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Doenças TÉCNICA
fúngicas em palmeiras ornamentais. 9
Instituto Biológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, Instituto Biológico, Av. Cons.
Rodrigues Alves, 1252, CEP-04014-002, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: russomano@biologico.sp.gov.br
RESUMO
ABSTRACT
As palmeiras são plantas pertencentes à família continuar sendo chamados de “fungo” no senso co-
Arecaceae (Palmae), da ordem das Arecales, repre- mum.
sentadas por mais de 240 gêneros e cerca de 2.600 Portanto, as doenças fúngicas das palmeiras po-
espécies. São elementos importantes na composição dem ser causadas: por fungos de solo, que acometem
do paisagismo nacional, pois, juntamente com as ár- as raízes; por fungos da parte aérea, presentes nas
vores, arbustos, gramados e plantas rasteiras, são folhas e estipes; por fungos presentes em sementes.
satisfatoriamente utilizadas pelos paisagistas na for-
mação de parques e jardins. São as plantas mais ca- DOENÇAS CAUSADAS POR FUNGOS DE SOLO
racterísticas da flora tropical, podendo transmitir ao
meio onde são cultivadas, algo do aspecto luxurian- Podridão do olho, podridão do topo ou podri-
te e do fascínio das regiões tropicais (LORENZI et al., dão do broto – Phytophthora palmivora - os sinto-
2004). O mercado das palmeiras ornamentais cres- mas são caracterizados por murcha e
ceu consideravelmente nos últimos anos, sendo cul- amarelecimento da folha flecha e folhas mais no-
tivadas as mais diferentes espécies por viveiristas e vas. Os tecidos do palmito tendem a apodrecer até
produtores. transformar-se numa massa aquosa e fétida. As
Dentre as doenças fitopatogênicas que acometem plantas perdem as folhas mais jovens, permane-
as palmeiras, podemos encontrar aquelas provocadas cendo na copa apenas as folhas mais velhas, por
pelos fungos (MENDES et al., 1998). Os fungos, reino conseguinte mais resistentes. Com o progresso da
Mycota, são organismos eucariontes, unicelulares ou doença o estipe fica com os tecidos castanho-
filamentosos, desprovidos de pigmentos avermelhados (Fig.1) e os pedúnculos florais de-
fotossintéticos e cuja alimentação é realizada por ab- sintegram-se na base. No final do ciclo da doença,
sorção. Caracterizam-se por possuir parede celular ocorre a queda de todas as folhas, ficando o estipe
com presença de quitina ou quitasina, crista desnudo. Plantas jovens apresentam nítido apo-
mitocondrial plana e ausência de flagelos em todos drecimento de raízes e crescimento reduzido. A
os estádios de seu ciclo vital (LUZ, 2000). Entretanto, disseminação do patógeno pode atingir facilmen-
alguns patógenos como Phytophthora sp., por apre- te longas distâncias, seja através da água de irri-
sentarem esporos móveis dotados de flagelos, foram gação ou pelo substrato, por meio dos zoósporos,
englobados em um outro reino. Segundo LU Z & esporos móveis nadantes. O patógeno pode sobre-
MATSUOKA (2001), por apresentarem inúmeras simila- viver saprofiticamente no solo por longos perío-
ridades biológicas, fisiológicas e morfológicas com o dos, até encontrar um hospedeiro adequado e
Reino Mycota, esses agentes fitopatogênicos podem recomeçar seu ciclo vital (MARIANO, 1997). Como
medida de controle recomenda-se espaçamento mais velhas, o corte radial do estipe mostra um
adequado, manutenção da cultura a limpo, boa escurecimento da região condutora de seiva e essa
drenagem e descarte e destruição das plantas sintomatologia também pode ser notada ao cortar-
doentes, evitando-se assim a disseminação do mos longitudinalmente o estipe e talos das folhas
agente causal. (RUSSOMANNO et al., 2004) (Figs. 2 e 3). O controle pre-
ventivo da fusariose pode ser feito através do empre-
go de técnicas de solarização. Uma vez manifestada
a doença, recomendam-se inspeções constantes para
verificação da presença de sintomas e principalmen-
te o descarte e destruição das plantas afetadas. Um
controle da umidade (drenagem e regas) também
pode contribuir para que não ocorra a proliferação
do fungo.
Podridão de Cylindrocladium sp. (forma perfeita
Calonectria sp.) – Através do apodrecimento do sis-
tema radicular e do estipe (Figs. 4 e 5), esse fungo
pode comprometer o desenvolvimento das plantas,
levando-as à morte. Os esporos e microescleródios
(estruturas de resistência) do fungo sobrevivem no
solo e disseminam-se através da água de irrigação
contaminada, restos de cultura deixados no campo
e ainda ferramentas infectadas que são utilizadas
Fig.1 – Corte radial do estipe de palmeira (Cocus nucifera) na poda. O fungo pode também causar uma podri-
apresentando escurecimento dos tecidos, causado por dão peduncular de frutos, principalmente do co-
Phytophthora palmivora. queiro (PONTE & S ILVEIRA Filho, 1997; POLTRONIERI et
al., 2003). Para controle da doença recomenda-se a
diminuição da umidade, limpeza da cultura, ins-
Fusariose ou Murcha – Fusarium sp. - o fungo pe- peções constantes para verificação dos sintomas e
netra na planta hospedeira através das raízes, cau- ainda aplicação de calcário dolomítico (1 kg/m2),
sando o apodrecimento desta e do estipe. Os primei- tendo em vista que o aumento do pH do solo con-
ros sintomas em plantas jovens manifestam-se por trola o desenvolvimento de fungos e favorece o au-
uma murcha das folhas seguido de amarelecimento mento de bactérias competidoras desses microrga-
e seca das mesmas, tendo em vista que o fungo sobe nismos causadores de doenças. Entretando, a
pelos vasos condutores de seiva e acaba atingindo calagem empregando calcário dolomítico é um pro-
toda a planta. Em viveiros, em plântulas, causa cesso lento e os resultados benéficos não serão ime-
“damping-off” (PIZZINATTO et al., 1996). Nas plantas diatos.
Fig. 2 – Corte longitudinal do estipe de palmeira-rapis Fig. 3 – Corte longitudinal do talo da folha de palmeira
(Raphis excelsa), mostrando sintomas de escurecimento, real (Roystonea sp.), mostrando sintomas de escurecimento,
provocados por Fusarium sp. provocados por Fusarium sp.
Fig. 4 – Podridão e escurecimento da região basal do estipe Fig. 5 – Podridão radicular com nítido escurecimento da
de pupunha (Bactris sp.), provocados por Cylindrocladium base do estipe de pupunha (Bactris sp.), provocada por
sp. Cylindrocladium sp.
DOENÇAS CAUSADAS POR FUNGOS DA PAR- haja contaminação de plantas sadias e ainda, maior
TE AÉREA espaçamento entre as mudas, pode favorecer a aeração
e impedir a proliferação do fungo.
Antracnose – Colletotrichum sp. – Essa doença é con- Lesões nas folhas por Pestalotiopsis sp. – Esse fun-
siderada a mais importante para os produtores de go desenvolve-se sobre as folhas das palmeiras e cau-
mudas e plantas envasadas destinadas ao comércio. O sa pequenas manchas quase não perceptíveis. Com a
fungo ataca principalmente as folhas, causando man- coalescência das pequenas manchas, formam-se man-
chas pardas que aparecem nas bordas ou junto às chas maiores que progridem, podendo provocar a seca
nervuras. Com a coalescência das lesões grande área das folhas e comprometer toda a planta, especialmente
do limbo foliar é afetada, terminando por amarelecer e as mais jovens (PITTA et al., 1990; MARIANO, 1997) (Fig.
secar completamente as folhas (Figs. 6, 7 e 8). O fungo 9). Os esporos, quando em grande quantidade sobre
pode ainda atacar os talos das folhas e o estipe, princi- as folhas, mostram uma espécie de fuligem preta, cor-
palmente em plantas mais jovens (PITTA et al., 1990; respondente às frutificações fúngicas (Fig. 10). Para
PIZZINATO et al., 1996). Para controle da antracnose reco- controle desse fungo recomenda-se a poda das folhas
menda-se a poda das folhas afetadas e a retirada das e retirada das mesmas do local de plantio, bem como
mesmas do local de plantio, eliminando-se a fonte de diminuição da umidade do solo quando das regas.
inóculo do fungo. Em viveiros, mudas atacadas pelo Um maior espaçamento entre as plantas para favore-
patógeno devem ser retiradas do local para que não cer a aeração também é recomendado.
Fig. 6 – Muda de palmeira-ráfis (Raphis excelsa) com le- Fig. 7 - Mudas de pupunha (Bactris sp.) com lesões nas
sões nas folhas (antracnose), causadas pelo fungo folhas (antracnose), causadas pelo fungo Colletotrichum
Colletotrichum sp. gloeosporioides.
Fig. 12 – Plântula de palmeira Ravenea sp. com lesões nas Fig. 13 – Conídios de Bipolaris incurvata visualizados em
folhas, provocadas por Bipolaris incurvata. microscopia óptica (aumento 400 x)
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