim, os exames complementares visam um melhor esclarecimento da
situação e avaliação da situação (normalmente são exames de especialidade);
d) Conclusões preliminares – sempre que não seja possível concluir o relatório de forma
definitiva (por ainda não ter sido atingida a cura ou consolidação, ou porque necessaiso
EcD ou registos clínicos) deve indicar-se o que se pretende (podendo esses elementos
ser requeridos através do Tribunal ou pelo perito) e se é ou ão necessária nova
observação da vítima.
e) Discussão (é um capítulo fundamental onde o perito analisará, numa linguagem
acessível a todos, os vários componentes do dano resultante, relacionando as lesões com
as alterações encontradas e com as queixas do examinando, de modo a fundamentar as
suas conclusões). Devem-se, aqui, consignar os seguintes aspectos: -» Admissão do
nexo de causalidade traumatismo/ dano ou seja, terá de haver uma natureza adequada
do traumatismo para produzir as lesões evidenciadas e natureza adequada das lesões a
uma etiologia clinica, bem como uma adequação temporal e um encadeamento
anátomo-clínico, com exclusão de causa estranha ao traumatismo. - Devem-se, aqui,
consignar-se aspectos como a determinação da data da cura/consolidação médico-
legal das lesões (enquanto que a cura corresponde à reconstituição completa da situação
anterior (ausência de sequelas); a consolidação corresponde ao momento em que as
lesões se fixam e adquirem carácter permanente, não sendo necessário mais tratamentos,
a não ser para evitar um agravamento, e em que é possível apreciar um certo grau de
incapacidade permanente que constitui um prejuízo definitivo, note-se que esta não
coincide necessariamente com o início da actividade profissional) e a análise e

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valoração dos parâmetros de dano temporário e do dano permanente. Veja-se que
existe uma tabela de avaliação de incapacidades permanentes em direito civil com
carácter indicativo (DL 352/2007, de 23 de Outubro), tendo de existir uma a descrição
pormenorizada das queixa, sequelas bem como implicação na autonomia da pessoa.
f) Conclusão: devem ter presente:
- Data da cura/consolidação médico-legal das lesões fixável em data;
- Data da cura/consolidação médico-legal das lesões fixável em data;
- Período de défice funcional temporário total, fixável em dias;
- Período de défice funcional temporário parcial, fixável em dias;
- Período de repercussão temporária total na actividade profissional, fixável em dias;
- Período de repercussão temporária parcial n actividade profissional, fixável em dias;
- Quantum doloris, fixável no grau X/7;
- Afectação permanente da integridade físico-psíquica, fixável em x pontos;
- As sequelas descritas são, em termos de repercussão na actividade profissional
(compatíveis, esforços suplementares, impeditivas);
- Dano estético (DE), fixável no grau X/7; -
- Repercussão na actividade sexual, fixável no grau X/7;
- Repercussão nas actividades desportivas e lúdicas, fixável no grau X/7;
– Dependências
Ressalve-se a importância do estado anterior, ou seja, do estado que se verificava
imediatamente antes, ou seja, no momento da ocorrência do factor causador da lesão objecto
de valoração.
7.8.7. Definições
Cura médico-legal – recuperação anatómica, funcional e/ou psicosensorial integral, não
ficando a vítima afetada por qualquer dano permanente
Consolidação médico-legal – Momento em que as lesões deixam de sofrer uma evolução
regular medicamente observável – seja pelo fato de term estabilazado definitivamente, seja porque
não são susceptiveis de sofrer modificações a não ser após um longo período de tempo – e não sendo
necessário mais tratamento a não ser para evitar um agravamento, tendo ficado a vitima afetada por
dano(s) permanente(s) sequelas.

Sob o ponto de vista formal a conclusão sobre a data da cura ou de consolidação


deve apontar para uma data.
7.9. Avaliação pericial do dano corporal em Direito do Trabalho

Acidente de trabalho: é acidente de trabalho o acidente que se verifique no local e tempo de


trabalho e produza directa ou indirectamente lesão corporal, perturbação funcional ou doença de que
resulte a morte ou a redução da capacidade de trabalho ou de ganho da vítima. Considera-se, ainda,
acidente de trabalho o acidente ocorrido no trajecto normalmente utilizado e durante o período de
tempo habitualmente gasto, ou quando haja desvios ou interrupções motivados por necessidades

45
atendíveis, força maior ou caso fortuito (art.8 e 9 da Lei). Ou seja, englobam-se aqui os acidentes
ocorridos:
Entre a residência habitual ou ocasional (da porta de acesso para as partes comuns do
edifício ou para a via pública) e o local de trabalho;
Entre a residência habitual ou ocasional ou o posto de trabalho e o local de pagamento
da retribuição;
Entre a residência habitual ou ocasional ou o posto de trabalho e o local onde deva ser
prestada assistência por virtude de anterior acidente;
Entre o local de trabalho e o local de refeição;
Entre o local de trabalho e o local onde deva prestar qualquer trabalho determinado
pela entidade empregadora;
No local de trabalho ou fora deste, quando no exercício do direito de reunião ou de
actividade de representantes de trabalhadores;
No local de trabalho, quando em frequência de curso de formação profissional ou, fora
do local de trabalho quando exista autorização expressa do empregador para tal frequência;
Em actividade de procura de emprego;
Quando verificado na execução de serviços determinados pela entidade patronal.

Descaracterização do acidente de trabalho (art.14o da Lei): não haverá acidente de


trabalho enquanto tal quando:
For dolosamente provocado pelo sinistrado;
Provier de acto ou omissão que importe violação, sem causa justificativa, das
condições de segurança;
Provier exclusivamente de negligência grosseira do sinistrado;
Provier de caso de força maior;
Resultar da privação permanente ou acidental do uso da razão do sinistrado, salvo se
tal privação derivar da própria prestação de trabalho.

7.9.1. Avaliação do Dano Corporal


Desde logo, o que é que se deve reparar? Deve-se reparar os acidentes dos quais resultem
lesão corporal, perturbação funcional ou doença quando se verifique a morte ou a redução da
capacidade de ganho ou de trabalho.
No entanto, existem vários campos distintos, cada um com regras específicas no âmbito da
avaliação do dano corporal, vejamos:
a)  Direito do trabalho: a indemnização pretende, meramente, compensar a perda da
capacidade de ganho para o trabalho, como tal, não contempla os danos subjectivos.
b)  Direito civil: visa a reparação do dano integral (já se olha aos danos subjetivos)
Note-se, porém, que podemos ter alguns elementos limitativos da respectiva reparação,
deste modo apenas se deve avaliar a incapacidade para o trabalho e para o trabalho tal como ele era

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no dia do acidente. Por outro lado, a vítima pode ser titular de mais de um direito de reparação, não
obstante, o mesmo dano só pode ser reparado uma vez apesar de poder haver vários processos.

7.9.1.1. Tipos de Danos

Decorrente de um acidente de trabalho podemos ter várias espécies de danos, nomeadamente:


  Danos temporários (= incapacidade temporária profissional): deve ser avaliado tendo
em conta a incapacidade temporária e o quantum doloris, ou seja, a valorização das dores físicas e
psiquiátricas resultantes dos ferimentos e tratamentos, e situa-se até à consolidação das lesões (sendo
que o indivíduo recupera totalmente).
  Danos permanentes (= incapacidade permanente profissional): para além da
consolidação está o dano permanente que deve ser avaliado tendo em conta vários parâmetros:
incapacidade permanente, dano estético e prejuízo de afirmação pessoal.

7.9.1.2. A participação pela seguradora ao tribunal:


As incapacidades permanentes devem ser participadas aos tribunais até 8 dias, a contar da
cura clínica, por escrito;
As incapacidades temporárias superiores a 12 meses, por escrito, no prazo de 8 dias a contar
da sua verificação.
As mortes, imediatamente, por telecópia ou outra via de registo escrito de mensagens com o
mesmo efeito, o que não invalida a participação formal, no prazo de 8 dias, a contar do falecimento;
As incapacidades temporárias convertem-se em permanentes decorridos 18 meses, podendo
ser requerido exame pericial para avaliar o respectivo grau de incapacidade. No entanto, este prazo
pode ser prorrogado até ao máximo de 30 meses pelo MP, a pedido da entidade responsável.

A participação ao Tribunal compreende uma fase conciliatória e uma fase


contenciosa (frustrando-se aquela?)
Veja-se que as juntas médicas podem ser alvo de revisão, sendo que esta terá lugar quando
se modifique a capacidade de ganho por, por exemplo, agravamento, recidiva, recaída ou melhoria
da lesão, intervenção clínica ou aplicação de prótese ou ortótese e formação ou reconversão
profissional. No caso de recidiva (ou reincidência) ou agravamento, o direito às prestações em
espécie mantém-se após a alta, seja qual for a situação nesta definida, e abrange as doenças
intercorrentes relacionadas com as consequências da doença profissional.

Juntas médicas: A Junta Médica é constituída por três peritos médicos e presidida pelo
Juiz. Reúne-se para dar parecer sobre a avaliação efectuada ao sinistrado, quando requerida pela
parte ou partes que não se conformam com o resultado da avaliação médica do exame singular ou de
revisão Devem os peritos do INML que intervierem em Juntas, esforçar-se por entender o resultado
do exame singular efectuado, excepcionalmente se afastando dele. Caso, por razões bem claras e

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clinicamente explicáveis, haja necessidade de se afastar desse valor, deve apresentar a sua
fundamentação para o facto, escrita no relatório da Junta.

Recidiva ou agravamento: No caso de recidiva ou agravamento, o direito às prestações em


espécie mantém-se após a alta, seja qual for a situação nesta definida, e abrange as doenças
intercorrentes relacionadas com as consequências da doença profissional.

7.9.1.3. Tabelas de incapacidades:


a) Vantagens:
o Mantém o equilíbrio e a harmonia (permitem a uniformização de critérios
– igualdade de tratamento para situações equiparáveis).
o Controlam a indisciplina / subjectividade do perito.
o Facilitam os acordos extrajudiciais.
o Os coeficientes de incapacidade arbitrados têm um valor indicativo (não é
vinculativa).
b) Desvantagens:
o Valorizam as sequelas de forma imprecisa, acautelando pouco o rigor
científico.
o Não têm em consideração a capacidade restante.
o Muitos peritos sujeitam-se passiva e acriticamente aos valores arbitrados
nas tabelas (as tabelas devem dar só um valor indicativo).
o As prestações de AT e DP são irrenunciáveis.
o Obrigatoriedade da participação dos AT e DP.
o Processo judicial completamente gratuito para as vítimas ou familiares.
o Existência de fundo de garantia e actualização de pensões.
o Infracção da Companhia de Seguros se não pagar e da EP se não estiver
segura
o As vítimas de AT não necessitam de fazer o ónus da prova. As lesões
verificadas a seguir ao acidente presumem-se dele (a EP tem de provar o
contrário).

Doença profissional: tem uma ligação com a actividade profissional, o que não quer dizer
que todas as doenças que tenham uma conexão profissional sejam consideradas doença profissional.
Caracteriza-se pela causa e circunstância em que ocorre. Distingue-se do acidente sobretudo pela
forma de actuação – o acidente ocorre subitamente e a doença insidiosamente.

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Existe, actualmente, uma tabela nacional de incapacidades (DL 352/2007, de 23 de
Outubro) que tem por objectivo fornecer as bases de avaliação do prejuízo funcional sofrido em
consequência de acidente de trabalho e doença profissional, com redução da capacidade de ganho.

7.9.1.3.4. A incapacidade pode ser:


 Temporária:
1) Incapacidade Temporária Profissional Absoluta (ITPA): corresponde ao período
durante o qual a vítima esteve totalmente impedida de realizar a sua actividade profissional habitual
(englobamse, aqui, o internamente em serviço de saúde e os de necessidade de repouso absoluto).
Descreve-se em número de dias de incapacidade, determinados com base na análise dos registos
clínicos relativos à situação, do quadro clínico concreto, da informação obtida e das exigências da
sua profissão habitual. Algumas situações clínicas podem envolver vários períodos de ITPA,
decorrentes, por exemplo, de eventuais complicações, recaídas, recidivas ou cirurgias
(designadamente para extracção de material de osteossíntese).
2) Incapacidade Temporária Profissional Parcial (ITPP): corresponde ao período em
que a vítima passou a ter pelo menos 50% da capacidade necessária para desenvolver a sua
actividade profissional habitual, ainda que com limitações. Descreve-se em número de dias e taxas
de incapacidade determinados com base na análise dos registos clínicos relativos à situação, do
quadro clínico concreto, da informação obtida e das exigências da sua profissão habitual. Existem
habitualmente vários períodos de ITPP, devendo ser a primeira taxa fixada no decurso do primeiro
exame médico pelo menos no dobro do coeficiente previsível numa futura situação de incapacidade
permanente, sem ultrapassar o coeficiente 1, e sendo reduzida gradualmente (salvo em caso de
recaída ou agravamento imprevisto, confirmado por diagnóstico fundamentado), até à alta definitiva
com estabilização da situação clínica.
A incapacidade temporária converte-se em permanente decorridos 18 meses consecutivos,
podendo ser requerido exame pericial para (re)avaliar o respectivo grau de incapacidade.
Verificando-se que ao sinistrado está a ser prestado tratamento clínico necessário, este prazo pode
ser prorrogado até ao máximo de 30 meses, pelo Ministério Público, a pedido da entidade
responsável.
 Permanente: corresponde à perda da capacidade de trabalho em resultado de uma ou mais
disfunções, como sequela final da lesão inicial, sendo a disfunção total designada por incapacidade
permanente absoluta para todo e qualquer trabalho. Podem existir diversos níveis de incapacidade
permanente: incapacidade permanente parcial (IPP), incapacidade permanente absoluta para o
trabalho habitual (IPATH) e incapacidade permanente absoluta para todo e qualquer trabalho (IPA).
É determinada tendo em conta a globalidade das sequelas do caso concreto (corpo, funções e
situações de vida, com particular valorização da actividade profissional), sendo a quantificação
dessas sequelas concretizada através da Tabela Nacional de Incapacidades por Acidentes de
Trabalho ou Doenças Profissionais (TNI - Anexo 1 do Decreto Lei nº 352/2007, de 23 de Outubro).
Nos termos da tabela nacional de incapacidade:

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 A cada situação de prejuízo funcional corresponde um coeficiente (%) que traduz a perda
da capacidade de trabalho, sendo a disfunção total designada como incapacidade permanente
absoluta para toda e qualquer profissão, expressa pela unidade;
 Sempre que circunstâncias excepcionais o justifiquem, pode ainda o perito médico
afastar-se dos valores dos coeficientes previstos, inclusive nos valores iguais a 0,00 expondo
claramente e fundamentando as razões que a tal o conduzem e indicando o sentido e a medida do
desvio em relação ao coeficiente;
 As incapacidades que derivem de disfunções ou sequelas não descritas na tabela são
avaliadas pelo coeficiente relativo a disfunção análoga ou equivalente;
 A atribuição da incapacidade permanente absoluta para o trabalho habitual deve ter em
conta: a capacidade funcional residual para outra profissão compatível com esta incapacidade
atendendo à idade, qualificações profissionais e escolares e a possibilidade, concretamente avaliada,
de integração profissional do sinistrado ou doente.
Ónus da prova:
 Se a lesão corporal (perturbação ou doença) for reconhecida a seguir a um acidente
presume-se consequência deste;
 Se a lesão corporal (perturbação ou doença) não for reconhecida a seguir a um acidente
compete ao sinistrado ou aos beneficiários legais provar que foi consequência dele.
Veja-se que:
1) Confere também direito à reparação a lesão que se manifeste durante o tratamento
doença e que seja consequência de tal tratamento;
2) A predisposição patológica não exclui o direito à reparação integral, salvo quando tiver
sido ocultada (ou tiver sido causa única da lesão ou doença);
3) Sempre que seja considerado adequado ou conveniente, pode o tribunal solicitar parecer
às entidades competentes, sobre as efectivas possibilidades de reabilitação do sinistrado;
4) O processo deve conter obrigatoriamente: - Inquérito profissional; - Estudo do posto de
trabalho; - História clínica; - Exames complementares de diagnóstico necessários.
5) Quando a extensão e gravidade do défice funcional inclinar para o valor mínimo do
intervalo de variação dos coeficientes, os peritos podem aumentar o valor da incapacidade global no
sentido do máximo, tendo em atenção: o estado geral da vítima (capacidades físicas e mentais), a
natureza das funções exercidas, aptidão e capacidade profissional e a idade.
6) Regra de Balthazard: no caso de lesões múltiplas, o coeficiente global de incapacidade
será obtido pela soma dos coeficientes parciais, segundo o princípio da capacidade restante,
calculando-se o primeiro coeficiente por referência à capacidade do indivíduo anterior ao acidente e
os demais à capacidade restante, fazendo-se a dedução sucessiva do coeficiente já tomados em conta.
No caso de lesões múltiplas que respeitem a funções diferentes, o coeficiente global de incapacidade
será determinado pela soma dos coeficientes que correspondem a cada situação. O primeiro dos

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coeficientes considerado referir-se-á à capacidade do sinistrado anterior ao acidente e os demais
reportar-se-ão à mesma capacidade, feita, porém, dedução dos coeficientes já tomados em conta.
7) Factor de bonificação 1,5: perda de função inerente ao posto de trabalho, veja-se que os
coeficientes de incapacidade previstos são bonificados com uma multiplicação pelo factor 1,5: se a
vítima não for reconvertível em relação ao posto de trabalho tiver 50 anos ou mais ou quando a lesão
implicar alteração visível do aspecto físico.
8) Estado anterior: quando a lesão ou doença consecutiva ao acidente for agravada por
lesão ou doença anterior a incapacidade avaliar-se-á como se tudo dele resultasse, a não ser que pela
lesão ou doença já tenha recebido capital de remissão ou esteja a receber pensão.
9) No caso de incapacidade permanente anterior a reparação será apenas a correspondente à
diferença entre a incapacidade anterior e a que for calculada como se tudo fosse imputado ao
acidente.

7.10. Avaliação do Dano em Direito Penal


Os exames efectuados em sede de Direito Penal, são relativos a:
 Crimes contra a integridade física (agressões e acidentes de viação);-
 Maus tratos e violência doméstica;-
 Crimes Sexuais.

a) Ofensas à integridade física


Objetivos da perícia – avaliar as consequências de ofensas corporais, sendo um auxílio
para os magistrados quanto à tipificação do crime e referência quanto ao doseamento da pena a
aplicar e investigar se as vítimas apresentam alguns dos resultados previstos na Lei (Código Penal –
Capítulo III – DOS CRIMES CONTRA A INTEGRIDADE FÍSICA – artigos 143.º e 144.º)
Conceitos utilizados na prática perícial
Conceito funcional de órgão (órgão funcionalmente relevante) conceito médico-legal–
órgão ou membro que funcionalmente sejam relevantes, podendo a sua “privação” ser temporária ou
permanente, total ou parcial (não tem de resultar necessariamente supressão ou privação total do
órgão, bastando que haja diminuição ou redução grave da função específica que ele desempenha.
(Privação anatómica, mas também privação ou afetação grave da função do órgão ou membro; sendo
que esta importância depende da ciência medica e deverá ser aferida para cada vítima em partivular,
atendendo à atividade por ela desempenhada e à relevância que o órgã ou membro tem para si, esta
importância é susceptivel de ser valorizada através da descrição pormenorizada das consequências
da sua produção, incluído o efeito nas situações concretas da vida da vitima (gerais e profissionais).
Desfiguração grave - esta não se limita ao rosto ou a zonas descobertas do corpo e deverá
ser grave e permanente. O perito deverá informar se a desfiguração é ou não permanente, ou seja,
não é susceptivel de ser alterada com o tempo ou através de uma intervenção médico-cirurgica. O
dano não deve ser considerado apenas do ponto de vista estático mas também dinâmico. (descrição

51
pormenorizada e fotodocumentação, com autorização prévia da vitima). Deve ter em conta a
extensão e visibilidade do dano bem como as circunstâncias pessoas da vítima que possam ser
relevantes.
Doença particularmente dolorosa ou permanente- corresponde a uma situação
clinicamente identificada como causadora de elevado sofrimento físico, podendo ser temporária ou
permanente. A avaliação da intensidade deste sofrimento pode ser feita através da descrição do tipo
de lesões sofridas e dos tratamentos efetuados (penosidade e morosidade envolvidas). Doença
duradora, sem contudo envolver a ideia de perpetuidade.
Anómalia psíquica grave ou incurável – processo patológico em que há alterações
importantes no comportamento, variações de humor, transtornos emotivos etc... e em que há
remissão completa pelo tratamento. Justifica sempre uma avaliação por psiquiatria forense, sendo
fundamental o estabelecimento do nexo de causalidade entre a agressão e a anomalia psíquica, que
deverá ser fundamentada no relatório pericial. Engloba todos os casos de afetação profunda das
capacidades mentais e intelectuais.
Perigo para a vida – quando o legislador qualifica a conduta em função do resultado perigo
para a vida, questiona-se a natureza do perigo. Duas noções:
Perigo concreto – probabilidade concreta e presente do resultado letal, perigo sério,
atual, efetivo, não remoto ou meramente presumido para a vida do lesado. Situações que
correspondem à formulação clinica de um prognostico reservado, traduz uma situação de morte
iminente, em dado momento em consequência das lesões corporais. Perigo concreto e não
simplesmente abstrato.
Perigo potencial – deve ser assinalado no relatório os casos em que ocorreu risco,
ainda que potencial. É uma expectativa, ainda que razoavelmente possível ou mesmo provável.
Risco, meramente presumido.
Doença – neste conceito não importa que a alteração incida ou não sobre a capacidade de
trabalho, requeira ou não intervenção terapêutica, comporte ou não um rebate apreciável do
organismo;-
Tempo de doença - Período de tempo que decorre entre a produção de lesões e a cura ou
consolidação
Cura – recuperação anatómica, funcional e psico-sensorial integral com restitutio ad
integrum (ie. A pessoa fica como antes da lesão)
Danos temporários – compreende o período de doença (n.º de dias), afetaç\ao da
capacidade de trabalho geral, e afetação de capacidade de trabalho profissional – existência
ou não de perigo de vida.
Consolidação – recuperação anatómica, funcional e psico-sensorial parcial, com sequelas
que se mantêm a partir de determinando momento
Data da consolidação:

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Danos permanentes – consequências permanentes (averiguar aexistência
das previstas no artigo 144.º do CPP) – necessidade de medidas psicossociais)

Relatório Médico-legal
Neste caso, o relatório médico-legal é composto por:
1)Preâmbulo(engloba-se aqui informações como o dia, a hora, o local;o tipo de exame;
identificação do perito e do examinado). Relativamente ao tipo de exame podemos ter:
Exame directo (é o primeiro exame que se faz às lesões ou vestígios que o sinistrado
possa apresentar);
Exame de sanidade (faz-se tantos quantos os necessários para se averiguar a evolução
das lesões);
Exame complementar (por exemplo, se o examinado afirma que já foi examinado num
outro hospital, então, deve o perito requere a respectiva ficha a essa instituição – com base no que
está escrito nesta ficha o perito compara os resultados dos exames que fez com os dados que recebe).
2)  Informação(subjaz aqui o tipo de ocorrência –queda, agressão, acidente, etc., se a vítima
já foi ou não socorrida ou radiografado – esta informação baseia-se no que o sinistrado refere daí não
ser vinculativa);
3)  Descrição–contém:
- A observação e a descrição minuciosa das lesões (o seu número, extensão, profundidade,
cor – note-se que o perito nunca pode afirmar a causa que provocou aquela lesão, diz antes
que a lesão é compatível de ser produzida, por exemplo, por um cinto de segurança;
- Uma descrição cuidada pode dizer-nos qual foi o instrumento utilizado, por exemplo, as
equimoses podem ser provocadas por cintos de segurança ou por maus tratos; as
queimaduras por cigarros (veja-se que quando encontramos lesões nas partes interiores –
fígado ou pâncreas - é porque é possível ter havido maus tratos);
4)  Discussão (nem sempre se justifica) = serve para:
- Tornas as conclusões acessíveis a quem as vai julgar;
- Dar explicações auxiliares e desmitificar situações ambíguas ou de difícil qualificação (por
exemplo, um individuo que sofre uma amputação de uma das extremidades digitais – esta lesão cabe
no â,bito do art.144 do CP – no entanto, a sua valorização para efeitos de avaliação da incapacidade
de trabalho profissional será diferente consoante se trate de um pedreiro, pianista ou um cirurgião).
5)  Conclusões – devem pronunciar-se sobre algumas questões:
Análise do nexo de causalidade (imputabilidade médica) – corresponde ao estabelecimento
de uma relação entre a alteração na integridade psicofísica de uma dada pessoa e um determinado
evento. Deverá ter em consideração os critérios clássicos:
- Natureza adequada do ato ou evento em causa para produzir as lesões ou sequelas
observadas;
- Certeza diagnóstica, ou seja, uma natureza adequada das lesões ou sequelas à etiologia em
causa;
- Exclusão da pré-existência do dano:

53
- Adequação entre a região atingida e a sede da lesão ou sequela;
- Adequação temporal;
- Encadeamento anátomo-clínico;
- Exclusão de causa estranha.
- Natureza do traumatismo
O perito deve pronunciar-se quanto à natureza do(s) instrumento(s) que produziram as
lesões se tal é ou não compatível com a informação prestada.
- Consequências temporárias
Determinação da data de consolidação médico-legal – situar-se-á no momento em que se
constatou clinicamente que as lesões deixaram de sofrer uma evolução regular medicamente
observável, seja pelo facto de terem estabilizado definitivamente, seja porque não são
susceptíveis de sofrer modificações senão após um longo período de tempo, não sendo
necessários mais tratamentos a não ser para evitar um agravamento, e em que é possível
apreciar a existência de sequelas.
- Fixação do período de doença (em dias) com
- Determinação de afectação ou não da capacidade de trabalho geral e da capacidade de
trabalho profissional (em dias) - Período durante o qual a vítima, em virtude do processo evolutivo
das lesões no sentido da cura ou da consolidação, viu afetada a sua capacidade de trabalho geral
(atos correntes da vida diária, familiar e social), bem como afetada a sua capacidade de realização
dos atos inerentes à sua atividade profissional habitual.
Consequências permanentes
Determinação da existência ou não de consequências permanentes, como consequência do evento
em apreço e, caso existam, proceder à sua explanação sumária:
- (0,2) Privação de importante órgão ou membro
Traduzindo o termo “privação” não somente a privação anatómica mas, também a provação/afetação
grave de função do órgão ou membro. Os órgãos e membros contemplados neste artigo serão aqueles
que funcionalmente sejam relevantes, podendo a sua “privação” ser total ou parcial, temporária ou
permanente. A import ncia suscept vel de ser valorizada através da descrição pormenorizada das
consequências da sua produção, incluindo o efeito nas situações concretas da vida da vítima (gerais e
profissionais).
- Desfiguração grave e permanentemente; Alteração, em grau elevado, do aspecto, da
figura, do ofendido, devendo ser avaliada quanto ao seu carácter de permanência (susceptibilidade
de ser alterada com o tempo ou através de uma intervenção médico-cirúrgica) e quanto à sua
gravidade (extensão e visibilidade do dano e circunstâncias pessoais da vítima que relevem para a
sua situação específica no contexto relacional). Deve ser considerado do ponto de vista estático e
dinâmico (claudicação da marcha, desvio da comissura labial com perturbação da mímica facial e
fala).

54
- Perda ou afetação, de maneira grave, a capacidade de trabalho, as capacidades intelectuais,
de procriação ou de fruição sexual, ou a possibilidade de utilizar o corpo, os sentidos ou a
linguagem; Perda ou afetação tanto temporárias como permanentes, desde que graves;
“capacidade para o trabalho” deve ser entendida como a possibilidade de exercício da
profissão da vítima, bem como de qualquer outra atividade não profissional;
descrição da perturbação das restantes capacidades acima mencionadas, considerando os seus
aspetos temporários e definitivos, bem como a gravidade da sua afetação, tendo em conta as
respetivas repercussões concretas na vida do ofendido;
- (0,2) Doença particularmente dolorosa ou permanente
Corresponde a uma situação clinicamente identificada como causadora de elevado
sofrimento físico ou psíquico ou é duradoura, podendo ser temporária ou permanente;
A avaliação da intensidade deste sofrimento pode ser feita através da descrição do tipo de lesões
sofridas e dos tratamentos efetuados.
- Anomalia psíquica grave ou incurável - processo patológico resultante da agressão, em que
há alterações importantes no comportamento, variações do humor, transtornos emotivos. Justifica
recorrer-se a avaliação psiquiátrica para o estabelecimento de nexo de causalidade entre a agressão e
a anomalia psíquica.
-Perigo para a vida
- Probabilidade concreta e presente do resultado letal, fundamentada em sinais e sintomas de
morte próxima, situações críticas e de prognóstico reservado, relacionadas diretamente com a lesão
resultante da ofensa
- Medidas psicossociais
- Se os dados clínicos apurados e descritos no relatório configuram uma situação de risco
para o(a) Examinado(a), requerendo, por isso, a adopção de medidas psicossociais tendentes a
assegurar o seu tratamento e proteção

Em casos de violência domestica:


Violência: Uso intencional de força física ou poder, real ou sob a forma de ameaça, contra o
próprio, outra pessoa, um grupo ou comunidade, que resulta ou tem um elevado potencial de resultar
em lesão, morte, dano psicológico, mau desenvolvimento ou privação.
Violência de género: Termo genérico que engloba a violência que ocorre como resultado
das expectativas dos papéis normativos atribuídos a cada género, conjuntamente com relações de
poder assimétrico entre os dois géneros, dentro do contexto de uma sociedade específica.
Género: Designa os papéis, os comportamentos, as actividades e as atribuições socialmente
construídos que uma sociedade considera apropriados para as mulheres e os homens.
Violência domestica: Todos os actos de violência física, sexual, psicológica ou económica
que ocorrem no seio da família ou do lar ou entre os atuais ou ex-cônjuges ou parceiros, quer o
agressor partilhe ou tenha partilhado, ou não, o mesmo domicílio que a vítima.
 Pode ser abuso físico, sexual, psicológico, financeiro ou negligencia.

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Factores de risco: Dependência emocional e insegurança. Crença nos papéis de género
baseados na posição dominante do sexomasculino. Desejo de poder e controlo nas relações por parte
de quem agride. Historial de maus tractos físicos ou psicológicos na infância. Interacções pais-filhos
escassas na infância.
- Individuais: Baixa auto-estima. Baixo nível socioeconómico. Baixa diferenciação
académica. Comportamento agressivo ou delinquente na adolescência. Consumo de substâncias,
principalmente álcool. Vítimas com sintomas de depressão. Raiva e hostilidade por parte de quem
agride. Traços de personalidade antissocial ou traços de personalidade. borderline/limite,
nomeadamente instabilidade no humor e impulsividade. Isolamento social. Desemprego, resultante
da estratégia de controlo do agressor.
- Relacionais: Medo. Conflitos e tensões conjugais. Falta de compreensão mútua.
Instabilidade nas relações, divórcios ou separações. Domínio e controlo de um parceiro sobre o
outro. Instabilidade financeira. Relações e interacções pouco saudáveis. Historial de violência na
família.
- Sociais: Padrões históricos associados ao papel social dos géneros. Estruturas
organizacionais, institucionais e patriarcais da sociedade que promovem desigualdade nas relações
de poder entre homens e mulheres. Alterações recentes nos papéis de género passíveis de gerar
ambiguidades nas relações sociais e íntimas.

Intervenção médica pericial em abuso a menores (enquadramento


jurídico-penal -artigo 152.º A Código Penal)

A identificação de factores de risco serve de guia da prevenção e da intervenção, sendo que


aqui impera o bom senso, a consciência de que isoladamente podem não constituit factor de risco e
que quanto maior o número de fontes de informação possível para a avaliação global do risco efetivo
a que a vítima está exposta minimiza a possibilidade de erro de avaliação.
Qualquer criança pode ser objeto de abuso podendo existir sobreposição dos diferentes tipos
de abuso. Aos sintomas de qualquer tipode abuso associam-se sempres sintomas de abuso
emocional. Os sinais, mas sobretudo. Os sintomas variam conforme a gravidade do abuso, o sexo a
idade da vitima, a sua capacidade para reagir e a existência de estruturas de apoio no seu meio.
Atenção, podem existir situações de abuso sem que existam sinais/sintomas evidentes e em que a
vítima revele uma relação saudável com o abusador ( + - nos grupos etários mais baixos); podem
existir sintomas sugestivos de abuso sem que estes se verifiquem de facto.
1. Indicadores de abuso
i) Psicológico
ii) Físico – os indicadores físicos, com determinadas lesões ou sequelas
deverão ser sempre valorizados no contexto da história e do resultado do
exame médico-legal, bem como de outros eventuais exames

56
complementares de diagnóstico que possam ser realizados, sendo de
destacar os de psicologia forense.
a) Mecanismos mais comuns
 Murros, bofetadas e pontapés;-
 Beliscão e mordeduras;-
 Empurrão e abanões;-
 Traumatismo com objetos contundentes, cortantes,
perfurantes, mistos;-
 Compressão de parte do corpo com mãos, laços
 Queimaduras
 Intoxicações
b) Suspeitar quando:
 Inadequação/ausência/ mudança nas explicações;
 Tempo de evolução e atraso na procura de
assistência
 Discrepância entre o aspecto observado e a história
da produção
 Lesões em diferentes estaios de evolução
 Lesões em locais pouco comuns aos traumatismos
acidentias
 Lesões em diferentes localizações
 Vestuário/higiene/estado de nutrição
 Reflexos de defesa
 Doenças recorrentes e inexplicáveis
c) Diagnósticos diferenciais:
 Acidentes, patologias, sequelas pós operatórias ou
lesões iatrogénicas, lesões devido a praticas de
medicinas tradicionais, malformações, condições
morfológicas (nevus, mancha mongólica),
simukação, lesões auto-infligidas)
b. Primeira abordagem da criança/jovem
i. Apresentar-se e explicar, ainda que minimamente o motivo da abordagem,
tranquilizando-a e transmitindo confiança, não devendo ser emitidos juízos
de valor e falsas expectativas ou promessas.
ii. Exame médico-legal;-
iii. Exame de psicologia forense

57
a. Avaliação do desenvolvimento da criança, do seu
enquadramento sociofamiliar;-
b. Informações sobre o evento;-
c. Avaliação do impacto psicológico;-
d. Apurar a veracidade ou credibilidade do testemunho
iv. Exames complementares de diagnóstico
c. Valorizar sinais quanto ao:
i. Tipo de feridas (feridas contusas, perfurantes, cortantes, mistas,
queimaduras);-
ii. Localização
iii. Numero e dimensões
iv. Forma
v. Gravidade
vi. Mecanismo e grau de violência com que denotam ter sido produzidos
vii. Período de tempo desde a sua produção
viii. Adequação entre elas e a história/explicação quanto à sua produção
ix. Outro diagnóstico diferencial que as possa explicar
d. A informação colhida deve ser sistematizada de acordo com a sua pertinência,
importando sobretudo destacar a informação relevante sobre o processo a partir
do discurso da criança e de outros dados disponíveis. Sistematização, análise e
interpretação dos dados colhidos.
e. Protocolo de colaboração 2011 – Ministério da Saúde, Ministério da Justiça,
Comissão nacional de proteção de crianças e jovens em risco:
i. Proteger crianças e jovens de violência, especialmente de abuso sexual,
assegurando observação no mais curto espaço de tempo/melhores
condições;-
ii. Prevenir vitimização secundária;-
iii. Assegurar adequada colheita e acondicionamento de vestígios ou
amostras suscetíveis de se perderem;-
iv. Garantir as boas práticas na realização de exames médicos e na colheita e
acondicionamento de vestígios;-
v. Garantir a salvaguarda da cadeia de custódiao;-
vi. Respeitar os procedimentos legais no âmbito da denúncia de crime
público
f. Fraturas muito especificas de abuso
i. Fracturas metafisiarias;-
ii. Fracturas costais
iii. Fracturas da omoplata;-

58
iv. Fracturas da extremidade externa da clavícula
v. Fracturas vertebrais ou subluxação
vi. Fracturas dos dedos em lactentes
vii. Fracturas do crânio bilaterais e complexas
viii. Fracturas simultâneas em diferentes idades (datação das lesões)
g. Fracturas menos especificas de abuso:
i. Fracturas mediais da clavícula
ii. Fractuas únicas dos ossos longos

iii. Fracturas simples (lineares do crânio)

A intervenção médica pericial em situações de abusos em idosos


A maioria dos casos de abuso ocorre em ambiente doméstico e é perpetrado por familiares
ou cuidadores pagos, existindo menor prevalência de abuso por parte dos cuidadores institucionais
(com menor n.º de horas de contacto).
 Tipos de abuso:
i) Negligência;-
ii) Abuso emocional ou psicológico;-
iii) Abuso financeiro/material
iv) Físico/sexual
 Factores de risco
i) Factores individuais da vitima;- género feminino (classicamente +
masculino; idades superiores a 75 anos, incapacidade física e intelectual e
quadros demenciais
ii) Factores individuais do agressor – familiares (filho/cônjuge), drgoas de
abuso / consumo excessivo de álcool, inexperiência/período prolongado
como cuidador, historia de abuso em criança, personalidade hipercríticas,
expectativas irrealistas;-
iii) Factores relacionais – dependência financeira emocional, habitacional do
abusador em relação à vitima, transmissão intergeracional da violência,
historia de relacioamente interpessoas difícil, coabitação e superlotação e
excesso de lealdade para o abusador e interiorização da culpa
iv) Factores comunitários e socais – isolamento social, carência de suporte
social, discriminação e função da idade e outras, cultura de violência e
factores sociais e ecomómicos
 Suspeitar
o Situação conflituosa entre o paciente e alegado abusador;-
o Recusa do cuidador em deixar o paciente soxnho co o médico
o Vestuário inadequado

59
o Ausência de óculos, próteses auditivas dentarias
o Despreocupação evidente na nutrição e higiene, com apatia, depressão ou
outros indícios de tristeza
o Atraso na procura de assistência médica
o Evidencia de restrição física
o Disparidade nas explicações fornecidas pela viima e cuidador
 NA SUSPEITA – entrevista, exame objetivo e orientação
o Entrevista – separar a vitima do cuidador; permitir tempo para a resposta;
do geral para o especifico; utilizar linguagem e questões adequadas ao
nível de instrução, respeitar as diferenças culturas e étnicas, sem
confrontos, acusações e frustrações; Determinar se existe défice cognitivo
e realizar mais do que uma entrevista, com outros profissionais
o Exame objetivo – abordar o critério quantitativo (lesões múltiplas), critério
qualitativo (diversos tipos de lesões), critério cronológico (diferentes fases
de evolução) e critério topográfico (não se localizam em zonas
habitualmente atingidas nos traumatismos acidentais)
 Estudo geral
 Superfície corporal geral
 Região anogenital (crimes sexuais)
 Diagnosticos diferenciais -achados cutâneos,
hemorragias, fracturas, malnutrição, achados ano-
genitais e doenças de base.

 Apoio e orientação
o Estabelecer a urgência da situação e a necessidade de chamar medico
legista
o 144 (linha de emergência da segurança social)
o Associação de apoio à família e à criança
o Apav
o GNR e PSP
o Informar os serviços judiciais e sociais

8. Boas práticas da intervenção médico-legal no caso de


suspeita de violência doméstica, maus tratos ou crimes
sexuais em crianças e jovens de menor idade:
8.1. Maus tratos ou crimes sexuais em crianças e jovens de menor
idade:

60
Quem requisita o exame: as entidades policiais ou judiciárias, as unidades
hospitalares, as associações de apoio e as próprias vítimas ou seus representantes
legais.
Local onde se realiza este tipo de exames: o Instituto Nacional de Medicina Legal e
Ciências Forenses e os hospitais (no casos de serviço de actos urgentes).
Procedimento:
a) Colheita de informação: idealmente a informação sobre o suposto abuso
deve ser colhida junto de quem acompanha a criança ou jovem de menor
idade, devendo incluir:
 - Data, hora e local do último abuso;
 - Frequência do abuso (único ou reiterado);
 - Relação entre a vítima e o suposto abusado conjuntamente com o seu respectivo
sexo e antecedentes (patológicos - incluindo infecções sexualmente
transmissíveis, de consumo de substâncias, de comportamentos desviantes e de
práticas anteriores de outros abusos);
 Tipo do abuso (por exemplo, físico, sexual e/ou emocional);-
 Descrição de cada tipo de abuso cometido;
 Caracterização de certas circunstâncias (por exemplo, ameaças verbais e/ou com
armas, ejaculação, uso de preservativo);-
 Comportamento da vítima após a agressão (lavagens, mudança de roupa,
tratamentos, actos fisiológicos, comer, beber, etc - para avaliar da possível
destruição de vestígios);-
 Antecedentes pessoais patológicos, de consumo de substâncias e/ou de
comportamentos desviantes da vítima e, ainda, ginecológicos da vítima (por
exemplo, data da última menstruação e da última relação sexual consentida, uso
de tampões, tipo de contracepção utilizada, entre outros);-
 Sintomatologia, como dores na superfície corporal em geral ou alterações do
comportamento. Note-se que se for imprescindível a entrevista directa à criança
ou jovem para melhor esclarecimento de alguns dos pontos acima referidos, esta
poderá ser concretizada, devendo contudo deverá limitar-se ao minimamente
indispensável e com a garantia do uso de linguagem adequada à idade da vítima e
da respectiva privacidade da mesma.
b)  Exame físico: deve obter-se sempre a concordância e colaboração da
criança ou jovem, sendo permitido à pessoa de confiança da criança ou
jovem estar presente na sala, durante o exame, se ambos assim o preferirem.
Veja-se que em jovens maiores de 16 anos, o exame sexual e o registo foto-
documental só devem ser efectuados mediante o seu prévio consentimento
escrito. Se a criança ou jovem recusar o exame, é necessário tentar perceber

61
o motivo e diferir esse exame para um momento mais oportuno. Ninguém
deverá ser obrigado a submeter-se à realização de exame físico (a não ser
por ordem legítima e fundamentada de um juiz).Todas as lesões encontradas
devem ser registadas de forma sistematizada e rigorosa (sendo que a
sedação apenas será considerada quando hajam sinais e sintomas clínicos
que assim o justifiquem, por exemplo, o sangramento vaginal ou anal),
havendo a respectiva foto-documentação (evitando a identificação da pessoa
através das mesmas).
c)  Exame da superfície corporal: o exame físico tem de ser breve, mas
completo (“da cabeça aos pés”) e rigoroso, para que não seja necessária a
sua repetição, sendo que durante a inspecção, devem registar-se todas as
lesões e/ou sequelas e, se houver autorização da criança ou jovem, ou do seu
representante, procede-se à foto-documentação de todos os achados
relevantes: por exemplo, nos braços e mãos poderemos encontrar lesões de
defesa, nos braços e nas axilas marcas de compressão e nas regiões
mamárias mordeduras e abrasões, sendo que a cavidade oral deve ser
sempre inspeccionada.

d)  Exame ano-genital: nos casos de suspeita de agressão sexual, deve ser


sempre efectuada a inspecção ano-genital. Deve-se atender ao facto de se a
roupa que a criança ou jovem tiver vestida for a mesma que usava durante a
agressão, esta deverá despir-se em cima de um papel de captação (por
exemplo, de um lençol branco), para que eventuais vestígios existentes na
roupa possam ser preservados.
e)  Colheita, preservação e envio de amostras: no decurso da inspecção da
superfície corporal em geral, da cavidade oral e região genital e anal, devem
ser colhidos os vestígios biológicos e não biológicos que forem sendo
encontrados.
Uma colheita correcta implica que se respeitem as normas de protecção de
colheita e acondicionamento de amostras, de requisição dos exames e de
garantia da cadeia de custódia. No que se refere à protecção individual deve,
idealmente, trabalhar-se em condições de assepsia e usar sempre material
descartável, designadamente, bata, luvas e máscara descartáveis para evitar
o contacto directo com as amostras. No que se refere à protecção das
amostras: Nos casos em que tal se mostrar pertinente, informar a polícia
sobre a necessidade de isolar e proteger o mais rapidamente possível o local
da ocorrência, alertando para o facto de que os vestígios biológicos devem,
se possível, ser os primeiros a ser colhidos; Evitar a contaminação das

62
amostras, nomeadamente, com material genético de outra origem (utilizando
material descartável para a colheita de amostras e evitar fumar, comer ou
beber durante tal procedimento).
f)  Colheita e acondicionamento de amostras biológicas:
1. Para estudos de Genética e Biologia Forense (ADN): as amostras a
colher dependerão de cada caso concreto, designadamente no que se
refere à informação recebida e à observação efectuada, quanto à
possibilidade de se encontrarem vestígios em diferentes localizações.
Assim, não terão de ser feitas todos os tipos de colheitas que a seguir
se indicam, mas apenas aquelas que se revelarem pertinentes face ao
caso em apreço:

- Peças de roupa: acondicionar as peças com eventuais


vestígios tendo o cuidado de usar envelope ou saco de papel
para cada uma e de assinalar a possível localização desses
vestígios. Se eventuais manchas não estiverem secas, deixar
secar ao ar (ou secar com secador de ar frio), antes de se
proceder ao seu acondicionamento. Deverá sempre ser
enviada a peça de roupa completa;
- Raspado do conteúdo subungueal: deve assinalar-se se a
vítima lavou as mãos, as limpou ou cortou as unhas após o
abuso. Efectuar uma zaragatoa (pequena) para cada mão; se se
revelar necessário, efectuar corte de unhas e colocá-las em
envelopes de papel;
- Cabelo e pêlo púbico: deve assinalar-se se a vítima se
penteou ou lavou. Pentear cabelos e pêlos púbicos com pente
descartável (superficialmente), para destacar qualquer pêlo
solto que possa pertencer ao abusador. Se os pêlos se
encontrarem aglutinados por substância pastos (púbis, cabeça,
axilas, etc.), cortá-los tendo o cuidado de preservar esta
substância (por exemplo, sémen). Colocar o material colhido
em envelopes de papel, utilizando um para cada conjunto de
pêlos;
- Manchas ou marcas suspeitas (por exemplo, sémen, saliva)
na pele em geral, nas zonas de mordedura e nas regiões peri-
cavitárias (peri-oral, peri-anal e peri-vulvar): deve assinalar-se
se a vítima se lavou ou friccionou alguma parte do corpo;

63
- Exsudado oral: estas colheitas podem ser feitas até cerca de
8 horas após o suspeito abuso, devendo assinalar-se se
entretanto a vítima comeu, bebeu, fumou ou lavou a boca ou
os dentes;
- Exsudado anal: estas colheitas podem ser feitas até cerca de
24 horas após o suspeito abuso, devendo assinalar-se se
entretanto a vítima se lavou ou defecou;
- Exsudado vaginal: estas colheitas podem ser feitas até cerca
de 72 horas após o suspeito abuso, devendo assinalar-se se a
vítima se lavou, fez alguma irrigação ou teve práticas sexuais
consentidas num período próximo (anterior ou posterior) ao
abuso.
2. Para estudos de microbiologia infecções sexualmente
transmissíveis):estes estudos deverão realizar-se quando haja
história ou exame físico sugerindo contacto recente oral, genital ou
rectal com os genitais do abusador, muito particularmente, história de
penetração e/ou ejaculação; a vítima apresente sinais ou sintomas de
IST ou infecção genital; o abuso tenha sido perpetrado por múltiplos
abusadores; o abusador seja desconhecido; o abusador seja portador
de IST conhecida ou suspeita; o abusador pertença a grupo de risco
de IST por exemplo, homem homossexual; toxicodependente).
3. Para estudos de Toxicologia Forense: deverão ser realizados
exames toxicológicos se houver dados que indiciem terem sido
administradas drogas à vítima, sendo que o sangue total e urina são as
matrizes de eleição.
4. Para teste imunológico de gravidez: após um abuso sexual de
adolescentes deve ser dada informação sobre a prevenção da
gravidez, realizando-se o teste na urina.

9. Tipos de ferimentos, mecanismos de produção, características,


etiologia, descrição e documentação
Lesão ou ferimento: A lesão ou ferimento é o dano em qualquer parte do corpo devido à
aplicação de uma força mecânica. Surge quando a intensidade da força aplicada excede a
capacidade dos tecidos de se adaptarem ou resistirem.
Agente externo: é toda a fonte de energia física ou química externa capaz de produzir no
corpo humano lesões anatómicas e/ou funcionais – lesões traumáticas.

9.1. Classificações dos agentes externos:


 Mecânicos

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 Físicos
 Químicos
 Biológicos

9.1.1. Físicos:
 Resultantes da acção do calor: fogo ou chama, calor radiante, objectos sólidos ao rubro ou
em fusão, gases (vapor/gases em ignição). As lesões traumáticas são as queimaduras.
 Resultantes da acção do frio: pode ser localizada ou generalizada. As lesões traumáticas são
as queimaduras.
 Resultantes da acção da electricidade: pode ser industrial, atmosférica, estática. As lesões
traumáticas são queimadura ou marcas eléctricas na pele, queimaduras nos órgãos internos,
fracturas ou luxações, roturas musculares e vasculares, etc.
 Resultantes de acção de ondas electromagnéticas: raios x, raios gama. (queimaduras,
radiodermites, etc).
 Resultantes da acção de substâncias radioactivas e radiações nucleares. (queimaduras,
radiodermites, etc).

9.1.2. Químicos:
Resultam a acção de substâncias químicas que em contacto com a pele ou mucosas, reagem
quimicamente produzindo alterações desorganizativas e de destruição celular. Geram lesões
traumáticas - queimaduras químicas.

9.1.3. Biológicos: resultam da acção de seres vivos, por exemplo, insectos, medusas,
peixes, batráquios, plantas e cujas lesões são as queimaduras.

9.1.4. Mecânicos - aqueles em que há transformação em energia cinética de uma força


mecânica aplicada ao corpo humano. As lesões traumáticas localizam-se de algum
modo, em contiguidade com área de acção do agente. Exercem acção de natureza
contunde, cortante, perfurante ou mista.

9.2. Agentes externos mecânicos


9.2.1. Mecanismos de produção de lesões traumáticas por agentes mecânicos:
Factores de variação da força em jogo:
Massa do corpo actuante
Velocidade de impacto
Área de aplicação da força
Natureza dos órgãos alvo

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Transferência de energia cinética Modo de actuação das forças

Anatomia forense da pele: a maior parte das lesões traumáticas atingem a superfície
corporal e consequentemente a pele, o órgão de revestimento do corpo humano (epiderme, derme e
tecido celular subcutâneo - hipoderme).

9.2.2. Os ferimentos podem ser originados por certos objectos de múltipla e


variada origem, natureza e tipo. Podem ser:
1) Contundentes (actuam em superfície): caracteriza-se pelo contacto de um objecto
duro, de superfície plana ou romba, animado de uma força viva mais ou menos
considerável, com uma área da superfície corporal de extensão variável.
 Tipos de objectos contundentes:
-Objectos ou utensílios (pedra, pau, martelo, pá, tijolo, coronha de arma, etc.);
-Partes do corpo humano (cabeça, mãos, unhas, pés e dentes);
-Superfícies de embate (solo, paredes, peças de mobiliário, veículos automóveis,
árvores, superfícies aquáticas, etc.).
Estes instrumentos podem originar diferentes lesões corporais, de acordo com as
características do instrumento e com a violência do traumatismo, nomeadamente, lesões traumáticas
externas (como equimose, hematoma, esfoliação, escoriação ou ferida contusa) ou lesões traumáticas
internas (contusão profunda, fracturas ósseas e laceração ou esfacelo de órgãos).
Dão-nos informações valiosas, muitas vezes indispensáveis para a resolução de casos judiciais tais
como a produção vital ou post mortem dos ferimentos, a direcção e, por vezes, o sentido do
traumatismo, a ocorrência de luta, a forma do instrumento que as produziu.
1.1. Vejamos, agora, pormenorizadamente as lesões que daqui poderão advir de:
Contusão Superficial = é o resultado de uma acção contundente exercida
perpendicular ou obliquamente sobre a superfície corporal, com integridade a nível da epiderme, não
criando ainda solução de continuidade; Nestas lesões existe rotura dos vasos com extravasamento de
sangue que infiltra os tecidos (Equimose) ou colecção de sangue em cavidade neoformada
(hematoma)– a sua coloração vai variando: inicialmente vermelho-violácea, torna-se azulada,
depois esverdeada e, por fim, antes de desparecer, amarelada (7-15 dias). Note-se que a evolução da
cor de uma contusão superficial não nos fornece dados precisos sobre o seu tempo de evolução,
antes dá-nos uma noção de evolução e havendo múltiplas lesões com colorações distintas podemos
afirmar que as agressões se sucederam durante vários dias (tal é muito importante nas situações de
maus tratos). Veja-se, ainda, que se o traumatismo ocorre à distância da região em que aparecem as
lesões, não se deve falar em equimose mas sim em infiltração sanguínea;
Abrasão (esfoliação ou escoriação) = é o resultado de uma acção contundente
exercida obliquamente, por deslizamento entre duas superfícies, com solução de continuidade da
epiderme;

66
Ferida contusa = acção contundente exercida perpendicular ou obliquamente sobre a
superfície corporal, de intensidade que determina solução de continuidade de todas as camadas da
pele, de bordos irregulares, escoriados e esmagados, com área equimótica, de fundo irregular com
pontes de tecido;
1.1.4. Lesões modeladas = lesões traumáticas, que podem ser escoriações, equimoses ou
feridas contusas, cuja morfologia e características permitem a identificação do instrumento que as
produziu.
1.1.5. Estigmas ungueais: lesões traumáticas, geralmente escoriações, podendo estar
associadas a equimoses, resultantes da aplicação das unhas na pele;
1.1.6. Mordeduras – as lesões têm a forma de 2 arcos interrompidos, opostos e rodeados
por equimose.
1.1.7. Contusão profunda: produzida por um traumatismo de grande intensidade que dá
origem a uma infiltração hemorrágica em profundidade, no plano muscular e/ou visceral, sendo que
a existência de lesões cutâneas obriga sempre a investigar a existência de lesões profundas. No plano
muscular, a infiltração pode ocorrer por contusão directa, ou por infiltração hemorrágica a partir de
um foco de fractura vizinho. A contusão visceral surge com mais frequência em órgãos maciços
(cérebro, fígado, baço, rins, etc.);
1.1.8. Laceração/esfacelo de órgãos – produzidas por um traumatismo de grande
intensidade que dá origem a uma infiltração hemorrágica em profundidade no plano muscular ou
visceral. Pode associar-se a não escoriações ou contusões na superfície corporal.
1.1.9.  Fracturas ósseas: lesão contusa, resultado de um traumatismo violento que dá
origem a uma solução de continuidade do osso.
Nota: Lesões traumáticas complexas: lesões traumáticas em que se associam aspectos das
diversas lesões traumáticas referidas, resultantes de associação de mecanismos traumáticos de
diferentes acções ou de sobreposição do efeito dos mesmos.
Note-se que nestes casos é fundamental fazer um diagnóstico diferencial das lesões traumáticas
produzidas post-mortem (por exemplo, por mordeduras de animais ou realizadas no transporte do
cadáver), bem como das lesões produzidas à distância e daquelas que, nem sequer, têm origem
traumática (como seja as petéquias).
o Lesões post-mortem – lesões cobertas por placas ressequidas, duras,
amarelo-acastanhadas, sem infiltração sanguínea dos tecidos (placas
apergaminhadas)
É igualmente fundamental distinguir as características vitais o post mortem dos ferimentos para
reconhecer se determinadas lesões observáveis no cadáver foram feitas em vida ou se resultara, por
exemplo, do seu arraste para um lugar diferente daquele onde ocorreu a morte.
Características vitais: Infiltração sanguínea dos tecidos;Retracção dos tecidos;Formação
de crosta; Supuração.

67
2) Cortante (ação de natureza cortante) – caracteriza-se pelo contacto linear,
exercido pelo comprimento do gume do objecto no corpo humano. Nesse contacto
predomina o comprimento sobre a superfície e a profundidade. Os instrumentos
cortantes são os que estão têm um ou mais gumes, ou seja são providos de uma lâmina
a qual, através de um mecanismo de pressão e/ou deslizamento, produz uma ferida
(por exemplo, faca, vidro ou lâmina).

2.1. Os tipos de ferimentos que daqui podem advir são:

Ferida incisa: solução de continuidade da pele, fusiforme, de bordos rectos e nítidos,


sem lesões macroscópicas, de extremidades angulosas (em ponta de V) e fundo da ferida regular. A
ferida incisa tem uma cauda inicial, de ataque e uma cauda final ou terminal, de saída, sendo a
última geralmente mais comprida (podemos pois saber a direcção e o sentido da agressão). Uma
agressão com arma cortante é um incidente dinâmico e com movimentos quer do agressor, quer da
vítima, que raramente se encontra numa posição anatómica estática, sendo que teremos de avaliar,
alguns elementos, tais como: os instrumentos (dimensões, tipo, afunilamento da lâmina), o
movimento do instrumento na ferida e o respectivo modo de utilização (profundidade e direção) e,
ainda, a quantidade de força usada. Cauda de rato – extremos da erida incisa, onde ela se torna mais
superficial.

2.1.1.1. Morfologia da ferida incisa:


 Lineares;
 Em retalho;
 Mutilantes;
 Atípicas:
o Escoriações;
o Em ziguezague
o Irregulares
3) Perfurante (ação de natureza perfurante) - caracteriza-se pelo contacto
punctiforme ou circular do objecto com o corpo humano, em que predomina a
profundidade, sobre a superfície na pele. Alguns objectos perfurantes são, a título de
exemplo, os alfinetes, agulhas, varetas cilíndricas ou cónicas ou chaves de fendas. Ou
seja, os objectos perfurantes têm geralmente uma secção cilíndrica ou elíptica,
terminam em ponta, através da qual actuam, e produzem feridas cuja dimensão
dominante é a profundidade. “Solução de continuidade na pele, de contorno circular,
ovalar ou similar à secção do instrumento que a produziu, de bordos regulares ou
irregulares, que se continua para a profundidade, por um trajecto em canal.
3.1. As feridas decorrentes deste tipo de objecto dependem:

68
- Se o instrumento é suficientemente fino e ao penetrar a pele, não ultrapassa a sua
capacidade elástica este ficará reduzido a um ponto avermelhado que desaparece em 2 ou 3
dias (por exemplo, orifícios por agulhas em toxicodependentes na flexura do cotovelo);
- Se o instrumento é suficientemente grosso para ultrapassar a capacidade elástica
da pele, formar-se-á um orifício com orla de contusão, em forma de casa de botão.
4) Mista (ação de natureza mista) – caracteriza-se pela combinação de dois modos de
acção, o que leva à produção de lesões traumáticas com características de ambos os componentes.
 Instrumentos corto-perfurantes: aqueles em que se combinam a acção cortante com a
perfurante (do maior comprimento do instrumento), por exemplo, punhal, faca, canivete, navalha ou
tesoura. As feridas daqui resultantes apresentam-se em regra, com um componente na pele, que é
uma ferida incisa, e com o componente perfurante do trajecto nos tecidos e órgãos subjacentes, de
bordos rectos e nítidos, e extremidades angulosas, sendo a profundidade deste trajecto maior que o
comprimento e largura da entrada na pele.
 Instrumentos corto-contundentes: aqueles em que se combinam a acção cortante com o
efeito de uma grande força viva, contundente, resultante do peso considerável do próprio
instrumento (ou da violência no seu manejo): machado, por exemplo.
O efeito cortante é coadjuvado pelo peso da arma, ou seja, quanto maior for o peso da arma,
maior será a acção contundente e, quanto mais afilada for a lâmina, maior será a sua acção cortante.
As feridas daqui resultantes apresentam-se, em regra, com um componente na pele, que é uma ferida
incisa, e com o componente contundente que nos é dado por exemplo por uma fractura óssea
subjacente, ou um esfacelo de uma víscera maciça.
Estas feridas diferem das feridas cortantes por terem bordos mais irregulares e com orla de
contusão, atingirem planos mais profundos, não respeitando as estruturas mais duras como o osso e
não apresentarem cauda.
 Instrumentos perfuro-contundentes: são objectos alongados, de diâmetro variável mas
nunca muito grande, que actuam numa área restrita da superfície corporal, com uma força viva
considerável, combinando a acção perfurante com a contundente: projécteis de armas de fogo (balas,
chumbos, etc.).
As feridas apresentam-se em regra, com um componente na pele, que é uma ferida contusa,
e com um componente perfurante - trajecto em canal de paredes irregulares, nos tecidos e órgãos
subjacentes, de maior dimensão que o comprimento e largura da ferida de entrada na pele.
a) Orifício de entrada de projétil – outro tipo de disparos de arma de fogo:
de contorno circular, ovalar ou elíptico, de bordos escoriados, com orla de
conusão em redor da orla de escoriação, de morfologia e dimensões
variáveis, com tatuagem de partículas de pólvora incombusta;-
b) Trajecto em canal – de paredes hemorrágicas, irregulares e fracturas
ósseas;-

69
c) Orifício de saída de projéctil (inconstante): circular, ovalar, elíptico, em
fenda ou irregular, de dimensões variáveis, sem escoriação dos bordos ou
tatuagem, em regra sem orla e contusão.

4.1. Etiologia médico-legal


Não basta, na maioria dos casos, a observação e estudo das feridas existentes, sendo
necessário conjugar as suas características com outras informações. Por exemplo, no exame do local
verificar a existência de sinais de luta ou de impressões digitais, manchas de sangue não pertencentes
à vítima. E, ainda, conhecer os antecedentes pessoais, como psicoses, estados depressivos, tentativas
anteriores de suicídio, etc.
Quanto às características das feridas:
- Suspeitas de suicídio aquelas que atingem locais de importância vital como a região pré-
cordial, face lateral do pescoço, punhos, etc. Estas feridas deverão ser compatíveis com o gesto da
vítima: nos indivíduos destros, aparecerão predominantemente no lado esquerdo, acontecendo o
contrário nos sinistros.- Habitualmente existem feridas de ensaio (pouco profundas e localizadas
junto à ferida principal). O vestuário é habitualmente poupado, isto é, o suicida lesa quase sempre
zonas desnudadas.
- Suspeitas de homicídio aquelas que se traduzem como múltiplos e graves ferimentos em
locais muito diversos, sobretudo onde a vítima não poderia chegar facilmente e pouco compatíveis
com gestos do próprio. Verificam-se, também, lesões de defesa, que resultam da tentativa de defesa
da vítima. E ainda, feridas muito extensas e profundas no pescoço e contusões à volta da boca e do
nariz e no pescoço (por vezes estigmas ungueais). Vestuário habitualmente danificado, igualmente
importante é a existência de dedadas de sangues no vestuário ou no corpo da vítima em locais que
ela dificilmente pudesse tocar.

9.2.3. Identificação da arma


Em regra, apenas podemos determinar a natureza do instrumento, isto é, se é contundente,
cortante, perfurante, etc. Outras vezes, havendo um instrumento suspeito, podemos pronunciar-nos
sobre se ele poderia ou não ter produzido as lesões apresentadas pelo cadáver, sendo que só num
pequeno número de casos, é possível determinar o instrumento específico (lesões figuradas).

9.2.4. Ordem de produção de ferimentos


 Temos de partir de alguns pressupostos (a ausência de sinais vitais numa ferida,
indica que ela foi produzida após outras feridas com caraterísticas vitais);-
 Quando todas as feridas foram produzidas pela mesma arma e se esta, no decurso
da agressão, sofreu uma ou mais mossas, tornando-se irregular, as feridas ocorridas
posteriormente serão igualmente mais disformes.

9.2.5. Posição relativa agressor vitima


Por vezes, é possível determinar a posição do agressor em relação à vitima, atendendo a
alguns elementos como o local e direção da ferida e as estaturas do agressor e da vítima.

70
9.2.6. Violência das lesões
Podemos estimar a violência com que se produziu a lesão, avaliando o número, a
profundidade dos ferimentos e o grau de destruição tecidular.

9.2.7. Mecanismos da morte


A morte pode ser produzida diretamente pela lesão ou indiretamente como consequência de
processo patológico que a mesma fez aparecer ou agravar.
 Lesões mortais por mecanismo direto- por si só produzem logo a morte
A) Destruição de órgãos vitais (centros nervosos, pulmões, coração ...)
B) Anulação do seu funcionamento (pneumotórax, hemorragia cerebral ...)
C) Alguns tipos de choque (hipovolémico, cardiogénico)
 Lesões mortais por mecanismo indireto - a morte ocorre devido a um processo mórbido
despertado, agravado ou surgido devido à lesão.
o Cronologicamente à lesão traumática este pode ser:
 Anterior (ex: hemofilia, perfuração de úlcera gástrica)
 Concomitante (ex: contaminação bacteriana produzida pelo agente
traumático, embolias)
 Posterior (ex: complicações gástricas sépticas embolia, falência multi-
organica)

9.2.8. Classificação dos instrumentos


9.2.8.1. Etiologia médico-legal acidental: Instrumentos de natureza contundente:
acidentes de viação, quedas, acidentes de trabalho. Instrumentos de
natureza cortante ou corto-perfurante: acidentes domésticos e de trabalho.
Instrumentos de natureza perfuro-contundente: acidentes de caça
(projécteis de armas de fogo).´
9.2.8.2. Etiologia médico-legal suicida: Instrumentos de natureza contundente:
queda de local elevado (defenestrações, quedas de pontes, etc.).
Instrumentos de natureza cortante ou corto-perfurante: degolação,
secção de vasos periféricos, região pré-cordial, etc. Instrumentos de
natureza perfuro-contundente: armas de fogo (projécteis na cabeça ou
tórax).
9.2.8.3. Etiologia médico-legal homicida: Instrumentos de natureza contundente:
objectos/utensílios actuando sobre a cabeça. Instrumentos de natureza
cortante ou corto-perfurante: facas, punhais, actuando no pescoço ou tórax.
Instrumentos de natureza perfuro-contundente: armas de fogo (projécteis
na cabeça ou tórax).

9.3. Lesões de defesa e lesões auto-infligidas


9.3.1. Feridas de defesa: Considerável significado médico-legal:

71
• Indica que a vítima estava, pelo menos no início, consciente;
• Indica que a vítima estava, pelo menos inicialmente, não imobilizada ou capaz de usar os
membros para se proteger das lesões, verificando-se estas nos antebraços, mãos e menos
frequentemente nas pernas;
• Indica que a vítima não foi apanhada completamente de surpresa.
• Resultam mais frequentemente de murros, pontapés ou agressões com objectos
contundentes ou cortantes;
• Classicamente localizadas nos antebraços e mãos, que são instintivamente levantados para
protegerem os olhos, face e cabeça;
• Podem ser infligidas nas coxas, quando dirigidas aos genitais;
9.3.1.1. Tipos
 Equimoses: face anterior e bordo cubital dos antebraços, pulsos, face dorsal
das mãos e articulações.
 Fracturas: ossos do carpo, metacárpicos e dedos.
 Feridas incisas: flexuras das falanges, no primeiro espaço interdigital
9.3.1.2. Feridas de defesa com instrumentos cortantes
9.3.1.2.1. Feridas de defesa activas – ocorrem quando a vítima agarra a faca
com a mão, as lesões localizam-se na face palmar da mão;-
9.3.1.2.2. Feridas de defesa passiva- desferidas quando a vítima levanda as
mãos ou braços para proteger a região corporal atacada.
Presente em 30% a 50% das vitimas. Mais de 2/3 das lesões de defesa são
localizadas no braço ou mão esquerda.
9.3.1.3. Feridas de defesa com instrumentos cortantes
 Localização idêntica às produzidas por instrumento cortante.
 Lesões infligidas nas coxas resultam provavelmente de tentativas de atingir, com pontapés,
os genitais ou a metade inferior do corpo.
 As lesões mais frequentes são as equimoses e escoriações na face dorsal das mãos, pulsos e
antebraços. As lacerações podem ocorrer em zonas de pele que assentam sobre superfícies
ósseas. As vítimas raramente apresentam fracturas de ossos da mão. Um local clássico de
fractura é a do cubital.

9.3.2. Lesões intencionais


 Lesões autoinfligidas
 Abuso de direitos humanos
 Abuso sexual
 Agressão
 Lesões médicas

72
9.3.2.1. Lesões auto-infligidas
Frequentemente não fatais, motivadas por Auto-destruição, alterações mentais, perspectiva
de lucro e simular agressão. Estas devem ser diferenciadas uma das outras, devem ser diferenciadas
de lesões de natureza acidental ou de etiologia homicida. Distinção pode ser difícil ou ate mesmo
impossível. O diagnostico baseia-se em: características da lesão (contusões, feridas), localização,
acessibilidade da zona onde se situa a lesão, fisiopatologia e mecanismo lesivo, análise dos indícios.
Assim:
 Simulação de ofensa criminal: alegada violação, simular um assalto ou agressão por
outros motivos
 Auto-mutilações com visto a fraude de seguros
 Auto-mutilação ou simulação de doença em doentes do foro psiquiátrico
 Atitudes suicidas
Podemos ter lesões auto-infligidas sem fins suicidas, por exemplo, os indivíduos com
patologia psiquiátrica que mutilam o próprio corpo; os indivíduos com objectivo de obtenção de
lucro ou os indivíduos que pretendem simular agressão (incriminar alguém ou para chamar a atenção
sobre si próprios) = estas lesões, via regra, são múltiplas e paralelas e evitam zonas vitais ou
sensíveis, como sejam os olhos, os lábios, sendo já frequentes na face, nas regiões laterais do
pescoço, no dorso e nas mãos (maioritariamente localizadas à esquerda – face e mão – em dextros);
Inconsistentes com ataques praticados por terceiros (não é suposto a vítima manter-se estática de
modo a permitir cortes uniformes e delicados, e as soluções de continuidade corporais não estão em
consonância com as do vestuário (quando feitas em áreas cobertas por este).
Neste âmbito, destaca-se, a síndrome de Munchausen (simulações repetidas de doença ou de
pequenas lesões auto-infligidas com o objectivo de dar entrada no hospital e ter tratamento médico e
atenção) e a síndrome de Munchausen por procuração (um progenitor reiteradamente provoca lesões
na criança, ocasionalmente fatais, para obter a atenção dos médicos e facilidades médicas).
9.3.2.1.1. Suspeitas de lesões auto-infligidas em:
 Lesões (cortes) superficiais (raramente provocando perigo para a vida, a não ser
que infectem).
 Lesões (cortes) que não atingem áreas sensíveis (como a face, por exemplo).
 Lesões (cortes) regulares (profundidade igual na origem e no final).

9.3.2.1.2. Achados típicos em casos de simulação de ofensa corporal:


 Lesões produzidas por instrumentos cortantes, pontiagudos ou unhas
 Multiplicidade de lesões
 Forma semelhante (cortes não penetrantes e escoriações, uniformes, lineares ou
ligeiramente curvilíneos)
 Agrupadas e/ou paralelas ou cruzadas
 Simetria ou preferência pelo lado não dominante

73
 Localizadas em zonas corporais acessíveis
 Ausência de soluções de continuidade na roupa ou danos inconsistentes
 Ausência de lesões de defesa
 Por vezes presença de cicatrizes devidas a comportamentos auto-infligidos prévios

9.3.2.1.3. Características das efectuadas com propósito de fraude de


seguros:
 Danos resultam normalmente em mutilações com perda substancial de um
segmento periférico.
 Mutilações frequentes dos dedos ou mão.
 . Nos casos típicos o polegar ou indicador é amputado proximalmente em ângulo
recto em relação ao seu eixo.
 Contrariamente às situações não intencionais em que é normalmente acompanhado
de lesões nos dedos adjacentes.
 Nos acidentes a amputação é habitualmente distal e parcial, obliquamente em
relação ao eixo do dedo.
Circunstâncias que apontam para tentativa de fraude:
 - Seguro anormalmente elevado feito pouco tempo antes
 - Múltiplos contractos de seguro de acidentes prévios
 - Ausência de testemunhas
 - Desaparecimento imediato da parte amputada e remoção de vestígios biológicos
do local.

10.Lesões por asfixias mecânicas – sempre que há um obstáculo mecânico que


impede que o oxigénio chegue ao alvéolo pulmonar, podendo encontrar-se dentro ou fora das
vias aéreas.
Falta de ar, falta de oxigénio. Etimologicamente: ausência de pulso.

10.1. Sinais gerais: cianose, petéquias, congestão e edema, engorgitamento do coração


direito, fluidez sanguínea.

10.2. Mecanismos da morte:


 Obstrução das vias aéreas
 Oclusão das veias do pescoço
 Compressão das artérias carótidas
 Compressão nervosa
 Mecanismo misto: reflexo e congestivo
 Traumatismo directo
 Restrição dos movimentos respiratórios

10.3 Classificação:

74
1. Compressão externa do pescoço
a) Enforcamento: suspensão do corpo a partir de um ponto fixo que constringe o pescoço
com acção dependente do peso do corpo. Pode ser suspensão completa ou incompleta. Típico ou
atípico. Pode ser um laço ou sulco único, duplo ou múltiplo. O sulco pode ainda ser duro ou mole,
ascendente, descendente ou horizontalizado. Falsos sucos (naturais – pele intacta, pouco profundos
e moles, resultam da flexão da cabeça sobre o tronco e desfazem-se com a extensão da cabeça, mais
frequentes em obesos e recém-nascidos. Artificiais: pele intacta, pouco profundos e moles,
reproduzem habitualmente, a configuração do objecto que os produziu. Patológicos: devido a lesões
cutâneas, ausência da epiderme pode levar a apergaminhamento da superfície do cadáver.
Putrefactivos: produzidos pela distensão dos tecidos pelos gases, acima e abaixo do objecto situado
em torno do pescoço). Hábito externo: livores em “luvas” e “meias”, congestão craniofacial,
mascara equimótica, sufusões hemorrágicas nas conjuntivas, protusão da língua entre as arcadas
dentárias. Escoriações no dorso das mãos ou membros inferiores. Saída de esperma pelo meato
urinário. Hábito interno: infiltração sanguínea das partes moles, linha argêntea, lesões na íntima dos
vasos por tracção longitudinal, fracturas do aparelho laríngeo, espuma na laringe e traqueia, sufusões
hemorrágicas pleurais e epicárdios, congestão generalizada dos órgãos, sangue fluido e escuro.
Dissecação do pescoço por planos: incisão da área posterior ao pavilhão auricular até a fúrcula
esternal, bilateralmente. Abertura do pescoço. Planos subcutâneos. Plano musculares. Exposição dos
planos musculares do pescoço. Após individualização dos grandes vasos do pescoço procede-se à
respectiva abertura. Remoção dos órgão do pescoço em bloco
b) Estrangulamento por laço: constrição violenta do pescoço, por meio de laço, devida a
acção independente do corpo. Hábito externo: congestão craniofacial/palidez da face, sufusões
hemorrágicas nas conjuntivas, máscara equimótica, o sulco normalmente completo, horizontam e
uniformemente marcado, mas pode ser ascendente ou descendente, sulco mole, normalmente inferior
à cartilagem laríngea. Hábito interno: infiltração sanguínea do pescoço, fracturas do aparelho
laríngeo, sinais gerais de asfixia, sufusões hemorrágicas pleurais e epicárdias.
c) Esganadura: constrição do pescoço por meio das mãos. Hábito externo: congestão
craniofacial ou palidez da face, sufusões hemorrágicas nas conjuntivas, máscara equimótica,
ausência de sulco, estigmas ungueais. Esquimoses, escoriações no pescoço ou face, exoftalmia.
Hábito interno: infiltração sanguínea das partes moles, esquimosa retroafríngea, fracturas do
aparelho laríngeo, sinais asfíxicos gerias, sufusões hemorrágicas pleurais e epicárdicas. Petéquias
sub-epicárdicas.
2. Sufocação
a) Oclusão extrínseca das vias aéreas
b) Oclusão intrínseca das vias aéreas
c) Compressão toraco-abdominal
d) Confinamento ou carência de ar respirável

75
Hábito externo: podem apresentar petéquias, o caso de compressão toraco-abdominal o
quadro pode ser mais exuberante com: petéquias abundantes, hemorragias nos ouvidos e nariz,
máscara equimótica. Lesões traumáticas diversas. Hábito interno: sinais gerais asfíxicos, oclusão das
vias aéreas ou corpos estranhos, vias aéreas preenchidas por meio pulvurento (soterramento).~
Asfixia postural: Permanência numa dada posição por um período de tempo mais ou menos
prolongado. Inversão de todo o corpo ou da sua parte superior. Geralmente associado a consumo de
drogas e álcool.

3. Afogamento: intromissão de meio liquido, normalmente, água , no interiores das


vias aéreas. Hábito externo: Pele de “galinha” por arrefecimento cutâneo cutis anserina. Maceração
da pele (mais evidente nas mãos e pés). Escoriações no dorso das mãos e membros inferiores: podem
ser numerosas se o corpo esteve em águas agitadas. Depósito de areias, algas, lama na superfície
corporal. Livores mais ténues que o habitual (livores róseos). “Cogumelo de espuma" a cobrir a boca
e fossas nasais: não é sinónimo de afogamento, cuidado ao mexer no cadáver para não eliminar este
achado. Hábito interno: Presença de corpos estranhos na via aérea e digestiva (areia, algas, líquido).
Congestão generalizada dos órgãos. Sangue fluido e escuro. Pulmões insuflados, com congestão
muito marcada e saída abundante de líquido de edema nas secções de corte. Sufusões hemorrágicas
pleurais e epicárdicas. Estômago: Volume de água > 0,5 L pressupõe carácter vital. Ruptura da
mucosa do cardia devido a esforço intenso para vomitar. Fígado: Cortes perpendiculares
(Lacassagne) com escorrência prolongada de sangue fluido e escuro.
A morte for afogamento é um diagnostico de exclusão!

Diagnóstico:
Exame histológico: A histologia do pulmão é muito importante! Disrupção dos alvéolos
pulmonares. Focos de edema. Corpos estranhos intra-alveolares – reacção vital. Em cerca de 15%
dos casos a água não chega entrar nas vias aéreas e a morte é devida a espasmo da glote.
Exame toxicológico: Ponderar os exames a pedir em função do estado de decomposição
cadavérica e da informação disponível sobre o caso (álcool, drogas de abuso, medicamentos,
pesticidas).

11.Lesões por armas de fogo


 Classificação das armas de fogo: carno curto ou cano longo
 Tipo de carga: projécteis únicos ou múltiplos
 Constituição: típicas ou atípicas
 Mecanismo de disparo: único, automática, semiautomática
 A ponta de uma bala pode ser: ogival, cone truncado, ponta oca.

11.1. Elementos que integram os disparos:

76
Pólvora, bucha e projéctil: gases explosivos, chama, grãos de pólvora, negro de fumo.
Gases explosivos: acção violenta quando em grande volume, produzem lesões por
interposição do corpo no cone de expansão, acção em disparos de contacto firme ou em cavidade.
Chama: alcance reduzido, igual ou inferior ao cumprimento do cano, pode causar danos nos
tecidos, sobretudo sintéticos e ate incendiá-los.
Grãos de pólvora: abandonam o cano pelo orifício de saída, efeitos traumáticos apenas em
distâncias curtas, podem actuar em massa ou como grãos individuais, distribuição de acordo com o
angulo de disparo.
Negro de fumo: deposito produzido pelo fumo, coloração negra nas pólvoras antigas,
coloração cinzento-esverdeadas pólvoras piroxiladas.
Bucha: acção em disparos de curta distancia, acção menos relevante nas armas modernas.

As lesões produzidas por um projéctil de arma de fogo dependem essencialmente da


conjugação da interacção mecânica entre os tecidos e os projécteis, e dos efeitos da cavidade
temporária.
Feridas por armas de cano curto:
 Contacto firme ou sem pressão.
 Curta distancia (quase contacto).
 Média distância
 Longa distancia
Trajectos podem ser rectilíneos (seguem a direcção do disparo), ou com desvios (por
colisão com os ossos trajectos altamente irregulares).
Feridas atípicas: simples contusões, erosões ou sucos (lesão tangencial), feridas em fundo de
saco (feridas pouco profundas, podendo o projéctil encontrar-se no fundo da mesma ou não.
Abordagens pelos profissionais de saúde: manipular o menos possível a área
corporal/roupa, apos diagnóstico da morte não realizar mais tratamentos sobre os ferimentos,
proteger as mãos do cadáver com sacos de papel e evitar corte no vestuário coincidentes com os
orifícios dos projécteis. Preservar a roupa, identificar o nº de lesões, registo de todos os
procedimentos médicos/cirúrgicos, entregar à autoridade competente os projécteis e corpos estranhos
retirados da vítima durante a cirurgia.
Exame do local: ver se a armar está presente, qual o tipo, dispositivos para accionar o
gatilho e a sua localização. Ver a posição do cadáver e procurar sinais de defesa ou lesões auto-
infligidas e nº de orifícios e que correspondam com o vestuário. Ver os antecedentes pessoais.
Preservar a arma, cartucho, projécteis e involucro. Proteger as mãos e outros vestígios que possam
estar relacionados com o caso.
Exame do vestuário e hábito externo: vestuário e outros elementos que possam
acompanhar o cadáver, colheita de resíduos de disparo, inspecção minuciosa da superfície corporal.

77
Exames complementares: genética e biologia forense, toxicologia, histopatologia, análise
dos resíduos de disparo.
GSR ICP-MS: Remover sacos de papel, abrir porta-amostrar, remover pelicula plástica com
pinça de plástico, colher face dorsal e palmar, acondicionar correctamente.
GSR SEM-EDX:Dissecar retalho cutâneo com lesão centrada e 2 a 4 cm de lado, colher
amostra de controlo, colocar retalhos em caixas de petri. Deixar secar, acondicionar amostras
(eventual congelamento)
Alguns problemas médico legais: ferimentos ante e post mortem, reconstituição do evento,
determinação do instrumento usado e etiologia médico-legal.
Etiologia médico-legal:
o - Informação circunstancial:
o Sinais de desalinho no local
o Análise dos vestígios de sangue
o Vestígios de pés e mãos de terceiros
o Ausência de arma
o Suicídio diante do espelho
o Porta trancada por dentro
o Notas suicidas, antecedentes sociais, patológicos, económicos
o - Natureza do disparo: tipo de arma (arma de ocasião, improvisadas ou com
dispositivos extravagantes e complicados indicam suicídio), disparos sem projéctil.
o - Sinais no cadáver:
o Sinais de luta
o Estado da indumentária
o Localização dos ferimentos
o Número de feridas
o Direcção do disparo
o Distância do disparo
o Resíduos de disparo na mão do suicida
o Lesões de ensaio

12.Lesões por queimaduras


12.1. Queimaduras: as queimaduras podem ser produzidas por vários tipos de agentes:
Agentes físicos (calor, electricidade, radiações);
Agentes químicos (substancias causticas e corrosivos);
Agentes biológicos (seres vivos).
Por outro lado, a sua gravidade depende de várias circunstâncias, saber:
Extensão da superfície corporal queimada;

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Localização das queimaduras (se se situam à volta dos orifícios naturais são mais
graves dado que se infectam com maior facilidade dada a entrada constante de germes);
Profundidadeatingida;
Estado de saúde anterior da vítima;
A idade da vítima (é nas idades mais extremas que se atingem os prognósticos mais
desfavoráveis).

12.1. Que tipo de diagnóstico deve o médico apresentar no seu relatório?


a)  Diagnóstico da realidade das queimaduras (por vezes o cadáver apresenta lesões
semelhantes às das queimaduras mas trata-se apenas de reacções cutâneas provocadas por exemplo
por uma intoxicação medicamentosa – síndrome de Leile);
b)  Diagnóstico do agente etiológico (saber o que provocou a queimadura);
c)  Diagnóstico da extensão de superfície corporal queimada (sendo que o prognóstico será
tanto mais reservado quanto maior for essa extensão: numa criança basta que 5 a 10% da superfície
corporal esteja queimada para que se faça um prognóstico de morte, num adulto isso só acontece, em
regra, a partir dos 60%);
d)
Diagnósticodacausademorte(porexemplo,numincêndioéfrequentequeamortesefiqueadeverà
intoxicação por monóxido de carbono);
e)  Diagnóstico da profundidade das queimaduras: há quatro graus:
- 1o Grau (o cadáver apresenta lesões superficiais localizadas na epiderme);
- 2o Grau (destruição da camada superficial da epiderme com conservação da camada basal
da derme);
- 3o Grau (destruição total da pele com formação de escaras no cadáver);
- 4o Grau (a pele é destruída e poderá atingir-se o musculo e até a formação óssea – atinge-se a fase
de carbonização).
Um cadáver carbonizado cria muitas dificuldades de interpretação e realização do
diagnóstico. Desde logo, porque há uma redução do volume e do peso corporal o que cria
dificuldades em termos de identificação; depois porque a carbonização produz uma série de
artefactos que podem confundir um observador menos conhecedor e experiente, por exemplo:
- é frequente haver a amputação das extremidades dos membros;
- os cadáveres surgem na chamada “atitude pugilista” (de braços e pernas flectidos) pois o
calor provoca a contracção da musculatura;
- é frequente a mudança da cor dos olhos ficando a íris mais azulada devido ao processo de
coagulação.
- Como é que se sabe se o indivíduo sofreu a carbonização ainda vivo ou no pós mote? Há
vários indicadores da que a carbonização ocorreu no pós morte, nomeadamente:
Presença de queimaduras nos focos das vias respiratórias;

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Se se tratar de um incêndio num local fechado, poderão ser encontradas partículas de
fuligem que terão sido inaladas por movimentos voluntários;
Detecção de uma concentração superior ao normal da carboxihemoglubina;
Outros parâmetros estológicos (análise dos tecidos).
A não ser que o corpo fique completamente destruído/ carbonizado, em geral, por dentro
está conservado (designadamente os órgãos), sendo possível fazer todos os diagnósticos e até
exames estológicos. Cada agente etiológico produz queimaduras com características que o permitem
normalmente identificar, assim:
Chamas: produzem queimaduras irregulares que poupam mais as zonas protegidas pelo
vestuário ou sujeitas a uma certa compressão;
Líquidos quentes: produzem queimaduras irregulares mas, neste caso, são as zonas
protegidas pelo vestuário que são as mais atingidas (dado que a roupa molhada fica mais tempo em
contacto com a pele);
Queimaduras eléctricas: a electricidade doméstica é letal (geralmente a morte é provocada
por 1 milhão de OHM’S, mas se tivermos molhados é apenas de 100 OHM’S). Os trajectos (de
paragem de corrente) mais perigosos são, nomeadamente, a mão, o pé e o encefálico. Normalmente
bastará um exame externo ao cadáver para identificar uma morte por electrocussão, pois podem ver-
se as marcas por onde a corrente eléctrica entrou. Também a electricidade industrial é letal e têm
características muito particulares, semelhantes às raízes de uma árvore (em resultado da dilatação
dos vasos sanguíneos).
A maior parte das queimaduras são de origem acidental (normalmente acidentes de
trabalho), mas podem ser também de origem suicida (por exemplo, as emulações por fogo).
Frequentemente recorre-se à carbonização para omitir homicídios prévios – ora, em princípio,
sempre que um cadáver surja carbonizado sozinho, mesmo que todos os dados apontem no sentido
da uma morte incidental, é quase certo que se trata de um homicídio seguido de carbonização do
corpo com o intuito de omitir esse homicídio prévio.

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