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Texto Painel GC 01-Por Que A Governança Corporativa É Um Tema-Chave para Organização
Texto Painel GC 01-Por Que A Governança Corporativa É Um Tema-Chave para Organização
ISBN 978-85-352-7936-8
ISBN (versão digital) 978-85-352-7937-5
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bens, originados do uso desta publicação.
S588g
Silveira, Alexandre Di Miceli da
Governança corporativa: o essencial para líderes / Alexandre Di Miceli da Silveira.
- 1. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014.
23 cm.
ISBN 978-85-352-7936-8
1. Governança corporativa. 2. Administração de empresas. I. Título.
14-12683 CDD: 658.4
CDU: 005.5
Capítulo 1
Por que a governança corporativa é um
tema-chave para minha organização?
Todas as organizações – com ou sem fins lucrativos – possuem sua estrutura de poder
e forma de direcionamento. Elas podem ser mais autocráticas, centralizadas e dependentes
de pessoas específicas, ou mais democráticas, descentralizadas e institucionalizadas. Podem
possuir regras e processos decisórios mais formalizados, ou serem mais informais. Algumas
podem ser mais orientadas a atitudes éticas e ao cumprimento das regras, enquanto outras
desenvolvem uma cultura na qual os resultados financeiros se sobrepõem aos meios –
mesmo que ilícitos ou antiéticos – para se obtê-los.
A combinação de diferentes características de governança é interminável. A questão
central é que, diferentemente de um mero modismo gerencial ou de um tema técnico que
as empresas podem ou não optar por implantar, todas as organizações, necessariamente,
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terão sua forma própria de governo, que pode ou não ser resultado de um processo
de reflexão estruturada de seus líderes.
O que chamamos de “governança corporativa” diz respeito a um conjunto de
práticas de negócio alicerçadas sobre princípios comuns que foram desenvolvidas
em todo o mundo a partir do início da década de 1990.1 A discussão sobre o tema
se inicia, portanto, a partir dos sólidos princípios que desde o início nortearam o
movimento em prol da boa governança.2
E quais são esses princípios? No Brasil, o IBGC – Instituto Brasileiro de Gover-
nança Corporativa, organização de referência sobre o tema criada em 1995 – elenca
quatro em seu Código de Melhores Práticas: transparência, prestação de contas,
equidade e responsabilidade corporativa.3 Além do código nacional, documentos
internacionais4 discorrem sobre outros preceitos basilares de boa governança. De
forma agregada, esses documentos elencam 10 grandes princípios globais de boa
governança aplicáveis a qualquer tipo de empresa ou organização:
Princípio global
# de governança Esse princípio diz respeito a:
Divulgação aberta, honesta e tempestiva das informações materiais
Transparência financeiras e não financeiras do negócio aos públicos interno e externo.
e integridade Entre os aspectos não financeiros, destacam-se aqueles relativos
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das informações ao modelo de governança, estrutura de propriedade, principais
prestadas políticas e diretrizes, perspectivas estratégicas, sistemas de incentivos,
avaliação de desempenho, impactos socioambientais etc.
Prestação de Vontade dos administradores de apresentar os resultados de sua
contas voluntária e gestão e os elementos que fundamentaram as principais decisões
2 responsabilização tomadas, bem como de assumir a responsabilidade pelas ações e
Governança corporativa: o essencial para líderes
(Continua)
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Princípio global
# de governança Esse princípio diz respeito a:
Conscientização de que a informalidade é um inimigo da boa
governança e de que controle e supervisão independentes
são elementos essenciais. É necessário desenhar os processos e
Respeito às estabelecer as regras a serem cumpridas antes, durante e depois
formalidades, das reuniões dos órgãos de governança.
6 controles e
supervisão Entre os controles contidos neste princípio, destacam-se aqueles
independentes relacionados à gestão formal dos riscos do negócio, o compliance
e as auditorias. Essas áreas e responsáveis devem contar com toda
a independência e os recursos humanos, financeiros e tecnológicos
necessários.
Necessidade de que os membros da cúpula organizacional,
notadamente conselheiros e diretores, se comportem com
Tom e integridade e apliquem elevados padrões éticos e de conduta nas
comportamento suas decisões, liderando pelo exemplo.
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ético das
lideranças É preciso promover, incessantemente, os valores da organização
por meio de ações de aculturamento e atitudes concretas, como a
Crítica do autor:
Trata-se de uma visão errada que não leva à geração de valor intrínseco
para o negócio e seus acionistas de longo prazo.
Na verdade, é o cumprimento do “espírito” dos princípios apresentados
– mesmo que por diferentes práticas de governança apropriadas às peculiari-
dades de cada organização – que agrega valor às companhias, bem como gera
um ambiente empresarial mais sadio, com efeitos positivos para a atração de
investimentos e o desenvolvimento do país.
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Objetivos
centrais da boa
governança Reflexões a serem feitas pelas lideranças da organização
j Nossos órgãos-chave de governança – conselho de administração,
comitês e diretoria – possuem papéis, composição e funcionamento bem
definidos e vêm funcionando conforme o desejado?
j Estou satisfeito com nosso processo decisório em relação à agilidade, nível
1. Aprimorar
de centralização das decisões, responsabilização pelas decisões tomadas
continuamente
e conformidade com as leis?
o processo
j Possuímos um fluxo de informações e interfaces adequado entre os órgãos?
decisório a fim
j Há contrapesos independentes, eficazes e com autoridade necessária em
de assegurar
nosso processo decisório?
decisões no
j Nosso sistema de remuneração é adequado?
melhor interesse
j Há um plano de sucessão formal de nossas lideranças?
de longo prazo
j Temos um ambiente meritocrático? As pessoas o percebem desta forma?
da organização
j Nossos órgãos de governança se autoavaliam formalmente e
periodicamente?
j Temos um programa de aculturamento em relação ao nosso modelo de
governança?
j Temos uma noção clara dos principais riscos a que estamos sujeitos,
incluindo sua probabilidade de ocorrência e impacto potencial? Eles são
gerenciados por meio de uma estrutura formal, com envolvimento das
principais lideranças?
j Temos políticas formais em relação aos principais temas que podem afetar
nosso negócio?
j Estou satisfeito com nossos controles internos e confortável com a precisão
nossa transparência?
j Temos bons canais de comunicação com nossos acionistas, clientes e
3. Proporcionar
outros stakeholders chave?
elevada
j Nosso website e relatório anual estão sempre atualizados e ricos em informações?
transparência
j Possuímos ações concretas no campo socioambiental?
para os
j Procuramos publicar informações de governança, sustentabilidade e
públicos interno
socioambientais de forma integrada em linha com diretrizes internacionais,
e externo
tais como o GRI (Global Reporting Initiative)?7
j Realizamos encontros periódicos com representantes de nossos principais
públicos de interesse?
j Nossos administradores possuem acesso a um portal interno que lhes permite
(Continua)
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Objetivos
centrais da boa
governança Reflexões a serem feitas pelas lideranças da organização
j Procuramos estimular ao máximo a participação dos acionistas nas assembleias?
j Preparamos um manual de assembleia8 e realizamos convocações com
antecedência mínima de 30 dias?
j Viabilizamos o voto de nossos acionistas por meio de procurações ou voto
a distância?
4. Promover
j Temos uma área de relacionamento com investidores? Temos evidências
o exercício
de que os investidores estão satisfeitos com ela?
efetivo dos
j Procuramos entender, de forma proativa, as demandas dos investidores?
direitos de
j Procuramos ativamente resolver quaisquer problemas com nossos
todos os sócios
acionistas antes de chegarem à esfera judicial?
j Nossos conselheiros têm prestado contas diretamente para nossos
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Figura 1.1 – Criação da agenda de governança da organização.
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Como se pode observar, cada forma de controle acionário suscita questões es-
pecíficas de governança a serem endereçadas. Você e as demais lideranças devem,
portanto, refletir e responder não apenas àquelas grandes questões apresentadas na
seção anterior, mas também às questões específicas apresentadas nesta seção, tendo
em vista a realidade de sua organização.
Após tantas perguntas e reflexões necessárias, deve-se reconhecer que a boa
governança exige, de fato, um investimento substancial de tempo e de recursos
financeiros por parte das lideranças, bem como sua abertura para a mudança em
relação ao status quo, o que pode levar, inclusive, à redução do poder absoluto das
Governança corporativa: o essencial para líderes
O objetivo maior de qualquer líder é criar valor de forma sistemática para seu
negócio. Em outras palavras, fazer com que suas perspectivas de longo prazo sejam
cada vez melhores ao longo do tempo. Uma questão central, portanto, é avaliar se os
investimentos em governança corporativa realmente contribuem para este objetivo.
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Centenas de estudos foram realizados, nas últimas duas décadas, buscando res-
ponder essa questão. A maioria dos trabalhos constata uma forte relação positiva
entre a adoção de práticas recomendadas de governança e indicadores de valor
comumente empregados pelo mercado. Em outras palavras, observa-se que as em-
presas com práticas superiores de governança tendem a ser negociadas a um prêmio
em relação aos seus pares.16
Uma das abordagens mais utilizadas nesses trabalhos é a atribuição de uma
“nota” de governança com base na adesão da companhia a determinadas práticas
recomendadas. Em geral, essas notas se baseiam em diferentes dimensões de gover-
nança, tais como: conselho de administração, direitos dos acionistas, transparência
das informações, políticas corporativas etc. Na sequência, relaciona-se a nota obtida
pelas empresas com medidas de valor relativo, de forma a investigar se há uma
eventual relação positiva entre ambos. A tabela a seguir apresenta os resultados de
alguns dos inúmeros estudos realizados em todo o mundo nos últimos anos com
base nessa abordagem geral:
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Companhias
# Estudo analisadas Principal conclusão
“Corporate Attributes,
Corporate Governance Forte relação positiva entre governança
Quality, and the Value corporativa e valor: aumento da
154 companhias
of Public Brazilian capitalização de mercado entre 85% e
1 listadas brasileiras
Companies” 100% para uma empresa que conseguisse
em 2002.
evoluir da pior para a melhor nota de
Silveira, Barros e Famá governança da amostra.
(2006).
uma empresa “média” do mercado, isto é, para aquela que apresenta indicadores de
rentabilidade, endividamento etc., não muito diferente das demais.
Entretanto, há um valor fundamental da boa governança que não é coberto
por esses trabalhos, mas que é essencial para os acionistas e demais stakeholders de
qualquer empresa. Trata-se da criação de um sistema organizacional que evite o
surgimento de escândalos associados a problemas de governança, de forma a as-
segurar a perenidade da companhia. A próxima seção analisa esta questão em detalhe.
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Como não se recordar dos problemas ocorridos nos últimos anos com diver-
sas empresas estrangeiras – a exemplo de Societé Générale, Lehman Brothers,
Satyam, Siemens, AIG e Olympus – e brasileiras – como Agrenco, Sadia, Ara-
cruz, Banco Panamericano, Banco Cruzeiro do Sul, HRT e OGX?
Voltando um pouco mais no tempo, é impossível esquecer casos emblemáti-
cos do início da década de 2000 envolvendo companhias como Enron, World-
com, Royal Ahold, Tyco, Parmalat e Banco Santos. A Tabela 1.9 elenca um
conjunto de grandes companhias nacionais e estrangeiras que sofreram graves
problemas de governança20 ao longo da última década.
Apesar das especificidades inerentes a cada um dos problemas de governança
vividos pelas organizações acima, um exame aprofundado permite identificar causas
comuns que os propiciaram. Elas podem ser classificadas em três grupos: causas
fundamentais, mediadoras e imediatas.
O primeiro diz respeito às causas fundamentais, isto é, aquelas que representam
a raiz dos problemas por envolver a estrutura de comando das empresas e seu
monitoramento externo. Cinco se destacam: excesso de concentração de poder,
conselho de administração ineficaz, passividade dos investidores, falhas dos cha-
mados “guardiões” de governança (auditorias, agências de rating, analistas de ações
etc.) e regulação deficiente. A Tabela 1.10 as descreve em detalhes.
Três anos depois, a companhia pagou multas de US$1,6 bilhão aos reguladores
norte-americano e alemão em função do pagamento de propinas estimadas em
US$1,4 bilhão para governos de todo o mundo entre 2001 e 2008 em troca da
obtenção de contratos.
Governança corporativa: o essencial para líderes
A figura acima, elaborada com base na análise dos diversos escândalos de go-
vernança da última década em todo o mundo, revela a anatomia de um desastre
corporativo. Os fatores externos e internos muitas vezes se reforçam, criando um
círculo vicioso que infelizmente leva a uma substancial destruição de valor para os
acionistas e a impactos negativos severos para os stakeholders, incluindo as comu-
nidades onde atuam.
Em última instância, os colapsos empresariais são sempre decorrentes de
decisões ruins ou do descumprimento das regras, algo que decorre não apenas de
falhas nos mecanismos formais de governança – como conselho de administração,
comitês e áreas de controle –, mas também do fracasso das lideranças na criação
de um contexto social em suas organizações que induza certos comportamentos
desejados.
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