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RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES

Unidade II
5 BALANÇO SOCIAL E CONTABILIDADE AMBIENTAL

Torres (2008) afirma que no Brasil os primeiros registros de ações organizadas voltadas para o tema
são de 1965, com a publicação da Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresas, e de 1969, com
a criação da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), entidade que existe até hoje. É
importante ressaltar que alguns autores consideram a Carta como o primeiro documento com o termo
“responsabilidade social” no Brasil, o que pode ser verificado neste trecho:

As crises e tensões do mundo contemporâneo devem-se a que as instituições


econômico-sociais vigentes se afastaram dos princípios cristãos e das
exigências de justiça social e que os antagonismos de classe, os aberrantes
desníveis econômicos, o enorme atraso de certas áreas do país decorrem,
em parte, de não ter o setor empresarial tomado consciência plena de suas
responsabilidades sociais (BARBOSA, 2003, p. 1).

O termo inicialmente era usado no plano das ideias e das intenções “cristãs” com o intuito de
conscientizar empresários do valor dos princípios de justiça social. Ou seja, mais do que produzir bens e
serviços, há uma função social junto aos trabalhadores e à sociedade. Convenhamos: empresários sérios
falando em justiça social nos primeiros anos de um governo militar que combatia o comunismo era
coisa bem arriscada, tanto que a iniciativa não progrediu efetivamente.

Observação

Os governos militares do Brasil que existiram entre 1964 e 1985


foram presididos por generais-presidentes eleitos de forma indireta pelo
Congresso Nacional. O regime militar foi muito enfático na oposição ao
comunismo e ideais de esquerda.

Em 1977 ocorreu o 2º Encontro Nacional de Dirigentes de Empresas, promovido pela ADCE, com
incentivo à participação das empresas frente a problemas sociais. Um dos assuntos debatidos foi a
criação de um balanço social, segundo Barbosa (2003). Era o germe da mudança se multiplicando.
Porém, já que nessa época o governo militar continuava pouco afeito a discussões que pudessem ser
interpretadas como socialistas (muito embora não fossem, evidentemente), e o receio do empresariado
de certa forma continuou a prejudicar as discussões.

Freire e Malo (1999) pontuam que na década de 1970 foi criada a Relação Anual de Informações
Sociais (Rais), um relatório obrigatório para todas as empresas com informações sociais dos funcionários.
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Unidade II

Muito timidamente, é um antepassado longínquo do Balanço Social que mais tarde foi desenvolvido no
Brasil e no mundo.

No início da década de 1980, segundo Torres (2008), a Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial
e Social (Fides) elaborou um modelo de Balanço Social sem muita repercussão. Nessa década, o modelo de
desenvolvimento econômico do governo militar mostrava esgotamento, uma vez que era baseado no
protecionismo da indústria brasileira, pouco competitiva quando comparada a similares de outros países
desenvolvidos. O protecionismo consistia, entre outros fatores, na proibição de importações de produtos e
bens de capital que tivessem similar nacional. Os sindicatos ganharam força e reinvindicações de trabalhadores
passaram a fazer parte do dia a dia das empresas. Organizações sociais, em maior parte ligadas à Igreja Católica,
também abriram espaço para reinvindicações locais. O germe da mudança se espalhava lenta e continuamente.

Após a redemocratização do país, as empresas e os empresários precisaram de reestruturação, já que


as barreiras às importações caíram no governo Collor (1990-1992). Então veja: tivemos simultaneamente
os processos de reestruturação do Estado, redefinição do papel das empresas, renovação do empresariado,
fortalecimento das reivindicações trabalhistas e sociais e, na sequência, a entrada de produtos melhores e mais
baratos vindos do exterior. Esse ponto de inflexão do empresariado leva, entre outras coisas, a discursos (e
depois a práticas) de ação social, inicialmente tímidos, mas que gradualmente foram ganhando força.

Antes mesmo da liberação das importações, em 1989 surgiu o Grupo de Instituições, Fundações
e Empresas (Gife), a primeira associação da América do Sul a reunir empresas, institutos e
fundações interessados em aperfeiçoar o ambiente político institucional do investimento social
privado. Ou seja, tratava-se da destinação de recursos privados para fins públicos via projetos
sociais, culturais e ambientais.

Saiba mais
Conheça o Gife e compreenda como suas ações contribuem para a RSE:
http://www.gife.org.br/.

5.1 O balanço social das empresas

Balanço social é um balanço social instrumento de gestão e de informação


que visa a evidenciar, da forma mais transparente possível, informações
econômicas e sociais do desempenho das entidades aos mais diferenciados
usuários (TINOCO, 2002, p. 59).

Silva e Freire (2001, p. 69) complementam:

O balanço social pode ser considerado como uma demonstração técnico/gerencial


que engloba um conjunto de informações sociais da empresa, permitindo que
os agentes econômicos visualizem suas ações em programas sociais para os
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empregados (salários e benefícios), entidades de classe (associações, sindicatos),


governo (impostos) e cidadania (parques, praças, meio ambiente etc.).

O Instituto Ethos (2007, p. 6) define balanço social como “levantamento dos principais indicadores
de desempenho ambiental, econômico e social da empresa”. Desde 2007 o Ethos disponibiliza uma
metodologia de criação do balanço social que abrange, além de dados financeiros, as dimensões
ambientais, econômicas e sociais ligadas à gestão das empresas.

Observação

O Instituto Ethos é uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de


Interesse Público) cuja missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas
a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as
parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável.

Martins, Bernardo e Madeira (2009, p. 106) resgatam a origem do balanço social no Brasil na
publicação em 1984 do Balanço Social da Nitrofértil, empresa estatal no polo petroquímico de Camaçari,
Bahia, onde se apresentavam as ações internas realizadas. Esse documento é considerado o primeiro do
gênero no Brasil.

Outras organizações publicaram seus balanços sociais entre as décadas de 1980 e 1990, como:

• Femaq;

• Sistema Telebrás;

• Banco do Estado de São Paulo (Banespa);

• Inepar S/A Indústria e Construções;

• Usiminas;

• Companhia Energética de Brasília (CEB);

• Light.

Há um conjunto de fatores que contribuíram para a receptividade da ideia do Balanço Social no


Brasil, entre eles:

• a Constituição de 1988, que definiu regras e obrigações em questões sociais e ambientais;

• as exigências de organizações internacionais de financiamento de projetos de infraestrutura,


onde a questão ambiental e social é levada a sério;

• o aumento da percepção junto ao público consumidor da importância de preservação da natureza;


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Unidade II

• os rankings internacionais de qualidade de vida, sustentabilidade, preservação e educação que se


refletem na disposição de investimento internacional no país;

• a divulgação do resultado de programas ambientais e de apoio cultural de empresas multinacionais


como Xerox, C&A, Coca-Cola, McDonald’s e outras;

• o exemplo nacional de atuação em RSE do Banco do Brasil, Usiminas, Inepar, Petrobras, Natura,
Azaleia e O Boticário, entre outras.

O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), uma organização de cidadania ativa
sem fins lucrativos, define:

O Balanço Social é um demonstrativo publicado anualmente pela empresa


reunindo um conjunto de informações sobre os projetos, benefícios e ações
sociais dirigidas aos empregados, investidores, analistas de mercado, acionistas e
à comunidade. É também um instrumento estratégico para avaliar e multiplicar
o exercício da responsabilidade social corporativa (IBASE, [s.d.]).

No balanço social, a empresa divulga ordenadamente suas ações voltadas aos funcionários
e dependentes, além da comunidade, tornando públicas as atividades que buscam melhorar a
qualidade de vida para todos, construindo e melhorando os vínculos entre a empresa, a sociedade
e o meio ambiente.

Santos (1998, p. 4) pondera que “O balanço social é um poderoso referencial de informações nas
definições de políticas de recursos humanos, nas decisões de incentivos fiscais, no auxílio sobre novos
investimentos e no desenvolvimento da consciência para a cidadania”.

O balanço social, na sua definição mais ampla, inclui, ainda, informações sobre o meio ambiente
e sobre a formação e a distribuição da riqueza gerada pelas empresas (valor adicionado). Quando
apresentado em conjunto com as demonstrações financeiras tradicionais, é efetivamente o instrumento
mais eficaz e completo de divulgação e avaliação das atividades empresariais.

Tinoco (2002) pontua que o balanço social deriva utilidade junto a diversos usuários:

Quadro 3 – Usuários do balanço social e da Contabilidade

Usuários Metas relevantes


Produtos com qualidade; recebimento de produtos em dia;
Clientes produtos mais baratos
Fornecedores e financiadores Parceria; segurança no recebimento; continuidade
Geração de caixa; salários adequados; incentivos à promoção;
Colaboradores produtividade; valor adicionado; segurança no emprego
Investidores potenciais Custo de oportunidade; rentabilidade; liquidez da ação
Retorno sobre o patrimônio líquido; retorno sobre o ativo;
Acionistas controladores continuidade; crescimento no mercado

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Usuários Metas relevantes


Acionistas minoritários Fluxo regular de dividendos; valorização da ação; liquidez
Retorno sobre o patrimônio líquido; continuidade; valor
Gestores patrimonial da ação; qualidade; produtividade; valor adicionado
Governo Lucro tributável; valor adicionado; produtividade
Contribuição social; preservação do meio ambiente;
Vizinhos segurança; qualidade

Fonte: Tinoco (2002, p. 64).

Barros Correa, Carvalho e Santos Alves (2010) abordam a questão do público externo e interno:

Aos agentes externos às organizações, o balanço social visa dar conhecimento


daquelas ações institucionais que têm impacto não apenas no desempenho
financeiro, mas também na relação capital-trabalho e na geração ou não de
riqueza e bem-estar para a sociedade.

No que tange ao público interno da organização, a gestão da responsabilidade


social visa motivá-lo e assim obter um desempenho ótimo do mesmo,
criando um ambiente agradável de trabalho e contribuindo para seu
bem-estar. Com isso, a organização ganha a dedicação, empenho, lealdade e
melhor produtividade de seus colaboradores (BARROS CORREA; CARVALHO;
SANTOS ALVES, 2010, p. 45).

Dessa forma, o balanço social é um instrumento de demonstração das atividades das empresas que
tem por finalidade conferir maior transparência e visibilidade às informações que interessam não apenas
aos sócios e acionistas das companhias (stockholders), mas a um número maior de atores: empregados,
fornecedores, investidores, parceiros, consumidores e comunidade (stakeholders).

Lembrete

No balanço social, a empresa divulga ordenadamente suas ações


voltadas aos funcionários e dependentes, além da comunidade, tornando
públicas as atividades que buscam melhorar a qualidade de vida para todos,
construindo e melhorando os vínculos entre a empresa, a sociedade e o
meio ambiente.

5.1.1 Conteúdo do balanço social

Segundo Tinoco (2002), na década de 1960 a pressão popular por mudanças de cunho social nos
EUA e na Europa acabaram incluindo informações quantitativas e qualitativas nos demonstrativos
contábeis: emprego, condições de trabalho e bem-estar dos empregados. Uma lei francesa de 1977
exige de empresas com mais de 300 funcionários detalhes sociais nos balanços:
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Unidade II

A lei (francesa) divide-se, em síntese, em sete grandes capítulos de informações, que são:

I - Emprego.

II - Remuneração e encargos acessórios.

III - Condições de higiene e de segurança no trabalho.

IV - Outras condições de trabalho.

V - Formação.

VI - Relações profissionais.

VII - Outras condições de vida dependentes da empresa (TINOCO, 2002, p. 61).

O balanço patrimonial tradicional apresenta resultados em moeda. Já o balanço social apresenta


tantos dados quantitativos quanto qualitativos.

Tinoco (2002) elenca as informações desejadas em um balanço social:

• Absenteísmo e turnover.

• Condições de higiene e segurança no trabalho.

• Condições de vida de dependentes da empresa.

• Demonstração do valor adicionado (ou agregado).

• Formação profissional e desenvolvimento contínuo.

• Pessoas ocupadas por categoria profissional, segundo classes salariais.

• Pessoas ocupadas por estabelecimento e distribuição espacial.

• Pessoas ocupadas por instrução, segundo as classes salariais.

• Pessoas ocupadas por sexo e instrução, segundo classes de salários.

• Pessoas ocupadas por sexo, segundo classes salariais.

• Pessoas ocupadas, por tipo de contrato de trabalho.

• Pessoas ocupadas, segundo a categoria profissional e sexo.

• Pessoas ocupadas, segundo a idade.

• Pessoas ocupadas, segundo a nacionalidade.

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• Pessoas ocupadas, segundo o estado civil e raça.

• Pessoas ocupadas, segundo o tempo de trabalho na empresa.

• Pessoas ocupadas, segundo sexo e instrução.

• Relações profissionais.

• Remunerações e outros benefícios (custos com pessoal).

• Tempo integral, temporário, parcial, optantes ou não do FGTS.

• Volume total de empregados no fim de cada exercício.

Tinoco (2002) também sugere indicadores qualitativos e quantitativos a partir do balanço social:

• De caráter econômico:

— o valor adicionado por trabalhador;

— a relação entre salários pagos ao trabalhador quanto ao valor adicionado;

— a relação entre salários e receitas brutas da empresa;

— a contribuição do valor adicionado da empresa para o produto interno bruto;

— a produtividade social da empresa;

— a carga tributária da empresa em relação ao seu valor adicionado.

• De caráter social:

— a evolução do emprego na empresa;

— a promoção dos trabalhadores na escala salarial da empresa;

— a relação entre a remuneração do pessoal em nível de gerência e os operários;

— a participação e evolução do pessoal por sexo e instrução;

— a classificação do pessoal por faixa etária;

— a classificação por antiguidade na empresa;

— o nível de absenteísmo;

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Unidade II

— benefícios sociais concedidos (médico, odontológico, moradia, educação);

— política de higiene e segurança no trabalho;

— política de proteção ao meio ambiente.

Godoy et al. (2007) aponta que são três os modelos mais utilizados no Brasil para elaborar o balanço
social: o do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), o do GRI (Global Reporting
Initiative) e o do Instituto Ethos.

Saiba mais

Conheça os modelos de balanço social mais utilizados no Brasil.

Ibase:

INSTITUTO ATK/WHH. Brasil: balanço social Ibase. [s.d.]. Disponível em: http://
www.institutoatkwhh.org.br/compendio/?q=node/66. Acesso em: 26 dez. 2018.

GRI:

DIAS, L. N. da S.; SOEKHA, L. D. O.; SOUZA, E. M. V. de. Estudo de caso do


balanço social da Albrás: de relatórios internos ao modelo GRI. Sociedade,
Contabilidade e Gestão, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, jan./jun. 2008. Disponível
em: http://www.atena.org.br/revista/ojs-2.2.3-06/index.php/ufrj/article/
view/450/437. Acesso em: 26 dez. 2018.

Ethos:

INSTITUTO ETHOS. Guia de elaboração do balanço social. 2002. Disponível


em: https://www3.ethos.org.br/wp-content/uploads/2012/12/6Vers%C3%
A3o-2002.pdf. Acesso em: 26 dez. 2018.

5.1.2 Contabilidade ambiental

A Contabilidade Ambiental passou a ter status de novo no ramo da


Ciência Contábil em fevereiro de 1998, com a finalização do “Relatório
financeiro e contábil sobre o passivo e custos ambientais”, pelo Grupo
de Trabalho Intergovernamental das Nações Unidas de Especialistas
em Padrões Internacionais de Contabilidade e Relatórios (Isar – United
Nations Intergovernamental Working Group of Experts on International of
Accounting and Reporting) (GARCIA; OLIVEIRA, 2009, p. 12).

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RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES

Os resultados econômicos precisam ser cotejados com os resultados sociais: é a Contabilidade


Ambiental, que registra os eventos econômicos da relação da empresa com o meio ambiente.

Figura 6

Garcia e Oliveira (2009, p. 14) citam a Resolução 750, de 1993, do Conselho federal de Contabilidade:

Toda e qualquer atividade, desenvolvida ou em desenvolvimento, ocorrida


ou a ocorrer, não importando se em maior ou menor relevância, desde
que mensurável em moeda, que cause ou possa vir a causar qualquer tipo
de dano ao meio ambiente, bem como toda e qualquer ação destinada a
amenizar e/ou extinguir tais danos, serão registradas em contas contábeis
específicas, na data de sua ocorrência, em consonância com o disposto nos
Princípios Fundamentais de Contabilidade.

Organizações com estratégia alinhada com conceitos de RSE idealmente devem incluir em meio
ao plano de contas contábil o ativo e o passivo ambiental, a receita ambiental e custos e despesas
ambientais, de acordo com Ferreira (2003):

• Ativo ambiental: bens e direitos com origem nas ações de gestão ambiental.

• Passivo ambiental: obrigações ligadas ao controle, preservação e recuperação do meio ambiente.

• Receita ambiental: receitas oriundas de sobras/perdas do processo produtivo e de serviços para


terceiros ligados à gestão ambiental.

• Custos e despesas ambientais: gastos com o sistema de gestão ambiental. Nessas contas, Ribeiro
(1992) aprofunda a questão:

O valor dos insumos, mão de obra, amortização de equipamentos e instalações


do processo de preservação, proteção e recuperação do meio ambiente, bem
como serviços externos e os gastos para realização de estudos técnicos

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Unidade II

sobre a metodologia e procedimentos adequados, podem constituir-se em


exemplos de custos e despesas ambientais (RIBEIRO, 1992, p. 80).

Tinoco e Kraemer (2004) propõem um modelo de plano de contas ambiental:

Quadro 4 – Plano de contas ambiental

1 Ativo
1.1 Ativo circulante
1.1.1 Disponível
1.1.1.1 Caixa
1.1.1.2 Banco conta movimento
1.1.2 Créditos
1.1.2.1 Clientes ambientais
1.1.2.2 Subvenções ambientais a receber
1.1.3 Estoques
1.1.3.1 Renovável
1.1.3.2 Não renovável
1.1.3.3 Reciclada
1.1.3.4 Reutilizável
1.2 Ativo realizável a longo prazo
1.3 Ativo permanente
1.3.1 Investimentos
1.3.1.1 Participação em fundo de investimentos ambientais
1.3.2 Imobilizado
1.3.2.1 Equipamentos ambientais
1.3.2.2 Depreciação, exaustão acumulada
1.3.3 Diferido
1.3.3.1 Projetos de gestão ambiental
1.3.3.2 Treinamento ambiental
2 Passivo e patrimônio líquido
2.1 Passivo circulante
2.1.1 Empréstimos e financiamentos
2.1.1.1 Financiamentos ambientais
2.1.2 Obrigações
2.1.2.1 Multas por danos ambientais
2.2 Passivo exigível a longo prazo
2.2.1 Fornecedores
2.2.1.1 Fornecedores ambientais
2.3 Resultado de exercícios futuros
2.4 Patrimônio líquido
2.4.1 Capital social

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RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES

2.4.2 Reservas de lucros


2.4.2.1 Reserva contingencial para indenizações por danos ambientais
2.4.3 Lucros ou prejuízos acumulados
3 Contas credoras de resultado
3.1 Receita bruta de produtos e serviços ambientais
3.1.1 Vendas de resíduos reciclados
3.1.2 Prestação de serviços ambientais
4 Contas devedoras de produção e de resultado
4.1 Custos vinculados à produção
4.1.2 Insumos ambientais
4.1.3 Custos com prevenção e gestão ambiental
4.2 Despesas operacionais
4.2.1 Seguros ambientais
4.2.2 Auditoria ambiental
4.2.3 Licenças e impostos ambientais

Adaptado de: Tinoco e Kraemer (2004, p. 32).

Pereira, Couto e Galvão (2009) também propõem um modelo de balanço ambiental:

Quadro 5 – Modelo de balanço ambiental

Ativo
Investimentos em meios patrimoniais, utilizados para preservação e recuperação do meio ambiente
natural.
Investimentos realizados que possuem perspectivas de geração de benefícios futuros no processo de
controle de preservação ambiental.
Estoques dos insumos peças e acessórios utilizados no processo de eliminação dos níveis de poluição.
Investimentos em máquinas, equipamentos e instalações adquiridos ou produzidos com a intenção de
amenizar os impactos causados ao meio ambiente.
Gastos com pesquisas visando desenvolvimentos de tecnologias modernas de médio e longo prazo,
desde que constituam benefícios ou ações que irão refletir nos exercícios seguintes.
Bens adquiridos pela companhia que têm como finalidade controle, preservação e conservação do
meio ambiente.
Todo recurso retirado da natureza e que não se renova naturalmente, em quantidade viável no
aspecto temporal. É um recurso exaurível onde se enquadra os metais, zinco, ferro, alumínio, carvão,
petróleo, florestas, mármore etc.
Passivo
Obrigações com terceiros a curtos e longos prazos, com aplicação na natureza e destinadas única e
exclusivamente a promover investimentos em prol de ações relacionadas à extinção ou amenização
dos danos causados ao meio ambiente, inclusive percentual do lucro do exercício com distinção
compulsório direcionado a investimentos na área ambiental.
Obrigações contraídas pela empresa perante terceiros que têm como origem um gasto ambiental
(ativos, custos despesas etc.) constituindo-se de obrigações ambientais, decorrentes de compras de
ativos ambientais, de elementos consumidos durante o processo de produção e aqueles provenientes
de penalidades impostas às organizações, por infração à legislação ambiental, danos ao meio
ambiente e à propriedade de terceiros.

Fonte: Pereira, Couto e Galvão (2009, p. 57).

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Unidade II

Quadro 6 – Modelo de balanço ambiental

Ativo ambiental
Lançamentos R$
1. Compras de máquinas e equipamentos  
2. Manutenção  
3. Investimento em preservação de recursos exauríveis  
4. Pesquisa e desenvolvimento  
5. Estoques  
Passivo ambiental
Lançamentos R$
1. Pagamento de multas ambientais  
2. Processos judiciais  
3. Custos com tratamentos de resíduos  
4. Custos com recuperação ecossistema  

Fonte: Pereira, Couto e Galvão (2009, p. 58).

6 NORMAS, CERTIFICAÇÕES E INICIATIVAS

Primeiro vamos entender o conceito de certificação. A Associação Brasileira de Normas Técnicas


(ABNT, [s.d.]) define certificação como “[...] um processo no qual uma entidade independente (3ª parte)
avalia se determinado produto atende às normas técnicas. Esta avaliação se baseia em auditorias no
processo produtivo, na coleta e em ensaios de amostras.” Ou seja, uma empresa declara publicamente
que segue as normas criadas por uma organização idônea e permite que outra empresa/organização
independente faça uma auditoria para verificar e atestar se realmente está seguindo essas normas.

O mundo oferece um largo arranjo de normas e certificações voltadas, direta ou indiretamente,


à RSE. Estar certificado por uma organização relevante se traduz em agregar reputação num mundo
competitivo, além de atender a diversos stakeholders. Para tal, há uma série de normas que exigem
adaptação nos processos internos.

Neste livro-texto, vamos procurar referenciar as principais normas e certificações divididas em


quatro áreas: qualidade, meio ambiente, saúde e segurança e sustentabilidade. Na sequência, iremos
apresentar iniciativas públicas e privadas voltadas para a RSE.

6.1 Qualidade

6.1.1 ISO: ISO 9001, 9002, 9003 e ABNT: NBR ISO 9001, NBR ISO 9002 e NBR ISO 9003

Segundo Dotto e Bianchi (2017), a série de normas ISO 9000 é um sistema preparado para gerenciar as
organizações com foco no atendimento das expectativas e foi criado pela ISO (Organização Internacional
para a Padronização) para regulamentar padrões.

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RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES

De acordo com a ISO (2015), a família ISO 9000 aborda diferentes aspectos da gestão da qualidade,
fornece orientação e ferramentas para empresas garantirem que seus produtos e serviços atendam às
necessidades do público-alvo, buscando sempre a melhoria contínua (DOTTO; BIANCHI, 2017, p. 18).

Os padrões ISO certificam sistemas de gerenciamento com processos de planejamento, implementação


e operação, ações preventivas e corretivas etc. São adaptadas para normas ABNT no Brasil como ABNT
NBR ISO 9001, ABNT NBR ISO 9002 e ABNT NBR ISO 9003. Indiretamente contribuem para a RSE em
função da melhoria contínua de qualidade.

A figura a seguir mostra um selo NBR ISO 9001 para o Sistema de Gestão da Fundação Vanzolini
obtido em 2008. A organização certificadora é a IQNET.

Figura 7 – Selo NBR ISO 9001 para uma empresa certificada em 2008 pela IQNET

6.2 Meio ambiente

6.2.1 Emas

O padrão Emas (European Eco-Management and Audit Scheme) é voltado para as indústrias
europeias e trata de sistemas de gerenciamento ambientais. É um sistema de gestão ambiental (SGA)
que incentiva empresas com envolvimento em programas governamentais a se adequarem a um modus
operandi voltado à gestão integrada do meio ambiente. Não é obrigatório, mas a empresa alinhada deve
reportar publicamente o desempenho ambiental.

6.2.2 ISO 14000 e NBR ISO 14001

Parte da série ISO, complementar das normas ISO 9001, 900 e 9003, a norma ISO 14001 é voltada
para aspectos ambientais e descreve os requisitos básicos de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA). As
empresas se declaram publicamente em conformidade e depois buscam ser certificadas por organizações
correlatas. É adaptada para normas ABNT no Brasil como ABNT NBR ISO 14001:

A ABNT NBR ISO 14001 é uma norma aceita internacionalmente que define
os requisitos para colocar um sistema da gestão ambiental em vigor. Ela ajuda
a melhorar o desempenho das empresas por meio da utilização eficiente dos
recursos e da redução da quantidade de resíduos, ganhando assim vantagem
competitiva e a confiança das partes interessadas (ABNT, 2015).
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Unidade II

Oliveira e Pinheiro (2010) traduzem os benefícios que essa certificação traz para as empresas:

• abertura de mercados domésticos e internacionais;


• melhoria na gestão como um todo;
• aumento da satisfação dos consumidores;
• resposta à legislação específica de cada país;
• padronização dos procedimentos de gestão ambiental nas operações internas;
• redução do desperdício e economia de recursos utilizados no processo (redução de custos);
• melhoria da imagem da empresa;
• aumento da consciência ambiental na cadeia de suprimentos;
• desenvolvimento de procedimentos de produção limpa;
• atendimento às pressões dos grupos externos.

A figura a seguir mostra um certificado internacional de ISO 14001 obtido em 2004 pela empresa M.
T. Technology (em inglês). A organização certificadora é a IQNET.

Figura 8 – Certificado ISO 14001 para uma empresa certificada em 2004 pela IQNET

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RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES

6.3 Saúde e segurança

6.3.1 OHSAS 18001

A série OHSAS 18001 (Organizational Health and Safety Assessment Series) trata de Sistema de
Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho, e exige um rígido sistema de gerenciamento de risco. Não há
obrigatoriedade legal para a adoção da OHSAS 18001 pelas empresas, mas mesmo assim a adesão tem
sido crescente, uma vez que facilita o atendimento de obrigações da Legislação Ambiental e as Normas
Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho.

Programas exigidos pela lei brasileira, como o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, o
Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional, a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
e o Programa de Atendimento a Emergências, segundo Araújo (2007), são na maior parte das vezes
implementados de forma isolada, sem conexão com sistemas de gestão existentes nas empresas.

A adoção da OHSAS 18001 facilita o cumprimento de marcos legais, além de gerar boa vontade
junto aos sindicatos de trabalhadores. Adicionalmente, melhora a reputação da empresa, reduz custos
com acidentes e pode trazer vantagens competitivas.

A figura a seguir mostra um certificado internacional de OHSAS 18001 obtido em 2007 pela empresa
Borj Pardis (em inglês). A organização certificadora é a Audit People.

Figura 9 – Certificado OHSAS 18001 para uma empresa certificada em 2007 pela Audit People

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Unidade II

6.3.2 HCS e HHPS

O padrão HCS (Humane Cosmetic Standard) e o padrão HHPS (Humane Household Products Standard)
foram criados na década de 1990 por uma coligação europeia de organizações para o bem‑estar dos
animais. Sua função é garantir que cosméticos e produtos domésticos fabricados pela empresa, incluindo
insumos de produção, não têm origem de testes em animais, ou seja, são produtos “livres de crueldade”.
Não se trata de garantir produtos veganos/vegetarianos ou naturais, e sim de garantir que não houve
testes em animais.

Ambos os padrões descrevem programas e processos de política de produtos e exigem a


auditoria independente dos sistemas. Empresas que atendam aos requisitos obtêm o direito de
aplicar um selo identificador (“Cruelty Free”, ou “Sem Crueldade”) em seus produtos, o que cria
um diferencial competitivo.

Figura 10 – Selo Cruelty Free, da HCS

6.4 SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIAL

6.4.1 FSC e FSC Brasil

O padrão FSC (Forest Stewardship Council) é um padrão de certificação com foco no controle
das práticas produtivas florestais. A ideia é acrescentar valor aos produtos com origem no manejo
responsável das florestas. Além do manejo, esse padrão valoriza o impacto positivo nos trabalhadores e
nas comunidades locais e incentiva a viabilidade econômica dos recursos florestais. O FSC Brasil faz as
certificações em território nacional.

Há três tipos de certificação: Manejo Florestal, Cadeia de Custódia e Madeira Controlada.

• A certificação de Manejo Florestal garante que a área certificada foi manejada seguindo os
princípios e critérios FSC, e cobre não somente produtos madeireiros, como toras e pranchas,
como produtos não madeireiros, como óleos e sementes.

66
RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES

• A certificação de Cadeia de Custódia garante o rastreio da matéria-prima das florestas até chegar
na ponta do consumidor, incluindo serrarias, fabricantes de móveis e designers.

• A certificação de Madeira Controlada garante que empresas certificadas não utilizam produtos
com origem florestal duvidosa/inaceitável pelos critérios FSC, como madeira extraída ilegalmente
ou de florestas com árvores geneticamente modificadas.

Empresas certificadas podem utilizar em seus produtos o selo FSC, o que cria diferenciais diante de
concorrência não certificada.

Figura 11 – Selo FSC para empresas certificadas

6.4.2 MSC

O MSC (Marine Stewardship Council) é uma organização independente sem fins lucrativos fundada
em 1997 responsável pelo estabelecimento de padrões de certificação de pesca sustentável.

[...] a cadeia de distribuição alimentar UNILEVER associou-se à ONG World


Wide Fund for Nature (WWF) e criaram o Marine Stewardship Council,
que é uma organização internacional sem fins lucrativos, responsável pela
emissão do certificado de “peixe capturado de forma sustentável”, ou seja,
que respeita o programa definido por esta entidade de promoção de pesca
sustentável (DA SILVA, 2018, p. 461).

O MSC desenvolveu um programa de certificação para incentivar toda a cadeia produtiva a praticar
pesca sustentável, reconhecendo e premiando as melhores práticas. Atividades como mapeamento de
recursos, estabelecimento de padrões de rastreabilidade, melhorias de processos produtivos etc. fazem
parte da atuação da MSC.

Empresas certificadas são incentivadas a utilizar em seus produtos o selo MSC para identificar os
diferenciais de sustentabilidade.

67
Unidade II

Figura 12 – Selo MSC para empresas certificadas

6.4.3 AA1000

A norma AA1000 (AccountAbility 1000) é um padrão certificável da responsabilidade social que visa
garantir a qualidade da contabilidade, auditoria e relato da RSE.

A norma AA1000, desenvolvida pelo Instituto de Responsabilidade Social e Ética (Isea), foi criada
para assistir organizações na definição de objetivos e metas, na medição do progresso em relação a
essas metas, na auditoria e relato do desempenho e no estabelecimento de mecanismos de feedback.
Compreende princípios e normas de processo (DA SILVA, 2016, p. 140).

Essa norma visa ao engajamento de stakeholders com transparência.

6.4.4 GRI

O documento “Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade”, emitido pela


Global Reporting Initiative – GRI, é um guia de elaboração de relatórios
sociais mundialmente reconhecido e aplicado, que tem como uma das
principais metas o oferecimento aos usuários destas demonstrações de
uma informação mais completa, padronizada e confiável (CARVALHO;
SIQUEIRA, 2008, p. 1).

Lembrete

O guia para relatórios de sustentabilidade da GRI, já citado anteriormente


em balanço social, foca no relato da organização e não é certificável, cobrindo
um amplo conjunto de aspectos sociais, éticos, ambientais e econômicos.

6.4.5 SA8000

A norma SA8000 (Social Accountability 8000) da Social Accontability International (SAI) é um


padrão de responsabilidade social e prestação de contas com foco na verificação da cadeia produtiva da
inexistência de trabalho infantil, trabalho escravo e ações discriminatórias. Foi criada em 1997 por um

68
RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES

conselho consultivo convocado pela organização não governamental Council on Economic Priorities
Accreditation Agency (Cepaa), que depois viraria a SAI.

Este conselho consultivo, segundo Lima (2008), tinha representantes de empresas de classe mundial,
como Avon, Toys “R” Us e KPMG, além de diversas ONGs, sindicatos, empresas de consultoria e certificação
e entidades de classe. O objetivo era criar uma norma auditável de responsabilidade social alinhada
com as convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Declaração Universal dos Direitos
Humanos e a Convenção das Nações Unidas sobre Direitos da Criança.

Lima (2008) elenca os requisitos específicos de RSE exigidos pela norma:

• Trabalho infantil.
• Trabalho forçado.
• Saúde e segurança.
• Liberdade de sindicalização.
• Discriminação.
• Práticas disciplinares.
• Horário de trabalho.
• Remuneração.
• Sistema de gestão.

Quando uma empresa trabalha com uma certificação social como a SA8000, os seguintes assuntos
são envolvidos, de acordo com Guillardi (2006):

• Visão e missão.
• Ética.
• Práticas gerais de RH (apoio às famílias, incentivo à educação).
• Relações de trabalho/sindicais.
• Saúde.
• Relacionamento com a cadeia produtiva (fornecedores, produtores, distribuidores).
• Relação com acionistas.
• Práticas de mercado.
• Atendimento ao consumidor.

69
Unidade II

• Marketing social.
• Balanço social.
• Relação com o governo.
• Meio ambiente.
• Ações culturais.
• Apoio à comunidade (filantropia, voluntariado).
• Direitos humanos.

A SA8000 é uma das normas mais conhecidas no mundo, segundo Guillardi (2006):

A SA8000 é única em muitos aspectos. É o primeiro padrão global que pode


ser implementado em qualquer país. Também é multisetorial, diferentemente
de alguns outros padrões que foram desenhados para ser aplicados apenas
para um setor. O que realmente separa a SA8000 de outros padrões é o fato
de ser um padrão auditável (GUILLARDI, 2006, p. 11).

Jornada de trabalho é um tópico delicado na uniformização de aplicabilidade da SA8000, que


limita as horas ao que é estipulado pelas convenções da OIT. Mesmo aplicando as leis e os acordos
coletivos locais, a jornada de trabalho não pode passar de 48 semanais, acrescida de um máximo
de 12 horas extras por semana. Veja que essa flexibilidade permite a aplicação na grande maioria
dos países.

Outro tópico delicado é remuneração. Guillardi (2006) pontua que “[...] em muitos países o salário
mínimo não é o suficiente para atender as necessidades básicas de um trabalhador e, portanto, não
atendem a SA8000”.

6.4.6 ECS2000

A Sociedade Japonesa de Estudos de Ética nos Negócios (Japan Society for Business Ethics Study),
criada em 1993, desenvolveu a ECS2000 (Ethics Compliance Standard 2000), norma que auxilia na
criação e operação de sistemas de conformidades legais e éticas para empresas japonesas. A ECS200 foi
lançada em 2002 e sugere a introdução de programas de ética empresarial.

Essa norma está estruturada em etapas:

1 – A empresa estabelece uma política de ética e desenvolve o Código de Ética correspondente, bem
como os procedimentos e regulamentos para a implantação.

2 – A empresa define a seguir qual profissional é responsável pela conformidade ética e legal e
integra a área de comunicação nas atividades.
70
RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES

3 – A empresa contrata uma auditoria especializada para verificar se os funcionários e gestores


seguem o Código de Ética, e o resultado da auditoria deve ser divulgado publicamente.

4 – Em função dos resultados auditados, a empresa deve promover melhorias visando a aplicação
plena do Código de Ética.

6.4.7 Q-RES CELE

Sistema de gestão para a responsabilidade social e ética desenvolvido em 1998 pela Universidade
Castellanza (Varese, Itália) com a participação de empresas, consultorias e ONGs comprometidas
com RSE.

As Diretrizes Q-RES descrevem seis instrumentos para a gestão ética e socialmente responsável:

1 – Visão ética corporativa: fundamenta o comportamento responsável da empresa.

2 – Código de Ética: documenta princípios e regras.

3 – Formação ética: cria condições para os funcionários adotarem o Código de Ética.

4 – Sistema de implementação e controle: estabelece a estrutura para implantar e controlar as


práticas de responsabilidade social e ética.

5 – Prestação de contas da responsabilidade social e ética: divulga o desempenho de RSE para as


partes interessadas.

6 – Verificação externa: audita de forma independente o cumprimento das diretrizes.

Perceba que estas etapas são conceitualmente equivalentes às etapas do ECS2000.

6.4.8 NBR 16001

Em 2004 a ABNT publicou a norma ABNT NBR 16001 – Responsabilidade Social – Sistema de Gestão
– Requisitos, que estabelece a responsabilidade da alta administração da empresa em definir a política
de responsabilidade social através de programas com objetivos e metas para contemplar onze temas
(ABNT, 2004):

• Boas práticas de governança.

• Combate à pirataria, sonegação, fraude e corrupção.

• Práticas leais de concorrência.

• Direitos da criança e do adolescente, incluindo o combate ao trabalho infantil.


71
Unidade II

• Direitos do trabalhador, incluindo o de livre associação, de negociação, a remuneração justa e


benefícios básicos, bem como o combate ao trabalho forçado.

• Promoção da diversidade e combate à discriminação (por exemplo: cultural, de gênero, de raça/


etnia, por idade, de pessoa com deficiência).

• Compromisso com o desenvolvimento profissional.

• Promoção da saúde e segurança.

• Promoção de padrões sustentáveis de desenvolvimento, produção, distribuição e consumo,


contemplando fornecedores, prestadores de serviço, entre outros.

• Proteção ao meio ambiente e aos direitos das gerações futuras.

• Ações sociais de interesse público.

6.4.9 ISO 26000 e NBR ISO 26000

A Norma Internacional de Responsabilidade Social, ISO 26000, foi publicada em novembro de 2010
após anos de trabalho de mais de 450 pessoas de 100 países. Sua parente local, a ABNT NBR ISO 26000,
foi publicada logo após, em dezembro de 2010.

A ISO 26000 foi concebida para ser a primeira norma internacional de


responsabilidade social empresarial. Ela começou a ser desenvolvida
em 2005 e sua versão final foi publicada no final 2010. O documento
tem como objetivo traçar diretrizes para ajudar empresas de diferentes
portes, origens e localidades na implantação e desenvolvimento de
políticas baseadas na sustentabilidade. Foi construída com a participação
de diversos setores da sociedade, em todo mundo, e liderada por
um brasileiro: o engenheiro Jorge Cajazeira, gerente corporativo de
competitividade da Suzano Papel e Celulose, responsável pelo Grupo de
Trabalho e Responsabilidade Social da ISO (International Organization
for Standardization) (DANTAS et al., 2016, p. 132).

Essa norma atende a dezenas de países. O maior desafio de sua elaboração e implantação
foram as diferenças culturais e comportamentais no ambiente de negócios. No Brasil, as doações e
contribuições pessoais dos líderes empresariais não são bem vistas, enquanto que as participações
sociais das empresas desses mesmos líderes são bem consideradas. Nos Estados Unidos, a cultura
é outra: empresas doando e contribuindo é um pouco estranho, porém seus líderes e outras
personalidades públicas podem se engajar sem problemas.

A ISO 26000 não tem certificação e é de aplicação voluntária por parte das empresas. Ou
seja, mostra um caminho a trilhar no sentido de RSE mas não tem organizações que façam a
verificação e certificação.
72
RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES

6.4.10 AA1000

Em 1999, o (Isea) Institute of Social and Ethical Accountability, organização não governamental com
sede em Londres, criou a AA1000, norma internacional certificável de cunho social com foco na relação
e engajamento da empresa com os stakeholders.

A norma não define padrões de desempenho, e sim especifica o processo a ser seguido na construção
do relatório de engajamento. É possível perceber a intencionalidade de aplicação da AA1000: promover
um processo de aprendizagem organizacional.

Antunes (2010) afirma que a função da AA1000 é garantir a qualidade das informações apresentadas
nos relatórios através de métodos e processos de verificação de dados, notadamente os dados de cunho
não financeiros. O autor reputa a AA1000 como uma ferramenta que permite identificar problemas e
oportunidades no que diz respeito a RES.

Como exemplos de empresas que utilizam a norma AA1000 no Brasil, é possível citar Ambev, Itaú
Unibanco, Souza Cruz e Laboratórios Fleury, entre outras.

6.4.11 BS8900

British Standard 8900 é uma norma britânica que na prática não é uma norma de gestão, pois não contém
processos de certificação. Na verdade, funciona como um guia de diretrizes para a gestão da sustentabilidade.
O foco é o equilíbrio entre o capital econômico/financeiro com o capital ambiental da empresa.

O objetivo é melhoria contínua do desempenho de RES. Foi uma das bases para o desenvolvimento
da ISO 26000.

Resumo

Nesta unidade, discutimos o ponto de vista de Freeman sobre


stakeholders e tratamos do balanço social, a partir de um resgate histórico e
de sua definição, que consiste num instrumento de gestão e de informação,
ou seja, é um levantamento dos principais indicadores de desempenho
ambiental, econômico e social das empresas que tem por finalidade
conferir maior transparência e visibilidade às informações que interessam
não apenas aos sócios e acionistas das companhias (stockholders), mas
a um número maior de atores: empregados, fornecedores, investidores,
parceiros, consumidores e comunidade (stakeholders).

Outro tema também estudado foi a contabilidade ambiental, cujo


papel é registrar os eventos econômicos da relação da empresa com o
meio ambiente. Portanto, as organizações com estratégia alinhada com
conceitos de responsabilidade social empresarial (RSE) idealmente devem
73
Unidade II

incluir em meio ao plano de contas contábil o ativo e o passivo ambiental,


a receita ambiental e os custos e despesas ambientais.

Por fim, foram tratadas as principais normas e certificações divididas


em quatro áreas: qualidade (ISO: ISO 9001, 9002, 9003 e ABNT: NBR ISO
9001, NBR ISO 9002 e NBR ISO 9003), meio ambiente (Emas, ISO 14000
e NBR ISO 14001), saúde e segurança (OHSAS 18001 e HCS e HHPS) e
sustentabilidade e responsabilidade social (FSC e FSC Brasil, MSC, AA1000,
GRI, SA8000, ECS2000, Q-RES CELE, NBR 16001, ISO 26000 e NBR ISO
26000, AA1000, BS8900).

Exercícios

Questão 1. “O filho de Maria Félix, de 21 anos, resistiu pouco mais de seis meses de gestação.
Morreu ainda no ventre, com apenas 322 gramas. A causa do aborto, que aconteceu com 25 semanas
de gravidez, foi má-formação: o bebê tinha o intestino para fora do abdômen e problemas no coração.
Não é incomum que as mães da região percam seus filhos precocemente. O bebê de Maria, ao que tudo
indica, foi mais uma vítima precoce do agrotóxico glifosato, usado em grandes plantações de soja e de
milho em Uruçuí, a 459 km de Teresina, no Piauí.

O mesmo veneno que garante a riqueza dos fazendeiros da cidade, no sul do estado, está
provocando uma epidemia de intoxicação com reflexo severo em mães e bebês. Estima-se que
uma em cada quatro grávidas da cidade tenha sofrido aborto, que 14% dos bebês nasçam com
baixo peso (quase o dobro da média nacional) e que 83% das mães tenham o leite materno
contaminado. Os dados são de um levantamento do sanitarista Inácio Pereira Lima, que investigou
as intoxicações em Uruçuí na sua tese de mestrado em saúde da mulher pela Universidade Federal
do Piauí” (FELIZARDO, 2018).

As externalidades negativas, muito comuns no nosso cotidiano, podem ser descritas como a tomada
de decisão que leva em conta apenas os custos e benefícios privados, em detrimento da avaliação dos
custos e benefícios sociais.

Avalie as afirmativas a seguir:

I – A corrupção, disseminada nos países subdesenvolvidos, pode ser referenciada como um caso
clássico de externalidade negativa.

II – As iniciativas de fumar em um ambiente fechado e de despejar em cursos d’água resíduos


(poluentes) industriais devem ser consideradas, igualmente, externalidade negativa.

III – Uma grande montadora de veículos fraudou testes de poluentes de seus veículos. Por garantir
um custo privado menor em detrimento de um custo social maior, este é um exemplo clássico de
externalidade negativa.
74
RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES

IV – Ações regulatórias por parte do Estado acabam por induzir empresas a agir de forma
inadequada no que diz respeito às boas práticas ambientais e sociais. Diante disso, portanto,
seria correto afirmar que o excesso da participação do Estado cristaliza um ambiente com mais
externalidades negativas.

Estão corretas apenas:

A) I e II.

B) I e III.

C) II e III.

D) II e IV.

E) III e IV.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa incorreta.

Justificativa: apesar de muitas vezes estar no cerne da consecução das externalidades negativas
vindouras e de ser, de forma indireta, um grave problema para a população, o processo de corrupção
em si, não é chamado de externalidade negativa, enquadrando-se em processo designado como falha
de governo. A corrupção pode ser melhor estudada a partir da teoria da regulação, teoria da propina e
outros conceitos ligados à economia e gestão do setor público.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: apesar de discrepantes, ambos são considerados atos que incorrem em externalidade
negativa. No primeiro, o fumante observa apenas o seu bem-estar, ignorando o fato de aquela prática
também prejudicar os não envolvidos no ato de fumar, enquanto, no segundo, ao poluírem cursos
d’agua ignoram o custo marginal social, ou seja, o custo transmitido a toda sociedade, observando
apenas a diminuição ou omissão dos custos que deveriam ser integralmente particulares, neste caso, o
tratamento dos resíduos antes que eles chegassem à população.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: ao fraudar testes de emissão de poluentes, a montadora de veículos transfere parte do


custo marginal que deveria ser integralmente privado à sociedade, configurando em um caso clássico
de externalidade negativa.

75
Unidade II

IV – Afirmativa incorreta.

Justificativa: de modo nenhum, pois quanto mais eficiente e honesta for a fiscalização por parte do
Estado, maior a garantia de cumprimento de normas estabelecidas. O excesso de normas e fiscalizações
poderia fazer migrar empresas interessadas em continuar socializando os custos de produção, no
entanto, se a fiscalização fosse ostensiva, haveria, de fato, diminuição das externalidades negativas.

Questão 2. Alguns indicadores do balanço social têm caráter econômico. Entre estes indicadores
podemos elencar o valor adicionado por trabalhador; a relação entre salários pagos ao trabalhador
quanto ao valor adicionado; a carga tributária da empresa em relação ao seu valor adicionado,
entre outros.

No que diz respeito à carga tributária, são incontáveis os estudos que tratam da regressividade da
mesma no Brasil. Sobre este quesito destaca-se a importância dos impostos sobre consumo no montante
total de recursos arrecadados pelo Estado, seja na esfera federal, estadual ou municipal. Chama a
atenção a discrepância entre os dados atinentes ao Brasil e os ligados aos países da Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por exemplo. Enquanto no primeiro os impostos
sobre consumo representam aproximadamente 50% do total da carga tributária, a média dos países da
OCDE está em torno de 30% nos mesmos termos.

Sabendo que a regressividade tributária é um problema sério no Brasil, avalie as afirmativas e aponte
as que tratam corretamente de mais problemas ligados à área fiscal brasileira.

I – Os impostos sobre consumo, regressivos por natureza, são ainda mais problemáticos quando há
inelasticidade-preço da demanda.

II – Um dos maiores problemas presentes na carga tributária brasileira é a tributação por meio de
impostos diretos, cuja regressividade é maior que nos impostos indiretos.

III – No Brasil, mesmo os impostos de caráter progressivo, sofrem pela letargia do Estado. A ausência
ou demora da atualização das faixas de renda do Imposto de Renda acaba penalizando as famílias com
menos recursos.

IV – Para ingressar na OCDE o país precisa aplicar uma ampla e irrestrita reforma tributária.

Assinale a alternativa correta:

A) Apenas a afirmativa I está correta.

B) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.

C) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.

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RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES

D) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.

E) Apenas a afirmativa IV está correta.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: os impostos regressivos são ainda mais nocivos quando incidentes sobre produtos
que o consumidor tem dificuldade para substituir no curto prazo. Arroz, feijão, gasolina, água, energia
elétrica etc.

II – Afirmativa incorreta.

Justificativa: os impostos diretos, sobre patrimônio e renda, por exemplo, são menos nocivos à
sociedade que os impostos indiretos, sobre consumo e produção, por exemplo.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: o que antes servia de justiça social hoje serve para espoliar o trabalhador brasileiro. O
salário mínimo acompanhou a mudança da inflação, mas as faixas de tributação do imposto raramente
são atualizadas a fim de diminuir a tributação daqueles que ganham menos.

IV – Afirmativa incorreta.

Justificativa: não é verdade. Exemplo claro sobre os critérios para ingressar na OCDE pôde ser visto
no convite à combalida economia argentina em 2019.

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