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Prova de Processo Administrativo
Prova de Processo Administrativo
G2
Além do mais, considerando o Artigo 3.º, I dessa mesma lei, compreende-se que é
da competência da administração respeitar o administrado, devendo facilitar o exercício dos
seus direitos e o cumprimento das suas obrigações, algo que claramente não foi cumprido
pela PRF, que permitiu com a sua falta de atuação a violação a certos direitos pessoais e
sociais, assim como o impedimento do cumprimento de certas obrigações, como a do
comparecimento no trabalho que certas pessoas viram impossibilitado devido à obstrução
das vias rodoviárias. Esse comportamento por parte da PRF incumpre também o previsto
no âmbito do Artigo 4º, II e III deste diploma, pois não tutelou o interesse público dos
cidadãos, não tendo agindo com a lealdade e boa-fé que lhe é imposta, além de ter agido
de modo temerário, colocando o bem estar de inúmeros cidadãos em risco.
Ao não desobstruir as vias públicas, acabam por permitir que sejam afetados direitos
concedidos aos cidadãos na Constituição, como o direito à livre circulação (Artigo 5.º, XV) e
certos certos direitos sociais consagrados no Artigo 6.º, como o direito à saúde, à
alimentação, ao trabalho, à educação, entre outros que, como expressou o Ministro
Alexandre de Moraes, ainda que indiretamente, dependem “do pleno funcionamento das
cadeias de distribuição de produtos e serviços para a manutenção dos aspectos mais
essenciais e básicos da vida social” e acarretam uma efetiva violação aos preceitos
constitucionais. Além do mais, atentando ao Decreto n.º 1.655, de 3 de Outubro de 1995,
verifica-se no seu Artigo 1.º, VII, que é da competência da PRF “assegurar a livre circulação
nas rodovias federais”, o que não foi cumprido, verificando-se um afastamento da atuação
policial ao estabelecido por lei e, consequentemente, a violação ao Princípio da Legalidade.
Parece certo que o interesse público não pode ser caracterizado pelo interesse do
grupo eleitoral que foi derrotado aquando das eleições presidenciais que ocorreram no mês
passado. Não só não fará sentido arguir que o interesse de todos os eleitores do candidato
derrotado é o mesmo, pois que apenas uma parte deste grupo veio a obstruir as rodovias,
como ainda menos sentido fará generalizar esse interesse para o da maioria da população
brasileira. Ao permitir estes comportamentos com a sua “omissão e inércia”, a PRF não tem
em conta o interesse público, a vontade soberana e democrática da sociedade, o qual
consubstanciar-se-á necessariamente no respeito aos resultados eleitorais e ao normal
decorrer das coisas, não na restrição de direitos fundamentais da população que se
pretende movimentar pelo território nacional e que, porventura, se constitui em um número
superior ao dos manifestantes. Além do mais, como consagra o Artigo 20.º da LINDB, as
consequências práticas das decisões têm de ser consideradas, não bastando o respeito a
valores jurídicos abstratos.
Sendo uma das suas principais competências o assegurar da livre circulação nas
rodovias federais, certamente que o Princípio da Eficiência também não foi respeitado pela
PRF, já que a sua atuação, ou falta desta, não levou a quaisquer resultados positivos para o
serviço público nem a nenhum atendimento satisfatório das necessidades da comunidade e
dos seus membros tal como exigido pelo princípio em questão, tendo optado pelos
instrumentos menos ineficientes possíveis, in casu, a ausência de ação, esperando que
eventualmente as ruas acabassem por ficar livres, o que acabou por não contribuir de
qualquer forma positiva para a função que lhes compete.