You are on page 1of 2

TEXTO – O INSUCESSO ESCOLAR

«Falar de insucesso escolar é pôr em causa, não apenas o aluno, mas os professores, os
pais, o ambiente que rodeia o aluno, a instituição em si, os responsáveis pela educação
nacional e, enfim, toda a sociedade. Daí a complexidade do problema que não pode ser
interpretado parcialmente, mas numa visão global, considerando todos os fatores
pessoais, interpessoais e institucionais, embora, conforme as circunstâncias, alguns
possam ser predominantes.
Tempos atrás, o «culpado» do insucesso era essencialmente o aluno, que era apelidado
de «preguiçoso», «distraído», «desinteressado». Posteriormente acusou-se
principalmente a escola, que não reunia as condições necessárias a uma boa
aprendizagem, e ainda os professores que não se empenhavam ou não estavam
suficientemente preparados.
Assistiu-se depois a uma onda de interpretação predominantemente «socializante» ou
política do fracasso escolar, apontando-se o dedo às condições degradadas do meio
socioeconómico da família do aluno ou às deficiências do sistema educativo em geral,
como se as pessoas diretamente em causa (o próprio aluno, os professores e os pais)
fossem inocentes e pudessem lavar as mãos, incapazes de lutar contra o fatalismo
imposto do exterior e de assumir as próprias responsabilidades.
Hoje deve insistir-se na interação ou convergência de todas as circunstâncias, e em
particular de todos os intervenientes: alunos (que à medida que vão crescendo se devem
responsabilizar mais), professores, pais, psicopedagogos, políticos da educação
(responsáveis pelos programas, pela formação de professores, etc.).

Para dar conta da complexidade do problema, basta pensar que há alunos «inteligentes»,
mas que fracassam e alunos modestos intelectualmente e que obtêm sucesso; há alunos
pobres de meios degradados, mas bem-sucedidos, enquanto outros mais abastados e de
ambientes favorecidos podem não ter sucesso. Sinal de que estão em causa muitos
fatores e que é necessário ter uma visão holística do fenómeno. Além disso, os diversos
fatores não se encontram isolados. O meio «faz» a pessoa e a pessoa o meio, o professor
«faz» a escola e a escola o professor, o professor «faz» o aluno e o aluno o professor, o
professor interage com os pais e estes com o professor, direta ou indiretamente, através
do aluno-filho e filho-aluno.»

Oliveira, B. & Oliveira, A. (1999). Psicologia da Educação Escolar: Aluno-Aprendizagem,


pp. 203-204, Coimbra: Almedina.

You might also like