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Frege: o que a ciência pode dizer

Frege

 Doutor em Filosofia e professor de Matemática em Jena (Alemanha), Gottlob Frege


encontra-se na base do movimento de renovação da lógica contemporânea

 Levava tremendamente a sério a responsabilidade própria do discurso científico – daí a


busca incessante por seus fundamentos

 Julgava a linguagem natural incapaz de exprimir as estruturas lógicas com a precisão


necessária (para a fundamentação das provas da aritmética, área em que trabalhava).

 Em sua obra Begriffsschrift (Conceitografia), de 1879, esboçou uma linguagem artificial,


na qual, por meio de um número reduzido de símbolos, fosse possível exprimir com exatidão
as relações de sentido da linguagem – lógica simbólica (a characteristica universalis, já
sonhada por Leibniz).

 As reflexões de Frege acerca da linguagem – mais especificamente da semântica –


constituíram uma reação ao psicologismo que, em sua época, tentava reduzir os processos de
conhecimento a “vivências psíquicas” subjetivas e, portanto, destituídas de validade objetiva.

 Em sua obra Begriffsschrift (Conceitografia), de 1879, esboçou uma


linguagem artificial, na qual, por meio de um número reduzido de símbolos,
fosse possível exprimir com exatidão as relações de sentido da linguagem –
lógica simbólica (a characteristica universalis, já sonhada por Leibniz).

 As reflexões de Frege acerca da linguagem


– mais especificamente da semântica – constituíram uma reação ao
psicologismo que, em sua época, tentava reduzir os processos de
conhecimento a “vivências
psíquicas” subjetivas e, portanto, destituídas de validade objetiva.
Exemplos de conectivos lógicos criados por Frege (4.ª coluna)

 Über Sinn und Bedeutung (Sobre sentido e denotação), 1892

 Os nomes próprios designam

objetos

 Entretanto, a substituição desses nomes por outros que se refiram ao mesmo objeto
pode mudar a significação da frase.
A estrela da manhã brilha no céu.

A estrela da tarde brilha no céu.

 Essas duas frases têm o mesmo sentido?

 Elas representam o mesmo objeto?

 Por que isso ocorre?


A estrela da manhã brilha no céu.
A estrela da tarde brilha no céu.

 Essas duas frases têm o mesmo sentido?

Não. Indicam modos diferentes de manifestação do mesmo objeto.

 Elas representam, denotam o mesmo objeto?

Sim. O planeta Vênus.

 E por que isso ocorre?

 Frege conclui que os nomes têm duas funções semânticas: eles denotam um
objeto e exprimem um sentido.

 Denotação é a referência ao objeto, aquilo sobre o que falamos: permanece


igual. (O planeta Vênus.)

 Sentido é o modo como o objeto se manifesta, o modo como ele é percebido:


pode variar. (“Estrela da manhã”, “estrela da tarde”).

Frege: dimensões
da linguagem

 Num
a
linguagem logicamente exata, a cada sinal corresponde um sentido, um modo
como o objeto se dá a conhecer.

 A cada denotação (objeto), podem

corresponder vários sinais.

 Na linguagem comum, ocorre que a cada sinal podem corresponder vários


sentidos, o que não é desejável para o discurso científico.

Cada nome (sinal) designa o objeto denotado (denotação) segundo um diferente modo
de manifestar-se do objeto (sentido).
 Pode haver expressões linguísticas

dotadas de sentido mas sem nenhuma denotação

 Nesse caso, não há nenhum objeto real ao qual o nome se refira.

 Esses nomes devem ser excluídos do


discurso científico.

 Com Frege, o conhecimento começa a ser limitado por aquilo que a linguagem é
capaz ou não de dizer.

O pégaso atinge 100 km/h em seu voo.

sinal com sentido, mas sem denotação: impróprio para a linguagem


científica

Para Frege, a linguagem científica só pode dizer sinais referentes a uma denotação.

 Assim como os nomes próprios, também as frases apresentam uma dupla função
semântica: de denotação e sentido.

 Toda frase contém um pensamento, um conteúdo, o que Frege chama de


proposição.

 A proposição é a denotação ou o sentido da frase?

A estrela da manhã brilha no céu.


A estrela da tarde brilha no céu.
 Se trocamos um termo por outro de mesma denotação e sentido diferente, a
denotação da frase permanece, mas o seu sentido também muda.

 Portanto, o sentido da frase é a sua “proposição”, que varia

de acordo com o sentido dos termos que a compõem.

O que permanece na frase, quando fazemos substituições transformadoras do sentido, é a sua


denotação.

 É na denotação que se encontra o

valor de verdade de uma sentença.

 O valor de verdade é a circunstância segundo a qual uma frase é verdadeira ou


falsa.

 É a busca da verdade que nos faz passar do sentido à denotação em cada frase que
ouvimos ou lemos.

 Todas as frases verdadeiras, referentes aos mesmos objetos, embora com


sentidos diferentes, possuem a mesma denotação.

 Do mesmo modo, todas as frases falsas.

 Na denotação de uma frase, desaparece o singular.


 Frases constituídas de nomes próprios carentes de denotação não possuem
valor de verdade, e devem ser excluídas do discurso científico.

Michael Jackson morreu.


O Rei do Pop morreu.
O criador do moonwalk morreu.

Sentidos diferentes, mesma denotação, mesmo valor de verdade

Michael Jackson está vivo.


O Rei do Pop está vivo.
O criador do moonwalk está vivo.

Sentidos diferentes, mesma denotação, mesmo valor de verdade


(ainda que sejam sentenças falsas)

No campo da linguagem, Frege desenvolveu ainda uma teoria dos predicados.

 Frege reconhece duas espécies de expressões: completas e incompletas.


 As expressões completas são os nomes (termos singulares) e as frases: ambos
denotam objetos.

 As expressões incompletas (também chamadas de “funcionais”) são aquelas que


possuem pontos vazios e, portanto, são carentes de complementação.

 Quando essas expressões incompletas são predicados (“é um cavalo”), Frege


denomina-os conceitos.

 Frege distingue nome e conceito. Os nomes denotam objetos; os conceitos


cumprem uma função predicativa, ligando-
-se aos nomes.

 Rompe com a concepção tradicional de que uma frase predicativa é composta


de sujeito + cópula (é) + predicado. Para Frege, a cópula é parte integrante do
predicado, indissociável dele.
6. O primeiro Wittgenstein e o Tractatus: dizer, mostrar e calar

 Aluno de Frege em Jena e de Russell em Cambridge, escreveu o seu Tractatus


logico-philosophicus (TLP) durante a Primeira Guerra Mundial e publicou-o
em 1922.

 Trata-se de uma das grandes obras filosóficas do século XX, por constituir, sob
certo aspecto, uma espécie de (pretensa) “certidão de óbito” da filosofia.

 O TLP procura estabelecer com clareza as fronteiras entre o que pode ser
racionalmente dito e os disparates que devem ser evitados (entre eles, a
metafísica).
6. O primeiro Wittgenstein

 O principal crítico do TLP é o próprio Wittgenstein, que revê suas posições


em uma segunda fase de seu pensamento – a das Philosophische
Untersuchungen (Investigações filosóficas), publicadas postumamente, em
1953.

 Ao pensamento de Wittgenstein encontram-se ligadas duas correntes de


pensamento:

 o neopositivismo ou empirismo lógico do Círculo de Viena –


identificado com as ideias contidas no TLP;

 a filosofia analítica desenvolvida em Cambridge e Oxford, vinculada às


reflexões das Investigações filosóficas.

 Questões que Wittgenstein se propõe a responder:

 Que é a linguagem?

 Que é pensar?

 Que relação há entre o falar e o pensar?

 O que faz de um sinal físico algo que

significa?

 Em que sentido um sinal é expressão de um pensamento?

 Como a linguagem e o pensamento relacionam-se à realidade?

 Quais são as fronteiras da linguagem e

do pensamento?

 Qual é a estrutura do mundo para que a linguagem possa dizê-lo?


 Wittgenstein parte da tradicional concepção designativo-instrumentalista da
linguagem, que remonta a Platão e Aristóteles

 A linguagem “serve” para dizer o ser, as coisas, conhecidas pelo pensamento

 A estrutura de uma linguagem racionalmente ordenada deve refletir a estrutura


ontológica da realidade

 Estrutura da linguagem ↔ estrutura do ser

 Desse modo, perguntar “o que é a linguagem?” exige perguntar “o que é o


mundo?”

 No TLP, a questão da estrutura da linguagem é precedida pelas reflexões


sobre a estrutura do mundo

 Como é o mundo para o Wittgenstein do TLP?

 Sua tese fundamental é: “O mundo é a totalidade dos fatos, não das coisas”
(1.1).

 Mas o que é “coisa”? O que é “fato”?

 Para Wittgenstein, o mundo não é um amontoado de coisas (Sachen), objetos


independentes.

 Frege tinha essa visão, ao dizer que os nomes (termos singulares), ao


denotarem objetos, constituem expressões completas.

 Wittgenstein supera Frege ao fazer passar para o primeiro plano a categoria da


relação: os objetos só existem ligados, relacionados, interconectados entre si.
 Por isso, para Wittgenstein, nem os nomes possuem sentido completo.

 “Só a proposição possui sentido; só em conexão com a proposição um nome


tem denotação” (3.3).

 “O estado de coisas (Sachverhalt) é uma ligação de objetos (coisas)” (2.01).

 “É essencial para a coisa poder ser parte constituinte de um estado de


coisas” (2.011).

 Tanto o “fato” (Tatsache) quanto o “estado de coisas” (Sachverhalt) são


arranjos de objetos
 A distinção entre ambos é que o fato é um arranjo de coisas realmente
existente, enquanto estados de coisas podem ser meramente concebidos
como possíveis no espaço lógico
 “O que é o caso, o fato, é a existência de estados de coisas” (2).
 “Caso” = o que ocorre, o que se verifica na realidade, o fato enquanto arranjo
real de coisas

 Baseando-se no “atomismo lógico” de Russell, Wittgenstein distingue entre:

 estados de coisa atômicos e

complexos;

 fatos atômicos e complexos (estes últimos chamados simplesmente de


fatos).

 Um estado de coisa (ou fato) complexo é constituído de um estado de coisa


(ou fato) simples, que, por sua vez, constitui-se a partir da relação entre
objetos simples.

Essa distinção só é possível através da análise lógica.

 A característica fundamental de uma coisa é a possibilidade de aparecer num


estado de coisas.

 “A possibilidade de seu aparecimento em um estado de coisas é a forma do


objeto” (2.0141).

 “Forma”, para o 1.º Wittgenstein, consiste tanto na relacionalidade como na


especificidade dos objetos; o que o torna pensável em relação a um estado de
coisas possível.

 “Pensar um objeto sem relações


possíveis significa pensar nada”
(2.0121).

 Em cada estado de coisas, os objetos aparecem relacionados de uma


determinada maneira.

 Ao modo como os objetos se relacionam,


Wittgenstein chama estrutura.

 “O modo pelo qual os objetos se vinculam no estado de coisas constitui a


estrutura do estado de coisas” (2.032).

 “No estado de coisas, os objetos se concatenam como os elos de uma


corrente” (2.03).
 Estabelecido o modo como entende a estrutura do mundo, Wittgenstein passa a
apresentar a maneira como a linguagem representa o mundo.

 Trata-se da sua teoria da figuração do


mundo.

 Consiste numa variante do clássico problema da verdade enquanto


correspondência entre o pensamento e a realidade (Perì hermeneías,
Aristóteles).

 Wittgenstein pergunta-se: como é possível as objetividades reais do mundo


(fatos) serem representadas por objetividades reais da linguagem (frases)?

 Wittgenstein entende que a linguagem consiste numa figuração (Bild) da


realidade.

 Essa figuração não consiste, todavia, numa reprodução sensível, uma


“fotocópia”.

 A figuração é um esforço de recriar, com signos, a estrutura do mundo que se


pretende dizer.

 “A figuração é um modelo da realidade” (2.12).


 “Que os elementos da figuração estejam uns para os outros de uma
determinada maneira representa que as coisas assim estão uma para as
outras.
Essa vinculação dos elementos da figuração chama-se sua estrutura: a
possibilidade desta, sua forma de afiguração” (2.15).

 O modo como a linguagem diz o mundo tem a ver, portanto, com a


semelhança entre a estrutura do mundo e a estrutura dos signos da linguagem.

 Haverá verdade quando houver


isomorfismo de estruturas.

 Mas quando há esse isomorfismo?


 Voltando à problemática do TLP, podemos dizer que M1 é o mundo real e
M2, o mundo da linguagem.

 A estrutura do mundo real é a estrutura dos fatos.

 Para figurar linguisticamente o mundo real, nós o analisamos até o nível dos
objetos – que na figuração são substituídos pelos nomes.

 “Aos objetos correspondem, na figuração, os elementos da figuração” (2.13).

 “Os elementos da figuração [nomes]


substituem nela os objetos” (2.131).

 A figuração recria também as relações através das quais os objetos se relacionam


nos fatos.

 “Que os elementos da figuração estejam uns para os outros de uma determinada


maneira representa que as coisas assim estão uma para as outras” (2.15).

 A correspondência entre o mundo real e o mundo da linguagem só é perfeita e


verdadeira quando há identidade de estrutura interna e externa.

 Só quando se realiza tal identidade ou isomorfismo (estrutura dos signos ↔


estrutura do real) é que se pode dizer que alguém está pensando/falando sobre o
mundo.

 “É assim que a figuração se enlaça com a realidade; ela vai até a realidade”
(2.1511).

 As figurações verdadeiras são as que apresentam identidade de estrutura com o


real.
 Então, o que seriam as figurações
falsas?
 As figurações falsas também são figurações, contendo os mesmos elementos e
relações presentes na realidade, porém atribuindo-as de maneira diversa.
 As figurações falsas apresentam identidade de estrutura interna, mas não de
estrutura externa.

 Uma figuração falsa não representa um fato, mas um estado de coisas possível.

 Quando não há identidade sequer de estrutura interna (objetos e relações), não há


propriamente pensamento; há apenas ilogismo e disparate.
 O critério das figurações é a própria estrutura do mundo.

 “Para reconhecer se a figuração é falsa ou verdadeira, devemos compará-la com


a realidade” (2.223).

 Do mesmo modo são disparatadas as figurações a priori, que prescindem da


comparação com a realidade.

 “Não é possível reconhecer, a partir da figuração tão-somente, se ela é


verdadeira ou falsa” (2.224).

 “Uma figuração verdadeira a priori não existe” (2.225).


 Para Wittgenstein, pensamento é linguagem: só podemos pensar (figurar) aquilo
que podemos dizer.

 “O pensamento é a figuração lógica dos fatos” (3).

 “O pensamento é a proposição significativa” (4).

 “A totalidade das proposições é a linguagem” (4.001).

 “O sinal por meio do que exprimimos o pensamento, chamo de sinal


proposicional. E a proposição é o sinal proposicional em sua relação projetiva
com o mundo” (3.12).
 A proposição, enquanto articulação de elementos, é ela também um fato.

 “O sinal proposicional é um fato” (3.14).

 Por esse motivo, a essência, o sentido de


uma proposição está em sua estrutura.

 Do mesmo modo que o mundo não é um amontoado de objetos, mas é constituído


da totalidade dos fatos, a linguagem não é um amontoado de “palavras” (3.14),
“sinais simples” (3.201) ou “nomes” (3.202), mas de proposições articuladas.

 “A proposição não é uma mistura de palavras. (Como o tema musical não é uma
mistura de sons.)
A proposição é articulada” (3.141).

 A linguagem figura o mundo. Todavia, não pode figurar-se a si mesma.

 “Para podermos representar a forma lógica, deveríamos poder-nos instalar, com


a proposição, fora da lógica, quer dizer, fora do mundo” (4.12).

 O papel da filosofia consiste, pois, em estabelecer o limite entre o dizível e o


indizível, o pensável e o impensável.

 “A filosofia limita o território disputável da ciência natural” (4.113).

 “Cumpre-lhe delimitar o pensável e, com isso, o impensável” (4.114).

 “Ela significará o indizível ao representar


claramente o dizível” (4.115).

 “Os limites de minha linguagem significam os limites de meu mundo” (5.6).


 As constantes lógicas, a estrutura das sentenças, os conceitos formais, as ideias a
priori não podem servir de base para a construção de sentenças sensatas, dado que
elas nada representam (figuram) na realidade.

 Elas só dizem respeito às condições de possibilidade de expressão da realidade:


não podem ser ditas, apenas mostradas.

 “Que algo caia sob um conceito formal como seu objeto não pode ser expresso
por uma proposição. Isso se mostra, sim, no próprio sinal desse objeto” (4.126).

 A figuração apresenta duas funções:


 dizer algo, revelar sua estrutura;
 mostrar a própria similaridade da figuração com a realidade afigurada.
 “O que se exprime na linguagem, nós não podemos exprimir por meio dela.
A proposição mostra a forma lógica da realidade.
Ela a exibe” (4.121).

 “O que pode ser mostrado não pode ser dito” (4.1212).

 A distinção entre dizer e mostrar é muito importante no TLP.

 “Dizer” corresponde àquilo que a linguagem/pensamento é capaz de figurar na


sua relação com a realidade. Só as ciências naturais podem “dizer” os fatos,
representá-los, figurá-los.

 “Mostrar” equivale à essência da representação simbólica, que não pode figurar a


si mesma – apenas exibir-se. Consiste ainda em apontar aquilo que está fora do
mundo e da linguagem, o que está para além dos fatos.

 Incluem-se no “mostrar” as seguintes coisas “inefáveis”:


 a forma lógica das proposições (interdição à metalógica);
 o significado dos signos e das proposições (interdição à semântica);
 a estrutura do mundo, os valores, o místico (interdição à metafísica, à ética,
à estética, à religião).

 “O sentido do mundo deve estar fora dele. No mundo, tudo é como é e tudo
acontece como acontece; não há nele nenhum valor – e se houvesse, não teria
nenhum valor” (6.41).

 “É por isso que tampouco pode haver proposições na ética.


Proposições não podem exprimir nada de mais alto” (6.42).

 A linguagem, para o 1.º Wittgenstein, é apenas uma descrição do mundo.

 A proposição é a figuração da realidade.


 É verdadeira se exprime um fato, um
estado de coisas realizado.

 É falsa se exprime um estado de coisas meramente possível.

 O que determina a verdade ou a falsidade de uma proposição identifica-se,


portanto, com as suas condições de verificação.

 Tudo o que não pode ser verificado, é indizível: não pode ser expresso por
proposições cientificamente sensatas.

 O papel da filosofia reduz-se a distinguir


as proposições sensatas das insensatas.

 À linguagem não é possível falar sequer de sua própria estrutura – o que já


habita o reino do inefável.

“A maioria das proposições e questões que se formularam sobre temas


filosóficos não são falsas, mas contrassensos. Por isso, não podemos de modo
algum responder a questões dessa espécie, mas apenas estabelecer seu caráter de
contrassenso. A maioria das questões e proposições dos filósofos provém de não
entendermos a lógica de nossa linguagem.
(São da mesma espécie que a questão de saber se o bem é mais ou menos
idêntico que o belo.)
E não é de admirar que os problemas mais profundos não sejam
propriamente problemas” (4.003).

 “Toda filosofia é ‘crítica da linguagem’” (4.0031).

 Para além da ciência e do mundo, há o


Místico.

 “O Místico não é como o mundo é, mas


que ele é” (6.44).
 “Para uma resposta que não se pode formular, tampouco se pode formular a
questão” (6.5).

 “Sentimos que, mesmo que todas as questões científicas tenham obtido resposta,
nossos problemas de vida não terão sido sequer tocados. É certo que não restará,
nesse caso, mais nenhuma questão; e a resposta é precisamente essa” (6.52)

“Há por certo o Inefável. Isso se mostra, é o Místico” (6.522).

“Talvez lhe seja útil que eu lhe escreva algumas palavras sobre o meu
livro: com efeito, o senhor não extrairá grande coisa de sua leitura, essa é a
minha exata opinião. De fato, o senhor não o compreenderá: o tema lhe parecerá
completamente estranho. Na realidade, porém, ele não lhe é completamente
estranho, já que o sentido do livro é um sentido ético. Certa vez, pensei em incluir
no prefácio uma proposição que agora não está lá, mas que escreverei neste
momento para o senhor, porque talvez constitua para o senhor uma chave para a
compreensão do trabalho. Com efeito, eu queria escrever que o meu trabalho
consiste em duas partes: aquilo que eu escrevi e, ademais, tudo aquilo que
eu não escrevi. E precisamente esta segunda parte é a importante” (Carta de L.
Wittgenstein a L. von Ficker, 1919).

“O método correto da filosofia seria propriamente este: nada dizer,


senão o que se pode dizer; portanto, proposições da ciência natural – portanto,
algo que nada tem a ver com filosofia; e então, sempre alguém pretendesse dizer
algo de metafísico, mostrar-lhe que não conferiu significado a certos sinais em
suas proposições. Esse método seria, para ele, insatisfatório – não ter a sensação
de que lhe estivéssemos ensinando filosofia; mas esse seria o único
rigorosamente correto” (6.53).

 “Minhas proposições elucidam dessa maneira: quem me entende acaba por


reconhecê-las como contrassensos, após ter escalado através delas – por elas –
para além delas. (Deve, por assim dizer, jogar fora a escada após ter subido por
ela.)
Deve sobrepujar essas proposições, e então verá corretamente” (6.54).

 “Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar” (7).

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