You are on page 1of 25

EXMO.(A) SR.

(A) PRESIDENTE(A) DO CONSELHO


ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS - CARF

Autos do Processo Administrativo nº: 10711.004399/2010-15

Ref.: Acórdão n° 16-82.913 – 17ª Turma da DRJ/SP

EMINENTES SENHORES(a) CONSELHEIROS(a) JULGADORES(a),

ORGUEL LOCAÇÃO DE EQUIPAMENTOS S/A, pessoa jurídica


de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 19.537.752/0001-41, estabelecida
na Rua Mato Grosso, nº 110, Bairro Barro Preto, Belo Horizonte/MG, CEP:
30190-080, nova denominação de LOCBRAS LOCADORA DE
FERRAMENTAS ELÉTRICAS LTDA., pessoa jurídica de direito privado,
inscrita no CNPJ sob o nº 23.930.464/0001-00, estabelecida na Rodovia MG
010, Km 26, s/n, 1º andar, Salas 02 e 03, Bairro Angico, Vespasiano/MG, CEP:
33200-000, incorporadora, desde 30/06/2015, de BRAMEX BRASIL
INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR LTDA., já qualificada nos autos, vem,

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
respeitosamente, por meio de seus procuradores (Doc. 01), com fundamento
no artigo 33, do Decreto n° 70.235/72 e posteriores alterações, interpor:

RECURSO VOLUNTÁRIO

contra r. decisão da 17ª Turma da Delegacia da Receita Federal de Julgamento


de São Paulo/SP, que julgou improcedente sua impugnação administrativa,
mantendo integralmente o crédito tributário contestado, o que faz através dos
fatos e fundamentos de direito que a seguir passa a expor:

I – DA TEMPESTIVIDADE

I.1. Tempestivo é o presente Recurso Voluntário, eis que a


Recorrente foi intimada da decisão no dia 24 de agosto de 2018. Assim o
recurso foi interposto nos termos do artigo 33 do Decreto n° 70.235/72, dentro
dos 30 (trinta) dias seguintes à ciência da decisão.

II – DA NECESSIDADE ALTERAÇÃO SOCIETÁRIA DA RECORRENTE

II.1. Inicialmente, cumpre esclarecer que, em 30/06/2015, a Bramex


Brasil Indústria E Comércio Exterior Ltda., empresa autuada, foi incorporada
pela Locbras Locadora De Ferramentas Elétricas Ltda., conforme 12ª
Alteração Contratual Consolidada da Bramex e 69ª Alteração Contratual
Consolidada da Locbras (Doc. 02).

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
II.2. Em 31/10/2015, houve a cisão parcial da Locbras, com versão do
patrimônio para a Locguel Locadora de Equipamentos para Construção
S/A, conforme 70ª e 71ª Alterações Contratuais da Locbras e Ata da
Assembleia Geral de 31/10/2015 da Locguel em anexo (Doc. 03).

II.3. Por fim, em 01/05/2016, houve a alteração da denominação da


Locguel Locadora de Equipamentos para Construção S/A para Orguel
Locação de Equipamentos S/A, conforme Ata da Assembleia Geral
Extraordinária de 01/05/2016 da Orguel em anexo (Doc. 04).

II.4. Diante disso, o crédito tributário em discussão tornou-se


responsabilidade da empresa incorporadora, nos termos do artigo 132 do
Código Tributário Nacional, motivo pelo qual requer a alteração do polo passivo
do processo para que passe constar a nova denominação da empresa
incorporadora Orguel Locação de Equipamentos S/A, a fim de que sejam
evitados prejuízos processuais aos interessados.

III – DOS FATOS

III.1. Em julho de 2010, a Recorrente tomou conhecimento da lavratura


de Auto de Infração pela Receita Federal do Brasil, que visava à cobrança de
valores supostamente devidos a título de direito antidumping, além de multa de
ofício de 75% (setenta e cinco por cento) sobre o valor do tributo, o que
totalizou o montante de R$ 232.693,63 (duzentos e trinta e dois mil, seiscentos
e noventa e três reais e sessenta e três centavos).

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
III.2. Um dos objetos sociais da Recorrente é a importação, exportação
de máquinas e ferramentas elétricas, produtos pneumáticos e outros
equipamentos voltados à revenda e locação no mercado interno, bem como à
industrialização de outras máquinas e equipamentos. Assim, em abril de 2010,
adquiriu, junto a fornecedor situado na República Popular da China, 2.212 Kg
de brocas, classificadas na NCM 8207.50.11 e descritas como: “BROCA
HELICOIDAL SDS MAX”, de dimensões 14X160 mm, encaixe 18 mm, peso
0,410 Kg e pontos de corte de 3 rasgos, conforme se verifica da invoice e
demais documentos anexados à Impugnação.

III.3. A importação dos produtos ocorreu em 16/06/2010, por meio do


registro das Declarações de Importação nº 10/0997874-0 e 10/0999974-7,
ocasião em que foram recolhidos todos os tributos devidos nas operações.
Ocorre que a Receita Federal do Brasil, por meio de procedimento de
fiscalização, indevidamente apurou que sobre as brocas importadas haveria a
incidência de direito antidumping e que, por isso, a Recorrente teria deixado de
recolher o montante de R$ 132.967,79 (cento e trinta e dois mil, novecentos e
sessenta e sete reais e setenta e nove centavos) a esse título.

III.4. Em 09/07/2010, portanto, foi lavrado o Auto de Infração nº


254/2010, que deu origem ao Processo Administrativo nº 10711.004399/2010-
15. Inconformada com a autuação e por estar convicta da não incidência dos
direitos antidumping nas importações em questão, a Recorrente apresentou
Impugnação ao Auto de Infração, expondo todos os fatos e fundamentos legais
que deveriam ter culminado na imediata anulação do Auto ou no cancelamento
da cobrança do crédito tributário, bem como pugnou pela realização de
prova pericial, imprescindível para o deslinde da questão. No entanto, em

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
24/08/2018, tomou ciência do Acórdão nº 16-82.913, que, equivocadamente,
julgou improcedente a sua Impugnação, indeferindo o seu pedido de perícia e
mantendo o crédito tributário.

III.5. Nobres Julgadores, conforme restará demonstrado, o


entendimento da r. Fiscalização não merece prosperar, pois os produtos
importados pela Recorrente são notadamente distintos daqueles sobre os
quais incidem os direitos antidumping previstos na Resolução Camex nº
55 de 20/11/2007.

IV – PRELIMINARMENTE

IV. I – DO CERCEAMENTO DE DEFESA DECORRENTE DO INDEFERIMENTO


DA PROVA PERICIAL

IV.1.1. O Auto de Infração que originou o presente processo


administrativo foi pautado no entendimento da Fiscalização de que a
Resolução CAMEX nº 55, de 20/11/2007, que determinou a incidência de
direitos antidumping para as importações brasileiras de brocas de encaixe
SDS PLUS, originárias da República Popular da China, à alíquota de US$
33,34/Kg, seria aplicável às importações realizadas pela Recorrente, ao
argumento de que, a despeito de a descrição dos produtos da Resolução
CAMEX em comento e daqueles efetivamente importados pela Recorrente
serem claramente distintas, o que determinaria a aplicação do antidumping
seria o tipo de encaixe da broca.

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
IV.1.2. Inicialmente, vejamos o que consta expressamente do texto da
Resolução CAMEX nº 55 - 2007:

RESOLUÇÃO Nº 55 , DE 20 DE NOVEMBRO DE 2007

(Publicado no D.O.U. de 21/11/2007)

O PRESIDENTE DO CONSELHO DE MINISTROS DA CÂMARA

DE COMÉRCIO EXTERIOR, no exercício da atribuição que lhe confere o § 3o

do art. 5o do Decreto no 4.732, de 10 de junho de 2003, com fundamento no

que dispõe o inciso XV do art. 2o do mesmo diploma legal, e tendo em vista o

que consta nos autos do Processo MDIC/SECEX 52000.010245/2006-42,

RESOLVE, ad referendum do Conselho:

Art. 1o Encerrar a investigação com a fixação de direito

antidumping definitivo sobre as importações brasileiras de brocas de encaixe

SDS Plus, classificadas nos itens 8207.19.00, 8207.50.11, 8207.50.19 e

8207.50.90 da Nomenclatura Comum do MERCOSUL – NCM, originárias da

República Popular da China - RPC, conforme segue:

PRODUTO DIREITO ANTIDUMPING

DEFINITIVO

Brocas de encaixe SDS Plus US$ 33,34/quilograma

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
Art. 2o Tornar públicos os fatos que justificaram a decisão

conforme o Anexo a esta Resolução.

Art. 3o Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação

no Diário Oficial da União – D.O.U. e terá vigência de até cinco anos, nos

termos do disposto no art. 57 do Decreto no 1.602, de 23 de agosto de 1995.

MIGUEL JORGE

IV.1.3. Conforme se verifica dos documentos de importação acostados à


Impugnação, os produtos importados pela Recorrente são descritos como
“broca helicoidal SDS MAX” e, como se demonstrou por meio do Laudo
Técnico de Inspeção nº IS 5034003.0546.4008.1.10, guardam dimensões e
características técnicas essencialmente diferentes das brocas descritas
como SDS PLUS, sobretudo no que tange ao tipo de encaixe.

IV.1.4. Assim, com base nas constatações do Laudo Técnico em


comento, a Recorrente requereu, em sua Impugnação, a realização de
perícia técnica que pudesse demonstrar, de maneira imparcial, se o tipo
de encaixe das brocas são semelhantes, como entende a Fiscalização, ou
se, de fato, tratam-se de encaixes distintos, conforme convicção da
Recorrente e dos profissionais técnicos que puderam analisar os
produtos.

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
IV.1.5. No entanto, o pedido de perícia técnica foi indeferido pelo r.
Acórdão, ao único argumento de que já havia nos autos provas suficientes para
julgamento do processo, o que tornaria a realização de perícia desnecessária.
É de se notar, Nobres Julgadores(a), que os r. Auditores-Fiscais da Receita
Federal do Brasil motivam a recusa à realização da perícia técnica com
argumento padrão, sem sequer se debruçar sobre o contexto fático ou até
mencionar porquê motivo entendem que as brocas importadas pela
Recorrente possuiriam encaixe semelhante àquelas para as quais a
CAMEX fixou a incidência de direitos antidumping. Isso é seríssimo e fere
amplamente princípios basilares do processo administrativo tributário.

IV.1.6. A posição da r. Delegacia da Receita Federal de São Paulo para


indeferir a realização da perícia causa enorme estranhamento à Recorrente,
tendo em vista que o objeto deste processo é essencialmente relacionado a
características técnicas de produtos, mais especificamente “tipo de encaixe de
brocas helicoidais”, sendo certo que o mínimo esperado em discussões como
estas seria justamente a realização de prova pericial e não a autuação e
manutenção da cobrança com base em simples presunções, com todas as
vênias, de um Ilmo. Auditor-Fiscal, que, com todo o respeito, não possui
formação técnica que o permita concluir, de forma fundamentada, pela
semelhança técnica dos produtos, como o fez, aplicando penalidade sobre a
Recorrente.

IV.1.7. Como se não bastasse, quando é dada à Delegacia de


Julgamento da Receita Federal do Brasil a oportunidade de analisar e deferir
justíssimo pleito de realização de perícia técnica, esta não o faz e, venia
permissa, sequer apresenta motivação suficiente para tanto, deixando a

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
Contribuinte, ora Recorrente, totalmente à mercê de uma autuação pautada em
meras presunções.

IV.1.8. Como se sabe, o Princípio da Verdade Material, comum tanto


ao procedimento quanto ao processo administrativo tributário1, é aquele por
meio do qual se determina a incansável busca pela aproximação entre a
realidade factual e a sua representação formal. Assim, não se pode duvidar
de que tanto a fiscalização, quanto a apuração e lançamento do eventual
crédito tributário dela decorrentes devem sempre prezar pela busca da
verdade material. Nas palavras de JAMES MARINS2:

Enquanto no processo judicial de caráter civil ao


magistrado não é lícito tomar a frente do processo e
determinar ex officio a produção das provas que entender
indispensáveis, no procedimento e no Processo
Administrativo Tributário a autoridade administrativa
pode e deve promover as diligências averiguatórias e
probatórias que contribuam para a aproximação com
a verdade objetiva ou material.

IV.1.9. Resta claro, portanto, que o indeferimento desmotivado do pedido


de perícia pela r. DRJ de São Paulo afigura-se como claro e notório
descumprimento do princípio da verdade material, eis que a Autoridade
Administrativa deixa de promover as diligências técnicas necessárias à
averiguação e comprovação de que o encaixe das brocas objeto dos autos é
distinto daquelas para as quais fixou-se a incidência dos direitos antidumping.

1
MARINS, James. Direito Processual Tributário Brasileiro. São Paulo: Dialética, 2005, p.
178.
2
MARINS, James. Direito Processual Tributário Brasileiro. São Paulo: Dialética, 2005, p.
178 e 179.

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
IV.1.10. Ainda tratando de princípios, nunca é demais lembrarmos
que, para haja a validade constitucional do Processo Administrativo, é
imprescindível que sejam respeitados os Princípios Constitucionais e Legais da
Ampla Defesa, Contraditório, Direito ao Devido Processo Legal e o Princípio da
Ampla Instrução Probatória.

IV.1.11. Neste sentido, o Princípio Constitucional da Ampla Defesa é


aquele que garante ao particular o direito de ver conhecidas e apreciadas suas
alegações, formais e materiais, bem como o direito de produzir todas as provas
necessárias à comprovação de suas alegações3. Aqui, nos deparamos
novamente com flagrante descumprimento de preceitos principiológicos
essenciais relacionados ao Processo Administrativo Tributário, tendo em vista
que, como demonstrado, há clara divergência entre a descrição técnica do
produto na Resolução CAMEX que fixa a incidência do direito
antidumping e às características técnicas do produto importado pela
Recorrente. Dessa forma, a produção da prova pericial é imprescindível para
que a Recorrente possa ao menos ter a oportunidade de comprovar suas
alegações que, de fato, o tipo de encaixe das brocas em questão são
diferentes, o que certamente ensejaria o imediato cancelamento da cobrança
do crédito discutido.

IV.1.12. Por conseguinte, o Princípio da Ampla Instrução Probatória,


autoexplicativo em sua terminologia, garante ao particular, no âmbito do
Processo Administrativo Tributário o direito à utilização de todos os meios de

3
MARINS, James. Direito Processual Tributário Brasileiro. São Paulo: Dialética, 2005, p.
193.

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
prova pertinentes à lide submetida a julgamento administrativo4. Dito isso, nas
palavras do celebrado doutrinador, JAMES MARINS, “quando o Órgão
Julgador impede, sem fundamentação satisfatória, o exercício do direito à
prova, incide-se em cerceamento de defesa, o que deve necessariamente
culminar na nulidade do Ato Administrativo”.

IV.1.13. Tanto é assim que o artigo 28 do Decreto 70.235, que dispõe


sobre processo administrativo fiscal, estabelece o seguinte:

Art. 28. Na decisão em que for julgada questão preliminar


será também julgado o mérito, salvo quando
incompatíveis, e dela constará o indeferimento
fundamentado do pedido de diligência ou perícia, se
for o caso.(Redação dada pela Lei nº 8.748, de 1993)

IV.1.14. Inclusive, em dezembro de 2016, a 4ª Câmara da 1ª Turma


Ordinária da 2ª Seção do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais
(CARF), por unanimidade, cancelou decisão de 1ª instância que negou pedido
de perícia de contribuinte em julgamento de processo administrativo fiscal por
considerar ter havido notório cerceamento de direito de defesa:

Acórdão: 2401-003.951
Número do Processo: 18050.007957/2008-12
Data de Publicação: 15/01/2016
Contribuinte: WORKTIME ASSESSORIA EMPRESARIAL
LTDA EM RECUPERACAO JUDICIAL
Relator(a): CLEBERSON ALEX FRIESS
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/2004 a 31/12/2004

4
MARINS, James. Direito Processual Tributário Brasileiro. São Paulo: Dialética, 2005, p.
195.

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
NULIDADE DA DECISÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA.
CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. AUSÊNCIA
DE APRECIAÇÃO DO PEDIDO DE PERÍCIA. Declara-se
nula a decisão de primeira instância, por cerceamento do
direito de defesa, com retorno à origem dos autos para
prolação de novo julgado, quando o acórdão recorrido
deixa de manifestar--se sobre o pedido de perícia
constante da peça de impugnação. Decisão anulada.
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes
autos. Acordam os membros do colegiado, por
unanimidade de votos, em conhecer do recurso voluntário
e, no mérito, declarar a nulidade da decisão de primeira
instância, com retorno dos autos à instância de origem
para prolação de nova decisão, com vistas à apreciação
de todas as questões ventiladas na impugnação do sujeito
passivo, incluindo o pedido de perícia.

IV.1.15. Da análise do inteiro teor do Acórdão (Doc. 05), verifica-se os


Nobres Conselheiros(a) afirmam o seguinte:

De outra banda, acaso a autoridade julgadora, como


destinatária final da perícia, entenda ser prescindível a
produção da prova técnica para a elucidação dos fatos
e/ou como instrumento de convicção para a solução da
lide, tem o dever de apontar os motivos da
desnecessidade ou mesmo da inviabilidade do apoio
pericial.

IV.1.16. Com a devida vênia, no r. Acórdão que ora se busca anular, a


Autoridade Julgadora não foi capaz de apontar os motivos pelos quais entende
pela desnecessidade do apoio pericial, sendo certo que sequer se ateve à
situação fática exposta a julgamento. É absurdo que em uma discussão cuja
matéria diga respeito a direitos antidumping que, supostamente, seriam
devidos diante de “tipos de encaixe” de brocas helicoidais e não
necessariamente à descrição do produto em si, a prova pericial requerida pelo

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
contribuinte seja indeferida sem qualquer motivação que a ampare, pautada em
meras presunções.

IV.1.17. Diante do exposto, faz-se mister acolher a preliminar ora


suscitada, para que se declare a nulidade do processo a partir da decisão
de primeira instância, inclusive, para que outra seja proferida, deferindo,
dessa vez, o pedido de perícia postulado pela Recorrente, que,
primeiramente, atenderá aos princípios constitucionais e legais que regem o
processo administrativo de acertamento do crédito tributário, assim como
poderá, com toda certeza, comprovar a inadequação dos produtos importados
às especificidades previstas na Resolução CAMEX n. 55 de 20-11-2007.

V - DO MÉRITO RECURSAL

V. 1. O r. Acórdão que ora se busca reformar determinou a


manutenção do lançamento do crédito tributário constituído nos autos, por
entender estar correto o entendimento da Fiscalização:

.....pela edição da Resolução CAMEX n. 55 - 2007, para


as importações brasileiras de brocas helicoidais SDS
Plus, originárias da República Popular da China, é
prevista, além da alíquota normal do II, a cobrança de
direitos antidumping, à alíquota de US$ 33,24-Kg, a
qual não foi recolhida pelo importador. Em que pese a
denominação dada pelo exportador (Brocas
Helicoidais SDS MAX), o que determina a aplicação do
antidumping é o tipo de encaixe da broca, no caso em
tela, SDS PLUS.

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
V. 2. Como se sabe, atualmente, os direitos antidumping estão
previstos na Lei nº 9.019/1995 e pelo Decreto nº 3.058/2013. Há de se
ressaltar, no entanto, que, à época da autuação que ora se busca cancelar,
estava vigente o Decreto nº 1.602/1995, que estabelece em seus artigos 1º e
2º:

Art. 1º Poderão ser aplicados direitos antidumping quando


a importação de produtos primários e não primários objeto
de dumping cause dano à indústria doméstica.
§ 1º Os direitos antidumping serão aplicados de
acordo com as investigações abertas e conduzidas
segundo o disposto neste Decreto.
§ 2º Em cumprimento ao disposto no Parágrafo 5 do
Artigo VI do GATT/1994, a importação de um produto não
poderá estar sujeita, simultaneamente, à aplicação de
direito antidumping e de direito compensatório, de que
trata o Acordo sobre Subsídios e Medidas
Compensatórias do GATT/1994.
Art. 2º Compete aos Ministros de Estado da Indústria,
do Comércio e do Turismo e da Fazenda a decisão de
aplicar, mediante ato conjunto, medidas antidumping
provisórias ou direitos definitivos e homologar
compromissos de preços, com base em parecer da
Secretária de Comércio Exterior - SECEX, do Ministério
da Indústria, do Comércio e do Turismo, que comprove a
existência de dumping e de dano dele decorrente.

V. 3. Assim, conforme já amplamente demonstrado nos autos, em


novembro de 2007, publicou-se a Resolução CAMEX nº 55 de 20-11-2007, que
passou a fixar a incidência de direito antidumping definitivo sobre a importação
de brocas de encaixe SDS Plus, classificadas nos itens NCM 8207.19.00,
8207.50.11, 8207.50.19 e 8207.50.90, originárias da República Popular da
China.

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
V. 4. Pois bem ! Em abril de 2010, a Recorrente adquiriu, junto a
fornecedor situado na República Popular da China, 2.212 Kg de brocas,
classificadas na NCM 8207.50.11 e descritas como: “BROCA HELICOIDAL
SDS MAX”, de dimensões 14X160 mm, encaixe 18 mm, peso 0,410 Kg e
pontos de corte de 3 rasgos, conforme se verifica da invoice e demais
documentos anexados à Impugnação.

V. 5. Assim, quando da efetiva importação dos produtos, que se deu


em 16/06/2010, por meio do registro das Declarações de Importação nº
10/0997874-0 e 10/0999974-7, a Receita Federal do Brasil apurou que sobre
as brocas importadas deveria incidir o direito antidumping e que, por isso, a
Recorrente teria deixado de recolher o montante de R$ 132.967,79 (cento e
trinta e dois mil, novecentos e sessenta e sete reais e setenta e nove
centavos). E, assim, lavrou o Auto de Infração que deu origem ao presente
Processo Administrativo.

V. 6. Logo se vê, portanto, que a controvérsia existente nos autos diz


respeito à atuação da Secretaria da Receita Federal do Brasil de forma
totalmente ilegítima e afastada de critérios técnicos indispensáveis ao deslinde
da questão. Isso porque parece-nos absurdo que o contribuinte, quando da
importação de produtos ao Brasil, seja obrigado a promover interpretações
mais amplas e genéricas do que aquelas efetivamente fixadas no corpo
normativo do Direito Aduaneiro Brasileiro.

V. 7. Dizemos isso, pois, conforme já demonstrado, a Resolução


CAMEX nº 55 prevê em seu texto legal claramente que haverá a incidência dos
direitos antidumping às importações brasileiras de brocas de encaixe SDS

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
Plus, classificadas nas NCM’s 8207.19.00, 8207.50.11, 8207.50.19 e
8207.50.90, originárias da República Popular da China. Ora, não se faz
menção, em momento algum, aos encaixes tipo SDS Max. Embora possa
parecer que não, os produtos são distintos e não se pode aplicar analogia à
matéria, sob pena de ilegalidade e cobrança indevida de direito anti-dumping.

V. 8. Como pode a Receita Federal do Brasil, sem qualquer análise


criteriosa do produto, afirmar que, primeiramente, o que a norma em questão
pretendia era a aplicabilidade do direito antidumping em relação ao tipo de
encaixe das brocas e, em segundo, que o tipo de encaixe das brocas
importadas pela Recorrente é o mesmo tipo de encaixe daquelas objeto da
Resolução CAMEX nº 55/2007? Tudo isso, frise-se, a despeito de todo o
aparato documental e, inclusive, de laudo técnico juntado à Impugnação
demonstrarem, claramente, o erro no posicionamento da Fiscalização.

V. 9. Há de se notar que a respeitável Delegacia Regional de


Julgamento da Receita Federal do Brasil em São Paulo, tendo a oportunidade
de sanar o equívoco existente na autuação em questão, cancelando a
cobrança do crédito tributário ou, no mínimo, deferindo a realização de perícia
técnica hábil a esclarecer se o tipo de encaixe das brocas realmente seria o
mesmo, optou por coadunar com o entendimento da Fiscalização, expondo
suas razões de maneira genérica e sem trazer à baila fundamentação
condizente com a matéria e voga, o que, sem sobra de dúvida, causa
enormes e seríssimos danos à Recorrente.

V. 10. Vejam, Nobres Julgadores(a), que, totalmente irresignada com a


autuação em questão, a Recorrente buscou empresa de engenharia

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
especializada para produzir laudo técnico comparativo das brocas
helicoidais SDS MAX e SDS PLUS. Neste laudo, juntado à Impugnação, fica
claro e evidente que se tratam de produtos completamente distintos e, mais do
que isso, com tipos encaixe distintos.

V. 11. O laudo técnico demonstra, inclusive por meio de fotografias,


que as brocas SDS PLUS e SDS MAX, embora similares, possuem
dimensões e características técnicas bem distintas, sendo que o encaixe da
broca SDS MAX - importada pela Recorrente - possui diâmetro de encaixe de
18mm e pontos de corte de 3 rasgos, e enquanto que a broca SDS PLUS -
aquela para a qual incide o direito antidumping, nos termos da Resolução
CAMEX nº 55 - possui diâmetro de encaixe de 10mm e pontos de corte de 2
rasgos. Logo, o que diferencia as duas brocas é JUSTAMENTE O TIPO DE
ENCAIXE.

V. 12. Toda essa situação exposta não nos permite chegar a


conclusão diversa da de que estamos à frente de uma situação de
extrema ilegalidade, pois, além de privar a Contribuinte, ora Recorrente, do
seu direito de produção de prova pericial para demonstrar que os tipos de
encaixe das brocas são diferentes, a Secretaria da Receita Federal do Brasil
ainda promove a interpretação extensiva de uma norma de tipo fechado, como
é uma Resolução CAMEX que fixa direitos antidumping a importações,
promovendo indevidamente o alargamento de conceitos e causando,
assim, sérios prejuízos à Recorrente.

V. 13. Trata-se de aspecto técnico e não somente de se interpretar a


legislação aduaneira. Em síntese, por que não respeitar o comando

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
constitucional que autoriza a amplitude de defesa, e os comandos legais que
demandam a verdade material no processo administrativo, para, por
conseguinte, deferir a perícia técnica pugnada ? Ao seu resultado, todas as
partes estariam adstritas para o fim de validar, ou não, o atacado e não aceito
direito antidumping.

V. 14. Neste ínterim, para confirmar a afirmação de que a interpretação


extensiva da Resolução que fixa a incidência do direito antidumping por parte
da Receita Federal do Brasil não pode acontecer, pedimos vênia para aqui
colacionarmos o texto do Ato Declaratório Interpretativo nº 02, de 03 de
fevereiro de 2016, que dispõe sobre a competência para solucionar questões
relativas aos direitos previstos no acordo antidumping:

O SECRETÁRIO DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL,


no uso das atribuições que lhe conferem os incisos III e
XXVI do art. 280 do Regimento Interno da Secretaria da
Receita Federal do Brasil, aprovado pela Portaria MF nº
203, de 14 de maio de 2012, e tendo em vista o disposto
no § 1º do art. 7º da Lei nº 9.019, de 30 de março de
1995, no art. 146 do Decreto nº 8.058, de 26 de julho de
2013, e na Instrução Normativa RFB nº 1.396, de 16 de
setembro de 2013, declara:

Art. 1º Os direitos previstos no acordo antidumping,


cobrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil
(RFB) por determinação do § 1º do art. 7º da Lei nº 9.019,
de 30 de março de 1995, destinados a restabelecer a
condição de normalidade do mercado interno ante as
ameaças de danos à indústria nacional, não têm natureza
tributária, mas sim administrativo-regulatória.

Art. 2º Compete à Secretaria de Comércio Exterior


(Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
Comércio Exterior (Mdic), e à Câmara de Comércio
Exterior (Camex), do Conselho de Governo da
Presidência da República, solucionar questões relativas a
direitos previstos no acordo antidumping, conforme
disposto no art. 146 do Decreto nº 8.058, de 26 de julho
de 2013.

V. 15. No mesmo sentido, em outubro de 2015, já havia sido publicada a


Solução de Divergência nº 07, da COSIT (Doc. 06), que, em síntese, concluiu
pelo seguinte:

A competência da RFB, no que concerne aos direitos


previstos no acordo antidumping, limita-se à sua
cobrança e, no caso de pagamento a maior, à
restituição do excedente. A dúvida que originou a SC
SRRF09/Disit nº 185, de 2012, refere-se ao produto, se
estaria enquadrado ou não como suscetível de gerar a
obrigação de pagar o direito antidumping. E a
competência para solucionar essa dúvida é do
Departamento de Defesa Comercial (Decom) da
Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
conforme art. 146, parágrafo único, do Decreto nº 8.058,
de 2013.

V. 16. O que se verifica no caso dos autos, é que a Secretaria da


Receita Federal extrapola em muito o seu poder de ação, sobretudo em um
caso como este, em que se busca verificar se determinado produto (brocas
helicoidais de encaixe SDS MAX) está, ou não, enquadrado na obrigação de
pagar o direito antidumping.

V. 17. O que queremos dizer aqui é seguinte: como pode a Secretaria da


Receita Federal do Brasil, por meio de seus Auditores-Fiscais e Delegados

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
Fiscais, afirmarem o objetivo da norma, editada e publicada pela CAMEX e
pelo SECEX, quando a própria legislação já designou a esses órgãos tal
competência ? Antes de cobrar, está a dúvida da aplicação, ou não do direito
antidumping.

V. 18. Notadamente, no caso, é se questionar se o objetivo da norma foi


o de garantir a incidência de direito antidumping a determinado produto em
razão, exclusivamente, do seu tipo encaixe? Parece-nos estar havendo aqui
uma extrapolação dos poderes da Autoridade Fiscal, sendo certo que nas
normas supramecionadas o que se afirma é justamente a falta de competência
da Receita Federal do Brasil para presumir questões como essa, no tocante à
incidência, ou não, de direitos antidumping.

V. 19. Diante de todo o exposto, fica mais do que claro que, no caso em
tela, não incidem os direitos antidumping previstos na Resolução Camex
nº 55/2007, tendo em vista que se tratam de produtos indiscutivelmente
distintos e com tipos de encaixe distintos, conforme demonstrado no Laudo
Técnico juntado à Impugnação. Fica claro, ainda, que mesmo que o objetivo
da norma CAMEX fosse fixar os direitos antidumping com base exclusivamente
no tipo de encaixe das brocas, não importando se SDS MAX ou SDS PLUS,
não cabe à Receita Federal do Brasil emitir juiz de valor como este, eis que
totalmente fora de seu espectro de atuação, conforme normas acima
colacionadas editadas pela própria.

V. 20. Assim, a reforma do acórdão e cancelamento do crédito em


discussão é medida que se impõe e é o que se requer, como imposição mais
justa e sintonizada com o ordenamento jurídico pátrio.

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
VI. DO CANCELAMENTO DA MULTA DE OFÍCIO

VI.1. O r. Acórdão recorrido manteve a cobrança da multa de ofício, de


75% sobre o valor supostamente devido a título de direito antidumping, no
montante total de R$ 99.725,84 (noventa e nove mil, setecentos e vinte e cinco
reais e oitenta e quatro centavos), ao argumento de que sua aplicação seria
decorrente do não recolhimento de tributos e contribuições, nos termos do
artigo 44, I, da Lei nº 9.430/96.

VI.2. Conforme exposto no tópico anterior, o Ato Declaratório


Interpretativo nº 02, de 03 de fevereiro de 2016, da Receita Federal do Brasil,
reconheceu em seu artigo 1º que os direitos previstos no acordo antidumping
são destinados a restabelecer a condição de normalidade do mercado interno
ante às ameaças de danos à indústria nacional e não têm natureza tributária,
mas sim administrativo-regulatória.

VI.3. Logo, não há que se falar em penalidade decorrente de tributo


não pago, pois, conforme já externado pela própria Secretaria da Receita
Federal do Brasil, os valores devidos a título de direitos antidumping não
natureza tributária. Assim, ainda que fosse devido o pagamento dos
valores a título de direitos antidumping, o que não se sustenta, conforme
já demonstrado, não há a situação fática abstratamente prevista no
caput do art. 44 da Lei nº 9.430/96, aplicável unicamente às
obrigações de natureza tributária, principais ou acessórias.

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
VI.4. Neste sentido, já decidiu o Egrégio Tribunal Regional da 4ª
Região, conforme julgado abaixo:

DIREITO ANTIDUMPING. MULTA DE OFÍCIO.


DESCABIMENTO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA.
NATUREZA JURÍDICA NÃO-TRIBUTÁRIA. AUTO
DE INFRAÇÃO ANULADO. MOTIVO DO ATO SEM
CORRESPONDÊNCIA COM O MOTIVO LEGAL. 1. A
multa tem caráter estritamente punitivo, objetivando
coibir a inadimplência fiscal ou o descumprimento de
obrigações tributárias acessórias. Não é cabível a
aplicação de penalidade pecuniária pelo
descumprimento da obrigação tributária, enquanto o
contribuinte agir respaldado por decisão judicial que o
autorizou a pagar o tributo de determinada maneira
ou a deixar de pagá-lo. 2. O pressuposto que
ocasiona a multa não está presente na hipótese
vertente, pois a conduta do contribuinte ampara-se
justamente na decisão judicial que concedeu a tutela
antecipada, não havendo falar em atraso ou
inadimplemento no cumprimento da obrigação. 3.
Uma vez que as receitas decorrentes da cobrança
dos direitos antidumping são originárias, resta
indubitável que não têm caráter tributário. Por
conseqüência, o regime jurídico dos direitos
antidumping não se submete às limitações
constitucionais ao poder de tributar, nem às normas
gerais de direito tributário postas no CTN. Inteligência
do parágrafo único do art. 1º e do art. 10 da Lei nº
9.019/95. 4. Uma vez que o direito antidumping
provisório não é tributo, inexiste a situação fática
abstratamente prevista no caput do art. 44 da Lei nº
9.430/96, aplicável unicamente às obrigações de
natureza tributária, principais ou acessórias. O
Decreto nº 1.602/95, que constitui o regramento
legal aplicável ao dumping, não contém previsão

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
específica autorizando a imposição de multa em
razão da ausência de recolhimento do direito
antidumping, na ocasião em que houve o
desembaraço aduaneiro da mercadoria
importada. 5. O simples exame do Auto de Infração
demonstra a ausência de materialidade do ato
administrativo, pois não se está trata de obrigação
tributária que dê causa a crédito tributário. Assim, a
Receita Federal não tem direito de exigir o seu
pagamento por meio de Auto de Infração,
justamente porque o motivo que o embasou
inexiste. 6. A Lei nº 9.109/95 e o Decreto nº
1.602/95 não consideram crédito tributário o
montante em dinheiro cobrado a título de direitos
antidumping. Não se constatando a correspondência
do motivo do ato administrativo com o motivo legal,
desaparece por completo o pressuposto objetivo que
justificou o Auto de Infração. (TRF4, AC
2000.70.00.006392-9, PRIMEIRA TURMA, Relator
JOEL ILAN PACIORNIK, D.E. 27/11/2007)
Grifos nossos.

VI.5. Sendo assim, dúvidas não restam de que a multa de ofício fixada
no Auto de Infração e mantida pelo r. Acórdão, deve ser cancelada por este
Órgão Julgador, haja vista sua completa inaplicabilidade à situação fática,
relacionada à suposta falta de recolhimento de valores antidumping, eis que
não se está a discutir falta de recolhimento de obrigação tributária.

VI.6. Assim, ainda que se entenda pela aplicabilidade da cobrança


relativa ao direito antidumping, o que se admite apenas a título argumentativo,
requer a reforma do Acórdão no tocante à indevida manutenção da multa
de ofício, conforme todo o exposto.

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
VII – DO PEDIDO

VII. 1. Douto(a)s Conselheiro(a)s, em face do que foi exposto,


considerando que à Administração Pública interessa o bem comum, que os
agentes públicos devem obediência à lei, que o processo administrativo deve
ser uma oportunidade para se aperfeiçoarem os atos administrativos,
expungindo-se aqueles que sejam ilegais, que somente o que seja legal e
correto é o que interessa à Administração Pública, que a busca da verdade
material é um objetivo a ser perseguido pelos administradores da coisa pública
no exercício da atividade tributante, a Recorrente espera sejam
reconhecidos seus argumentos e acolhidos por esse Órgão para dar
provimento de plano ao presente Recurso Voluntário, mediante o
acolhimento da preliminar suscitada, para que se declare a nulidade do
processo a partir da decisão de primeira instância, inclusive, para
que outra seja proferida, deferindo, dessa vez, (i) o pedido de perícia
postulado pela Recorrente, que certamente demonstrará a inadequação
dos produtos importados às especificidades previstas na Resolução
CAMEX n. 55 de 20-11-2007.

VII. 2. Ultrapassada a preliminar suscitada, o que se admite apenas por


amor ao debate, (ii) requer seja reformado o v. Acórdão recorrido, para que
seja cancelada a cobrança do crédito discutido, julgando improcedente e
arquivado o Auto de Infração lavrado, pelos fundamentos acima
exarados, tendo em vista não incidirem às importações de “brocas
helicoidais SDS Max” os direitos antidumping fixados pela Resolução
CAMEX nº 55-2007.

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br
VII. 3. Por fim, (iii) deve, ainda, ser reformado o Acórdão, no tocante
à indevida manutenção da multa de ofício fixada no Auto de Infração, uma
vez que, conforme demonstrado, o direito antidumping provisório não é
tributo, de sorte que inexiste a situação fática abstratamente prevista no
caput do art. 44 da Lei nº 9.430/96.

Confiante nas ponderações e bom senso dos Ilustres Julgadores,


pede deferimento.

De Belo Horizonte/MG para Brasília/DF, 25 de setembro de 2018.

Rua Araguari, nº 1.541, 5º andar - Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG - CEP:


30190.111
Tel.: 55 31 3292 6655 Fax.: 55 31 3292 4339
www.hll.com.br

You might also like