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Dicas para começar a

escrever seu livro!

ESCRITA,
DICAS E
REFLEXÕES
Selem Aubeso
Copyright © 2020
by Suelem Aubeso

Todos os direitos desta edição reservados à autora

Autora Suelem Aubeso


São Paulo - SP
Brasil

Instagram: @suelem.aubeso
E-mail: suelem.aubeso@yahoo.com.br
ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    03

INTRODUÇÃO
POR: SUELEM AUBESO

COMPARTILHANDO MEU RESUMO

Escrever para memorizar o conteúdo.

Quando li o livro Escrever Ficção: Um Manual Decidi então, participar de um desafio na


de Criação Literária do professor e doutor Luiz internet proposto pela escritora Gabi Pazos,
Antonio de Assis Brasil, percebi que tinha uma chamado "desafio dos 30 textos".
mina de ouro nas mãos.
Durante 30 dias eu escreveria 30 textos todos
O célebre criador da oficina literária mais os dias initerruptamente.
renomada do Brasil, transformou em livro o
curso que formou muitos dos grandes Usando como base o incomparável livro do
escritores brasileiros. Assis Brasil, escrevi dezenas de textos, uma
forma que encontrei de estudar uma vez mais o
Minha tarefa era devorar as 400 páginas do livro e reter o conhecimento que essa obra-
livro para aprender mais sobre como escrever prima me trouxe.
ficção.
Cabe ressaltar que esse e-book é apenas um
Cumpri a tarefa em pouco menos de um mês e pequeno resumo do meu estudo, recomendo
durante esse tempo, fiz muitas anotações e fortemente a leitura desse livro indispensável
reflexões sobre o aprendizado que o livro me para qualquer escritor ou aspirante a escritor.
proporcionou.
Aproveite a leitura e as dicas!
SUMÁRIO

PLANEJE PARA ESCREVER LIVREMENTE....................... 05

O PODER DO PERSONAGEM............................................ 07

COMO CRIAR UM PERSONAGEM.................................... 08

CRIANDO PERSONAGENS INESQUECÍVEIS...................10

O ENREDO NA FICÇÃO......................................................12

COMO CRIAR UM PERSONAGEM CONVINCENTE.......13

O QUE É UMA CENA NA FICÇÃO.....................................14

FOCALIZAÇÃO....................................................................15

SENTIDOS E SENSAÇÕES..................................................17

O TEMPO............................................................................19

FLASHBACK.......................................................................20

ESTILO.................................................................................21
SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    05

PLANEJE PARA ESCREVER LIVREMENTE

Esse título é propositalmente contraditório, mas explicarei o motivo.

Muitos são contrários ao planejamento e acreditam que é melhor deixar a

história fluir, concordo.

Eu mesma, gosto de deixar minha imaginação fluir, começo a imaginar a

história passando como um filme em minha mente e “voilà”, quando me dou

conta já escrevi 30 páginas.

Entretanto, aprendi com o mestre, Assis Brasil que é possível fazer isso de

maneira planejada, sabe como? A citação abaixo do livro Escrever Ficção,

responde essa pergunta:

“... Com o planejamento da narrativa, sei o que vou escrever no capítulo 10, mas

não sei como vou escrever, o que deixa grande margem para a invenção. ”

Em resumo, podemos determinar o que iremos escrever em cada capítulo,

planejando a sequência dos eventos e com isso, deixando o nosso enredo

mais organizado e interessante, no entanto, somos livres para criar o que

quisermos dentro desse planejamento.

Vamos ao exemplo?

Mencionarei minha leitura atual, Crime e Castigo de Dostóievski, primeiro

ele aborda os conflitos internos e psicológicos do personagem, depois os

eventos que, aos poucos, o convencem de que ele deve cometer um crime,

em seguida, o crime, depois, a culpa que o consome, etc, etc... Observem que

a narrativa precisa ter uma sequência lógica dos fatos, como qualquer

história real.
SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    06

Assis Brasil, menciona que, através de sua experiência, ele pode comprovar

que, quem planeja escreve com mais rapidez, melhor e com mais liberdade.

Segundo o autor, dessa maneira, evitaremos que o enredo vire uma colcha de

retalhos, cheios de furos para remendar.

A ideia é evitar uma narrativa que, segue sem rumo e depois precisa ser

corrigida, levando o escritor a fazer emendas sobre emendas que, se tornam,

ao final, visíveis para o leitor.

Portanto, planeje seu enredo para que ele não seja um voo cego, e dentro

desse planejamento, libere sua criatividade e escreva livremente!


SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    07

O PODER DO PERSONAGEM

“Tal como no cinema, em que muitos espectadores fixam-se no ator/atriz central e

são capazes de ir até o inferno para vê-los em outra atuação, assim também é o

personagem de ficção na literatura...”

Começo esse texto com a citação acima do livro, Escrever Ficção de Assis
Brasil, que por si só, já nos diz muita coisa.

O personagem tem um poder inigualável na ficção, podemos nos apaixonar


por ele ou odiá-lo, mas, sem ele não existe história.

Por vezes, o leitor pode se perder na história, isso acontece. Um detalhe que
o leitor deixou passar ou não entendeu, é normal, mas, o personagem, esse,
meus amigos, se for bom, se for bem construído e desenvolvido, irá cativar
para sempre.

O leitor, eventualmente poderá se esquecer da história, mas não se


esquecerá do personagem.

Assis Brasil, menciona como exemplo Raskólhnikov, personagem do livro


Crime e Castigo de Dostoiévski, mas, o que acham de eu trazer exemplos
mais simples?

Quem já leu Agatha Christie e ficou encantando com o célebre detetive


Hercule Poirot?

Milhares de pessoas correram para ler o próximo livro em que o famoso


detetive desvendaria outro crime.

Ainda nessa linha de raciocínio, temos o famoso e peculiar Sherlock Holmes,


o personagem que dá título aos livros de Arthur Conan Doyle.

Por isso, é muito importante que o escritor trabalhe muito bem o


personagem, dando vida a ele!

Não basta descreve-lo como descreveríamos uma foto, precisamos de muito


mais!

No próximo tópico iremos abordar esse tema tão importante na ficção.


SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    08

COMO CRIAR UM PERSONAGEM

No texto anterior escrevi sobre a importância do personagem na ficção. A


lista de exemplos continuou fluindo na minha mente.

O personagem é algo tão poderoso que, diversas vezes o título do livro é


apenas o seu nome, quer exemplos?

Madame Bovary, Harry Potter, Robin Hood... e por aí vai.

Sendo assim, como posso ajudá-los a construir um personagem?

Farei isso abordando esse tema em camadas.

Para criar a primeira camada do personagem, lhes proponho um exercício


prático.

Você pode aproveitar uma reunião familiar, ir em um restaurante, café ou


qualquer outro lugar onde existam pessoas reais.

Feito isso, acomode-se, selecione uma pessoa e comece a descreve-la.


Como é sua fisionomia, roupas, peculiaridades, gostos. Pense em tudo,
gestos, trejeitos, manias, ações, frases ou bordões que esse personagem
possa ter, objetos que sejam de alguma forma significativos e que marquem
o personagem.

Você pode fazer esse exercício diversas vezes com pessoas diferentes,
apenas tome cuidado para não assustar ninguém.

O ser humano é tão fascinante, eu poderia fazer esse exercício por horas.

Pense nisso, cada ser humano é único e possui características únicas. Esses
detalhes, ou seja, essas características são importantíssimas para dar vida ao
personagem.

De novo, lembre-se dos detalhes!


SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    09

O cabelo ralo ou espesso, o nariz gordo, a pele grossa, o rosto fino e


delicado, as unhas sujas ou bem pintadas, aquela pelanca que recobre a
pálpebra do olho da vovó.

Pense nisso como uma arte! Assim como o pintor retrata pessoas e
expressões em um quadro, o escritor deverá fazer isso com muito mais
profundidade.

No entanto, o escritor possui uma vantagem extraordinária, pois é


beneficiado pelo poder das palavras que, por sua vez, são ilimitadas!

Essa é a primeira “camada” da construção de um personagem na ficção, no


entanto, existem outras camadas que precisam ser construídas.

Abordarei mais sobre o assunto no próximo tópico.

Finalizo esse texto com outra citação de Assis Brasil:

“O personagem, quando bem construído, que dá sentido a tudo que acontece na


história. ”
SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    10

CRIANDO PERSONAGENS INESQUECÍVEIS

É importante que o personagem prenda o leitor, observe, estou empregando


o verbo “prender”, pois o leitor pode tanto gostar, como odiar o personagem,
contudo, o que importa é que ele fique curioso para saber o que acontece
com esse personagem, qual o destino dele na trama.

Dito isso, vamos a segunda camada sobre a criação de um personagem. Essa


camada se refere a sua profundidade.

Todo personagem deve ter os seus valores, seu código de honra, ética, assim
como nós, pessoas reais.

É fundamental que o personagem tenha conflitos e problemas, afinal,


pessoas reais sempre têm problemas, insatisfações e é isso que causa
empatia no leitor.

Já observaram quantas vezes acabamos torcendo para que os vilões se saiam


bem? A essa altura, pode ser que você tenha notado que eu gosto de
trabalhar com exemplos, então, vamos lá!

O que acham do filme onze homens e um segredo? Eles são ladrões, estão
planejando roubar algo que não lhes pertencem, além de, mentir e enganar,
no entanto, lá estamos nós, torcendo para que eles executem o crime e
realizem o roubo com sucesso.

Que tal a série Vikings? Ladrões e assassinos sem piedade e, o que acontece?
Mais uma vez estamos ali, curiosos, torcendo por eles ou no mínimo ansiosos
para saber o que irá acontecer com os protagonistas da história.

Isso se dá pelo fato do personagem ter profundidade, essa é a palavra-chave.


Nos exemplos mencionados acima, os personagens são bem construídos, por
isso despertam curiosidade e interesse.
SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    11

Sabemos os seus medos, seus conflitos internos, suas angustias e problemas.


Sabemos a razão, seja ela boa ou ruim, pela qual eles roubam, enganam e
matam, em resumo, sabemos suas motivações.

É isso que fará com que o leitor nunca mais se esqueça do seu personagem.

O leitor precisa ter essa noção, precisamos dar profundidade ao


personagem, para que o leitor o conheça verdadeiramente.

Ele precisa entender quem é o personagem e suas razões para agir como age
e fazer o que faz.

Construa seu personagem de maneira complexa e seu leitor não o esquecerá


jamais!

Aproveito para deixar essa citação do livro Escrever Ficção de Assis Brasil:

“Pense num personagem célebre. Por exemplo, o capitão Ahab, de Moby Dick,
Riobaldo, de Grande sertão: veredas, o pai Goriot, da novela homônima, ou
qualquer outro.

Agora, pense nas características dele, mas que não constituem nada de especial;
depois, nas que fazem dele um ser incomum.

Lembre um evento que apenas ele poderia ter vivido. Por fim, pense naquela ou
naquelas características que o tornam único. Pronto: eis por que esse personagem
é inesquecível”
SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    12

O ENREDO NA FICÇÃO

Assis Brasil define o enredo como:

“Um elemento cuja função primordial é agravar mais e mais o conflito, levando o
personagem a um estágio em que qualquer decisão conduzirá à ruína.”

É o enredo o responsável pela organização dos eventos que acontecem na


história de ficção. O enredo deve ser tão convincente quanto o personagem
e o conflito da narrativa, em outras palavras, segundo Assis Brasil, “o enredo
só será bom se provier de um personagem consistente. ”

Deixo aqui a definição de enredo conforme o autor:

“O enredo é uma estrutura que organiza os eventos da narrativa, ligando-os pela


relação de causa e efeito, na intenção de apresentar e agravar o conflito,
resolvendo-o ou não."

É importante esclarecer que “evento” é um fato que agrega algo novo ao


enredo da história.

Vamos ao exemplo? O que acham? Capitu traiu Bentinho?

Há quem diga que sim, mas muitos têm certeza que não.

Esse é o conflito que Machado de Assis narra tão bem em sua obra, Dom
Casmurro e que “fica no ar”, ou seja, não sabemos a resposta, pois o autor
não nos revela essa informação.

O enredo do livro Dom Casmurro, foi criado de maneira que o conflito


interno de Bentinho vai se agravando cada vez mais, exatamente como na
definição de Assis Brasil, mencionada acima.

Portanto, pense nisso quando estiver construindo seu enredo, agrave o


conflito da história, isso é crucial para prender o leitor.

Por fim, para terminar essa breve apresentação sobre o enredo, também
chamado de plot, é importante que os eventos sejam organizados de forma
coerente, com o intuito de convencer o leitor.
SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    13

COMO CRIAR UM PERSONAGEM CONVINCENTE

Segundo Assis Brasil, “o enredo convincente é aquele em que não há evento sem
motivo que o provoque, mesmo que esse motivo seja apresentado a posteriori,
como acontece nos romances policiais."

Trata-se do princípio de causa e efeito, simples assim. É ruim para o leitor


quando o livro está cheio de eventos que surgem “do nada”, que não fazem
sentido e que o leitor fica se questionando o motivo pelo qual o autor
mencionou aquilo.

Pior ainda é terminar um livro com “linhas soltas”, ou seja, eventos que não
tinham um objetivo ou função na história, desconexos da trama.

Eu costumo dizer que “nada é tão ruim que não pode ficar pior”, na vida real,
isso é tudo que não queremos que aconteça, certo?

Ninguém quer viver cheio de problemas, mas, na ficção isso é


importantíssimo! Segundo Assis Brasil, o enredo convincente costuma
deixar cada vez mais agudo o conflito vivido pelo personagem central.

O livro precisa causar uma certa tensão no leitor, no sentido de fazer com
que o leitor queira saber o desfecho da história, mesmo que ele esteja lendo
um livro para relaxar.

Toda ficção gira em torno de um conflito, um problema que precisa ser


resolvido, ou algo mais íntimo, um conflito interno do personagem, mas
lembre-se, precisa haver o conflito e o agravamento do conflito ao longo da
narrativa, caso contrário, qual seria a graça ou o interesse do leitor em ler tal
história?

Pense bem, você consegue me dar um exemplo de um livro, filme ou série em


que não exista um conflito ou um problema a ser resolvido?

Não existe! Você gostaria de ler um livro em que o personagem sai todo dia
de manhã para trabalhar, almoça, volta para casa, janta e dorme? Sem
condições!

Para provar o que estou dizendo, eis uma citação do livro Escrever ficção:

“Se o conflito não se agravar, se não piorar a cada capítulo, não há narrativa de
ficção.”
SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    14

O QUE É UMA CENA NA FICÇÃO?

Começo esse tópico com a seguinte citação de Assis Brasil:

“Cena é o evento que decorre em “tempo real” diante do leitor. Digamos assim: a
narrativa mostra as ações dos personagens como se estivessem acontecendo na
nossa frente, como num filme...”

Mas, qual a função da cena na narrativa? Bem, a cena pode ajudar o leitor a
conhecer melhor o personagem, pode definir circunstâncias que ainda estão
vagas no enredo e pode fazer com que a história avance.

Contudo, segundo Assis Brasil a função primordial da cena é reforçar,


potencializar e tornar ainda mais agudo o conflito, elemento indispensável
da narrativa.

A cena pode ser um diálogo, uma discussão. Para citar um exemplo temos a
famosa cena do assassinato do livro Crime e Castigo, a cena acontece na
primeira parte do livro e torna o conflito do personagem cada vez mais
agudo durante toda a narrativa.

Acho importante mencionar que além da cena existe outra estrutura na


narrativa chamada sumário.

O sumário seria um resumo de várias cenas que, o autor pode contar, afim de
evitar entediar o leitor com muitos detalhes. A função do sumário é de
abreviar o tempo e servir de ligação entre as cenas.

Uma dica do professor Assis Brasil, caso você precise escrever longos
sumários é incluir micro cenas ou alguns pormenores concretos para dar
vida ao seu sumário.

Espero com esse texto ter ajudado um pouco mais a esmiuçar a estrutura de
uma narrativa de ficção.

Um resumo que para mim foi essencial para "clarear" essa ideia é o seguinte:

Use a cena quando a questão essencial do personagem ou conflito


estiverem presentes.

Use o sumário quando a questão essencial da história ou do personagem


não estiver explicita.
SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    15

FOCALIZAÇÃO

O que isso quer dizer?

Assis Brasil aborda o tema com um exemplo que eu adoro!

“Quem põe filho no mundo, tem de criá-lo."

Esse “filho" está relacionado aos personagens da história. Se no seu texto,


você acostuma o leitor com uma focalização em determinado personagem,
você precisa prestar atenção se optar por focalizar em outros personagens
também.

Isso não é um problema, mas caso você o faça, é importante dar um destino
para esses personagens. O leitor espera por isso.

Vamos aos exemplos?

Já assistiu um filme, série ou leu um livro e quando terminou, ficou


incomodado se perguntando, “mas, e o fulano? ” O que aconteceu com ele?

Eu detesto quando isso acontece!

O escritor precisa tomar cuidado para não “esquecer” de dar um fim ou


resolver o que houve com os personagens que ele focalizou.

Compartilho duas citações de Assis Brasil sobre isso:

“Você pode usar quantas focalizações internas quiser, mas deve ter razões para
isso”.“Quanto maior o número de personagens que tenham sua intimidade
revelada, mais fraco se torna o conflito”.

Quando o narrador onisciente, revela muito sobre o que se passa no íntimo


de um personagem, o leitor se interessará por ele e precisará saber seu
desfecho na história.

Assis Brasil sugere que, o aprofundamento deve ser reservado para o


personagem central ou para mais um ou dois personagens.
SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    16

Para os outros personagens, podemos usar a focalização externa, que seria


descrever suas ações sem adentrar na interioridade do mesmo, assim como
você descreveria uma situação na via real, quando você não sabe o que a
outra pessoa está pensando.

Seria como usar uma câmera externa para descrever as ações dos
personagens, em outras palavras, descrever apenas aquilo que você vê.

Por fim, finalizo essa reflexão com outra citação:

“Se quiser manter forte o conflito da narrativa, procure conta-la na perspectiva de


um só personagem”
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SENTIDOS E SENSAÇÕES

Me lembro bem que quando li esse capítulo do livro de Assis Brasil fiquei
encantada! Eu, com a minha inexperiência, pensei: “que gênio” é isso mesmo!

O autor nos instiga a usar todos os sentidos ao criar nossa história, mas isso
não é tudo.

Além do que aprendemos na escola, visão, audição, tato, paladar e olfato, ele
ainda propõe a descrição das sensações, tais como, dor, fome, a temperatura
do corpo, a sensação de plenitude após comer, coceira, o alivio ao esvaziar a
bexiga, ou seja, fazer xixi.

Olha o quanto o mundo da ficção pode ser rico e amplo! Pare por alguns
minutos e pense quantas sensações você sente nesse momento além dos 5
sentidos?

Fiz esse exercício enquanto escrevo:

“Sinto uma leve dor de cabeça, minhas costas estão pegando fogo, que calor! Deve
ser o tecido da cadeira na qual eu passo a maior parte do meu dia sentada. Parece
que o sono vai me vencer a qualquer momento, o bebê acordou várias vezes essa
noite. Tomo um gole de café, o gosto amargo com o qual eu já me acostumei me
traz aconchego. E essa tela brilhante do computador intensificando minha dor de
cabeça, que droga! Preciso trabalhar, mas terei que me levantar para fechar a
porta do quarto que não para de bater, o vento está ficando mais forte, vai chover
logo."

O autor nos questiona sobre isso: por que, se sentimos tudo isso em nosso
corpo, não o colocamos em nosso texto?

A tradição literária segundo Assis Brasil, teima em privilegiar apenas a visão


e a audição, mas venho com essa análise do livro, Escrever Ficção,
compartilhar com vocês que podemos fazer muito mais!

Quando estamos acordados e conscientes, estamos olhando algo, escutando,


sentindo a temperatura, textura da roupa, do sofá, da cama ou da cadeira.

Estamos com fome ou satisfeitos. Sentindo frio ou calor. As vezes estamos


preocupados ou relaxados. A nossa boca ainda guarda o sabor do chocolate,
café ou chá que comemos ou bebemos há pouco.
SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    18

Fala a verdade, não é fascinante?

Eu li esse livro e estou relendo para trazer essas reflexões e ensinamentos e


a cada dia aprendo mais!

Gosto de finalizar os textos com uma citação do autor, que de forma concisa
consegue nos passar o ponto principal da mensagem:

“Quanto maior o número de sensações físicas experimentadas pelo personagem,


mais o leitor acreditará nele. ”
SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    19

O TEMPO

A percepção do tempo é extremamente relativa.

Para alguns a semana passou voando, para outros a semana se arrastou e


parecia não ter fim.

Na ficção acontece exatamente o mesmo, o tempo é uma percepção do


personagem, é subjetivo, por isso, personagens diferentes também tem uma
percepção diferente do tempo.

Nas obras em que o autor opta por demarcar o tempo real, é preciso que o
tempo faça sentido.

Acredito que os livros de suspense e thrillers usam bastante esse recurso,


me lembro do livro A Garota no Trem e Uma Mulher no Escuro, ambos
possuem o tempo dos acontecimentos de forma bem marcada.

Outra obra que posso citar como exemplo que usa o tempo “oficial” na
narrativa, incluindo datas, ou horas, é o livro de Joël Dicker, O Enigma do
Quarto 622. O livro menciona claramente “uma semana antes do
assassinato” ou “na manhã do assassinato”.

Contudo, existe outra forma de narrativa na qual podemos deixar as


marcações de tempo vagas ou até mesmo inexistentes, não há problema
nenhum nisso.

Acho que o mais importante disso é que, segundo Assis Brasil, muitos
escritores cometem o erro de equiparar o tempo da escrita com o tempo da
narrativa, ou seja, se você passou 5 horas escrevendo, tende a pensar que na
narrativa também se passaram 5 horas, por isso, precisamos prestar atenção,
principalmente quando estamos escrevendo cenas.
SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    20

FLASHBACK

Ainda sobre a temática tempo, o flashback é um recurso essencial para fazer


o tempo voltar para trás.

Assis Brasil define:

“Flashback é o recurso narrativo que recupera alguns eventos ou emoções


passadas que digam respeito ao personagem, direta ou indiretamente. Pode ser
expresso por cenas, sumários, reflexões do personagem ou mesmo pela
perspectiva assumida pelo ficcionista”

O flashback acontece muito na narrativa, eu diria que ele é fundamental,


pois é através desse recurso que expomos as circunstâncias do personagem,
o conflito o tempo.

Além disso, usamos esse recurso para explicar para o leitor os elementos e
fatos importantes antes de chegarmos no momento presente da história.

Mesmo de maneira inconsciente, acabamos utilizando o flashback, aliás, até


no nosso dia a dia utilizamos o flashback.

Mas, gostaria de deixar a citação abaixo, para que você, assim como eu,
aprenda a usar esse recurso na ficção de maneira adequada:

“O real interesse do leitor sempre será pela história atual. O leitor irá fazer o
grande favor de ler essas remissões ao passado e, por isso, temos de agir com
sentido de economia.
Não esqueça que o flashback interrompe a história, o que é sempre aborrecido,
especialmente se a narrativa corre bem."

Que tal um exemplo?

Fiz um IGTV sobre o livro O Enigma do Quarto 622 (se você não assistiu,
corre no Instagram para ver).

Na minha resenha eu explico exatamente isso! Fiquei irritada, pois trata-se


de um livro de suspense, eu estava ansiosa para saber mais sobre o
assassinato quando, o autor voltava ao passado para contar como os
personagens começaram a se relacionar. Eu lia rapidinho ansiando por voltar
ao momento presente da história.

Portanto leve isso seriamente em consideração na hora de escrever!


SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    21

ESTILO

Conforme Assis Brasil:

“Estilo é o modo de escrever as palavras, as frases, os parágrafos, e, enfim, todo o


texto."

O autor quebra o paradigma de que o estilo da escrita está relacionado com


o caráter do escritor, querem um exemplo?

Eu! Sou uma pessoa integra, trabalho desde muito jovem e estou escrevendo
um livro sobre um estelionatário, meus personagens não tem nada a ver
comigo.

Eu simplesmente crio eles a partir de experiências vividas e dos devaneios


da minha imaginação.

Assis Brasil, comenta que conhece pessoas secas no trato social, mas que
escrevem textos cheios de humor.

Foi por conta desse paradigma que por dois anos não tive coragem de deixar
ninguém ler o meu livro, eu tinha medo de que as pessoas relacionassem o
personagem a minha pessoa.

Outro ponto esclarecedor sobre o estilo mencionado pelo autor é que por
muitos anos existia a ideia equivocada de que para ter um bom estilo de
escrita era preciso escrever como o “fulano ou o beltrano”.

A boa notícia é que, todos esses paradigmas já caíram por terra! Felizmente
no mundo existem pessoas criativas e convictas para quebrar os padrões e
um exemplo disso foi Machado de Assis (muitos fãs o chamam de
“Machadão”), afinal ele é sensacional, não é mesmo?

Assis Brasil nos conta que, Machado de Assis rompeu com o romantismo
vigente na época, através de um romance REALISTA, chamado Memórias
Póstumas de Brás Cubas, conhecem?

Minha intenção com esse texto e incentivar que você seja livre para escrever
o que quiser e como quiser!

Existe muito preconceito literário, o que é ridículo! Já está mais do que na


hora de respeitarmos uns aos outros!
SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    22

Voltando a análise do livro de Assis Brasil, o autor nos explica que ninguém é
prisioneiro do próprio estilo, eu adoro o fato de ele falar que:

“Não somos uma entidade ancorada no tempo."

Quem tem raiz é árvore! Eu quero mais é ser livre para alçar novos voos!

Segundo o autor, estamos em constantes mudanças, nossos gostos, nossa


maneira de pensar e de agir mudam, por que não nossa maneira de escrever?

A mensagem desse e-book é essa, não se prenda a um estilo, padrão ou


paradigma, solte sua imaginação e seja livre para criar!
SUELEM AUBESO ESCRITA, DICAS E REFLEXÕES  |    23

BIBLIOGRAFIA

BRASIL, Luiz Antonio de Assis. Escrever Ficção: Um Manual de Criação


Literária. São Paulo: Editora Schwarcz, 2019.

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