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Teoria do fingimento artístico

Segundo a teoria apresentada por Pessoa em poemas como «Autopsicografia», o poeta não
expõe diretamente as suas emoções — a sua «dor», que «deveras sente» — na obra.

O poeta finge (imagina artisticamente) as emoções apresentadas no poema.

Distancia-se daquilo que sentiu efetivamente.

POESIA ≠ SINCERIDADE

Se o poeta é
o criador, fingindo as emoções que o poema apresenta, o leitor é
o responsável pela interpretação.

Ele experiencia emoções que o poema desencadeou.

Razão e emoção — dor de pensar

Nos poemas de Pessoa ortónimo, surge o tema da consciência da existência.

Os que têm esta consciência são superiores aos demais.

A consciência torna-se um problema quando se converte na omnipresença da razão: o eu


passa a refletir constantemente sobre toda
a realidade e acerca das suas próprias emoções.

Intelectualizando as emoções,
o poeta deixa de conseguir sentir verdadeiramente.

Uma vez que a consciência traz infelicidade, o eu vai aspirar à inconsciência de seres como o
«gato» ou a «ceifeira».

Acredita poder libertar-se assim da dor de pensar.


Contradição profunda: o eu deseja ser inconsciente, mas só é verdadeiramente feliz tendo
consciência dessa felicidade —e a consciência anula
a felicidade.

Não existe solução para a dor de pensar.

Infância

Nos poemas do ortónimo, existe uma perspetiva profundamente negativa acerca do


presente — associado à infelicidade, à fragmentação, à deceção e à ausência de sentido
para a existência.

A infância surge como período evocadoe idealizado.

A infância torna-se um símbolo.

Representa:
— a identidade não fragmentada;
— a inconsciência;
— a existência não contaminada pela omnipresença da razão;
— a possibilidade de alcançar a felicidade.

Evocar a infância não é solução para os problemas do presente.

A infância idealizada não existiu, tendo resultado de uma tentativa ilusória de reconstruir
o passado.

Sonho e realidade

Oposições que surgem na poesia do ortónimo:


— sonho vs. sono; — ideal vs. real; — desejo vs. realidade.

O sonho representa a possibilidade de encontrar


a felicidade
— negar o vazio e o tédio;
— encontrar a plenitude;
— recuperar um bem perdido;
— ser aquilo que não se é no presente.
Consciência dolorosa da realidade

UNIDADE
O poeta, dominado pela reflexão incessante, admite que a existência sonhada traz um
1 FICHA
estado DE AVALIAÇÃO
de perfeição ilusório: oFORMATIVA 1
sonho não resolve insatisfações e não é sinónimo de
felicidade.
Fernando Pessoa

NOME: N.º: TURMA: DATA:

GRUPO I Exercício
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

A
Leia o poema.

Pobre velha música!


Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.

5 Recordo outro ouvir-te.


Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.

Com que ânsia tão raiva


10 Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.

Poemas de FERNANDO PESSOA,


apresentação de Isabel Pascoal,
Lisboa, Editorial Comunicação, 1986.

1 Neste poema, o eu lírico recorda uma época do passado: a infância.


1.1 Explicite a importância e a expressividade do primeiro verso, tendo em conta a globalidade do texto.

2 Esclareça o sentido da segunda quadra do poema.

3 Comente os dois últimos versos do poema: «E eu era feliz? Não sei: / Fui-o outrora agora.»

1.1 No primeiro verso do texto, o eu lírico refere-se à música que ouve — a mesma
música que ouvia quando era criança. A experiência presente é marcada pela
emotividade e pela subjetividade, como evidencia a anteposição dos adjetivos, em
lugar de destaque, na frase exclamativa que abre o poema: «Pobre velha música!»
Além da dupla adjetivação anteposta e da exclamação, salienta a intensidade emotiva
desta experiência o carácter apostrófico do primeiro verso, que torna presente o que
é invocado, e a hipálage em «Pobre [...] música» (atribuindo à música uma
característica que, na realidade, pertence ao sujeito poético). É esta recordação que
suscita, no eu lírico, a nostalgia da infância evidenciada ao longo do poema. A música
é, pois, o elemento que liga o presente — um tempo de infelicidade, de «lágrimas» e
de «olhar parado» (vv. 3-4) — ao passado, ao qual o sujeito poético deseja regressar
(«Com que ânsia tão raiva / Quero aquele outrora!», vv. 9-10).
12
2. O sujeito poético recorda-se de si próprio, quando criança, a ouvir a música, mas o
eu do presente difere do eu do passado — experiência da alteridade que expressa o
primeiro verso desta quadra («Recordo outro ouvir-te», v. 5). O passado a que alude
não corresponde a uma experiência real, que o sujeito poético não sabe se, de facto,
existiu; trata-se antes de uma representação atual, intelectualizada, da infância,
suscitada pela música ouvida no momento presente («Não sei se te ouvi / Nessa
minha infância / Que me lembra em ti.», vv. 6-8).

3. O eu lírico não sabe se a infância vivida, a infância real, foi um tempo feliz. A
felicidade existe na representação da infância que é feita por ele no presente — é
uma infância imaginada. Os dois últimos versos do poema confirmam, pois, a ideia
de que a infância a que o sujeito poético alude é o resultado de um processo de
intelectualização, realçado pela antítese presente no verso que fecha o poema: «Fui-
o outrora agora.»
1 (D) 2 (B) 3 (A) 4 (C) 5 (D) 6 (A) 7 (B)

8 Complemento do nome.

9 «aqui»
9.1 Deı́ticoespacial.

10 Oraçã o subordinada adverbial concessiva.

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